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RESUMO – A Síndrome de Burnout é considerada uma das doenças comumente identificadas em trabalhadores
da área de saúde e que pode vir a prejudicar o indivíduo, seja na qualidade de vida profissional, seja em sua vida
pessoal. Nesse sentido, questiona-se: quais são as principais causas e impactos da estafa mental em profissionais
da saúde e qual a importância do psicólogo na prevenção e tratamento? Buscou-se compreender como a Teoria
Cognitiva-Comportamental pode ser utilizada no tratamento. Para tanto, considerou- se enquanto hipótese que as
extensas jornadas de trabalho, estresse prolongado, sentimentos de incapacidade e pressões do dia a dia sejam
alguns dos fatores geradores de cansaço. O objetivo geral foi identificar as principais causas da Síndrome de
Burnout/Estafa Mental em profissionais da saúde que atuam em hospitais e como a Teoria Cognitiva-
Comportamental pode ser util em seu tratamento. Utilizando-se, para tando, dos seguintes objetivos específicos:
apresentar aspectos conceituais e característicos da Síndrome de Burnout; discutir o tratamento da doença por meio
da Teoria Cognitiva Comportamental (TCC) e os riscos de não se seguir com o procedimento e; analisar a eficácia
da TCC no tratamento desta Síndrome. O trabalho tem como base metodológica o levantamento bibliográfico onde
se identificou produções cientificas acerca da SB e da influência do psicólogo e da TCC em seu tratamento. Após
análise do material obteve-se como conclusão a eficácia da TCC ao longo do tratamento da Sidrome de Burnout e
do êxito em se inserir o profissional da psicologia no ambiente organizacional para auxiliar na prevenção desta
Síndrome.
1. INTRODUÇÃO
Traduzido do inglês “burn”, que significa queima, e “out” que equivale a exterior,
popularmente conhecida como estafa mental, a Síndrome de Burnout (SB) pode ser
compreendida como aquilo que não se permite mais funcionar devido ao esgotamento de todas
as suas forças (TRIGO et al. 2007). De acordo com Dejours (1992) o trabalho tem impacto
direto na psique de todos os indivíduos e pode tanto contribuir à sua subsistência, quanto à sua
decadência.
O trabalho permite o alcance de reconhecimento e destaque social, alguns exemplos são:
premiações, homenagens, nomeações como referência em sua área profissional. Também é
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Projeto de Pesquisa para elaboração de Trabalho de Curso, a ser apresentado ao Centro Superior UNA de Catalão
– UNACAT, como requisito parcial para a integralização do curso de Psicologia, sob orientação do(a) professor(a)
Fernanda Leão Mesquita.
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capaz de promover retorno financeiro que permita satisfazer necessidades do dia a dia, podendo
ser qualificado como forma de aquisição de prazer e realização pessoal, sendo esta uma
condição essencial da vida humana. Ou seja, através do trabalho o sujeito adquiri bens para
satisfação de suas inúmeras demandas, tais como viagens, itens materiais como carros,
aparelhos eletrônicos, casas, adereços, dentre outros (DEJOURS, 1992).
Por vezes, o trabalho pode ser sentido como um fardo pelo cansaço e desgaste que causa,
tal como enfatiza Dorta et al. (2012), quando ele é exercido apenas por necessidade e sem
momentos gratificantes e prazerosos para o sujeito, isso pode ser facilmente reconhecido em
trabalhadores que exercem atividades unicamente braçais, em que apenas utilizam de sua força
física para realização das atividades laborais, pois, tendem a não ter momentos em que se
sentem realmente oferecendo 100% de suas capacidades e, então, por falta de oportunidades,
apenas aceitam esses trabalhos devido a necessidade financeira.
Dentre os tratamentos para este transtorno é possível citar a psicoterapia e, em alguns
casos, os ansiolíticos e os antidepressivos, mas também as atividades físicas e os relaxamentos,
dentre outros. Vale ressaltar que a SB não é considerada um transtorno psiquiátrico e por conta
disso não consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)
(CAMPOS, 2020).
Nessa perspectiva, a SB não afeta somente a saúde dos colaboradores, como também
impacta diretamente na empresa e nos seus projetos, levantando problemas como a rotatividade
excessiva de pessoal, absenteísmo e escassez de produtividade, sendo visto como um problema
do mundo moderno (CAMPOS, 2020).
Diante disso, tal tema se justifica frente ao fato de que, durante a pandemia enfrentada
desde o ano de 2020, foi possível perceber que a tensão, angústia e sofrimento psíquico, em
ambientes hospitalares, sofreram um grande aumento, haja vista que a demanda por tratamentos
médicos se multiplicou. De acordo com Campos (2020), considerando que os profissionais da
saúde estão na linha de frente do enfrentamento ao COVID-19, eles foram vistos em seus limites
e em busca de tratamento psicológico com a queixa de esgotamento físico e mental. Segundo a
Ordem dos Psicólogos, a falta de uma estratégia de prevenção de Burnout, por parte das
empresas, custa até 3,2 milhões de euros por ano (CAMPOS, 2020).
Uma pesquisa inédita mostra que 83% dos profissionais de saúde demonstraram sinais
da Síndrome de Burnout. Conhecê-la permite compreender e aprender a lidar com ela, que mais
do que danos físicos, pode gerar sofrimento psicológico a ponto do indivíduo demonstrar
sintomas depressivos, ansiosos e obsessivos, podendo cogitar dar fim a própria vida, além de
gerar desgastes e prejuízos tanto em sua vítima, quanto nas pessoas ao seu redor
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
dos maiores preceptores do Burnout, assim como a dificuldade em equilibrar vida pessoal e
Profissional. Rosa & Carlotto (2005) ressaltaram ainda a relação entre Burnout e a Satisfação
no Trabalho, quanto maior o índice de insatisfação laboral, maiores os índices da Síndrome.
Um dos grandes problema sociais relacionado ao Burnout, em profissionais da saúde, é
a possibilidade de encontrar os mesmos trabalhando de maneira fria, sem o envolvimento e a
dedicação necessários, causando, assim, diminuição da realização profissional, que pode
culminar com a desistência dos seus ideais. Não pode-se deixar de considerar a grande cobrança
da sociedade, que espera do médico um profissional infalível, gerando uma pressão por vezes
insustentável no profissional, que passa a exigir de si mesmo um trabalho perfeito e que
satisfaça todas as expectativas (LIMA et al. 2004).
O trabalho em unidades de saúde tem causado grande desgaste físico e psicológico aos
profissionais. A Síndrome foi considerada uma das doenças que mais incidem sobre a
população estadunidense e europeia, ficando atrás apenas do diabetes e das doenças
cardiovasculares. Esse resultado foi obtido após pesquisa realizada por um grupo de estudiosos
da Organização Mundial da Saúde (OMS). Após esse resultado foi requisitada uma reunião com
especialistas, Cherniss (EUA), Cooper (Reino Unido), entre outros, para determinar medidas
de prevenção (TRIGO et al. 2007).
O estresse causado em médicos pelo seu trabalho pode levar ao Burnout, bem como a
dependência química. Avaliou-se a extensão de Burnout entre 306 médicos generalistas
franceses, 5% da população avaliada encontrava-se em situação de Burnout. Ao menos 1 a cada
3 profissionais pensava em se submeter a novo treinamento, 5,5% declararam estar bebendo em
excesso, 30% usavam psicotrópicos e 13% pensavam em suicídio (TRIGO et al. 2007).
Perniciotti et al. (2020) ressaltam que, conforme a exaustão emocional avança, a
despersonalização ou cinismo podem ocorrer, sendo caracterizados por uma postura distante e
indiferente em relação às atividades a serem desenvolvidas, aos colegas e aos pacientes.
A literatura demonstra que o aparecimento destes sintomas não ocorre de maneira
repentina. A grande diferença entre expectativa e realidade da prática profissional é um dos
maiores desencadeadores da SB. Isso é facilmente visualidado em médicos recém formados
que acabaram de adentrar nas instituições de saúde. O sonho vendido da profissão perfeita e
que possui remuneração excelente cai por terra assim que se deparam com a realidade dos
hospitais: filas imensas, poucos profissionais disponíveis, matéria prima escassa, burocracias
excessivas, regras e as divergências da ética com a vida real, são alguns dos motivos que causam
choque da expectativa ante a realidade. Nem mesmo o retorno acima da média consegue suprir
essa divergência que, em pouco tempo, pode levar o profissional ao esgotamento
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A história desta teoria começa com Aaron Beck2, em 1956, enquanto trabalhava com a
intenção de averiguar as suposições psicanalíticas acerca da depressão. O modelo psicoterápico
baseado em evidências fundamenta-se na teoria cognitivo-comportamental, e tem como objeto
de estudo principal a natureza e a função dos aspectos cognitivos, ou seja, o processamento de
informação que é o ato de atribuir significado a algo (BAHLS & NAVOLAR, 2004).
A teoria possui dez principios que atuam como ponto de partida para as demais
proposições teóricas, sendo eles: desenvolver constantemente o paciente, montar uma aliança
terapêutica segura, colaborar de forma ativa e participativa, orientar a terapia para as metas e
prolemas, enfatizar o presente, investir na psicoeducação, apresntar um tempo limitado, ter
sessões estruturadas, estimular o paciente a identificar, avaliar e responder suas crenças
disfuncionais e utilizar diversas técnicas para transformar o pensamento e o comportamento
dos pacientes (BAHLS & NAVOLAR, 2004).
De acordo com Souza & Bezerra (2019), nesta linha teórica o nível consciente assume
um papel primordial na melhora do paciente, pois, é ele que esta determinando as respostas e
ações no presente do sujeito.
Atualmente, é possível encontrar uma extensa lista de tratamento para diversos
problemas psiquiátricos, tais como, transtornos de ansiedade, depressão, disfunções sexuais,
distúrbios obsessivos-compulsivos e alimentares. A Terapia Cognitivo-Comportamental trata
como prioridade as demandas que são demonstradas pelo paciente no momento em que o
mesmo busca a terapia, sendo que o objetivo será ajudá-lo a atuar no ambiente de forma a
promover mudanças necessárias através de técnicas psicológicas. A cooperação entre terapeuta
e paciente será de extrema importância na terapia, de forma que o plano de ação para a
superação dos problemas concretos são determinadas em conjunto (BAHLS & NAVOLAR,
2004).
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Aaron Beck nasceu dia 18 de julho de 1921 nos EUA. Em 1942 formou-se em inglês e ciência política. Depois,
estudou na Yale Medical School, em 1946 formou-se em medicina. Tornou-se professor, e deu início a uma
pesquisa clínica sobre depressão, criou sua teoria após perceber que os tratamentos existentes não eram
satisfatórios. Expandiu sua teoria após vivenciar o sucesso do tratamento psicoterápico para a depressão. Iniciou
a utilização de técnicas similares para tratar outras doenças como ansiedade e transtornos de personalidade. Criou
teorias e escalas amplamente utilizadas como: Terapia Cognitivo-Comportamental, Inventário de Depressão de
Beck ou Escala de Depressão de Beck e Inventário de Ansiedade de Beck ou Escala de Ansiedade de Beck
(DEWES et al, 2010).
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Algumas técnicas da TCC: questionamento socrático (o psicólogo fará uma série de perguntas de forma que,
através delas, seu paciente poderá compreender melhor seus próprios pensamentos); técnicas de exposição (são
utilizadas para tratar demandas específicas, como fobias); troca de papéis (o psicólogo incentiva o paciente a se
colocar no lugar de outra pessoa, para que o mesmo veja com outro olhar determinada situação), dentre outras
(DEWES, et al. 2010).
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estratégias em que o indivíduo recorre às pessoas do seu meio social na tentativa de obter
apoio na resolução do seu problema (MORENO et al., p.143, 2010).
Além disso, adquirir hábitos de vida saudáveis, como praticar exercícios físicos
regularmente, dormir bem, manter uma dieta equilibrada e usufruir do lazer são necessários
para diminuir os efeitos do estresse profissional. Também, é importante que se realizem ações
preventivas como reuniões de equipe para discussões e reflexões dos problemas (Pêgo & Pêgo,
2015). A prevenção da Síndrome de Burnout inclui grupos de suporte, terapia cognitivo
comportamental e programas voltados para a diminuição do estresse laboral (MOSS et al.
2016).
realizada leitura interpretativa à identificação das respostas para os objetivos e para o problema
central do trabalho.
4. DISCUSSÃO
Após leitura e análise dos artigos, seis (6) estudos foram selecionados. Abaixo temos
uma apresentação sintetica de cada um desses artigos.
Bahls et al. apresenta o texto “Terapia cognitivo-comportamentais: conceitos e
pressupostos teóricos”, através de uma revisão bibliográfica, apresenta como objetivo expor a
natureza desta abordagem que se tornou popular nos últimos anos. O resultado permite perceber
que a TCC é uma abordagem eclética ao mesclar conceitos e técnicas de duas abordagens
diferentes, tanto no que se refere aos pressupostos teóricos, quanto na forma como se da a
prática psicoterápica.
Trigo et al. expõe através do texto “Síndrome de Burnout ou estafa profissional e os
transtornos psiquiátricos” uma revisão bibliográfica cujo objetivo foi apresentar mais sobre a
Síndrome no Brasil e em outros países, considerando sua prevalência, possíveis fatores de risco
para seu desenvolvimento e sua associação com outros transtornos psiquiátricos, mais as
consequências para o indivíduo e organização em que trabalha. O resultado afirma que a
prevalencia da SB ainda é incerta, porém, dados sugerem que um número significativo de
pessoas são afetadas e que elas podem apresentar comorbidade com outros transtornos, por
exemplo, ansiedade e depressão.
Souza et al. escreveu “Síndrome de Burnout e os cuidados da terapia cognitivo-
comportamental”, onde buscou nortear uma discussão sobre a SB e os instrumentos mais
utilizados da TCC como forma de intervenção. A autora realizou pesquisa bibliográfica de
forma ampla acerca do tema e sobre a instrumentalização adequada no tratamento da SB. Como
resultado, obteve que os sintomas dessa síndrome são de caráter comportamental, físico e
emocional e que a TCC é eficaz no tratamento.
Já o texto “Efetividade da terapia cognitivo- comportamental para os transtornos do
humor e ansiedade: uma revisão de revisões sistemáticas”, os autores Dewes et al. buscaram
demonstrar a efetividade da TCC em tratamentos de humor e ansiedade, por meio de revisão
sistemática sobre a efetividade dessa teoria em estudos publicados entre 2005 e 2010. Por fim,
os autores concluiram que a TCC, combinada com soluções medicamentosas, apresenta
resultados satisfatórios.
O trabalho “Estratégias e intervenções no enfrentamento da Síndrome de Burnout”, dos
autores Moreno et al. teve o objetivo de fazer um levantamento sobre as estratégias e
intervenções no enfrentamento da Síndrome de Burnout. Através de uma busca bibliográfica
em diversas plataformas, os autores afirmam que a eficácia da intervenção no combate à
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Burnout se dá, com maior resolutividade, quando são empregadas estratégias com abordagem
individual corroboradas com estratégias organizacionais.
Lima & Dolabel trazem suas colaborações para essa temática através do trabalho
“Estratégias usadas para a prevenção e tratamento da Síndrome de Burnout”, por meio de uma
revisão integrativa com método comparativo. Elas afirmam que para a prevenção e tratamento
da SB é importante realizar alterações na organização, na postura da equipe e o fortalecimento
de estratégias de enfrentamento individual, sendo a TCC a mais comumentemente utilizada.
Através das pesquisadas realizadas, foi possível perceber que a técnica cognitivo-
comportamental tem sido aplicada no sentido de auxiliar o tratamento da Síndrome de Burnout.
No próximo item apresenta-se o resultado das análises os trabalhos.
De acordo com Bahl e Navolar, (2004) a TCC trata-se de uma teoria ampla com
inúmeras possibilidades de tratamento, sendo essencial a cooperação entre paciente e terapeuta.
Esta terapia buscou a junção entre duas terapias aparentemente muito diferentes que, quando
colocadas em ação de forma conjunta, fornecem ao paciente grande melhora dos sintomas
apresentados em consultório. Ressaltam que a teoria cognitiva é uma abordagem mentalista e,
a teoria comportamental é a relação ambiental do indivíduo. Apesar das diferenças, a integração
destas duas abordagens apresenta resultados satisfatórios o que pode ser comprovado no
aumento de profissionais que optam por esta abordagem teórica no tratamento de transtornos
de diferentes origens, tendo como exemplo transtornos ansiosos e depressivos.
Conforme Dewes, et al. (2010) ressalta a TCC é considerada um tratamento efetivo e
uma opção valiosa frente à administração de fármacos, sendo mais aceita pelos pacientes por
não apresentar efeitos colaterais, além de apresentar bom custo-benefício, ser mais fácil de
aderir e possuir eficácia satisfatória em inúmeras demandas diferentes. Se necessário, ao ser
combinada com medicamentos, os resultados são intensificados, além disso o tratamento com
a TCC apresenta baixa desistência por parte dos pacientes, ficando em cerca de 10,6%.
Quando se trata de transtornos do estresse, existem evidências de que a TCC ocasiona
melhora em diversos sintomas. Dewes, et al. (2004) salientam que este recurso tem se mostrado
de suma importância na vida de pessoas com transtornos do humor e da ansiedade, ocasionando
melhora dos sintomas e diminuição de crises. Os autores relatam que a psicoeducação de
maneira isolada não apresenta eficácia significativa contra transtornos depressivos.
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Lima & Dolabela (2021) indicam como um dos principais fatores encontrados em
diferentes estudos a sobrecarga administrativa como sendo o ponto de partida para o
desenvolvimento da SB. As autoras alertam que, na prática, a maioria das estratégias de
prevenção e tratamento de Burnout presumem que a fonte desta Síndrome é o trabalhador de
forma individual e não seu grupo social de trabalho, neste contexto as autoras afirmam:
Durante seu estudo Lima & Dolabela (2021) evidenciam, através da análise
bibliográfica, que o sujeito só deve ser visualizado de forma isolada quando for para
diagnosticar a gravidade do seu quadro de saúde e, para se conhecer motivos que o conduziram
a tal situação, bem como compreender quais atividades que podem ser utilizadas para tratar a
SB. Sendo assim, é de suma importancia analisar todo o ambiente organizacional para que se
possa determinar a fonte da síndrome, com isto, futuras situações podem ser previnidas.
Trigo et al. (2007) demonstram como o indivíduo acometido por Burnout pode provocar
distanciamento dos familiares, mesmo os mais próximos, como os filhos e os cônjugues. A
organização em que o sujeito está inserido passa a ser prejudicada e por isso precisa agir contra
a incidência da SB. Tratar esta Síndrome somente após o surgimento, apresenta resultados
inferiores aos das organizações que buscam pela prevenção, pois, após a evolução desses
sintomas, um tratamento deverá ser implantado e isso pode implicar em afastamento do
profissional até que a melhora ocorra e ele consiga assumir novamente suas responsabilidades.
O Burnout pode ser associado com a incidência de dependência química e ao álcool em
profissionais da saúde, que buscam alívio dos sintomas que muitas vezes não conseguem
nomear. As autoras Trigo et al. (2007) ressaltam que a incidência de Burnout aumentou frente
aos estudos realizados nos últimos dez anos, que alunos dos cursos da área da saúde também
apresentam indícios de Burnout frente a grande carga horária dedicada nas atividades
acadêmicas. Por exemplo, os médicos residentes, quando vivenciam dualidades de papéis e
enfrentam cobranças por parte de seus preceptores, da sociedade e de si mesmos.
Já quanto a correlação entre Burnout e o suicídio, acontece quando o trabalhador associa
o seu sofrimento ao seu local de trabalho, por exemplo, quando os profissionais passam o final
de semana tranquilo em casa e, na noite que antecede sua volta ao ambiente laboral, surgem
sitomas acentuados de ansiedade, dor de cabeça, inquietude, tristeza, dentre outros. Ao não
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poder se desvincular desse ambiente, o profissional pode buscar meios de se ver livre da
obrigação, isso sugere que o ambiente de trabalho negativo está sendo associado com a
depressão que, por sua vez, está relacionada com uma maior probabilidade de ideação suicida
e tentativa de suicídio (TRIGO et al. 2007).
Souza e Bezerra (2019) identificaram que a TCC apresenta bons resultados para o
tratamento da Síndrome de Burnout, apresentando como ponto inicial a interpretação da
situacionalidade, sendo assim, a Teoria Cognitiva Comportamental busca modificar os
pensamentos para reagir frente as situações estressantes. Dentre a vasta gama de possíveis
tratamentos à TCC, tem sido utilizada a abordagem colaborativa e psicoeducativa para que as
experiências se desenhem e o indivíduo possa, dentro de um esquema de autoavaliação e treino,
identificar e monitorar os seus pensamentos disfuncionais.
Moreno et al. (2011) compreendem que a Síndrome de Burnout não é um problema das
pessoas, mas sim dos lugares onde elas atuam. Trata-se de uma vivência única que atinge cada
indivíduo de maneira singular, podendo gerar, ou não, sentimentos negativos com relação ao
seu trabalho. As autoras ressaltam que uma maior atuação do serviço de saúde do trabalhador
na prevenção das doenças ocupacionais e agravos à saúde faz-se necessário de imediato, pois,
o melhor caminho contra o Burnout é a prevenção.
É de suma importância que ações preventivas se desenvolvam, tais como, reuniões de
equipe para discussões e reflexões dos problemas, momentos em que o profissional se sinta
acolhido e possa expressar a sua vontade, abrindo caminhos para que o meio organizacional
entenda a sua demanda e prepare uma solução adequada (MORENO, et al. 2011).
5. CONCLUSÃO
A exaustão profissional é um fenômeno cada vez mais comum dentro das instituições
organizacionais, podendo trazer consequências individuais e coletivas. Apesar de existirem
várias definições, alguns pesquisadores consentem ao afirmar que a SB é uma resposta ao
estresse laboral crônico, quando os métodos de enfrentamento falham ou não são
suficientemente eficazes.
Através do presente estudo foi possível identificar que entre as principais causas da
Síndrome de Burnout, em profissionais da saúde, estão: o avanço tecnológico; a grande carga
horária; a discrepância entre o que almejavam na profissão idealizada, comparada com a
realidade experimentada no cotidiano de trabalho; a alta carga burocrática encontrada dentro
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para lidar com os agentes estressores. Isso poderá diminuir o prejuízo que as instituições têm
com trabalhadores que precisam se afastar de maneira abrupta do seu cargo.
A síndrome de Burnout ainda é desconhecida por grande parte dos profissionais de
saúde. Por conta disso, é necessária uma maior divulgação sobre ela, através de palestras ou
campanhas com psicólogos para que a prevenção seja o caminho da diminuição da sua
incidência. Pois, se os trabalhadores e as organizações desconhecem as manifestações e causas
da SB, não podem buscar formas efetivas de tratamento, bem como prevenção e intervenção.
Apesar dos novos conhecimentos e das estratégias atualmente existentes e com
excelentes resultados, sobre a Síndrome de Burnout, ainda há um longo caminho para auxiliar
àqueles que necessitam de saberes especializados para amenizar a dor biopsicossocial que
assombra os trabalhadores.
Por fim, compreende-se que em decorrência dos grandes prejuízos acarretados pelas
doenças ocupacionais, sejam natureza psíquica, seja de ordem financeira, necessita-se de mais
estudos voltados para o tema abordado no presente trabalho, visando inovações nos métodos de
tratamento para, desta forma, realizar procedimentos de prevenção adequados nos trabalhadores
da área de saúde e, ao mesmo tempo, precaver de percas financeiras, atrasos operacionais e
processuais nos hospitais ou demais organizações.
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