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ABSTRACT
This article presents relevant aspects of the burnout syndrome, less known phenomenon in
our reality, situating it like na issue related to organizational psychology. As it is, burnout
was approached since its appearance with a short historical of it construction, its most used
definitions and its development process. Causes, consequences, individual reactions and
organizational are approached also. The reflections about psychologist intervention and
prevention actions are centered in social-psychological perspective of Cristina Maslach and
organizational perspective of Cary Cherniss. Conclusions and suggestions to amplify this
studies about burnout, this kind of occupational stress, in contextualized form end this article.
RESUMO
Burnout é a expressão inglesa para designar aquilo que deixou de funcionar por exaustão
de energia (França,1987). O termo burnout foi utilizado primeiramente em 1974, por
Freudenberger, descrevendo o mesmo como um sentimento de fracasso e exaustão causada
por um excessivo desgaste de energia e recursos (França,1987; Perlman e Hartman,1982). Os
primeiros estudos foram feitos a partir de experiências pessoais de autores, estudos de casos,
estudos exploratórios, observações, entrevistas ou narrativas baseadas em programas e
populações específicas (Leiter e Maslach,1988; Cordes e Dougherty,1993).
Maslach (1978),uma das pioneiras nos estudos empíricos sobre burnout, o definiu
inicialmente como um processo em que ocorre perda de criatividade e como uma reação de
tédio e aborrecimento.
O interesse por este campo aumentou devido a três fatores, os quais foram destacados
por Perlman e Hartman (1982), sendo que o primeiro deles foi o a importância de melhoria da
Qualidade de Vida e as modificações introduzidas no conceito de saúde pela OMS. O
segundo fator foi o aumento da demanda e das exigências da população com relação aos
serviços sociais, educativos e de saúde. E, por último, a conscientização de pesquisadores,
órgãos públicos e serviços clínicos com relação ao fenômeno de burnout, entendendo a
necessidade de aprofundar os estudos e a prevenção da sua sintomatologia pois a mesma se
apresentava mais complexa e nociva do que tinham conhecimento.
Na década de 80, apareceram estudos que apresentaram resultados considerados
alarmantes. Foram identificados sintomas em grupos profissionais que até então não eram
considerados população de risco, pelo contrário, por tratar-se de profissões consideradas
vocacionais acreditavam que estes profissionais obtinham gratificações em todos os níveis,
dos pessoais aos sociais. Também foram encontrados resultados que mostravam a ocorrência
de burnout em pessoas com personalidades aparentemente ajustadas e equilibradas até entrar
em contato com ambientes de trabalho específicos. Importantes perdas de recursos humanos e
econômicos foram detectadas pelas organizações, principalmente educativas e de saúde, onde
os estudos foram realizados, indicando altos níveis de burnout, ocasionando principalmente
ausências por doenças, fadiga, desilusão, absenteísmo e declínio da motivação (Delgado et
al.,1993).
Passados mais de 25 anos de estudos sobre burnout, Maslach e Leiter (1997) colocam
que o mesmo não tem mais se restringido hoje a profissões ligadas à saúde e educação, sendo
este visto como um fenômeno que afeta praticamente todas as profissões, uma vez que a
tendência atual é pensar em burnout em profissões que possuem intenso e constante contato
interpessoal. Destacam esta questão, uma vez que a maior parte das profissões tem exigido
interrelações, seja no atendimento de clientes, consumidores, colegas e supervisores, ou
mesmo pela sua modalidade do trabalho, em grupos e equipes. O que se percebe hoje, é que
pela própria natureza e funcionalidade do cargo, há profissões de risco e de alto risco, sendo
poucas as com baixo risco de burnout.
Burnout tem sido abordado ao longo de seu processo de construção a partir de quatro
perspectivas:
1) Clínica: A primeira a surgir, tendo sido proposta por Herbert Fredenberger em 1974,
dirigia seus estudos na etiologia, sintomas, evolução clínica e tratamento da síndrome. Para
ele, o estado de exaustão é resultado do trabalho intenso sem a preocupação em atender às
necessidades do indivíduo. A síndrome seria o alto preço pago pelo indivíduo que desejava
intensamente trabalhar para ajudar outras pessoas.
3) Organizacional: Tem nesta perspectiva, Cary Cherniss, como seu principal representante.
Amplia o modelo social-psicológico, enfatizando características organizacionais como
geradoras de burnout. Buscou entender como os aspectos de funcionamento da organização e
seu ambiente cultural afetam as pessoas em seu trabalho. Cherniss defende que as três
dimensões de burnout, exaustão emocional, despersonalização e sentimento de pouca
realização profissional, representam três mecanismos de enfrentamento usados contra o
estresse, a frustração e o trabalho monótono.
Pesquisas sobre burnout têm uma longa tradição na América do Norte, sendo que em
países europeus, com exceção da Inglaterra, as pesquisas estão em uma fase embrionária. No
Brasil, há alguns estudos que abordam o estresse ocupacional e poucos são os que abordam
especificamente a síndrome de burnout.
Conceitualização
Embora ainda não haja um consenso sobre a definição de burnout, a proposta por
Maslach e colaboradores tem sido a mais aceita e utilizada por pesquisadores e estudiosos
sobre o tema. Burnout tem sido definido como um fenômeno multidimensional, formado por
três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e diminuição do sentimento de
realização profissional no trabalho (Maslach,1976; Cherniss,1980; Pines e Maslach,1980;
Maslach e Jackson,1981; Leiter e Maslach,1988; Maslach,1993; Maslach e Leiter, 1997;
Maslach e Golberg,1998).
Estresse e Burnout
Mesmo crescendo o consenso sobre o conceito de burnout, acreditamos ser importante
diferenciá-lo de estresse. Muitos autores utilizam estresse e burnout como sinônimos, sendo
esta abordagem inadequada, pois embora semelhantes estes construtos não são iguais (Farber,
1991). Burnout tem sido considerado como uma forma de estresse laboral (Maslach e
Jackson, 1982; Cordes e Dougherty,1993) ou ainda como a intensificação da sintomatologia
própria do estresse (Kyriacou e Sutcliffe, 1978). É sem dúvida o papel temporal e relacional
de burnout que o diferencia do estresse. Esta base relacional tem origem na tensão emocional
e nos recursos de enfrentamento que o indivíduo utiliza nas inter-relações presentes nas mais
diversas situações de trabalho (Maslach, 1993). Sua qualidade negativa ou inadaptada
também é um diferencial de estresse. Byrne (1993) diz que burnout é a etapa final das
progressivas tentativas malsucedidas do indivíduo em lidar com o estresse decorrente de
condições de trabalho negativas.
Para Maslach e Leiter (1997), cada pessoa expressa a síndrome de uma forma única,
mas de uma maneira geral, apresenta-se como um processo gradual onde a pessoa começa a
perder o significado e a fascinação pelo trabalho, dando lugar a sentimentos de aborrecimento
e falta de realização. As pessoas não começam um trabalho sentindo burnout, ao contrário,
elas esperam sentir-se engajadas e satisfeitas com ele. Aos poucos, o sentimento de
entusiasmo, dedicação e prazer com o trabalho dão lugar a sentimentos de raiva, ansiedade e
depressão, fazendo com que o indivíduo acredite estar vivendo uma crise pessoal. “Energia,
envolvimento e eficácia são direções opostas das três dimensões de burnout” (p.24), sendo
aos poucos substituídas por exaustão, despersonalização e falta de realização no trabalho
respectivamente (Maslach e Leiter, 1997). A primeira dimensão a surgir é a da Exaustão
Emocional, geralmente relacionada às excessivas demandas provenientes do exercício do
trabalho (Gaines e Jermier,1983; Leiter e Maslach, 1988; Cordes e Dougherty,1993; Maslach
e Leiter, 1997). Como estratégia defensiva surge o afastamento psicológico do profissional de
sua clientela e relações sociais, surgindo então como fase e dimensão subseqüente, a
Despersonalização ou desumanização. Para Maslach e Jackson (1981) estas duas dimensões
são de alguma forma relacionadas. Como resultado de todo este funcionamento defensivo,
surge a que seria a última fase, que é o sentimento de incompetência e inadequação
profissional, chamada de Redução do Sentimento de Realização Profissional (Maslach,1982;
Maslach e Leiter, 1997).
O que já se conhece hoje sobre as possíveis conseqüências de burnout, indica que estas
merecem registro importante por seu número, severidade potencial, domínios afetados, e, em
muitas situações, pela irreversibilidade de suas conseqüências.
Inúmeras são as ações que podem prevenir, atenuar ou erradicar burnout, não sendo
nosso objetivo neste momento enfocar todas as possibilidades de intervenção, até porque
sabemos tratar-se de um fenômeno amplo e que se associa a inúmeras variáveis, que ainda
se encontram em processo de estudo e investigação. Procuramos, desta forma, a partir da
perspectiva social-psicológica de Maslach, que atribui as características do trabalho
executado à maior fonte de burnout, levantarmos algumas ações, que ao nosso ver são
fundamentais para a intervenção neste processo. O fato de não abordarmos neste momento
ações relacionadas a fenômenos organizacionais não diminiu ou miniminiza sua importância,
ao contrário, é inquestionável o aspecto relacional entre o contexto específico de trabalho e
funcionamento organizacional.
Entendemos, então, que a redefinição e reorganização dos processos de trabalho,
buscando o aproveitamento de habilidades próprias de quem executa a função, bem como a
diversificação de atividades de forma a inseri-las de forma significativa ao resultado global
do produto ou serviço prestado é de relevante importância. A percepção do significado do
trabalho é um elemento essencial para a prevenção de burnout. As pessoas, segundo Maslach
e Leiter (1997), procuram em seu trabalho oportunidades de fazerem escolhas e tomar
decisões, buscam também usar suas habilidades para pensar e resolver problemas tendo um
entendimento do processo de trabalho como um todo, ou seja, do ínicio até os resultados dos
quais também será responsável. É importante que a pessoa sinta-se engajada e responsável
pelo seu trabalho e não coagida através de normas e políticas administrativas mecânicas e
rígidas.
A promoção de uma rede de suporte social, entre grupos e chefias para troca de
informações, orientações, experiências e sentimentos sobre as mais diversas questões
relacionadas ao trabalho e a organização, é um segundo ponto bastante destacado em termos
de intervenção. Para Maslach (1976) e Cherniss (1980), dividir as dificuldades individuais
com colegas de trabalho e supervisores dentro de um clima de respeito e conforto emocional
auxilia o profissional a distanciar-se dos problemas dos pacientes ou clientes sendo este
elemento essencial de prevenção de burnout.
Corcordamos com Cherniss (1992), quando este diz que as condições que auxiliam a
recuperação de burnout nas pessoas são as mesmas que a previnem, ou seja, novas situações
que promovam maior autonomia no trabalho, suporte organizacional e interesse pelo
trabalho. "Mudanças organizacionais são veículos potenciais para aliviar burnout" (p.152).
Destaca que a mudança não é necessariamente mudar de organização, nem de trabalho, mas
sim efetuar mudanças da prática do mesmo.
A mudança organizacional passa pela revisão dos valores que regem a instituição. O
resgate dos valores humanos no trabalho é fundamental. O significado e o reconhecimento
do trabalho e suas formas de recompensa, o sentimento de escolha e controle sobre o mesmo,
aliado ao senso de comunidade, justiça e respeito são caminhos que levam indivíduo e
organização a um futuro melhor com mais qualidade e equilíbrio (Maslach e Leiter, 1997).
CONCLUSÕES
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