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SAÚDE MENTAL E

DOENÇAS DO
TRABALHO

Profª. Me. Letícia Oliveira Silva


⚫A história da saúde mental compreende as várias
interpretações do que é loucura, determinada por
concepções de saúde de cada período histórico.

⚫Entender sobre doença mental segundo enfoque


psicológico é considerá-la como produto da
interação de condições de vida social e a trajetória
de cada indivíduo, bem como aspectos emocionais.

⚫Além disso, condições externas, como poluição,


estresse, criminalidade, são determinantes ou
desencadeadores de doença mental ou
propiciadores e promotoras de saúde mental, ou
seja, da possibilidade de realização pessoal nos
mais diversos aspectos da capacidade do sujeito.
O QUE É SAÚDE MENTAL

⚫A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe


definição única para saúde mental. Saúde mental é um
termo usado para descrever o nível de qualidade de vida
cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a
capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e
procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços
para atingir a resiliência psicológica. Entretanto, que o
conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência
de transtornos mentais.
⚫Com a Revolução Industrial, com o aumento das
exigências diárias de trabalho, agravou-se o nível
de estresse e os danos à saúde.

⚫Muitas vezes os fatores envolvidos na prática do


trabalho vão além dos acordos entre
trabalhadores e administradores, podem ocorrer
mudanças abrangentes em um curto período de
tempo, desde tecnologias até à rotina da
profissão, sendo difícil de acompanhar a
velocidade dessas transformações.

(ZANELLI, 2010)
🞆 Os profissionais, em qualquer situação, são
pressionados a aprender, contínua e rapidamente,
procedimentos de novas tecnologias, bem como se
atualizar permanentemente (ZANELLI, 2010).
⚫As discussões sobre a relação entre saúde e
trabalho são marcadas por várias polêmicas, em
torno da existência ou não de uma relação de
causa entre o contexto de trabalho e alguns
transtornos mentais.

⚫Tradicionalmente, as doenças relacionadas ao


trabalho são entendidas por uma abordagem
organicista, sendo resultado de alterações
neuroquímicas e geneticamente determinada,
deixando fatores externos, como o trabalho, em
segundo plano.

(LIMA et al., 2002).


⚫Conforme Zanelli (2010):

“Na perspectiva psicológica, portanto, o trabalho é


uma categoria central no desenvolvimento do
conceito de si mesmo e uma fonte de autoestima.
Ao perder o emprego, muitas pessoas ficam
desorientadas, desestruturam-se
emocionalmente, sentem-se inúteis, destituídas
da possibilidade de contribuição e cobradas por
isso. Passam a procurar em outras coisas
substitutivas, às vezes inadequadas, aquilo que o
emprego proporcionava.”
⚫O estresse, amplamente relacionado a causas
ocupacionais, originalmente foi empregado para
denominar uma síndrome geral de adaptação,
passando a representar a relação entre uma
pessoa e o ambiente que é tido como prejudicial a
seu bem-estar.

⚫Nesse contexto, entendemos que o estresse


psicológico é a avaliação feita de uma situação
como ameaçadora e das estratégias de
enfrentamento que possui para enfrenta-la.

(BORSOI, 2007).
⚫Desse conceito surgiram outros termos, como
estresse profissional e a síndrome de Burnout,
entendida como o esgotamento caracterizado por
uma reação de tensão emocional crônica
resultante de excessivos e prolongados níveis de
estresse, incluindo sentimentos de desesperança,
impaciência, irritabilidade, preocupação, dores,
distúrbios do sono, entre outros.

(BORSOI, 2007).
⚫É inegável que o trabalho, o homem transforma e
é transformado, impondo assimilações em
aspectos fisiológicos, morais, social e econômico.

⚫Apesar dessa positividade, há uma tendência


atual à escassez de contatos sociais positivos e
conflitos e frustrações, exercidas por pressões de
produção, exigências de tecnologia e por aspectos
psicossociais do trabalho.

(ZANELLI, 2010).
🞆 O trabalho não é apenas causador de doença, mas
representa muitos aspectos positivos, como no
desenvolvimento de capacidades e inserção e
integração social, que confere uma identidade
psicológica e valor ao trabalhador. Diante dessa
positividade, o trabalho é capaz de causar
sofrimento psíquico.
⚫Um aspecto que pode influenciar na saúde do
trabalhador são as condições de trabalho,
especificamente sobre o ambiente (temperatura,
vibrações, radiações, poeiras, ruídos, entre
outros), a organização do trabalho, que diz
respeito à divisão técnica e social (hierarquia,
controle sobre as funções exercidas, autonomia,
ritmo e pausas, além do controle exercido pela
chefia e a socialização).

(JACQUES, 2007).
⚫Quando ocorre um acidente de trabalho típico é
possível reconhecer o que causou o dano e o próprio
dano.

⚫Nas doenças ocupacionais nem sempre essa relação é


observável.

⚫Essa dificuldade começa porque nem sempre o sujeito


identifica o sofrimento como de causa emocional e
quando percebe, há uma dificuldade de procurar
ajuda. Outro fator é que quando o diagnóstico de
transtorno mental é feito, o trabalhador não está
mais na mesma função ou empresa.
(BORSOI, 2007).
⚫Ao relacionar doença e trabalho é preciso
considerar que o sujeito nasce em um contexto
que trabalho é visto como base de sobrevivência,
ele entra no mercado de trabalho sem ter vivido
as transformações do corpo próprias da
adolescência, e o trabalho ocupa a maior parte do
seu dia e de sua vida.

⚫Assim, percebemos que o trabalho ocupa parte


importante da vida das pessoas e, sem ele,
necessidades básicas não são satisfeitas.

(BORSOI, 2007).
🞆 A classificação das doenças relacionadas ao
trabalho, baseada na proposta de Schilling, é
apresentada abaixo:

🞆 Grupo I: doenças profissionais típicas, que o


trabalho é a causa necessária e o nexo evidente,
observado nas intoxicações por chumbo, mercúrio
e outros produtos;
⚫Grupo II: são as patologias em que o trabalho
pode ser entendido como um fator de risco, ele
contribui, mas não é necessário, e encontradas
em determinadas categorias, como o alcoolismo
crônico, transtornos do ciclo sono-vigília devido a
fatores não orgânicos;

⚫Grupo III: o trabalho é desencadeador de um


distúrbio latente, melhor explicado pela
causalidade, como os episódios depressivos,
estresse, transtornos de adaptação ou a síndrome
de Burnout.

(GUIMARÃES; GRUBITS, 2004)


⚫“o trabalho é um forte elemento na construção da
pessoa que convive bem consigo mesma, acredita
em si e sente-se digna. Atividades que são de
alguma forma impostas a um empregado que não
consegue perceber sua finalidade ou destinação
colocam em risco sua sanidade mental. Na
dimensão social, o trabalho é o principal
regulador da organização da vida humana. É
elemento-chave na formação das coletividades e,
portanto, dos valores que essas coletividades
difundem. Os agrupamentos humanos são
organizados em função do trabalho”

(GUIMARÃES; GRUBITS, 2004).


ESTRESSE LABORAL
TRABALHO, SAÚDE
CAP. 1

🞆 Há cerca de 200 anos, as exigências diárias de


trabalho têm agravado o nível de estresse e os
danos à saúde.

🞆 O mundo do trabalho vem passando por


profundas transformações que estão relacionadas
com condições econômicas, sociopolíticas legais,
mudanças demográficas, inovação tecnológica,
entre outros.
🞆 A sociedade pós-industrial, em suas demandas
por constantes adaptações sociais, exige reações
do indivíduo capazes de prejudicar a sua
racionalidade e igualmente capazes de minar a
SAÚDE daqueles que têm dificuldades de
enfrentar as pressões.

🞆 O excesso de trabalho tem repercussões negativas


importantes, quer na vida dos trabalhadores,
quer no equilíbrio entre a sua vida profissional e
familiar.

🞆 Muitas vezes o trabalho impede o cumprimento


das responsabilidades familiares.
🞆 Trabalhadores de diversos campos de atividades
estão levando tarefas para o lar e ocupando suas
horas de lazer pensando e resolvendo problemas
ou mesmo executando tarefas que antes só eram
feitas no local de trabalho.

🞆 Trabalhadores vivem uma situação de emprego


com elevada tensão porque têm elevadas
exigências e baixo controle (incerteza e
inseguranças).

🞆 O desequilíbrio entre as exigências do trabalho e


os princípios, necessidades e expectativas
pessoais abre caminho para o desgaste físico e
emocional.
⚫As pessoas estão sendo pressionadas por
exigências que são cada vez mais complexas nas
organizações de trabalho.

⚫Estão em constante ameaça de desemprego e


vivencias de sofrimento no trabalho que os coloca
em evidente risco de adoecimento.

⚫Isto tem levado a paradoxos, como o aumento do


individualismo, contraposto às solicitações por
integração e coesão, e do comprometimento com a
carreira, em vez do comprometimento com a
organização.
🞆 A Organização Internacional do Trabalho, tem
desenvolvido o conceito de trabalho decente:
compreendido como trabalho produtivo, no qual
os direitos dos trabalhadores são resguardados,
gerando salários adequados e uma proteção social
apropriada.

🞆 Jackson e Polanyi (2002) assinalam diversos


aspectos que se associam aos locais e condições
saudáveis de trabalho e que têm efeito sobre a
saúde. A respeito das condições, destacam os
altos níveis de estresse, a insegurança, o
ambiente físico, o ritmo de trabalho, o controle, o
turno a participação e as relações, o equilíbrio ou
balanceamento entre a vida e o trabalho.
🞆 Este novo Mercado de Trabalho, vem trazendo
novos tipos de trabalho; Transição da economia
para o setor de serviços; Novos tipos de
organização; Muitas terceirização de serviços
(outsourcing); Reduções organizacionais
(downsizing); Fusões (merging).

🞆 Além disso: precarização das condições e dos


contratos de trabalhos e aumento do emprego
informal.
ESTRESSE

⚫Segundo Bernick (1997) “qualquer mudança de


vida, boa ou ruim, pode ser considerada como um
fator que leva ao estresse.”

⚫O termo é um conjunto de reações do organismo a


agressões diversas, capaz de perturbar-lhe o
equilíbrio interno.
⚫O estresse é amplamente compreendido como
uma necessidade de adaptação ou ajustamento de
um organismo frente às pressões que o ambiente
impõe.

(Zanelli, 2010)
ESTRESSE

🞆 O conceito de estresse surgiu nos anos 30, graças


a Hans Selye, endocrinólogo canadense de origem
austríaca.

🞆 Segundo Selye: “o estresse é um processo vital e


fundamental onde pode ser dividido em dois tipos
ou seja, quando passamos por mudanças boas,
temos o estresse positivo e quando atravessamos
alguma fase negativa, estamos vivenciando o
estresse negativo”.
🞆 Segundo Lipp (2002), o estresse é um problema
dos tempos modernos, onde vivemos sobre
contínua pressão:

• Horários desrespeitados;
• Perda de horas de sono;
• Mal alimentação;
• Falta de tempo para o lazer.
⚫De acordo com Selye (1959), o estresse é um
elemento inerente a toda doença, que produz
certas modificações na estrutura química do
corpo, e as quais podem ser observadas e
mesuradas.

⚫O estresse é o estado que se manifesta através da


Síndrome Geral de Adaptação (SGA).
⚫A SGA é um conjunto de respostas não
específicas a uma lesão e desenvolve-se em três
fases:

1. Fase de alarme, caracterizada por


manifestações agudas;
2. Fase de resistência, quando as manifestações
agudas desaparecem;
3. Fase de exaustão, quando há a volta das
reações da primeira fase e pode haver o colapso
do organismo.
🞆 Fase de Alerta: ocorre quando o indivíduo
entra em contato com o agente estressor.

🞆 Sintomas da fase de alerta:


🞆 Mãos e/ou pés frios; boca seca; dor no estômago;
suor; tensão e dor muscular, por exemplo, na
região dos ombros; aperto na mandíbula/ranger
os dentes ou roer unhas/ponta da caneta;
diarréia passageira; insônia; batimentos
cardíacos acelerados; respiração ofegante;
aumento súbito e passageiro da pressão
sanguínea; agitação.
🞆 Fase de Resistência: o corpo tenta voltar ao
seu equilíbrio. O organismo pode se adaptar ao
problema ou eliminá-lo.

🞆 Sintomas da fase de resistência:


🞆 Problemas com a memória; mal-estar
generalizado; formigamento nas extremidades
(mãos e/ou pés); sensação de desgaste físico
constante; mudança no apetite; aparecimento de
problemas de pele; hipertensão arterial; cansaço
constante; gastrite prolongada; tontura;
sensibilidade emotiva excessiva; obsessão com o
agente estressor; irritabilidade excessiva; desejo
sexual diminuído.
🞆 Fase de Exaustão: nessa fase podem surgem
diversos comprometimentos físicos em forma de
doença.

🞆 Sintomas da fase de exaustão:


🞆 Diarréias freqüentes; dificuldades sexuais;
formigamento nas extremidades; insônia; tiques
nervosos; hipertensão arterial confirmada;
problemas de pele prolongados; mudança
extrema de apetite; batimentos cardíacos
acelerados; tontura freqüente; úlcera;
impossibilidade de trabalhar; pesadelos; apatia;
cansaço excessivo; irritabilidade; angústia;
hipersensibilidade emotiva; perda do senso de
humor.
CAUSAS DO ESTRESSE
• Baixa Resistência à
Frustração;

• Ameaças Constantes;

• Competitividade;

• Falta de Tempo para Si


Mesmo;

• Ansiedade Constante ;

• Baixa Autoestima.
🞆 O estresse é um mal típico do mundo moderno,
da vida agitada e cheia de tensões. Vai muito além de
um simples cansaço físico e mental. É causado pela
ação de defesas orgânicas decorrentes de estímulos
físicos, psicológicos ou psicossociais.

🞆 O estresse pode provocar desde uma simples dor de


cabeça até um enfarte. Por outro lado, pode ser
positivo quando nos ajuda a atingir um alto índice de
eficiência.
ESTRESSE NEGATIVO

⚫Estresse Negativo (Distress): Derivado de


pressões externas ou internas do próprio indivíduo
que fogem ao seu controle.

⚫Pressões externas mais evidentes relacionam-se


com a avaliação de superiores imediatos e equipe
de trabalho.

⚫É desencadeado quando o indivíduo percebe um


desequilíbrio entre as demandas da situação e sua
própria capacidade de desempenho.
ESTRESSE POSITIVO

🞆 Estresse Positivo (Eustress): Necessidade de


alcançar ou manter uma ativação ótima antes e
durante um evento.

🞆 Situação interpretada como não ameaçadora.

🞆 Disponibilidade de recursos próprios para


enfrentar e superar as circunstâncias.

🞆 Confiança nas qualidades pessoais e nas


experiências passadas.
SINTOMAS FÍSICOS
✔ Fadiga;
✔ Dores de cabeça;
✔ Insônia;
✔ Dores no corpo;
✔ Palpitações;
✔ Alterações intestinais;
✔ Náusea;
✔ Tremores e suores;
✔ Resfriados constantes;
✔ Músculos contraídos ou tensos;
✔ Dores nas costas;
✔ Zumbido nos ouvidos;
✔ Perda de interesse pelo sexo;
✔ Perda ou ganho de peso.
SINTOMAS COMPORTAMENTAIS
🞆 Deixar tudo para amanhã;
🞆 Dificuldades em cumprir tarefas no trabalho;
🞆 Ranger os dentes;
🞆 Excessiva atitude crítica;
🞆 Agitação;
🞆 Punhos cerrados;
🞆 Alimentação desequilibrada;
🞆 Desejo de acompanhamento ou isolamento;
🞆 Falar de situações estressantes.
SINTOMAS PSICOLÓGICOS
• Agressividade;
• Chora com mais facilidade;
• Sensação dominante de tensão;
• Nervosismo;
• Falta significado na vida;
• Sensação de solidão;
• Infelicidade sem causa aparente;
• Depressão;
• Sonambulismo;
• Alterações de memória;
• Acidentes de trânsito;
• Possibilidade de desencadear episódios de pânico.
CAUSAS DE ESTRESSE NO
AMBIENTE DE TRABALHO
🞆 Pressão por resultados;
🞆 Aliada ao aumento da carga de trabalho;
🞆 Prazos apertados;
🞆 Competitividade acirrada;
🞆 Necessidade de aprendizado constante;
🞆 Relações conflituosas são as principais causas do
estresse no ambiente de trabalho.
AGENTES ESTRESSORES NO
AMBIENTE DE TRABALHO
🞆 Demandas acima das condições efetivas de
produção ou prestação de serviços de qualidade;
🞆 Pouco reconhecimento profissional;
🞆 Reduzida participação nas decisões organizativas
de gestão e planejamento;
🞆 Longas jornadas de trabalho;
🞆 Dificuldades de promoção;
🞆 Exposição constante ao risco e periculosidade;
🞆 Pressão do tempo e atuações de urgência;
🞆 Problemas de comunicação;
🞆 Competição no ambiente laboral;
🞆 Excesso de burocracia.
CURIOSIDADES
⚫ Estima-se que 70% da população economicamente ativa do
Brasil já tenha sofrido de estresse. E o trabalho teria sido o
principal vilão para este quadro.

⚫ De acordo com o levantamento feito, 69% dos casos foram


fruto de situações profissionais. No entanto, a pesada carga
de trabalho não é o único aspecto que conspira contra o
equilíbrio mental. Estar acomodado em um trabalho sem
desafio e que não faz crescer também gera situação de
estresse.

⚫ “Por menor esforço que ele demande, quando o trabalho não


é prazeroso já gera uma sensação psíquica de sobrecarga”.

⚫ De acordo com o estudo da ISMA Brasil, 78% dos homens e


83% das mulheres que participaram da pesquisa
afirmaram ter dores musculares ou de cabeça. Além disso,
39% deles e 37% delas sofriam de distúrbios do sono.
SÍNDROME DE BURNOUT
🞆 A Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento
Profissional, começou a ser aceita como doença
ocupacional devido à nova classificação feita pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), na última
revisão da CID-11 (Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados
com a Saúde). A Síndrome foi incluída no capítulo de
problemas associados ao emprego ou ao desemprego,
recebendo o código “QD85”.
🞆 Juridicamente, nos âmbitos trabalhista e
previdenciário, tal alteração é de enorme importância,
pois, caracterizada a Síndrome de Burnout, estamos
diante de doença ocupacional, devendo haver a
emissão de CAT (Comunicação de Acidente de
Trabalho), tal como prevê a Lei 8.213/1991, com a
consequente estabilidade provisória do empregado
por 12 meses após a alta médica.
🞆 A doença deixa de ser apenas um “problema do
trabalhador”, passando a ser também de quem ajudou
a produzir a doença: o empregador.
🞆 Ou seja, o “burnout” começa a ser uma questão
trabalhista, principalmente considerando a relação de
poder desigual existente nas relações de trabalho, com
proeminência do empregador frente ao empregado.
🞆
DEFINIÇÃO DA DOENÇA

⚫A Sensação de Estar Acabado ou Síndrome do


Esgotamento Profissional é um tipo de resposta
prolongada a estressores emocionais e
interpessoais crônicos no trabalho.

⚫É resultante da vivência profissional em um


contexto de relações sociais complexas,
envolvendo a representação que a pessoa tem de
si e dos outros.
🞆 O Burnout engloba três características, a
exaustão emocional, despersonalização e a
diminuição do sentimento de realização
profissional do trabalho.

🞆 A exaustão é caracterizada pela falta de energia


ou um esgotamento emocional, sendo
frequentemente causada pela sobrecarga no
trabalho e o conflito nas relações interpessoais, é
entendida como o fator central do Burnout.
⚫A despersonalização consiste em tratar os
outros como objetos, em que o doente mostra
insensibilidade emocional e o vínculo afetivo é
substituído por um racional, o sujeito apresenta
irritabilidade, perda da motivação, redução das
metas, alienação e conduta voltada para si.

⚫Já a diminuição da realização pessoal


corresponde a uma avaliação negativa do próprio
trabalhador, sentindo-se infeliz e insatisfeita
consigo mesmo, além de redução nas interações
com os outros.

(GUIMARÃES; GRUBITS, 2004).


DALCIN, LARISSADALCIN, LARISSA AND CARLOTTO, MARY
SANDRA. AVALIAÇÃO DE EFEITO DE UMA INTERVENÇÃO
PARA A SÍNDROME DE BURNOUT EM
PROFESSORES. PSICOL. ESC. EDUC. [ONLINE]. 2018, VOL.22,
N.1, PP.141-150. ISSN 2175-
3539. HTTP://DX.DOI.ORG/10.1590/2175-35392018013718.

🞆 A Síndrome de Burnout (SB) é considerada uma


reação ao estresse ocupacional crônico (Gil-
Monte, 2011; Maslach, 1993; Leiter & Maslach,
2014). Trata-se de uma experiência subjetiva de
caráter negativo composta de cognições, emoções,
atitudes e comportamentos negativos frente ao
trabalho e ao seu papel profissional e às pessoas
que necessitam se relacionar no trabalho (Gil-
Monte, 2011).
🞆 Na perspectiva de Gil-Monte (2005), a SB
constitui-se em quatro dimensões:
🞆

🞆 1) Ilusão pelo trabalho, que traduz o desejo do


indivíduo de atingir suas metas de trabalho,
assim, fazendo da atividade uma fonte de
realização pessoal;

🞆 2) Desgaste psíquico, que se refere ao


esgotamento físico e emocional ocasionado por ter
de lidar diariamente com pessoas que
apresentem ou, ainda, que causem problemas;
🞆 3) Indolência, caracterizada por atitudes
negativas e distanciamento para com seus
clientes, demonstrando insensibilidade perante
os problemas aos quais necessita atender;

🞆 4) Culpa, caracterizada pelo surgimento de


sentimentos de culpabilização que a pessoa
desenvolve por manifestar atitudes e
comportamentos não condizentes com as normas
internas e cobranças sociais do seu papel
profissional.
🞆 Uma das formas utilizadas pelo indivíduo para a
prevenção da síndrome são as estratégias de
coping, que são definidas como um esforço
cognitivo e comportamental utilizado para
diminuir ou tolerar as demandas advindas dos
meios interno ou externo (Christofoletti, Trelha,
Galera, & Feracin, 2007; Rodrigues, 2006).
🞆 Pode-se perceber o poder do coping como preditor
de doença, verificando que as estratégias de
enfrentamento que são utilizadas pelos
indivíduos são decisivas na transição do estresse
ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout
(Sousa, Mendonça, Zanini, & Nazareno, 2009).
🞆 O coping pode ser um dos fatores de proteção da
SB (Gil-Monte, 2005; Herruzo-Cabrera &
Moriana-Elvira, 2004).
⚫A síndrome de Burnout significa perder o fogo, a
energia e exaustão e esgotamento.

⚫Essa síndrome pode ser caracterizada por


sintomas físicos (sensação de fadiga, exaustão,
tremor, dores de cabeça, distúrbios
gastrintestinais, perda de sono e falta de ar) e
sintomas comportamentais (hiperatividade,
explosão emocional violenta, aumento do
consumo de estimulantes como café e álcool e
abuso de outras substâncias, comportamento de
evitação e dificuldade nas relações interpessoais).

(FREUDENBERG, 1974 apud GUIMARÃES;


GRUBITS, 2004).
⚫O trabalhador que antes era muito envolvido com
seu trabalho, desgasta-se e, em um dado
momento, desiste, perde a energia ou se “queima”
completamente.

⚫O trabalhador perde o sentido de sua relação com


o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe
parece inútil.
⚫Nos profissionais de saúde, as principais causas da
síndrome de Burnout são o contato contínuo com o
sofrimento do paciente; diminuição do valor social da
profissão; sobrecarga de trabalho; diminuição de
recompensas pelo trabalho; receio de receber críticas
ou do desempenho ser avaliado negativamente; e lidar
com questões éticas e os avanços tecnológicos.

⚫A alta prevalência dessa síndrome em profissionais da


saúde está no fato de que, pela especificidade do
trabalho, estão sujeitos a elevados níveis de estresse.

(GUIMARÃES; GRUBITS, 2004).


SÍNDROME DE BURNOUT

🞆 Envolve atitudes e condutas negativas com


relação aos usuários, aos clientes, à organização e
ao trabalho.

🞆 Acarreta prejuízos práticos e emocionais para o


trabalhador e a organização.

🞆 O quadro tradicional de estresse não envolve tais


atitudes e conduta, sendo um esgotamento
pessoal que interfere na vida do indivíduo, mas
não de modo direto na sua relação com o
trabalho.
⚫A síndrome afeta principalmente profissionais da
área de serviços ou cuidadores, quando em
contato direto com os usuários:

• Trabalhadores da Educação;
• Da Saúde;
• Policiais;
• Assistentes Sociais;
• Agente Penitenciários;
• Professores;
• Entre outros.
DIAGNÓSTICO
⚫No quadro clínico podem ser identificados:

• História de grande envolvimento subjetivo com o


trabalho, função, profissão ou empreendimento
assumido, que muitas vezes ganha o caráter de
missão;
• Sentimentos de desgaste emocional e
esvaziamento afetivo (exaustão emocional);
• Queixa de reação negativa, insensibilidade ou
afastamento excessivo do público que deveria
receber os serviços ou cuidados do paciente
(despersonalização);
• Queixa de sentimento de diminuição da
competência e do sucesso no trabalho.
OUTROS SINTOMAS
🞆 Insônia;
🞆 Fadiga;
🞆 Irritabilidade;
🞆 Tristeza;
🞆 Desinteresse;
🞆 Apatia;
🞆 Angústia;
🞆 Tremores;
🞆 Inquietação.
TRATAMENTO

🞆 Psicoterapia;

🞆 Tratamento Farmacológico;

🞆 Intervenções Psicossociais.
DEPRESSÃO
⚫A depressão é uma doença que afeta a condição
psicológica e ocasiona sofrimento, interferindo
significativamente na vida das pessoas.

⚫Atingem crianças, adolescentes, adultos e idosos,


rompendo os limites de idade, condição
socioeconômica, raça e localização geográfica.

⚫Ela pode ser considerada por um estado


emocional de intenso desânimo em diferentes
áreas da vida, afetando o pensamento, humor, os
sentimentos e várias sensações relacionadas ao
corpo.
(CAPITÃO; MESQUITA, 2005).
⚫A relação de causalidade entre a depressão e o
trabalho ainda precisa ser mais profundamente
pesquisada.

⚫Mas, as pessoas afetadas pela depressão,


normalmente, estão na fase produtiva e são
economicamente ativas e, em decorrência da
doença, apresentarão problemas no trabalho,
como inabilidade, absenteísmo e redução da
produtividade no emprego e afastamento do
trabalho.

(CAPITÃO; MESQUITA, 2005).


DEPRESSÃO

🞆 Segundo a OMS (04/2018), a depressão é um


transtorno mental comum e uma das principais causas
de incapacidade em todo o mundo. Globalmente,
estima-se que 300 milhões de pessoas são afetadas por
essa condição. Mais mulheres sofrem de depressão que
homens.
🞆 A depressão é caracterizada por tristeza, perda de
interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou
baixa auto estima, sono e apetite alterados,
cansaço e falta de concentração. Quem sofre com
essa condição pode também ter múltiplas queixas
físicas sem nenhuma causa aparente.
🞆 A depressão pode ser de longa duração ou
recorrente, prejudicando substancialmente a
capacidade das pessoas de serem funcionais no
trabalho ou na escola, assim como a capacidade
de lidar com a vida diária. Em seu estado mais
grave, a depressão pode levar ao suicídio.
ESTATÍSTICA
🞆 Depressão cresce no mundo, segundo OMS;
Brasil tem maior prevalência da América Latina.

🞆 Doença afeta 4,4% da população mundial e 5,8%


dos brasileiros, segundo dados da OMS. Brasil é o
país com maior prevalência de ansiedade no
mundo: 9,3%.
🞆 O relatório encontrou as taxas de prevalência
para o pico da depressão entre os adultos mais
velhos, afetando 2% mais mulheres entre as
idades de 55 e 74 do que homens.

🞆 No entanto, em todos os grupos etários, ele disse


que depressão foi 1,5 vezes mais comum entre as
mulheres do que os homens.
🞆 A depressão é uma das principais causas de
incapacidade no trabalho. Embora um aspecto
importante da recuperação da doença seja continuar a
participar das atividades diárias normais tanto
quanto possível, condições de estresse e ansiedade
nesse ambiente podem influenciar de forma negativa
o quadro depressivo, tais como:

❖ Discriminação ou assédio no emprego; relacionamento


hostil entre chefes e funcionários;

❖ Trabalho com muitas demandas e pressão, que estimula a


competitividade ou que atrapalha a vida pessoal;

❖ Insegurança no cargo prejudica o desempenho,


especialmente durante tempos econômicos difíceis.
DEPRESSÃO
🞆 Rotinas exaustivas, pressão por excelentes resultados
e a necessidade de melhorar continuamente o
desempenho. Esses são apenas alguns dos fatores que
geram estresse aos trabalhadores e afetam sua
qualidade de vida e podem causar uma grave doença:
a depressão.

🞆 A psiquiatra Silvia Jardim, coordenadora do


Programa de Atenção à Saúde Mental dos
Trabalhadores (Prasmet/Ipub/UFRJ), aponta a
depressão como o grande mal do século. “São tempos
em que as pessoas se queixam da falta de trabalho, da
ameaça de perdê-lo ou das pressões a que se
submetem para preservá-lo”, diz.
🞆 De acordo com o Senado Federal, a depressão é
hoje a segunda causa de afastamento do trabalho,
só perdendo para as lesões por esforço repetitivo
(LER).

🞆 E por mais que não se possa afirmar que o


trabalho é a causa exclusiva da depressão, já que
vários motivos também desencadeiam a doença –
como fatores genéticos, biológicos e psicossociais -
, mesmo assim o trabalho contribui de forma
decisiva para o início ou agravamento do quadro.
🞆 Assim como a depressão, foi visto que o sexo feminino é
o que mais sente as conseqüências com 7,7% sendo
ansiosas e 5,1%.

🞆 Nos homens, a porcentagem cai para 3,6% em ambos


os casos.

🞆 “A ansiedade até certo nível, é algo normal da


natureza humana. Mas quando ela começa a paralisar
a pessoa, precisa ser analisada.
ESTILO DE VIDA, ADOECIMENTO E
AMBIENTE DE TRABALHO
CAP. 2
🞆 O estilo de vida é um conceito utilizado para
compreender o conjunto de atitudes e comportamentos
que constituem padrões recorrentes na vida de uma
pessoa.
🞆 Os hábitos de vida constituem um dos maiores fatores
responsáveis pelo nível de qualidade de vida do ser
humano.
🞆 Distresse, depressão, ansiedade, dentre as doenças de
fundo claramente emocional, e hipertensão arterial,
obesidade e diabetes, nas quais os aspectos emocionais
muitas vezes estão presentes, de modo até
imperceptível, to0das tem em sua gênese e manutenção
um fator em comum, que é, o conjunto de hábitos de vida
(Tabela 2.1).
🞆 Alimentação adequada ao ritmo de vida, controle
do estresse, relacionamentos interpessoais,
comportamentos preventivos as doenças
sexualmente transmissíveis e ao uso de drogas, a
adoção de rotinas que incluam a pratica de
atividades físicas formais e não formais estão
entre os padrões que constituem o estilo de vida
de uma pessoa saudável.

🞆 A atividade física contribui para o aumento da


predisposição ao trabalho físico e mental, a
diminuição do estresse, ao equilíbrio psicológico,
a promoção da interação social, ao
desenvolvimento da afetividade, a melhoria da
integração social.
🞆 A busca do equilíbrio entre as necessidades,
expectativas e recursos que o trabalhador possui
e as necessidades, expectativas e demandas da
organizacao tem sido um desafio para
Humanidade.
🞆 Se no trabalho passamos a maior parte de nossas
vidas, é da qualidade de suas condições que
decorre uma vida melhor; provavelmente, mais
longa e feliz.
🞆 Felicidade aqui, significa bem mais que
disposição física ou manter-se livre de doenças,
significa percepção de bem-estar, qualidade nas
interações e assimilação do trabalho como fonte
de prazer.
🞆 Quadros cinzas das Págs. 36 até 44.
TEORIAS E PROCEDIMENTOS DE INTERVENÇÃO
NO AMBIENTE DE TRABALHO
CAP. 3

⚫Existem dois tipos básicos de programas de


atenção à saúde do trabalhador:
1. Centrado nas manifestações da pessoa, visando a
aprendizagem , por parte do trabalhador, de
estratégias de enfrentamento das condições ou
dos agentes estressantes, procurando recuperar e
prevenir respostas negativas associadas aos
efeitos do estresse.
2. Focado no contexto de trabalho, do grupo e da
organização. Procuram, modificar a situação em
que se desenvolvem as atividades e os aspectos
da estrutura, das políticas e das estratégias
organizacionais e de gestão.
Têm como objetivo modificar de modo integrado, as
condições ocupacionais, a percepção do trabalhador
e a habilidade de enfrentamento nas situações de
estresse.
🞆 Podemos conceitualizar os tipos de intervenção
em primária, secundária e terciária.

🞆 Primária: tenta mudar os estressores


organizacionais presentes no trabalho. Ex.
redefinição de tarefas; modificação do ambiente
ergonômico; outorga ao trabalhador de maior
poder de decisão e autoridade; oferecimento de
horários flexíveis; entre outros.
🞆 Secundária: há uma tentativa de aliviar a
intensidade da sintomatologia do estresse
presente antes que doenças se manifestem.

🞆 Terciária: caracterizada pelo tratamento das


doenças que tem em sua gênese a contribuição do
estresse e que já se manifestaram. Isto é feito,
pelo encaminhamento dos trabalhadores a
profissionais da área de saúde física ou mental.
🞆 Giga e colaboradores (2003), defendem que a
maioria dos programas na área do manejo do
estresse, por eles analisados, se enquadram no
tipo de prevenção secundária, em que técnicas de
coping são repassadas para o trabalhador sujeito
a níveis altos de estresse ocupacional.

🞆 O estabelecimento de um programa de
intervenção nos âmbitos decisórios é, sem dúvida,
o mais relevante, pelo seu caráter eminentemente
preventivo.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
🞆 BORSOI, I. C. F. Da relação entre trabalho e saúde à relação entre trabalho e saúde
mental. Psicologia & Sociedade, 19 (spe), 103-111. 2007.
🞆 CASTILLO, A, R. e col. Transtornos de ansiedade. Rev Bras Psiquiatr , 22(Supl
II):20-3. 2000.
🞆 CAPITÃO, C.G. & MESQUITA, L.M. A depressão em trabalhadores de uma frente
de trabalho. Santa Catarina: Revista de Psicologia da UNC, 2005.
🞆 GUIMARAES, L, A, M; GRUBITS, S. Série Saúde Mental e trabalho. Vol. II.
São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.
🞆 KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
🞆 LIPP, M. E. N.; MALAGRIS, L. N. O stress Emocional e seu Tratamento. In:
RANGE, B. (Org). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a
psiquiatria (pp.475-490). Porto Alegre: Artmed, 2001.
🞆 ZANELLI, J. C. Estresse nas organizações de Trabalho: Compreensão e
intervenções baseadas em evidencias. Porto Alegre: Artmed, 2010.
🞆 OMS. Dados da Depressão.
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&i
d=5635:folha-informativa-depressao&Itemid=822

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