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MESTRADO EM HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Nome: Fabiano Simeão Aluno: 2022105

DEPRESSÃO E O CONTEXTO LABORAL

A depressão, uma das chamadas “doenças do século XXI”, vem ganhando maior ênfase
no cenário mundial, nos temas relacionados a saúde, e também nas pautas de reuniões
empresariais e de profissionais, nos temas de saúde e segurança ocupacional e
qualidade de vida / bem-estar no trabalho.

A forma como se deu a evolução do trabalho, a ascensão da tecnologia e o impacto


dessas alterações na forma de ser, estar e viver das pessoas, ao longo dos anos, assim
como os fenômenos associados a esses fatores, tais como: ritmo de vida acelerado,
competitividade do mercado laboral, tanto para as empresas (para atender às demandas
do mercado), como também a nível de trabalhadores (para entrar no mercado e para se
manter nele) foi aos poucos, aumentando a importância da inclusão desse tema no
contexto social, a ponto de chegar ao nível dos assuntos principais da sociedade pós-
moderna. (CAVALHEIRO e TOLFO; 2011).

A depressão pode ser entendida, consoante Cavalheiro e Tolfo (2011) e Lelis et al.
(2020), como um transtorno originário de vários fatores que afeta desde a saúde mental,
ambiental e físico do indivíduo, que pode se manifestar em qualquer altura do seu ciclo
de vida e que produz alterações na sua forma de ver o mundo e sentir a realidade.
Também pode ser interpretada como um problema de saúde pública, pelo grau de
sofrimento e associação com os altos índices de suicídio. Mesmo com variadas bases
científicas utilizadas para a sua definição (base psi, base biológica ou biomédica), os
sintomas centrais da depressão, por senso comum, são: a tristeza sem motivo
justificável, o desânimo, o desinteresse pela vida e pelo trabalho, a irritabilidade, a
inapetência e a insônia. O sentimento de vazio, de falta de sentido na vida e de
esgotamento caracterizam os casos mais graves, chegando às ideias e tentativas de
suicídio. Outro aspeto importante da depressão é o silêncio e/ou a dificuldade de falar,
que o deprimido apresenta.

Teixeira (2007) descreveu que a doença atinge a todas as raças, idades e profissões.
No contexto laboral, ao analisar de forma mais ampla e abrangente os casos registados,
é possível agrupar esses profissionais, por similaridades de natureza do trabalho, da
seguinte forma:

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Ano: 2022/2023
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• Profissionais que trabalham em constante contacto com o público – lojistas,


consultores imobiliários, professores;
• Profissionais que trabalham isolados e/ou com contacto restrito – controladores
de tráfego aéreo, ferroviários (operadores de comboio)
• Profissionais de saúde – profissionais da área da enfermagem e serviços
relacionados. Essa área sempre sofreu com carência de mão de obra, por
diversas razões, incluindo a depressão, mas que só depois da pandemia por
covid-19, ganharam destaque no cenário dos cuidados à saúde mental.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 300 milhões de pessoas


sofrem de depressão e a doença está associada a cerca de 800 mil mortes por suicídio,
anualmente. Apesar de acometer mais mulheres, são os homens que apresentam os
maiores índices de suicídio. A depressão também se encontra entre os principais
motivos de afastamento do trabalho, e, portanto, entre os principais motivos de
pagamentos de subsídios, pela Segurança Social.

Apesar dos números, ainda há muita desconfiança e desconsideração relacionada à


deteção, diagnóstico e aceitação da depressão, conforme Cenci (2004) relatou em seu
trabalho. Devido ao fato de ser idiopática, a depressão pode originar de outros
transtornos pré-estabelecidos, como por exemplo o stresse, ou tristeza devido a uma
perda significativa para o indivíduo, pelo que, essas combinações ou derivações podem
dificultar a realização de um diagnóstico preciso.

As abordagens medicamentosas são atualmente aceitas e consideradas como


legítimas, no que remete à existência da depressão. Como resultado, milhões de
pessoas tomam antidepressivos, regularmente, com o intuito de aliviar o sofrimento e
resolver os problemas da depressão. (CAVALHEIRO e TOLFO; 2011)

É preciso uma conscientização a respeito desse tema, de modo a promover uma quebra
do paradigma que existe sobre as questões da depressão e do deprimido. Pessoas com
depressão ainda são um estigma para a sociedade, visto que, no contexto laboral (mas
também em outros), a perspetiva sobre essas pessoas, como sendo loucas,
preguiçosas, ou fracas de caráter, persiste. (CENCI; 2004). A depressão deve ser
entendida como uma doença e logo, a pessoa deprimida, deve ser percebida, como
uma pessoa doente.

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O trabalho em si, tal como o contexto laboral, com toda a sua carga histórica, significa
mais do que garantia de sobrevivência do trabalhador e sua família, ou um instrumento
de cidadania. Por intermédio do trabalho é que se faz a conceção e a efetivação de uma
construção e divisão ética de seus frutos. Isso jamais deve levar ao desprazer e à
doença.

Em concordância com Teixeira (2007), a reflexão se faz necessária diante dos fatos que
vem sendo apurados (registos, análises estatísticas, etc), visando a discussão sobre a
depressão e sua relação com o trabalho, tendo-se em conta a sua complexidade e sua
relação com os aspetos psicossociais. A teoria do nexo causal, amplamente difundida e
aplicada na área da Segurança e Saúde Ocupacional, tem apresentado pouca
relevância, quando se trata em estabelecer uma relação entre a depressão e o contexto
laboral. E tem sido um dos grandes desafios dos profissionais da área Psi.

O êxito na vinculação da depressão ao contexto laboral, pouco a pouco, permitiu uma


ampliação e ao mesmo tempo, agregação de ideias e profissionais, tornando a Saúde
e Segurança Ocupacional um conceito mais amplo e de cariz multiprofissional. Dessa
trajetória, resultou o consenso de que, das condições e o meio ambiente do trabalho
podem surgir o quadro de depressão. E com isso, a saúde mental, tema global no qual
a depressão está inserida, está a ganhar lugar de destaque nas áreas de Saúde e
Segurança Ocupacional, devido ao trabalho desses profissionais. (TEIXEIRA; 2007).

Há muito que se fazer relativamente a esse tema, como por exemplo, o reconhecimento
unânime das questões psicossociais no contexto social e laboral, a respeito da
depressão, cujo estatuto de existência, no cenário atual, é atribuída à subjetividade.
Outra lacuna é a carência de trabalhos publicados nessa temática, pelo que, dificulta a
obtenção de resultados mais tangíveis.

A Saúde do Trabalhador, numa abordagem ampla e multiprofissional, incluindo a esfera


da saúde mental, já é uma tendência em vetor de crescimento e sem previsão de
estagnação…

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALHEIRO, G; TOLFO, S. R. Trabalho e depressão: um estudo com profissionais


afastados do ambiente de trabalho. (2011, mai/ago). Psico-USF [online].
https://www.scielo.br/j/pusf/a/vCXsfpGWPZCRk5yZGnQbmmk/?lang=pt

CENCI, C. M. B. (2004, jan/jun). Depressão e contexto de trabalho. Revista Aletheia


[online]. ISSN 1413-0394. https://www.redalyc.org/pdf/1150/115013442004.pdf

LELIS, K. C. G.; BRITO, R. V. N. E.; PINHO, S. e PINHO, L. (2020, junho). Sintomas


de depressão, ansiedade e uso de medicamentos em universitários. Revista Portuguesa
de Enfermagem de Saúde Mental [online]. ISSN 1647-2160.
https://doi.org/10.19131/rpesm.0267.

TEIXEIRA, Sueli. (2007, jul/dez). A depressão no meio ambiente do trabalho e sua


caracterização como doença do trabalho. A Revista do Tribunal do Trabalho 3ª Região
[online]. https://as1.trt3.jus.br/bd-
trt3/bitst0ream/handle/11103/27332/Sueli_Teixeira.pdf?sequence=1

World Health Organization. Depressão. https://www.paho.org/pt/topicos/depressao

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