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IEP- INSTITUTO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM

TEORIAS E TÉCNICAS PSICANALÍTICAS

MÓDULO: INTRODUÇÃO À OBRA DE FREUD

RESENHA: ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER

ALUNA: NAYARA CRISTINA ZAGATTO

Agosto de 2022
Além do Princípio do Prazer

O autor começa, explicando que através da teoria psicanalítica, Freud através de


seus estudos nos revela suas suposições a respeito dos processos psíquicos, nos fazendo
supor junto a ele, que o funcionamento do processo psíquico é regido regularmente pelo
princípio do prazer, que refere se a evitar o desprazer, busca por satisfação gerando o
prazer. Dessa forma, tomando o princípio do prazer como um modo primário do
funcionamento do aparelho psíquico para auto-afirmação frente ao mundo externo,
todavia inútil mediante a circunstância que lhe coloca em perigo, influenciado pela
auto-conservação do Eu, é então substituído pelo princípio da realidade, que mesmo não
abandonando o desejo de satisfazer o prazer, o adia temporariamente aceitando o
desprazer, percorrendo outros caminhos, dando voltas por assim dizer em um longo
rodeio para então satisfazer- se, chegando ao prazer.

Freud adota neste texto, o ponto de vista econômico dos processos psíquicos
juntamente ao fator topológico e ao dinâmico, correlacionando o princípio do prazer ao
princípio de Constância, cuja função é dirigida a manter em baixa a quantidade de
excitação de energia, todavia tudo aquilo que é demandado ou propício ao aumento de
energia se torna disfuncional sendo reconhecido como desprazer. Esta descrição
apresentada toma a designação de metapsicológica. Dessa forma, não é correto afirmar
que o princípio do prazer seja dominante sobre os processos psíquicos.

Através de observações em relação as neuroses traumáticas, aos sonhos, as


transferências em análise que apontavam para a repetição dos traumas infantis, o autor
se questiona quanto ao papel exercido pelo princípio do prazer. O que se passa que o
sujeito repete o que te causa desprazer, escapando do princípio do prazer. Através do
entendimento do artigo apontou para uma direção determinante em sua obra, Freud nos
faz pensar que ainda que o aparelho psíquico esteja sobre a influência do princípio do
prazer, há tendências instaladas para além dele, para além do princípio do prazer, sendo
estas mais originais e independentes dele. Freud percebe que não é apenas isso e que o
princípio do prazer não domina e regula todos processos psíquicos, pois a prática clínica
mostra outra coisa, indo muitas vezes contra o prazer e direcionado ao desprazer.
A neurose traumática ocorre em decorrência de um choque que coloca a vida em
risco, onde assume a sua manifestação pela angústia, por variados sintomas e sonhos
repetitivos. Nos sonhos repetitivos tem como ponto principal a repetição desta situação
repetitiva, um ponto de observação e que vai contra a teoria de que o sonho é a
realização de um desejo. Já a repetição do jogo na criança, Freud observa seu neto de
um ano e meio, ao não protestar a ausência da mãe chama atenção, ao contrário a
criança brincava muitas vezes de jogar uma bobina de madeira amarrada a um cordão
para longe e depois puxar de volta, este ato estaria relacionado a mãe, onde fazia ela
desaparecer e aparecer novamente neste brincar.
Além disso, segundo Freud o menino tentava transformar esta experiência
desagradável da ausência da mãe, de uma atitude passiva, passa para uma ativa,
passando assim da passividade para a atividade e outra questão que ao lançar o objeto
para longe de si, o menino de certa forma pode satisfazer o impulso reprimido de
vingança por a mãe ter o deixado sozinho. Sendo assim, Freud conclui que o jogo na
criança teria como função ser uma forma de repetir as experiências que causaram o
desprazer na tentativa de controlar a situação emocional. Sendo viável pensar que este
brincar repetidamente pode levar a uma elaboração e estando colocada no princípio do
prazer.
“...o lançamento do objeto, de modo que desapareça, poderia constituir a satisfação de
uma pulsão, suprimido na vida, de vingar-se da mãe por ter desaparecido para ele, [...]”
(p.1 74).

No texto o autor ainda nos mostra a importância acometida pela sobrecarga da


energia psíquica (hipercatexia), quando descrever o sofrimento de uma violência
mecânica sem a preparação para a angústia, e seu efeito traumático a serviço da
proteção contra um distúrbio. De acordo com Freud a transferência seria a apresentação
de fragmentos que estão reprimidos, estes do passado infantil do sujeito e na análise
acaba se repetindo e abre a possibilidade de isto ser elaborado no presente, é o que se
busca na análise e que o autor aponta em seu texto “Recordar, repetir e elaborar”
(1914), mas entretanto em alguns analisandos este processo de elaboração vem a
fracassar e a repetição vem a se tronar uma compulsão à repetição, esta que não advém
do conflito entre consciente e inconsciente, que o inconsciente induzirá uma descarga
no consciente, de acordo com a teoria da primeira tópica freudiana no caso da neurose.
Se pode observar que esta compulsão à repetição não traz nenhum prazer, tanto na
análise como no cotidiano do analisando. Mas na análise mesmo não gerando nenhum
prazer ele acaba por repetir na transferência estas situações de desprazer, este repetir
compulsivamente seria um desejo ativo do analisando, entretanto inconsciente, por isso
ele não percebe.
Desse forma, Freud nos apresenta a pulsão de morte, rompendo com o dualismo
entre pulsões sexuais e pulsões de auto-conservação do Eu. Com a tese da libido
narcísica, onde o Eu passa a ser objeto de investimento, se converte em EROS,
desempenhando a pulsão de vida desde o início da vida se opondo à pulsão de morte,
que por sua vez se apresenta pela via da compulsão e repetição, gerando o desprazer que
está ligado ao princípio do prazer, envolto pela questão econômica dos processos
psíquicos.
Por fim, neste texto Freud coloca esta questão da compulsão à repetição como
algo que vai além do princípio do prazer, com isso introduz a pulsão de vida e o conflito
com a pulsão de morte.
Acredito que com essa obra de Freud, ele nos traz que pode existir um prazer no
desprazer, e isso pode ser pensado em relação a ganhos secundários em relação aos
sintomas, em que o ego se adapta e se acostuma as certas circunstância, mesmo quando
elas causam mal-estar e angústia, são colocações estranhas dizer que o indivíduo é
capaz de sentir prazer e gostar da dor, mas se pensarmos na compreensão em que a
psicanálise traz da psique e dos mistérios do inconsciente é completamente possível
aceitar esta visão.

Bibliografia: Freud, S. (1920) Além do Princípio do Prazer. Obras completas,


volume 14, companhia das letras.

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