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A trilha menos percorrida – M.

Sccot Peck

Disciplina

Problemas e sofrimento:

A vida é difícil / A vida é sofrimento (Buda).

Viver é sofrer, pois envolve diariamente o enfrentamento de problemas.


Problemas que muitas das vezes nos causam dor, quando não físicas, dores
mentais e desconforto. Dizem os sábios que tudo que dói, faz crescer. Quando
enfrentamos e resolvemos nossos problemas e dores de maneira aberta,
crescemos e amadurecemos enquanto pessoas. Porém grande parte das
pessoas evitam entrar em contato com seus problemas e dores, utilizando
comportamentos de esquiva / fuga. Isso, segundo Jung, constitui uma das
maiores fontes de adoecimento psíquico. “A neurose é sempre uma substituta
do sofrimento legítimo”.

A disciplina constitui a principal ferramenta no processo de enfrentamento de


tais problemas, possibilitando resolvê-los e crescer através deles. O autor
elenca algumas técnicas de enfrentamento de problemas presentes na
disciplina que são fundamentais para o seu enfrentamento, possibilitando
experimentar construtivamente a dor dos problemas de forma a crescer com
eles:

1- Adiamento da gratificação – processo de organizar o sofrimento e o


prazer na vida, fazendo com que primeiro realizemos as tarefas
aversivas para ficarmos livres delas e em seguida aproveitar as tarefas
prazerosas. Em geral o adiamento da gratificação começa a ser
desenvolvido quando criança e sendo aprimorado com o tempo. Está
diretamente relacionado à educação familiar.
Os pais constituem a principal figura de referência para os filhos, sendo
que o exemplo passado por eles (pais) exerce maior influência do que
as regras emitidas. Não adianta dizer uma coisa e fazer outra.
Pais que amam os filhos, dedicam um maior tempo em sua criação,
inteirando-se de suas rotinas, dos acontecimentos diários, dando
conselhos, sermões quando necessário, ouvindo, conversando, etc.
O amor constitui uma poderosa ferramenta para a disciplina.
Crianças verdadeiramente amadas se sentem valiosas. Quando alguém
se sente valioso, cuida de si mesmo de todas as maneiras possíveis, ou
seja, se sentir amado e valioso constitui uma importante fonte de saúde
mental, contribuindo para a autodisciplina e para o manejo do sofrimento
que a vida pode representar.

Quando nos deparamos com situações que muitas das vezes


ultrapassam a nossa capacidade de resolvê-las, devemos nos perguntar
será se dediquei o tempo necessário para resolver esse problema?
Devemos dedicar o tempo necessário para aprender algo novo ou
resolver algum problema, caso contrário apenas ficaremos frustrados.

Nossos problemas não se resolvem sozinhos, não adianta ignorá-los ou


deixar que eles se intensifiquem para só assim resolvê-los. A resolução
de problemas antes que as circunstâncias nos forcem a fazê-lo, está
diretamente relacionada ao adiamento da gratificação.

2- Responsabilidade – Um problema só pode ser resolvido depois que


assumimos a responsabilidade em resolvê-lo.
O primeiro passo para a resolução de um problema é admitir que ele
existe.

Neurose e desordem de caráter

A neurose é caracterizada pelo excesso de culpa que o indivíduo possui


em relação a si mesmo e aos outros. Todos os problemas que ele
enfrenta são culpa dele, assumindo total responsabilidade por tudo.
Já os indivíduos com desordem de caráter delegam a culpa e
responsabilidade de seus problemas a fatores externos. São difíceis de
serem tratados, pois não reconhecem a necessidade de ajuda.

Existem também os neuróticos de caráter, misturando as duas


características acima citadas.

Essas duas características estão presentes em todos nós em maior e


menor grau. Crianças possuem maior tendência à desordem de caráter,
colocando a culpa sempre em fatores externos. Adolescentes podem
apresentar neuroses.
Indivíduos neuróticos tendem a estragar a própria vida, enquanto que
indivíduo com desordem de caráter estragam a vida dos outros,
atribuindo a eles a culpa por seus fracassos pessoais.

“Se você não é parte da solução, então é parte do problema”.

Fugindo da liberdade –

“A dificuldade que temos de aceitar a responsabilidade por nosso


comportamento, está no desejo de evitar sofrer suas consequências”.

O primeiro passo para resolvermos nosso problema é admitir que temos um


problema, tomando a responsabilidade dele para si mesmo, para assim
podermos resolvê-lo. “Pá e enxada”.

Diferentemente da criança que possui uma dependência extrema de seus


pais, tendo pouco ou nada de poder decisório, os adultos possuem o
arbítrio da decisão, podendo escolher tomar para si a responsabilidade de
sua vida ou terceirizá-la jogando no colo de outro a culpa de seus
problemas e insatisfações.

3- Dedicação à realidade – Cada indivíduo possui a sua própria verdade e


sua noção da realidade. Viver de forma plena enfrentando as
adversidades que a vida impõe, pode significar abrir mão de algumas
verdades para abraçar outras. Como em um mapa em que vamos
preenchendo na medida em que obtemos informações. Viver significa
estar preparado para abraçar novas informações, abandar outras e
aceitar mais algumas, ainda que confronte nossas verdades.

Transferência = conjunto de modos de perceber o mundo e reagir a ele.


Ocorrendo nas relações entre diferentes indivíduos.

Abertura ao desafio = “para conhecermos o mundo devemos não só


examiná-lo, mas também examinar simultaneamente o examinador”.

Toda autodisciplina pode ser considerada como uma forma de aprender a fazer
o inatural. Não somos criados para a disciplina, porém aprendemos a
desenvolvê-la ante as necessidades que a vida nos impõe. Conhecer a nós
mesmos é ponto de partida para amadurecermos nossas relações humanas,
para lidarmos com os problemas e a dor causada por eles, de uma forma
honesta e efetiva.

Começar a fazer psicoterapia constitui um ato de coragem, pois envolve


confrontarmos nosso hábitos naturais, ou seja a psicoterapia constitui um ato
inatural.

“Por outro lado, é por terem essa coragem, que muitos analisandos, mesmo no
início da terapia, e ao contrário da imagem estereotipada, são pessoas
basicamente bem mais fortes e sadias do que a média.

“A cura do espírito só é completa quando a abertura ao desafio se torna um


modo de vida”.

A mentira é uma forma de evitar o sofrimento legítimo, provocando como


consequência, doenças mentais.

“Uma das raízes da doença mental é, invariavelmente, o sistema interligado de


mentiras que nos contaram e que contamos uns aos outros.

Ocultando a verdade -

Mentiras pretas – é quando fazemos afirmações que não são verdadeiras.


Mentiras brancas – é quando deixamos partes importantes do conteúdo de
fora, ocultando dados.

Omissão seletiva de opiniões = serve como um mecanismo de proteção,


fazendo com que a pessoa não lide com conteúdos não essenciais naquele
momento.

4- Equilíbrio - “Para sermos livres, devemos assumir a total


responsabilidade por nós mesmos, mas ao mesmo tempo ser capazes
de discernir e rejeitar a responsabilidade que não é realmente nossa”.

O equilíbrio é a disciplina que nos dá flexibilidade.

A raiva – em sua nuance filogenética, a raiva foi incutida em nós como forma
de sobrevivência. Sentimos raiva sempre que percebemos que estão tentando
invadir nosso território geográfico ou psicológico ou de alguma maneiro
procurando nos diminuir. A raiva nos leva a revidar, para não sermos pisados,
aumentando nossas chances de sobrevivência.

O equilíbrio é uma disciplina exatamente porque o ato de renunciar a alguma


coisa e doloroso.

A renúncia é uma das mais dolorosas experiências humanas.

Renunciar aos nossos comportamentos disfuncionais, significa reconhecer a


necessidade de mudança. Esse processo muitas vezes constitui uma afronta
aos padrões culturais difundidos por nossa sociedade, principalmente no
tocante ao sexo masculino que passar uma imagem de virilidade e força. A
partir do momento em que reconhecemos a necessidade de ajuda, e a
buscamos, rompemos com tais paradigmas e caminhamos rumo ao
crescimento e amadurecimento enquanto ser.

Renunciar a antigos conceitos e formas de interpretar as coisas, pode acabar


ocasionando em crises existenciais.
Renúncia e renascimento – Nossa vida é uma série de mortes e nascimentos
simultâneos, em que a dor da renúncia é a dor da morte, sendo a morte do
antigo o nascimento do novo. Para cada nascimento uma morte, para cada
morte uma dor.

Para adotarmos a renúncia como forma de crescimento pessoal e espiritual,


primeiramente deveremos ter algo a que renunciar.

Amor

Para o autor o amor consiste na vontade em se empenhar ao máximo para


promover o próprio crescimento espiritual ou o crescimento espiritual de outra
pessoa.

“Nem tudo que parece amor, realmente é”.

Apaixonar-se -

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