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SINDROME DE BURNOUT NA ATIVIDADE POLICIAL E BOMBEIRO MILITAR

MUNIZ, Sidnei Antonio.1


BERGAS, Orivaldo Peres.2

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo, apresentar a relação da atividade


policial militar e bombeiro militar com uma psicopatologia muito pouco conhecida,
denominada Síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional,
avaliando que sua prevalência pode ser muito maior do que se imagina e que não é
diagnosticada ou considerada em razão dos seus sintomas serem confundidos com
estresse e depressão. Quais as conseqüências que a Síndrome de Burtout trás para
o profissional e para a Instituição? Porque não se é diagnosticado casos de Burnout
em Policiais e Bombeiros, uma vez que estas atividades são altamente
predisponente a desenvolvimento desta psicopatologia? Objetiva-se ainda o
despertar uma reflexão sobre a implantação de políticas de saúde que visem a
prevenção, atendimento e acompanhamento aos integrantes das Instituições Policia
Militar e Bombeiro Militar, voltada a saúde biopsicossocial e que minimize o
problema do adoecimento dos militares por conseqüência do exercício de suas
atividades. A metodologia desenvolvida foi documental, de caráter qualitativo-
descritiva, baseada na análise de trabalhos secundários. A síndrome de burnout,
contrariando o que a muitos pensam, não é sinônimo de estresse ou depressão e se
faz necessário um olhar mais atento para o problema desta psicopatologia, cujas
conseqüências são de grandes prejuízos para as Instituições e seus profissionais.

PALAVRAS CHAVE: Síndrome de Burnout; Política de Saúde; Prevenção.

ABSTRACT: This work aims to present the Military Police and Fire Department
activity relation with a not so known psychopathology, called Burnout, evaluating that
its prevalence can be much bigger than people imagine and that it’s not diagnosed or
considered due to its symptoms are confused with stress and depression. Which are
the consequences that the Burnout Syndrome brings for the professional and for the
institution? Why aren’t cases of Burnout diagnosed in Policemen and Firemen, as
long as these activities are highly predisposing to develop this pathology? Objectify
to come through a reflexion about the implantation of health politics that prevent,
attend and follow Military Police and Fire Department members, focused to
biopsychosocial health and that minimize the illness of military members as
consequence of their work. The methodology developed was documentary,
qualitative-descriptive, based in analysis of secondary studies. The burnout
syndrome, against what many think, it’s not a synonym of stress or depression and
it’s necessary a deep look to the problem of this pathology, which consequences are
very harmful for the institutions and their professionals.

KEYWORDS: Burnout Syndrome; Health Politics; Prevention.

1
MUNIZ, Sidnei Antonio. Cap.BM-MS, Curso Superior de Tecnologia Publicitária pela UNIGRAN,
Acadêmico do 8º período de Psicologia pela AEMS, Cursando Pós-Graduação em Psicologia Comportamental
Cognitiva pelo ITECC, e-mail: smuniz3@hotmail.com
2
BERGAS, Orivaldo Perez. Porf. MCs, Mestre em Agricultura Tropical - UFMT, Mestre em Gestão
Educacional pelo INSET-SP, Especialista em Metodologia Científica – FGV-RJ, Professor de
Metodologia Cientifica e Coordenador Pedagógico CAO e CSP. ORIENTADOR DA PESQUISA
2

1. INTRODUÇÃO

Muito embora vivermos em um mundo eminentemente capitalista, onde a


necessidade de produção se sobrepõe as necessidades do ser humano, observa-se
que estes conceitos estão passando por algumas mudanças, pois é perceptível que
as grandes empresas atualmente têm desenvolvido projetos que visam à melhoria
da qualidade de vida de seus funcionários, valorizando de forma substanciada o seu
capital humano, tratando este como o seu bem mais precioso, pois o bem estar
deste irá refletir diretamente na dinâmica produtiva daquela.

O objetivo é despertar uma reflexão sobre o problema de uma psicopatologia


ainda muito pouco conhecida, denominada Síndrome de Burnout, cujo processo de
desenvolvimento está diretamente relacionado com a atividade laboral, com
prevalência em atividades profissionais com um nível de estresse ocupacional muito
alto, principalmente as atividades onde os profissionais estão em constante
envolvimento interpessoal e que lidam com ações de auxílio a outras pessoas, como
é o caso da atividade Policial Militar e Bombeiro Militar, porém, nem sempre
diagnosticada, em virtude da dificuldade de se estabelecer a relação causal e por
seus sintomas serem semelhantes aos sintomas de depressão e estresse.

No entanto, será que em alguns casos de adoecimento de policiais e


bombeiros, diagnosticados como estresse e/ou depressão, se houvesse a
possibilidade de uma melhor investigação, não se chegaria ao diagnóstico de
Síndrome de Burnout? E ainda a que se perguntar, qual os prejuízos que o não
diagnóstico desta psicopatologia trás para o profissional adoecido?

A Síndrome de Burnout foi identificada em 1974, nos Estados Unidos, pelo


pesquisador e médico psiquiatra Hebert Freunderberger, a partir da observação de
desgastes no humor e na motivação de profissionais de saúde com os quais
trabalhava. Apresentando estes profissionais um processo de despersonalização,
alteração do humor, exaustão emocional, cinismo, perda de prazer pelo trabalho e
isolamento social.
3

Qualquer atividade profissional pode predispor o indivíduo a Síndrome de


Burnout, no entanto Benevides-Pereira (2004) afirma que:

Ocupações cujas atividades estão dirigidas a pessoas e que


envolvam contato muito próximo, preferentemente de cunho emocional,
são tidas como de maior risco. [...] têm-se encontrado um número
considerável de pessoas que se dedicam à docência, enfermagem,
3
medicina, psicologia, policiamento, etc.

Vários autores tem apontado em suas pesquisas, fatores que envolvem a


atividade policial no seu dia-a-dia e o desenvolvimento desta Síndrome.

Há uma vulnerabilidade do policial às manifestações emocionais e


psíquicas relacionadas ao estresse ocupacional e consecutivamente ao
burnout. Em decorrência das reações cumulativas contínuas da atividade
policial, que os expõem as situações constantes de estresse, necessitando
constantemente ajustar-se à realidade. Como pode ser percebido na
afirmação de Lima (2002, apud FERREIRA, 2004, p.9), no que se refere à
psicologia do homem policial militar Os mesmos estão expostos a
acentuada gama de experiência humana fora do habitual durante o
exercício de sua atividade, já que essa exige tomada de decisões
imediatas, que podem significar a vida e a morte deles e de terceiros [...]
4
podendo assim se tornar um herói ou vilão.

Observando estes dados, consideramos a importância da realização deste


trabalho em virtude da profissão Policial Militar e Bombeiro Militar, apresentarem
características funcionais que predispõe estes profissionais a um nível considerável
de vulnerabilidade para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout, e que, a partir
da construção destes conhecimentos, suscitar a necessidade da implantação de
estratégias efetivas e ostensivas voltadas ao cuidado com a saúde e a conseqüente
melhoria da qualidade de vida dos policiais e bombeiros militares, desenvolvendo
ações preventivas para minimizar este problema.

A metodologia usada foi documental, de caráter qualitativo-descritiva,


baseada na análise de trabalhos secundários, apresentando as principais
características e a necessidade de refletir sobre um tema tão importante para o
relacionamento homem x trabalho.

3
BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título. A síndrome de burnout. Disponível em:
http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2004/saude_mental/anais/artigos, p. 2. Acessado em 18 de
junho de 2011.
4
AGUIAR, Flora Luiza Silva de. Estresse ocupacional: contribuição das Pirâmides Coloridas de
Pfister no contexto policial militar. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Belém: 2007, p. 44.
Universidade Federal do Pará, instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Dissertação (Mestrado)
4

2. BURNOUT

Normalmente, as pessoas ao iniciarem uma atividade profissional, se enchem


de entusiasmo, expectativas de serem bem sucedidas, realização de um sonho,
melhorar as condições de vida da família e outros. No entanto, é comum no decorrer
desta caminhada, surgirem às dificuldades, que é normal existirem em toda e
qualquer atividade profissional, mas que, nem sempre as Organizações, seja pública
ou privada, preparam aquele trabalhador que chegou cheio de entusiasmo e
expectativas, para enfrentar estas situações. Partindo destes fatores é que surge as
dificuldades de se estabelecer uma harmonia entre o trabalhador e seu trabalho,
podendo iniciar neste momento os processos de adoecimento em conseqüência do
das adversidades que ocorrem no decorrer do exercício da atividade e da percepção
que este profissional tem da realidade que o envolve.

Segundo Carloto (2009), a Síndrome de Burnout pode ser entendida como:

O resultado da constante e repetitiva pressão emocional associada


com intenso envolvimento com pessoas por longo período de tempo. É um
processo que se desenvolve com o passar do tempo, sendo o seu
surgimento paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em termos
de severidade; [...] de uma maneira geral apresenta-se como um processo
gradual onde a pessoa começa a perder o significado e a fascinação pelo
trabalho, dando lugar a sentimentos de aborrecimento e falta de realização.
Aos poucos, o sentimento de entusiasmo, dedicação e prazer com o
trabalho dá lugar a sentimentos de raiva, ansiedade e depressão, fazendo
5
com que o indivíduo acredite estar vivendo uma crise pessoal.

Quanto à relação existente entre a síndrome de burnout e o estresse, estudos


tem mostrado que burnout é uma patologia desencadeada exclusivamente pelos
fatores ligado a atividade laboral dos indivíduos, no entanto, os profissionais de
saúde quando se deparam com situações que evidenciam esta patologia,
encontram uma dificuldade de estabelecer uma relação causal com a atividade
profissional, o que acaba gerando um diagnostico inadequado, como depressão,
estresse ou ansiedade crônica, pois os sintomas apresentam semelhança com estas
psicopatologias. “Sobre Burnout, já há um consenso de que se trata de uma

5
CARLOTO, Mary Sandra. A Relação Profissional-Paciente e a Síndrome de Burnout. Encontro
Revista de Psicologia, v.XII, nº 17, Valinhos: 2009, p. 2. Disponível em:
HTTP://sare.unianhanguera.edu.br/index.phd/rencp/article. Acessado em: 18 de jun. de 2011.
5

resposta ao estresse laboral crônico, contudo não deve ser confundido com estresse
e nem tampouco tratá-lo como sinônimo”.6

Ainda nessa linha, Abranches, Murofuse e Napoleão (2005) afirmam que “no
caso do Burnout, estão envolvidas atitudes e condutas negativas com relação aos
usuários, clientes, organização e trabalho.”7 Quanto ao estresse: “trata-se de um
esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não necessariamente
na sua relação com o trabalho”.8

A principal característica desta Síndrome é a exaustão emocional,


despersonalização e ineficácia. Devido a sobrecarga de trabalho e a necessidade
que o indivíduo sente de ter que dar conta, este então começa a ter dificuldade nas
relações interpessoais e sente os seus recursos emocionais diminuindo, ocorrendo a
exaustão emocional, em conseqüência, surge a instabilidade emocional do
profissional, que passa a tratar as pessoas do seu meio profissional, familiar e social,
de forma inadequada, com agressividade, caracterizando um processo de
despersonalização.

Segundo Tironi (2009) [...] a definição mais divulgada de Burnout


compreende este fenômeno como uma síndrome psicológica, decorrente
da tensão emocional crônica, vivenciada pelos profissionais cujo trabalho
envolve o relacionamento intenso e freqüente com pessoas que
necessitam cuidados e ou assistência; [...] Os autores referem que o que
vem sendo distinto sobre o burnout (em oposição a outros tipos de
reações de estresse) é a moldura interpessoal do fenômeno. Também
concordam que os profissionais que trabalham diretamente com outras
pessoas, assistindo-as, ou como responsáveis pelo seu desenvolvimento
e bem-estar, encontram-se mais susceptíveis ao desenvolvimento do
9
burnout.

Segundo Mayer “utilizando-se de uma perspectiva clínica, reconhece que Burnout é um


estado de exaustão, fruto de trabalho excessivo que acarreta inclusive a alienação de necessidade
do próprio trabalhador”.10

6
ABRANCHES, Sueli Soldati; MUROFUSE, Neide Tiemi; NAPOLEÃO, Anamaria Alves. Reflexões
sobre estresse e burnout e a relação com a enfermagem. São Paulo: 2005. Artigo de Revisão –
Universidade de São Paulo, 2005, p. 259.
7
Idem, p. 259.
8
Ibidem, p. 259.
9
TIRONI, Márcia Oliverira Staffa et al. Trabalho e síndrome da estafa profissional (Síndrome de
Burnout) em médicos intensivistas de Salvador. Revista da Associação Médica Brasileira, São
Paulo: v.55, n.6, p. 657, 2009.
10
MAYER, Vânia Maria. Síndrome de Burnout e Qualidade de Vida em Policiais Militares de
Campo Grande´MS, 2006. p. 54 – Dissertação de Mestrado – Programa de Mestrado em Psicologia.
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
6

Para Edelwich et al (apud CARLOTTO, 2009) “Burnout é um processo de perda do


idealismo, energia e objetivos, vivenciado pelo indivíduo que trabalha em profissões de ajuda,
originário das suas condições de seu trabalho”.11

Segundo os Estudiosos, é diferenciado o modo de manifestação da Síndrome


de Burnout em cada indivíduo, porém, de um modo geral, a pessoa vai perdendo o
prazer pelo trabalho, “aos poucos, o sentimento de entusiasmo, dedicação e prazer
com o trabalho dá lugar a sentimento de raiva, ansiedade, depressão, fazendo com
que o indivíduo acredite estar vivendo uma crise pessoal”.12

Numa visão organizacional, Benevides-Pereira (2002) diz que “o burnout é a


conseqüência de um desajuste entre as necessidades apresentadas pelo
trabalhador e os interesses da instituição”.13

Segundo Vieira (2006) “Freudenberger, em 1974, descreveu o Burnout como


um “incêndio interno” resultante da tensão produzida pela vida moderna, afetando
negativamente a relação subjetiva com o trabalho”.14

Alguns estudiosos consideram o Burnout como a síndrome do final de século


e os profissionais mais vulneráveis a desenvolverem esta patologia, se relacionam
em atividades de cuidar de outros, como professores, médicos, policiais, bombeiros,
agentes penitenciários, ou seja, profissões cuja características envolve um intenso
processo de relação interpessoal.

Benevides-Pereira (2004) descreve a sintomatologia de Burnout como


demonstra o Quadro 1, a seguir:

11
CARLOTO, Mary Sandra. A Relação Profissional-Paciente e a Síndrome de Burnout. Encontro
Revista de Psicologia, v. XII, nº 17, p. 9, 2009. Disponível em:
HTTP://sare.unianhanguera.edu.br/index.phd/rencp/article. Acessado em: 18 de jun. de 2011.
12
Idem.
13
BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do
trabalhador. São Paulo: Casa do psicólogo, 2002, p. 36. Disponível em:
http://www.mpt.gov.br/eventos/2004. Acessado em 20 de jun. de 2011.
14
VIEIRA, Isabela et al. Burnout na clínica psiquiátrica: relato de um caso. Rev. psiquiatr. Porto
Alegre: v. 28, n. 3, 2006, pp. 352-356.
7

QUADRO 1 – Sintomatologia da Síndrome de Burnout – aspectos físicos,


comportamentais, psíquicos e defensivos.15
ASPECTOS SINTOMATOLOGIA
Fiscos Fadiga constante e progressiva
Distúrbios do sono
Dores musculares e osteomusculares
Cefaléias e enxaquecas
Perturbações gastrintestinais
Imunodeficiências
Transtornos cardiovasculares
Distúrbios respiratórios
Disfunções menstruais
Comportamentais Negligência ou excesso de escrúpulo
Irritabilidade
Incremento da agressividade
Incapacidade de relaxar
Dificuldade de aceitação de mudanças
Perda da iniciativa
Aumento do consumo de substâncias
Comportamento de alto risco
Suicídio
Aspectos psíquicos Falta de atenção e concentração
Alterações de memória
Lentidão de pensamento
Sentimento de alienação
Sentimento de solidão
Impaciência
Sentimento de insuficiência
Redução da auto-estima
Labilidade emocional
Dificuldade de auto-aceitação
Astenia, desânimo, disforia, depressão
Desconfiança, paranóia
Aspectos defensivos Tendência de isolamento
Sentimento de onipotência
Perda do interesse pelo trabalho ou lazer
Absenteísmo
Ironia, cinismo

Fonte: Benevides – Pereira (2002 apud Mayer, 2006, p. 59).

Vieira (2006) “também são comuns sintomas como insônia, ansiedade,


dificuldade de concentração, alterações de apetite, irritabilidade e desânimo”.16 As

15
BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título. A síndrome de burnout. Disponível em:
http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2004/saude_mental/anais/artigos, p. 3. Acessado em 18 de
jun.2011.
8

conseqüências em razão destes estados patológicos são: absenteísmo, abandono


do emprego, baixa produtividade, isolamento, aumento no consumo de substâncias,
alcoolismo, e outros.
No contexto da psicologia, a definição mais utilizada tem sido a de
Maslach & Jackson (1986) em que o burnout é referido como uma
síndrome multidimensional constituída por exaustão emocional,
desumanização e reduzida realização pessoal no trabalho. O burnout é a
maneira encontrada de enfrentar, mesmo que de forma inadequada, a
cronificação do estresse ocupacional. Sobrevêm quando falham outras
17
estratégias para lidar com o estresse.

Desta forma, continuar no exercício da atividade constitui-se para o indivíduo


um sacrifício indescritível, pois a e exaustão emocional é tamanha, que neste
momento, o que o indivíduo mais deseja, é não ter que voltar mais ao exercício
daquela atividade, situação que se torna complicada quando o acometido possui um
emprego com estabilidade garantida, como é o caso dos funcionários públicos.

3. ESTRESSE

Em virtude da relação existente entre os sintomas do estresse e burnout,


entendeu-se a necessidade de apresentar algumas informações sobre o estresse,
facilitando a compreensão sobre a diferença entre estas duas patologias.

Quando se fala em estresse, é do senso comum que a palavra está


relacionada com uma carga de trabalho além das condições que o indivíduo
realmente suporta, porém, ao se fazer uma análise científica do termo irá encontrar
inúmeros outros fatores que envolvem o estresse, onde a carga de trabalho passa a
ser apenas um dos fatores desencadeante do processo.

Devemos entender o estresse como um instante em que as funções


orgânicas do indivíduo perde o equilíbrio, ocorrendo a quebra da homeostase,
deixando de haver um funcionamento harmônico do sistema endócrino, e alguns
órgãos passam a trabalhar mais que outros na tentativa de responderem
adequadamente as necessidades do organismo. Neste instante ocorre uma resposta

16
VIEIRA, Isabela et al. Burnout na clínica psiquiátrica: relato de um caso. Rev. psiquiatr. Porto
Alegre: v. 28, n. 3, 2006, pp. 352-356.
17
BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título, op., cit., p.1.
9

natural do corpo em tentar restabelecer a ordem, fazendo uso das reservas de


energias físicas e mental.

O organismo humano é dotado de mecanismos bastantes eficientes


para sustentá-lo quando submetido a situações estressantes; contudo, tais
mecanismos podem falhar na hipótese de ocorrência de estímulos intensos
ou prolongados, capazes de tornar o organismo inábil em promover a sua
homeostase, o que pode possibilitar o surgimento de distúrbios orgânicos
18
característicos da fadiga, taquicardias, entre outros.

Numa visão biopsicossocial, França e Rodrigues (apud MAYER, 2006)


“afirmam que o estresse constitui-se como uma relação particular entre a pessoa,
seu ambiente e as circunstâncias às quais está submetida”.19 Sendo que, nestas
condições o indivíduo se sente ameaçado, sentindo que não irá dar conta de realizar
os seus compromissos da forma que esperam dele.

Pesquisadores tem demonstrado que o estresse por si só não é o fator


desencadeante das patologias psicossomáticas. Mayer (2006) afirma que: “É
necessário que outras condições ocorram, tais como: vulnerabilidade orgânica ou
uma forma inadequada de avaliar e enfrentar a situação estressante”.20

Silva e Marchi (apud MAYER, 2006) “acrescentam que o estresse é um


estado intermediário entre saúde e doença, um estado durante o qual o corpo luta
contra o agente causador da doença, produzindo mais substâncias do que o
habitual”.21 Desta forma, o organismo irá produzir reações endócrinas para buscar o
seu equilíbrio biodinâmico (homeostase) na tentativa de se auto proteger,
disparando mecanismos de alarme, resistência e exaustão.

Observa-se que, enquanto o estresse deve ser entendido como uma reação
de defesa natural do organismo, frente as situações adversas que o indivíduo deve
enfrentar, podendo trazer conseqüências físicas e emocionais devido a recorrência
deste estado, a Síndrome de Burnout, deve ser entendida como um estado de
adoecimento biopsíquico que o indivíduo desenvolve quando não consegue superar

18
MAYER, Vânia Maria, op., cit., p.44.
19
FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, A. L. Estresse e trabalho: guia básico com abordagem
psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.
20
MAYER, Vânia Maria, op., cit., p.47.
21
SILVA, M.; MARCHI, R. de. Qualidade de vida e promoção da saúde. In:____. Saúde e qualidade
de vida no trabalho. São Paulo: Best Seller, 1987. cap. 2. p. 25-30.
10

os desequilíbrios recorrentes em virtude do estresse ocupacional. Acrescentando


ainda que, no caso do estresse, é comum o indivíduo tirar umas férias, um
afastamento temporário da atividade, relaxar, buscar alguma prática de lazer, e
assim recuperar suas energias e voltar bem para o trabalho. No caso de Burnout, é
diferente, pois a exaustão do indivíduo está relacionada com a redução do prazer
por aquele trabalho, decréscimo da sua realização pessoal, diminuição da auto-
estima e outros sentimentos de fracasso relacionado a atividade profissional.

4. DISCUSSÃO

O estresse é necessário à vida humana até o momento em que esteja


cumprindo a sua função de alerta e predispondo o organismo para o enfrentamento
das situações de risco, porém, passa a ser patológico quando o organismo não
consegue retornar ao estado de homeostase. Neste sentido, é necessário que o
profissional, assim como aqueles que são os responsáveis em oferecer as condições
adequadas para que estes desempenhem suas funções, adotem medidas que
possibilitem ao indivíduo a identificar e administrar de forma adequada os fatores
que o predispõe ao estresse, fazendo com que este estado de desequilíbrio orgânico
e mental não se tornem algo recorrente, evitando como conseqüência, o
desencadeamento de outras patologias mais graves, como é o caso da Síndrome de
Burnout.

Segundo Mayer (2006) “o cansaço, o esgotamento, a irritação, a fadiga e


outras tantas sensações físicas e mentais, acabaram sendo encampadas por um só
termo que se tornou banal e usado de forma inconsistente e muitas vezes errônea:
estresse”.22 É neste aspecto que as autoridades no assunto tem chamado a atenção
para o cuidado com esses diagnósticos precipitado e estereotipado, pois esta
rotulação acaba levando a realização de tratamentos inadequados, com
conseqüências desastrosas para os indivíduos acometidos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, em informe


sobre a saúde no mundo, publicado em 2000, um maior cuidado com os
recursos humanos das organizações de trabalho, porque deles depende a
eficiência e a eficácia do sistema. Aponta para o fato de que as condições

22
MAYER, Vânia Maria, op., cit., p.25.
11

de trabalho do profissional influenciam na Qualidade de Vida, bem como na


23
qualidade dos serviços prestados.

Em razão de todo o processo de mudança e evolução que as Instituições


estão passando, é possível observar que os gestores estão buscando dar uma
atenção maior para o capital humano, e neste caso, a questão do estresse
ocupacional e a saúde mental, bem como, a qualidade de vida dos trabalhadores
são fatores relevantes, pois a saúde da empresa também é representada pela saúde
do seu material humano. Nesta linha de pensamento, destacamos a importância dos
gestores das Instituições Policia Militar e Bombeiro Militar, estarem atentos na
implantação de políticas voltadas a saúde mental e melhoria da Qualidade de Vida
dos seus militares, prevenindo que sejam vítimas destas psicopatologias que surgem
encobertas e silenciosas e conseqüentes comorbidades patogênicas a elas
associadas.

Estudos realizados nos Estados Unidos da América indicam que a


Síndrome de Burnout constitui-se em um dos grandes problemas
psicossociais atuais, desperta interesse e preocupação não só por parte da
comunidade científica internacional, mas também das entidades
governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas e européias,
devido à severidade de suas conseqüências, tanto em nível individual
24
como organizacional.

Mayer (2008) “enfatiza que a atividade policial da atualidade exige do


profissional um aperfeiçoamento permanente das relações interpessoais, e uma
interação com a comunidade, sem, contudo, perder o ânimo e a motivação e a
autoridade que deve manifestar”.25

No Brasil já existe desde 1999 uma Lei de nº 3048/99, que reconhece


a Síndrome de Esgotamento Profissional como uma doença do trabalho,
síndrome esta entendida como sensação de estar "acabado" e que,
portanto, requer um tratamento especializado, sendo assegurado ao
26
trabalhador a atenção e o amparo necessários.

Esta síndrome consta no Regulamento da Previdência Social, ANEXOII


Agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho,
23
MAYER, Vânia Maria, op., cit., p.26.
24
ABRANCHES, Sueli Soldati; MUROFUSE, Neide Tiemi; NAPOLEÃO, Anamaria Alves. Reflexões
sobre estresse e burnout e a relação com a enfermagem. São Paulo, 2005. Artigo de Revisão –
Universidade de São Paulo, São Paulo: 2005, p. 256.
25
MAYER, Vânia Maria, op., cit., p.44.
26
AGUIAR, Flora Luiza Silva de. Estresse ocupacional: contribuição das Pirâmides Coloridas de
Pfister no contexto policial militar. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, instituto
de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Belém, 2007, p. 44.
12

Transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho e catalogada


no Grupo V da CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde, item XII – Sensação de Estar Acabado
(“Síndrome de Burn-out”, “Síndrome do Esgotamento Profissional”) (Z73.0).

Partindo da existência deste instrumento legal, é importante observar que o


tratamento dado pelo sistema previdenciário ao trabalhador acometido pela
Síndrome de Burnout, é diferente do tratamento dado ao trabalhador acometido pelo
estresse, pois o primeiro, nos casos de afastamento para tratar-se, terá assegurado
todos os seus direitos trabalhistas e em caso mais grave, podendo até se aposentar.

Destacamos a seguir, como possíveis soluções a serem adotadas para o


enfrentamento deste problema, a adoção de políticas institucionais voltadas a
prevenção e manutenção da saúde física e emocional, tendo como premissa o
cuidado com a qualidade de vida e a redução dos processos de adoecimento dos
policiais e bombeiros militares no exercício da profissão:

a) Implantação de um processo permanente de avaliação anual do estado


psicológico e criação de um inventário que permita o acompanhamento da saúde
psíquica de cada militar, com critérios que alcance a todos os militares da ativa, pois
isto seria um instrumento importantíssimo para os profissionais de saúde que atuam
nas Corporações, facilitando a detecção de fatores que possam estar levando o
militar ao adoecimento, e assim, tratá-lo antes que o processo se agrave;

b) Inserir na grade curricular de todos os cursos de formação e


aperfeiçoamento das Corporações, uma disciplina que oriente sobre saúde psíquica
e qualidade de vida, ensinando o profissional militar a criar mecanismos de auto-
preservação do seu equilíbrio emocional e físico, disciplinas estas ministradas por
uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde, membros da Diretoria de
Saúde da PMMT; e

c) Atendendo a Portaria Ministerial nº 3.214, de 08 de junho de 1978, criar a


Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), e esta se encarregaria de
realizar anualmente nas OPM regionais da capital e interior do Estado de Mato
Grosso, a SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho), e a
13

realização bianual de um Fórum com temática voltada para a saúde do profissional


militar e sua qualidade de vida. Sendo elaboradas a partir destes Fóruns, novas
ações voltadas para a saúde mental e física dos policiais e bombeiros militares.

5. ACOMPANHAMENTO E INTERVENÇÃO

Nos casos em que a Síndrome já se instalou, há o consenso de que algumas


medidas devem serem tomadas, como psicoterapia com um profissional psicólogo
que tenha conhecimento e experiência para lidar com o processo, e
acompanhamento psiquiátrico para o uso de fármacos adequados.

Benevides-Pereira (2004) aponta ainda outras sistemáticas de intervenção,


como:

[...] Poder-se-ia atribuir 3 níveis de atuação: um de caráter individual,


outro em grau institucional e finalmente enfocando a inter-relação
indivíduo/instituição. O ideal é que se pudesse propor ações nestes três
níveis; [...] Sem o empenho e comprometimento da instituição com este
objetivo, as propostas acabam por se situar apenas na esfera pessoal. No
plano individual, identificar os elementos que provocam estresse e quais as
estratégias de enfrentamento que estão sendo adotadas, as que estão
sendo eficazes e as que se mostram inúteis, ou até mesmo prejudiciais; [...]
Adotar hábitos saudáveis. Cuidar para que a alimentação seja balanceada
e em horários regulares, não “pulando” refeições. Manter um mínimo de 6
horas diárias de sono ou mais; [...] Praticar um programa de exercícios
regulares (caminhadas, natação...); Utilizar o tempo livre para atividades
prazerosas, agradáveis e não preenche-las com mais trabalho; [...] Dedicar
um tempo para habilidades que sempre quis aprender ou desenvolver,
como pintura, música, dança de salão ou outra que venha a trazer
satisfação pessoal; [...] Aprender a dizer Não! Não fazer mais do que as
possibilidades reais. É de fundamental importância saber distinguir e
respeitar os próprios limites; [...] Neutralização dos agentes estressores.
Uma vez identificadas as situações que provocam o estresse, verificar e
avaliar as estratégias que estão sendo utilizadas no sentido de eliminá-las
ou minimizá-las; [...] Apoio social. Cultivar o relacionamento interpessoal,
dispor de uma rede de amigos, é um dos mais saudáveis e relevantes
dispositivos de enfrentamento nos momentos de dificuldade. Poder
partilhar as inquietações, conflitos, obstáculos, dúvidas, possibilita ampliar
a percepção da situação permitindo uma visão mais abrangente,
aumentando as chances de resolução, ou, ao menos, a perspectiva de
alívio e consolo; [...] No plano institucional, um profissional capacitado em
desenvolver ações em saúde ocupacional é a pessoa mais indicada. Este
terá condições de efetuar uma avaliação dos aspectos saudáveis e/ou
prejudiciais da organização, assim como propor medidas no sentido de
27
potencializar as variáveis positivas.

Logicamente não é possível eliminar por completo todos os fatores que levam
os profissionais ao adoecimento, até porque em alguns casos estes fatores são
27
BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título, op., cit., p.1.
14

eminentemente de ordem interna, no entanto, estas ações poderão contribuir


efetivamente para melhorar as condições de trabalho, tanto no âmbito funcional,
como organizacional, oferecendo a estes profissionais, instrumentos que os ajude a
sentir prazer pelo trabalho e a certeza de que não são apenas cuidadores, mas que
também estão sendo cuidados.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal proposta deste artigo, foi mostrar que o Policial Militar e Bombeiro
Militar, pelas características das atividades desempenhadas por estes profissionais,
impõem e expõem os a uma condição de vulnerabilidade para o desenvolvimento de
uma psicopatologia ainda muito pouca conhecida, a chama Síndrome de Burnout,
patologia esta com relação causal ao intenso processo de estresse ocupacional,
com maior prevalência nos profissionais que mantém um constante relacionamento
com o público e que tem atribuição de cuidadores.

Em levantamento realizado junto ao ambulatório da PMMT, não há registro de


diagnóstico da Síndrome de Burnout em policiais e bombeiros militares do Estado, o
que não significa a inexistência da ocorrência desta patologia. Entende-se que isto
seja o reflexo da falta de uma política efetiva voltada para a saúde mental dos
militares, tendo como conseqüência, a dificuldade para os profissionais da saúde
que atuam nesse ambulatório fazerem uma avaliação mais detalhada e um
diagnóstico evidenciado na relação causal dos processos de adoecimento, princípios
básicos para se diagnosticar a Síndrome de Burnout.

Os conhecimentos apresentados neste trabalho muito longe estão de esgotar


o assunto, até mesmo porque a Síndrome de Burnout é uma patologia que ainda
requer muita pesquisa e avaliação das suas características, pois sua descoberta é
considerada recente pelo mundo científico, muito embora, não há dúvida quanto a
necessidade de tratar deste problema com a devida atenção e seriedade, pois além
dos prejuízos para as Instituições, causa um sofrimento severo e prejuízos
irreparáveis para a vítima.
15

7. REFERÊNCIAS

ABRANCHES, Sueli Soldati; MUROFUSE, Neide Tiemi; NAPOLEÃO, Anamaria


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Paulo: Artigo de Revisão – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

AGUIAR, Flora Luiza Silva de. Estresse ocupacional: contribuição das Pirâmides
Coloridas de Pfister no contexto policial militar. Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, Belém: 2007, p. 44. Universidade Federal do Pará, instituto de Filosofia
e Ciências Humanas, Dissertação (Mestrado)

BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título. Burnout: quando o trabalho ameaça o


bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do psicólogo, 2002.

BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria Título. A síndrome de burnout. Disponível em:


http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2004/saude_mental/anais/artigos.

CARLOTO, Mary Sandra. A Relação Profissional-Paciente e a Síndrome de


Burnout. Encontro Revista de Psicologia, vol. XII, nº 17, Valinhos: 2009. Disponível
em: HTTP://sare.unianhanguera.edu.br/index.phd/rencp/article. Acessado em: 18 de
jun.2011.

FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, A. L. Estresse e trabalho: guia básico com


abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.

MAYER, Vânia Maria. Síndrome de Burnout e Qualidade de Vida em Policiais


Militares de Campo Grande-MS, 2006. 157p. – Dissertação de Mestrado –
Programa de Mestrado em Psicologia. Universidade Católica Dom Bosco (UCDB),

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Saúde e qualidade de vida no trabalho. São Paulo: Best Seller, 1987. cap. 2. p.
25-30.

TIRONI, Márcia Oliverira Staffa et al. Trabalho e síndrome da estafa profissional


(Síndrome de Burnout) em médicos intensivistas de Salvador. Revista da
Associação Médica Brasileira, São Paulo: v.55, n.6, 2009.

VIEIRA, Isabela et al. Burnout na clínica psiquiátrica: relato de um caso. Rev.


psiquiatr. Rio Gd. Sul, Porto Alegre: v. 28, n. 3, 2006.

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