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INSTITUTO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE RIBEIRÃO PRETO

ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIAS E TÉCNICAS PSICANALÍTICAS

Resenha: Repressão 1915

Módulo: Introdução à Obra de Sigmund Freud


Aluna: Nayara Cristina Zagatto
Gestor: Roberta Rodrigues de Almeida

Ribeirão Preto
Agosto de 2022
Incialmente, o autor traz o conceito de repressão, que remonta historicamente aos
primórdios da psicanálise. A primeira referência a ele que foi publicada, consta da
‘Comunicação Preliminar’ de Breuer e Freud (Edição Standard Brasileira, Vol. II, pág.
51, IMAGO Editora, 1974). O termo “Verdrängung” fora empregado pelo psicólogo
Herbart, no início do século XIX, e possivelmente chegou ao conhecimento de Freud
através de seu mestre Meynert, que tinha sido admirador de Herbart.

A teoria da repressão, para Freud ocorreu independentemente de qualquer outra


fonte. ‘Foi uma novidade’, escreveu em sua auto biografia (1925), e nada semelhante
havia sido reconhecido anteriormente na vida mental. Existem, nos escritos de Freud,
vários relatos de como ocorreu a descoberta: por exemplo, nos Estudos sobre a Histeria
(1895d), Edição Standard Brasileira, Vol. II, págs. 324-6, IMAGO Editora, 1974. Todos
esses relatos são unânimes em ressaltar o fato de que o conceito de repressão foi
inevitavelmente sugerido pelo fenômeno clínico da resistência, que por sua vez foi
trazido à luz por uma inovação técnica – a saber, o abandono da hipnose no tratamento
catártico da histeria.

Além disso, pode-se notar que os relatos feitos nos Estudos o termo realmente
empregado para descrever o processo não é “repressão” mas, sim “defesa”. Nesse período
inicial, os dois termos foram utilizados por Freud indiretamente, quase como
equivalentes, embora defesa fosse talvez o mais comum. Logo, contudo, como observou
em seu artigo sobre a sexualidade nas neuroses (1960a), Edição Standard Brasileira, Vol.
VII, pág. 288, anamnese do ‘Homem dos Ratos’ (1909d) Freud examinou o mecanismo
de repressão na neurose obsessiva, ou seja, o deslocamento da catexia emocional da ideia
objetável, em contraste com a expulsão completa da ideia da consciência, na histeria,
referiu-se a “duas espécies de repressão” (Standard Ed. 10, 196).

É nesse sentido mais amplo que o termo é utilizado no presente artigo, como fica
demonstrado pela discussão, que aparece quase no final, sobre os diferentes mecanismos
de repressão nas várias formas da psiconeurose. É claro, que todavia, a forma da
repressão que Freud tinha em mente, era sobretudo a que ocorre na histeria. Vale ressaltar
que Freud propôs restringir o termo “repressão” a esse único mecanismo particular, e
reviver “defesa” como uma designação geral para todas as técnicas empregadas pelo ego
em conflitos que possam levar a uma neurose.

No decorrer do texto o autor traz concepções das vicissitudes que um impulso


instintual pode sofrer é encontrar resistências que procuram torná-lo inoperante. Em
certas condições, que logo investigaremos mais detidamente, o impulso passa então para
o estado de “repressão” “Verdrängung”. Se o que estava em questão era o funcionamento
de um estímulo externo, obviamente se deveria adotar a fuga como método apropriado;
para o instinto, a fuga não tem qualquer valia, pois o ego não pode escapar de si próprio.
Em dado período, se verificará que a rejeição baseada no julgamento (condenação)
constituirá um bom método a ser adotado contra um impulso instintual.

O autor vai esclarecendo sobre um dos possíveis caminhos do impulso instintual,


que seria o de encontrar barreiras psíquicas que fariam com que o conteúdo permanecesse
oculto no inconsciente. Para que isso ocorra, impulso original deve ser transformado de
prazer em desprazer para o indivíduo. É importante ressaltar que quando o instinto causa
uma tensão muito grande, há a sensação de dor, e esta é imperativa sobre qualquer outra
sensação até ser aplacada. Como por exemplo, a fome, que não pode ser
reprimida.

O autor ainda revela que a condição para a repressão viria a ser o motivo do
desprazer adquira uma maior força do que o prazer da satisfação do instinto. Sua
essência se daria em rejeitar e manter alguma coisa afastada da consciência.
Além disso, existe a categorização em duas fases, que seria a repressão primordial, que
seria caracterizada pela negação do acesso do conteúdo psíquico a consciência, e a
repressão propriamente dita, caracterizada pelo ocultamento não só da ideia
representativa do instinto, mas tudo que é ligado a mesma. A repressão primordial ainda
viria causar uma fixação, pois a representação ideal do instinto não seria desvinculado
do impulso, como na outra fase.

Freud também destaca que, assim como os derivados do reprimido primordial se


distanciam bastante do representante reprimido e assumem deformações, sendo capazes
de ter acesso livre ao inconsciente. Seria justamente através do escape dessas
deformações à tona, que poderiam ser trabalhados aspectos daquilo que foi reprimido.
Além disso, ele também esclarece sobre como as piadas podem ser a transformação de
algo que produz desprazer em algo com prazer, através da supressão momentânea da
repressão.

Outro ponto importante a ser destacado seria o caráter individual da repressão


com cada derivado do instinto tendo um destino único e particular, e o caráter
móvel, já que demanda um constante gasto de energia para que o conteúdo
reprimido permaneça oculto. Se não houvesse esse contrainvestimento, a repressão cessaria
e uma nova precisaria ser criada para ocultar o conteúdo, o que justificaria a necessidade
dessa contrapressão energética.

A repressão, quando ocorre um acréscimo no investimento de energia, age como uma


aproximação com o inconsciente, tornando o conteúdo mais oculto. Já o contrário, quando
ocorre um decréscimo nesse investimento, um distanciamento ou uma deformação. Um
outro aspecto, além da ideia, que representaria o destino psíquico do impulso instintual,
seria o conteúdo afetivo. Que se desligou da ideia representativa do instinto e acha
expressão proporcional em processos de afeto. Como por exemplo, a angústia. O autor
continua desenvolvendo sua ideia, ao falar sobre como a formação substitutiva é um
resultado da repressão.

Referência Bibliográfica

FREUD, S. Repressão (1915). In: FREUD, S. A história do movimento psicanalítico.


Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. XIV.
Rio de Janeiro: Imago, 1986. p.145 à 162.

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