Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cheguei a ver que na maioria destas inibições, fossem ou não reconhecíveis como tais,
a tarefa de reverter o mecanismo era realizada pela angústia e especialmente pelo "medo à
castração"; só quando esta ansiedade se resolvia, resultava possível progredir na remoção da
inibição. Estas observações me deram certo insight nas relações entre ansiedade e inibição, que
vou agora a expor com mais detalhes.
A íntima conexão entre ansiedade e inibição foi notavelmente esclarecida pela análise
do pequeno Fritz (2). Nesta análise, cuja segunda parte foi muito profunda, pude estabelecer o
fato de que a ansiedade (que num momento foi considerável, mas que gradualmente se foi
apaziguando depois de ter atingido certo ponto) seguia de tal modo o curso da análise, que era
sempre um indício de que as inibições estavam por ser removidas. Cada vez que a ansiedade era
resolvida, a análise dava um grande passo para adiante, e a comparação com outras análises
confirma minha impressão de que a importância de nosso sucesso em fazer desaparecer
1
inibições está em proporção direta com a clareza com que a ansiedade se manifesta como tal e
pode ser resolvida (3). Por eliminação exitosa não quero significar unicamente que as inibições
diminuam ou se suprimam, senão que a análise consiga restabelecer o prazer original na
atividade. Isto é indubitavelmente possível nas análises de meninos pequenos e quanto menores
são, tanto, mas rapidamente ocorre, porque a trajetória que se deve percorrer para investir o
mecanismo da inibição é menos longa e complicada nos meninos pequenos. Em Fritz, este
processo de remoção por via da ansiedade era precedido algumas vezes pela aparição de
sintomas transitórios (4). Estes, a sua vez, eram principalmente resolvidos por meio da
ansiedade. O fato de que a supressão destas inibições e sintomas ocorre por meio da ansiedade
demonstra com segurança que sua fonte é a ansiedade.
Agora bem, que ocorre com uma quantidade de afeto que se faz desaparecer sem
conduzir à formação de sintomas? (me refiro aos casos de repressão exitosa). No que se refere
ao destino deste monto de afeto, que está destinado a ser reprimido, Freud diz: "O destino do
fator quantitativo na apresentação do instinto pode ser um de três, como podemos ver através de
um rápido exame das observações feitas em psicanálises ou o instinto é completamente
suprimido e não se encontram rastos dele, ou está encoberto sob um afeto de um tom qualitativo
especial, ou se converte em angústia" (10).
Mas, como é possível que se suprima o ônus de afeto na repressão exitosa? Parece
justificado supor que sempre que tem lugar a repressão (sem excluir os casos em que é exitosa),
o afeto se descarrega em forma de ansiedade, cuja primeira fase às vezes não se manifesta ou
passa inadvertida. Este processo é freqüente na histeria de angústia e também presumimos sua
existência quando esta histeria não se desenvolve realmente. Nesse caso, a ansiedade estaria
2
presente inconscientemente por um tempo no que "... encontramos impossível evitar ainda a
estranha conjunção e ‘consciência inconsciente de culpa’ ou uma paradóxica ‘ansiedade
inconsciente'" (11). É verdade que ao examinar o uso do termo "afetos inconscientes", Freud
continua dizendo: "Assim, não se pode negar que o uso dos termos em questão é lógico; mas
uma comparação do afeto inconsciente com a idéia inconsciente revela a significativa diferença
de que a idéia inconsciente continua, depois da repressão, como uma formação real no sistema
inconsciente, enquanto ao afeto inconsciente lhe corresponde no mesmo sistema só uma
disposição potencial à que se lhe impede desenvolver mais" (12). Vemos, pois, que o ônus de
afeto que se desvaneceu por uma repressão exitosa sofreu seguramente também a transformação
em ansiedade, mas que quando a repressão se realiza com sucesso completo, às vezes a
ansiedade não se manifesta de nenhum modo, ou só debilmente, e permanece como uma
disposição em potencial no inconsciente. O mecanismo pelo que se possibilita a
"entrelaçamento" e descarga desta ansiedade, ou a disposição à ansiedade, seria o mesmo que o
que vimos dar por resultado a inibição, e as descobertas da psicanálise nos ensinaram que a
inibição intervém em maior ou menor grau no desenvolvimento de todo indivíduo normal,
conquanto também em isto seja só o fator quantitativo o que determina se será são ou enfermo.
Surge a pergunta: por que uma pessoa sã pode descarregar em forma de inibições o
que a um neurótico o levou à neurose? As seguintes características podem formular-se como
distintivas das inibições que estamos tratando: 1) certas tendências do eu recebem uma poderosa
catexia libidinal; 2) uma quantidade de ansiedade é distribuída em tal forma entre estas
tendências que já não aparece como ansiedade, senão como "desprazer" (13), desassossego
mental, incomodação, etc. A análise, no entanto, demonstra que essas manifestações
representam ansiedade, da que se diferencia só em grau e que não se manifestou ela mesma
como tal. Portanto, a inibição implicaria que certa quantidade de ansiedade foi incorporada por
uma tendência egoica que já teve uma catexia libidinal prévia. A base de uma repressão
satisfatória seria então a catexia libidinal dos instintos do eu, acompanhada neste duplo caminho
pela inibição como resultado.
A repressão atuaria então sobre as tendências do eu eleitas para esse fim e assim
surgiriam as inibições. Em outros casos, os mecanismos das neuroses se mobilizariam em maior
ou menor grau dando como resultado a formação de sintomas.
3
nascimento como angústia de castração que revivia material temporão e encontrei que
resolvendo a angústia de castração se dissipava a angústia do nascimento. Por exemplo,
encontrei num menino o temor a que estando sobre gelo este pudesse ceder embaixo dele, ou a
cair através de um buraco numa ponte -expressões evidentemente de angústia de nascimento-.
Repetidamente encontrei que estes temores estavam mobilizados por desejos menos evidentes -
ativados como resultado do significado simbólico-sexual de patinar das pontes, etc.-, de forçar o
regresso à mãe por meio do coito, e esses desejos originaram o medo à castração. Isto também
faz, mas fácil entender por que a procriação e o nascimento são concebidos freqüentemente no
inconsciente como um coito do menino, quem, ainda que seja com ajuda do pai, penetra deste
modo na vagina materna.
Não parece, portanto, arriscado considerar o pavor noturno que aparece aos dois ou
três anos como ansiedade originada no primeiro estagio de repressão do complexo de Édipo,
cujo entrelaçamento e descarga prosseguem posteriormente por diversos caminhos (16).
Penso que é bem evidente que na medida em que as sublimações até aqui efetuadas
sejam quantitativamente abundantes e qualitativamente fortes, a ansiedade com a qual estão
agora investidas será completa e imperceptivelmente distribuída entre elas e descarregadas
assim.
Em Fritz e Félix pude comprovar que as inibições do prazer nos movimentos estavam
estreitamente conectadas com as do prazer no estudo e com várias tendências e interesses
egoicos (que não vou especificar agora). Em ambos os casos o que fez possível este
deslocamento da inibição ou angústia de um grupo das tendências do eu para outro, foi
evidentemente a catexia principal de caráter simbólico-sexual comum a ambos grupos.
Em Félix, de treze anos de idade (cuja análise usarei para ilustrar minhas observações
numa parte posterior deste artigo), a forma em que apareceu este deslocamento foi a alternância
de suas inibições entre jogos e lições. Em seus primeiros anos escolares tinha sido um bom
aluno, mas por outra parte era muito tímido e torpe em toda classe de jogos. Quando o pai
voltou da guerra acostumava colar e repreender ao menino por sua covardia, e com estes
métodos conseguiu o resultado desejado. Félix chegou a ser bom para os jogos e
apaixonadamente interessado neles, mas junto a esta mudança se desenvolveu nele uma aversão
pela escola e todo estudo ou conhecimento. Esta aversão se converteu em manifesta antipatia,
que tinha quando chegou à análise. A catexia simbólico-sexual em comum estabeleceu uma
relação entre as duas séries de inibições, e foi em parte a intervenção de seu pai, conduzindo-o a
considerar os jogos como uma sublimação, mas em consonância com sua eu, a que o capacitou
para deslocar a inibição dos jogos às lições.
4
conteúdo da idealização cede o passo por deslocamento a uma formação substitutiva, sem que
desapareça o monto de afeto, na inibição a descarga do monto de afeto parece ocorrer
simultaneamente.
Tendo atingido um nível de civilização condicionado pela repressão, ainda que sendo
principalmente capaz de repressão só pelo caminho dos mecanismos da neurose, está
incapacitado para avançar mais lá deste nível cultural infantil.
Quisesse agora chamar o atendimento para a conclusão que surge de minha exposição
até este ponto: a ausência ou presença de capacidades (ou inclusive o grau em que estão
presentes), ainda que pareçam determinadas simplesmente por fatores constitucionais e fazendo
parte do desenvolvimento dos instintos do eu, demonstram estar determinados igualmente por
outros fatores, libidinais, e ser susceptíveis de mudar através da análise.
5
e, em analogia com o que Freud demonstrou em conexão com a doença, vê-se que o fator
"acidental" é de grande importância.
Em seu estudo da origem sexual da fala, Sperber (20) mostra que os impulsos sexuais
desempenharam um papel importante em sua evolução, que os primeiros sons falados eram os
chamados sedutores ao casal e que esta linguagem rudimentar se desenvolveu como
acompanhamento rítmico do trabalho, o que ficou sócio ao prazer sexual. Jones chega a
conclusão de que a sublimação é a repetição ontogenética do processo descrito por Sperber (21).
Mas, ao mesmo tempo, os fatores que condicionam o desenvolvimento da linguagem estão
ativos na gênese do simbolismo. Ferenczi postula que a base da identificação, como estagio
temporão de seu desenvolvimento, o menino trata de redescobrir os órgãos de seu corpo e as
atividades destes, em cada objeto que encontra. Como estabelece uma comparação similar com
o interior de seu corpo, provavelmente vê na parte superior de seu corpo um equivalente de cada
aspecto afetivamente importante da parte inferior. Segundo Freud, a primeira orientação do
sujeito para seu próprio corpo está acompanhada também pela descoberta de novas fontes de
prazer. Pode muito bem ser isto o que faz possível a comparação entre diferentes órgãos e zonas
do corpo. Esta comparação será posteriormente seguida pelo processo de identificação com
outros objetos, processo no qual, de acordo com Jones, o princípio de prazer nos permite
comparar dois objetos completamente diferentes sobre a base de uma semelhança de tonalidade
prazenteira, ou de interesse (22). Mas temos provavelmente razões para supor que por outra
parte esses objetos e atividades, que não são de por sim fontes de prazer, chegam a sê-lo por
esta identificação, sendo deslocado para eles um prazer sexual, como supõe Sperber que foi
deslocado para o trabalho no homem primitivo. Então, quando a repressão começa a atuar e se
progride da identificação à formação de símbolos, é este último processo o que proporciona uma
oportunidade à libido de deslocar-se a outros objetos e atividades dos de auto-conservação, que
originariamente não possuíam uma tonalidade prazenteira. Aqui chegamos ao mecanismo da
sublimação.
6
forma simbólico-sexual sobre objetos, atividades e interesses especiais. Ilustrarei esta afirmação
na seguinte forma. Nos casos que citei de prazer no movimento -jogos e atividades atléticas-
devemos reconhecer a influência do significado sexual do campo de esportes, do caminho, etc.
(como símbolos da mãe), enquanto caminhar, correr e toda classe de movimentos atléticos
representam a penetração dentro da mãe. Ao mesmo tempo, os pés, as mãos e o corpo que
levam a cabo estas atividades e que, como conseqüência de identificações temporãs, são
comparados com o pênis, servem para atrair sobre eles algumas das fantasias que realmente
estão em relação com o pênis e as situações e gratificações associadas com dito órgão. O elo
que conectou isto foi provavelmente o prazer pelo movimento, ou, mas bem o órgão mesmo.
Leste é o ponto em que a sublimação difere da formação de sintomas histéricos, tendo seguido
até aqui o mesmo curso.
Com o fim de formular com maior precisão as analogias e diferenças entre sintomas e
sublimação, quisesse referir-me à análise de Leonardo da Vinci, fato por Freud. Como ponto de
partida, Freud toma a recordação de Leonardo -ou melhor, sua fantasia- de que estando ainda no
berço um abutre voou sobre ele, abriu sua boca com seu bico, e apoiaram a pata repetidas vezes
sobre seus lábios. Leonardo mesmo comenta que deste modo seu absorvente e minucioso
interesse pelos abutres ficou determinado muito cedo em sua vida, e Freud faz notar como esta
fantasia teve realmente grande importância na arte de Leonardo e também em sua inclinação
pelas ciências naturais.
7
plano físico, vemos uma analogia na rapidez com que é inervada uma zona especial do corpo e a
importância deste fator no desenvolvimento dos sintomas histéricos. Estes fatores, que poderiam
constituir o que entendemos por "disposição formariam uma série complementar, como aquelas
com que estamos familiarizados na etiologia das neuroses. No caso de Leonardo não só se
estabeleceu uma identificação entre o mamilo, o pênis e o bico do pássaro, senão que esta
identificação se fusionou com o interesse pelo movimento de dito objeto, o pássaro, e seu vôo e
o espaço no qual voava. As situações prazenteiras ou fantasiadas permaneceriam, no entanto
inconscientes, e fixadas, mas se lhes deu intervenção numa tendência do eu e assim puderam
descarregar-se. Quando recebem esta classe de representação, as fixações ficam despojadas de
seu caráter sexual; marcham de acordo com o eu e se a sublimação tem sucesso -isto é, se
fusionam com uma tendência do eu- não são reprimidas. Quando isto sucede, proporcionam à
tendência do eu o motivo de afeto que atua como estímulo e como força impulsora do talento e,
como a tendência do eu lhes proporciona campo livre para atuar em consonância com o eu,
permitem à fantasia despregar-se sem restrições e nesta forma elas mesmas são descarregadas.
Por outra parte, na fixação histérica, a fantasia se aferra tão tenazmente à situação
prazenteira que antes que seja possível a sublimação, sucumbe à repressão e à fixação; e assim,
supondo que atuem os outros fatores etiológicos, está forçada a encontrar representação e
descarga nos sintomas histéricos. A forma em que se desenvolveu o interesse científico de
Leonardo pelo vôo dos pássaros, mostra que também na sublimação continua funcionando a
fixação à fantasia com todos seus determinantes.
Agora bem, bem como o ataque histérico usa para seu material uma peculiar
condensação de fantasias, assim também o desenvolvimento de um interesse pela arte ou de um
talento criador dependeriam em parte da riqueza e intensidade das fixações e fantasias
representadas na sublimação. Seria importante não só em que quantidade está presente os
fatores constitucionais e acidentais envolvidos e quão harmoniosamente cooperam, senão
8
também qual é o grau de atividade genital que poderá ser desviada para a sublimação. Em forma
similar, a primazia da zona genital na histeria foi atingida sempre.
9
Conhecemos a importância das fantasias de masturbação nos sintomas e ataques
histéricos. Darei uma ilustração do efeito das fantasias de masturbação sobre a sublimação.
Felix, de treze anos, produziu durante a análise a seguinte fantasia. Estava jogando com
formosas meninas nuas cujos peitos esfregavam e acariciava. Não via a parte inferior de seus
corpos. Jogavam ao futebol entre eles. Esta fantasia sexual, que para Félix era um substituto do
onanismo, foi seguida durante a análise por muitas outras fantasias; algumas apareciam em
forma de sonhos diurnos; outras, durante a noite, como substitutos do onanismo, e todas
referidas a jogos. Estas fantasias nos demonstram como algumas de suas fixações foram
elaboradas num interesse pelos jogos. Na primeira fantasia sexual que era só fragmentária, o
coito foi substituído pelo futebol (24). Este jogo, junto com outros, tinha absorvido inteiramente
seu interesse e ambição, porque esta sublimação estava reforçada relativamente, como proteção
contra outros interesses reprimidos e inibidos que estavam menos em consonância com sua eu.
Este reforço reativo, por outra parte obsessivo, pode muito bem ser em geral um fator
determinante da destruição de sublimações que ocorre às vezes durante a análise, ainda que por
regra geral em nossa experiência a análise só estimula sublimações. O sintoma é abandonado,
por ser uma custosa formação substitutiva, quando se resolvem as fixações e se abrem outros
canais para a descarga da libido. Mas ao trazer à consciência estas fixações que formam a base
da sublimação tem por regra geral um resultado diferente: geralmente a sublimação se reforça
porque se a retém como o canal substitutivo, mas expeditivo e provavelmente mais temporão de
descarga de libido que deve ficar insatisfeita.
10
respeito das diferentes classes de veículos que lhe tivesse agradado possuírem e com os que
teriam ido à escola tão cedo como os tivesse, levando a sua mãe e a sua irmã com ele. Uma vez
demonstrou angústia ante a idéia de verter petróleo no tanque de um motor, pelo perigo de
explosão; resultou que na fantasia de encher uma motocicleta grande ou pequena com petróleo,
este último representava o "Pipí-água" ou sêmen, ao que supunha necessário para o coito,
enquanto a destreza especial para manejar a motocicleta e realizar constantes curvas e voltas
representava destreza no coito.
Foi só durante os primeiros anos de sua vida que deu sinais desta fixação tão grande
nos caminhos e em questões conectadas com eles. Quando tinha ao redor de cinco anos, sentia
um marcado desagrado por sair a caminhar. Também sua incapacidade para entender as
distâncias em tempo e espaço a essa idade era muito notável. Assim, depois de ter viajado
durante algumas horas, pensava que estava ainda em sua cidade natal. Sócia com este desgosto
por sair a caminhar estava sua completa falta de interesse por conhecer o lugar onde tinha ido e
seu total defeituosa de sentido de orientação
O intenso interesse pelos veículos adquiriu a forma de estar-se horas olhando passar as
carroças desde a janela ou do vestíbulo da casa e também de paixão por conduzir. Sua principal
ocupação era jogar a ser cocheiro ou motorista, juntando as cadeiras para formar o veículo. A
este jogo, que realmente consistia em sentar-se e ficar quieto, dedicava-se em tal forma que
parecia compulsivo, especialmente porque tinha uma total aversão por qualquer outro tipo de
jogo. Foi nesse momento quando comecei sua análise e depois de alguns meses se notou uma
grande mudança, não só com respeito a isto senão em geral.
Até então não tinha manifestado angústia, mas durante a análise apareceu uma intensa
angústia que foi resolvida analiticamente. Na última parte de sua análise manifestou fobia aos
garotos de rua. Estava conectada com o fato de ter sido molestada repetidas vezes por eles na
rua. Manifestou temê-los e finalmente não se o pôde persuadir de sair só à rua. Não pude
conhecer esta fobia analiticamente porque por razões externas a análise não pôde continuar, mas
soube que pouco tempo depois de interrompido, a fobia desapareceu completamente e foi
substituída por um prazer especial por vagabundear (27).
11
maneira de ser visível só quando saía por um extremo ou o outro, o que chamava a "estação
terminal". Outra vez fez um jogo diferente com os lençóis, que consistia em deslizar-se e sair
delas em diferentes pontos. Quando jogava assim lhe disse uma vez a sua mãe: "Vou adentro de
teu ventre". Nessa época produziu a seguinte fantasia: ia ao subterrâneo. Tinha muita gente ali,
o motorista subia e baixava rapidamente alguns degraus e entregava os bilhetes ao público. Ele
ia ao subterrâneo, sob a terra, até que as vias se encontravam. Depois tinha um buraco e grama.
Em outro desses jogos na cama fazia repetidamente que um brinquedo com motor e motorista
andasse sobre o cobertor e lençóis que tinha enrolado para formar um promontório. Depois
dizia: "O motorista sempre quer ir acima da montanha, mas isso é um mau caminho para andar";
depois, mandando ao motorista por embaixo dos lençóis dizia: "Este é um bom caminho". Tinha
sempre um interesse especial por uma parte do trem elétrico na que tinha uma só via e onde se
formava uma volta fechada. Dizia que tinha que estar essa volta por se o outro trem vinha em
direção contrária e chocavam. Explicava-lhe a sua mãe o perigo: "Olha, se duas pessoas chegam
em direção contrária (ao dizer isto corria para ela) chocam e assim fazem dois cavalos, se
correm assim". Uma fantasia freqüente nele era imaginar-se como era sua mãe em seu interior:
imaginava-se toda classe de aparelhos, especialmente no estômago. Isto era seguido pela
fantasia de um balouço onde tinha uma quantidade de gente pequena que tratava de meter-se ali
uns depois de outros e sair pelo outro lado. Tinha alguém que pressionava algo e os ajudava a
fazer isto.
Seu novo prazer por vagar e todos seus outros interesses duraram algum tempo, mas
depois de alguns meses foram vencidos por seu antigo desgosto por sair a caminhar. Isto durou
assim até que comecei a analisá-lo novamente. Tinha então cerca de sete anos (28).
Durante esta parte de sua análise, que foi agora muito profunda, esta rejeição se
acrescentou e se revelou claramente como inibição, até que a ansiedade latente se fez depois
manifesta e pôde ser resolvida. Era especialmente o caminho à escola o que provocava esta
grande ansiedade. Encontramos que uma das razões pelas que não lhe agradavam as ruas que o
conduziam à escola era que tinham árvores. Às ruas que tinham terrenos sem edificar a ambos
os lados, por outra parte, encontrava-as muito formosas porque se podiam fazer caminhos e se
os podia converter em jardins se plantavam flores e se as regava (29). Sua antipatia pelas
árvores que por algum tempo tomou a forma de temor aos bosques, demonstrou estar
determinada em parte por fantasias sobre uma árvore derrubada, que podia cair sobre ele. A
árvore representava para ele o enorme pênis do pai, que desejava cortar e que por isso temia.
Que temia o caminho à escola o vimos em várias fantasias. Uma vez me falou a respeito de uma
ponte (que existia unicamente em sua imaginação) que estava no caminho à escola (30). Se a
ponte tivesse tido um buraco, ele poderia ter caído por aí. Outra vez foi um pedaço de cordel
gordo que viu atirado no campo o que lhe causou angústia, porque lhe fez pensar numa víbora.
Nessa época “Análise Infantil” também acostumava ir saltando sobre um pé uma parte do
caminho, dizendo que lhe tinham cortado um pé. Em relação com um desenho que tinha visto
num livro, teve fantasias sobre uma bruxa que encontraria em seu caminho à escola e que
esvaziaria um jarro de tinta sobre ele e sua carteira. Neste caso o jarro representava o pênis da
mãe (31). Então adicionou espontaneamente que o temia, mas que ao mesmo tempo era lindo.
Outra vez fantasiou que se encontrava com uma bruxa formosa e olhava fixamente a coroa que
ela levava sobre sua cabeça. Como a olhava tão fixamente (kuckte) ele era um cuco (Kuckuck) e
ela fez desaparecer sua carteira e o transformou de cuco em pomba (um animal feminino,
segundo pensava).
12
Vou dar um exemplo de fantasias que apareceram, mas tarde em sua análise, onde é
evidente o significado prazenteiro original do caminho. Uma vez me disse que teria prazer em ir
à escola tão só se não fora pelo caminho Então fantasiou que para evitar o caminho tenderia
uma escada desde a janela de seu quarto até a da professora, assim ele e sua mãe poderiam ir
juntos, subindo de um degrau a outro. Depois me falou de uma corda, também tendida de janela
a janela, pela qual ele e sua irmã poderiam chegar à escola. Tinha uma senhorita que os ajudava
atirando da corda e os garotos que já estavam na escola ajudavam também. O mesmo fazia
voltar à corda, "punha em movimento a corda", segundo dizia (32).
Durante sua análise, voltou-se muito, mas ativo e então me contou a seguinte história
que ele denominou "roubo no caminho". Tinha um cavaleiro muito rico e feliz, e ainda que
fosse muito jovem, queria casar-se. Ia à rua, via ali a uma formosa dama e lhe perguntava como
se chamava. Ela contestava: "Isso não lhe importa a você". Então lhe perguntava onde vivia. Ela
contestava novamente que isso não lhe importava. Faziam cada vez mais ruídos ao falar. Então
chegou um agente, que os tinha estado observando, e levou ao jovem numa grande carruagem, o
tipo de carruagem que um cavaleiro assim deveria ter. Foi levado a uma casa com barrotes de
ferro na janela: uma prisão. Foi acusado de roubo no caminho. "Assim é como o chamam" (33).
O prazer original pelos caminhos corresponde a seu desejo de coito com a mãe, e por
isto não pôde chegar a atuar completamente até que foi resolvida a angústia de castração.
Igualmente vemos que em estreita conexão com isto, seu interesse por explorar caminhos e ruas
(que formava a base de seu sentido de orientação) desenvolveu-se com a libertação da
curiosidade sexual que tinha sido assim mesmo reprimida por causa do medo à castração. Darei
alguns exemplos. Disse-me uma vez que quando estava urinando tinha que pôr os freios (o que
fazia apertando seu pênis) porque se não toda a casa podia derrubar-se (34). Em relação com
isto existiam muitas fantasias que demonstravam que estava sob a influência da imagem mental
do interior do corpo de sua mãe, e por identificação com ela, do seu próprio. Representava-o
como um povo, às vezes como um país e depois como o mundo, atravessado por linhas de
transporte ferroviário; imaginava-se esse povo provido de tudo o necessário para os habitantes e
os animais que viviam ali e equipado com toda classe de artigos modernos.
13
deterem-se sete vezes quando estava urinando. A idéia das sete detenções era originada pelo
número de gotas de um medicamento que estava tomando nessa época e pelo qual sentia uma
grande repugnância, porque, como o demonstrou a análise, equiparava-o com urina.
À medida que estas e outras fantasias foram interpretadas, seu sentido e faculdade de
orientação se intensificaram como se viu claramente em seus jogos e interesses.
Assim encontramos que seu sentido de orientação, anteriormente muito inibido, mas
que se desenvolveu agora em forma notável estava determinado por seu desejo de penetrar no
corpo da mãe e pesquisar seu conteúdo, com os passadiços para entrar e sair dele e os processos
de fecundação e nascimento (38).
Encontrei que esta determinação libidinal do sentido de orientação era típica e que o
desenvolvimento favorável (ou pelo contrário, a inibição do sentido de orientação por causa da
repressão) dependia dela. Inibições parciais desta faculdade, por exemplo, o interesse pela
geografia e a orientação, com maior ou menor falta de capacidade, demonstravam depender de
fatores que considero como essenciais na formação das inibições em geral. Refiro-me ao
período da vida e ao grau em que a repressão começa a atuar sobre fixações que estão
destinadas à sublimação ou que estão já sublimadas. Por exemplo, se não se reprime o interesse
pela orientação, conservam-se o prazer e interesse nela e o grau de desenvolvimento da
faculdade é então proporcional ao grau de sucesso que atinge a busca de conhecimento sexual.
Quero chamar o atendimento sobre a grande importância desta inibição, que não só em
Fritz irradiava sobre os mais diversos interesses e estudos. Além do interesse pela geografia,
descobri que era um dos fatores determinantes na capacidade para o desenho (39), e o interesse
nas ciências naturais e tudo o que se refere à exploração do balão terrestre.
Encontrei também em Fritz uma estreita conexão entre sua falta de orientação no
espaço e no tempo. Correspondendo com seu interesse reprimido pelo lugar de sua existência
intrauterina, estava sua falta de interesse por detalhes sobre o tempo que tinha estado ali. Assim,
ambas as perguntas: "Onde estava eu antes de nascer?" e "Quando estava ali?" estavam
reprimidas.
14
A equação inconsciente entre sonho, morte e existência intrauterina era evidente em
muitos de seus ditos e fantasias, e conectada com isto estava sua curiosidade pela duração destes
estados e sua sucessão no tempo. Pareceria que a mudança da existência intrauterina à
extrauterina, como protótipo de toda periodicidade, é uma das raízes do conceito de tempo e da
orientação no tempo (40).
Há algo mais que quero mencionar, que me demonstrou que a inibição do sentido de
orientação é de grande importância. Encontrei em Fritz que sua resistência a instruir-ser, que
resultou estar tão estreitamente conectada com sua inibição do sentido de orientação, nascia de
sua retenção da teoria sexual infantil do "menino anal". A análise demonstrou, no entanto, que
tinha essa teoria anal como conseqüência da repressão devida ao complexo de Édipo e que sua
resistência a instruir-se não estava causada por uma incapacidade para compreender o processo
genital devido a que não tinha atingido ainda o nível de organização genital.
Em realidade sucedia o contrário: era esta resistência a que impedia seu progresso para
esse nível e fortificava sua fixação ao nível anal. Em relação com isto vou referir-me novamente
ao significado de sua resistência a ser instruído. A análise de meninos me confirmou cada vez
mais meu ponto de vista sobre isto. Vi-me obrigada a considerar isto como um sintoma
importante, um sinal de inibições que determinam o inteiro desenvolvimento subseqüente.
Em Fritz encontrei que sua atitude frente ao estudo estava determinada também pela
mesma catexia sexual simbólica. A análise demonstrou que seu marcado desgosto pelo estudo
era uma inibição muito complexa ante diferentes temas escolares, determinada pela repressão de
diferentes componentes instintivos. Como na inibição para caminhar, os jogos e o sentido de
orientação, o determinante principal era a repressão -baseada em angústia de castração- da
catexia simbólico-sexual, comum a todos estes interesses, principalmente a idéia de penetrar na
mãe no coito. Durante sua análise, esta catexia libidinal e com ela a inibição, avançou
claramente dos primeiros movimentos e jogos de movimento ao caminho à escola mesma, a
professora e as atividades da escola.
Porque em suas fantasias, as linhas de seu livro de exercícios eram caminhos, o livro
era o mundo e as letras cavalgavam sobre motocicletas, isto é, sobre a lapiseira. Outras vezes, a
lapiseira era um bote e o caderno era um lago. Encontramos que muitos erros de Fritz (que por
um tempo não puderam ser superados, até que foram resolvidos na análise, em que
desapareceram sem dificuldade) estavam determinados por suas muitas fantasias a respeito das
diferentes letras que eram amigas unas com outras ou se brigavam e tinham toda classe de
experiências. Em geral, consideravam às minúsculas como filhas das maiúsculas. Via ao S
maiúsculo como imperador das longas esses germanas; tinha dois ganchos nas pontas para
distingui-lo da imperatriz, o s final, que tinha somente um gancho.
Descobrimos que para ele a palavra falada era idêntica à escrita. A palavra significava
"pênis" ou "menino", enquanto o movimento da língua e a lapiseira significava "coito".
15
intensificações e deslocamentos, que são de natureza regressiva e reativa. Isto proporciona um
número ilimitado de possibilidades para o indivíduo, como se vê, para seguir com o exemplo da
linguagem, tanto em suas próprias peculiaridades da fala como l desenvolvido dos idiomas em
geral.
Em Félix, que contava treze anos e até então não tinha demonstrado nenhum talento
musical, desenvolveu-se gradualmente durante a análise um marcado amor pela música. Isto
ocorreu quando a análise estava fazendo consciente sua fixação às temporãs observações
infantis do coito. Encontramos que os sons, alguns dos quais tinha ouvido provir da cama de
seus pais e outros que tinha fantasiado, formaram a base de um intenso (e muito cedo inibido)
16
interesse pela música, interesse que foi liberado novamente durante a análise. Este determinante
do interesse pela música e do talento musical o encontrei presente (junto com o determinante
anal) em outros casos também, e creio que é típico.
Na senhora H., encontrei que uma notável apreciação artística das cores formas e
quadros estavam determinados em forma similar, com esta diferença: que nela as observações e
fantasias infantis temporãs se referiam àquilo que podia ser visto. Por exemplo, neste caso, certo
matiz azulado nos quadros representava diretamente o elemento masculino; era uma fixação da
analisada à cor do pênis em ereção. Estas fixações resultavam da observação do coito, que a
levaram a comparações com a cor e a forma do pênis não ereto, e depois a observações de certas
mudanças de cor e forma em diferentes luzes, o contraste com o pêlo do púbis, e assim
sucessivamente. Aqui, baseie-a anal do interesse pela cor estava sempre presente. Pode-se
estabelecer repetidamente o fato desta catequização libidinal dos quadros, como representantes
do pênis ou do filho (o mesmo se aplica às obras de arte em geral e além de pintores, virtuosos e
artistas criadores, como representantes do pai.
Vou dar um exemplo mais do significado dos quadros como filho e pênis, sentido que
encontrei repetidas vezes na análise. Fritz, de cinco anos e meio, disse que queria ver a sua mãe
nua, adicionando: "Me agradaria ver tua barriga e o retrato de adentro". Quando ela lhe
perguntou "Queres dizer, onde estiveste tu uma vez?", contestou "Se, me agradaria olhar dentro
de tua barriga e ver se não há outro garoto adentro". Nessa época, sob a influência da análise,
sua curiosidade sexual se manifestou mais livremente e sua teoria do "menino anal" apareceu
em primeiro plano.
Em Fritz, era o movimento do pênis ao que ele estava fixado; em Félix, eram os sons
que tinha ouvido; em outros, os efeitos das cores. Por suposto para que se desenvolva o talento
ou a inclinação intervirão esses fatores especiais que já discuti em detalhe. Na fixação à cena
primária (ou fantasias), o grau de atividade, que é tão Importante para a sublimação mesma,
indubitavelmente determina também se o sujeito desenvolve talento para a criação ou para a
reprodução. Pois o grau de atividade influi seguramente o modo de identificação. Quero dizer, é
questão de se voltara na adoração, estudo e imitação das obras professoras dos demais ou se fará
um esforço para ultrapassá-lo s com suas próprias obras. Encontrei em Félix que o primeiro
interesse pela música que se manifestou na análise consistia unicamente em críticas aos
compositores e diretores de orquestra. À medida que foi liberando sua atividade, começou a
tratar de imitar o que ouvia. Mas num estado ainda maior de atividade apareceram fantasias nas
que o jovem compositor era comparado com os velhos. Ainda que aparentemente não fosse
questão de talento criador neste caso minha observação da forma na qual sua atividade, quando
se tornou mais livre, influenciava sua atitude em todas suas sublimações, proporcionou-me certo
entendimento da importância da atividade no desenvolvimento do talento. Sua análise me
demonstrou o que outras análises me confirmaram: que a crítica sempre tem sua origem na
observação e crítica da atividade genital paterna. Em Félix era claro que era espectador e crítico
17
ao mesmo tempo e que em sua fantasia ele também tomava parte do que via e ouvia como
membro de uma orquestra. Foi recém num estagio muito posterior de atividade liberada que
pôde ter confiança no papel paterno, isto é, recém então teria podido armar-se da coragem
necessária para ser ele mesmo um compositor, se tivesse tido talento suficiente.
Vou resumir. A fala e o prazer no movimento têm sempre uma catexia libidinal que é
também de caráter simbólico genital. Esta se efetua por intermédio da identificação temporã do
pênis com o pé, a mão, língua, cabeça e corpo, transferida depois às atividades de ditos
membros, as que adquirem assim o significado de coito. Depois do uso que fazem os instintos
sexuais dos instintos de auto-conservação em relação com a função de nutrição, as seguintes
atividades do eu para as que se voltam são a linguagem e o prazer no movimento. Portanto,
pode supor-se que a linguagem não só coincidiu à formação de símbolos e da sublimação, senão
que é ele mesmo o resultado de uma das primeiras sublimações. Parece, portanto, que quando
existem as condições necessárias para a capacidade de sublimação, as fixações, começando com
estas primeiras sublimações e em conexão com elas, prosseguem dando continuamente uma
catexia sexual simbólica a subseqüentes atividades e interesses do eu. Freud demonstrou que
aquilo que parece ser um impulso para a perfeição nos seres humanos é o resultado da tensão
nascida da disparidade entre o desejo humano de gratificação (que não é satisfeito por todo tipo
possível de formações reativas substitutivas e de sublimações) e a gratificação que obtém na
realidade Creio que devemos referir a este motivo não só o que Groddeck chama a compulsão a
fazer símbolos (42), senão também um constante desenvolvimento dos símbolos. Em correlação
com isto, o impulso constante para efetuar por meio das fixações uma catexia libidinal de mais
atividades e interesses do eu (por exemplo, por meio do simbolismo sexual) geneticamente
conectados uns com outros, e para criar novas atividades e interesses, seria a força propulsora na
evolução cultural da humanidade Isto explica também como é que encontramos a atuação de
símbolos em inventos e atividades cada vez mais complicados, tal como o menino avança
constantemente desde seus primitivos símbolos, jogos e atividades, para outros, deixando atrás
os primeiros.
Ademais, neste artigo tratei de assinalar a grande importância dessas inibições que não
podem chamar-se neuróticas. Há algumas que não parecem em si mesmas de nenhuma
importância prática e podem ser reconhecidas como inibições só em análises (em tudo o que
implicam só se faz análise infantil). Desse tipo é a falta aparente de certos interesses, aversões
insignificantes; em resumo, as inibições das pessoas sãs, que tomam os aspectos mais variados.
Mas chegaremos a atribuir-lhes muita importância quando consideremos com que grande
sacrifício de energia instintiva o homem normal adquire seu saí. "Se, não obstante, em lugar de
atribuir amplo significado ao termo impotência psíquico procurasse exemplos de sua peculiar
sintomatologia em formas menos marcadas, não poderíamos negar que a conduta no amor, dos
homens da civilização atual, demonstra em geral o caráter do tipo psiquicamente impotente"
(43). Há uma passagem em Introdução à psicanálise, no que Freud examina que possibilidades
de profilaxia poderiam oferecerem-se aos educadores. Chega à conclusão de que ainda uma
rígida proteção da infância (coisa muito difícil em si) é provavelmente impotente ante o fator
constitucional, mas que seria também perigoso se esta proteção chegasse a conseguir seu
objetivo demasiado bem. Esta observação se confirmou inteiramente no caso do pequeno Fritz.
O menino teve desde seus primeiros dias uma criação cuidadosa por pessoas influenciadas por
conhecimentos analíticos, mas isto não impediu que surgissem inibições e os rasgos de caráter
neurótico.
18
Por outra parte, a análise me demonstrou que as fixações mesmas que o conduziram às
inibições podiam formar a base de esplêndidas capacidades. Por uma parte, então, não devemos
valorizar demasiado a importância da assim chamada educação analítica, ainda que devemos
fazer tudo o que está em nosso poder para evitar todo dano mental ao menino. Por outra parte, o
tema deste artigo demonstra a necessidade de análise na temporã infância como ajuda a toda
educação. Não podemos alterar os fatores que conduzem ao desenvolvimento da sublimação ou
da inibição e a neurose, mas a análise infantil nos faz possível, numa época em que este
desenvolvimento está ainda em marcha, influir em sua direção em forma fundamental.
Notas
(3) Em Fritz apareceu em forma violenta (e isto me pareceu muito importante), com
todo o afeto adequado a ela Em outras análises não foi sempre assim. Por exemplo, em Félix, de
treze anos, a cuja análise me referirei repetidamente neste artigo, a ansiedade era com
freqüência reconhecida como tal, mas não era vivida com tal poderoso afeto. Em seu artigo "O
complexo de castração na formação do caráter” (1923), o Dr. Alexander assinala a grande
importância deste "vivenciar" afetivo. Isto é o que a psicanálise se propunha em sua infância, e
ao que chamava "abreacción".
(6) Ibíd.
(7) Em muitas análises pude estabelecer o fato de que os meninos com freqüência
ocultam aos que os rodeiam consideráveis quantidades de ansiedade, como se advertissem
inconscientemente seu significado. Nos varões está também o fato de que crêem que sua
ansiedade é covardia e se envergonham dela, e em realidade este é um reproche que geralmente
se lhes faz se a confessam. Estes são provavelmente os motivos para esquecer fácil e
completamente as ansiedades da meninice, e podemos estar seguros de que certa ansiedade
primária está sempre escondida por trás da amnésia da infância, e pode ser unicamente
reconstruída por uma análise realmente profunda.
19
(12) Ibíd.
(13) Ao escrever sobre a conexão entre "desprazer" e "angústia" nos sonhos, Freud diz
em Conferências de introdução à psicanálise: "A hipótese que resulta adequada para os sonhos
de angústia pode ser adotada também sem nenhuma modificação para os que sofreram certo
grau de modificação, e para outros tipos de sonhos desagradáveis nos que os sentimentos de
desprazer que os acompanham se aproximam provavelmente à angústia".
(14) Ainda nesta forma de repressão, na que a transformação sofrida pela angústia a
volta irreconhecível, indubitavelmente é possível efetuar a retirada de grandes quantidades de
libido Encontrei na análise de numerosos casos que o desenvolvimento de hábitos e
peculiaridades do indivíduo tinha sido influenciado por idéias libidinais.
(16) O resultado da repressão aparece então em forma notória algo depois (aos três ou
quatro anos, ou ainda sendo maiores) em certas manifestações, algumas das quais são sintomas
plenamente desenvolvidos, efeito do complexo de Édipo. É claro (mas o fato requer ainda
verificação) que se fora possível empreender uma análise do menino no momento do pavor
noturno ou pouco depois, e resolver sua ansiedade, se dissolveria o terreno subjacente à neurose
e se abririam possibilidades de sublimação. Minhas observações me levam a crer que não é
impossível fazer investigações analíticas em meninos dessa idade
(23) Freud: "As fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade" Ou.C., 9.
(24) Descobri com a análise, tanto de varões como de meninas, que era típico este
significado do futebol e também de todo tipo de jogos com pelotas. Ilustrarei esta afirmação em
outra parte; agora somente deixarei sentado que cheguei a esta conclusão.
(25) Seu grande prazer e habilidade neste passatempo tinham sido precedidos
originariamente por torpeza e desgosto. Durante a análise apareceu primeiramente uma
oscilação entre o prazer e o desgosto, que se deu também em relação com seus demais jogos de
movimento e esportes. Depois conseguiu um prazer e uma destreza perduráveis em lugar da
inibição, que tinha sido determinada pelo medo à castração. A mesma determinação se fez
evidente em relação com sua inibição (seu prazer seguinte) para andar em escorregador Ali
novamente atribuía especial importância às diferentes posturas assumidas. Descobrimos nele
uma atitude análoga para todo jogo de movimento e atlético.
20
(26) Era evidente que a raiz da patente de invenções e construções que fantasiava jazia
sempre nos movimentos e funções do "pipi", ao que suas invenções tinham como objeto
aperfeiçoar mais.
(27) Quando tinha dois anos e nove meses se escapou da casa e cruzou ruas de muito
trânsito sem demonstrar temor. Essa inclinação a escapar-se durou ao redor de seis meses.
Depois começou a mostrar uma marcada cautela frente aos motores (a análise demonstrou que
isto era angústia neurótica), e seu desejo de escapar-se tanto como seu prazer em vagar
pareciam ter-se desvanecido finalmente.
(28) O menino tinha tido uma recaída, que se deveu em parte a que, em meu desejo de
ser prudente, não tinha feito a análise bastante profundo. Parte do resultado obtido, no entanto,
tinha resultado duradouro.
(29) Conectado com plantar flores estava seu hábito de urinar em lugares
determinados de seu caminho.
(31) Suas associações de estar sujo com tinta eram: azeite e leite condensado, líquidos
que, como sua análise demonstrou , representavam em sua mente o sêmen. Era uma mistura de
fezes e sêmen o que supunha que teria no pênis de seu pai e de sua mãe.
(32) Isto era parte de uma fantasia, muito longa e sobre determinada, que deu material
a várias teorias sobre a procriação e o nascimento. Fritz proporcionou também outras
associações sobre uma máquina de sua invenção, por meio da qual podia atirar a corda a
diferentes partes do povo. Esta fantasia revelou novamente sua idéia de ter sido procriado por
seu pai, unida a idéias de coito por sua própria parte.
(33) Esta fantasia nos mostra que tinha determinado sua primitiva fobia pelos garotos
da rua, a que tinha desaparecido temporariamente. A primeira análise, que não foi bastante
profundo, não conseguiu resolver suficientemente as fixações, subjacentes à fobia e suas
inibições. Isto fez possível sua recaída. Este fato, considerado com maiores experiências em
análises de meninos, parecia-me demonstrar do que a análise infantil tanto como a análise
posterior deve chegar tão profundamente como seja necessário.
(34) Encontramos estas idéias em sua primeira análise (Cf. "O desenvolvimento do
menino"). Como a análise não foi bastante profunda, as fantasias unidas a essas idéias não
puderam ser liberadas. Fizeram sua aparição recém na segunda análise.
(35) Fezes.
(36) Quero referir-me aqui novamente a uma fantasia descrita em "O desenvolvimento
de um menino". Nessa fantasia os meninos "Cocô" baixavam alguns degraus desde o balcão ao
jardim (o quarto).
21
foram liberadas), exercia seu efeito também em seus interesses, porque sua esfera se ampliava
cada vez mais. Quero aqui chamar o atendimento sobre a grande importância das inibições no
jogo também desde este ponto de vista. A inibição e a restrição de interesse por o jogo
conduzem a uma diminuição das potencialidades e interesses, tanto na aprendizagem como no
completo desenvolvimento posterior da mente.
(38) Na discussão que teve lugar na reunião da Sociedade de Berlim sobre meu artigo
não publicado "Über die Hemmung und Entwicklung dês Orientierungssinnes" (maio 1921),
Abraham assinalou que o interesse na orientação, em relação com o corpo da mãe, é precedido
num estagio muito temporão por interesse na orientação em relação com o corpo do sujeito
mesmo. Isto é seguramente exato, mas essa primeira orientação parece compartilhar o destino
da repressão só quando se reprime o interesse na orientação em relação com o corpo da mãe,
desde depois pelos desejos incestuosos unidos a dito interesse; porque para o inconsciente, a
almejada volta ao útero materno e sua exploração se realizam por meio do coito. Fritz, por
exemplo, fazia que um perito (que freqüentemente representava ao filho em suas fantasias)
deslizasse-se pelo corpo de sua mãe. Ao fazer isto, tinha fantasias sobre países pelos que
vagava. Em seu peito tinha montanhas e cerca da região genital, um grande rio. Mas de repente,
o perito era detido por serventes -figuras de brinquedo- que o acusavam de algum crime e
diziam que tinha estragado o carro de seu padrão, e a fantasia terminava em discussão e luta.
Outra vez teve fantasias sobre viagens do perito. Este tinha encontrado um lugar bonito onde
pensava que lhe agradaria estabelecer-se, etc. Mas novamente tudo terminava mal, porque Fritz
de repente declarava que tinha tido que matar ao perito porque este pretendia tirar-lhe sua
choupana. Tinha tido também indicações temporãs desta "geografia do corpo da mãe". Quando
ainda não tinha cinco anos denominavam a todas as extremidades do corpo e à articulação do
joelho "limites" e chamava a sua mãe "uma montanha que ele escalava".
(39) Fritz, por exemplo, fez suas primeiras tentativas de desenho nessa época, ainda
que é verdade que não demonstravam sinais de talento. Os desenhos representavam vias de
transporte ferroviário com estações e povos.
(40) Nesta conclusão estou de acordo com o Dr. Hollós (1922), que chegou ao mesmo
resultado desde um ponto de partida diferente.
(41) Quero referir-me aqui a um interessante artigo do Dr. S Spielrein (1922), no que
em forma muito esclarecedora refere a origem das palavras infantis "papai" e "mamãe" ao ato de
chupeteo.
(43) S. Freud, "Sobre a mais generalizada degradação da vida amorosa", Ou.C., 11.
22