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IMPACTOS DA SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE: a


importância da Teoria Cognitivo-Comportamental no tratamento e prevenção desta Síndrome1

Mariely Cristine Souza Pereira

RESUMO – A Síndrome de Burnout é considerada uma das doenças comumente identificadas em trabalhadores
da área de saúde e que pode vir a prejudicar o indivíduo, seja na qualidade de vida profissional, seja em sua vida
pessoal. Nesse sentido, questiona-se: quais são as principais causas e impactos da estafa mental em profissionais
da saúde e qual a importância do psicólogo na prevenção e tratamento? Buscou-se compreender como a Teoria
Cognitiva-Comportamental pode ser utilizada no tratamento. Para tanto, considerou- se enquanto hipótese que as
extensas jornadas de trabalho, estresse prolongado, sentimentos de incapacidade e pressões do dia a dia sejam
alguns dos fatores geradores de cansaço. O objetivo geral foi identificar as principais causas da Síndrome de
Burnout/Estafa Mental em profissionais da saúde que atuam em hospitais e como a Teoria Cognitiva-
Comportamental pode ser util em seu tratamento. Utilizando-se, para tando, dos seguintes objetivos específicos:
apresentar aspectos conceituais e característicos da Síndrome de Burnout; discutir o tratamento da doença por meio
da Teoria Cognitiva Comportamental (TCC) e os riscos de não se seguir com o procedimento e; analisar a eficácia
da TCC no tratamento desta Síndrome. O trabalho tem como base metodológica o levantamento bibliográfico onde
se identificou produções cientificas acerca da SB e da influência do psicólogo e da TCC em seu tratamento. Após
análise do material obteve-se como conclusão a eficácia da TCC ao longo do tratamento da Sidrome de Burnout e
do êxito em se inserir o profissional da psicologia no ambiente organizacional para auxiliar na prevenção desta
Síndrome.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout. Teoria Cognitivo-Comportamental. Tratamento.

1. INTRODUÇÃO

Traduzido do inglês “burn”, que significa queima, e “out” que equivale a exterior,
popularmente conhecida como estafa mental, a Síndrome de Burnout (SB) pode ser
compreendida como aquilo que não se permite mais funcionar devido ao esgotamento de todas
as suas forças (TRIGO et al. 2007). De acordo com Dejours (1992) o trabalho tem impacto
direto na psique de todos os indivíduos e pode tanto contribuir à sua subsistência, quanto à sua
decadência.
O trabalho permite o alcance de reconhecimento e destaque social, alguns exemplos são:
premiações, homenagens, nomeações como referência em sua área profissional. Também é

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Projeto de Pesquisa para elaboração de Trabalho de Curso, a ser apresentado ao Centro Superior UNA de Catalão
– UNACAT, como requisito parcial para a integralização do curso de Psicologia, sob orientação do(a) professor(a)
Fernanda Leão Mesquita.
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capaz de promover retorno financeiro que permita satisfazer necessidades do dia a dia, podendo
ser qualificado como forma de aquisição de prazer e realização pessoal, sendo esta uma
condição essencial da vida humana. Ou seja, através do trabalho o sujeito adquiri bens para
satisfação de suas inúmeras demandas, tais como viagens, itens materiais como carros,
aparelhos eletrônicos, casas, adereços, dentre outros (DEJOURS, 1992).
Por vezes, o trabalho pode ser sentido como um fardo pelo cansaço e desgaste que causa,
tal como enfatiza Dorta et al. (2012), quando ele é exercido apenas por necessidade e sem
momentos gratificantes e prazerosos para o sujeito, isso pode ser facilmente reconhecido em
trabalhadores que exercem atividades unicamente braçais, em que apenas utilizam de sua força
física para realização das atividades laborais, pois, tendem a não ter momentos em que se
sentem realmente oferecendo 100% de suas capacidades e, então, por falta de oportunidades,
apenas aceitam esses trabalhos devido a necessidade financeira.
Dentre os tratamentos para este transtorno é possível citar a psicoterapia e, em alguns
casos, os ansiolíticos e os antidepressivos, mas também as atividades físicas e os relaxamentos,
dentre outros. Vale ressaltar que a SB não é considerada um transtorno psiquiátrico e por conta
disso não consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)
(CAMPOS, 2020).
Nessa perspectiva, a SB não afeta somente a saúde dos colaboradores, como também
impacta diretamente na empresa e nos seus projetos, levantando problemas como a rotatividade
excessiva de pessoal, absenteísmo e escassez de produtividade, sendo visto como um problema
do mundo moderno (CAMPOS, 2020).
Diante disso, tal tema se justifica frente ao fato de que, durante a pandemia enfrentada
desde o ano de 2020, foi possível perceber que a tensão, angústia e sofrimento psíquico, em
ambientes hospitalares, sofreram um grande aumento, haja vista que a demanda por tratamentos
médicos se multiplicou. De acordo com Campos (2020), considerando que os profissionais da
saúde estão na linha de frente do enfrentamento ao COVID-19, eles foram vistos em seus limites
e em busca de tratamento psicológico com a queixa de esgotamento físico e mental. Segundo a
Ordem dos Psicólogos, a falta de uma estratégia de prevenção de Burnout, por parte das
empresas, custa até 3,2 milhões de euros por ano (CAMPOS, 2020).
Uma pesquisa inédita mostra que 83% dos profissionais de saúde demonstraram sinais
da Síndrome de Burnout. Conhecê-la permite compreender e aprender a lidar com ela, que mais
do que danos físicos, pode gerar sofrimento psicológico a ponto do indivíduo demonstrar
sintomas depressivos, ansiosos e obsessivos, podendo cogitar dar fim a própria vida, além de
gerar desgastes e prejuízos tanto em sua vítima, quanto nas pessoas ao seu redor
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(PERNICIOTTI et al. 2020).


Por conta disso questiona-se: quais são as principais causas e impactos da estafa mental
em profissionais da saúde e qual a importância do psicólogo para a prevenção e tratamento
desta Síndrome? Parte-se da hipótese de que as extensas jornadas de trabalho, o estresse
prolongado, os sentimentos de incapacidade e as pressões do dia a dia são alguns dos fatores
geradores de cansaço. Quando esse cansaço se torna patológico, os impactos na vida do
indivíduo são intensificados, um desequilíbrio metabólico e mental se instala e o sujeito começa
a sofrer com exaustão emocional, problemas gastrointestinais, sofrimento psicossocial (como a
depressão), podendo acarretar tentativas de autoextermínio. É neste cenário que a Teoria
Cognitivo-Comportamental pode se mostrar eficaz no tratamento da Síndrome já instaurada no
sujeito.
Almeida & Santos (2018) afirmam que a pressão psicológica intensa, as cobranças para
que as atividades sejam realizadas em tempo e a escassez de recursos humanos e materiais são
alguns dos fatores que contribuem para o estresse mental, uma vez que a dimensão psicológica
possui papel crucial na prevenção e tratamento da SB. É através da psicoterapia e das atividades
pensadas e executadas com a intenção de aliviar o estresse laboral, que o esgotamento pode ser
contornado, com o profissional voltando à sua rotina.
O presente estudo tem como objetivo geral identificar as principais causas da Síndrome
de Burnout/Estafa Mental em profissionais da saúde que atuam em hospitais e como a Teoria
Cognitiva-Comportamental pode ser útil em seu tratamento. Para isso, estabeleceu-se os
seguintes objetivos específicos: apresentar aspectos conceituais e característicos da Síndrome
de Burnout; discutir o tratamento da doença por meio da Teoria Cognitiva Comportamental
(TCC) e os riscos de não o seguir e; por fim, analisar a eficácia da TCC no tratamento desta
síndrome.
Com objetivo de concretizar este trabalho foi adotado como base metodológica o
levantamento bibliográfico, a fim de levantar produções científicas que tratem acerca da
Síndrome de Burnout e os seus impactos e respectivos tratamentos. Para tanto, realizou-se uma
busca em plataformas científicas de pesquisa eletrônicas (SCIELO, PEPSICO) que fornecem
trabalhos referentes ao tema proposto para que, a partir dos estudos já realizados, possa-se
apresentar as conclusões.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Síndrome de Burnout (SB): aspectos gerais

De acordo com Almeida & Santos (2018) a Síndrome de Burnout é um distúrbio


psíquico de caráter depressivo e foi reconhecida como doença ocupacional pela legislação
trabalhista brasileira apenas no Decreto no 3.048, de 6.5.1996, que regula a Previdência Social
e aponta a Síndrome como agente patogênico que pode desencadear doenças ocupacionais,
conforme previsto no artigo 20 da Lei no 8.213/91.
Pêgo & Pêgo (2015), afirmam que o ambiente de trabalho é um gerador de conflito
quando o indivíduo percebe o vácuo existente entre o compromisso com a profissão e o sistema
em que estão inseridos. Essa Síndrome foi mencionada a partir de 2022 na Classificação
Internacional de Doenças CID-11, sob o código QD 85, além de ser encontrada no CID-10 sob
o código Z73. Outro dado importante de se mencionar é que a Organização Mundial de Saúde
(OMS) registra que o estresse ocupacional pode ser considerado uma epidemia global. Gouvêa
et al. (2014) relatam que esta Síndrome é uma resposta do indivíduo para a sua incapacidade de
lidar com os agentes estressores enfrentados principalmente no ambiente de trabalho.
A SB pode ser entendida como um trio de dimensões. O primeiro refere-se ao
esgotamento emocional, que se caracteriza pela falta de energia e entusiasmo, sensação de estar
no limite, sentimento de frustração e tensão nos trabalhadores. A impressão descrita por
inúmeros profissionais é de que não existe outra forma de repor suas energias (FRANÇA &
RODRIGUES, 2011).
A segunda é a despersonalização ou cinismo, que se entende pelo desenvolvimento de
uma insensibilidade emocional, fazendo com que o profissional trate os usuários, colegas e a
organização de maneira desumanizada, o profissional utiliza esta dimensão como maneira de
se autodefender. E por fim tem a baixa realização profissional, caracterizada pela tendência de
se autoavaliar de forma negativa, tornando-se infeliz e insatisfeito, esta dimensão resulta em
baixa qualidade do trabalho realizado (FRANÇA & RODRIGUES, 2011).
Segundo Benevides-Pereira (2011), os indícios mais repetidamente encontrados na SB
são os sintomas psicossomáticos, onde destacam-se as cefaleias, insônia, dores de cabeça,
gastrites e feridas. Também ocorrem os destemperos, ligados aos colapsos de asma, latejos,
maior constância de contaminações, hipertensão, dores nos músculos e/ou cervicais. Ainda
apresentam hipersensibilidades e interrupção do período menstrual nas mulheres.
Por oportuno, no que diz respeito aos aspectos comportamentais, podemos citar:
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abstencionismo, insulamento, bestialidade, uso de drogas, inaptidão de relaxar, modificações


severas de humor e o procedimento de perigo. Os principais sintomas emocionais dividem-se
em: agastamento, anseio de isolamento, afastamento afetuoso, anseio de alheamento,
suscetibilidade, dificuldade de concentração, ansiedade, desejo de desistir do emprego, anseio
de impotência, diminuição do ganho de trabalho, baixo amor-próprio, anfibologias de sua
própria competência e sentimento de providência. Há ainda defensivos negativos das emoções,
deboche, cautela seletiva, inimizade, indiferença e suspeição (BENEVIDES-PEREIRA, 2011).
Codo (2004), delibera esta Síndrome como uma condição em que o profissional deixa
de olhar para si, ele toma posse de responsabilidades laborais das quais não consegue suportar,
mas que, ao mesmo tempo, não pode abandonar. Um exemplo claro desta situação são
profissionais que realizam atendimento em um pronto socorro, pois, é comum presenciar
plantões que durem mais de 24 horas seguidas, onde pouco tempo é direcionado para o
descanso.
Codo (2004) também ressalta que o trabalhador, de forma inconsciente, arma uma
reação psicológica, uma forma de abandonar o ofício, ou seja, muitas vezes o profissional não
consegue simplesmente desistir dos plantões, então essa reação inconsciente o ajuda a fugir das
demandas que requesitam sua atenção.
Carlotto & Rosa (2005) discorrem que existem possibilidades para o desenvolvimento
desta Síndrome, sendo uma delas o avanço desenfreado da tecnologia e a divisão de
especialidades médicas que tornam o hospital um sistema complexo de hierarquia, repleto de
normas e regras a serem seguidas. Por conta disso, existem duas faces de autoridade, a
administrativa e a profissional, sendo comum o surgimento de desavenças entre as mesmas,
podendo ocasionar situações em que aumentem o estresse. Por exemplo, quando uma norma ou
preceito da instituição para determinada situação deve ser tomado, porém, conforme o
aprendizado e experiencia profissional, o caminho deve ser o oposto ao esperado pela
instituição, consequentemente, nesses casos, o profissional se depara com situação estressora.
Segundo Rosa & Carlotto (2005), o trabalhador que atua em instituições de saúde está
diante de diferentes estressores ocupacionais que podem afetar o seu bem-estar. Dentre eles,
podemos citar as longas jornadas de trabalho, o número insuficiente de pessoal, a falta de
reconhecimento, a alta exposição aos riscos químicos e físicos, assim como o contato constante
com o sofrimento, a dor e muitas vezes a morte.
O contato intenso com outras pessoas, pacientes e seus familiares, pode ser considerado
como uma das causas da SB, pois, grande parte da carga horária dos profissionais é direcionada
aos atendimentos. Também devem ser consideradas as expectativas dos pacientes, que são um
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dos maiores preceptores do Burnout, assim como a dificuldade em equilibrar vida pessoal e
Profissional. Rosa & Carlotto (2005) ressaltaram ainda a relação entre Burnout e a Satisfação
no Trabalho, quanto maior o índice de insatisfação laboral, maiores os índices da Síndrome.
Um dos grandes problema sociais relacionado ao Burnout, em profissionais da saúde, é
a possibilidade de encontrar os mesmos trabalhando de maneira fria, sem o envolvimento e a
dedicação necessários, causando, assim, diminuição da realização profissional, que pode
culminar com a desistência dos seus ideais. Não pode-se deixar de considerar a grande cobrança
da sociedade, que espera do médico um profissional infalível, gerando uma pressão por vezes
insustentável no profissional, que passa a exigir de si mesmo um trabalho perfeito e que
satisfaça todas as expectativas (LIMA et al. 2004).
O trabalho em unidades de saúde tem causado grande desgaste físico e psicológico aos
profissionais. A Síndrome foi considerada uma das doenças que mais incidem sobre a
população estadunidense e europeia, ficando atrás apenas do diabetes e das doenças
cardiovasculares. Esse resultado foi obtido após pesquisa realizada por um grupo de estudiosos
da Organização Mundial da Saúde (OMS). Após esse resultado foi requisitada uma reunião com
especialistas, Cherniss (EUA), Cooper (Reino Unido), entre outros, para determinar medidas
de prevenção (TRIGO et al. 2007).
O estresse causado em médicos pelo seu trabalho pode levar ao Burnout, bem como a
dependência química. Avaliou-se a extensão de Burnout entre 306 médicos generalistas
franceses, 5% da população avaliada encontrava-se em situação de Burnout. Ao menos 1 a cada
3 profissionais pensava em se submeter a novo treinamento, 5,5% declararam estar bebendo em
excesso, 30% usavam psicotrópicos e 13% pensavam em suicídio (TRIGO et al. 2007).
Perniciotti et al. (2020) ressaltam que, conforme a exaustão emocional avança, a
despersonalização ou cinismo podem ocorrer, sendo caracterizados por uma postura distante e
indiferente em relação às atividades a serem desenvolvidas, aos colegas e aos pacientes.
A literatura demonstra que o aparecimento destes sintomas não ocorre de maneira
repentina. A grande diferença entre expectativa e realidade da prática profissional é um dos
maiores desencadeadores da SB. Isso é facilmente visualidado em médicos recém formados
que acabaram de adentrar nas instituições de saúde. O sonho vendido da profissão perfeita e
que possui remuneração excelente cai por terra assim que se deparam com a realidade dos
hospitais: filas imensas, poucos profissionais disponíveis, matéria prima escassa, burocracias
excessivas, regras e as divergências da ética com a vida real, são alguns dos motivos que causam
choque da expectativa ante a realidade. Nem mesmo o retorno acima da média consegue suprir
essa divergência que, em pouco tempo, pode levar o profissional ao esgotamento
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(PERNICIOTTI et al. 2020).


Carlotto & Câmara, (2008) apresentam que o crescimento da indiferença em relação ao
trabalho resulta na perda da sensibilidade afetiva e no afastamento dos pacientes que deveriam
receber os seus atendimentos de forma empática. Os profissionais perdem partes das suas
habilidades em fornecer um tratamento de qualidade para seus pacientes.
O caráter cada vez mais exigente, competitivo e desumano do mercado de trabalho
fomenta uma tensão mais expressiva entre o trabalhador e o seu ambiente de trabalho. Esta
tensão tem vindo a servir de fio condutor para a dissipação da SB (MASLACH & LEITER,
1997).
A título de quantificar, a SB utiliza-se principalmente o MBI (Maslach Burnout
Inventory), publicado no início dos anos 1980. Este questionário aborda as três dimensões
mencionadas na conceituação de Burnout: exaustão emocional, despersonalização/ceticismo e
reduzida realização profissional. O MBI possui fácil aplicação e por isso passou a ser utilizado
universalmente, consta atualmente em mais de 90% das publicações empíricas (LIMA et al.
2004).

2.2 Fatores de Risco para o Desenvolvimento da Síndrome de Burnout

Para a descrição dos fatores de risco do desenvolvimento do Burnout, são levadas em


consideração quatro lados: a organização, o indivíduo, o trabalho e a sociedade (TRIGO, et al.
2007).
Dentre os fatores relacionados com a organização, podemos citar a burocracia, que
impede a autonomia, a participação criativa e, consequentemente, a tomada de decisões do
sujeito. Também pode-se elecar: as mudanças organizacionais que levam à queda no ritmo de
trabalho; a falta de autonomia que provoca inseguranças; a falta de comunicação que provoca
distorções e lentificação na distribuição de informações; do mesmo jeito, a impossibilidade de
crescer profissionalmente; sem deixar de mencionar o acúmulo de tarefas por um mesmo
indivíduo; bem como a dificuldade do convívio com os colegas afetados pela Síndrome
(TRIGO, et al. 2007).
Segundo Trigo, et al. (2007) os fatores relacionados ao indivíduo são: auto-estima,
autoconfiança e a auto-eficácia que prejudicam o sujeito em suas realizações trabalhistas. Ainda
relacionados ao indivíduo estão: lócus de controle interno; diferentes tipos de personalidade
que um sujeito pode apresentar; gênero, ressaltando que as mulheres apresentam maiores
porcentagens de exaustão emocional; nível educacional; estado civil (solteiros, viúvos e
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divorciados podem apresentar mais riscos) e; indivíduos pessimistas e perfeccionistas, que


tendem a não enxergar o lado positivo das situações e que são muito exigentes consigo mesmos
(TRIGO et al. 2007).
A autoestima é essencial em diagnósticos referentes à saúde mental, ela é determinante
para o surgimento de diversos sintomas, entre eles a ideação suicida, a depressão e a SB. Por
exemplo, em um estudo apresentando por Yeatts e colaboradores, foi apontado que a presença
da baixa autoestima resulta em subtraída realização pessoal (Yeatts et al. 2018). Também
impacta em baixa eficácia profissional, com sensação de bem- estar inferiorizada. Segundo este
mesmo estudo, existe grande correlação entre a auto-estima e as três dimensões da SB, de modo
que, quanto mais alto os níveis de esgotamento profissional, mais a auto-estima se mostra
decadente (PERNICIOTTI, et al. 2020).
Quando se refere ao trabalho, Trigo et al. (2007) apresentam os seguintes fatores de
risco: sobrecarga, quando o indivíduo é encarregado de trabalho excessivo; relacionamento
conflituoso entre colegas, que resultam em brigas e afetam negativamente o relacionamento
interpessoal da equipe; trocas de turno que não permitem que o trabalhador crie uma rotina fixa;
ambiguidade de papéis; sentimentos de justiça; expectativas frustradas e; baixa participação nas
decisões sobre mudanças organizacionais.
Segundo Maslach (2008), quando o extremo cansaço profissional é uma condição
crônica de trabalho e não uma situação ocasional, existem poucas oportunidade para descansar,
recuperar e restaurar o equilíbrio. Hospitais frequentemente apresentam este cenário e, frente a
tais condições, o profissional pode rapidamente perder sua capacidade para atender às
demandas do trabalho.
Ainda tem a sociedade, apresentando como fatores importantes: falta de suporte familiar
que impede o indivíduo de contar com colegas, amigos de confiança e parentes; valores e
normas culturais que podem incrementar, ou não, o impacto dos agentes estressores no
desencadeamento da SB e; a manutenção do prestígio social em oposição à baixa salarial que
resulta em sujeitos em busca de trabalhos adicionais para o aumento da renda familiar, no que
resulta em cansaço físico e emocional (TRIGO, et al. 2007).
A percepção do estresse é singular e depederá do significado pessoal que o sujeito atribui
às situações de estresse e cansaço e dos recursos de enfrentamento que possui para lidar com
eles, por isso, nem todos os profissionais expostos nas mesmas condições tendem a desenvolver
SB (PERNICIOTTI et al. 2020). Profissionais competitivos, esforçados, impacientes, com
necessidade de controlar tudo ao redor, sem a capacidade de tolerar frustração, baixa auto-
estima e que se encontram muito envolvidos com sua profissão, apresentam risco maior para
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desenvolvimento da síndrome (LIMA, et al. 2004).

2.3 Teoria Cognitivo Comportamental (TCC): um breve resumo

A história desta teoria começa com Aaron Beck2, em 1956, enquanto trabalhava com a
intenção de averiguar as suposições psicanalíticas acerca da depressão. O modelo psicoterápico
baseado em evidências fundamenta-se na teoria cognitivo-comportamental, e tem como objeto
de estudo principal a natureza e a função dos aspectos cognitivos, ou seja, o processamento de
informação que é o ato de atribuir significado a algo (BAHLS & NAVOLAR, 2004).
A teoria possui dez principios que atuam como ponto de partida para as demais
proposições teóricas, sendo eles: desenvolver constantemente o paciente, montar uma aliança
terapêutica segura, colaborar de forma ativa e participativa, orientar a terapia para as metas e
prolemas, enfatizar o presente, investir na psicoeducação, apresntar um tempo limitado, ter
sessões estruturadas, estimular o paciente a identificar, avaliar e responder suas crenças
disfuncionais e utilizar diversas técnicas para transformar o pensamento e o comportamento
dos pacientes (BAHLS & NAVOLAR, 2004).
De acordo com Souza & Bezerra (2019), nesta linha teórica o nível consciente assume
um papel primordial na melhora do paciente, pois, é ele que esta determinando as respostas e
ações no presente do sujeito.
Atualmente, é possível encontrar uma extensa lista de tratamento para diversos
problemas psiquiátricos, tais como, transtornos de ansiedade, depressão, disfunções sexuais,
distúrbios obsessivos-compulsivos e alimentares. A Terapia Cognitivo-Comportamental trata
como prioridade as demandas que são demonstradas pelo paciente no momento em que o
mesmo busca a terapia, sendo que o objetivo será ajudá-lo a atuar no ambiente de forma a
promover mudanças necessárias através de técnicas psicológicas. A cooperação entre terapeuta
e paciente será de extrema importância na terapia, de forma que o plano de ação para a
superação dos problemas concretos são determinadas em conjunto (BAHLS & NAVOLAR,
2004).

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Aaron Beck nasceu dia 18 de julho de 1921 nos EUA. Em 1942 formou-se em inglês e ciência política. Depois,
estudou na Yale Medical School, em 1946 formou-se em medicina. Tornou-se professor, e deu início a uma
pesquisa clínica sobre depressão, criou sua teoria após perceber que os tratamentos existentes não eram
satisfatórios. Expandiu sua teoria após vivenciar o sucesso do tratamento psicoterápico para a depressão. Iniciou
a utilização de técnicas similares para tratar outras doenças como ansiedade e transtornos de personalidade. Criou
teorias e escalas amplamente utilizadas como: Terapia Cognitivo-Comportamental, Inventário de Depressão de
Beck ou Escala de Depressão de Beck e Inventário de Ansiedade de Beck ou Escala de Ansiedade de Beck
(DEWES et al, 2010).
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Segundo DEWES, et al. (2010) a TCC tem demonstrado resultado significativo no


tratamento do transtorno de ansiedade generalizado, utilizando-se principalmente das técnicas
de relaxamento, resolução de problemas, planejamento de atividades de recreação, foco no
tratamento para a mudança e o controle antecipatório da preocupação e da catastrofização.

2.4 Prevenção e Tratamento da Síndrome de Burnout de Acordo com a Terapia Cognitivo


Comportamental

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterápica, que


compreende a maneira que o ser humano percebe os acontecimentos sob seu prisma,
pensamentos e sentimentos em relação a determinada situação, provada por sensações negativas
(BECK, 1997). A premissa da TCC, criada por Aaron Beck, objetiva efetuar alterações
cognitivas por entre as crenças irracionais, os pensamentos disfuncionais, emoções e
comportamentos, para responder aos questionamentos que outra abordagem não lhes
proporciona. Os pensamentos projetam e conduzem os comportamentos, assim sendo, a TCC
os corrige e culmina numa aprendizagem sobre como dominar os seus problemas e situações
(SOUZA & BEZERRA, 2019).
Os teóricos Knapp e Beck (2008) defendem que o registro de pensamentos disfuncionais
(RPD) ajuda o indivíduo a reconhecer os pensamentos que despertam emoções intensas e
desagradáveis e comportamentos inadequados, com o intuito de torná-los menos rígidos e
através do questionamento, identificar e modificar o pensamento disfuncional. Loureiro (2013),
cita a Reestruturação Cognitiva, com base na correção e substituição das cognições indevidas
que dificultam as inter-relações, como uma boa ferramenta de combate ao esgotamento mental.
Segundo Souza & Bezerra (2019) a técnica do Treino Assertivo, que é modificar a
maneira que a pessoa se vê, faz aumentar a eficiência da assertividade, adequação dos
pensamentos e sentimentos, e deste modo, permite afirmar a autoconfiança. Esse procedimento,
somado da técnica do Feedback corretivo (a ferramenta do aprimoramento do indivíduo, um
ajustamento de comportamento para o crescimento e para os resultados positivos), são passíveis
de uso para tratamento da SB.
Dentre a extensa lista de possibilidades no tratamento3, a TCC se utiliza de uma

3
Algumas técnicas da TCC: questionamento socrático (o psicólogo fará uma série de perguntas de forma que,
através delas, seu paciente poderá compreender melhor seus próprios pensamentos); técnicas de exposição (são
utilizadas para tratar demandas específicas, como fobias); troca de papéis (o psicólogo incentiva o paciente a se
colocar no lugar de outra pessoa, para que o mesmo veja com outro olhar determinada situação), dentre outras
(DEWES, et al. 2010).
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abordagem colaborativa e psicoeducativa para que o indivíduo possa, dentro de um esquema de


treinos, identificar e monitorar pensamentos automáticos. Também permite poder distinguir as
relações existentes entre o pensamento, as emoções e o comportamento, e realizar avaliação
desses pensamentos automáticos e as crenças correspondentes. Do mesmo modo, empreender
ajustamentos de conteúdos tendenciosos, deslocar pensamentos distorcidos e pensamentos
realísticos, sendo que, identicar estes últimos é importante para se modificar as crenças centrais.
O tratamento ainda pode incluir técnicas de respiração (KNAPP & BECK, 2008).
Na TCC as tarefas de casa também são utilizadas para que a psicoterapia não fique
somente no consultório, e tais técnicas permitem, para o paciente, aprender a ser psicólogo de
si mesmo no dia a dia (KNAPP & BECK, 2008). Além disto, existe a necessidade de atenção
no gerenciamento da situação de saúde dos médicos e demais profissionais hospitalares,
considerando que possuem maior proximidade fisiopsicológica com o doente/familiares, ou
seja, um relacionamento mais efetivo com as pessoas.
Do ponto de vista organizacional, o profissional em estado de esgotamento pode
apresentar consequências ao processo de trabalho, prejudicando a qualidade da assistência
médica prestada, podendo resultar em prejuízos monetários ao estabelecimento (BRITO et al.
2019).
Voltando o olhar à dinâmica organizacional do trabalho em um pronto socorro, é
possível notar que há sobrecarga de movimento e tensão ocupacional, sendo necessário
monitorar periodicamente a saúde mental e física desses trabalhadores, a fim de desenvolver
estratégias que possam reorganizar o processo de trabalho, diminuindo as fontes de estresse
(BRITO et al. 2019).
Nota-se que o profissional de saúde alvo de esgostamentos físicos, emocionais e
psíquicos, oriundos das relações de trabalho, presta pouca atenção para a sua qualidade de vida
e saúde mental, ignorando suas próprias necessidades e os recursos disponíveis para melhorar
as condições de labor e bem-estar individual (MORENO, et al. 2010).
Como forma de prevenção no desenvolvimento, o indivíduo pode utilizar estratégias de
coping, ou seja, os recursos cognitivos, emocionais e comportamentais na tentativa de lidar com
situações estressoras (LISBOA et al. 2002). Nesse sentido, Moreno et al. (2010) demonstram
as estratégias de coping como:
(...) estratégias que incluem a visão de desafio e atenção para um aspecto da situação,
envolvendo a avaliação das diversas possibilidades de ações e suas consequências;
afastamento, correspondente às estratégias que envolvema negação de sentimento de
medo ou ansiedade, onde o indivíduo tenta esquecer a verdade, recusando-se a
acreditar que a situação esteja ocorrendo; autocontrole, caracterizado pelas estratégias
que tentam controlar a emoção advinda do problema; suporte social, definido pelas
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estratégias em que o indivíduo recorre às pessoas do seu meio social na tentativa de obter
apoio na resolução do seu problema (MORENO et al., p.143, 2010).

Além disso, adquirir hábitos de vida saudáveis, como praticar exercícios físicos
regularmente, dormir bem, manter uma dieta equilibrada e usufruir do lazer são necessários
para diminuir os efeitos do estresse profissional. Também, é importante que se realizem ações
preventivas como reuniões de equipe para discussões e reflexões dos problemas (Pêgo & Pêgo,
2015). A prevenção da Síndrome de Burnout inclui grupos de suporte, terapia cognitivo
comportamental e programas voltados para a diminuição do estresse laboral (MOSS et al.
2016).

3. METODOLOGIA E INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Foi realizada revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout e o esgotamento


profissional em profissionais da saúde que atuam em emergências e urgências hospitalares. Para
tanto, valeu-se de pesquisa em bancos de dados eletrônicos nas plataformas Scientific Eletronic
Library Online (SCIELO) e Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PEPSIC). Os descritores
usados foram: estresse crônico, Síndrome de Burnout, medicina de urgência, doença
ocupacional e estafa mental. A busca foi feita cruzando-se o unitermo Burnout com os outros
citados e selecionando-se artigos publicados nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa.
Para a inclusão dos estudos foram determinados os seguintes critérios: possuir texto na
íntegra e ter a temática relevante para o estudo, abordando causas, sintomas, tratamento ou
prevenção à Síndrome de Burnout e, importância do psicólogo durante todo processo. Para
exclusão obtiveram-se as publicações com datas inferiores a 1990 e que fugissem ao assunto
proposto. O total de leituras de artigos foi de 31. Nesse trabalho foram observados
principalmente resultados de pesquisa dos artigos selecionados, destacando aqueles que traziam
material referente a eficacia de terapias cognitivo-comportamentais no tratamento da Síndrome
de Burnout.
Após a coleta dos artigos, realizou-se uma análise qualitativa para certificar que todos
discutiam acerca da Síndrome de Burnout em profissionais da saúde. Os artigos foram
selecionados e analisados. De início, através do título, posteriormente foi realizada a leitura do
resumo e das palavras-chave para identificar se sua natureza era realmente sobre SB em
profissionais da saúde. Aqueles que não atenderam ao proposto foram excluídos do estudo. Foi
realizada leitura analítica que possibilitasse a construção de categorias e, posteriormente, foi
13

realizada leitura interpretativa à identificação das respostas para os objetivos e para o problema
central do trabalho.

FIGURA 1 – Organograma da Pesquisa de Artigos

Fonte: elaborado pela Autora.


14

4. DISCUSSÃO

Após leitura e análise dos artigos, seis (6) estudos foram selecionados. Abaixo temos
uma apresentação sintetica de cada um desses artigos.
Bahls et al. apresenta o texto “Terapia cognitivo-comportamentais: conceitos e
pressupostos teóricos”, através de uma revisão bibliográfica, apresenta como objetivo expor a
natureza desta abordagem que se tornou popular nos últimos anos. O resultado permite perceber
que a TCC é uma abordagem eclética ao mesclar conceitos e técnicas de duas abordagens
diferentes, tanto no que se refere aos pressupostos teóricos, quanto na forma como se da a
prática psicoterápica.
Trigo et al. expõe através do texto “Síndrome de Burnout ou estafa profissional e os
transtornos psiquiátricos” uma revisão bibliográfica cujo objetivo foi apresentar mais sobre a
Síndrome no Brasil e em outros países, considerando sua prevalência, possíveis fatores de risco
para seu desenvolvimento e sua associação com outros transtornos psiquiátricos, mais as
consequências para o indivíduo e organização em que trabalha. O resultado afirma que a
prevalencia da SB ainda é incerta, porém, dados sugerem que um número significativo de
pessoas são afetadas e que elas podem apresentar comorbidade com outros transtornos, por
exemplo, ansiedade e depressão.
Souza et al. escreveu “Síndrome de Burnout e os cuidados da terapia cognitivo-
comportamental”, onde buscou nortear uma discussão sobre a SB e os instrumentos mais
utilizados da TCC como forma de intervenção. A autora realizou pesquisa bibliográfica de
forma ampla acerca do tema e sobre a instrumentalização adequada no tratamento da SB. Como
resultado, obteve que os sintomas dessa síndrome são de caráter comportamental, físico e
emocional e que a TCC é eficaz no tratamento.
Já o texto “Efetividade da terapia cognitivo- comportamental para os transtornos do
humor e ansiedade: uma revisão de revisões sistemáticas”, os autores Dewes et al. buscaram
demonstrar a efetividade da TCC em tratamentos de humor e ansiedade, por meio de revisão
sistemática sobre a efetividade dessa teoria em estudos publicados entre 2005 e 2010. Por fim,
os autores concluiram que a TCC, combinada com soluções medicamentosas, apresenta
resultados satisfatórios.
O trabalho “Estratégias e intervenções no enfrentamento da Síndrome de Burnout”, dos
autores Moreno et al. teve o objetivo de fazer um levantamento sobre as estratégias e
intervenções no enfrentamento da Síndrome de Burnout. Através de uma busca bibliográfica
em diversas plataformas, os autores afirmam que a eficácia da intervenção no combate à
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Burnout se dá, com maior resolutividade, quando são empregadas estratégias com abordagem
individual corroboradas com estratégias organizacionais.
Lima & Dolabel trazem suas colaborações para essa temática através do trabalho
“Estratégias usadas para a prevenção e tratamento da Síndrome de Burnout”, por meio de uma
revisão integrativa com método comparativo. Elas afirmam que para a prevenção e tratamento
da SB é importante realizar alterações na organização, na postura da equipe e o fortalecimento
de estratégias de enfrentamento individual, sendo a TCC a mais comumentemente utilizada.
Através das pesquisadas realizadas, foi possível perceber que a técnica cognitivo-
comportamental tem sido aplicada no sentido de auxiliar o tratamento da Síndrome de Burnout.
No próximo item apresenta-se o resultado das análises os trabalhos.

4.1 A Eficácia das Ferramentas da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) no


Tratamento da Síndrome de Burnout: Resultados

De acordo com Bahl e Navolar, (2004) a TCC trata-se de uma teoria ampla com
inúmeras possibilidades de tratamento, sendo essencial a cooperação entre paciente e terapeuta.
Esta terapia buscou a junção entre duas terapias aparentemente muito diferentes que, quando
colocadas em ação de forma conjunta, fornecem ao paciente grande melhora dos sintomas
apresentados em consultório. Ressaltam que a teoria cognitiva é uma abordagem mentalista e,
a teoria comportamental é a relação ambiental do indivíduo. Apesar das diferenças, a integração
destas duas abordagens apresenta resultados satisfatórios o que pode ser comprovado no
aumento de profissionais que optam por esta abordagem teórica no tratamento de transtornos
de diferentes origens, tendo como exemplo transtornos ansiosos e depressivos.
Conforme Dewes, et al. (2010) ressalta a TCC é considerada um tratamento efetivo e
uma opção valiosa frente à administração de fármacos, sendo mais aceita pelos pacientes por
não apresentar efeitos colaterais, além de apresentar bom custo-benefício, ser mais fácil de
aderir e possuir eficácia satisfatória em inúmeras demandas diferentes. Se necessário, ao ser
combinada com medicamentos, os resultados são intensificados, além disso o tratamento com
a TCC apresenta baixa desistência por parte dos pacientes, ficando em cerca de 10,6%.
Quando se trata de transtornos do estresse, existem evidências de que a TCC ocasiona
melhora em diversos sintomas. Dewes, et al. (2004) salientam que este recurso tem se mostrado
de suma importância na vida de pessoas com transtornos do humor e da ansiedade, ocasionando
melhora dos sintomas e diminuição de crises. Os autores relatam que a psicoeducação de
maneira isolada não apresenta eficácia significativa contra transtornos depressivos.
16

Lima & Dolabela (2021) indicam como um dos principais fatores encontrados em
diferentes estudos a sobrecarga administrativa como sendo o ponto de partida para o
desenvolvimento da SB. As autoras alertam que, na prática, a maioria das estratégias de
prevenção e tratamento de Burnout presumem que a fonte desta Síndrome é o trabalhador de
forma individual e não seu grupo social de trabalho, neste contexto as autoras afirmam:

(...) que é importante incluir atividades para aumentar a autoconsciência dos


profissionais e para melhorar sua resiliência e envolvimento com seu trabalho e
profissão. Trabalhar a valorização do trabalho e a importância de sua realização,
contribue para que as pessoas suportem uma maior carga de trabalho e se sintam
recompensados por seus esforços. (p.8).

Durante seu estudo Lima & Dolabela (2021) evidenciam, através da análise
bibliográfica, que o sujeito só deve ser visualizado de forma isolada quando for para
diagnosticar a gravidade do seu quadro de saúde e, para se conhecer motivos que o conduziram
a tal situação, bem como compreender quais atividades que podem ser utilizadas para tratar a
SB. Sendo assim, é de suma importancia analisar todo o ambiente organizacional para que se
possa determinar a fonte da síndrome, com isto, futuras situações podem ser previnidas.
Trigo et al. (2007) demonstram como o indivíduo acometido por Burnout pode provocar
distanciamento dos familiares, mesmo os mais próximos, como os filhos e os cônjugues. A
organização em que o sujeito está inserido passa a ser prejudicada e por isso precisa agir contra
a incidência da SB. Tratar esta Síndrome somente após o surgimento, apresenta resultados
inferiores aos das organizações que buscam pela prevenção, pois, após a evolução desses
sintomas, um tratamento deverá ser implantado e isso pode implicar em afastamento do
profissional até que a melhora ocorra e ele consiga assumir novamente suas responsabilidades.
O Burnout pode ser associado com a incidência de dependência química e ao álcool em
profissionais da saúde, que buscam alívio dos sintomas que muitas vezes não conseguem
nomear. As autoras Trigo et al. (2007) ressaltam que a incidência de Burnout aumentou frente
aos estudos realizados nos últimos dez anos, que alunos dos cursos da área da saúde também
apresentam indícios de Burnout frente a grande carga horária dedicada nas atividades
acadêmicas. Por exemplo, os médicos residentes, quando vivenciam dualidades de papéis e
enfrentam cobranças por parte de seus preceptores, da sociedade e de si mesmos.
Já quanto a correlação entre Burnout e o suicídio, acontece quando o trabalhador associa
o seu sofrimento ao seu local de trabalho, por exemplo, quando os profissionais passam o final
de semana tranquilo em casa e, na noite que antecede sua volta ao ambiente laboral, surgem
sitomas acentuados de ansiedade, dor de cabeça, inquietude, tristeza, dentre outros. Ao não
17

poder se desvincular desse ambiente, o profissional pode buscar meios de se ver livre da
obrigação, isso sugere que o ambiente de trabalho negativo está sendo associado com a
depressão que, por sua vez, está relacionada com uma maior probabilidade de ideação suicida
e tentativa de suicídio (TRIGO et al. 2007).
Souza e Bezerra (2019) identificaram que a TCC apresenta bons resultados para o
tratamento da Síndrome de Burnout, apresentando como ponto inicial a interpretação da
situacionalidade, sendo assim, a Teoria Cognitiva Comportamental busca modificar os
pensamentos para reagir frente as situações estressantes. Dentre a vasta gama de possíveis
tratamentos à TCC, tem sido utilizada a abordagem colaborativa e psicoeducativa para que as
experiências se desenhem e o indivíduo possa, dentro de um esquema de autoavaliação e treino,
identificar e monitorar os seus pensamentos disfuncionais.
Moreno et al. (2011) compreendem que a Síndrome de Burnout não é um problema das
pessoas, mas sim dos lugares onde elas atuam. Trata-se de uma vivência única que atinge cada
indivíduo de maneira singular, podendo gerar, ou não, sentimentos negativos com relação ao
seu trabalho. As autoras ressaltam que uma maior atuação do serviço de saúde do trabalhador
na prevenção das doenças ocupacionais e agravos à saúde faz-se necessário de imediato, pois,
o melhor caminho contra o Burnout é a prevenção.
É de suma importância que ações preventivas se desenvolvam, tais como, reuniões de
equipe para discussões e reflexões dos problemas, momentos em que o profissional se sinta
acolhido e possa expressar a sua vontade, abrindo caminhos para que o meio organizacional
entenda a sua demanda e prepare uma solução adequada (MORENO, et al. 2011).

5. CONCLUSÃO

A exaustão profissional é um fenômeno cada vez mais comum dentro das instituições
organizacionais, podendo trazer consequências individuais e coletivas. Apesar de existirem
várias definições, alguns pesquisadores consentem ao afirmar que a SB é uma resposta ao
estresse laboral crônico, quando os métodos de enfrentamento falham ou não são
suficientemente eficazes.
Através do presente estudo foi possível identificar que entre as principais causas da
Síndrome de Burnout, em profissionais da saúde, estão: o avanço tecnológico; a grande carga
horária; a discrepância entre o que almejavam na profissão idealizada, comparada com a
realidade experimentada no cotidiano de trabalho; a alta carga burocrática encontrada dentro
18

das instituições hospitalares e; as relações estrassantes entre os superiores e os subordinados.


A Teoria Cognitivo Comportamental demonstra excelentes resultados no tratamento da
SB. Também, se mostra ápta para tratar os transtornos depressivos ou de humor que a SB pode
acarretar. Dentre as soluções encontradas e mencionadas neste trabalho, a mais usual é a TCC
com aplicabilidade das suas técnicas, dirigida pelo psicólogo, as quais compreende um ciclo de
tratamento mais curto e eficaz, com participação ativa dos trabalhadores. Podendo-se afirmar
que as técnicas de Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD) e a Psicoeducação são ambas
eficientes no tratamento da SB.
As técnicas do modelo cognitivo-comportamental devem se basear no sentido de levar
para uma reestruturação cognitiva, sendo possível lidar com a ansiedade e o estresse excessivo,
associar às técnicas da TCC, técnicas de respiração e meditação, que auxiliam em crises de
ansiedade desencadeadas pela SB em seu ambiente de trabalho. Vale ressaltar que os riscos de
não seguir um tratamento para a SB se dão através de crises constantes de ansiedade, depressão,
ideação suicida, baixo sucesso em realizar suas atividades laborais, prejuízo das relações
pessoais, dentre outros.
Não seguir o tratamento adequado para a Síndrome de Burnout pode acarretar danos
persistentes para o profissional. A necessidade de uso dos fármacos para controle dos sintomas
pode se tornar irreversível, as relações pessoais e profissionais serão afetadas e muitos laços
afetivos podem ser perdidos. O profissional pode não conseguir se inserir novamente no
mercado de trabalho. Pode perder o prestígio e a confiança que tinha antes. Isso acaba por se
tornar um efeito dominó, pois, ao não ter o seu reconhecimento e as suas relações como antes,
o profissional pode se afundar ainda mais em seus sintomas depressivos.
Através dos estudos realizados é inegável que a Síndrome de Burnout pode apresentar-
se em comorbidade com algumas doenças psiquiátricas ou até desencadeá-las, por exemplo,
Burnout seguido por transtorno depressivo ou transtorno de ansiedade. Sendo assim, as
consequências têm efeitos negativos para a organização, que poderá enfrentar alta rotatividade
de pessoal, prejuízo com erros profissionais, dentre outros, para o indivíduo e à sua profissão.
O papel do psicólogo é extremamente importante, pois, ele se mostra capaz de analisar
o sujeito em seu ambiente de trabalho de maneira profunda e pontual, podendo identificar com
agilidade os possíveis casos de exaustão profissional. Isso ressalta a necessidade de capacitação
dos profissionais através de um processo de educação permanente.
A busca pela prevenção da Síndrome de Burnout deve ser o foco das instituições, através
disso as situações de desgaste entre o profissional e a organização poderão ser evitadas. Ao se
encontrar acolhido em um ambiente empático, o trabalhador poderá apresentar mais facilidade
19

para lidar com os agentes estressores. Isso poderá diminuir o prejuízo que as instituições têm
com trabalhadores que precisam se afastar de maneira abrupta do seu cargo.
A síndrome de Burnout ainda é desconhecida por grande parte dos profissionais de
saúde. Por conta disso, é necessária uma maior divulgação sobre ela, através de palestras ou
campanhas com psicólogos para que a prevenção seja o caminho da diminuição da sua
incidência. Pois, se os trabalhadores e as organizações desconhecem as manifestações e causas
da SB, não podem buscar formas efetivas de tratamento, bem como prevenção e intervenção.
Apesar dos novos conhecimentos e das estratégias atualmente existentes e com
excelentes resultados, sobre a Síndrome de Burnout, ainda há um longo caminho para auxiliar
àqueles que necessitam de saberes especializados para amenizar a dor biopsicossocial que
assombra os trabalhadores.
Por fim, compreende-se que em decorrência dos grandes prejuízos acarretados pelas
doenças ocupacionais, sejam natureza psíquica, seja de ordem financeira, necessita-se de mais
estudos voltados para o tema abordado no presente trabalho, visando inovações nos métodos de
tratamento para, desta forma, realizar procedimentos de prevenção adequados nos trabalhadores
da área de saúde e, ao mesmo tempo, precaver de percas financeiras, atrasos operacionais e
processuais nos hospitais ou demais organizações.

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