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Resumo: O presente trabalho almeja analisar estudos relacionados à saúde mental dos trabalhadores da área de segurança pública
brasileira, visualizando dados qualitativos e quantitativos. Foram utilizadas buscas por produção acadêmica e científica disponíveis
em periódicos da Internet, além de teses e livros relacionados ao tema, como documentos norteadores do próprio ministério da saúde.
Outro fator relevante foi o questionário on-line aplicado para que policiais militares do Estado do Paraná respondessem e isto está
documentado no trabalho. Tornando possível visualizar um número significativamente crescente de problemáticas envolvendo os
agentes de segurança pública e comorbidades de cunho mental. Desta forma, este trabalho favorecerá outros pesquisadores e
possibilita a compreensão do leitor a respeito deste assunto e sua complexidade, visto a condição de saúde mental essencial para todos
os trabalhadores, em específico no público abordado.
MENTAL HEALTH IN PUBLIC SAFETY AGENTS: AN EXPLORATORY STUDY IN THE MILITARY POLICE
OF THE STATE OF PARANÁ
Abstract: The present work aims to analyze studies related to the mental health of workers in the Brazilian public security area,
viewing qualitative and quantitative data. Searches for academic and scientific production available in Internet journals were used, as
well as theses and books related to the topic, as guiding documents of the Ministry of Health itself. Another relevant factor was the
online questionnaire applied to the Paraná State military police officers and this is documented in the work. Making it possible to
visualize a significantly growing number of problems involving public security agents and comorbidities of a mental nature. Thus,
this work will favor other researchers and enable the reader to understand this subject and its complexity, given the essential mental
health condition for all workers, specifically in the public addressed.
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Graduado em História pela UNOPAR (2018). Especialista em Segurança Pública pela FAVENI (2021), Especialização em
Educação e Práticas de Ensino para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
https://orcid.org/0000-0001-8756-7031
http://lattes.cnpq.br/6343019687777468
E – mail: leandro.cechet@pm.pr.gov.br
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O presente artigo tem como objetivo 2017, a letalidade policial aumentou 25,8%, sendo a
explanar dados obtidos pela pesquisa que mais mata no mundo, visto que nestes dois anos
houve um aumento de 17,5% nas baixas de agentes
científica em cunho bibliográfico fatos
acerca da saúde mental dos trabalhadores da segurança pública.
do setor de segurança pública. O autor deste trabalho esclarece que o
Tais situações e outras implicam na saúde objetivo principal não é promover direção e gestão
mental e física do sujeito, obstruindo questões de de conflitos, formas de manejo e afins, mas expor a
situação atual exímia que se encontram inúmeros
relacionamento interpessoal, autoestima e outras
problemáticas, podendo acentuar comportamentos agentes de segurança pública, ansiando por ajuda
profissional na área de saúde física e principalmente
agressivos, tanto consigo quanto com o outro, abuso
de substâncias, tendência suicida e outras mental, entretanto, quando não são devidamente
problemáticas, como será citado neste trabalho. orientados e auxiliados, há uma grande
probabilidade de cometerem atos graves, chegando
Apesar da existência de programas da área de até a cometer suicídio.
saúde básica que atendem à demanda da saúde
mental, inúmeras pessoas não buscam por As pesquisas sobre as relações saúde mental
e trabalho junto a diferentes categorias profissionais
atendimento, sendo os motivos diversos. Ainda há
são recentes no cenário científico, entretanto, foi
uma mentalidade distorcida sobre o sofrimento
psicológico estar ligado com fraqueza ou ainda mais possível encontrar artigos, teses, cadernos de saúde
misógino, à feminilidade. Frente ao exposto, nos mental, documentos norteadores do Ministério da
deparamos com tal realidade quando abordamos a Saúde, além de entrevistar policiais militares e uma
psicóloga clínica, para compreender o assunto tanto
doença mental, ou seja, discriminação e estereótipo.
na parte teórica quando na perspectiva prática.
Por outro lado, abordagens em saúde mental
objetiva evitar chegar neste nível de sofrimento e a O foco principal deste trabalho está na saúde
doença propriamente instalada. mental do profissional da área de segurança pública,
visto a relevância de adentrarmos ao tema com
De acordo com o Fórum Brasileiro de
pesquisas embasadas em periódicos e dados fiéis à
Segurança Pública (FBSP, 2017), os agentes do setor
realidade brasileira, a qual mostra as adversidades e
de segurança pública convivem com inseguranças
relacionadas ao âmbito laboral e/ou pessoal, visto a vulnerabilidades tidas a partir do ambiente laboral,
vulnerabilidade que a atuação profissional ocasiona, que é carregado de estresse e sofrimento mental,
no sentido de exposição ao risco diário, sensação de além do risco de morte constante.
desvalorização profissional, problemas sociais, Em segundo plano, este trabalho busca levar
estigmas e questões adversas hierárquicas, além de a compreensão de quem mais quiser analisar este
muitas vezes atuar com material aquém da demanda, assunto, público como agentes de segurança pública,
agravando sentimentos adversos e culminando na principalmente praças e oficias, combatentes
deterioração do estado de saúde mental do sujeito. (aqueles que trabalham na atividade fim, também
Diante de tantas questões envolvendo denominado de operacional) do efetivo da Policia
Militar do Estado do Paraná, gestores, psicólogos,
sofrimento psicológico, estafa mental e física,
visualizamos dados que indicam a letalidade policial educadores e familiares, enfatizando que a saúde
crescente, como possível resultado da estabilidade mental dos profissionais de segurança pública
no setor de saúde mental em atender os agentes. De importa e que é fundamental buscar ajuda, se
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necessário, e agir de forma preventiva a casos segurança pública, de acordo com a Portaria
agravantes, como depressão e pensamentos suicidas, Interministerial SEDH/MJ n. 2, de 15 de dezembro
por exemplo. de 2010.
Utilizando os métodos de pesquisa de campo Porém, conforme o Caderno Ibero-
e literária exploratória, tornou-se possível reunir Americano de Direito Sanitário (2020):
informações cientificamente relevantes abrangendo
o mesmo tema, reforçando a importância em
Tais ações ainda são incipientes perante a
escrever sobre esta temática, contribuindo assim complexidade do quadro social brasileiro associado
para que outros pesquisadores possam, a partir deste aos números de licenças e afastamentos em
decorrência do trabalho em segurança pública, em
referencial, avançar na exploração teórica deste especial os adoecimentos e agravamentos
objeto. psicológicos, percebidos ao longo da produção
científica nacional. (CADERNO IBERO-
Diante das questões metodológicas e AMERICANO DE DIREITO SANITÁRIO,
teóricas, a prática foi realizada com os princípios 2020, p. 118).
éticos de impessoalidade, abrangendo na sua maioria
praças combatentes militares, uma parcela de oficiais Certamente não é possível desvincular a
também combatentes. Ao final, encontraram-se Segurança Pública da Saúde Pública, à medida em
elementos de que a saúde mental deve ser levada em que o agente de segurança pública vivencia as
consideração tanto pelos gestores quanto pelos demandas da sociedade, além disso, na parte
próprios agentes (que às vezes minimizam e psíquica, aquelas vivências, sofrimento e situações
negligenciam os primeiros sintomas), buscando acabam por repercutir no âmbito pessoal, familiar,
resolver questões internas e aprender a lidar com as acadêmico e em diversos comportamentos do
adversidades do cotidiano. sujeito.
Desta forma, este trabalho favorecerá outros Vista a condição de saúde mental do agente
pesquisadores e possibilita a compreensão do leitor de segurança pública, por vezes sem o olhar das
a respeito deste assunto e sua complexidade, visto a políticas públicas, uma consequência é o vislumbre
condição de saúde mental é essencial para os agentes de atos patológicos dos policiais, tanto de extrema
de segurança pública, os quais são o foco desta violência quanto se colocar em risco. Spode e Merlo
pesquisa. (2006, p. 12), afirmam que “o trabalho policial ocupa
um território de controvérsias, no qual se engendra
uma realidade ainda pouco conhecida pela
2 SEGURANÇA PÚBLICA E SAÚDE
sociedade”. Sendo função conter a violência, mas
PÚBLICA
estando em contato direto, corre o risco de
reproduzi-la e/ou ser vítima dela.
Saúde Pública é um assunto debatido em Entende-se que os serviços governamentais
cenário de políticas públicas, mesmo diante disso, e os profissionais de saúde têm um papel importante
visualizamos que a saúde dos profissionais de no combate à violência em vários aspectos, sendo
segurança pública fora posta em normativas em essenciais ações com direcionamento preventivo,
âmbito Federal, conforme a instituição em 2008 do assistencial, legal, resolutivo e humanizado frente ao
Projeto Qualidade de Vida para profissionais de problema.
Segurança Pública pelo Ministério da Justiça, o qual
Embora, no cenário brasileiro existam
estabeleceu diretrizes nacionais de promoção e
órgãos voltados à promoção do combate à violência
defesa dos direitos amplos dos profissionais de
e no setor de saúde, políticas públicas e ações
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relacionadas com esta problemática, torna-se cuja execução necessariamente precisa ser pactuada
indispensável a busca pelos serviços, o que entre União, estados e municípios, visando prevenir
infelizmente não ocorre por parte de todas as o estresse e seus desdobramentos. Segundo Jacques
pessoas que necessitam. (2002, p. 98):
Outro fator relevante se refere ao suicídio,
sendo o pico do sofrimento mental. Conforme Teoria do estresse: termo popularizado por uma
afirma Cruz e Miranda (2020): polissemia conceitual com concepções cognitivo-
comportamental e do senso comum, sendo também
associada a Síndrome de burnout e aos estudos de
fadiga no trabalho, onde são comuns as pesquisas
A presença de dependência química ou demais para classificação do estresse em fases de acordo
doenças mentais também foram elementos com os níveis e respostas aos enfrentamentos e de
encontrados nas pesquisas que abordaram o adaptação aos processos de trabalho pelo sujeito ou
suicídio entre os profissionais de segurança pública. grupo.
Os policiais que apresentaram comportamento
suicida alegaram sentirem-se mais deprimidos ou
sem perspectiva do que os do grupo controle.
Afirmaram sentirem pouco interesse ou prazer em Assim como as outras emoções humanas, o
realizar as atividades de trabalho e relataram ter estresse é vivido por todos, entretanto, em níveis
problemas relacionados ao sono. (CRUZ;
extremos pode acarretar transtornos mentais,
MIRANDA, 2020, p. 31).
especificamente falando sobre trabalho,
desencadeando comorbidades e um quadro
Em todos os âmbitos profissionais há
emocional abalado.
adversidades, mas quando nos referimos a agentes
de segurança pública, torna-se necessário analisar as Segundo Goleman (1995, p. 15), “as
adversidades culturais, uma vez que o sistema emoções são indispensáveis para sermos capazes de
hierárquico muitas vezes proporciona ainda mais lidarmos com situações críticas do cotidiano”, sendo
desafios e recorrentes gatilhos para comportamentos que para o profissional de segurança pública este
não condizentes com o profissionalismo, além de conceito é aplicável, diante de inúmeras ocasiões
estafa mental, imersão em vícios e outras fugas, extremas que vivencia a partir de sua atuação contra
conforme afirmou Cruz e Miranda. (2020, p. 12). o crime, por exemplo.
Spode e Merlo (2006, p. 08) afirmam que “o Heloani e Capitão (2003, p. 82) afirmam que
conteúdo abordado sobre as relações que se “o psiquismo humano é ferido diante do sentimento
estabelecem entre os policiais evidencia que elas têm de impotência e desvalorização”, propiciando a
um papel fundamental nas vivências de prazer e de instalação de patologias, principalmente na questão
sofrimento no trabalho”. Neste aspecto, os maiores de saúde mental.
desafios para que as relações intersubjetivas possam Conforme afirma Jacques (2002, p. 100), “o
abarcar o vínculo de confiança e o reconhecimento trabalho do agente de segurança pública e sua
parecem estar na própria forma como é organizado vivência diária com adversidades de todos os tipos,
o trabalho e nos mecanismos disciplinares. ocasiona danos ao seu estado psicológico”,
O Programa Nacional de Qualidade de Vida propiciando crises existenciais, bem como outras
para Profissionais de Segurança Pública (Pró-Vida) patologias relacionadas ao seu estado psíquico,
foi criado em 2018, o qual disciplina política pública emocional e demais estruturas do ser humano.
nacional para o setor. O objetivo do programa é Conforme estudo divulgado pelo Conselho
oferecer atenção psicossocial e de saúde no trabalho Regional de Psicologia de Santa Catarina (2019), “em
aos profissionais de segurança pública. O projeto 2019, 91 policiais – militares e civis – cometeram
inclui na lei ações para promoção da saúde mental, suicídio. Já os mortos no trabalho foram 72 e fora de
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serviço 101 policiais foram mortos”. Tais números adaptação, baixa tolerância, condutas persecutórias
e, por fim, a instalação dos transtornos, quando não
chamaram atenção do Senado Federal, incluindo diagnosticados e tratados a tempo. Exemplos de
ações voltadas à saúde mental e prevenção do transtornos mais constatados: ansiedade, pós-
suicídio de profissionais de segurança pública. traumático, transtorno de ansiedade generalizada e
transtorno de dependência química (álcool -
Durante entrevista para o Conselho Regional tabaco). Importante salienta que, em instituições
policiais militares, que se caracteriza por forte
de Psicologia de Santa Catarina (2020), a psicóloga disciplina e hierarquia, a organização do trabalho
Maria Antonieta Brito Beck afirma que: pode desenvolver tensão e sofrimento psíquico.
(CRP/SC, 2020, p. 02).
De acordo com estudos realizados por Futino e Delduque (2020), os autores demonstraram significativo
enfrentamento de estresse por agentes de segurança pública, ocasionando sintomas físicos e psicológicos,
conforme a seguir:
Nesses estudos fora evidenciado o que é uma atuação que transcende uma
crescente número de situações envolvendo possibilidade de acidente de trabalho, sendo
questões adversas, conforme o Quadro 1. também, mas um fator que estrutura suas relações
A partir dessa concepção, concebe-se a e desenvolvimento funcional.
atividade em segurança pública como singular, visto
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Minayo e Adorno (2007), afirmam que este física/mental, por culturalmente entenderem como
risco deve ser levado em consideração bem como o necessidade feminina.
contexto, visto o enfrentamento de situações reais
Visando contemplar essa problemática, o
relacionadas a mortes e acidentes no trabalho, onde
Governo do Estado do Paraná, através da Secretaria
os profissionais de segurança pública são vitimados de Saúde, implementou a Rede de Saúde Mental,
também em horário fora do expediente, conforme explicitando questões relacionadas ao tema e
Minayo (p. 05, 2007) “as adversidades se
possibilitando que as os agentes de segurança
materializam em traumas, lesões ou mortes pública acessem às Unidades de Atenção em Saúde
ocorridas na defrontação com a criminalidade e na Mental no Paraná.
manutenção da ordem”.
Por seu turno, o Governo do Estado da
Souza (2012) realizou um estudo em 2012
Paraíba (2020), promove a mesma política pública
com policiais militares do Estado do Rio de Janeiro,
por meio do Espaço Viver Bem, sendo um projeto
obtendo amostras equivalentes a 35,7% do total de que oferece ajuda terapêutica aos integrantes da
1.120 trabalhadores. Os resultados apontam: Polícia Militar, tendo unidades em várias cidades,
sendo que o objetivo do projeto é atender
Baixos índices de grau de satisfação com sua gratuitamente e acolher através da equipe
qualidade de vida, somente 26% relatou estar multidisciplinar, que oferece serviços nas áreas de
satisfeito, além de queixas com as condições de
saúde física e mental, de estresse nas atividades e a assistência social, psicologia, psiquiatria,
vitimização como fatores que influenciam o psicopedagogia, nutrição, fonoaudiologia, entre
sofrimento psíquico destes trabalhadores. outros.
(SOUZA, 2012, p. 10).
De acordo com o então governador do
De acordo com o psicólogo Melo (2019, p. Estado da Paraíba, João Azevêdo, “Além de cuidar
04), “o sofrimento psíquico dos trabalhadores da da população, nós também cuidamos dos
área de segurança pública, muitas vezes são julgados servidores, disponibilizando atendimento nas áreas
pelos próprios colegas, os quais mesmo sofrendo, de psicologia e assistência social e vamos ampliar
entendem que problemáticas no âmbito emocional também para as áreas de nutrição e psiquiatria” 59.
são exclusivamente femininos”. O que não é a Verificando a eficácia dentro dessa situação
realidade, pois de acordo com o Ministério da Saúde os serviços de saúde pública ofertados na área de
(2015), os problemas relacionados a saúde mental saúde mental são: Centros de Atenção Psicossocial
acometem mais homens do que mulheres. (CAPs), Serviços Residenciais Terapêuticos,
Segundo Wong (2011, p. 08), psicólogo que Centros de Convivência, Unidade de Acolhimento,
fez pesquisas sobre o assunto, “o machismo é uma além de atendimento psicológico e psiquiátrico pelo
injustiça social que abala as mulheres, mas também SUS, nas Unidades Básicas de Saúde. Entretanto, há
pode ter um efeito prejudicial sobre a saúde mental uma cobrança significativa por parte do próprio
daqueles que abraçam tais atitudes”, o autor remete sistema, o qual age em desacordo com a propiciação
ao fato de que grande parte dos homens não busca de intervenções referentes a prevenção e/ou
atendimento diante de problemas de saúde tratamento de saúde mental dos agentes de
59A atenção à saúde mental dos policiais militares na Paraíba foi destaque na mídia nacional. Disponível em:
https://paraiba.pb.gov.br/noticias/atencao-a-saude-mental-dos-policiais-militares-na-paraiba-e-destaque-na-midia-nacional.
Acesso em: 01 nov 2021.
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se que depende da busca pelo agente, bem como financeiros das instituições; XIV - simplicidade,
informalidade, economia procedimental e
suporte por parte do Estado. celeridade no serviço prestado à sociedade; XV -
Um dos objetivos da luta pela saúde mental relação harmônica e colaborativa entre os Poderes;
XVI - transparência, responsabilização e prestação
não se restringe apenas à cura das doenças ou a sua de contas. (BRASIL, Presidência da República.
prevenção, mas unir esforços para a implementação Secretaria-Geral. Lei nº 13.675, 11 de junho de
2018.).
de recursos que tenham como resultado melhores
condições de saúde para a população. No Brasil, há políticas públicas em saúde
Conforme cita a Lei nº 13.675, de 11 de mental, como as propostas da Política Nacional de
junho de 2018, em seu artigo 4º sobre os princípios Saúde Mental, apoiada na Lei nº 10.216/01, a qual
da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
Social, o Estado, por meio de seus entes devem portadoras de transtornos mentais e redireciona o
atuar para o(a): modelo assistencial em saúde mental,
compreendendo a qualificação, expansão e
I - respeito ao ordenamento jurídico e aos direitos fortalecimento da rede extra-hospitalar de serviços
e garantias individuais e coletivos; II - proteção,
valorização e reconhecimento dos profissionais de com assistência humanizada.
segurança pública; III - proteção dos direitos
humanos, respeito aos direitos fundamentais e
De acordo com a Lei nº 10.216/01:
promoção da cidadania e da dignidade da pessoa Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas
humana; IV - eficiência na prevenção e no controle acometidas de transtorno mental, de que trata esta
das infrações penais; V - eficiência na repressão e Lei, são assegurados sem qualquer forma de
na apuração das infrações penais; VI - eficiência na discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação
prevenção e na redução de riscos em situações de sexual, religião, opção política, nacionalidade,
emergência e desastres que afetam a vida, o idade, família, recursos econômicos e ao grau de
patrimônio e o meio ambiente; VII - participação e gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno,
controle social; VIII - resolução pacífica de ou qualquer outra. Art. 2o Nos atendimentos em
conflitos; IX - uso comedido e proporcional da saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus
força; X - proteção da vida, do patrimônio e do familiares ou responsáveis serão formalmente
meio ambiente; XI - publicidade das informações cientificados dos direitos enumerados no parágrafo
não sigilosas; XII - promoção da produção de único deste artigo. (BRASIL, Presidência da
conhecimento sobre segurança pública; XIII - República – Casa Civil. Lei nº 10.216/01).
otimização dos recursos materiais, humanos e
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4 DESCREVENDO O EXPERIMENTO
Após a análise dos dados obtidos a partir da pesquisa bibliográfica, foi redigido um questionário via
Googleforms 60 para coletar respostas a respeito de saúde mental, as quais foram respondidas pelos próprios
agentes. Sendo uma amostra de 65 policiais militares do Estado do Paraná, no período de 01 a 10 de janeiro de
2021, sendo que 65 (sessenta e cinco) referente a aproximadamente 0,4% do total da tropa, que atualmente
18.329 (dezoito mil, trezentos e vinte e nove), conforme consta no site da Casa Civil do Estado do Paraná
(2021) 61.
As perguntas e os resultados deste questionário foram tabulados e estão expostos a seguir:
Pergunta Resposta %
SIM 4,4%
Você acredita que o Estado se preocupa com a situação
NÃO 92,6%
física e mental dos agentes da área de segurança pública?
TALVEZ 2,9%
- Baixa autoestima.
A percepção do trabalhador que não adoece é forte e o
cuidado com a saúde mental em segurança pública ainda é SIM 51,6%
tratado como um tabu. Quando você se ausentou do
serviço por atestado médico/psicológico/fisioterapêutico NÃO 48,4%
ou outros, se sentiu perseguido ao retornar ao trabalho?
Você acha que seria possível a participação de agentes de SIM 98,6%
segurança pública na formulação de projetos a favor da
saúde mental deste público? NÃO 1,4%
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De acordo com a Apra-PR 62, são cerca de 1 significativo no quesito cultural, proporcionando
mil policiais afastados com atestados médicos em apoio ao sujeito em sofrimento e não julgamento.
2019, por outro lado, não há dados de
Diante do assunto discutido, pesquisas
colaboradores que já saíram do período de licença
analisadas, além da responsabilidade do Estado,
ou que foram aposentados devido a isto, remetendo vem a contrapartida do sujeito em buscar canais de
à possibilidade de implementação de novas políticas atendimento em saúde física/mental, diante de seu
públicas de controle sobre números e trabalhos
sofrimento, por mais que isto seja penoso em
voltados a preservação da saúde mental do sujeito, algumas situações. Certamente, seria útil que fosse
como uma alternativa do Estado para permitida a transparência e a participação dos
enfrentamento dessa realidade. trabalhadores nos debates e nas formulações de
Outra constatação da pesquisa foi de que há políticas públicas, proporcionando ambientes
políticas públicas acessíveis para que o sujeito seja laborais que promovam saúde e não prejudiquem o
atendido em sua demanda, tanto na prevenção âmbito físico/mental.
quanto no tratamento diante da instalação de um A valorização da vida é necessária em todos
transtorno/doença mental, cabendo ao indivíduo os contextos, no caso de trabalhadores que lidam
aderir a tais instrumentos de forma adequada. direta e diariamente com a violência, não é diferente
Nesse sentido, dado que um dos fatores é a e, como fora visto no estudo, o objeto de trabalho
omissão do próprio agente de segurança pública da cotidiano da atividade profissional policial é
existência do problema, faz-se necessário e com intensificador do problema.
iminência, campanhas educativas visando combater
Como citado no decorrer da pesquisa, a
o preconceito próprio e institucional, com condição promoção de apoio psicológico, além de políticas
sine qua non para efetividade das políticas e/ou
públicas em prol da saúde mental tornam-se
programas existentes. imprescindíveis, possibilitando manejo das
problemáticas e dessa forma propiciando um
ambiente laboral convidativo a prevenir ainda mais
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
adversidades, além daquelas vistas nas ocorrências
policiais.
Frente às informações descritas neste Com os resultados obtidos através da
trabalho, tornou-se possível, mesmo que em nível pesquisa bibliográfica e exploratória, fora possível
exploratório, a compreensão a respeito da atividade visualizar, de forma localizada na PMPR, a demanda
em segurança pública e a sua estreita ligação com a por atendimentos no setor de saúde mental para
saúde pública, em especial, a saúde mental, com trabalhadores da área de segurança pública, por
recorte específico na Polícia Militar do Estado do lidarem com situações extenuantes no âmbito físico
Paraná. e psicológico, sendo que tal desgaste, muitas vezes
Nessa perspectiva, apesar dos mecanismos culmina em doenças mentais, transtornos, vícios e
de saúde pública existentes, especificamente em até suicídio.
saúde mental, torna-se necessário um avanço Considerando a incipiência de pesquisas na
área, mas compreendendo a contribuição que
62 Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra-PR) – dados obtidos em boletins interno (INTRANET) – Disponível em:
https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2019/10/14/problemas-psicologicos-sao-a-causa-de-23percent-dos-afastamentos-
medicos-de-policiais-militares-no-parana-diz-associacao.ghtml Acesso em: 12 nov 2021.
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