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CENTRO UNIVERSITÁRIO ÍTALO BRASILEIRO

PSICANÁLISE CLÍNICA – PÓS-GRADUAÇÃO


CURSO DE PSICOLOGIA – GRADUAÇÃO

MÓDULO/DISCIPLINA:

FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE I: Freud.


TEORIA PSICODINÂMICA: Freud.

Prof. Pe. Dr. Anselmo Matias Limberger


CRP 06-72.419
São Paulo – 2023
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FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE I: Freud.


TEORIA PSICODINÂMICA: Freud.
CONCEITOS PSICANALÍTICOS FREUDIANOS FUNDAMENTAIS1

- Faremos o estudo de premissas consagradas das obras de Freud, em uma leitura que seguem cinco
eixos/módulos, vários textos e determinados conceitos, desenvolvidos a partir das obras de Freud por
Luiz Carlos Mabilde.

* OS CINCO MÓDULOS SÃO:


- 1) Como era Freud no início (1895-1905).
- 2) Metapsicologia freudiana (1909-1917).
- 3) As três grandes revoluções (1920-1926).
- 4) Trabalhos metapsicológicos complementares e trabalhos culturais (1930-1939).
- 5) Trabalhos sobre técnica (1911-1915).

- Assim, mais do que explicar e definir cada conceito (o que pode ser feito em qualquer dicionário), o
principal objetivo desse trabalho será o de contextualizá-los dentro da obra freudiana.

- De forma secundária, sempre que necessário, aqui e ali, será apresentada alguma definição seguida de
comentários.

* MÓDULO 1: COMO ERA FREUD NO INÍCIO.


- Impõem-se, aqui, certas subdivisões, a fim de podermos, desde já, evoluir em direção aos conceitos
freudianos deste período.

A- PERÍODO PRÉ-PSICANALÍTICO.
1) Projeto para uma psicologia científica (1895a).
2) Estudos sobre a histeria (1895).
Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos (1893).
3) As neuropsicoses de defesa (1894-1896).

B- INÍCIO DO PERÍODO PSICANALÍTICO.


1) A interpretação dos sonhos (1900).
2) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905a).
3) Fragmentos de análise de um caso de histeria (Caso Dora) (1905).

* PERÍODO PRÉ-PSICANALÍTICO.
- Cabe destacar, deste período, três trabalhos:
* PROJETO PARA UMA PSICOLOGIA CIENTÍFICA.
- O Projeto é uma descrição pré-id da mente, mas já representa a tentativa de Freud (1895ª) de
estabelecer, em termos neurológicos, um modelo compreensivo dos fatos psicológicos.

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EIZIRIK, Cláudio L. AGUIAR, Rogério W. SCHESTETSKY, Sidnei S. e Colaboradores. Psicoterapia de Orientação Analítica,
fundamentos teóricos e clínicos. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed Editora, 2005. (Capítulo 5) e, FADIMAN, James & FRAGER, Robert.
Personalidade e crescimento pessoal. 5ª edição. Trad. Daniel Bueno. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004.
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- Muitas das ideias contidas no Projeto persistiram e se transformaram em conceitos fundamentais da
teoria freudiana, tais como associação (livre), interpretação, transferência e, sobretudo, sonhos.

* ESTUDOS SOBRE A HISTERIA.


- Esses estudos já representam, na realidade, o primeiro tratado psicanalítico de Freud (1895), tal a
quantidade de ideias contidas nessa monografia.

- Quatro conceitos importantes surgem aqui: repressão, associação livre, ab-reação - descarga
emocional pela qual o indivíduo se liberta do afeto que acompanha a recordação de um acontecimento
traumático e catarse: limpeza / purificação da alma pela descarga emocional.

- No trabalho sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos, Breuer e Freud (1893) elegem o
trauma psíquico como causa da histeria, substituindo assim a ideia da degeneração constitucional de
Janet.

- Diferente de Breuer, que achava que o trauma levava a um estado hipnoide e daí à histeria, Freud
entende a histeria em termos bem mais dinâmicos, ou seja, em função da repressão, termo que
empregou aqui pela primeira vez, mas já com o mesmo sentido que tem hoje: um mecanismo de defesa
que exclui da consciência impulsos inadmissíveis, o que significa, portanto, uma operação ICS que
retira completamente da consciência uma ideia (representação) ou um afeto inaceitável.

- É também neste texto (ESTUDOS SOBRE HISTERIA) que aparecem pela primeira vez os conceitos
de ab-reação e catarse, o que significou um afastamento da abordagem hipnótica de Charcot.

- A ab-reação é a descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto que acompanha a
recordação de um acontecimento traumático. Pode ser provocada, por exemplo, na hipnose, ou ocorrer
de forma espontânea no decorrer do processo psicoterápico. Dessa forma a ab-reação de um lado, e o
método catártico, do outro, constituem uma reação ao trauma, o qual era posto em palavras e, assim,
descarregado, desaparecendo os sintomas. O método catártico é um método de psicoterapia no qual o
efeito terapêutico procurado é a ‘purgação’ (catharsis), uma descarga adequada dos afetos patogênicos.
Esse tratamento permitiu para os indivíduos evocarem e até reviverem os acontecimentos traumáticos a
que esses afetos estavam ligados para ab-reagi-los.

Roudinesco (1998) é historiadora da psicanálise francesa, refere que o método catártico é o


procedimento terapêutico pelo qual um sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e, então, ab-
reagi-los, revivendo os acontecimentos traumáticos a eles ligados. A fala é o meio pelo qual estes afetos
são eliminados.
Dito de outro modo, o método catártico é um procedimento terapêutico pelo qual um indivíduo
consegue liberar, trazendo a nível CS, os sentimentos e emoções reprimidos que até então estavam em
seu ICS. Por meio da fala, o paciente tem oportunidade de se conectar com ideias recalcadas que
produzem sintomas atuais; podendo se libertar das consequências ou problemas que esses sentimentos
lhe causavam.

- Freud nunca desprezou completamente essa operação dentro da técnica analítica.

- Em A Psicoterapia da histeria, Freud (1895b) descreveu a sua notável descoberta da associação


livre, graças ao tratamento com Emmy Von N. pseudônimo de Fanny Moser, paciente de Freud
apresentada nos “Estudos sobre a Histeria” de 1985, a paciente da qual Freud disse ter utilizado pela
primeira vez o método “catártico”.
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Na história oficial das origens da psicanálise, atribuiu-se a Emmy von N. a invenção da cena
psicanalítica, como se atribuía a Anna O. a invenção do tratamento psicanalítico (por “limpeza de
chaminé”. Emmy “fabricou”, dizia-se, as interdições necessárias a uma nova técnica de tratamento,
fundada sobre o afastamento do olhar. Depois dela, o médico iria tornar-se psicanalista e instalar-se fora
da vista do doente, renunciando a tocá-lo e obrigando-se a escutá-lo. Apesar do mito, Emmy nunca foi
curada de sua neurose, nem por Freud, nem por seus outros médicos2.

- A importância da associação livre para o método psicanalítico foi tão grande que o próprio Freud a
intitulou a regra fundamental da psicanálise.

- A associação livre, consiste em solicitar, estimular e interpretar certas oposições a falar (sem censura)
tudo o que ocorre na mente do paciente.

- Como as associações levam ao reprimido, a associação livre é uma das vias de acesso ao ICS.

- Com os Estudos sobre a histeria, Freud (1895) apresenta o seu primeiro modelo psicológico – com
um referencial psicodinâmico – para compreensão e tratamento das histerias.

* AS NEUROPSICOSES DE DEFESA
- Freud (1914ª), em A história do movimento psicanalítico, declara que a teoria da defesa
(repressão) é a pedra angular sobre a qual se apoia toda a estrutura da psicanálise.

- Em dois trabalhos, já mencionados, sobre o tema, Freud (1894, 1896) faz aparecer pela primeira vez o
termo “defesa”, discute amplamente a sua teoria e, em função disso, demarca o campo das
psiconeuroses (histeria e obsessões).

- É a partir dessas considerações que Freud abandona a teoria da sedução (trauma), dá mais
importância para o papel das fantasias, abrindo as portas para a descoberta da sexualidade infantil e para
o complexo de Édipo. Na teoria da sedução Freud defende que as neuroses têm sua origem em abuso
sexual. Essa é uma das primeiras teorias definidas por Freud para compreender as crises histéricas das
suas pacientes.

- É também nesse último artigo que ocorre a convergência de novos mecanismos psicológicos, tais
como: os mecanismos obsessivos e a projeção, que viriam a desempenhar um papel muito importante
na teoria.

- Aparece ainda pela primeira vez e é definido o retorno do reprimido, entendido como um fracasso
da defesa contra a lembrança excluída da CS, que então reaparece.

- As defesas – que depois se ampliaram em número – ficaram mais conhecidas como mecanismos de
defesa do ego, que podem ser concebidos como operações desenvolvidas pelo ego: intrapsíquicas e
ICSs, com a finalidade de diminuir a tensão interna, sobretudo a ansiedade.

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Origem da psicanálise: http://www.revistavortice.com.br/2011/12/notorios-da-psicanalise-sra-emmy-von-n.html. Acesso: 22 OUT 2018.
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- Depois de Freud, outros autores, como Anna Freud, Melanie Klein e Lacan, contribuíram pra a
expansão do conceito: ‘mecanismo de defesa do ego’.

* INÍCIO DO PERÍODO PSICANALÍTICO


- Deste período – classicamente iniciado em 1900 – cabe destacar dois trabalhos, quais sejam, A
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS e TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDASE,
que, juntos, perfazem quase toda a inovação psicanalítica.

- A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS


- Esse trabalho era considerado por Freud (1900) o seu estudo mais importante.

- Em especial, o capítulo 7 apresenta a primeira concepção propriamente analítica do aparelho


mental, ou seja, a hipótese topográfica (CS, P-CS e ICS).

- Além disso, apresenta conceitos fundamentais, tais como: ICS e regressão; processo primário e
secundário.

- A interpretação dos sonhos foi o caminho por excelência para a descoberta do ICS.

- Como descoberta, o ICS pode concentrar – numa só palavra – toda a importância da obra freudiana
dentro do conhecimento humano. (cf. metapiscologia).

- O ICS, como sistema, funciona de acordo com leis especiais, que estão desprovidas da lógica, da
noção de tempo, espaço e causalidade, formando o que se denomina: processo primário do
funcionamento psíquico.

- É claro que o processo que leva em consideração a lógica e as demais leis racionais chama-se:
processo secundário.

* TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE


- Nesse trabalho, Freud (1905ª) explicita um dos seus conceitos fundamentais, o qual aparecera pela
primeira vez em Estudos sobre a histeria (1895) e fora desenvolvido há anos: série complementar, que
expressa, em termos explicativos, a sinergia existente entre: constituição hereditária e vivências
infantis.

- Com esse conceito, Freud apresenta a etiologia das neuroses e ultrapassa a obrigatoriedade de
escolher entre fatores endógenos e exógenos.

- Quanto à sexualidade infantil, igualmente básica nos Três ensaios (1905ª) considerava-a um dos seus
conceitos mais importantes e controvertidos.

- Hoje em dia, 2023, verifica-se que o conceito sexualidade infantil se tornou menos controvertido (a
cultura vigente o aceita melhor), mas continua sendo muito importante.

- Outros conceitos – diretamente implicados na sexualidade infantil - como amnésia infantil, zonas
erógenas, auto e alo-erotismo, prazer oral, anal e fálico, complexo de castração e complexo de Édipo,
estão no centro dos conflitos infantis.
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- Embora a expressão “complexo de Édipo” só apareça em 1919ª, o conhecimento e da prática de Freud


(1895), tanto junto a seus pacientes, sobretudo ao abandonar a teoria da sedução, quanto em sua
autoanálise.

- O complexo de Édipo é o ponto culminante da sexualidade infantil e no qual termina de se


desenvolver a pulsão sexual objetal; esta toma uma característica e uma direção incestuosa, razão pela
qual se intensifica a ansiedade castratória (inaugurada quando da descoberta da diferença entre os
sexos pela criança), o que põe fim ao próprio complexo de Édipo.

MÓDULO 2: METAPSICOLOGIA FREUDIANA

- Por metapsicologia pode-se entender um conjunto de modelos conceituais mais ou menos distantes
da experiência, tais como: a ficção de um aparelho psíquico dividido em instâncias; a teoria das pulsões;
o processo da repressão; entre outros.

- Isso significa ser a metapsicologia freudiana o que realmente caracteriza a maneira peculiar do
pensar psicanalítico, tanto que o termo foi criado pelo próprio Freud (1887, 1902) para designar a
psicologia fundada por ele (também conhecida como psicologia profunda) (Laplanche e Pontalis, 1967).

- Metapsicologia: é uma forma totalmente diferente de descrever um processo psíquico; parafraseando


Freud (1915ª), é descrevê-lo nas suas relações: dinâmicas, tópicas e econômicas.

- Estes são os três únicos pontos de vista meta-psicológicos que Freud descreveu e utilizou em suas
principais construções.

- Mais tarde, foram acrescentados os pontos de vista genético e adaptativo.

- Em 1905, Freud lançou quatro dos seus mais importantes trabalhos meta-psicológicos de uma só
vez, os quais trazem em seu íntimo conceitos fundamentais.

* SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO


- Em termos meta-psicológicos estritos, narcisismo significa libido investida no ego, ou seja, amor ao
ego.

- Neste trabalho, Freud (1914b) introduz, em definitivo, o conceito de narcisismo na teoria


psicanalítica, inclusive como um dos mais importantes, dadas as diversas implicações que contém.

- Antes disso (1909, 1910, 1911, 1911b, 1913), Freud já havia observado e estudado o conceito de outras
formas, ou seja, em um paciente muito parecido com Leonardo da Vinci, mas sem o seu gênio; no
trabalho sobre o próprio Leonardo, em que aparece pela primeira vez o conceito que, então, indicava um
tipo especial de relação de objeto (homossexual).

- No caso Schreber, em que o narcisismo era descrito como uma etapa do desenvolvimento
psicossexual, situada entre o autoerotismo e o amor objetal.

- Em: Dois Princípios da Vida Mental e em Totem e tabu, Freud exprime os mesmos pontos de vista.
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- Cabe destacar que é possível encontrar outros e diferentes enfoques e/ou aplicações para o termo
narcisismo, além dos citados, tais como: perversão, estrutura, ponto de fixação, defesa, etc.

- O conceito de narcisismo é central para o desenvolvimento da série meta-psicológica interligada de


1915 e, sobretudo, para a evolução dos conceitos de: ideal do ego, identificação e agente crítico, que
desembocam no conceito de superego.

* OS INSTINTOS E SUAS VICISSITUDES


- Freud (1915) desdobra nesse trabalho duas teorias – uma geral e outra especializada – para
explicar o processo de desenvolvimento do indivíduo em termos pulsionais.

- Pulsão, aliás, é o termo mais apropriado para a tradução do alemão trieb: pulsão/instinto.

- Mas é clássico mencionar o título do trabalho em questão como o termo “instinto”, o que vem a ser,
portanto, uma má tradução do vocábulo alemão.

- Pulsão: deve ser entendida como um produto da própria experiência do sujeito, ou seja, das vivências
de satisfação ficam resíduos das representações de desejo, que estão sempre dispostas a recuperar a
vivência de gratificação.

- Quando essas representações ICSs são investidas, elas se esforçam para obter satisfação,
originando-se então a pulsão, que é um conceito situado entre o biológico e o psíquico.

- Ao contrário da pulsão que é ontogenética (é o ser-aqui-e-agora); o instinto é filogenético (é o que


ocorre ao longo da vida) e se traduz por uma ação que se realiza sem prévia aprendizagem.

- É também nesse trabalho que Freud faz a exposição definitiva de seus pontos de vista sobre a pulsão.

- Antes disso (1905ª, 1907, 1910b, 1911, 1914b), Freud percorreu um longo e penoso caminho para
estabelecer suas teorias instintivas, que são didaticamente divididas em quatro passos.

- Nesse trabalho (1915), Freud apresenta o terceiro e o quarto passos, sendo este último o que
resulta nas clássicas pulsões amorosas e agressivas.

- Uma teoria instintiva agregada a esta última surge, em 1920, com os instintos de vida e de morte.

- Em 1905, nos Três ensaios, ao apresentar o primeiro passo de sua teoria instintiva (instinto do ego e
instinto sexual), Freud traz pela primeira vez o conceito de conflito, como expressão de duas tendências
de sentidos opostos que se chocam, no caso os dois instintos.

- Freud (1915) examina também, em Os instintos e suas vicissitudes, as quatro características de uma
pulsão, que dão absoluta primazia à pulsão sobre os demais constituintes da vida mental.

- São elas: pressão (força), meta (fim), objeto e fonte.

- Freud postula também as vicissitudes das pulsões.

- Por vicissitudes se pode entender a sujeição das pulsões a determinadas condições.


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- Freud menciona quatro dessas transformações: reversão de conteúdo, volta contra o self, repressão
e sublimação.

- Por sublimação se toma o único “mecanismo de defesa” exitoso do ego, executado por meio da
dessexualização da meta pulsional, que assim se torna aceita pela cultura e pelo seu representante dentro
do aparelho psíquico (o superego).

* O INCONSCIENTE – ICS.
- O ICS é uma das descobertas cruciais de Freud, talvez a principal.

- Como vimos, por ocasião da Interpretação dos sonhos (1900), na hipótese topográfica, o ICS tomou a
forma substantivada para indicar um lugar no aparelho psíquico, primeira tópica.

- Já na segunda tópica, (hipótese estrutural), ele parece ser uma qualidade, um adjetivo: o ego ICS, o id
ICS, o superego ICS.

- Mais do que uma suplantação da primeira, a segunda tópica pode ser vista de forma diferente, ou
seja, como uma complementação, na medida em que agrega novos níveis aos anteriores, os quais não
desaparecem e sim se enriquecem, podendo alcançar explicações de fenômenos que não se incluíam na
primeira tópica, tais como: o tema do ego, da CS moral do superego, do sentimento de culpa, entre
outras.

- As primeiras aproximações de Freud (1895, 1900) ao conceito de ICS acorrem a partir de grupos
psíquicos separados (da CS), origem dos sintomas neuróticos, e da ideia de que se podia trazê-los à CS
mediante a hipnose.

- Depois, as representações inconscientes constituem o segundo esboço conceitual do que chegaria a


ser o inconsciente reprimido.

- No trabalho que dá título a esta seção, Freud (1915b) caracteriza o ICS dinâmico ao estudar a sugestão
pós-hipnótica, as parapraxias (são fenômenos que obedecem a um mecanismo psíquico comum,
semelhante ao dos sonhos. Constituem a expressão manifesta de um desejo reprimido no ICS, que pode
ser descoberto através da associação livre. Lapsos da língua escrita ou falada, ações acidentais,
esquecimentos, troca de nomes e lugares), os sintomas, os sonhos e os esquecimentos.

- O ICS dinâmico é assim denominado por não se extinguir psiquicamente e por possuir efeitos sobre o
comportamento (ao contrário do ICS descritivo e topográfico).

- O próprio método psicanalítico se utiliza e procura explorar o ICS dinâmico, desvendando-o através de
sua permanente e derivada existência, incluindo a sua influência no comportamento do indivíduo.

- Ao ICS dinâmico corresponde o reprimido, o que nos leva a concluir que, do ponto de vista
dinâmico (distribuição de forças psíquicas), só existe um ICS.

- Porém, sob o CS propriamente dito (reprimido) e o P-CS, já que este último também se encontra fora
da CS em dado momento. E, do ponto de vista sistemático (conjunto de funções), existem três: as
partes ICSs do ego e do superego e o id.
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- Como se vê, descritivamente, é fácil definir ICS: é tudo que está fora do campo atual da CS.

- Já na visão dinâmica, fica mais complicado: designa um dos sistemas da segunda tópica de Freud,
constituído por conteúdos aos quais foi recusado o acesso ao P-CS pela ação da repressão.

* LUTO E MELANCOLIA
- Freud (1917) considerava esse trabalho uma extensão do estudo sobre narcisismo, o qual
escrevera um ano antes.

- Em Luto e melancolia, Freud desenvolve duas linhas básicas:


= por um lado, retoma o tema da instância crítica – que, no trabalho anterior, era responsável
pela paranoia – a fim de explicar a melancolia, o que, mais adiante, levou à hipótese do superego e a
uma nova avaliação do sentimento de culpa;
= por outro lado, faz um exame dos problemas envolvidos com a natureza da identificação,
do qual resulta uma evolução desde a ideia de vê-la como associada à fase oral, passando pela
concepção que a considera uma fase preliminar da escolha objetal identificação primária para,
finalmente, descrever a sua característica mais importante (e que é o mais destacada no trabalho): um
investimento libidinal em um objeto é substituído por uma identificação (por exemplo, após uma perda
de objeto, como na melancolia).

- IDENTIFICAÇÃO é um processo ICS, não uma simples imitação, expresso em uma apropriação
parcial ou total de aspectos de uma outra pessoa.

- Assim, em termos conceituais, a identificação se faz só com objetos.

- Como vimos, a identificação foi adquirindo progressiva importância na obra de Freud.

- De início, relacionada aos sintomas histéricos, depois em termos de incorporação oral, como
exemplificado nas fantasias canibalísticas de Totem e tabu (1913).

- Mas é, sobretudo, no papel desempenhado por ela na formação do objeto interno, tanto na constituição
da melancolia quanto (e principalmente) na formação do superego, que a identificação assume grande
magnitude.
MÓDULO 3: AS TRÊS GRANDES REVOLUÇÕES

- Freud (1920, 1923, 1926) procedeu, em três trabalhos clássicos, ao que se poderia denominar de
grandes revoluções, exatamente pela propriedade que tais trabalhos tiveram de mudar, de forma
extraordinária, a teoria freudiana.

- Até hoje, 2023, a psicanálise reconhece e utiliza os seus efeitos na aplicação do método analítico e em
desenvolvimentos teóricos.

- Quer dizer, se Freud já havia feito muito até aqui pelo conhecimento da vida mental, acabou fazendo
ainda muito mais.

* ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER


- Freud (1920) apresenta nessa obra aquele que seria o seu conceito mais revolucionário (o instinto
de morte) e o que, pelo seu caráter especulativo, suscitou a maior divisão entre os psicanalistas.
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- Essa elaboração teórica constitui um agregado ao quarto passo da teoria instintiva de Freud.

- Como o título sugere, o que levou Freud a essa elaboração teórica foram fatos, observados por ele, que
contradiziam o princípio regulador do aparelho mental, o princípio do prazer.

- O princípio do prazer, na realidade, vem a ser o resultado da evolução conceitual em torno da


intrigante questão dos princípios reguladores da atividade psíquica, tema das preferências de Freud;
começa com o princípio da inércia, analisado no Projeto (1895ª), para significar a tendência de
retornar ao estado inerte.

- Segue-se o princípio da constância, presente nos Estudos sobre a histeria (1895), de características
homeostáticas, ou seja, a busca por manter um nível baixo e constante de energia no psiquismo.

- Em Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental (1911b), é enunciado o


princípio do prazer, em contraposição ao princípio da realidade.

- Neste trabalho, de acordo com a própria ação do instinto de morte, aparece o princípio de nirvana,
tomado por empréstimo do budismo, que buscaria o estado ideal de energia zero.

- Foram quatro situações básicas: princípio da realidade; retorno do reprimido; traumas e


compulsão à repetição; que levaram Freud à conclusão de que nem tudo na vida psíquica correspondia
ao objetivo de evitar o desprazer e proporcionar prazer.

- Como se vê, embora a noção do princípio do prazer se mantenha por toda a obra, ficou difícil
articulá-la com outras referências teóricas, o que deu lugar a esse trabalho.

- De acordo com o instinto de morte, todos os seres vivos tendem a retornar ao estado inanimado,
alterando assim o próprio entendimento do papel do instinto de vida: este não visa a preservar a vida (o
que, aliás, não ocorre), mas possibilitar que a morte seja alcançada de forma natural.

- Além do princípio do prazer é o resultado de trabalhos anteriores, nos quais Freud (1895ª, 1911b,
1914b, 1915, 1919) percorreu longo caminho estudando os fenômenos de repetição e os princípios
reguladores da atividade psíquica.

- Neste trabalho de 1920, a compulsão à repetição é vista como expressão do instinto de morte.

O EGO E O ID
- Com esse trabalho, Freud (1923) formulou uma nova e mais completa descrição da mente e de
seu funcionamento (teoria estrutural).

- São apresentadas as três macroestruturas, quais sejam: (das ich; das über ich und das es); o ego,
tanto como self quanto estrutura, com atribuições e funções executivas; o superego (primeiro
aparecimento do termo), como equivalente do ideal do ego; e o id, como depositário das pulsões.

- Para chegar a esse resultado, Freud (1895ª, 1900, 1910, 1910ª, 1911, 1911b, 1914b, 1915b, 1917,
1920) procedeu a várias análises detalhadas a respeito da estrutura e do funcionamento do ego (lato
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sensu): começou no Projeto (1895ª), mas já no capítulo 7 da Interpretação dos sonhos (1900) aparecem
sinais de mudanças, com a hipótese topográfica substituindo a do Projeto (1895ª).

- A hipótese do narcisismo, por sua vez, inclui considerar o ego como tendo funções; por outro
caminho, os estudos sobre os sonhos levam aos trabalhos meta-psicológicos de 1915, os quais, em seu
conjunto, tratam do funcionamento mental e da estrutura.

- Assim, O inconsciente (1915b), o ego passa a fazer parte do sistema inconsciente, o que, na realidade,
vem a ser o progenitor do ego estrutural.

- Já em Luto e melancolia (1917), aparece a ação do ideal do ego, o progenitor do superego.

INIBIÇÕES, SINTOMAS E ANSIEDADE


- Foi através desse trabalho que Freud (1926) substituiu a primeira teoria da ansiedade (teoria
traumática) pela segunda, ou seja, a teoria da ansiedade-sinal.

- Tal mudança implica inverter imediatamente a formulação da primeira teoria (a repressão leva à
ansiedade) para a que encontramos (é a ansiedade que leva à repressão e aos demais mecanismos
de defesa).

- A ansiedade é o afeto desprezado por excelência, é o mais comum; os outros são a dor física, a dor
psíquica [luto] e o masoquismo moral.

- O ego quer sentir a ansiedade e se defende dela e daí surgem as neuroses.

- Como se vê, o conceito de ansiedade é central em Freud, tanto ao teorizar sobre o funcionamento
psíquico normal quanto ao se deter no conflito e nas neuroses.

- A ansiedade-sinal constitui o uso que o ego faz de uma catexia (quantidade de energia que penetra
no aparelho psíquico e é percebida pelo polo percepção-consciência) experimental, a qual aciona o
automatismo desprazer-prazer (princípio do prazer), a fim de testar a realidade e evitar o desprazer.

- Nota-se, assim, que a consideração básica de Freud em relação à ansiedade, tanto na primeira quanto
na segunda teoria, refere-se à noção de perigo externo.

- Na primeira teoria, o perigo externo leva à ansiedade realística, e o interno, à neurótica.

- Na segunda teoria, o perigo causa a ansiedade automática, se externo; e a ansiedade-sinal, se interno.

MÓDULO 4: TRABALHOS META-PSICOLÓGICOS COMPLEMENTARES E TRABALHOS


CULTURAIS

- O destaque a ser feito, nesse trabalho, recai sobre a explicação dada por Freud (1921) sobre a
gradual diferenciação que vai ocorrendo no ego, dando lugar ao ideal do ego (o ideal do ego é
um componente do superego e herdeiro das exigências narcísicas dos pais); este, mais tarde, dá
lugar ao superego, mas não perde a sua importância dentro da teoria, além, é claro, de fazer parte do
próprio superego.
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- O ideal do ego constitui a evolução do conceito de agente crítico, o qual se faz presente em Schreber
(1911), Sobre o narcisismo: uma introdução (1914b) e Luto e melancolia (1917), em que Freud examina
a sua característica e principalmente as implicações de sua ação sobre o ego, do que resultam a paranoia
e a melancolia.

- Como se vê, até esse trabalho de (1921), Freud explica o ideal do ego de uma forma isolada e separada
de outros conceitos, dando-lhe mais uma tópica.

- Depois, em O ego e o id (1923), conceitualiza-o como sinônimo de superego e, finalmente, em Esboço


de psicanálise (1938), considera-o uma subestrutura dentro do superego, com seus componentes e/ou
funções junto à consciência moral e à auto-observação.

- O ideal do ego gera uma das máximas do superego: “Assim você deve ser”.

- Ele é o herdeiro das perfeições do narcisismo original e da sexualidade auto-erótica e, portanto,


reconhecida como narcisista do ego.

- Assim, pode-se dizer que o ideal do ego é o herdeiro do narcisismo original e das identificações com
os pais idealizados da infância.

- Sobre essas identificações primárias se edificarão as secundárias, que terão matizes hostis,
ambivalentes e constituirão o superego definitivo.

- De qualquer modo, uma vez formado o ideal do ego, o narcisismo sofrerá mudanças, pois o ego
buscará, com seus atos, assemelhar-se ao ideal, ou seja, se sentirá estimado por ele ou com sentimento
de culpa, conforme consiga gratificá-lo ou não.

- Mediante a auto-observação, o superego exigirá do ego que seja como o ideal, castigando-o pela
consciência moral quando ele se situa longe desse objetivo.

- A posteriori da instalação do superego, vão se incorporando a ele novas características do ideal do


ego, ao se incluir neste o ideal de uma comunidade, de um grupo, etc.

- Os grupos humanos se formam por meio de vínculos identificatórias entre os egos dos indivíduos que
os integram.

- Assim, um deles será eleito como ideal do ego e se tornará o líder do grupo, à semelhança do pai
infantil.

- A diferença entre identificação do ego com o objeto e substituição do ego do ideal do ego por um
objeto é exemplificada, neste trabalho, por dois grupos artificiais (o Exército e a Igreja), facilitando a
compreensão do papel do ideal do ego nos fenômenos grupais.

- Como se nota, Freud (1921) dá sequência, aqui, aos trabalhos que examinam as questões culturais,
além dos problemas meta-psicológicos.
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- Dentro da temática da cultura e suas implicações, Freud tratou disso primeiro em Totem e tabu (1913)
e, depois, em Futuro de uma ilusão (1927), Mal-estar na civilização (1930), Por que a guerra (1933) e
Moisés e o monoteísmo (1939).

* O MAL-ESTAR DA CIVILIZAÇÃO
- Este trabalho ultrapassa bastante a sociologia que seu título sugere.

- Na realidade, ele discute dois temas da maior importância para a psicanálise:


a) o antagonismo irremediável entre as exigências e as restrições da civilização;
b) a agressão ou destruição.

- Quanto ao primeiro item, muito cedo Freud (1897) disse que o incesto é antissocial e que a civilização
consiste numa progressiva renúncia a ele, além de conferir a ele a responsabilidade pela dimensão das
neuroses.

- Mas uma avaliação clara do papel desempenhado pelos fatores externos e internos nessas restrições só
foi possível nesse trabalho (1930), portanto, depois que as investigações sobre a psicologia do ego o
levaram às hipóteses do superego e do sentimento de culpa.

- É baseado em tais conclusões que Freud declara ser o sentimento de culpa o mais importante problema
no desenvolvimento da civilização.

- Por agressão entende-se a tendência de levar a cabo a ação de danificar o objeto, destruí-lo, humilhá-
lo.

- Freud (1905) começou a estudá-la por meio do sadismo, vendo-o, por exemplo, nos Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade, como um instinto componente ou parcial do instinto sexual.

- Só mais tarde, depois de muita relutância e complicações, conforme se constata no desenvolvimento da


teoria instintiva, é que Freud (1920) admitiu a agressão como independente, ainda que derivada do
instinto de morte.

- Quer dizer, a agressão não só é independente como também se opõe aos esforços civilizadores.

- A busca de aniquilação pode se estender a todo o mundo exterior, inclusive o inanimado.

- Somada à renúncia ao prazer sexual (descoberto como meio para a felicidade), a inclinação para a
agressão é o fator que mais perturba nossa relação com o próximo e obriga a civilização a um grande
dispêndio de energia.

- No final das contas, o homem civilizado trocou uma parcela de felicidade por uma parcela de
segurança.
MÓDULO 5: TRABALHOS SOBRE TÉCNICA

- Chama-se técnica psicanalítica um conjunto de procedimentos e recursos utilizados por Freud


com seus pacientes, a fim de que eles:
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a) Conheçam o seu inconsciente ou os seus desejos inconscientes, preenchendo as lacunas
mnêmicas, ocorridas durante o desenvolvimento da sexualidade pela ação da repressão.
b) Obtenham maior conhecimento do ego, principalmente dos mecanismos de defesa
inconscientes e das resistências que deles provêm.
c) Tenham maior conhecimento do id e de suas pulsões, bem como do superego, em especial de
sua parte inconsciente, pois, do contrário, ele atua como resistência à cura para satisfazer a
necessidade de castigo.
d) Percebam as distintas partes inconscientes, correspondentes do id, ego e superego, por meio
da análise do significado dos sintomas, dos sonhos, dos atos falhos, das memórias encobridoras, etc.

- Essa tarefa vai conduzindo a uma construção de verdades históricas, que foram determinando a forma
de estruturação das pulsões e do aparelho psíquico.

- Quer dizer, as construções e interpretações vão tornando mais próximo o passado infantil, a pré-
história do complexo de Édipo, inclusive pelas repetições na transferência.

- Esse é o caminho da cura analítica, pela qual o sujeito se sentirá mais unido a seus afetos e desejos,
aceitando-os como próprios, porém diferenciando-os da ação, elegendo quando e como conduzi-los,
ligando-os por meio de um ego mais pré-consciente e mais livre das imposições superegóicas.

- Do ponto de vista evolutivo, como vimos, Freud (1895), em Estudos sobre a histeria, forneceu uma boa
descrição de sua técnica atual baseada na sugestão e pressão.

- Disso, rapidamente, ele evoluiu para o que passou a chamar de método analítico (técnica usada na
análise do Homem dos ratos, em 1909ª).

- Finalmente, no período entre 1912 e 1915, Freud escreveu seis artigos sobre a técnica, os quais
abrangem um grande número de temas importantes e que, até pela escassez, tornaram-se clássicos.

- Desses artigos, Mabilde se atem a três para destacar outros conceitos fundamentais.

* O MANEJO DA INTERPRETAÇÃO DE SONHOS EM PSICANÁLISE

- É exatamente neste trabalho que Freud (1911ª) define e integra a interpretação dentro da dinâmica do
tratamento, ou seja, como um procedimento do analista submetido a certas regras técnicas (nível, tipo,
ordem, formulação, oportunidade, etc).

- Antes disso, em Estudos sobre a histeria (1895), por exemplo, ela era vista apenas como uma forma de
fazer ressurgir as recordações patogênicas.

- Assim considerada, a interpretação caracteriza a psicanálise, ou seja, evidencia o sentido latente de um


material.

- E foi a atitude freudiana para com o sonho que constituiu o primeiro modelo de interpretação, sendo o
seu objetivo por final desvendar o desejo inconsciente e a fantasia que o envolve, tornando-o consciente.

- Mas a interpretação não é reservada apenas aos sonhos, aplicando-se a quaisquer produções
inconscientes e, mais comumente, a tudo aquilo que traz a marca do conflito psíquico.
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- A interpretação é o principal instrumento técnico do analista, fruto do trabalho associativo prévio do


paciente, dos símbolos universais, dos seus sintomas (como símbolos mnêmicos) ou dos conhecimentos
anteriores de sua história.

* A DINÂMICA DA TRANSFERÊNCIA
- A transferência é um fenômeno observável na clínica psicanalítica e possui uma explicação
fenomenológica e uma meta-psicológica.

- A fenomenologia é a que resulta do translado do afeto de vivências do passado para o presente, no


caso, para o psicanalista.

- Sob o vértice da metapsicologia, o que ocorre é um deslocamento de um quantum de energia libidinal


de uma representação objetal inconsciente, com a qual mantém um tipo de relação associativa
(contiguidade, analogia ou oposição).

- De início, Freud (1895, 1900, 1905, 1909) tratou da transferência como um simples deslocamento, não
a incluindo na essência da relação terapêutica.

- Nesse trabalho de 1912, Freud faz a sua primeira exposição de conjunto do fenômeno, o qual toma um
caráter verdadeiramente psicanalítico, por um lado, ao assumir a função de repetir a análise protótipos e
imagos – de modo especial, pais e irmãos – na pessoa do analista, o qual se insere em uma das séries
psíquicas do paciente; por outro lado, pelo fato de que esse tipo de transferência favorece a resistência.

- Freud (1914, 1920, 1926) ocupou-se outras vezes do conceito, em especial para acentuar as inter-
relações como a compulsão à repetição (por seu caráter repetitivo) e com a resistência (por seu caráter
de oposição à cura).

* RECORDAR, REPETIR, ELABORAR


- Por resistência se entende a expressão clínica da defesa inconsciente, realizada automaticamente pelo
ego ante a pulsão ou a ansiedade-sinal.

- Esse acontecimento é frequente no tratamento analítico e dá lugar a períodos negativos no processo


analítico, em que o conhecimento do inconsciente do paciente não progride, pois seu ego está mais
dedicado a defender-se do que a se conhecer.

- Uma das formas de instalar-se essa resistência do ego é pela transferência, que passa a ter, então, uma
característica negativa e a converter-se em um obstáculo para o desenvolvimento do tratamento.

- Porém, assim como é um sério obstáculo, a transferência torna-se um dos principais recursos técnicos
da análise, pois por meio dela se revive, no vínculo com o analista, os traumas reprimidos da infância.

- Freud (1926), com base na observação clínica e na teoria estrutural, descreveu cinco tipos de resistência:
a) do ego: repressão (e demais mecanismos de defesa), transferência e ganho secundário.
b) do superego: reação terapêutica negativa.
c) do id: compulsão à repetição.

- Na verdade, o conceito de resistência colaborou decisivamente para o aparecimento da psicanálise, uma vez que foi o
reconhecimento da sua natureza obstrutiva ao processo analítico que levou Freud (1895, 1920, 1926,1937) a desenvolver
novas técnicas, as quais configuram novas e importantes teorias.

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