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Na teoria psicanalítica, acredita-se que os processos mentais são regulados pelo princípio de prazer,

buscando evitar o desconforto e buscar o prazer. Essa perspectiva econômica é chamada de metapsicologia.
Embora não estejamos preocupados em aderir a um sistema filosófico específico, relacionamos o prazer e o
desprazer com a quantidade de excitação presente na vida psíquica. No entanto, a compreensão dos
significados das sensações de prazer e desprazer continua sendo um desafio. Reconhecemos que há outras
forças ou circunstâncias que podem se opor ao princípio de prazer, levando a resultados que não
correspondem necessariamente a essa tendência. Nossa compreensão dessas circunstâncias é baseada em
experiências analíticas. Em certos casos, o princípio de prazer é inibido e substituído pelo princípio de
realidade, que busca adiar a satisfação em favor da autoconservação. No entanto, essa substituição não
explica a maior parte das experiências de desprazer. Outra fonte de desprazer surge dos conflitos e divisões
que ocorrem durante o desenvolvimento psíquico do eu. Impulsos incompatíveis são reprimidos e separados
do eu, resultando em desprazer quando tentam obter satisfação. Esses desprazeres neuróticos são prazeres
transformados em desprazeres devido ao processo de repressão. Além disso, grande parte do desprazer que
experimentamos é perceptivo, relacionado à percepção de impulsos insatisfeitos ou ameaças externas. A
reação a essas demandas e ameaças pode ser guiada pelo princípio de prazer ou pelo princípio de realidade.
Portanto, não parece ser necessário uma restrição mais ampla do princípio de prazer. No entanto, investigar
as reações psíquicas ao perigo externo pode fornecer insights adicionais para o problema em questão. Um
estado que ocorre após acidentes graves, como colisões de trens e outros acidentes com risco de morte, tem
sido chamado de "neurose traumática". A guerra recente produziu um grande número desses casos, e pelo
menos acabou com a ideia de que eles eram causados por danos físicos no sistema nervoso causados por
uma força mecânica. A neurose traumática é semelhante à histeria em termos de sintomas motores, mas
geralmente é mais intensa devido aos sintomas de sofrimento subjetivo, semelhantes à hipocondria ou
melancolia, e ao enfraquecimento geral e deterioração das atividades mentais. A compreensão completa das
neuroses de guerra e das neuroses traumáticas na paz ainda não foi alcançada. No caso das neuroses de
guerra, foi esclarecedor, mas também desconcertante, que o mesmo quadro clínico pudesse ocorrer
ocasionalmente sem a presença de uma força mecânica bruta. Na neurose traumática comum, dois aspectos
se destacam como ponto de partida para reflexão: o fator surpresa e o fato de que, na maioria das vezes, um
ferimento sofrido ao mesmo tempo impede o desenvolvimento da neurose. As expressões "susto", "medo" e
"angústia" são frequentemente usadas erroneamente como sinônimos, mas podem ser distinguidas em
relação à sua relação com o perigo. A angústia se refere a um estado de expectativa e preparação para um
perigo, mesmo que desconhecido. O medo exige um objeto específico do qual a pessoa tem medo, enquanto
o susto ocorre quando alguém está em perigo sem estar preparado para isso, enfatizando o fator surpresa.
Não se acredita que a angústia possa causar uma neurose traumática, pois ela tem elementos que protegem
contra o susto e, assim, contra a neurose traumática. O estudo dos sonhos é considerado um caminho
confiável para investigar processos psíquicos profundos. A vida onírica da neurose traumática envolve o
paciente repetidamente na situação de seu acidente, despertando-o com susto. Isso indica que o paciente está
fixado psiquicamente no trauma. Essas fixações já são conhecidas há muito tempo no caso da histeria. A
brincadeira infantil é considerada uma das atividades normais mais precoces do aparelho psíquico.
Diferentes teorias sobre a brincadeira infantil se esforçam para descobrir os motivos por trás das
brincadeiras das crianças, sem focar principalmente no prazer obtido. Uma observação de uma criança de
um ano e meio revelou uma brincadeira em que ela jogava objetos para longe dela e emitia um som de "foi
embora". Essa brincadeira estava relacionada à renúncia impulsional que a criança havia realizado ao
permitir que a mãe a deixasse sem resistência. A criança se compensava repetindo o desaparecimento e o
retorno dos objetos como uma brincadeira. A partida da mãe certamente não foi agradável para a criança,
mas a repetição dessa experiência a desagrada. Depois de vinte e cinco anos de trabalho intenso, as metas
imediatas da psicanálise passaram por uma mudança significativa. Inicialmente, o objetivo era descobrir o
inconsciente oculto do paciente, combiná-lo e comunicá-lo por meio da interpretação. No entanto, logo se
percebeu que essa abordagem não resolvia completamente o problema terapêutico, então o foco passou a ser
nas resistências do paciente. O médico buscava descobrir e mostrar essas resistências ao paciente,
influenciando-o a abandoná-las. No entanto, tornou-se claro que a meta de tornar o inconsciente consciente
também não era plenamente alcançável por esse caminho. O paciente não conseguia lembrar de tudo o que
estava reprimido nele e, portanto, não era convencido da exatidão das interpretações. Em vez disso, ele era
levado a repetir as vivências recalcadas no presente, em vez de recordá-las como parte do passado. Essa
repetição, que ocorre na transferência com o médico, geralmente envolve conteúdos da vida sexual infantil,
especialmente relacionados ao complexo de Édipo. Quando essa fase do tratamento é alcançada, a neurose
original é substituída por uma neurose de transferência. O médico busca limitar ao máximo o âmbito dessa
neurose de transferência, fazer o paciente lembrar o máximo possível e evitar repetições desnecessárias. A
proporção entre lembrança e repetição varia em cada caso, mas é importante permitir que o paciente reviva
parte de sua vida esquecida, mantendo a crença de que a realidade atual reflete um passado esquecido. Isso
leva à convicção do paciente e ao sucesso terapêutico. Para entender melhor a compulsão à repetição
presente no tratamento psicanalítico de neuróticos, é importante evitar a ideia de que estamos lidando com a
resistência do "inconsciente". O inconsciente, ou seja, o conteúdo reprimido, não oferece resistência aos
esforços do tratamento e busca chegar à consciência ou à descarga por meio da ação. A resistência no
tratamento tem origem nas camadas e sistemas superiores da vida psíquica, os mesmos que realizaram a
repressão no passado. No entanto, como os motivos das resistências e as próprias resistências são
inconscientes no tratamento, é necessário corrigir essa inadequação de linguagem. Em vez de opor o
inconsciente e o consciente, devemos opor o conteúdo reprimido e o ego coerente. Muitos aspectos do ego
são inconscientes, especialmente aqueles que formam o núcleo do ego, e apenas uma pequena parte deles é
chamada de pré-consciente. Portanto, a resistência dos pacientes tem origem em seu ego, e a compulsão à
repetição deve ser atribuída ao conteúdo reprimido inconsciente, que só pode emergir quando o trabalho
atencioso do tratamento relaxa a repressão.
A resistência do ego consciente e pré-consciente está a serviço do princípio do prazer, buscando evitar o
desconforto que seria causado pela liberação do conteúdo reprimido. O objetivo do tratamento

Nesse livro, Freud explora a natureza do funcionamento da mente humana e apresenta uma nova teoria sobre
o funcionamento dos nossos desejos e impulsos. Ele argumenta que além do princípio do prazer, que é a
busca do prazer e a evitação do sofrimento, existe um outro princípio que influencia nosso comportamento,
chamado de princípio de repetição.
Dessa forma, o princípio de repetição está relacionado com o que Freud chamou de "compulsão à repetição".
Ele observou que, em certos casos, as pessoas repetem situações traumáticas ou dolorosas, mesmo que isso
não traga prazer imediato. Desconsiderando o princípio do prazer, que busca evitar o sofrimento. Com isso,
Freud sugere que essa compulsão à repetição está ligada a um impulso interno, que ele chama de "pulsão de
morte". Essa pulsão de morte é uma força que busca a redução da tensão e, paradoxalmente, está associada a
um impulso de autodestruição.
Freud, em sua obra, também introduz o conceito de "nirvana", que é um estado de ausência de excitação e de
retorno a um estado anterior de não estar vivo. Fica evidente então que a compulsão à repetição e a pulsão
de morte têm uma relação com o desejo de atingir esse estado de nirvana, em que não haveria sofrimento
nem prazer.
A partir dessas ideias levantadas por Freud abriu-se caminho para novas reflexões na psicanálise e na
compreensão da mente humana. Freud propõe então a existência de um princípio de repetição, que ele
chama de "compulsão à repetição". Essa compulsão está relacionada a uma força interna que impulsiona a
mente a repetir experiências passadas, mesmo que sejam desagradáveis. Freud busca entender por que essa
compulsão existe e como ela se encaixa em sua teoria geral do funcionamento da mente.
Em resumo, no livro "Além do Princípio do Prazer", Freud aprofunda sua teoria psicanalítica ao introduzir a
compulsão à repetição e a pulsão de morte. Ele explora a relação entre essas forças internas e o
comportamento humano, sugerindo que a repetição de situações traumáticas pode ser uma tentativa
inconsciente de lidar com o sofrimento e de buscar um estado de nirvana, sem sofrimento nem prazer.

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