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Nos tipos psicológicos, Jung nos diz que ele entende por sujeito, convém
dizer desde já, todos aqueles estímulos, sentimentos...
O poeta Fernando Pessoa nos fala disso, talvez de uma maneira mais
interessante. Ele diz:
Os complexos, eles poderiam interferir, realizar processos de invasão na
consciência, estes não seriam de forma alguma patológicos, a não ser no sentido
do pathos, da paixão, do ser movido, do apaixonar-se. Por isso que este
processo da invasão do complexo é tão importante na psicopatologia e a
psicopatologia é tão central na experiência da alma, porque ele traz de alguma
maneira algo que invade, algo que é enigmático, algo que é novo e portanto
ligado com a alma como personificação do inconsciente. Daí começarmos pelo
estranho, pelo incompreensível, pelo sintoma que é o mais alienígena para o
complexo do ego.
Se o Jung disse que a psicose aparece com a invasão dos complexos, ele
também nos diz que com a assimilação destes é que há uma proteção contra o
isolamento e contra a psicose. Isso é importante porque nós estamos aqui
falando de uma psicopatologia que não separa mecanismos doentes de
mecanismos saudáveis. Os mesmos mecanismos supostamente saudáveis ao
funcionarem demais numa fixação unilateral configuram-se como algo que de
alguma maneira vai se colocar como a situação de uma crise.
Se tiver que ser vivido: Você tem que ser autônomo, independente,
autêntico, único, espontâneo, autodeterminado, se estes padrões tornarem-se
imperativos e se o sujeito, se o vivente não puder tomar distância o que se
configurará? Pode se configurar a doença e o pathos pode mostrar a vida que
não foi normatizada. A vida que pulsa em inquietude e indeterminação, intenção
com tudo o que foi configurado, normatizado, determinado.
E aí, os diagnósticos categoriais, o que aparece como psicopatologia nos
clássicos, nos códigos, eles vão nos mostrar as normas coletivas valorizadas...
A figura que estamos mostrando ela não nos apresenta uma imagem do
contrário do padrão saudável. Diferente disso, a doença se coloca por não poder
tomar distância de valores considerados saudáveis, como por exemplo,
magreza, etc.
A norma tácita, saudável, vivida como imperativo seria: “Você tem que ser
único, autodeterminado, na direção de si mesmo, tem que ser autenticamente
certo, sem sentimentos contraditórios, não deve ter dúvidas, incertezas ou
ambiguidades”. O sujeito está em crise quando está absorvido pelo meio, quando
estes padrões coletivos, arquetípicos, dominantes, obrigam a dar importância e
responder e seguir todas as vozes que aparecem. As vozes se literalizam em
vozes porque são ouvidas por um padrão literal. Ter que reagir, explicar e
entender tudo o que aparece. Ter que separar nitidamente o que pensa do que
acontece, não poder ter dúvidas, incertezas, não saber. Não poder viver uma
situação onde não entendo o que acontece.
Então isso significa que a doença não existe, que ela é uma fantasia, que
ela não é real, que ela é produzida? Veja, Jung nos coloca uma questão
importante no que ele entende por real. Ele nos diz: Não acredito em nada que
seja suprarreal. O que não quer dizer que realidade é exclusivamente o que é
possível de ser palpável, visto, mensurável, exclusivamente o que é equivalente.
Um pensamento produz efeito? Se produzir efeito, ele nos diz, é real. Uma
fantasia produz efeito? Se a fantasia produz efeito, ela é real.
Primeiro, eu diria que a gente tem que tomar um certo cuidado quando a
gente escuta uma pergunta como esta e não tomar literalmente todas as
formulações colocadas, porque parece tudo muito claro se a gente não olha de
uma maneira um pouco mais aprofundada para os temas. Afinal de contas,
quando se toma um remédio, quantos remédios se toma? De que remédio está
se falando quando se fala de um remédio?
Ele nos diz que o terapeuta vai estar sempre do lado do mais fraco, do
que não tem voz. Ele vai estar sempre no lugar do advogado do diabo, que
defende o enigmático, o desconhecido, porque de alguma maneira o que ele está
colocando é ouvir o desconhecido, é ouvir o inconsciente e com isso resistir ao
padrão dominante. Mas não porque exista um padrão certo e outro padrão
errado, na vida cabe infinitos padrões. Mas a vida não vai caber em padrão
nenhum, em norma nenhuma. Ela vai ter que ir produzindo novas normas e
novos padrões nas infinitudes de produção e de sentido de padrões colocados.