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INTERVENÇÕES

Predominantemente, a literatura procura entender, definir e explicar as variáveis


associadas ao Burnout, mas, recentemente, busca, também, propor ações que possam ser
aplicadas por profissionais nos diferentes contextos de trabalho. Nesse sentido, verifica-se uma
ampliação de estudos sobre intervenção, que visam alinhar a teoria já existente ao
desenvolvimento de intervenções específicas (Leiter & Maslach, 2014).
As intervenções devem ser pensadas e elaboradas de acordo com os diferentes níveis
em que o fenômeno estudado se manifesta e pelas variáveis que afeta, sendo que estas podem
se apresentar em nível macro, meso ou micro (Abbad, Palácios, & Gondim, 2014). Burnout,
geralmente, tem sido estudado em dois grupos de variáveis: 1. Fatores individuais, que
compreendem as variáveis sociodemográficas e de personalidade; e 2. Fatores contextuais
relacionados ao cargo/trabalho, que incluem os aspectos da organização e do contexto do
trabalho (Boa & Deps, 2015; Maslach, Schaufeli, & Leiter, 2001; Nogueira, 2012).
Uma das formas utilizadas pelo indivíduo para a prevenção da síndrome são as
estratégias de coping, que são definidas como um esforço cognitivo e comportamental
utilizado para diminuir ou tolerar as demandas advindas dos meios interno ou externo
(Christofoletti, Trelha, Galera, & Feracin, 2007; Rodrigues, 2006).
Pode-se perceber o poder do coping como preditor de doença, verificando que as
estratégias de enfrentamento que são utilizadas pelos indivíduos são decisivas na transição do
estresse ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout (Sousa, Mendonça, Zanini, & Nazareno,
2009). O coping pode ser um dos fatores de proteção da SB (Gil-Monte, 2005; Herruzo-Cabrera
& Moriana-Elvira, 2004). Estudos realizados apontam que as estratégias de coping mais
utilizadas por professores foram, em primeiro lugar, estratégias focalizadas no problema,
seguidas de estratégias de evitação e, por último, estratégias referentes à emoção, além disso,
os estudos também revelam que níveis mais baixos de estresse foram avaliados em professores
que adotam estratégias de coping centradas no problema (Capelo, 2010; Pocinho & Capelo,
2009; Quirino, 2007).
O trabalho emocional pode ser visto como um processo individual no qual a gestão das
emoções pelos trabalhadores pode prever os níveis de burnout (Hochschild, 1983). Nesta
perspectiva, é importante que os trabalhadores saibam gerenciar seus sentimentos para que
possam expressar emoções necessárias ao exercício de sua função laboral, mesmo que esse
esforço não lhes seja claro (Hochschild, Irwin, & Ptashne, 1983). O controle emocional é
necessário para que se possa manter uma relação positiva com os clientes ao longo do tempo e
das situações (Hochschild, 1983; VanMaanen & Kunda, 1989). Estudo realizado por Philipp e
Schüpbach (2010) demonstra que os professores que foram capazes de gerenciar suas
emoções para determinadas situações sentiram-se menos exaustos emocionalmente após um
ano.
Equilibrar a interação trabalho-família, também, tem sido alvo de estudos,
especialmente em mulheres, pois além de desenvolver as atividades da sua vida laboral, elas
ainda executam as tarefas familiares, portanto, observa-se que a dupla jornada de trabalho
pode ocasionar conflitos (Guimarães & Petean, 2012). De acordo com Arroyo (2000), poucos
trabalhos se identificam tanto com a vida pessoal do trabalhador quanto a do professor. Neste
sentido, o trabalho docente é altamente exigente, e acaba por comprometer o tempo de lazer
e convívio familiar (Vasques-Menezes & Gazzotti, 1999).
Estudo desenvolvido por Carlotto (2014) relata a experiência de uma intervenção
psicossocial realizada para a prevenção da SB em professores. A intervenção foi estruturada em
cinco sessões realizadas quinzenalmente, nas quais foram trabalhadas temáticas como o
autodiagnóstico e a identificação de fatores de risco, desenvolvimento de estratégias saudáveis
de enfrentamento de estresse, manejo de problemas, expectativas realistas do trabalho e uma
proposta para a prevenção de Burnout. Os resultados revelaram que a intervenção foi benéfica
para ampliação do conhecimento sobre Burnout, seus principais fatores de risco e formas de
prevenção por meio da troca de vivências entre os participantes. (Dalcin & Carlotto,2018)
Outro estudo sobre intervenção, realizado por Żołnierczyk-Zreda (2005), cujo objetivo
foi diminuir o Burnout em professores, identificou que o maior efeito da intervenção foi
verificado a partir do aumento do controle comportamental sobre o trabalho. O autor conclui,
portanto, que propiciar aos os docentes aprendizagem para o gerenciamento dos estressores
laborais possibilitou que esses mudassem sua percepção sobre as características estressantes
do trabalho, também diminuindo a exaustão emocional e as queixas somáticas. (Dalcin &
Carlotto,2018)
Os programas de intervenção para diminuição da SB são benéficos, pois as pessoas que
participam, comumente, apresentam redução significativa no desgaste ou mudanças positivas
em relação aos fatores de risco de Burnout (Awa, Plaumann, & Walter, 2010).
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) (2019a), declaram que a SB, também
conhecida como síndrome do esgotamento profissional, está descrita na Classificação
Estatística Internacional de Doenças- (CID-11) como um fenômeno ocupacional resultante de
um estresse laboral crônico que não foi gerenciado com sucesso, não devendo ser empregada
para descrever experiências em outras áreas da vida. A SB caracteriza-se por três dimensões:
sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do
próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho;
e redução da eficácia profissional (MASLACH C, et al., 1996).
No Brasil, o decreto nº 3.048 (1999), que regulamenta a Previdência Social, considera a
síndrome do esgotamento profissional como doença do trabalho. Ressalta-se que, como os
casos de SB não enquadram no rol de doenças que exigem notificação compulsória, o
Ministério da Saúde não consegue estimar sua prevalência. Todavia, estudo realizado pelo
International Stress Management Association (ISMA-BR) (2017), estimou que 30% dos
trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome. Tal proporção é análoga à do Reino Unido,
país no qual 1 a cada 3 habitantes (o equivalente a 20 milhões de pessoas) enfrenta o
problema (ISMABR, 2017).
O mundo do trabalho contemporâneo – dados os desafios do desenvolvimento
industrial, da globalização, do avanço tecnológico e da comunicação virtual – impõe a classe
trabalhadora condições que, muitas vezes, excedem os limites de suas habilidades e
capacidades. O resultado é o estresse no ambiente laboral, que pode acarretar disfunções
físicas, psicológicas e até sociais, prejudicando a saúde do trabalhador, interferindo na sua
capacidade produtiva e, até mesmo, refletindo de forma destrutiva na sua vida pessoal e na
sua interação para com as pessoas (OPAS, 2016).
Segundo a OMS (2019b), as empresas podem realizar intervenções como parte de uma
estratégia integrada para promoção da saúde e bem-estar que incluam aspectos preventivos,
de identificação precoce, apoio e reabilitação. Essas intervenções podem ser direcionadas aos
trabalhadores (aplicadas individualmente ou em grupo, constituem-se em medidas
comportamentais que visam melhorar, dentre outros aspectos, a capacidade profissional e
habilidades pessoais de enfrentamento), à organização (promovendo alterações nos sistemas
de trabalho, por meio da reestruturação, avaliação e supervisão das tarefas, visando diminuir a
sobrecarga de trabalho e aumentar o controle ou o nível participativo na tomada de decisão)
ou mistos (quando abrangem ambos aspectos) (AWA WL, et al., 2010).
Assim sendo, no intuito de compreender melhor e contribuir com o tema fomentando
discussões relacionadas com a saúde dos trabalhadores e a implicação desta para o ambiente
ocupacional, o propósito do presente estudo é identificar e analisar as produções científicas
existentes sobre os programas de intervenção na Síndrome de Burnout. (Carvalho; Teixeira;
Fernandes; Santos; Oliveira; Silva, 2020)
No campo laboral, dentre os programas de intervenção com sustentação empírica
relevante, as técnicas de meditação mindfulness têm sido apontadas como uma estratégia de
enfrentamento eficaz para o estresse laboral e potencial prevenção/tratamento para Síndrome
de Burnout (LEITER MP, et al., 2014). Também foram empregados como técnicas de
intervenção, Oficinas. Os encontros consistiam, basicamente, em: exposição teórica; atividades
práticas; discussão livre e tarefas de casa. Esse tipo de intervenção permite que o trabalhador
desenvolva habilidades essenciais e indispensáveis como a escuta, o enfrentamento de
situações de estresse e o aperfeiçoamento do diálogo, além de permitir uma reflexão sobre a
finalidade de seu trabalho, sobre as próprias percepções em relação à prática, levando a
construção do conhecimento através da troca de experiências (NASCIMENTO LG, et al., 2014).
O conceito de mindfulness ou de “atenção plena” fundamenta-se nas tradições
contemplativas do Oriente, estando comumente associado às práticas meditativas budistas e
visam o desenvolvimento da sabedoria e introspecção (autoavaliação) que auxiliarão no alívio
do sofrimento (SIEGAL RD, et al., 2008). Diversos estudos demonstram os benefícios da prática
em diversas áreas, seja na prática clínica, na assistência médica e/ou psicológica, no campo
educacional, nas relações familiares ou no ambiente organizacional (SEGURA MSG, 2016).
Também pode-se empregar como técnicas de intervenção, Oficinas. Que se baseiam
basicamente, em: exposição teórica; atividades práticas; discussão livre e tarefas de casa. Esse
tipo de intervenção permite que o trabalhador desenvolva habilidades essenciais e
indispensáveis como a escuta, o enfrentamento de situações de estresse e o aperfeiçoamento
do diálogo, além de permitir uma reflexão sobre a finalidade de seu trabalho, sobre as próprias
percepções em relação à prática, levando a construção do conhecimento através da troca de
experiências (NASCIMENTO LG, et al., 2014).
É importante salientar que as estratégias de intervenção com foco no indivíduo são
relevantes, visto que, ao considerar sua individualidade, ampliam e melhoram as aptidões do
trabalhador. No entanto, estudos advertem quanto aos efeitos de intervenções centradas
unicamente no trabalhador, pois podem reforçar suas frustrações e baixa autoestima e
favorecer o isolamento, mascarando o problema em razão do consenso de que Burnout
fundamente-se no contexto do trabalho. (Carvalho; Teixeira; Fernandes; Santos; Oliveira; Silva,
2020)
A eficácia da intervenção no combate à Síndrome de Burnout é estabelecida com maior
efetividade quando são empregadas estratégias com abordagem individual em conjunto com
estratégias organizacionais (MORENO FN, et al., 2011).
As Lesões por Esforços Repetitivos e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (LER/DORT) são consideradas mundialmente como um grande e complexo problema
de saúde pública e um dos maiores na área de Saúde do Trabalhador. Esses agravos
representam aproximadamente 70% dos atendimentos realizados no serviço, conforme dados
obtidos por meio do Relatório de Atendimento ao Acidentado do Trabalho (RAAT) no período
de 2005 a 2015, constantes do Banco de Dados do Núcleo de Epidemiologia do Cerest-
Guarulhos. (De Paula; Amarala, 2019).
Para atender essa demanda, surgiu, em 2005, a proposta de atendimento em grupo
para pacientes com LER/DORT, adotando-se como modelo trabalhos já realizados em outros
Cerest, especialmente no município de São Paulo. O foco principal desse modelo de atenção é
o atendimento integral do trabalhador adoecido, por meio de uma atuação interdisciplinar,
cuja abordagem considere a repercussão deste conjunto de doenças na vida familiar, laboral,
social e afetiva do indivíduo. (De Paula; Amarala, 2019).
Dessa forma, o tratamento dos pacientes acometidos por esses agravos requer uma
abordagem interdisciplinar, por meio da atuação integrada de profissionais de diferentes áreas,
cujo objetivo principal seja explorar as potencialidades remanescentes, a melhora da qualidade
de vida e da capacidade funcional, e não apenas o alívio da dor, como ocorre nos modelos
tradicionais de reabilitação de trabalhadores. (De Paula; Amarala, 2019).
Após a terapia física, é realizada a intervenção psicoeducativa interdisciplinar,
coordenada pela psicóloga, mantendo-se a participação conjunta com a fisioterapeuta, onde se
utiliza material informativo, técnicas projetivas e estórias, para o desenvolvimento de temas
como: as dimensões psicossociais do trabalho, relação saúde/doença relacionada ao trabalho,
repercussões da doença na vida social e afetiva, reflexões sobre perdas e ganhos, autoestima,
autoimagem, perspectivas para o futuro, fisiopatologia e aspectos psicológicos da dor crônica,
técnicas de relaxamento para o alívio da dor e melhora da qualidade do sono. (De Paula;
Amarala, 2019).
Com base na Análise do Comportamento, que procura identificar as variáveis que
afetam a conduta humana, buscando contextualizar o comportamento do indivíduo a partir
dos níveis de seleção filogenético, ontogenético e cultural. A necessidade de um agente interno
para explicar qualquer comportamento, aos moldes de explicações mentalistas, incluído o
comportamento dito patológico, não é útil para uma análise científica do comportamento.
Explicações que recorrem a elementos como força de vontade e desejo, desviariam a atenção
de variáveis ambientais das quais o comportamento realmente seria função (Skinner, 1970).
A expressão “o trabalho dignifica o homem” (Weber, 1967), utilizada para expressar a
importância da ocupação para o indivíduo, delega uma quase que obrigatoriedade pela
satisfação relacionada ao trabalho. No entanto, sabe-se que nem sempre a atividade laboral é
fonte de realização pessoal, pelo contrário, pode representar um ambiente que produz
sentimentos negativos a ponto de gerar “adoecimento”. (Schmitz; Soares,2020)
Analistas do comportamento se utilizaram da análise funcional para a compreensão
dos transtornos mentais, descartam a visão médica de classificação dos comportamentos e
buscam compreender as variáveis que controlam o modo como os organismos se comportam
(Skinner, 1974).
A psicopatologia é a área do conhecimento que classifica os comportamentos em
normais e patológicos, estabelecendo critérios fixos para reconhecer problemas
comportamentais. De acordo com Dalgalarrondo (2008), o estudo da psicopatologia discute
conceitos de normal e patológico e enfoca dois aspectos básicos: a forma com que os sintomas
se manifestam como uma estrutura básica que se assemelha em diversos pacientes e o
conteúdo desses sintomas, que preenchem essa alteração estrutural. (Schmitz; Soares, 2020).
Ao estabelecer essa relação, percebemos que, na síndrome, assim como na depressão,
estão presentes comportamentos como insegurança, falta de suporte, sentimento de
desmoralização pessoal e sentimento de injustiça (Vieira et al., 2006). No entanto, podemos
diferenciar a depressão da Síndrome de Burnout por esta envolver, necessariamente, uma
relação entre variáveis presentes no ambiente de trabalho como estímulo antecedente para os
comportamentos descritos (Benevides-Pereira, 2002; Freudenberger, 1974; Maslach, Schaufeli,
& Leiter, 2001).
Segundo Freudenberger (1974) o “estado depressivo” presente no Burnout seria
temporário e orientado para uma situação específica na vida da pessoa - o trabalho, além do
que não estaria presente o sentimento de culpa, característico da depressão. Maslach,
Schaufeli, & Leiter (2001) complementa que a Síndrome de Burnout afetaria somente o campo
profissional, enquanto que a depressão atingiria todas as áreas da vida do indivíduo.
De acordo com a abordagem Analítico-Comportamental, a depressão pode surgir
quando responder aos estímulos ambientais não gera reforçadores, tornando o não responder
mais funcional para o indivíduo. As variáveis que influenciariam para a apresentação de um
repertório comportamental definido como depressão seriam a baixa frequência de
reforçamento positivo associada ao aumento da frequência do reforçamento negativo (Ferster,
1973). Esse processo se caracterizaria por uma diminuição no envolvimento do indivíduo em
diversas atividades, o que ocorre também na Síndrome de Burnout. (Schmitz; Soares, 2020).
O referencial Analítico-Comportamental busca a explicação de comportamentos
relacionados a transtornos psicológicos nas interações do indivíduo com o ambiente. As
variáveis das quais o comportamento humano é função ocupam um lugar central nesse tipo de
discussão, pois, identificando as consequências mantenedoras do repertório em análise, pode
ser possível alterar tais consequências e consequentemente, os padrões comportamentais
(Banaco & Zamignani, 2004).
Skinner (1970), ao citar o controle econômico e o trabalho como agências
controladoras, sugere que a presença do controle aversivo em um ambiente ocupacional e a
ausência de reforçadores acaba por gerar descontentamento nos indivíduos, que tendem a
reagir de forma a contracontrolar esse ambiente coercitivo. As respostas descritas na Síndrome
de Burnout evidenciam uma reação a este ambiente, muitas vezes apresentada em forma de
agressão e fuga/esquiva. Conforme Sidman (1995) a punição aumenta a probabilidade de
comportamentos agressivos, o que pode sugerir que um trabalhador que se sente agredido em
seu ambiente ocupacional de forma contínua pode desenvolver tais respostas de forma reativa.
Uma das respostas presentes na Síndrome de Burnout é a esquiva de situações
relacionadas ao trabalho, em relação ao contato com colegas, com o público e/ou redução do
rendimento ao executar suas funções (Benevides-Pereira, 2002; Freudenberger, 1974). Nessas
situações também seria comum o absenteísmo. Silva e Marziale (2000) afirmam que uma das
causas do absenteísmo pode estar na própria empresa quando é desorganizada,
desestimulante, desmotivadora e promotora de um ambiente organizacional sem integração.
Em consonância, Brief (1998) defende a lógica de que alguém que não esteja satisfeito com o
trabalho, poderia estar menos propenso a ser assíduo. Assim, o indivíduo com Síndrome de
Burnout se comportaria em função da consequência de sentir-se aliviado por ausentar-se,
fugindo ou se esquivando da condição aversiva.
O ambiente laboral pode apresentar caráter aversivo também pelas consequências que
apresenta às ações dos trabalhadores. Essa situação pode ser exemplificada pela baixa
remuneração, falta de reconhecimento, excesso de punição e ameaças. Skinner (1970, p .397)
defendeu que “a punição repetida pode produzir uma pessoa inibida, tímida ou taciturna”. Tal
condição tende a ser considerada uma indicação de psicopatologia por modelos relacionados à
Psiquiatria, Psicanálise e Cognitivismo.
Sob a perspectiva Analítico Comportamental, é possível considerar que o indivíduo
acometido pela Síndrome de Burnout se comportaria de forma a tentar contracontrolar a
estimulação aversiva presente no ambiente ocupacional. Fatores como falta de segurança,
conflitos nas relações interpessoais, incompatibilidade entre as particularidades de
determinadas profissões e do trabalhador (Maslach & Leiter, 1999; Maslach, Schaufeli, & Leiter,
2001) seriam exemplos de características negativas do trabalho.
A SB estabelece dois perfis diferenciados. O Perfil 1 caracteriza-se por um conjunto de
sentimentos e condutas ligadas ao estresse laboral, originando uma forma moderada de mal-
estar, mas que não impossibilita o profissional de exercer suas atividades laborais, ainda que
pudesse realizá-las de melhor forma. O Perfil 2 refere-se a casos clínicos mais deteriorados em
decorrência da SB, incluindo os sentimentos já apresentados, acrescidos do sentimento de
culpa. Em ambos, as atitudes e os comportamentos de indolência podem ser entendidos como
uma estratégia de enfrentamento para lidar com o desgaste emocional e cognitivo. No entanto,
enquanto para alguns profissionais essa estratégia de enfrentamento é suficiente e possibilita o
gerenciamento do estresse, para outros é percebida como inadequada e ocasiona sentimento
de culpa. (Diehl; Carlotto, 2015).
O diagnóstico de Burnout deve combinar a análise de todas as suas dimensões
(Schaufeli, Leiter, & Maslach, 2009). É importante destacar que, em todos os casos, são
necessários a realização de entrevista clínica e o emprego de outros métodos de avaliação
psicológica para confirmar o diagnóstico e descartar problemas que possam estar
influenciando os sintomas avaliados, assim como para possibilitar a análise das consequências
do Burnout e o grau de incapacidade para o exercício da atividade laboral (Gil-Monte, 2008a).
Devido à semelhança de sintomas, Burnout pode ser facilmente confundida com outros
transtornos mentais, como a depressão, por exemplo, evidenciando-se a importância de se
estabelecer um adequado diagnóstico diferencial (Batista, Carlotto, Coutinho, & Augusto, 2011;
Gil-Monte, 2012).
A legislação brasileira contempla, desde 1999, a SB como Transtorno Mental e do
Comportamento relacionado com o trabalho pertencente ao Grupo V da CID-10. Sua inclusão
foi estabelecida no Decreto nº 3048/99; sua caracterização é descrita no Manual de
Procedimentos para os Serviços de Saúde (Ministério da Saúde do Brasil, 2001) e seu
diagnóstico formal abre a possibilidade de afastamento, tratamento e compensação financeira.
Também é o caso na Suécia e na Holanda, países nos quais a SB é uma questão médica e,
portanto, entende-se a SB como uma variável dicotômica a fim de tomar decisões sobre o
tratamento e aspectos trabalhistas (Schaufeli, Leiter, & Maslach, 2009).
Apesar disso, ainda não existe uma definição consistente de Burnout. Revisão
sistemática da literatura realizada em 36 bases de dados, com publicações entre 2004 e 2009
sobre diagnósticos diferenciais, impacto econômico e os aspectos éticos de Burnout,
demonstrou a necessidade de se ampliar a compreensão da SB e um procedimento aceitável e
válido padronizado internacionalmente para o diagnóstico de Burnout (Korczak, Huber, &
Kister, 2010).
Nesse sentido, foi possível identificar elementos que configuram a Ilusão pelo Trabalho
na medida em que as expectativas de realização profissional se confrontam com um cenário de
trabalho diferente daquele de quando a entrevistada ingressou na carreira docente. O Desgaste
Psicológico, por sua vez, decorre das dificuldades apontadas nas condições físicas de trabalho,
na organização do trabalho e na falta de respeito e de apoio de alunos, pais e Direção. Assim,
como estratégia de enfrentamento frente à desilusão e ao desgaste psicológico emergem a
Indolência, a indiferença e insensibilidade em relação, principalmente, aos alunos e às metas
educacionais. Assim, pode-se pensar a presença de indicadores do Perfil 1. Estes, acrescidos do
sentimento de Culpa apresentado pela entrevistada, indicam a presença de elementos que
caracterizam o Perfil 2, quadro clínico mais severo de Burnout. (Diehl; Carlotto, 2015).

Porém medidas efetivas, como a aposentadoria, mudança de escola e redução de


carga horária minimizaram os efeitos de Burnout e desistência da profissão, corroborando a
literatura que aponta que os vários níveis de experiência de Burnout não são simplesmente
uma função de variáveis individuais, refletem o impacto diferenciado dos fatores situacionais
nas suas dimensões (Maslach & Goldberg, 1998; Schaufeli, Leiter, & Maslach, 2009).
Nesse sentido, aponta-se a necessidade de esclarecimento sobre os sintomas e sinais
da SB ao trabalhador, assim como aos profissionais de saúde, para seu correto diagnóstico. Tal
medida deve voltar-se tanto para a prevenção como para a reabilitação, dessa forma evitando
a associação com comorbidades como a depressão. Cabe destacar que o diagnóstico deve
incluir entrevistas clínicas, contemplando todas as suas dimensões e outros métodos de
avaliação psicológica (Schaufeli, Leiter, & Maslach, 2009).
Ação voltada para a saúde do trabalhador, com intervenções educativas e Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde. (Medeiros, 2021).
o serviço público identifica desafios enfrentados pelos colaboradores, como: estresse,
cansaço, sobrecarga de atividades, dificuldades em ajustar a vida profissional com a pessoal,
ambiente turbulento e falta de motivação. Logo, tais preocupações transitam em torno das
questões tratadas no que se costuma chamar de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT),
(FIOCRUZ, 2020; GALET, V, 2017).
Neste viés, empresas objetivas descrever uma ação para favorecer o bem-estar dos
trabalhadores utilizando intervenções educativas e terapias não convencionais. (Medeiros,
2021).
A saúde do trabalhador é uma área da saúde coletiva, que associa ações
interdisciplinares e interinstitucionais, alicerçada na medicina social. Assim, sua abordagem
busca superar a saúde ocupacional e a medicina do trabalho, pois entende-se que o processo
saúde e doença da população possui relação direta ou indireta com a sua ocupação, e não deve
ser reduzida a uma relação monocausal entre doença e um agente específico; ou multicausal,
entre a doença e um grupo de fatores de riscos presentes no ambiente de trabalho, mas,
devem ser avaliadas pelas condições de vida das pessoas e são expressos entre os
trabalhadores também pelo modo como vivenciam as condições, os processos e os ambientes
em que trabalham (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO TOCANTINS, 2020).
Os diálogos sobre saúde mental são de extrema importância para a promoção do
cuidado a saúde de trabalhadores, o qual não se restringe somente a minimizar riscos de
internação ou controlar sintomas, mas, também, como uma importante ferramenta para a
compreensão de questões pessoais, sociais e emocionais relacionadas ao adoecimento.
(Medeiros,2021).

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