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Burnout: sequela da covid não reconhecida pela Justiça

Em 2020 o Brasil registrou um recorde de 289.677 concessões de afastamento


do trabalho por transtornos mentais. Mas a lei não vê o “burnout” –
esgotamento comum na pandemia – como razão para proteger o trabalhador

Outra Saúde - Saúde Mental - Por Lucas Scatolini - Publicado 01/04/2022 - às


06:30 - Atualizado 01/04/2022 às 13:32

A Organização Mundial da Saúde já alertava em 2018 para uma epidemia de


transtornos mentais, como ansiedade e depressão, e que elas seriam uma das
maiores causas de invalidade laboral. Dois anos mais tarde, com a chegada da
pandemia, a previsão se concretizou. Segundo o Ministério do Trabalho e
Previdência, o Brasil registrou 289.677 concessões de afastamentos por
transtornos mentais em 2020 – 29% a mais do que o registrado em 2019, e a
maior alta já registrada no país. Mas houve outro problema na pandemia, o
estresse no trabalho, que é o famigerado transtorno de burnout. Mas a Justiça
brasileira não considera o burnout fator suficiente para culpar empresas. Ainda
que associado à ocupação, já que ele demanda fatores individuais além de
ambiente hostil e cobranças.

É uma situação difícil, já que dividir a vida em diferentes compartimentos, por


causa da pandemia, tornou-se um fardo para muitos – sem contar a
insegurança pelo contágio da covid. Um artigo, publicado ontem
no JOTA, busca dar mais esclarecimentos. Ele lembra que, em fevereiro deste
ano, a condição entrou na nova classificação internacional de doenças e
problemas associados à saúde (CID-11). No entanto, “O fato de constar na CID
não significa que o burnout seja doença. Para dar uma ideia, problemas como
sedentarismo, pobreza ou ameaça de perda de emprego estão na mesma
categoria. Então, do ponto de vista da CID-11, dizer que há um diagnóstico
de burnout é o mesmo que dizer que há um diagnóstico de pobreza ou
sedentarismo; identifica uma situação, não uma doença”, explica Daniel Barros,
psiquiatra forense do Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas da
USP.

A matéria buscou casos concretos em que a tentativa de provar uma doença


profissional na Justiça foi frustrada. “Pela própria definição, o burnout sempre
terá relação com o trabalho. Já se pensarmos ‘ter sido culpa do trabalho’, é
possível negar o nexo”. Na Justiça, portanto, situações vivenciadas no trabalho
não precisam ser a única causa para que se considere uma doença
ocupacional subsequente ao burnout. “Em uma síndrome como o burnout, os
sinais são menos específicos do que em uma doença. Ainda assim, é um
sofrimento. Mas com o trabalho em home office pode ser mais difícil pesar as
demandas que geraram o problema”, diz a psicóloga Miryam Maziero,
integrante do Grupo de Saúde Mental e Psiquiatria do Trabalho, ligado ao
Hospital das Clínicas.

Fonte: https://outraspalavras.net/outrasaude/burnout-sequela-da-covid-nao-
reconhecida-pela-justica/ acesso 22/09/2022

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