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Brazilian Journal of Health Review 593

ISSN: 2525-8761

A síndrome de Burnout entre as profissões e suas consequências

Burnout syndrome between professions and their consequences

DOI:10.34119/bjhrv4n1-051

Recebimento dos originais: 12/12/2020


Aceitação para publicação: 09/01/2021

Natália Caroline Caixeta


Discente do Curso de Medicina
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: nataliacarol14@hotmail.com

Giselly Nunes Silva


Discente do Curso de Medicina
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: gisellynunes@unipam.edu.br

Marcele Soares Côrtes Queiroz


Discente do Curso de Medicina
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: marcelesoares24@gmail.com

Mariana Oliveira Nogueira


Discente do Curso de Medicina
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: marinogueira91@gmail.com

Rafaela Rodrigues Lima


Discente do Curso de Medicina
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: rafalimma2304@gmail.com

Vanessa Aparecida Marques De Queiroz


Discente do Curso de Medicina
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: vanessaamq@gmail.com

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ISSN: 2525-8761

Laís Moreira Borges Araújo


Doutora em Promoção da Saúde pela Universidade de Franca UNIFRAN - Franca, SP.
Brasil
Docente no Centro Universitário de Patos de Minas- MG.
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: laismba@unipam.edu.br

Natália de Fátima Gonçalves Amâncio


Pós-Doutora em Promoção da Saúde pela Universidade de Franca UNIFRAN - Franca,
SP. Brasil
Docente no Centro Universitário de Patos de Minas- MG
Instituição: Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM
Endereço: R. Maj. Gote, 808 - Caiçaras, Patos de Minas - MG, 38700-207
E-mail: nataliafga@unipam.edu.br

RESUMO
Contexto: A Síndrome de Burnout (SB) é um problema de saúde pública, uma vez que
atinge profissionais de distintas categorias, principalmente aqueles que lidam diretamente
com pessoas e exercem ações de cuidado, gerando consequências à saúde física, mental
e à qualidade de vida. Caracterizada pelo esgotamento profissional, a SB apresenta caráter
multidimensional, com sintomatologia que demonstra exaustão emocional,
despersonalização e baixa realização profissional. Objetivos: Verificar a incidência da SB
entre as profissões na contemporaneidade e relacionar com as causas e consequências
decorrentes dela. Métodos: Revisão integrativa da literatura com uso das bases de dados
SCIELO, BIREME, PUBMED, considerando publicações dos últimos 5 anos.
Resultados: Os artigos revisados revelam evidências expressivas da SB nas seguintes
profissões: profissionais da saúde (enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, motoristas do
transporte de saúde, educadores físicos, gerentes da ESF); policiais militares, bombeiros,
professores, bancários e motoristas de transporte coletivo. Conclusão: A SB apresenta-se
de forma crescente na população inserida no ambiente de trabalho e afeta diversos
profissionais. As consequências decorrentes dessa síndrome prejudicam o indivíduo em
todos os âmbitos de sua vida.

Palavras-chave: Estafa profissional, incidência, esgotamento


profissional,consequências.

ABSTRACT
Context: The Burnout Syndrome (BS) is a public health problem, since it affects
professionals from different categories, mainly those who deal directly with people and
exercise care actions, generating consequences for physical and mental health and quality
of life. Characterized by professional exhaustion, the syndrome has a multidimensional
character, with symptomatology that demonstrate emotional exhaustion,
depersonalization and low professional achievement. Objectives: To verify the incidence
of Burnout Syndrome between the professions in contemporaneity and to relate with the
causes and consequences resulting from it. Methods: Integrative literature review using
the SCIELO, BIREME, PUBMED databases, considering publications from the last 5
years. Results: The reviewed articles reveal expressive evidences of BS in the following

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professions: health professionals (nurses, doctors, physiotherapists, health transport


drivers, physical educators, ESF managers); military police, firefighters, teachers, bank
workers and public transport drivers. Conclusion: The Burnout Syndrome presents itself
in an increasing way in the population insert in the work environment and affects several
professionals. The consequences of this syndrome harm the individual in all areas of his
life.

Keywords: Burnout Syndrome, incidence, professional exhaustion, consequences.

1 INTRODUÇÃO
O mercado de trabalho atual passa por constantes avanços que exigem cada vez
mais esforços dos trabalhadores para que consigam executar suas funções. Nesse sentido,
os profissionais são pressionados pelo próprio sistema econômico a aprimorarem
frequentemente as suas qualidades rumo a um ideal de perfeição. Tal fato pode gerar tanto
estresse físico, quanto psicológico nos indivíduos, caminhando para o surgimento de
agravos mentais muito comuns na população (BRANCO et al, 2020).
Nesse cenário de dinamismo do mercado de trabalho, surgiu o termo “Burnout”,
de origem inglesa, definido por algo que teve seu funcionamento interrompido por
exaustão de energia (PÊGO e PÊGO, 2016). Dessa maneira, a SB é uma condição
relacionada ao trabalho, uma vez que está interligada com a exposição do profissional a
um estresse crônico presente no ambiente laboral, que possibilita o desenvolvimento de
um extremo esgotamento funcional e psicológico (LATORRACA et al, 2019). Tal
situação, segundo Gaspar e Guedes (2016), culmina na redução da capacidade
ocupacional e leva o trabalhador a desempenhar suas atividades em profundo estado
depressivo, sem prazer, satisfação ou motivação.
Em 1974, um psiquiatra, chamado Hebert Freudenberger, descreveu, pela
primeira vez, a SB, que, atualmente, está inserida na Classificação Internacional de
Doenças 11 (CID11) (PERNICIOTTI et al, 2020), na qual é descrita como: "sensação de
esgotamento; cinismo ou sentimentos negativos relacionados ao trabalho; eficácia
profissional reduzida’’ (LIMA et al, 2018). Uma outra definição da SB, que é a mais
consolidada e a mais aceita cientificamente, foi dada por Christina Maslach, no ano de
1976, sendo essa: “uma resposta prolongada a estressores interpessoais crônicos no
trabalho que se apresenta em três dimensões interdependentes: exaustão emocional,
despersonalização e redução da realização pessoal’’ (SILVA et al, 2018). Já outros

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autores, como Perniciotti et al, (2020), definem Burnout em um conceito bidimensional,


no qual apenas a exaustão emocional e a despersonalização seriam consideradas.
Percebe-se, portanto, a falta de consenso na literatura acerca do que caracterizaria
a SB e, consequentemente, uma presente dificuldade de padronização de critérios
diagnósticos (PERNICIOTTI et al, 2020). Contudo, para Lima et al, (2018), mesmo diante
das divergências que existem quanto a sua caracterização, fica evidente o protagonismo
dessa síndrome no mundo laboral, já que é crescente o percentual de profissionais com
indicativos da SB e os seus impactos negativos tanto no desempenho, quanto na vida
pessoal.
Diante disso, vários estudos têm analisado a existência da SB nas diversas
categorias profissionais. Cabe ressaltar que, apesar dessa síndrome ser alarmante para
qualquer trabalhador, ela acomete preferencialmente profissionais que trabalham
diretamente com humanos, cujo serviço diário necessita lidar com os problemas das
pessoas, cuidar, tratar e/ou acompanhar (LIMA et al, 2018). Assim, Silva et al, (2018)
constatou que profissionais da área da saúde (como médicos, dentistas, enfermeiros,
fisioterapeutas), professores e policiais militares compõem esse grupo de risco, sendo
que, o trabalho em unidades de terapia intensiva (UTI) e aqueles com turnos dobrados,
por exemplo, são especialmente estressantes, já que a sobrecarga física e mental ao
trabalhador é ainda maior.
A SB se traduz como um problema de saúde pública, tendo em vista as
consequências para a vida dos trabalhadores, como ansiedade, insônia, baixa auto-estima,
alteração dos níveis pressóricos, entre outros agravos, que podem culminar em problemas
no âmbito profissional e também pessoal (BRANCO et al, 2020).
Nesse viés, destaca-se que, em maio de 2019, a Organização Mundial da Saúde
incluiu a SB na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11),
considerando-a uma condição exclusivamente ligada ao contexto trabalhista, que está
relacionado ao estresse crônico a que o profissional é submetido em seu ambiente de
trabalho (OPAS, 2019).
Nesse sentido, o presente artigo busca realizar uma revisão de literatura acerca
dessa síndrome que se torna cada vez mais comum em nossa sociedade, abrangendo
definições, conceitos, etiologia, incidência em diferentes profissionais e áreas
trabalhistas, sintomas, fatores de risco, bem como analisar suas consequências pessoais e
profissionais e a interferência destas na qualidade de vida dos indivíduos. Assim,
pretendemos verificar a incidência da SB entre as profissões na contemporaneidade, de

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modo a fazer um quadro comparativo entre elas, observando a relação do número de casos
com o tipo de ocupação.

2 METODOLOGIA
O presente estudo consiste em uma revisão integrativa de literatura sobre a
incidência de Burnout entre os trabalhadores de diversas profissões na sociedade
contemporânea. Para elaboração da questão de pesquisa, utilizou-se a estratégia PICO
(Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, a questão de
pesquisa delimitada foi “Qual é a incidência da SB nas diferentes profissões e suas
consequências”? Nela, temos P= Profissionais; I= SB; C= diferentes profissões e O=
consequências da Síndrome. A partir do estabelecimento das palavras-chave da pesquisa,
foi realizado o cruzamento dos descritores “Burnout”; “Profissionais”; “Consequências”;
“Incidência”; “Saúde”; “Estresse”; nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS); National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific Eletronic
Library Online (SCIELO), EbscoHost. Foram considerados estudos publicados no
período compreendido entre 2014 e 2020. A estratégia de seleção dos artigos seguiu as
seguintes etapas: busca nas bases de dados selecionadas; leitura dos títulos de todos os
artigos encontrados e exclusão daqueles que não abordavam o assunto; leitura crítica dos
resumos dos artigos e leitura na íntegra dos artigos selecionados nas etapas anteriores.
Foram encontrados 8750 artigos por meio da busca nas bases de dados, e a partir da
utilização dos seguintes filtros: publicação nos últimos cinco anos, língua portuguesa e
texto completo gratuitamente, foram selecionados 1599, dos quais 39 foram aceitos por
meio da leitura do título ou resumo. 1560 artigos não foram utilizados devido aos critérios
de exclusão, que foram os artigos publicados fora do período estipulado, aqueles que
estivessem fora do tema proposto e não estivessem disponíveis integralmente. Como
critérios de inclusão, foram considerados artigos originais, que abordassem o tema
pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo, sendo excluídos aqueles
estudos que não obedeceram aos critérios de inclusão supracitados. Assim, foram
selecionados e lidos 21 artigos por tratarem diretamente dos descritores procurados em
nossa busca e por discutirem sobre o assunto pesquisado (Figura 1).

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Figura 1: Fluxograma acerca dos critérios metodológicos

Estudos Estudos selecionados Estudos Estudos


identificados por a partir da aplicação selecionados por selecionados para
meio da busca dos filtros: texto meio da leitura do verificação de
bibliográfica nas completo, idioma título ou resumo. critérios de
bases de dados. português, últimos 5 N=39 inclusão.
N=8750 anos. N=21
N= 1599

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020.

3 RESULTADOS
A partir dos 21 artigos selecionados, foram identificados alguns aspectos
relevantes sobre a SB relacionados com diversas profissões. Desse modo, é notório que
grande parte dos profissionais que desenvolvem a síndrome exercem muitas relações
interpessoais durante o período de trabalho, o que é fator preponderante para o desgaste
físico e mental desses indivíduos (Tabela 1).

Tabela 1 – Incidência, causas e efeitos da Síndrome de Burnout encontrados nas publicações do período
de 2014 a 2020.
Estudo Título do Artigo Achados principais
PÊGO, PÊGO, 2016. Síndrome de Incidência:
Burnout. Síndrome de Burnout: agravo ocupacional � ↓ qualidade de vida
do profissional
Profissões envolvidas com o cuidado e contato com pessoas.
- Professores: 70,13% � sintomas de Burnout
Causas:
Violência em sala de aula, ↑ jornada de trabalho, ↓salários, ↓ idade
do professor (↓experiência profissional), ↓ formação continuada
Consequências:
Prejuízo no ambiente educacional, ↑ alienação, ↑ apatia e cinismo, ↑
problemas de saúde, ↑ absenteísmo, ↓ qualidade na aprendizagem.
- Profissionais da enfermagem � 35,7% apresentaram Burnout.
Causas:
Contato direto com pacientes e familiares, sobrecarga de trabalho, ↓
autonomia.
Consequências
↑ estresse crônico
- Anestesiologistas � 44,6% apresentam percepção negativa sobre a
sua qualidade de vida.
- Intensivistas � Prevalência de Burnout em 63,3%.
Causas: ↑ da demanda psicológica
Consequências: ↑ risco à saúde.
- Médicos Residentes � grupo vulnerável à SB
50% sintomáticos à Síndrome.

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Causas: jornada de trabalho exaustiva, ↓ reconhecimento


institucional, ↓ remuneração.
- Bombeiros � 35,29% apresentaram fatores de risco para
desenvolver Burnout.
Causas: lida com riscos biológicos e psicológico, ↑ da privação do
sono
Consequências Gerais Da SB
↑ prejuízos pessoais e profissionais � estresse crônico � ↑
enfermidades, ↑ alterações psicossomáticas (alterações
cardiovasculares e respiratórias, gastrite e úlcera, insônia)
↑ consequências institucionais �↓ produtividade, imagem negativa,
↑ dos gastos com a saúde dos funcionários, contratação e
treinamento de novos profissionais.
GUEDES, “Burnout” em Incidência:
GASPAR, 2016. uma amostra de - O “burnout”� um dos principais agravos em profissionais da
profissionais de educação e da saúde.
Educação Física - ↑ médicos intensivistas e residentes.
brasileiros. - Os profissionais de educação física são muito vulneráveis ao
estresse laboral.
Causas:
- Profissional de educação física: situações desgastantes físicas e
emocionais, trabalho subvalorizado e pluriemprego.
Consequências:
- ↑ exaustão emocional e despersonalização.
- Profissionais com jornada de trabalho ≥41 horas/semana e atuação
em 3 ou mais locais de trabalho: ↑ vulnerabilidade ao burnout.
- ganhos ≤ 2 salários mínimos �70% mais chance de apresentar
“burnout” se comparados com aqueles que relataram ganhos de ≥ 7
salários mínimos.
- ↑ incidência de “burnout” nos profissionais de educação física com
mais tempo de profissão.
RODRIGUEZ, Impacto da Incidência:
CARLOTTO, regulação de - Psicólogos � fator de proteção: desenvolvem maior autoeficácia
CÂMARA, 2017. emoções no durante a formação profissional
trabalho sobre as - A própria natureza do trabalho de psicólogos está em contato direto
dimensões de com pessoas que se encontram em sofrimento.
Burnout em Causas:
psicólogos: O - Burnout em psicólogos � as intensas exigências emocionais.
papel moderador - quantidade de interações com clientes � sobrecarga laboral.
da autoeficácia - ↑ esforço para regular emoções no trabalho: ↓ sentimento de ilusão
pelo trabalho, ↑ desgaste emocional, ↑ indolência, ↑ sentimento de
culpa.
Consequências:
- Quanto ↑ o esforço para regular as emoções no trabalho, ↑ é o
sentimento de desgaste emocional, indolência e culpa.
LIMA et. al, 2018. Identificação Causas:
preliminar da - Profissionais de segurança pública vivem perigos a todo instante,
síndrome de estão próximos das mazelas da sociedade, recebem cobranças
burnout em exacerbadas por resultados e resolução de conflitos
policiais - Exposição constante a situações adversas � a sensibilidade a danos
militares psicológicos é maior
Incidência:
- Os policiais militares estão entre os profissionais que mais sofrem
de estresse
- é mais incidente nas mulheres
- Ter filho � fator agravante
- A prática de exercício físico não evitou o aparecimento da
síndrome, mas pode ter cooperado para o seu não agravamento.
Consequências:

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- Problemas e afastamentos do serviço por depressão, síndrome do


pânico, transtorno pós-traumático e problemas cardíacos.
SOARES, 2018. Burnout e Incidência:
fatores - ↑ profissionais inseridos em serviços que exigem atenção direta,
associados entre contínua e emocional.
profissionais de - ↑ indivíduos que lidam com o público (médicos, enfermeiros,
enfermagem de professores, etc.).
hospital Consequências:
municipal no - desmotivação, pouca compreensão, tratamento frio e desumano
Rio de Janeiro com os pacientes.

DIAS, ANGÉLICO, Síndrome de - Burnout � efeitos negativos para o trabalhador, os colegas, o


2018. Burnout em ambiente de trabalho, os clientes e a organização.
Trabalhadores - Os bancários � ↑ risco de desenvolver a síndrome.
do Setor Causas:
Bancário: Uma - exposição à violência verbal de clientes e chefia, riscos de assalto
Revisão de e sequestro.
Literatura. - cumprimento de metas comerciais, de rentabilidade e de captação
de clientes � ansiedade.
- O contato intenso com pessoas.
Consequências:
- ↓ na qualidade do atendimento e perdas financeiras.
- Perda da qualidade dos serviços da organização, reduzindo o valor
de sua imagem junto ao mercado e clientes.

MOREIRA, SOUZA, Síndrome de Consequências:


YAMAGUCHI, 2018. Burnout em - faltas ao trabalho � prejuízos para a empresa, redução na qualidade
médicos: uma do trabalho oferecido, na produtividade e no lucro.
revisão - médicos (1 a cada 2 médicos desenvolve a síndrome e desses, 1/3
sistemática é afetado consideravelmente e 1/10 é afetado de forma grave).
- 23,1% dos médicos brasileiros apresentam a SB.
Causas:
- exposição contínua ao estresse emocional �cuidar de pessoas,
altos níveis de responsabilidade, desvalorização da profissão,
aspectos relacionados à dor, à angústia de um paciente, ou a
sensação de frustração frente a evoluções negativas de quadros
clínicos.
Incidência da SB entre as diferentes especialidades médicas:
- ↑ profissionais atuantes nas UTI’s
- médicos atuantes na atenção básica � 2º lugar
-↓ Oncologia, Anestesiologia e Dermatologia.
SILVA et. al, 2018. Síndrome de - Prevalência elevada da síndrome entre os fisioterapeutas avaliados
Burnout: - Trabalho em UTIs: alta morbimortalidade dos pacientes � estresse
realidade dos psicológico excessivo aos trabalhadores
fisioterapeutas Causas:
intensivistas? - Cansaço, estado constante de alerta, lidar com familiares com as
devidas habilidades em situações de sofrimento e de morte, carga
horária excessiva de trabalho, imprevisibilidade, dilemas éticos,
falta de recursos materiais, ↓ remuneração
- Fatores de risco: gravidade das doenças e conflitos com colegas de
trabalho
Consequências:
- Insônia, fadiga, irritabilidade, ansiedade, depressão
- Em última instância: sentimentos de insatisfação com o trabalho �
atitudes frias e negativas
Incidência:
- Exaustão emocional e despersonalização estão presentes em maior
proporção nos trabalhadores de UTIs pediátricas e neonatais do que
naqueles das UTIs adulto

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- Índice de EE em UTI de cuidado adulto é semelhante àquele


observado entre médicos cancerologistas brasileiros
- Realização profissional nas UTIs adulto > nas UTIs pediátricas e
neonatais
LATORRACA et. al, O que as Incidência:
2019. revisões No Brasil 72% dos profissionais estão submetidos a condições de
sistemáticas estresse �32% representadas pela Síndrome de Burnout.
Cochrane dizem -Profissionais de Saúde: ↑ risco
sobre prevenção Causas:
e tratamento da Excesso de trabalho
síndrome de Contato próximo com pessoas em sofrimento físico e psicossocial.
burnout e Consequências:
estresse no ↑ deterioração das relações interpessoais, ↑ atrasos laborais, ↑
trabalho. absenteísmo, ↓ produtividade, ↓ motivação, ↓ reconhecimento e
plano de carreira, ↑ acidentes de trabalho, ↑ erros de medicação, ↑
riscos ocupacionais, ↓ lazer.
- Policiais: expostos diariamente a estressores.
↑ taxas de exaustão emocional
26% das aposentadorias� desordens psicológicas e mentais.

OLIVEIRA et. al, O esgotamento - Unidades de Terapia Intensiva:


2019. dos enfermeiros
no setor de ambientes altamente estressantes � exposição a situações de risco
urgência e de morte ou sofrimento intenso.
emergência: - Helthy Education Authority � enfermagem � 4ª profissão mais
revisão estressante no setor público.
integrativa. - índice de 40% nos profissionais do turno da noite.
- fatores: excesso de tarefas executadas, diminuição do tempo de
pausa, e aumento da quantidade das relações interpessoais.
ZANIN, ANGONESE, Identificação da Incidência:
2019. Síndrome de Carga horária > 40 horas semanais;
Burnout em Menor atuação na área: ↑ frustração;
motoristas do Causas:
transporte da ↑ envolvimento com pacientes;
saúde. Plantões semanais: jornada 24h;
↓ apoio psicológico no trabalho;
Consequências:
↑ irritabilidade, ↑ insônia, ↑ Síndrome do Pânico, depressão e
doenças gastrointestinais;
↑ despersonalização; ↓ realização profissional;
↑ acidentes de trabalho;
↑ divórcio.
RAMOS et. al, 2019. Impactos da Incidência:
Síndrome de Enfermagem: profissão de maior risco.
Burnout na Causas:
qualidade de Monotonia e sobrecarga laboral;
vida dos Conflitos interpessoais;
profissionais de Contato com a morte;
enfermagem da Pressão da instituição de trabalho;
atenção básica à Início de carreira: frustração;
saúde. Mais de 40 horas semanais de trabalho.
Consequências:
↓ qualidade do atendimento prestado;
↑ despersonalização; ↑ exaustão emocional; ↓ realização
profissional.
SILVA, OLIVEIRA, Burnout em Incidência:
2019. professores - profissionais em contato com o público � expostos a estressores�
universitários do principalmente nas áreas da saúde e ensino.
ensino particular Docentes universitários: ↑ risco.
Estudos com professores (N=179) revelaram:

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sentimentos de exaustão emocional, desumanização e decepção com


trabalho.
Causas:
↑ jornadas de trabalho, ↓ salários, precariedade das condições de
trabalho, ↑ atribuições burocráticas, ↓ preparo para lidar com novas
exigências laborais, ↑ n° de turmas e de alunos, comportamentos
inadequados dos estudantes, ↑ pressão governamental em relação à
produtividade.
Consequências:
↑ sobrecarga física e cognitiva, ↑ estresse crônico.
BRANCO et. al, 2020. Síndrome de Incidência:
burnout entre - ↑ profissionais que tenha contato direto com o público e em tempo
trabalhadores de prolongado.
uma Causas:
universidade na -múltiplas tarefas, baixa autoestima, carga horária de trabalho muito
fronteira franco alta, baixa remuneração, o não reconhecimento de seus trabalhos,
brasileira instituição ao qual o mesmo está inserido.

PERNICIOTTI et. al, Síndrome de Causas:


2020. Burnout nos - percepção de que o ambiente de trabalho pode causar danos ao seu
. profissionais de físico e à sua saúde mental e, de que as demandas são excessivas.
saúde: Incidência:
atualização - ↑ contato direto e frequente com seus clientes/pacientes
sobre definições, Profissões mais acometidas:
fatores de risco e - profissionais da saúde, da educação, policiais, assistentes sociais e
estratégias de outros.
prevenção. - médicos das diversas especialidades (25 a 67%), nos médicos
residentes (7 a 76%) e em enfermeiros (10 a 70%).
Consequências:
- despersonalização, cinismo, uma postura distante frente aos
colegas, aos pacientes/clientes e ao trabalho, a perda de empatia,
insensibilidade afetiva, culpabilização de pacientes/clientes, por
seus problemas e incapacidade de expressar empatia frente à morte
de um paciente.
PIRES et al., 2020. Síndrome de Incidência:
Burnout em Idade média de 37 anos;
profissionais de ↓salários: ↑carga de trabalho: ↑ incidência da SB;
enfermagem de Turnos de trabalho noturnos;
pronto-socorro. Pouco vínculo com a empresa: menor resiliência;
Profissionais sedentários;
Maior nos etilistas e tabagistas.
Causas:
↑ contato com pacientes e familiares;
Dupla jornada;
Relações conflituosas no trabalho;
Precariedade das condições laborais.
Consequências:
Sobrecarga física e psicológica;
Comportamento de fuga ou esquecimento: tabagismo e etilismo;
↑ despersonalização; ↑ exaustão emocional; ↓ realização
profissional;

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CARLOTTO, Fatores Motoristas de transporte coletivos de passageiros �diariamente


NEUMANN, 2020. Associados à expostos a estressores � propensos à SB.
Síndrome de Causas: congestionamentos, desrespeito às leis de trânsito (carros,
Burnout motos, ciclistas e pedestres), ↓condições das vias e climáticas, ↓
em Motoristas folgas, medo de acidente,
de Transporte conflito com passageiros.
Coletivo de Consequências: ↓ saúde física e emocional, ↓ desempenho na
Passageiros direção.

PORCIUNCULA, Síndrome de Gerentes da ESF� 11,2% com presença de SB� ↑ média


VENÂNCIO, SILVA, Burnout em Três dimensões em níveis críticos:
2020. gerentes da 24,9% �exaustão emocional
Estratégia de 25,2% �despersonalização
Saúde da 32,8% � realização profissional
Família Consequências: comprometimento do trabalho, ↓ energia, ↑
abandono e faltas, influência negativa no ambiente, ↑ conflitos

4 DISCUSSÃO
O Burnout, conhecido rotineiramente como esgotamento profissional, é um
problema de saúde pública desenvolvido na interação entre indivíduo e ambiente
ocupacional (PÊGO e PÊGO, 2016; VIDOTTI et al, 2019). A SB apresenta-se como um
processo multidimensional que envolve três dimensões independentes, mas que podem
estar associadas: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional
(GUEDES e GASPAR, 2016). A primeira dimensão está relacionada a sobrecarga de
trabalho, ao desgaste físico e emocional, no qual o profissional não consegue ter energia
suficiente para dedicar a suas atividades (PÊGO e PÊGO, 2016). A segunda associa-se ao
distanciamento do profissional com as pessoas que se beneficiam do seu trabalho, ligada
a atitudes de indiferença ao sentimento alheio. Por fim, a terceira refere-se ao estado de
autodepreciação do serviço e à sensação de incompetência (OLIVEIRA et al, 2019).
Quanto aos sintomas mais comuns da SB, destacam-se, fisicamente, fadigas, dores
osteomusculares, distúrbios do sono, cefaleia, perturbações gastrointestinais,
imunodeficiência, e até mesmo disfunções sexuais e alterações do ciclo menstrual (PÊGO
e PÊGO, 2016; PERNICIOTTI et al, 2020). Já no âmbito psíquico, devido à exaustão
emocional e à autodesvalorização decorrentes dessa síndrome, os trabalhadores
costumam apresentar sintomas como labilidade emocional, alterações de memória,
lentificação do pensamento, sentimentos de alienação, características depressivas e
paranoia (PÊGO e PÊGO, 2016; PERNICIOTTI et al, 2020; RAMOS et al, 2019). Todos
esses sintomas, por consequência, originarão mudanças comportamentais, dentre as quais

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as mais observadas foram: irritabilidade, dificuldade para relaxar, aumento de substâncias


como álcool e tabaco utilizados como mecanismo de fuga, perda de iniciativa e escrúpulo
excessivo (PÊGO e PÊGO, 2016; PIRES et al, 2020).
De modo geral, as consequências da SB vão além da pessoa acometida, uma vez
que afeta todo o sistema no qual o profissional está envolvido, seja no próprio trabalho,
com diminuição de produtividade, mal atendimento dos clientes, demissões e
afastamentos, seja até mesmo nas relações cotidianas entre amigos, familiares e vida
conjugal, podendo, nesta última, chegar ao divórcio. (PERNICIOTTI et al, 2020; DIAS
e ANGELICO, 2018; ZANINI e ANGONESE, 2019).
A SB apresenta caráter psicossocial e atinge distintas categorias profissionais
(PÊGO e PÊGO, 2016; VIDOTTI et al, 2019). Nos artigos revisados, as principais
profissões susceptíveis à SB foram: profissionais da saúde (enfermeiros, médicos,
fisioterapeutas, motoristas do transporte de saúde, educadores físicos, gerentes da ESF);
policiais militares, bombeiros, professores, bancários e motoristas de transporte coletivo.
Tais profissões possuem em comum ações que envolvem o cuidado e o relacionamento
direto com outros indivíduos. Desse modo, o contato interpessoal configura-se como fator
preponderante no desenvolvimento da SB (BRANCO et al, 2020).
Entre os profissionais de saúde, os enfermeiros foram os mais acometidos pela
SB, o que se deve, em parte, ao ambiente de trabalho extremamente estressante e à
exposição frequente a situações de morte ou sofrimento (OLIVEIRA et al, 2019). Além
disso, os trabalhadores enfrentam longas jornadas de trabalho, desempenham múltiplas
tarefas e se relacionam com diversas pessoas, o que também são fatores de risco para o
desenvolvimento da síndrome (BRANCO et al, 2020). Diante disso, observa-se que os
profissionais da enfermagem estão submetidos a uma condição de desgaste crônico que
os torna suscetíveis ao esgotamento laboral (PEREIRA e GAIARDO, 2016).
A profissão de docente apresentou relevância na expressividade da SB (SILVA e
OLIVEIRA, 2019; PÊGO e PÊGO, 2016). Uma vez que ensinar e lidar diariamente com
personalidades múltiplas exige excesso de trabalho e dedicação, velocidade na realização
das tarefas e responsabilidade em todas as atividades desenvolvidas, os professores
vivenciam uma rotina complexa, permeada de pressão e estressores (SILVA e
OLIVEIRA, 2019; DALCIN e CARLOTTO, 2017). Tais fatores estressantes englobam
salas de aulas superlotadas, carga horária excessiva, indisciplina dos discentes, ausência
de reconhecimento e desvalorização do trabalho pelos alunos /comunidade, violência no
ambiente escolar, entre outros (RODRIGUES e CARLOTTO, 2014). Dessa maneira,

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surge as consequências decorrentes do exercício da profissão como prejuízo à saúde


mental/física e absenteísmo, o que, consequentemente, reflete no processo ensino-
aprendizagem (PÊGO e PÊGO, 2016; SILVA e OLIVEIRA, 2019; DALCIN e
CARLOTTO, 2017; RODRIGUES e CARLOTTO, 2014).
Os psicólogos estão expostos ao desenvolvimento da SB devido à natureza
emocional de seu trabalho, que demanda o contato com pessoas em estado de sofrimento.
Desse modo, esses profissionais necessitam controlar suas emoções no ambiente de
trabalho a fim de beneficiar os clientes e as organizações (RODRIGUEZ e CARLOTTO,
2017). O psicólogo atua na promoção da saúde mental e qualidade de vida dos indivíduos,
sendo assim, sua rotina engloba o manejo dos distúrbios de origem psicoafetiva dos
pacientes. Somado a isso, o perfil de risco é constituído por homens, profissionais sem
companheiro (a) fixo (a), sem filhos, com menores ganhos financeiros, menor carga
horária de trabalho semanal e maior número de atendimentos/semanais, que atuam em
outra atividade não relacionada à Psicologia ou em apenas uma área da Psicologia, que
possuem vínculo empregatício e não participam de grupos de estudo ou associações da
Psicologia. Nesse âmbito, tais fatores predisponentes tornam o psicólogo suscetível ao
Burnout (ASCARI et al, 2016).
Ao analisar a profissão dos policiais militares, observa-se que estão imersos em
uma rotina de risco iminente e em situações de estresse constante, expondo sua própria
vida ao perigo em prol de proteção da população (LIMA et al, 2018). Além disso, é
naturalmente parte de um sistema rígido de hierarquia, típico do serviço militar, fator que
agrega pressões e exigências a esse trabalho (PERNICIOTTI et al, 2020). Todos os fatores
supracitados predispõem os policiais militares a desenvolverem doenças de caráter
psicológico como a SB (LIMA et al, 2018). Como consequência, é notório a grande
recorrência de afastamentos devido à depressão, síndrome do pânico, transtorno de
estresse pós-traumático (LIMA et al, 2018; PERNICIOTTI et al, 2020).
Em um estudo que identificou manifestações da SB entre motoristas do transporte
da saúde, o elevado índice de diagnósticos de esgotamento profissional encontrado (93%)
mostrou-se significativo e preocupante (ZANINI e ANGONESE, 2019). A ocorrência da
SB nesta profissão está relacionada, principalmente, à dinâmica própria desse trabalho, a
qual gera sobrecarga de movimento e tensão ocupacional (ZANINI e ANGONESE,
2019). O motorista do transporte de saúde tem maior proximidade físico-psicológica com
o doente/familiares e está continuamente exposto a fatores nocivos, como o veículo e o
trânsito com seus congestionamentos, desrespeito às leis, piores condições das vias e do

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clima (ZANINI e ANGONESE, 2019; NEUMANN e CARLOTTO, 2020). Além disso,


somado à desvalorização de seus trabalhos, ao menor apoio psicológico que têm e à
excessiva carga horária que cumprem (acima de 40 horas semanais), muitas vezes eles
realizam plantões com jornadas de 24 horas, sendo que esse excesso de horas extras foi
apontado como uma das principais fontes causadoras de estresse e, como consequência,
desencadeamento do Burnout com suas inúmeras repercussões profissionais, sociais e
pessoais (ZANINI e ANGONESE, 2019).
A excessiva carga de trabalho, as situações estressantes e intensas emoções que o
trabalho acarreta também são motivos de Burnout entre os educadores físicos e demais
profissionais de saúde submetidos a estresse crônico no trabalho (GUEDES e GASPAR,
2016; SILVEIRA et al, 2016). Entre as causas da SB nos profissionais de Educação
Física, tem-se a subvalorização de seus trabalhos e necessidade de pluriemprego,
vulnerabilidade às situações de desgaste físico e emocional, baixa remuneração e jornadas
semanais superiores a 41 horas, que resulta em acentuada exaustão emocional e
despersonalização desses trabalhadores (GUEDES e GASPAR, 2016).
Nas unidades de terapia intensiva (UTI’s), o trabalho é especialmente estressante
devido à alta morbidade dos pacientes e a elevada tensão física e mental destes ambientes
é o que leva os profissionais à SB (SILVA et al, 2018). Dentre fisioterapeutas
intensivistas, bem como enfermeiros trabalhando no setor de urgência e emergência,
observou-se esgotamento físico e mental em decorrência da exposição às situações de
risco de morte e/ou de sofrimento intenso, associada ao constante estado de alerta que o
ambiente requer, à necessidade de lidar com familiares nas diversas situações, dilemas
éticos, carga horária excessiva de trabalho e, ainda, baixa remuneração (OLIVEIRA et al,
2019; SILVA et al, 2018).Cabe ressaltar que, entre esses profissionais, não há adequada
preparação psicossocial, de tal forma que a atuação de qualidade se torna insuficiente
diante das demandas emocionais do ambiente de trabalho na UTI (SILVA et al, 2018).
Por outro lado, de modo geral, o mesmo não ocorre com psicólogos, que apesar de
estarem em contato direto com pessoas que se encontram em sofrimento, desenvolvem
maior autoeficácia durante a formação profissional, a qual é fator protetivo
(RODRIGUEZ e CARLOTTO, 2017).
Os profissionais da saúde enquadram-se dentre aqueles que são os mais
acometidos pela SB e, nos médicos, a sua prevalência varia de 25 a 67%, sendo que os
atributos particulares de cada especialidade médica impactam na maior ou menor
suscetibilidade ao desenvolvimento da SB (PERNICIOTTI et al, 2020). A mais alta

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incidência de Burnout foi verificada nos médicos atuantes nas UTI’s, expostos
continuamente ao estresse emocional, e que lidam não só com a dor e a angústia do
paciente/familiares, mas também, muitas vezes, com a sensação de frustração frente a
evoluções negativas de quadros clínicos (GUEDES e GASPAR, 2016; MOREIRA,
SOUZA e YAMAGUCHI, 2018). Por outro lado, essa incidência é menor entre
dermatologistas e anestesiologistas, por exemplo (PÊGO e PÊGO, 2016; MOREIRA,
SOUZA e YAMAGUCHI, 2018). Já os médicos residentes, submetidos à intensa pressão
física e emocional no início da carreira, estão inclusos no grupo vulnerável, de modo que
entre 50 a 76% deles são sintomáticos para a síndrome (PÊGO e PÊGO, 2016;
PERNICIOTTI et al, 2020). Como consequência, observa-se despersonalização, cinismo,
postura distante frente aos colegas, aos pacientes/familiares, perda de empatia,
insensibilidade afetiva, maiores prejuízos pessoais e profissionais (PÊGO e PÊGO, 2016;
PERNICIOTTI et al, 2020).

5 CONCLUSÃO
Tendo em vista todas as informações expostas neste estudo, foi possível perceber
que a SB, descrita a partir de 1974, apresenta-se, desde então, de forma crescente na
população inserida no ambiente de trabalho. Além disso, é notório que as consequências
decorrentes do acometimento por essa síndrome prejudicam o ser em todos os âmbitos de
sua vida, tanto profissionais, quanto pessoais, emocionais e psicológicos.
Diante disso, nota-se, também, que a presença de profissionais com SB atuantes
no mercado de trabalho gera prejuízos não só para sua saúde física e mental, mas também
para as empresas na qual estão inseridos, visto que a figura desse profissional demandaria
gastos dispendiosos de seus contratantes.
A SB, como discutido, pode acometer diversas áreas profissionais e trabalhistas,
consequentemente, nenhuma profissão está totalmente livre do acometimento por essa
enfermidade, fato que demanda atenção e cuidado com o trabalhador em todas as
profissões.
Visto que a SB é prejudicial para a saúde dos trabalhadores, nota-se a necessidade
de que medidas preventivas dessa morbidade sejam aplicadas nos locais de trabalho,
como a redução da carga horária de algumas profissões e uma maior divisão das tarefas.
Isso contribui para a diminuição de alguns dos fatores causais da SB, como, a exaustão e
a sobrecarga trabalhista, fato que diminui os riscos de acometimento pela Síndrome e,

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além de melhorar a qualidade de vida dos empregados, não demanda gastos extras dos
contratantes.

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