Você está na página 1de 15

o psicodiagnóstico

na
avaliação de recursos humanos

ISABEL ADRADOS *

1. Introdução; 2. O conceito de normal


e patológico; 3. A ênfase dos aspectos
patológicos; 4. Novo enfoque meto-
dológico; 5. Plano de trabalho; 6. Con-
clusões.

1. Introdução

Esta comunicação é fruto das dúvidas e reflexões por nós levantadas ao examinar-
mos o trabalho realizado nos últimos cinco anos na Clínica do Instituto de Psico-
logia da UFRJ do Rio de Janeiro.
Três aspectos serão abordados no decorrer desta exposição. O primeiro diz
respeito à necessidade de se refletir, e talvez reformular, o conceito de "normal" e
"patológico", a fim de se poder elaborar, com uma margem maior de segurança,
cada laudo diagnóstico em psicologia clínica. O segundo examinará a ênfase, talvez
desnecessária, que se costuma dar aos aspectos mais patológicos da personalidade.
Finalmente, este trabalho apresenta a possibilidade de novo enfoque metodológico
na elaboração do diagnóstico, principalmente sua utilização como instrumento
para avaliar os recursos humanos.

* Comunicação ao I C;ongresso Interamericano de Psicologia Clínica, Porto Alegre, setembro


de 1974.

Arq. bras. Psic. apt., Rio de Janeiro, 27(2) :56-70, abr./jun. 1975
2. O conceito de normal e patológico

I Nestes últimos anos, de aproximadamente 3 mil pessoas que passaram pela Clí-
nica do Instituto de Psicologia, apenas 10%, isto é, por volta de 300, procuraram o
serviço por achar que estavam necessitando de ajuda psicológica. Os demais foram
encaminhados por outras entidades para fazer exames psicológicos visando uma
seleção ou triagem, tendo em vista conseguir ou novo emprego, ou galgar mais um
degrau na profissão exercida, encontrar melhor adequação no trabalho, obter uma
bolsa, etc.
Contudo, o que se tem observado é que não existem grandes diferenças do
ponto de vista psicológico entre essa massa da população que trabalha, estuda e se
esforça por conseguir um lugar ao sol, e o primeiro grupo, que nos procurou por se
sentir enfermo e necessitando de assistência psicológica.
A maioria dessa amostra de pessoas consideradas "normais" apresenta, à
semelhança do primeiro grupo, desajustamentos graves, sérios conflitos que, com-
prometendo o equilíbrio da personalidade, os leva a elaborar mecanismos anor-
mais de adaptação determinando, não poucas vezes, neuroses graves.
Parece que, nas grandes cidades, o meio-ambiente torna-se dia a dia mais
patogênico; de fato, estamos sendo submetidos a um processo permanente de
desumanização que atinge não apenas os adolescentes e jovens, mas também as
pessoas de mais idade e as próprias crianças. A violação das leis básicas da natureza
tem um preço, e o homem já o está pagando com juros, pois, queira ou não,
encony-a-se inserido nesse meio-ambiente que destrói e altera a seu bel-prazer.
Assim sendo, o desequilíbrio emocional pode surgir pela dificuldade em conciliar a
realidade interna com as normas impostas pelo meio. Perante essa dificuldade o
homem costuma optar pelos extremos. Ou se aliena ignorando primeiro o meio-
ambiente que considera hostil, renunciando, em seguida, às interexperiências mais
genuínas ou, pelo contrário, renuncia à sua própria realidade interna, passando a
aceitar passivamente as normas do seu ambiente. As duas atitudes comportamen-
tais levam à alienação.
Contudo, existe um terceiro grupo que consegue, ao menos superficialmen-
te, conciliar as coisas, porém, quando examinado atenta e mais profundamente,
verifica-se que a adaptação é conseguida, na maioria das vezes, apenas em nível
periférico.
As observações não só dos psicólogos e psiquiatras, como de todos os
profissionais que mantêm seus interesses voltados para o homem e sua proble-
mática existencial são unânimes em admitir que, nos últimos anos, o índice
,de neuroticismo e de doenças mentais tem aumentado assustadoramente nas
grandes cidades.
Para esse fato tem contribuído não apenas as condições ambientais, com
suas exigências e solicitações acima do limiar suportável pelo homem, como tam-
bém a própria inadequação deste às mudanças extremamente rápidas, e a sua
incapacidade para assimilar o número gigantesco de informações recebidas.

Recursos humanos 57
Explicações diferentes, ou talvez mais profundas, poderiam ser dadas para
justificar essa propensão ao desequilíbrio emocional que os homens vêm apresen-
tando neste fim de século. Não é parte desta comunicação versar sobre as origens
do problema; interessa salientar que ele existe. É um fato real, que precisa ser
enfrentado diariamente pelos milhares de psicólogos que trabalham em psicodiag-
nóstico.
Como lidar com esse problema? Desde que o homem possa, mesmo com
sofrimento pessoal, desempenhar-se na sua profissão dentro das normas esperadas,
deve-se considerá-lo "normal" e apto para o trabalho? Como se processa, real-
mente, seu ajustamento profissional, quando as outras áreas da sua personalidade
se encontram profundamente atingidas?
O comportamento varia de um homem para outro, ou existe algum meca-
nismo básico de adaptação, extensível aos seres humanos de modo geral, que
possibilite a canalização da energia (que não foi utilizada na resolução dos pro-
blemas) para a esfera profissional?
Quando essas pessoas, cujo equilíbrio emocional se encontra profundamente
comprometido, lutam pela afirmação profissional, estarão defendendo o próprio
sustento e a sobrevivência dos seus, ou, na sua fantasia, o campo profissional
significa realização plena? Achamos que, confundindo a parte com o todo, fazem
questão de obter elevado nível de satisfação e gratificação profissional em detri-
mento de outros aspectos extremamente importantes da sua personalidade.
Na segunda parte desta exposição apresentamos uma amostra-piloto porta-
dora dos problemas levantados e as soluções encontradas.

3. A ênfase dos aspectos patológicos

O psicodiagnóstico embora seja um excelente auxiliar em psicologia clínica perde


grande parte do seu valor quando se limita a classificar o homem numa das várias
síndromes nosológicas.
De fato, as peculiaridades de personalidade apresentadas dizem respeito a
um momento particular da vida da pessoa como se ela fosse estática quando, na
verdade, é essencialmente dinâmica.
Contudo, o requerimento do laudo diagnóstico costuma ter caráter de
urgência (tudo na sociedade atual é urgente); dessa forma, o psicólogo é obrigado
a fazer um corte transversal da personalidade obtendo assim "um instantâneo"
sem retoques que, às vezes, pouco ou nada tem a ver com a pessoa na sua totali-
dade.
Costumamos dar valor todo especial à dimensão prospectiva, achando que os
exames psicológicos, para fins diagnósticos, devem ser realizados ao longo de certo
tempo. O Prof. Emt1io Mira y López recomendava que a aplicação do seu teste, o
Psicodiagnóstico Miocinético, fosse feita com um intervalo de oito dias e costu-
mava indagar do paciente informações sobre seus planos prospectivos. Desde que

58 A.B.P.A. 2/75
no homem sadio a vida pessoal é governada mais por metas ftnais do que pelos
fatos do passado, tanto mais comprometida a saúde psíquica quanto maior a falta
de horizontes e perspectivas sadias. O homem quando não consegue transcender o
presente é um ser estagnado, uma vida humana em perigo.
Se na psiquiatria descritiva e clássica o diagnóstico é um fun a ser atingido,
na psicologia clínica deve ser o ponto de partida para a investigação das causas que
determinaram o problema, e cujo estudo científtco se constitui no ponto de
partida para o prognóstico e, muitas vezes, para o estabelecimento das diretrizes a
serem seguidas no tratamento.
Na investigação das causas geradoras do problema, o psicólogo, de modo
geral, recorre a seus instrumentos de trabalho habituais, as entrevistas e as técnicas
de personalidade, muito especialmente às técnicas projetivas que, oferecendo
situações específtcas estandardizadas, são excelentes auxiliares no psicodiagnós-
tico. Todavia, aqui surge, a nosso ver, a primeira diftculdade. De fato, nas técnicas
projetivas mesmo os indivíduos "normais" quando estabelecidos certos critérios, e
desde que o exame seja bastante profundo, revelam a patologia subjacente.
As técnicas projetivas agem como uma lupa, colocando em destaque o que
de mais negativo o ser humano tem. Por seu lado, a personalidade é como um lago:
por mais transparente que ele se apresente, mexendo no .fundo aparece a lama.
Atrás do "anjo" todos temos a "sombra" que não devemos ignorar, muito pelo
contrário, precisamos ter consciência da sua existência como formando parte do
ser e nele atuando ativamente.
No entanto cada dia torna-se mais difícil limitar a tênue linha que separa o
indivíduo normal do doente.
No contexto da sociedade atual os seres humanos, pelo simples fato de
estarem vivos, estão sujeitos a conflitos, e são portadores de ansiedade. É da
condição humana o homem permanecer em conflito desde o nascimento até a
morte.
Dessa forma, aftrmar num laudo diagnóstico que um indivíduo está em
conflito e apresenta sinais de ansiedade, praticamente não quer dizer nada. Ao
especialista que solicita o laudo interessa conhecer a força e wlnerabilidade do
"ego", o sistema de defesas por ele organizado, os mecanismos de adaptação e,
principalmente, dados sobre a estrutura da personalidade.
De fato, a sintomatologia e a gestalt, de modo geral, de uma neurose com-
pulsivo-obsessiva são bastante diferentes se essa neurose se encontra instalada
numa base esquizóide ou numa personalidade portadora de disritmia grave. Para
dar um exemplo: a pessoa em estudo pode revelar forte potencial de impulsivida-
de, mas não se pode arriscar a aftrmar que essa pessoa possa vir a ter um comporta-
mento caracterizado pela impulsividade. Para que tal aconteça é necessária a pre-
sença de componentes afetivos, não elaborados, isto é, de um certo grau de imatu-
ridade que possibilite a canalização da impulsividade a nível comportamental.
Por sua vez, uma perturbação emocional registrada como neurose na técnica
de Rorschach nem sempre será classiftcada como neurose do ponto de vista

Recursos humanos S9
clínico. Dessa forma, comunicar num laudo, sem atenuantes, e como uma reali-
dade comportamental, aspectos profundos da personalidade, pode vir a consti-
tuir-se num erro crasso que muito pode prejudicar o paciente.
Outro aspecto que também nos preocupa é a tendência a classificar e rotular
o indivíduo em estudo em alguma das síndrómes conhecidas esquecendo-se que a
personalidade é extremamente complexa, e os casos puros são raros.
Quer dizer, a interpretação dos dados obtidos pode basear-se numa simples
hipótese, mas precisa ter lógica interna; sem ela, alguma coisa no diagnóstico está
falha. Além da lógica interna, é necessário encontrar-se uma explicação lógica
para a fenomenologia comportamental do indivíduo em estudo.
Mesmo quando os dados colhidos foram corretamente interpretados e orga-
nizados, o psicólogo ainda corre o risco de não ser feliz na comunicação dos
mesmos.
A correta comunicação entre os homens é extremamente difícil, e qUando
essa comunicação precisa ser feita por escrito, implica uma operação delicada que,
além da perfeita compreensão do problema, envolve sério compromisso de sigilo,
tanto da parte de quem elabora o psicodiagnóstico como de quem o solicita.
Quando a comunicação se processa de um especialista para outro, existe um maior
nível de confiança. Por exemplo, o entrosamento entre o psiquiatra e o psicólogo
realiza-se hoje, de modo geral, num elevado grau de ajustamento que possibilita
uma aproximação extremamente produtiva, desde que ambos se propõem a estu-
dar o homem como um todo.
Muito mais difícil e melindrosa é a transmissão do psicodiagnóstico para
uma clínica ou uma entidade, em abstrato. Embora sempre exista um profissional
categorizado, responsável pela utilização dos dados contidos no laudo, esses dados,
indefectivelmente, terminam incorporados no dossiê do próprio paciente e, dessa
forma, acessíveis a outros elementos do grupo. Quando tal acontece costumamos
elaborar o resultado em forma de súmula descritiva, dinâmica, pluridimensional,
contendo aqueles aspectos julgados mais importantes, de acordo com as necessi-
dades do requerente, mas ao mesmo tempo, em consonância com as exigências da
psicologia clínica, de tal forma que um especialista possa identificar o problema
sem que, entretanto, pessoas não familiarizadas com a terminologia psicológica
possam ter acesso a ele. Não são pormenorizados os dados relativos a problemas
íntimos, especialmente quando de índole sexual, por serem secundários e quase
sempre oriundos da esfera afetiva. São colocados em evidência os mecanismos de
defesa, de adaptação e os recursos de que o paciente dispõe para suportar ou
superar suas dificuldades emocionais.
Após o exame destes últimos dados, pode-se saber, de modo geral, se o
paciente tem possibilidades de superar sozinho suas dificuldades emocionais, ou se
precisa de ajuda, e, neste último caso, que tipo de ajuda.
De fato, não poucas vezes, além do diagnóstico, o psicólogo é solicitado a
dar parecer quanto ao tipo de tratamento mais adequado. Neste último caso, é
bom partir para a ebservação de certos aspectos práticos. Por exemplo: nem todos

60 A.B.P.A. 2/75
os casos necessitados de assistência psicológica precisam submeter-se a processo
psicanalítico, tratamento dispendioso, demorado e não poucas vezes contra-
indicado. A sensibilidade do psicólogo e os instrumentos científicos a seu alcance
determinarão a escolha da técnica mais adequada, sem deixar-se levar pela rotina
da clínica, mas considerando as necessidades reais assim como as possibilidades do
paciente.
Entre essas possibilidades é importante considerar, também, as financeiras.
De fato, é contraproducente, e se constitui em mais um problema para o paciente
a indicação ou aconselhamento de uma determinada técnica à qual não pode ter
acesso por dificuldade econômica. Se a comunidade onde o paciente .encontra-se
inserido não possui recursos na área de suas necessidades, cabe ao psicólogo pro-
curar entre as várias soluções aquela que ofereça melhores condições de viabilidade
do ponto de vista prático.
Levamos também em consideração, ao indicar um tratamento psicoterápico,
os recursos intelectivos de que o paciente dispõe. Não podemos esquecer que a
inteligência forma parte da personalidade e nela desempenha importante papel.
Desde que os distúrbios emocionais perturbem os recursos intelectivos, cabe ao
psicólogo examinar o índice de perturbação, o grau de repressão e o potencial
intelectivo de que o paciente dispõe no exato momento em que está fazendo os
exames que servirão de base para a elaboração do psicodiagnóstico.
Sabemos que entre rendimento e capacidade existe sempre uma grande dis-
tância, mesmo nos indivíduos normais, e que essa distância, às vezes, tem sua
origem, unicamente numa educação defeituosa determinando repressão do pensa-
mento e do rendimento. Se o paciente possui, vamos supor, 100% de energia
mental e desgasta na resolução dos seus problemas 50%, é com esses 50% que vai
elaborar o estímulo recebido; quanto mais baixo o nível mental, mais dependerá
sua conduta desse estímulo, tendendo ao automatismo. Obviamente, um elevado
nível mental condiciona uma elaboração mais ampla dos estímulos, possibilitando,
entre outras coisas, melhor aproveitamento do processo psicoterápico.
Finalmente, não se pode levar em consideração unicamente as possibilidades
internas do paciente; ele encontra-se inserido no ambiente, ambiente esse, confor-
me foi salientado ao início desta comunicação, extremamente neurotizante.
De fato, desde que o psicodiagnóstico expressa o comportamento global do
indivíduo, e esse comportamento parece, em grande parte, decorrência da integra-
ção do indivíduo e do estímulo, é necessário estudar ambos, atentamente, para
conseguir entender, ao menos funcionalmente, o comportamento.
Na exposição dinâmica desses dados foram salientados os aspectos positivos,
e quando o laudo envolve o diagnóstico de um indivíduo candidato a determinado
cargo, jamais é rotulado de "inapto". Na pior das hipóteses, "inadequado", nesse
momento, para o cargo pleiteado.
O ser humano é dinâmico, sempre em evolução e nada impede que num
futuro, às vezes não muito remoto, possa vir a superar suas dificuldades, e desen-
volver atributos que lhe possibilitem exercer, a contento, a profissão desejada.

Recursos humanos 61
4. Novo enfoque metodológico (Uma experiência de psicodiagnóstico para
avaliação de recursos humanos)

No primeiro semestre do presente ano tivemos oportunidade de trabalhar com um


grupo uniforme de nível superior_ Mais concretamente, com uma amostra de
enfermeiras que, estando prestes a fazer o curso de mestrado como continuidade
de suas atividades docentes, foram encaminhadas pela Direção do Instituto de
Psicologia à Divisão de Psicologia Aplicada. O estudo envolvia uma avaliação de
recursos humanos e não tinha caráter seletivo. Inclusive, a direção do instituto
pretendia cooperar com o grupo, no sentido de oferecer ao mesmo, além de um
aperfeiçoamento na sua formação cultural, assistência psicológica, se isso fosse
necessário, visando um aprimoramento global dos seus componentes.
A oportunidade pareceu excelente para se colocar na prática nossas teorias
referentes à elaboração do laudo diagnóstico.
Considerando que, além da atividade docente a nível universitário, o grupo
desempenha, paralelamente, atividades de cunho assistencial, foi planejada uma
bateria de testes e técnicas de investigação da personalidade, além de entrevistas
psicossociais que possibilitassem uma sondagem dos recursos disponíveis para o
desempenho dessas atividades profissionais. Essa tarefa foi realizada com a colabo-
ração dos psicólogos que integram a equipe da referida divisão.

5. Piano de trabalho

O grupo foi submetido ao Psicodiagnóstico Miocinético (PMK) , ao Rorschach, a


um teste de relato, no caso o Teste de Percepção Temática de Murray ou o MAPS.
Essa bateria foi complementada por uma série de entrevistas.
Fez-se questão do PMK pelos dados inestimáveis que pode oferecer na ava-
liação de certas características que parecem essenciais à profissão de enfermeira de
modo geral e, particularmente, à enfermeira cuja tarefa é formar outros profissio-
nais para os quais, de certa forma, serve de modelo.
Entre os dados que podem ser obtidos mediante essa técnica de exame
(PMK) destacaremos os relativos a dois aspectos, praticamente indispensáveis ao
bom exercício da profissão; um deles é o tônus vital que diz respeito ao grau de
energia, o impulso para a vida, à elação ou depressão com que a enfrentamos, e ao
otimismo ou pessimismo de que o indivíduo é portador. Tal peculiaridade é muito
importante na atuação da enfermeira nas várias áreas de trabalho. Outro aspecto
refere-se ao fator agressividade. Não à agressividade em sentido pejorativo, mas à
agressividade como fonte de energia e decisão para enfrentar os problemas vitais.
Ela deve estar presente com uma intensidade ligeiramente acima da média, mas
sob controle. A sua eficiência no comportamento encontra-se em íntima relação
com o tônus vital. De fato, um bom potencial de energia aliado a tônus vital
satisfatório implica (desde que outros elementos não interfiram negativamente)

62 A.B.P.A. 2/75
um excelente desempenho profissional, capacidade de liderança e iniciativa. Por
outro lado, e sendo a profissão de enfermeira assistencial por excelência, a capaci-
.#
dade de dar-se, o altruísmo, a empatia, pressupõem atitude vital predominante-
mente desprendida que poderá ser constatada no PMK pelo predomínio da extra-
tensão. A atitude oposta, de intratensão, traz inerente uma despreocupação pelos
problemas ambientais, uma centralização de interesses em si mesmo, com possíveis
traços de egoísmo.
Outrossim, é desejável que se tratando de profissão assistencial, as pessoas
que a ela se dedicam estejam dotadas de sensibilidade, mas não em excesso, pois
que a hipersensibilidade interfere negativamente no bom exercício daquela, afe-
tando o rendimento e traumatizando o profissional. Traçados delicados, fmamente
elaborados, no Psicodiagnóstico Miocinético, pressupõem sensibilidade.
Para o trabalho, a enfermeira também pode ser ligeiramente emotiva, desde
que apresente recursos de controle.
Muitos outros dados podem ser obtidos mediante a utilização dessa técnica,
os quais interessam na avaliação de recursos humanos, tais como o grau de coerên-
cia intrapsíquica e a própria estrutura de personalidade. O observado em relação
aos resultados do grupo no PMK é um tônus vital elevado, com potencial agressivo
acima da média, nem sempre sob controle. Situação de conflito e manifestações de
ansiedade ou angústia em praticamente todos os testes. O grupo reage com meca-
nismos depressivos de teor compulsivo-obsessivo.
A expectativa em relação às outras técnicas de personalidade aplicadas era
obter informações sobre o grau de interesse humano, a presença de afetividade
integrada e madura, assim como bons recursos de controle e ausência de patologia
grave.
Com relação ao teste de Rorschach constatou-se que a fórmula vivencial
adotada pela maioria da amostra não é condicente com o esperado, o mesmo
acontecendo em relação ao nível de estabilidade emocional e maturidade afetiva.
A ansiedade é volumosa; seu controle é mantido, quase sempre, por esforço cons-
ciente extremamente cansativo, pois obriga a vigilância atenta das reações perante
os estímulos internos e externos. Embora não se constatem casos de patologia
grave, a maioria das componentes do grupo sofre as conseqüências de sérias pro-
blemáticas, às quais reagem com defesas solidamente estruturadas; algumas franca-
mente neuróticas, outras mais refinadas e de caráter sublimatório.
Essas problemáticas foram, na sua maioria, dinamizadas nos testes de relato
que assinalaram os núcleos desencadeantes das síndromes de desajustamento cons-
tatadas' no PMK e no Rorschach, as pressões que levaram à cristalização de tais
síndromes, assim como as tendências latentes que nem sempre apresentaram
correspondência biunívoca com as manifestas na conduta. Essas discrepâncias
apareceram, praticamente, sempre que as necessidades profundas da amostra em
estudo não pareciam condicentes com a realidade social e cultural_

Recursos humanos 63
Problemas no trabalho e outros de caráter íntimo surgiram freqüentemente.
Dentre as "necessidades", talvez a mais constante e intensa foi a de realização e
afirmação no plano profissional.
A análise das emoções e sentimentos reflete tendências, fracassos e frustra-
ções não convenientemente elaborados. O sentimento de afIliação é raramente
registrado. Os desenlaces das estórias, em compensação, são positivos na sua
maioria, como se uma energia oculta, porém atuante, dirigisse o herói de forma a
conseguir seus ideais, em que pesem às pressões internas e externas.
, Finalmente, as entrevistas muito ricas e sinceras, completaram os dados
colhidos pelos instrumentos utilizados na exploração da personalidade e coloca-
ram de manifesto que a estruturação da personalidade dos elementos mais doentes
do grupo realizou-se em condições extremamente precárias, não havendo, a poste-
riori, experiências suficientemente compensatórias e gratificantes que atenuassem
os efeitos destrutivos desse evento. Na sua fantasia, confundem sua vida profissio-
nal com os restantes aspectos de sua personalidade, integrando ambas. Desde que
realizados profissionalmente, estendem esse nível de realização à personalidade
como um todo passando a experimentar elevado índice de satisfação.
Não foi fácil a elaboração dos laudos de diagnósticos e, em que pese ao
firme propósito de enfatizar os aspectos positivos da personalidade, esta, em cer-
tos casos, era tão carente que se constituiu num verdadeiro desafio desvendar, no
emaranhado dos conflitos e distúrbios emocionais, o lado são ou positivo da
mesma.
Assim sendo, os dados colhidos nessa investigação surpreenderam negativa-
mente e nos levaram a meditar sobre os métodos empregados nesse estudo e nas
suas diretrizes, assim como na conveniência ou não de se ter feito essa pesquisa
com um grupo que se encontrava numa situação emocional muito especial.
Em anexo são apresentados os resumos dos dados obtidos em cada uma das
técnicas aplicadas em 20 elementos do grupo; julgou-se desnecessário mostrar a
totalidade do mesmo, dada a sua grande homogeneidade. Na escolha desses casos
não foi seguido um critério determinado; apenas constituem os 20 primeiros casos
em estudo. A simples observação dos mesmos informa que se trata de grupo
bastante comprometido do ponto de vista emocional, onde 80% apresentam
desajustamentos mais ou menos graves, aos quais a maioria reage com defesas de
teor neurótico. A famosa situação de conflito é praticamente uma constante, e as
características levantadas pelos diferentes métodos de análise de trabalho dessa
profissão, destinados a configurar "o modelo ideal", encontram-se praticamente
ausentes.
Contudo, não só o histórico profissional, como a própria atuação recente
dessas profissionais demonstra que têm excelente desempenho nas suas atividades,
ocupando a maioria cargos de responsabilidade tanto na área assistencial como na
docente.

64 A.B.P.A. 2/75
..

~ Resumo dos dados obtidos por cada uma das técnicas aplicadas numa parte da amostra
~

~
~
PMK Rorschach TAT ou MAPS Entrevista

1 Tônus vital normal; agressividada ligeira- Fórmula vivencial introversiva. emacio- Desvalorização da figura feminina, iden- Ambiente familiar negativo quando
r::
mente aumenteda mes sob controle. Ati- nalmante imtável, afetivamente imatura; tificação com a figura masculina, campo- criança e adolescente. Mãe incorporada

I tuda predominantemente extratensiva. ansiedade presente sob controle. Contro-


le intelectual dominante, apoiado em
boa cepacidade de critica.
"entes de agres.sividade e impulsividade. como autoritária, pai ausente. Atual-
mente realizada afetivamente. Deseja
afirmação profissional.

2 Tonus vital normal. Agressividade sujeita F6rmula vivencial extroversiva, emacio- Dificuldades de identificação; problemá- Infância e adolescência diflcil. Conside-
a impulsOl, nem sempre sob controla. nalmente instével, afetivamente imatura. tica nesse setor. Situação de conflito. ra-se bem casada e tem bOln relaciona-
Traços esquizo-disrltmicos. Sinais de Dificuldades na asfere afetiva, sinais Componentes acentuados de agressi- menta com os alunos. Sente-se motivada
problamática. Mecanismos da edaptaçio acantuados de angústia. Traços compu 1- vidade. Boa dotação intelectual. pelo curso de mestrado. I ntensos desejos
compulsivo-obsessivos e de escrúpulo. sivo-obsessivos. Nlvel de aspiração de afi rmação.
ExtraterlSio. elevado. ,
3 Tonus vital b:pm. Potencial de agressivi- F6rmula vivenciel extroversiva, intensa- Sentimentos de agressão e carência afe- Problemas familiares hoje superados.
dado escesso. Problemética. Mecanismos mente oposicionista. instével emocional- tiva assim como de inadequação perante Realização unicamente na esfera profis-
de adaptação de teor compulsivo-obsas- mente. imatura efetivamente; apresenta as pressões ambientais. Procura solucio- sional, onde manifasta grandes desejos de
sivo. Tendência a inibiçlo e angústia. dificuldades de relecionamento. Situação nar seus conflitos mediante a uti lização afirmação.
de conflito, reagindo com manifestações de recursos intelectuais.
de intensa angústia.

4 Tõnus vital bom. Agressividade dentro F6rmula vivencial extroversiva, muito Pressões na área afetiva, situação confli- Mãe dominadora e autoritária. Incorpo-
da normalidade, mas sujeita a impulsos. imatura e egocêntrica. Revela dificuldade tiva. Tentativas de sublimar suas dificul- ração positiva da figura paterna. A tual-
Situação de conflito. Reage com traços de controle. dades mediante uma melhor realização mente desajustada na esfera familiar I
de excitaçio e ansiedade. profissional. procura superar suas frustrações realizan-
do-se profissionalmente.

5 Tônus vital excelente, agressividade es- Fórmula vivencial extroversiva. imatura Sentimento de desvalorização. Superego Acha-se tlmida, rfgida, lembra com pa-
cassa. Sinais de conflito e frustração. afetivamente, não consegue bom nível de rrgido, intransigente, impedindo a livre vor sua infância. Acha que até agora não
Possui bom nível ideomotor e boa estru- ajustamento na esfera social. Sinais de manifestação de suas emoções. Problema casou com medo de repetir a est6ria de
tura de personalidade. problemática. Reage com mecanismos afetivo, complexo edipiano não resol- sua vida na dos filhos. Desajustada no
compulsivo-obsessivos. Controle intelec- vido. campo profissional.
tual insatisfatório.
Q'I
VI
O'<
O'< PMK Rorschach TAT ou MAPS Entrevista
-
6 Tônus vital normal, agressividade aumen- Fórmula vivencial extroversiva. Afetiva- Sentimentos depressivos, carência afe- Muito traumatizada na infância, o que
tada. S61idas defesas do ego mas controle mente integrada, relacionamento social tiva, necessidade de aconchego familiar. tenta superar contornando as situações.
rigoroso e capacidade de adaptação. amadurecido. Conflitos não elaborados, Graves traumas afetivos. Premente neces- Manifesta desejos de ajuda psicológica.
ansiedade. traços depressivos. Boa capa- sidade de aHvio para seu sofrimento. si- Sente-se real izada profissionalmente.
cidade de crftica. bom controle intelec- nais de ansiedade.
tual.

7 Bom tônus vital, impulsos agressivos nem Fórmula vivencial extroversiva. imatura. Necessidade de receber afeto, agressivi· Perdeu os pais muito cedo. sempre teve
sempre sob controle. Constitucional e em conflito. capacidade de competição e dade intensa porém camuflada. Mecani .. carência afetiva. sublima suas dificul·
reacionalmente asquizotfmica. Revela interesse humano diminu rdos. Proble- mos repressivos, utilização de um supe· dades no desempenho da profissão.
sinais de instabilidade e insegurança. mética de fundo afetivo. Sentimento de rego rigoroso.
menos-valia e insegurança.

S Excelente tõnus vital. inadequada mani· Personalidade imatura e impulsiva com Vivências traumatizantes, problemáticas Ambiente familiar paterno traumatizan·
pulação da agressividade. Estrutura fr. escassos recursos de controle. Problemá- na esfera familiar. Sentimento de culpa e te. sofreu muito e ficou marcada. No seu
gil, instabilidade sujeita a impulsos. Pr. tica interferindo nos vários aspectos vi· angústia na esfera afetiva. Elaboração novo lar continua tendo problemas,
dominantemente extratensa. tais. insatisfatória de suas vivências infantis. sente carência afetiva e sentimento de
Sentimentos de insegurança e angústia. menos·va Iia.

• "' .
9 Tônus vital alto, forte potencial agressivo F6rmula vivencial introwt,rsiva. estável Identificação infantil. Forte necessidade Desenvolvimento afetivo emocional em
nem sempre controlado, excelentes r. emocionalmente, prb)Cima da maturidade de proteção e gratificações. Mecanismos condições atfpicas. Atualmente consi·
CUBOS energéticos. Predominantemente afetiva. Boa adap4ção social. Excelente de adaptação mediante a intelectualiza· dera--se realizada tanto no plano afetivo
extratensa, sensrvel. Boa dotação intelec- capacidade de crftica. Bons recursos de ção ou a regressão. como no profissional.
tual. controle. um pouco exagerado o intelec·
tual o que a leva a perder a espontanei·
dade.

10 Tônus vital elevado, forte potencial F6rmula vivenciél introversiva com ten· Energia e força do "ego" disponfvel na Ambiente familiar no lar de origem con·
~ agressivo. sem o necessário controle. Es- dincia a COBrtação. Sinais de problemá- resolução dos seus conflitos. Necessi· turbado e restritivo; hoje acha que tem
t:I:I trutura de personalidade normal embora tica afetivo-emocional prejudicanclo·lhe dadas muito intensas de lazer. Pressões sérias dificuldades de relacionamento.
:c propensa a excitação e ansiedade. Sinais o ajustamento e a capacidade de relacio- ambientais bem toleradas. Boa identifi· Gosta mais de atividade docente do que
~ de dificuldade de adaptação ao ambien- namento. Repressão JJ8 esfera afetiva. cação com sua atividade profissional. Au· assistencial. Deseja afirmação profissio·
te, revela. no entanto, sensibilidade e Controle intelectual construtivo mani· sência de problemáticas. nal; em função disso está fazendo o cur·
IV
:::. bom nfvel ideomotor. festo. 50.

'"
,.

i
~
PMK Rorschach TAT ou MAPS
t
Entrevista

~ 11 Tônus vital baixo. agressividade contida. Fórmula vivencial predominantemente Problema com a figura masculina que foi Muito traumatizada na infância e na ado-
:3-
Propensa à inibição e angústia, elaboran- introversiva com dificuldades de adapta- introjetada como negativa e ameaçadora. lescência. Ambiente rfgido e formalista.
s:: do mecanismos de adaptação compulsi- çàç> na área social. Problemática afetivo- Componentes persecutórios. Desajusta- Hoje considera-se tímida e cautelosa no

I..
vo-obsessivos. Estrutura de personalidade emocional, reage com traços neuróticos mento na esfera afetiva. Traços depressi- seu relacionamento. Muito exigente con-
frágil. Desorientação nos seus planos de teor compulsivo obsessivo. Controle vos, necessidade de ajuda. Traumas pro- sigo mesma, sofre com suas manias per-
prospectivos. intelectual construtivo . fundos no seu desenvolvimento. feccionistas.

12 Tônus vital bom, agressividade normal Fórmula \"~~~al. introversivà, p'r'oble- Problema em relação à figura feminina e Desajustamento dos pais no lar de ori-
sob controle. Intratensa. reagindo extra- miJtica proltt~(uação conflitiva, di- ambivalência em relação à masculina. Em gem. Sentimento de culpa e menos-valia.
tensivamente. Bom nível ideomotor. ficuldades de rela~.onamento. Protocolo situação de conflito desenvolve atitudes Dificuldades de relacionamento. Exce-
Bons recursos de controle. com certos traços patolbgicos. controladoras. Relações com os ambien- lente adaptação profissional, intenso de-
tes superficiais. sejo de realizações.

13 Tônus vital baixo, potencial agressivo es- Fórmula vivencial introversiva, afetiva- Necessidade intensa de auto-realização e Sente-se insegura e ansiosa o que não
casso, sensível. emotiva sob controle. mente imatura mas com boas pOSSibilida- de ser valorizada pelos outros. Ambi- acontece no plano profissional onde se
Nfvel ideomotor normal. des de adaptação social. Boa capacidade valência quanto a sua identificação. Sen- aceita e é aceita sem restrições como
de crftica. Controle baseado nos seus re- timento de culpa em relação a seu papel excelente profissional.
cursos intelectivos. afirmativo na área profissional. Certos
componentes paranóides.

14 Tônus vital baixo. Basicamente auto- Fórmula vivendal introversiva não coe- Desvalorização da figura feminina; a mas- Infância triste extremamente traumática.
agressiva reagindo heteroagressivamente. rente com suas tendências básicas, oposi- culina é percebida como protetora e for- Figuras parentais ausentes. Atualmente
Estrutura frágil. traços esquizo-disrftmi· cionistas, em ctmflito. revelando volu- te; idealização da família. Carência afe- tem dificuldade de adaptação na esfera
COSA Sinais de instabilidade emocional mosa carga .de ansiedade. Dificuldade de tiva. necessidade de proteção. Medo e social, acha-se tfmida e desconfiada. Ma-
prejudicando o rendimento intelectivo. ajustamento aos aspectos práticos da rea- insegurança no campo profissionel. nifesta desejos de afirmação e realização
Emotiva, insegura e instável nas suas re~­ lidade imediata. profissional.
ções.

15 Tõnus vital instável, sujeita a crises de- Fórmula vivendal extroversiva contra- Traços depressivos, sentimento de culpa, Não aceitação da figura materna, relacio-
pressivas. Agressividade oscilante. Consti- riando suas tendências basicamente in- carência afetiva. Problemática nessa área namento negativo com a mesma. Saiu de
tucionalmente disrftmica apresenta cer- troversivas; dificuldade de aceitação da (afetival. Incorporação da figura femi- casa cedo, procurou na profissão uma su-
tos componentes compulsivos e traços de figura humana. Mecanismos de adapta- nina como fraca não se sentindo segura blimação de suas frustrações afetivas.
obsessívidade. Dificuldade de adaptação ção compUlsivo-obsessivos. SinaIS de an- em relação a ela. Identifica-se plenamen- Não teve vivências gratificantes, sente-se
ao ambiente. Sinais de inibição e an- gústia e depressão. te com a profissão. triste, ansiosa e deprimida.
0\ gústia.
.....

,

0\
00
PMK Rorschach TAT ou MAPS Entrevista
--4 ~
16 Tônus vital bom, agressividade normal. Fórmula vivenclal ambígua. coortada, Identificação ambivalente. problema na Reconhece suas dificuldades atuais na es-
Constitucionalmente esquizo-disritmica bastante rfgida com traços compulsivo- esfera afetiva. imaturidade, rigidez na re· fera afetIva e social. Acha que elas são
apresentando 'iinais de conflito, emotivi- obsessivos. instabilidade emocionai e re- solução dos conflitos. uma decorrência dos problemas familia-
dade instável, sensibilidade dentro da pressão afetiva. Mecanismos de tato para res do seu lar de origem.
normalidade. conseguir estabelecer contato com o am-
biente.

17 Tônus vital bom, agressividade oscilante. Fórmula vivencial introversiva contra- Superego muito severo, necessidade de Infância traumatizada por sérios proble-
~ hipersens(-,el. emotiva e ansiosa. Reve- riando suas tendências. Instável emocio- aprovação e carência. Dificuldade de mas familiares. Em adulta nunca conse-
la sinais de necessidarie de contato. mas nalmente, mas possui boa capacidade de identificação adulta com o próprio sexo. guiu uma ligação afetiva profunda. Con-
tem dificuldade de adaptação ao ambien- contato e possibilidades de adaptar-se do Sinais de problemátIca profunda. sidera-se profissionalmente realizada.
te. ~ predominantemente intratensa. ponto de vista social. Sinais de conflito e
ansiedade.

18 Tônus vital excelente, potencial de agres- Fórmula vivencial coartativa com leve Acentuados traços de depressão. Confl i- Fez o curso de enfermeira para sair do
sividade bom. Adaptação cautelosa sob predomrnio da introversão. Emocional- tos e sentimentos de culpa. Sentimento ambiente familiar que não suportava; foi
controle constritivo; nrvel ideomotor mente muito instável. Revela repressão de solidão, de angústia e depressão. criada por madrasta e irmão mais velho.
normal. na ~fera af-etvo-social. Hoje é muito realizada. Na profissão
ocupa cargos de grande projeção. Do
ponto de vista afetivo é uma pessoa fra-
cassada.

19 Tônus vital normal, agressividade escassa Fórmula vivencial introversiva eviden- Experimenta sentimento de hostilidade Desde criança experimenta angústia e
e muito contida. Situação de conflito. ciando componentes oposicionistas que do mundo em relação a ela. Sente-se por grande insegurança. O casamento e a ma-
Traços de obsessividade e escrúpulo. Di· dirj, .. con~(a'esma.!: instável emo- ele pressionada e ameaçada. Situação ternidade não modificaram sua personali-
ficuldade de adaptação ao ambiente. De- clonalmentl' 'J ,i festa sinais de dificul- muito intensa de conflito. Afetivamente dade. Adota atitude passiva, deprimida e
sorientação nos planos prospectivos. Boa mostra-se desconfiada com relação às pes-
dade de af menta nu setor sncié.:~. Carente. Procura realização nas atividades soas. Não tem dificuldade no exercfcio da
dotação intelectual. profissionais. profissão que considera sua única fonte de
segurança e satisfação.

20 Tônus vital excelente. Potencial de agres- Fórmula vivencial introversiva contra- Grande necessidade de afeto e comun ica- Não aceitação da figura materna. Senti-
?> sividade escasso. Boa adaptação ao am- riando suas tendências básicas. E mo- ção. Propensa a desenvolver volumosa mento de cu Ipa em relação a seu papel
IX' biente em nlvel periférico. Sinais de con- cionalmente instável. Afetivamente ima- carga de angústi~as situações de emer- de mãe e esposa que sempre colocou
:'I' flito. tura. Do ponto de vista soci~ consegue gência. Tendência a preocupar-se e con- num segundo plano em relação ao exer·
?> boa adaptação. flituar-se. Desejos de êxito profissional, cicio da sua profissão. No campo profis-
conforto e lazer. sional sent~se eficiente e a caminho da
~
...., afirmação .
v.
6. Conclusões

Várias hipóteses ocorrem:


1. Será que na sociedade atual há um número de indivíduos desajustados e
neuróticos muito mais elevado do que supomos à primeira vista?
2. Ou, pelo contrário, grande parte das alterações da personalidade freqüente-
mente registradas pelos testes corresponderia apenas a reações naturais perante
situações difíceis ou ameaçadoras? (sabe-se, por exemplo, que certos grupos,
perante situações por eles consideradas ameaçadoras, apresentam uma espécie de
"neurose coletiva", ou, como afirma Harrower, uma espécie de câmbio na química
do corpo para uma melhor adaptação a uma mudança de altitude). Estaria o grupo
em estudo considerando como ameaçadora a situação de mestrado? A própria
investigação da personalidade não estaria sendo vivenciada como uma intromissão
em sua intimidade?
3. Por outro lado, o grupo em estudo, treinado para solucionar problemas na
esfera do pensamento convergente, teria experimentado dificuldades perante os
estímulos não estruturados das técnicas projetivas, determinando esse fato reações
transitórias de aspecto patológico?
4. Finalmente, não estaremos perante um grupo profissional que, à semelhança
do grupo de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, é portador de problemas emo-
cionais mais intensos do que o resto da população e tenta, numa espécie de fuga
de si mesmo, sublimar seus problemas empenhando-se em resolver os dos outros?

Resumo

Embora a imensa maioria dos psicólogos que trabalha em psicodiagnóstico tenha


consciência das normas básicas que regem a sua elaboração, tais normas são trans-
gredidas freqüentemente vindo a ferir direitos humanos profundos, desvirtuando a
verdadeira finalidade dessa difícil técnica que, como todas as utilizadas em pSico-
logia clínica, deve visar primordialmente a colaboração na prevenção e tratamento
dos transtornos emocionais da personalidade, assim como os problemas de inadap-
tação ao meio social e do trabalho.
O objetivo foi pesquisar, não tanto os aspectos patológicos e 'negativos,
como os recursos que todo ser humano possui, por maior que seja seu compro-
metimento emocional.
Foram elaborados os laudos seguindo essa linha de trabalho e nos foi pos-
sível contar com a colaboração da instituição que solicitou o estudo, no sentido de
dar apoio psicológico à parte mais doente do grupo.
Dada a discrepância entre o nível de atuação e os recursos de personalidade,
almeja-se fazer e publicar um estudo longitudinal dos mesmos, de modo a confir-
mar ou rejeitar algumas das hipóteses levantadas perante os dados colhidos.

Recursos hUTTUlnos 69
Summary

Although the great majority of psychologists who work on psychodiagnostic have


in mind the ba :c norrns that under1y their work, such norms are often violated.
This fact hurts the deepest human rights and perverts the ultimate object of this
difficult technique which is, otherwise, the fundamental design of every technique
used in clinical psychology, primordially it most collaborate to the prevention and
treatment of emotional disturbances of personality, as well as on the problems of
adaptation to the social and job environrnents.
This pape r investigates, not exc1usively pathological and nega tive aspects but
mainly the resources that alI and every human being must possess, despite of his
emotional implications.
Diagnosis were also written following this orientation and it was possible to
count on the cooperation of the institution which requested this study, in the
sense of giving psychological support to the most sick part of the group.
Given the discrepancy found between the leveI of performance and the
resources of personality, we intend to develop and publish a longitudinal study of
them so that it will be possible to confrrm or reject some of the hypoteses
formulated from the observed data.

Bibliograflll

Adrados, IsabeL A esquizofrenia e o psicodiagnóstico de Rorschach. Arquivos Brasileiros de


Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, Y. 24, n. 4, p. 69-92, out/dez. 1972.
-::------=-----::-' O psicodiagnóstico miocinético no diagnóstico da epilepsia. Arquivos Brasileiros de
Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, Y. 21, n.l, p. 37-77,jan/mar.1969.
Arruda, EIso. Antidiagnóstico e antipsiquiatria. Boletim do Instituto de Psicologia, Rio de
Janeiro, Y. 26, n. 1-6, p 5-22, jan/jun_ 1973.
Cochrane, Carolyn T. Effects of diagnostic information on empathic understanding by the
therapist in a psychotherapy analogue. Joumal of Cons. and Clin. Psych., Washington, Y. 38,
n. 3, p. 359-66, June, 1972.
EwaIt, J. R. La clasificación internacional de enfermedades y los conceptos dei diagnóstico
psiquiátrico. BoI. de la Oficina Sanitaria Panamericana, Washington, Y. 70, n. 3, p. 256-9, mar.
1971.
Ginsberg, A. Os problemas do diagnóstico psicológico na clínica psiquiátrica. Rev. de Psic.
Normal e Patológica, São Paulo, Y. 13, n. 1-2, p. 163-6, jan/jun. 1967.
Knobel, M. Diagnóstico y psicoterapia, una concepción psicodinámica de la psiquiatria de
urgencia y dei rol psicologo. Rev. Interamericana de Psicología, Texas, y_ 6, n. 1-2, p. 111-20,
mar 1972.
Mira y López, Emílio. Aplicações atuais do PMK no diagnóstico e prognóstico. Arq. Bras. de
Psic. Aplic., Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 17-22, jan/mar. 1960.
Romano, Maria Eugenia. Diagnóstico de la personalidad. Rev. de Psicol. Gener. y Apl.,
Madrid, Y. 25, n. 105-106, p. 3034,jul/out. 1970.
Shemberg, K. Psychodiagnostic training in the academic setting and Dresent. Journal of
Consult. and Clin. Psych., Washington, Y. 34, n. 2, p. 205-11, April1970.
Wiedemann, C. F. Student therapists assessment of diagnostic testing. Journal of Proj. Tech.,
California, Y. 38, n. 3, p. 203-15, June, 1974.

70 A.B.P.A. 2/75

Você também pode gostar