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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E
COMPETÊNCIAS SOCIAIS
MANUAL DE APOIO E EXERCÍCIOS
MÓDULO 3
MOTIVAÇÃO
CENTROSTALENTO.PT
Índice
3.1. PENSAMENTO MOTIVADO .................................................................................................................. 1
3.2. O MODELO SCARF .................................................................................................................................... 4
Exercício: Comunicação SCARF ............................................................................................................. 10
3.3. TEORIA ATRIBUCIONAL DA MOTIVAÇÃO................................................................................ 10
Exercício: Atribuições causais ................................................................................................................. 12
3.4. A PROCRASTINAÇÃO ........................................................................................................................... 12
Exercício: Reverter gatilhos da procrastinação ............................................................................... 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 15
3.1. PENSAMENTO MOTIVADO
As decisões que tomamos são influenciadas por inúmeros fatores. Pensamos que tomamos
decisões puramente racionais, mas na realidade, a nossa racionalidade é limitada, pelo que
as decisões que tomamos também terão uma limitação de racionalidade.
O nosso pensamento é então motivado por uma série de fatores. Alguns fatores importantes
que afetam a nossa tomada de decisão e motivação são: viés do impacto, viés de projeção e
excesso de opções.
Viés do impacto
A previsão afetiva é quando prevemos como nos iremos sentir no futuro. As pessoas tomam
muitas decisões com base em previsões afetivas, ou seja, sobre previsões sobre as suas
reações emocionais no futuro.
A investigação neste tema mostra que as pessoas muitas vezes preveem incorretamente
quanto prazer ou desprazer os eventos futuros vão trazer, e como resultado, por vezes
investem o seu tempo e esforço a querer alcançar esses eventos, que depois não irá
maximizar a sua felicidade (Wilson & Gilbert, 2005).
Além das pessoas preverem incorretamente como se irão sentir, também tendem a
sobrestimar a intensidade e a duração das suas reações emocionais a eventos futuros, um
fenómeno conhecido como viés do impacto (impact bias).
Os estudos mostram que alunos sobrestimam o seu nível de felicidade ou infelicidade que
irão sentir após serem atribuídos a um dormitório desejável ou indesejável, as pessoas
sobrestimam o quão infelizes vão ser meses após a dissolução de um relacionamento
romântico e as mulheres tendem a sobrestimar o quão infelizes se vão sentir após receber
resultados indesejáveis de um teste de gravidez (Loewenstein et al., 2003; Mellers & McGraw,
2001; Wilson & Gilbert, 2003).
Num estudo clássico, Brickman, Coates e Janoff-Bulman (1978) entrevistaram pessoas que
tinham ganho prémios da lotaria no último ano (média de ganhos de $480.000) em
comparação a quem não tinha ganho. Descobriram que não existia diferença significativa
entre o nível de felicidade reportado entre ambos os grupos. Aliás, verificaram ainda que os
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vencedores da lotaria reportavam significativamente menos prazer de várias atividades
mundanas.
O viés do impacto é importante, pois quando as pessoas vão tomar uma decisão, precisam
prever não apenas a valência das suas reações emocionais (“Vou-me sentir bem ou mal?”),
mas também a intensidade e duração dessas reações (“Irei sentir-me bem durante uns
segundos ou após alguns meses?”).
Excesso de opções
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Pensamos que gostamos de ter muitas opções, mas estamos enganados.
Dois investigadores da Universidade de Columbia e da Universidade de Stanford fizeram três
estudos experimentais e esse artigo científico foi publicado sob o nome “Quando a Escolha
é Desmotivadora”.
No primeiro estudo, um supermercado colocou uma exposição com a prova grátis de 6 e de
24 sabores de geleia, em alturas diferentes. Depois, mediram a motivação dos clientes através
da sua atração inicial a essa exposição e pela quantidade de geleias que compraram.
Neste estudo, embora mais consumidores tenham sido atraídos à exposição dos 24 sabores
de geleia, compravam mais quando apenas estava a exposição de 6 sabores.
No segundo estudo, foi dada a possibilidade a alunos de psicologia social de fazer um
trabalho de duas páginas para ganharem créditos extras. Foram dados ou 6 ou 30 tópicos
potenciais que eles podiam escolher. A motivação foi medida comparando a percentagem de
estudantes que completaram o trabalho e a sua qualidade.
Este estudo revelou que os estudantes tinham mais probabilidade de escrever o trabalho
para créditos extras quando tinham apenas uma lista de 6 em vez de 30. Além disso, os
estudantes do grupo de 6 tópicos escreveram trabalhos com maior qualidade.
Por último, no terceiro estudo, foi pedido a participantes para avaliar uma variedade de
chocolates. Os participantes deviam então indicar que chocolates escolheriam, baseado na
sua descrição e aparência. Depois, provaram e avaliaram esse chocolate.
Noutra sala, foi dada a escolha aos participantes de receber uma pequena caixa de chocolates
com a sua escolha em vez de dinheiro como pagamento pela sua participação.
Para um grupo de participantes, a escolha foi feita entre 6 chocolates e para outro grupo, a
escolha foi feita entre 30 chocolates.
Os resultados principais deste estudo foi que os estudantes que tinham menos escolhas
estavam mais satisfeitos com o sabor dos chocolates que escolheram. Adicionalmente,
tinham quatro vezes mais probabilidade de escolher o chocolate em vez de compensação
monetária pela sua participação.
Existem várias especulações feitas sob o motivo que muitas escolhas nos reduzem a
motivação.
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Por exemplo, muitas opções podem desencorajar os consumidores, porque força um
aumento no esforço na sua tomada de decisão. Então, mais facilmente decidem não decidir
e não comprar o produto. Ou se decidirem comprar, o esforço que essa decisão requer reduz
o prazer associado à escolha.
Outra hipótese é que termos muitas opções pode diminuir a atratividade do que as pessoas
escolhem.
Então, com base nestes estudos, aquela ideia que termos muitas escolhas leva a um aumento
de emoções positivas e de motivação, não parece estar tão certa.
O modelo SCARF (Rock, 2009) foi desenvolvido pelo neurocientista David Rock e é um
resumo de descobertas importantes da neurociência sobre a forma como as pessoas
interagem. Este modelo é construído com base em três premissas:
1. O cérebro reage a ameaças e recompensas sociais da mesma forma que reage a
ameaças e recompensas físicas (Lieberman, & Eisenberger, 2009);
2. A capacidade de tomar decisões, resolver problemas e colaborar com outros é
geralmente reduzida por uma resposta de ameaça e aumentada sob uma resposta de
recompensa (Elliot, 2008);
3. A resposta de ameaça é mais intensa e mais comum e precisa ser cuidadosamente
minimizada em interações sociais (Baumeister, Bratslavsky, & Vohs, 2001).
O modelo SCARF é um acrónimo que engloba cinco domínios da experiência social humana:
• Status (Status): importância relativa às outras pessoas
• Certainty (Certeza): a capacidade de prever o futuro
• Autonomy (Autonomia): sentir controlo sobre os eventos
• Relatedness (Pertença): sentir que pertencemos a um grupo, que estamos seguros
nesse meio
• Fairness (Justiça): perceção de trocas justas entre pessoas
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Vários estudos têm mostrado que estes cinco domínios ativam o mesmo circuito de
recompensa que as recompensas físicas ativam, como dinheiro e o mesmo circuito de
ameaça que as ameaças físicas ativam, como a dor (Rock, 2009).
Se entendermos o que motiva o comportamento social, podemos utilizá-lo para otimizar a
comunicação e tornarmo-nos melhores líderes.
A forma que nos comportamos em situações sociais depende de interpretamos os eventos
como ameaças ou recompensas.
Depois de um estímulo inicial ocorrer, o cérebro processa a informação. E vê se é ameaça ou
recompensa. E o nosso cérebro processa da mesma forma se for para situações sociais ou
necessidades de sobrevivência.
Ou seja, sermos criticados é o mesmo que ouvir passos num beco escuro.
A resposta de ameaça é mais poderosa que a resposta da recompensa. É mais intensa e dura
mais tempo. Hormonas como o cortisol são despejadas no sistema e prejudica por exemplo
o funcionamento da memória de trabalho, pensamento analítico, insight criativo e resolução
de problemas.
Então, quando as pessoas mais precisam das suas capacidades mentais, o seu cérebro tira-
as.
David Rock formulou um modelo que captura cinco fatores comuns que induzem resposta
de ameaça ou recompensa.
Status
Este princípio significa a necessidade de nos sentirmos com alguma importância. Que somos
valorizados. A resposta de ameaça é ativada quando nos comparamos desfavoravelmente
com outros, não importa os riscos. Isto explica porque uma ameaça de status pode ser
sentida quando perdemos um jogo de computador ou quando recebemos feedback no
trabalho.
Ameaça de Status
• Pode ocorrer quando damos um conselho ou instruções ou apenas dizendo que
alguém fez algo mal.
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• Quando ameaçadas, as pessoas podem utilizar posições defensivas que não parecem
fazer sentido de forma a reduzir a dor na redução do status.
• Na maioria das pessoas, a questão “posso-te oferecer feedback?” gera uma resposta
similar a ouvir uns passos atrás de nós à noite.
• As revisões de desempenho costumam gerar ameaças de status, que explica porque é
que muitas vezes são ineficazes a estimular a mudança comportamental.
Certeza
A certeza vem da capacidade de conseguirmos prever o futuro.
O nosso cérebro é um grande simulador que está sempre a tentar prever o que vai acontecer
a seguir. E, se não conseguir prever com alguma exatidão, começa a gerar stress interno.
Regra geral, não notamos este efeito da incerteza nas pequenas coisas do dia-a-dia, pois o
nosso cérebro pensa que sabe o que vai acontecer a seguir. Tem um sentimento de certeza,
no meio da incerteza da vida.
O problema surge quando a mudança ocorre ou quando o risco de incerteza começa a
aumentar.
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Situações de grandes mudanças pessoais ou profissionais, situações de crise, situações de
pandemias. Situações em que a incerteza está presente e é grande.
A incerteza é um fenómeno tão forte na forma como afeta o nosso cérebro, que muitas vezes
preferimos sentir dor física a incerteza.
Reduzir a Incerteza
• Dividir um projeto complexo em pequenos passos.
• Estabelecer expetativas claras do que pode acontecer em qualquer situação, bem
como expetativas de resultados desejáveis.
Autonomia
Autonomia é a perceção de exercer controlo sobre o ambiente, ter sensação de ter escolhas.
O grau de controlo que podemos exercer sobre um fator de stress determina se o stressor
altera ou não o funcionamento do organismo.
O stress inescapável ou incontrolável pode ser altamente destrutivo, enquanto que o mesmo
stress interpretado como escapável é significativamente menos destrutivo.
Por exemplo, nas empresas, o custo da microgestão a longo prazo pode incluir: redução da
moral, elevado turnover e baixa produtividade. A microgestão causa grandes danos no
sentimento de autonomia.
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• Dar liberdade de escolha é um elemento chave para a autonomia, mas muita escolha
pode ser negativa e levar à incerteza. Ou seja, autonomia não é falta de barreiras, pelo
contrário. É existirem barreiras, as pessoas serem responsáveis pelos seus resultados,
mas terem uma palavra a dizer na forma como vão atingir esses resultados.
• O aspeto mais importante é percecionar um sentimento de escolha (mesmo que não
a tenham).
Pertença
A “pertença” aqui envolve decidir se alguém está “dentro” ou “fora” do nosso grupo social. Se
alguém é amigo ou inimigo. As pessoas gostam de se sentir que pertencem a um grupo
(religião, desporto, etc). Isto remonta aos nossos antepassados onde os estranhos de fora da
nossa comunidade normalmente significavam perigo.
A forma como interpretamos alguém como amigo ou inimigo impacta o funcionamento do
cérebro. É mais difícil criar empatia com um competidor do que com um amigo. É difícil
sentirmo-nos bem numa festa onde não conhecemos ninguém. O sentimento de solidão é
ameaçador.
Um aperto de mão, trocar nomes e discutir algo em comum, mesmo que seja só o tempo,
pode aumentar o sentimento de pertença, libertando oxitocina. O conceito de pertença está
fortemente ligado à confiança.
Quanto mais confirmarmos em alguém, mais forte é a colaboração e mais informação é
partilhada.
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Justiça
Este princípio foca-se na perceção de trocas justas entre pessoas.
A injustiça gera uma resposta de ameaça forte. Por vezes inclui a ativação da insula, uma
parte do cérebro envolvida em emoções intensas como o nojo (Tabibnia & Lieberman, 2007).
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Exercício: Comunicação SCARF
Pense numa situação em que quer pedir/comunicar algo e preencha os passos necessários
para que essa comunicação cumpra os pontos do modelo SCARF.
SITUAÇÃO:
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o Instável: causas percebidas como instáveis e variando com o tempo.
• Controlabilidade:
o Controlável: atribuições percecionadas como dependendo da vontade do
próprio.
o Não Controlável: atribuições percecionadas como independentes da vontade
pessoal e como tal percecionadas como incontroláveis.
Emoções ligadas à atribuição causal dos insucessos (Weiner, Russell, & Lerman, 1978)
Incontrolável (e.g.,
Vergonha e
Estável (e.g., falta de
humilhação
professor Desamparo capacidades)
injusto) Controlável (e.g., Culpa e
pouco esforço) arrependimento
Interna
Incontrolável (e.g.,
Vergonha e
falta de
Instável (e.g., humilhação
Esperança capacidades)
azar)
Controlável (e.g., Culpa e
pouco esforço) arrependimento
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Exercício: Atribuições causais
ATRIBUIÇÃO
SUCESSO INSUCESSO
CAUSAL
IDENTIFICAÇÃO E
JUSTIFICAÇÃO
LOCUS
ESTABILIDADE
CONTROLABILIDADE
3.4. A PROCRASTINAÇÃO
Alguns comportamentos que temos parecem irracionais. Deixamos de fazer aquilo que
precisamos de fazer, que nos seria mais útil, que nos traria maior retorno e melhores
resultados a longo prazo. E deixamos de fazer essas coisas que nos seriam úteis, muitas vezes
trocando por outras tarefas irrelevantes, que nada nos acrescentam. Esse é o problema da
procrastinação.
A procrastinação envolve um atraso desnecessário e indesejado, sendo que este atraso pode
ser atrasar uma decisão, a implementação de algo ou atrasar apenas a nossa ação (Mann et
al., 1997).
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Adicionalmente, uma das características bases da procrastinação é que nos apercebemos
que vamos ficar e sentir-nos pior por causa desse atraso. Então, parece que é mesmo um
comportamento irracional – nós adiamos uma ação que deveríamos estar a fazer, sabendo
que vai ser desvantajoso (Klingsieck, 2013).
A procrastinação vem do latim “deixar para amanhã”. Significa então adiar uma tarefa,
favorecendo outra que dê mais prazer ou seja mais rápida.
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• Frustrante
• Difícil
• Ambígua
• Não estruturada
• Não é intrinsecamente recompensadora
• Não tem significado pessoal
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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General Psychology, 5(4), 323-370.
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Heider, F. (1958). The psychology of interpersonal relations. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.
Klingsieck, K. B. (2013). Procrastination: When good things don’t come to those who
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