ÍNDICE

INTRODUÇÃO...................................................................1
Sonho grande:
afinal, o que é importante para você?............................ 2
Protagonismo:
torne-se um agente de mudanças.................................4
Effectuation: como começar a executar?.......................6
Intuição estratégica:
origem de novas combinações criativas...................... 10
Legado: a sua contribuição infinita .............................. 13
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INTRODUÇÃO
“Você é o CEO da sua própria carreira”. É isso que o CEO do Burger King Brasil disse
ao Na Prática quando perguntamos que dica ele daria ao jovem profissional que
deseja se destacar no mercado - e, eventualmente, atingir seus objetivos de carreira.

O conceito é simples, mas no dia a dia exercer a autoliderança exige

autoconhecimento, informação e disciplina. É necessário estar atento para aproveitar
as oportunidades que aparecem mas, mais que isso, estar disposto a criar as próprias
oportunidades se baseando em propósito e valores.

Também é fundamental assumir a responsabilidade pelo que lhe acontece e saber

botar a mão na massa. E é muito importante saber inovar ou solucionar problemas com
base em conhecimentos que já existem - afinal, o custo de reinventar a roda é alto
demais.

No fim, com autoliderança, você conseguirá chegar mais longe, atingindo seus
objetivos profissionais e deixando um legado consistente, de resultados e
aprendizados maiores do que você mesmo.

SOBRE O NA PRÁTICA SOBRE A FUNDAÇÃO ESTUDAR

O NaPrática.org é o braço direito do
jovem brasileiro universitário e recém-
formado em todas as suas decisões
profissionais. No portal, com conteúdo
100% gratuito, é possível encontrar
informações sobre vagas, processos
seletivos, melhores de empresas e
áreas de atuação, bem como histórias
inspiradoras de grandes líderes que
compartilham lições da sua trajetória.
A Fundação Estudar é uma organização
sem fins lucrativos que acredita que o
Brasil será um país melhor se tivermos
mais jovens determinados a seguir
uma trajetória de impacto. Criada em
1991, a instituição tem como objetivo
disseminar uma cultura de excelência
e alavancar os estudos e a carreira de
universitários e recém-formados por
meio da formação de uma comunidade
de líderes, do estímulo à experiência
acadêmica no exterior e do apoio à
tomada de decisão de carreira.

1
SONHO GRANDE: AFINAL, O QUE É
IMPORTANTE PARA VOCÊ?
Ou: Ferramenta para definição de objetivo profissional de longo prazo

Para definir um objetivo de carreira em longo prazo
– o que, na Fundação Estudar chamamos de Sonho
Grande – saber para onde olhar é o primeiro passo.
São tantas variáveis que essa tarefa pode parecer,
a princípio, muito difícil (inclusive, por isso, muitos a
adiam por bastante tempo).
O perigo disso é ficar à mercê das oportunidades
que surgem - e assim, ficar a vida toda em um
lugar que não lhe estimula ou pular de emprego
em emprego sem ter muita clareza de 1) se o seu
potencial está sendo atingido naquele lugar e 2) se
você se orgulha do legado que está deixando no
mundo.
Além de aproveitar bem as oportunidades que
surgem, ter um objetivo de longo prazo lhe permite
criar novas oportunidades. Ter um foco - ou, ao
menos, uma direção - permite que você elabore um
plano e ponha em prática ações que o levarão para
mais perto do que quer alcançar, por meio da sua
capacidade de autoliderança. Sonhar grande, afinal,
é chegar ao fim do dia e saber que atingiu 1% a mais
do que no dia anterior.
Você pode não ter total clareza sobre a área em
que quer se inserir. Porém, através da avaliação
de questões que são importantes para você,
conseguirá iniciar esta jornada e entender quais são
os caminhos possíveis.
Por exemplo, na reflexão você pode perceber
que o que mais gostaria é ajudar a diminuir a
desigualdade social. A partir daí, pode-se refletir
nas diversas formas de fazê-lo: através do direito,
do empreendedorismo, do setor público…

2
Voltar para o índice SONHO GRANDE: AFINAL,
O QUE É IMPORTANTE PARA VOCÊ?

Mas como definir este objetivo
de longo prazo?
Delimite alguns minutos para pensar sobre as três
coisas a seguir. O exercício pode ser feito sozinho
ou com um amigo: enquanto um responde, o
outro faz anotações de acordo com suas próprias
impressões sobre o discurso do colega.
# o que te move - o que você mais gosta de fazer?
em quais situações você se sente mais estimulado?
qual foi a conquista de que você mais sentiu orgulho?
A autoliderança está ligada à vontade de causar
transformações – e é uma prática, não um dom. Por
isso, essa descoberta ajuda a dar início à jornada
para alcançar seus objetivos mais profundos.
LEITURA
COMPLEMENTAR

# o que te incomoda – o que deixa você muito

incomodado? quais problemas gostaria de ajudar a
resolver? do que você não abre mão?

# quem te inspira - quais as características desta

pessoa que me inspiram?

As questões ajudam a entender o propósito que

vai guiar as suas decisões de carreira. A última, em
específico, faz com que você estabeleça alguém
como referência para se inspirar.

Se o Bill Gates é uma inspiração pela sua dedicação

Para saber mais sobre esse assunto,
à filantropia, você pode tentar calcular o impacto
leia Sonho Grande, de Cristiane Correa
que a vontade de devolver à sociedade tem na sua
vida, por exemplo. Se, por outro lado, ele inspira
você por conta do seu pioneirismo tecnológico,
suas prioridades podem estar mais orientadas a
atuar com inovação em algum setor.

Outras sugestões de questionamentos para incluir:

- O que você criaria com recursos ilimitados?

- Quais possibilidades a sua dupla sugeriu para
você?

A ideia por trás dos dois exercícios é fomentar a

reflexão sobre o que realmente é importante para
você, direcionando seu olhar para o que te interessa
profundamente (e não só “obviamente”).

3
PROTAGONISMO:
TORNE-SE UM AGENTE DE MUDANÇAS
Ou: Ferramenta para trazer um objetivo de longo prazo mais para perto
Entender seu papel (e seu poder) na própria
trajetória para alcançar seus objetivos
influencia na sua capacidade de executar - e,
consequentemente, de atingir resultados. A quem,
ou ao quê, você atribui responsabilidade pelos
eventos que acontecem na sua vida?
Existe um termo na psicologia para isso: locus de
controle. Ele determina como alguém encara e
reage às coisas boas e ruins que lhe acontecem.
O locus de controle pode ser interno ou externo - e é
importante ressaltar que ninguém “tem” um ou outro -
são, na verdade, mentalidades que assumimos vez por
outra e que se refletem em nossos comportamentos.
Quem assume um locus externo deposita a
responsabilidade de sucesso em fatores externos -
como sorte, circunstâncias, economia, o trânsito, o
chefe. Ou seja, se posiciona como coadjuvante de
uma história ditada por outros fatores.
4
Já quem assume o locus interno de controle
acredita que pode mudar seu destino. Dessa forma,
busca sempre analisar sua contribuição para tudo
que lhe acontece. E, assim, associa os resultados
alcançados ao seu próprio esforço e competência.
Se algo está errado, pensa no que pode fazer para
reverter a situação.
A relação poderosa do locus de controle
interno com a autoliderança
Ter um locus de controle interno fortalecido ajuda
a reforçar o protagonismo e a autoliderança.
Consequentemente, a capacidade executora se
potencializa - e estudos psicológicos comprovaram
isso ao longo da história. Duas pesquisas sobre
os hábitos das pessoas de sucesso, por exemplo,
chegaram a conclusões semelhantes sobre o
impacto do locus de controle interno em seus êxitos.
Voltar para o índice PROTAGONISMO:
TORNE-SE UM AGENTE DE MUDANÇAS

A primeira foi comandada por um psicólogo da Aqui, o intuito de se responsabilizar pelos

Universidade de Harvard, David McClelland, em acontecimentos com o locus de controle interno
1982, e a segunda, que durou 20 anos, foi realizada não é fomentar sentimento de culpa - não é ele que
pelo autor Napoleon Hill e detalhada em sua obra te ajuda a caminhar. A intenção é despertar outro
“A Lei do Triunfo”. A conclusão dos dois estudos: sentimento: o de que você (e só você) tem o poder
pessoas de sucesso - pessoal ou profissional - de conduzir a vida em direção aos seus objetivos.
acreditam que elas próprias sejam as principais
responsáveis por (quase) tudo que lhes acontece.
Não há dúvidas de que somos, sim, muito
influenciados pelos fatores externos. Porém, se eles
fossem os únicos responsáveis pelas adversidades
ou triunfos, todos os submetidos aos mesmos
agentes teriam o mesmo resultado, certo? E não é o
que acontece.

Responsabilizar-se é assumir o controle

Na realidade, as pessoas reagem de formas
diferentes diante das mesmas variáveis impostas
pelo meio externo e esta reação ajuda a definir
as consequências. Por exemplo: ao chegar
atrasado a um compromisso por conta de trânsito,
é possível isentar-se do próprio papel no fato
- “cheguei atrasado porque peguei trânsito”.
Alternativamente, também é possível chamar para
si a responsabilidade: “cheguei atrasado porque
planejei mal o tempo que gastaria no trajeto”.

Da mesma forma, um comerciante atribui sua

falência “ao mercado”; as dificuldades financeiras
são culpa “do governo”; a desmotivação profissional
tem origem “na empresa” ou “no chefe”. Claro,
todas estas barreiras existem e são relevantes. Mas,
dado que elas existem e há pouco que possamos
fazer a respeito, o que é mais determinante é como
reagimos a elas.

Vivemos as decorrências das nossas próprias

escolhas - conscientes e inconscientes. “Jogar” a
responsabilidade para fora de si gera sensação de
impotência diante do que acontece. Ou seja: fazer
escolhas sabendo do seu protagonismo no próprio
sucesso é garante mais chances de alcançar os
resultados desejados.

5
EFFECTUATION:
COMO COMEÇAR A EXECUTAR?
Ou: Ferramenta para tirar qualquer projeto do papel
Em teoria, iniciar um projeto é fácil: basta dar o
primeiro passo. E, mesmo assim, é comum travar
exatamente antes do primeiro movimento. Não saber
por onde começar é uma das dificuldades. Outra,
ainda mais assustadora, é a pressão por esperar pela
ideia ou solução mais brilhante, o que muitas vezes é
tido como o único caminho para o sucesso.
A lógica de ação empreendedora effectuation
atenua essas preocupações. Primeiro porque prevê
uma execução com base no que já existe; segundo
porque não exige nenhum insight genial. O termo
poderia ser livremente traduzido para efetuação
- ou o ato de realizar as coisas - e sua premissa
básica se fundamenta na ideia de controlar um futuro
imprevisível ajudando a criá-lo, ao invés de tentar
prevê-lo.
Nada de ideia brilhante e sorte: aqui a receita só
exige ação e criatividade para lidar com todas as
circunstâncias que se apresentarem.
6
Linhas gerais de effectuation
“Não pensamos em empreendedorismo como uma
habilidade que pode ser ensinada nas escolas e
acredito que seja hora de mudar essa imagem.” Essa
é a principal crença de Saras D. Sarasvathy, a criadora
de effectuation.
A estrutura de Sarasvathy é básica e vai muito além
do empreendedorismo, podendo envolver qualquer
projeto na carreira: é preciso usar o que está sob seu
controle (quem é você, o que você sabe, quem você
conhece, que recursos tem) para criar ideias factíveis
em parceria com quem se interessar.
Em seguida, as ideias são colocadas em prática
investindo somente aquilo que o empreendedor
pode perder, o que torna um potencial fracasso mais
palatável. São as chamadas “perdas acessíveis”.
A professora usa a cozinha como analogia. Segundo
a lógica causal, se quiser cozinhar, é preciso primeiro
escolher o prato, depois comprar os ingredientes e
instrumentos necessários e então acender o fogão.
Outro jeito é ver o que tem na geladeira e pensar no
que dá para fazer.
Voltar para o índice EFFECTUATION:
COMO COMEÇAR A EXECUTAR?

Assim, se a pessoa souber um pouco sobre cozinha,

Os princípios da lógica
ela vai conseguir fazer o que queria. Pode não ser
Os princípios de effectuation são cinco – pássaro
exatamente do jeito que imaginou e pode exigir
na mão (bird in hand), perda acessível (affordable
mudanças, mas será algo diferente. E, se ela não
loss), manta de retalhos (patchwork quilt), limonada
souber nada sobre cozinha e tudo der errado, como
(lemonade) e piloto do avião (pilot in the plane) –, e
ela só usou os ingredientes que já tinha em casa a
servem para guiar o pensamento do empreendedor.
perda é bem menor.

Durante uma palestra oferecida em um TED Talk,

“Não se trata de aumentar as chances de sucesso,
Sarasvathy usa a criação do Airbnb para mostrar cada
mas de diminuir o custo do fracasso para que você
parte na prática.
possa tentar muitas vezes”, resumiu a professora. “E
se você tiver sucesso, há uma boa chance de ter
1. Pássaro na mão: comece com o que tem
criado algo novo”, completa.
“Comece com o que está na sua mão: quem é você,
o que você sabe, quem você conhece? O que
Como surgiu o Effectuation (ou: por que
aprendeu, que recursos tem, qual é sua rede de
acreditar nele)
contatos?”
A ideia da lógica de effectuation surgiu quando
Sarasvathy, uma cientista cognitiva, fazia sua pós-
O “pássaro na mão” do Airbnb veio em 2007, quando
graduação na instituição Carnegie Mellon.
os fundadores Brian Chesky e Joe Gebbia, que
moravam juntos, estavam tendo problemas para
Ela tinha um projeto de tese ambicioso: entrevistar
pagar seu aluguel em São Francisco.
empreendedores bem-sucedidos e entender como
eles encaravam problemas. Vinte e sete deles –
Notando que uma conferência de design tinha lotado
pessoas com mais de 15 anos de experiência que
os hotéis nos arredores, eles tiveram a ideia de cobrar
tinham fundados diversas empresas e aberto o
por um espaço dentro da própria casa. Com três
capital de pelo menos uma – aceitaram participar da
colchões de ar e a promessa de um café da manhã
pesquisa.
fresco por US$ 80, nascia o Airbed & Breakfast.

Sarasvathy descobriu que eles tinham algumas

2. Perda acessível: gaste só o que puder
características em comum: eram ótimos de improviso,
“Não perca mais do que pode perder e pergunte-se:
sabiam lidar com surpresas, tinham objetivos que
o que eu posso fazer?”
permitiam flexibilidade e estavam sempre usando
seus recursos de maneira criativa. Basicamente,
Chesky e Gebbia investiram pouquíssimo na
sabiam fazer as coisas acontecerem.
empreitada: só precisaram do colchão e de alguns
ingredientes para o café.
“Algumas teorias dizem que empreendedores são,
de algum jeito, diferente de nós”, disse ela em uma
Não houve plano de negócios nem visitas a
TEDx Talk, em 2010. “Minha teoria é que excelentes
investidores, apenas um website simples – o que faz
empreendedores não começam com ideias
sentido, já que o problema que tinham era justamente
brilhantes ou insights e previsões extraordinárias. Eles
falta de verba.
começam como eu ou você poderíamos começar:
com quem são, o que sabem e quem conhecem.”

7
Voltar para o índice EFFECTUATION:
COMO COMEÇAR A EXECUTAR?

3. Manta de retalhos: forme parcerias

“Trabalhe com todo mundo que quiser vir.”

Depois, chegou a hora de provar que a ideia tinha mercado. A situação inicial, compreensivelmente, não era
promissora: quem pagaria para dormir na sala de um estranho?

Acontece que, num mundo com quase oito bilhões de pessoas, há gosto e necessidade para tudo. Surgiram os
primeiros três clientes e a dupla percebeu que a ideia poderia crescer.

Sem experiência com programação, eles convidaram um amigo, o engenheiro Nathan Blecharczyk, para
participar da ideia e criar um website mais sofisticado.

4. Limonada: lide com contingências

“Quando a vida te dá limões, faça limonada. Você terá muitas surpresas, então trabalhe com elas.”

Em idos de 2008, a ideia exigia mais dinheiro para se desenvolver e a dupla deu um jeito criativo no problema.

Aproveitando a corrida presidencial americana daquele ano, eles decidiram arrecadar fundos e
simultaneamente marcar sua presença nacionalmente durante a convenção nacional do partido democrata.
Para chamar a atenção e conseguir verba, compraram mil caixas de cereais genéricos, personalizaram
com desenhos dos dois candidatos, Barack Obama e John McCain, e foram até Denver, onde acontecia a
convenção, para vendê-las por US$ 40 cada.

Era a primeira eleição de Obama, que o transformou em uma celebridade global mesmo antes da vitória, e o
evento tinha lotado os hotéis da cidade – uma oportunidade perfeita para oferecer outros colchões e listar
novas residências na plataforma.

Voltaram com US$ 30 mil dólares, presença na mídia e algumas caixas de sobra, que serviram de alimento pelos
próximos meses.

8
Voltar para o índice EFFECTUATION:
COMO COMEÇAR A EXECUTAR?

Em 2009, ainda lutando para sobreviver e um pouco mais atraentes, conseguiram uma vaga em uma aceleradora
de startups, a Y Combinator, reduziram o nome para Airbnb e se dedicaram a refinar o conceito.

5. Piloto do avião: controle, não preveja

“Foque em atividades sob seu controle e co-crie o futuro.”

O Airbnb agora tinha diversas casas cadastradas e era suficientemente interessante para ganhar capital de
alguns fundos de peso, como o Sequoia Capital. O que ele ainda não tinha era uma clientela crescente.

Em 2010, três anos após a ideia original, Chesky e Gebbia foram a campo em Nova York – “gastaram a
sola do sapato e não dinheiro”, destacou Sarasvathy - onde conversaram com parceiros e usuários pré-
existentes e potenciais.

Saras Sarasvarthy

O objetivo era construir relacionamentos e entender o que fazer para deixar as pessoas confortáveis listando
suas moradias e fazendo reservas no site. (Chesky já tinha passado alguns meses morando exclusivamente em
casas do Airbnb e o feedback foi extremamente útil.)

Foi em Nova York que tiveram a grande sacada: fotografar profissionalmente, eles mesmos, cada um dos
espaços na cidade e deixá-los mais atraentes.
Logo notaram que esses apartamentos tinham entre duas e três vezes mais reservas.

O Airbnb disponibilizou então uma equipe gratuita de vinte fotógrafos para todas as moradias listadas na
plataforma, o que fez com que os clientes se interessassem muito mais e o negócio crescesse 800% em um
ano – assim como os investimentos, agora na casa dos milhões.

Dez anos depois da ideia inicial, o Airbnb é um unicórnio, termo utilizado no Vale do Silício para descrever
startups com avaliações bilionárias. Atualmente, ele é avaliado em 29,3 bilhões de dólares.

9
INTUIÇÃO ESTRATÉGICA: ORIGEM DE
NOVAS COMBINAÇÕES CRIATIVAS
Ou: Ferramenta para dar saltos a partir do que já existe
Nunca é preciso começar do zero. Não importa
qual seja seu objetivo – um projeto novo ou uma
melhoria no seu trabalho - é sempre benéfico
basear-se em conhecimento que já existe.
Isso não é o mesmo que “cortar caminho”, e
também não significa copiar os outros. Na realidade,
“olhar para o passado” faz parte, inclusive, de um
tipo de intuição poderosa, que é das principais
responsáveis pela capacidade humana de inovar.
Segundo a ciência, existem três categorias de
intuição: a comum, que se baseia em um sentimento;
a especialista, quando reconhecemos algo
familiar; e a estratégica. A intuição estratégica é um
pensamento claro e novo, que surge em forma de
um insight ou um flash. Essa intuição é protagonista
nas inovações - no pensamento criativo,
empreendedor ou cientista, por exemplo.
Para Carl von Clausewitz, autor de uma das mais
importantes descrições do termo (na obra “On War”,
de 1832), a intuição estratégica funciona em quatro
etapas. A primeira delas é exatamente a de “pegar
exemplos na história” e guardá-los na mente, algo
10
que fazemos durante a vida. Por isso, o aprendizado,
de forma geral, ajuda: enriquece o repertório
interno e fortalece a intuição estratégica.
Em segundo é o quesito “presença de espírito”, o
que acontece quando se livra a mente de todas as
pré-concepções (e possíveis soluções) sobre o
problema que se tenta resolver.
Em terceiro, o flash de insight, onde alguns
exemplos da história que estavam “guardados” se
juntam e formam uma nova combinação criativa.
Por fim, vem a “resolução”, ou a conscientização
da conexão feita, somada à determinação de dar o
próximo passo.
“Presença de espírito” é a fase mais complicada.
Não só porque é difícil tirar todas as expectativas
da mente, mas também por ser muito difícil prever
o surgimento de uma ideia criativa. É por isso que
estratégias baseadas em tempo livre dedicado
exclusivamente às novas ideias, como reuniões
de brainstorming, costumam não funcionar
como planejado.
Voltar para o índice INTUIÇÃO ESTRATÉGICA: ORIGEM DE
NOVAS COMBINAÇÕES CRIATIVAS

É possível “incentivar” o insight

Existem três técnicas científicas para incentivar os insights criativos - elas podem ser realizadas em grupo
ou adaptadas para o trabalho individual. O “brainstorming reverso” é uma delas. Assim como o nome diz,
consiste em fazer o processo ao contrário: o time se reúne para compilar as ideias passadas e não esperar
que surjam novas.

Também é possível “dormir com a ideia”, que é a segunda técnica. Em vez de trabalhar ao máximo para achar
a solução, esse método determina que a equipe descanse. Ao relaxar, as ideias podem se organizar em
novas combinações criativas.

Porém, um dos principais métodos é conhecido como “insight matrix” e data do fim dos anos 90, quando foi
inventado por Jack Welch e Steve Kerr, CEO e CLO da GE na época. Basicamente, a técnica traduz o que o
cérebro faz por meio de flashes em um processo estruturado.

Como funciona a Insight Matrix

Funciona da seguinte forma: escreva - sempre em lápis, porque todas as informações aqui podem mudar
- no topo da matriz um resumo do que você sabe sobre o problema ou sobre o desafio que você está
enfrentando. Em seguida, em linhas, liste as ações que você acha que terá que fazer para resolver a situação.

Depois, responda à pergunta mais relevante quando se trata de solucionar um problema: alguém, no
mundo, já obteve progresso em alguma das partes de tal quebra-cabeça? Determine as possíveis fontes
de busca como colunas, abaixo da descrição do problema.

Desafio: _______________________________________________
Há alguma referência que possa me ajudar exatamente com isso?
Se sim: REFERÊNCIA 1, REFERÊNCIA 2, REFERÊNCIA 3...

Se não:

Ação 1 Referência 1 Referência 2 Referência 3 Referência 4

Ação 2 Referência 1 Referência 2 Referência 3 Referência 4

Ação 3 Referência 1 Referência 2 Referência 3 Referência 4

É aí que começa a caça ao tesouro: você (ou o seu time) começa a buscar para cada um dos itens listados
como “ações” processos e métodos das referências que possam servir de inspiração. Se daí não surgir
nenhuma referência, será preciso retornar à fase anterior e buscar mais fontes para se inspirar. O trabalho só
pára quando uma combinação efetivamente incentiva insights que ajudem no seu objetivo geral. Não é algo
que dê para se forçar, por isso a atividade pode demorar.

11
Voltar para o índice INTUIÇÃO ESTRATÉGICA: ORIGEM DE
NOVAS COMBINAÇÕES CRIATIVAS

Como um exemplo, foi isso que a Fundação Estudar
fez ao montar o processo seletivo para a Conferência
Na Prática. O problema que precisava ser resolvido
era como criar uma ferramenta de “job fit” que
funcionasse em escala - ou seja, uma ferramenta
capaz de fazer um pareamento perfeito entre o jovem
profissional e a empresa que mais tinha a ver com o
seu perfil.
Exemplificada pela ação da Fundação Estudar, a
matriz de insights tem um ponto muito forte: sua
estrutura, que imita o funcionamento do cérebro
quando surgem os “flashes” de ideias. A mente
passeia de parte em parte do quebra-cabeça,
vasculhando todas as “prateleiras” à procura das
peças que se encaixam, e só quando as encontra
sabe como é a imagem do todo.

“Não há nenhuma referência em organizações

LEITURA
que resolvam exatamente este problema”, explica
COMPLEMENTAR
Leonardo Gomes, responsável pela área de seleção
da Fundação Estudar. “Então o jeito foi encontrar
referências e soluções em diferentes áreas”,
complementa. Entre os desafios, estavam: 1) como
mensurar pessoas e suas características de forma
objetiva; 2) como considerar uma grande quantidade
de variáveis, como personalidade, valores, estilo e
competências; e 3) como fazer isso em escala.

Para o desafio de mensurar pessoas de forma

objetiva, buscaram referências em pesquisas
científicas na área de psicometria e no livro “Como
Mensurar Qualquer Coisa”, de Douglas Hubbard.

Para lidar com o grande número de variáveis, a

equipe procurou a solução fazendo benchmarks
com empresas do ramo de seguros - pois eles
conseguem comparar inúmeras variáveis e entender
qual efeito cada uma dessas variáveis tem no Para saber mais sobre esse assunto,
leia Strategic Intuition, de William Duggan
resultado final. Por exemplo, para definir o valor do
seu seguro automotivo uma seguradora avalia seu
tempo de carteira, o ano do seu carro, quantas vezes
dirige na semana e em qual horário, entre outras
informações.

E, para viabilizar a escala, se inspiraram em um

algoritmo também utilizado na indústria de seguros,
que consegue analisar rapidamente uma grande
quantidade de informação e cruzar os dados
entregando o resultado de forma objetiva.

12
LEGADO:
A SUA CONTRIBUIÇÃO INFINITA
Ou: ferramenta para tornar seus resultados consistentes e perenes
Todas as ferramentas até agora vão ajudá-lo a
construir uma carreira de sucesso e de impacto, de
forma que você deixe uma marca por onde passar,
independentemente do setor.
Da mesma forma, é possível transmitir o
conhecimento que você obteve ao longo da sua
trajetória e garantir que o que aprendeu não se
perca e continue trazendo benefícios.
Repassar seu aprendizado – seu legado, composto
por informações, inspirações, conhecimentos – faz
com que seus resultados sejam perenes. Mas não
é só isso: contribui para a evolução da humanidade
– afinal, você aprendeu coisas que podem servir
como ponto inicial para outras pessoas no futuro.
Com as suas lições (o degrau que você subiu) a
estaca zero deixa de ser o “zero” para os outros.
13
Engana-se quem considera que não seja singular ou
bem-sucedido o bastante para deixar um legado.
Tudo o que fazemos causa algum impacto na
vida de outras pessoas - pode ser no seu círculo
próximo, sua comunidade, sua cidade ou seu país.
Também não vale o argumento de que não tem nada
a passar por sentir que falhou mais do que venceu
durante a carreira. Os seres humanos aprendem mais
com as falhas. Por isso, pelo contrário, a lição que
vem do erro é ainda mais rica.
Como transmitir seu legado
Com as possibilidades de registro que temos hoje,
é muito fácil distribuir o aprendizado pela internet.
As ferramentas para isso também são muitas: é
possível gravar um áudio, escrever em um blog,
criar um canal no Youtube e publicar vídeos com
os relatos. O importante é que seja um conteúdo
facilmente encontrável pelas pessoas que possam
fazer uso dele.
Voltar para o índice LEGADO:
A SUA CONTRIBUIÇÃO INFINITA

Quanto ao conteúdo, existe um método simples que
ajuda a estruturar o aprendizado a ser transmitido.
Criada pela empreendedora e escritora Melanie
Johnson, a técnica 10x3x3 conta com apenas três
passos e os registros podem ser no formato de sua
escolha.
Primeiro, defina cinco FAQs (Frequently Asked
Questions, em português “perguntas frequentes”)
e cinco SAQs (Should’ve Asked Questions, ou
“perguntas que deveriam ser feitas”).
As FAQs são, essencialmente, tudo que as
pessoas costumam te perguntar. Como conseguiu
empreender na crise? Como assumiu posição de
liderança ainda jovem? Como conseguiu uma vaga
na Apple?
Vendo que o efeito disso na sua popularidade foi
praticamente nulo, resolveu tentar outra medida.
Chamou todos para uma reunião e pediu feedback
– de começo, todos estavam acanhados, mas por
fim contribuíram com a discussão. O clima de tensão
entre líder e colaboradores se dissipou a partir
do encontro. A lição: oferecer sinceridade e dar
abertura é o melhor jeito de contornar uma rejeição.
Se parece um desafio muito grande, tente doar
cinco minutos de um dia qualquer para essa
tarefa. Com esse exercício, você compartilha seu
conhecimento e garante que as pessoas consigam
utilizá-lo independentemente de você estar perto
ou não, porque ensina o raciocínio por trás do
aprendizado. Imagina quanta sabedoria valiosa se
perde por quem não se atenta a isso?

Nas SAQs, você mostra sua expertise de fato. Deixar seu legado é facilitar (mesmo que em
Pense nessa seção desta forma: “se soubessem milionésimos) a caminhada dos próximos; é fazer a
o que eu sei, o que perguntariam?” Assim, por sua trajetória ter um significado eterno. No fim das
exemplo: se soubessem o que eu sei sobre gestão contas, vale a pena superar qualquer receio, porque
empresarial, perguntariam “como conciliar tantas não há nada a perder.
responsabilidades?”. Se soubessem o que eu sei
sobre carreira no mercado financeiro, perguntariam
“que habilidade é indispensável e não se aprende
na faculdade?”

Na segunda etapa, reflita sobre três histórias que

respondem às perguntas. Elas não precisam ser
suas: você pode ter lido, visto ou ouvido sobre. Por
último, determine três lições correspondentes às
histórias. Por exemplo: sempre questionam sobre
como conseguiu liderar um time mesmo tão jovem.
Tendo vivido o fato, você sabe que o desafio, na
realidade, foi conquistar o respeito e crédito dos
mais velhos (essa seria a SAQ).

Então, você relata que teve de lidar com

bastante rejeição no início, como líder de um
time em que boa parte dos membros eram mais
velhos. Suas primeiras tentativas de lidar com a
situação basearam-se na ideia de agradar seus
colaboradores com folgas e outros benefícios, para
que te aceitassem.

14
Textos
Suria Barbosa

Edição
Nathalia Bustamante

Design
Aaron Saiki

Imagens
Creative Commons

Fundação Estudar, 2018