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As 12 camadas da personalidade humana

segundo o professor Olavo de Carvalho


por Redação Brasil Paralelo

O professor Olavo de Carvalho desenvolveu a teoria das 12 camadas da


personalidade humana a partir de seu conhecimento e análise sobre as motivações
das pessoas. A partir daí, acrescentou os elementos fundamentais para que a
teoria se tornasse uma psicologia geral.

Esta é a contribuição de sua teoria: ajudar a compreender o que motiva uma


pessoa em cada etapa de seu desenvolvimento como personalidade. A motivação
é o que nos faz agir.

Abordaremos as 12 camadas e os objetivos e sofrimentos próprios de cada


uma.

Neste artigo, faremos uma síntese didática, contando também com


as contribuições que o psiquiatra Italo Marsili acrescentou ao conteúdo. 

Para que serve o estudo das 12 camadas da personalidade?


A teoria das 12 camadas descreve em que etapa da vida nos
encontramos. Com este reconhecimento, podemos identificar as causas de
nossos sofrimentos e o nosso principal objetivo ou motivação na vida.

Outro benefício é poder estabelecer algum grau de previsibilidade dos desafios


que estão por vir nas camadas seguintes.
Contextualização sobre pessoa, camada e personalidade
Antes de entender as 12 camadas, precisamos entender o que é a personalidade e
o que é pessoa.

O que é pessoa?
Uma definição técnica de pessoa que encontramos no século XII é:

“Substância individual de natureza racional”.


Isto é correto, entretanto alguns espanhóis pensaram o conceito de uma forma
mais encarnada, mais presente, real e tocante. Para homens como Julián Marías,
Ortega y Gasset e Pedro Laín Entralgo, por exemplo, uma pessoa está sempre
instalada em um lugar e sempre possui um projeto de vida, uma intenção
própria.

Em comparação, objetos não são assim. Eles não podem opor-se ao uso que lhes
damos. Uma cadeira nunca poderá reclamar de nos assentarmos sobre elas. Com
as pessoas é diferente, elas podem resistir aos eventos e ações do mundo ou dos
outros.

Sobre a instalação em um lugar, na realidade, as pessoas possuem um corpo –


com uma certa forma, idade e possibilidades –, estão em algum lugar, possuem
carga cultural e têm uma projeção. Isto significa que potencialmente pode
realizar algo a partir de suas circunstâncias. 

As pessoas podem buscar ser o que ainda não são, desde que isso seja
possível de acordo com sua realidade.

Para Ortega y Gasset:


“Eu sou eu e minhas circunstâncias”.
Pessoas também possuem um mundo interior muitíssimo vasto. Quando olhamos
para alguém, é impossível saber o que realmente se passa em seu interior, a
menos que fale. O mundo interior de cada pessoa é dinâmico, não estático, tende
à felicidade ou à infelicidade.

O que é personalidade?
O que é possível chamar de seu em você mesmo? Há algo que apenas você
possui e nenhuma outra pessoa tem. Isto é a personalidade, aquilo que está
presente em nossa pessoa de uma maneira única e mais forte. É o que temos de
próprio e não é compartilhado, algo exclusivamente nosso.

Na psique, ou seja, em nossa mente, a personalidade é o fruto da articulação que


acontece durante a vida, entre o mundo externo e o mundo interno. A vida está
acontecendo e cada pessoa assimila dentro de si os acontecimentos do mundo,
criando projetos e constituindo motivações para agir.

Em sua personalidade está seu mundo espiritual, psicológico e afetivo, suas


crenças e ideias. O tempo passa e cada um, por sua constituição e história de
vida, apresenta certas razões para agir, certas motivações.

É precisamente neste aspecto que entra a teoria das 12 camadas da personalidade


humana. À medida que as camadas mudam, a intenção ou motivação da pessoa
com sua ação também muda.

Em cada camada, as pessoas absorvem os acontecimentos do mundo de


forma diferente, filtrando o que vai ingressar em sua psique. Da mesma
forma, mudará como se manifesta, como reage aos acontecimentos.

 Quanto menos personalidade, mais genérica é a pessoa, com motivações mais


genéricas. 
 Quanto mais personalidade, mais singular é a pessoa, muito mais única, com
motivações mais específicas.
Em cada uma das doze camadas da personalidade, as pessoas reagem de formas
distintas à seguinte pergunta: 

“Como agir concretamente nesta situação?”


Ora a motivação é ser feliz e não racional, ora é o dinheiro, ora a convivência, ora
Deus e assim por diante.

As motivações que levam alguém a agir, alteram-se durante o curso da vida.


Veremos que são 12 motivações autoconscientes e diferentes.

O que é camada?
A camada é a síntese da personalidade, seu resumo e momento. Ela é o que dá
a finalidade dos atos, ou seja, dita o objetivo das ações, a razão de se viver.

Em cada uma há preocupações e tensões, são eternas e não desaparecem. Quando


se muda de camada, não se deixa de sentir o que era da outra. Elas apenas deixam
de ser o elemento central.

As camadas seguintes absorvem os objetivos e sofrimentos das anteriores.

Além disso, os objetivos da camada seguinte são sempre incompreensíveis para


os indivíduos nas camadas anteriores.

A mudança entre as camadas


Antes de vermos cada uma das 12 camadas da personalidade humana, é preciso
entender que a mudança entre elas ocorre apenas quando a personalidade
inteira muda. O objetivo de vida da pessoa torna-se outro, todas as energias
voltam-se para uma nova realidade.
A mudança está no fim, naquilo que se almeja. Portanto, veremos 12 propósitos,
12 motivações para viver e agir no mundo.

Em cada mudança de camada, notaremos um novo padrão de


autoconsciência. Estas motivações correspondem a uma escala de evolução
individual e cronológica.

Camadas Integrativas
As camadas 1, 2, 5, 6, 8 e 11 fecham a personalidade em um quadro definido.

Camadas Divisivas
As camadas 3, 4, 7, 9, 10 e 12 abrem a personalidade para que ela receba
influências externas, que rompem o equilíbrio antecedente. Nelas, há a luta
por uma nova integração, que será superior.

Para Gaston Berger, todas as camadas até a 8 estão presentes em todo indivíduo
adulto normal. Nem todos, porém, alcançam as próximas.

Para descobrir rapidamente a camada em que as pessoas se encontram, basta


perguntar: “Onde dói?”. Cada camada tem um sofrimento próprio e, ao ser
descoberto, revela-se também a motivação da pessoa.

As 12 camadas da personalidade
As 12 camadas da personalidade, segundo o professor Olavo de Carvalho,
são:

1. Astrocaracterologia;
2. Psicologia do destino;
3. Aprendizado;
4. Afeto interior;
5. Autodeterminação do Ego;
6. Conquista de habilidades;
7. Papel social;
8. Eu diante da Morte;
9. Vida intelectual;
10.Vida Moral;
11. Eu histórico;
12.Eu diante de Deus.
1ª camada da personalidade: Caráter, camada integrativa, astrocaracterologia
Esta camada da personalidade ainda não é consciente. Não temos acesso a esta
motivação, mas podemos conhecê-la. Notamos que algumas pessoas são de um
jeito, outras são de outro e que já existe, naturalmente em cada um,
uma tendência anterior à consciência.

Ninguém escolhe ter determinadas inclinações ou propensões e isto já está lá, em


seu corpo, antes de ser tornar consciente como indivíduo. Notamos uma
facilidade em agir de um jeito e uma dificuldade em agir de outro. Isto já está
dado.

Pense em uma mesa de sinuca. 

Perceba seu formato, sua aparência e sua função. Ao observá-la como um poeta,
é como se a ouvíssemos chamar para ser jogada, como se quisesse ser usada. Em
outro exemplo, um drink quer ser bebido, embora não tenha vontade, consciência
ou algo parecido.

Isto ilustra que algumas características desejam aparecer no mundo, querem


ser realizadas. Nós temos características corporais anteriores ao surgimento da
consciência e elas conduzem a manifestar-nos de uma forma e não de outra.

A constituição física, moral e intelectual nos leva a ter aptidões diferentes. Será


preciso dominar o corpo, no sentido de se entender como uma unidade:
engatinhar, caminhar, dormir, acordar, etc.

E porque o nome Astrocaracterologia? 


Para o Professor Olavo de Carvalho, esta é a ciência que poderia explicar as
características anteriores ao corpo, em comparação com os astros. Se funcionaria
não é o que está em questão.

Resumindo
A motivação da primeira camada da personalidade é própria do sujeito e
anterior a tudo. O corpo é a pré-condição da existência da personalidade e
está dado no nascimento. Assim como a mesa de sinuca quer ser jogada, cada
pessoa aparece no mundo de uma forma, com um jeito de “funcionar” que não
muda até a morte.

Notamos facilidade ou dificuldade em agir de uma certa maneira e nada muda a


existência desta inclinação. Ela está presente. 

Pense em si mesmo. Você nota o que lhe demanda esforço, que a outros não?
Nota no que tem facilidade, que para outros é uma dificuldade?

Atenção! Isto não tira a liberdade de ninguém. Trata-se apenas do


reconhecimento de que há em cada um algo como um “chamado”, uma
“convocação” para agir de uma forma. 

Temos que olhar para nós mesmos e perceber que “sou isto” e não aquilo.

São características de instalação na realidade pelas quais agiremos e


construiremos nossa personalidade. Estas características não subtraem a
liberdade, mas definem o ser. 

Por exemplo, o homem perdeu a liberdade de dar à luz? Não, mas suas
características masculinas o definem como uma coisa e não como outra.

Sofrimento
Neste caso, que envolve apenas o corpo, são as doenças.
Objetivo principal
Dominar a natureza do próprio corpo, a própria constituição física.

2ª camada da personalidade: Hereditariedade, constituição, temperamento,


estrutura pulsional
Esta camada é quase inconsciente. Na primeira, vimos uma motivação que
envolve a constituição do corpo. Nesta, notamos a hereditariedade. Mas não
tem nada a ver com a biologia, a genética e os cromossomos.

Para explicar melhor esta camada da personalidade humana, o psiquiatra Italo


Marsili recomenda o conceito de outro psiquiatra, o húngaro Lipot Szondi. Ele
fala sobre a Teoria do Inconsciente Familiar.

Ele diz que é possível explicar o que motiva as pessoas, entendendo que seus
antepassados pedem a repetição de seus sucessos e fracassos. Para o Dr. Lipot
Szondi, há nas pessoas uma inclinação a repetir os processos de seus
familiares antepassados. Isto nos ajuda a compreender o que o Professor Olavo
propõe nesta etapa da teoria das doze camadas.

Ao teorizar sobre o inconsciente familiar, é como se pensássemos em uma linha


pelas gerações. Ela começa nos parentes que vieram antes de nós e sua ponta
desenrolada está conosco. O recém-nascido sofre o impacto das condições
físicas externas e adversas ou de tendências mórbidas de sua
hereditariedade. 

Já aconteceu de você se perceber agindo de uma forma e nem saber o porquê,


além de notar que seus antepassados também fizeram o mesmo?

Uma canção de Belchior retrata isso de forma análoga em um de seus trechos:

“Minha dor é perceber / Que apesar de termos / Feito tudo o que fizemos / Ainda
somos os mesmos / E vivemos / Ainda somos os mesmos / E vivemos / Como os
nossos pais”.
Resumindo
Esta camada também está fora de seu controle, como a primeira. Não há como
escolher não herdar os desejos e tensões dos antepassados. É possível escolher
como lidar com eles, o que é diferente e garante sua liberdade.

Estas duas camadas apresentam tensões que estarão sempre conosco: um corpo
que se manifesta de um certo modo e uma herança familiar. São um material
bruto e o que virá será construído sobre este substrato, sobre esta realidade que
nos forma e da qual não há como escapar.

Sofrimento
Envolve os próprios problemas hereditários e não está sob o controle do
indivíduo.

Objetivo principal
Provar e gostar das experiências vividas.

3ª camada da personalidade: Cognição, percepção


Nesta camada, aparece pela primeira vez uma motivação consciente na
pessoa: o aprendizado primário. Surge o elemento de liberdade e
indeterminação.

Não se trata do aprender para se gabar, enriquecer, passar em provas, por


curiosidade ou para se sentir bem. Quando uma criança começa a aprender,
sua motivação é primária e o conhecimento não é instrumento de outra
intenção.

No desenvolvimento infantil, a etapa dos “porquês” é fundamental. Seu mundo é


um mundo de descobertas. Quando a criança começa a brincar e descobrir como
o mundo funciona, ela está iniciando uma relação com a realidade.
Este aprendizado não é delimitado pela hereditariedade ou pelas condições
físicas. Nada disto influencia as oportunidades de aprendizado ou determina a
capacidade de absorver as coisas.

Resumindo
Esta é uma camada da personalidade que o adulto já perdeu. É a motivação do
aprendizado pelo aprendizado por si mesmo, não o intelectual, mas o de
cálculo do funcionamento do mundo.

Qual o tamanho do mundo para uma criança? O que é possível fazer? O


aprendizado medirá justamente isto, sem preocupação com vitórias ou derrotas.

Aqueles que passaram aproximadamente dos 10 anos, não retornam mais à


terceira camada, porque já compreendem como o mundo funciona e não mais
aprendem pelo aprendizado em si. 

Apenas autistas graves e pessoas com retardo mental ou lesão em certas áreas
cerebrais retornam ou ficam presas à terceira camada da personalidade.

O aprendizado desta etapa é básico: como articular membros, musculatura,


fala e sua extensão, etc.

Piaget dedicou-se a pesquisar sobre o desenvolvimento e o aprendizado das


crianças. Outras contribuições foram dadas por Kholer, Gestalt, pelo
behaviorismo, Festinger e pela psicologia da linguagem.

Pense na criança que não come tudo no prato e desperdiça os alimentos. Um


discurso sobre a fome na África não tem efeito nenhum, pois ela não entende
conceitos, não sabe o que é a África, a fome, o dinheiro, as consequências.

Por isso é importante conhecer a teoria das 12 camadas da personalidade


humana, para não tentar motivar uma pessoa de um modo que não faça
sentido. É preciso entender com quem se está falando para tocar as motivações
certas.
A motivação básica da criança é organizar o mundo, por isso, até
aproximadamente os 6 anos de idade, elas precisam do mundo material
organizado e não de conceitos. Precisam de ordem, alimentação, higiene e sono. 

Sofrimento
Nesta camada, o sofrimento tem a ver com o sucesso ou o fracasso no
aprendizado. Não há traumas, a duração da dor é curta e a evolução natural do
indivíduo a supera. São dificuldades vencidas com o tempo, exercícios e
nutrição, principalmente.

Objetivo principal:
Exercer a liberdade no aprendizado.

4ª camada da personalidade: História pulsional e afetiva, camada decisiva

Se alguém chega à vida adulta ainda na quarta camada, dela não sai sozinho. É
preciso psicoterapia, segundo o Professor Olavo de Carvalho. 

O que temos nesta motivação? O surgimento do mundo da afetividade, a


percepção de um certo sofrimento, uma certa carência, que surge de um
afeto não preenchido ou não recebido.

Isto acontece na chamada segunda infância, na pré-adolescência em geral. Se a


pessoa não tiver recebido um tipo específico de afeto de seus pais ou parentes, ela
terá problemas na adolescência e na vida adulta.

Qual é este afeto que não pode faltar para que a quarta camada seja
superada? 

É preciso que os pais ou parentes próximos ofereçam um afeto: 

 Abnegado;
 Constante;
 Gratuito;
 Benévolo.
Não é uma questão de ser o amigão da criança, do filho, etc. Ele também tem
seus amigos com quem brincar. Cabe aos responsáveis dar segurança para seu
desenvolvimento. A criança precisa olhar para seus pais e notar que eles estão
preocupados com ele, não com o filho do vizinho ou outros interesses
mesquinhos.

A criança espera ver ações de justiça nos pais, de confiança, de atenção ao que
estão vivendo. O que não pode acontecer da parte de quem deve garantir
amor, segurança presença e afeto é a indiferença, a despreocupação e a
desatenção.

Até que tal afeto seja sentido, um buraco permanece aberto no coração. As
pessoas na quarta camada buscam a validação de seus sentimentos, de seus
afetos. Permanecem presas buscando fazer o que toca seus sentimentos ou os
sentimentos dos outros. 

Pela primeira vez surge a questão da felicidade e da infelicidade. Ela não


surge mais cedo porque é natural que o homem seja feliz. Pensa-se também: Sou
amado ou rejeitado?

Resumindo
A motivação aqui vista é a do sentimento pelo afeto ou carinho do outro. Por
isso notamos o vitimismo, no qual tudo o que acontece é levado para o lado
pessoal, sentimental, autorreferente. A pessoa se vê de uma forma especial, com
direito a praticamente tudo. Em sua concepção, as pessoas devem servi-la.

Quem está preso na quarta camada não percebe que existe um mundo
objetivo acontecendo independentemente de como ele se sente. Ele não
distingue o mundo real do imaginário. A psicanálise freudiana aborda a quarta
camada com o conceito de transferência. Klein e a psicanálise em geral também
desempenham um papel nela.
Uma vez que os vitimistas estão inseridos aqui, notamos a propensão à
falsidade, à fofoca, à mentira e a outros tipos de vínculos artificiais em busca
de legitimidade. Acrescente-se a isso a inclinação a sentir-se ofendido ou
injustiçado com facilidade.

Na terapia, é ideal que haja o momento em que o paciente coloca o terapeuta no


lugar de seu pai e de sua mãe. Quando isto acontece, a transferência é feita.
Quando isto acontece, pode-se fechar o ciclo, caso o terapeuta consiga ser
benévolo, constante e proporcionar segurança ao paciente.

Nesta camada é que se conquista a estabilidade dos afetos interiores, para


que se viva objetivamente no mundo sem viver tudo sentimentalmente de
forma vitimista, colocando-se no centro e querendo que tudo o que os outros
façam, necessariamente nos faça sentir bem.

Sofrimento
Surge quando a criança percebe se ela se sente feliz ou não, por causa de
repetidas frustrações. O maior problema é chegar à maturidade com necessidades
esquecidas, com o sentimento de rejeição.

Objetivo principal
Encontrar aceitação e segurança emocional.

5ª camada da personalidade: Ego, autoconsciência e individuação


Dando sequência ao nosso resumo das 12 camadas da personalidade humana,
chegamos à quinta. A motivação é a autodeterminação do Ego.

Notamos aqui uma pessoa rebelde, que quer testar sua força no
mundo. Mesmo que nem todos os adolescentes estejam na quinta camada, ela é
própria deles, estando com os afetos interiores estáveis.

É possível olhar o mundo de forma objetiva, sem interiorizar as coisas nos


sentimentos e buscar orgulho ao se observar, vendo-se como o autor da própria
vida.
Agora a intenção é validar a força, encontrar obstáculos e enfrentá-los. Pode ser
discussão verbal, disputa física, implicância…

Entretanto, muitos adolescentes estão presos na quarta camada, ainda no


mundo interior mal resolvido. Não alcançam esta etapa de testar sua força no
mundo, afinal, para isso é preciso ter primeiro estabilidade interna.

É normal distanciar-se um pouco dos pais nesta etapa, ser briguento e arrogante.
Ele precisa vencer, pensar que é forte, que consegue. É o processo de
amadurecimento que está acontecendo, é a saída do mundo da autorreferência
para o mundo real, externo. A referência é o Ego em relação ao mundo
exterior.

Quando ele percebe que já possui uma força, quando percebe do que é capaz e
onde pode vencer, ele está pronto para uma nova motivação, já que não precisa
mais testar a si mesmo.

Sofrimento
A fonte de sofrimento é o autojulgamento depreciativo (sentimento de perdedor),
que acontece por perceber uma falta de capacidade pessoal, o que gera
autodecepção. 

Objetivo principal
Ganhar autoconfiança, vencer as disputas.

6ª camada da personalidade: Aptidão e vocação


Muitas vezes a força testada na quinta camada é inútil. Ganha-se uma disputa,
uma briga, uma coisa qualquer, mas qual é o retorno disso?

Na sexta camada da personalidade busca-se uma vitória que alcance um


bem objetivo. A pessoa usa sua capacidade para trabalhar e ganhar
dinheiro. Não importa se o patrão gosta e fala bem dela, muito menos se é o
funcionário do mês, se não houver lucro financeiro.
A motivação é conseguir o dinheiro necessário para pagar as contas e comprar os
bens desejados, para si mesmo ou para a família.

O elogio põe sobre a mesa o pão de cada dia? A vitória de ter a foto no quadro de
funcionário destaque trouxe algum conforto objetivo a mais ou apenas amaciou o
ego? 

Quem está nesta camada pensa assim:

“Não precisa gostar de mim, obrigado! Também não precisa se preocupar em


emoldurar meu rosto. Quero o dinheiro, porque tenho coisas importantes a
resolver”.
O exercício da humildade é mais aparente nesta camada e o eixo de valor sai
do sujeito (pessoa) e vai para o objeto (resultado).

Aqui vemos a objetividade com muita força. A luta é pela conquista de


capacidades e habilidades que o instalem melhor no que é apto, em sua vocação.

Especialmente na quarta camada e até mesmo na quinta, as pessoas acham que


o status de uma profissão já as qualifica. Ser professor não traz autoridade,
respeito e valor. Ser médico não traz autoridade, respeito e valor. Não importa o
título ou a faculdade feita.

O que importa é se você tem as habilidades para executar o que você diz saber, se
objetivamente é capaz de executar bem seu trabalho, se dá conta da missão.

Na sexta camada, a pessoa busca as habilidades de que precisa para realizar sua
vocação. Ela olha para o que faz e quer fazer melhor para ter mais
resultados, não se ancora em títulos.

A personalidade instalada nesta motivação, ouve críticas e busca o


aprimoramento, a que está na quarta fica magoada. 
Sofrimento
O sofrimento ocorrerá por um prejuízo objetivo, pela frustração no resultado. A
falta de dinheiro para pagar as contas é um exemplo. 

Principal objetivo
Obter lucro.

7ª camada da personalidade: Situações e papeis sociais


Por muito lutar em conquistar habilidades, o sujeito pode vir a conquistá-las e
vivê-las. Com suas habilidades reais e com seus resultados objetivos, ele entrega
valor à sociedade.

A motivação passa a ser a de entregar algo à sociedade. O sujeito percebe que


só ele pode entregar o que a coletividade demanda. Ele percebe que tem um
papel social a cumprir.

Muitos possuem papéis sociais por causa do cargo, mas não da habilidade. São
médicos e não sabem exercer a medicina, advogados e não sabem exercer o
direito, políticos e não sabem exercer a política. Não estamos falando deles.

Quem alcançou a sétima camada da personalidade domou suas habilidades e


é capaz de cumprir seu dever. Esta pessoa entende a expectativa da sociedade e
faz de sua vida uma entrega, um serviço.

A experiência do papel social completa-se no casamento ou em votos religiosos,


sistemas que abarcam a totalidade do indivíduo, enquanto uma profissão, por
exemplo, solicita apenas uma parcela.

A motivação não é servir à sociedade para se sentir bem ou para ser


remunerado. Este sujeito entendeu que seu trabalho pelos outros é o seu lugar
no mundo. Na obra “Dom Quixote” de Miguel de Cervantes, o próprio Dom
Quixote diz no final:

“Yo sé quien soy”.


Na sétima camada, o indivíduo já sabe com maior profundidade quem ele é
no mundo, sabe qual é o seu papel social. O cumprimento de seu dever é a
manifestação de seu amor, que não é um sentimento, mas sim uma atitude.

Sofrimento
São relativos à percepção de estar no palco errado e ao não cumprimento de
expectativas mútuas, na falha do desempenho do papel social. Não cumprir o
papel que lhe cabe e que é esperado é a causa da dor. Isto também envolve os
outros, pois pensa-se na infelicidade deles pela falha na entrega.

Objetivo principal
Compreender quem se é no grupo e ficar bem com isso.

8ª camada da personalidade: Síntese individual

Após a sétima camada, na qual o indivíduo sabe quem é no mundo, surge a


seguinte pergunta:

 Quem sou eu diante da morte?


Italo Marsili, cuja explicação guia nosso resumo didático das 12 camadas da
personalidade humana, explica que a motivação diante da morte pode
ser retificar ou ratificar. Consertar o que fez até o presente ou confirmá-lo?

O indivíduo encontra-se diante da finitude de sua vida e é convidado a refletir:

“Este sou eu e permanecerei fazendo isso até meu último dia. O que faço possui
valor mesmo sabendo que minha vida vai acabar, tem sentido mesmo diante da
morte”.
Ou

“O que foi que eu fiz da minha vida?”


Algumas pessoas, confrontadas com a ideia de um fim, percebem que, diante da
morte, fariam outra coisa, com outra qualidade e intensidade. Na oitava camada
da personalidade vive-se um drama, um sofrimento muito específico.

Se o indivíduo percebe que seu dever não tem valor diante da morte, mesmo
assim não pode mudar deixando de fazer o que faz, afinal ele cumpre um papel
social importante. Por esta razão, precisa encontrar a solução sem deixar de
continuar servindo. 

Não é atitude de oitava camada perceber a necessidade de mudança, de largar


todas as responsabilidades, de pessoas que lhe são dependentes e de ir em busca
das realizações. Isto é atitude de quarta camada em busca de bons sentimentos.

Sempre que surgir o pensamento “vou largar tudo e mudar”, saiba que ele não
pertence a esta camada. Quem chegou aqui entendeu seu dever, sua
responsabilidade. Ao encontrar um problema, permanecerá até encontrar a
solução.

 Novamente: Retificar ou ratificar? Reparar ou reafirmar?


Se for reparar, a solução não pode deixar desamparados aqueles que dependem
de você na sociedade.

Não há deserção na oitava camada. Se a solução prática não for encontrada, o


indivíduo viverá com esta tensão até a morte. Notamos que o amadurecimento
dói, mas a felicidade que dele resulta é mais plena. 

Nela, toca-se naquilo que é e não pode deixar de ser. A noção de verdade é
realmente aprendida, juntamente com a reflexão entre o bem e o mal. A
personalidade padrão está completa.
Sofrimento
O sujeito sofre consigo mesmo ao pensar “O que fiz da minha vida?”. Mesmo
aqueles que acertaram, podem refletir sobre todo o curso de sua existência. É
preciso julgar a vida inteira sem culpar ninguém.

Objetivo principal
Encontrar o sentido da vida diante da morte.

9ª camada da personalidade: Personalidade intelectual


Esta é a camada da vida intelectual, na qual se vive devotamente em busca
da verdade. Não se trata de simplesmente estudar, pois há analfabetos na nona
camada. A motivação é conhecer e viver imerso na verdade, não importa o que
aconteça.

É a camada do conhecimento da verdade que formará sua personalidade


intelectual. Seu interesse será buscar a verdade, mesmo que isso incomode os
outros. Encontrar a solução para um problema prático ou teórico que se apresente
à sua inteligência será mais importante do que a própria personalidade.

O indivíduo tentará solucionar seus problemas intelectuais para o bem de sua


própria consciência. É algo que se ele não fizer, ninguém vai notar. Não se trata
de buscar a verdade para os outros, sim de uma necessidade interna, um
imperativo.

Feito isto, já se pode passar para a décima camada.

Sofrimento
Quem chegar a este ponto sofrerá com a ausência de uma solução para o
problema que se apresenta ao seu intelecto. O indivíduo não quer se sentir
inseguro quanto à sua capacidade de compreender a verdade e, portanto, seu
mérito em influenciar as pessoas.

Objetivo principal
Alcançar a criação intelectual, inserir a sua forma de ver o mundo na sociedade.

Contamos com a colaboração de muitos professores que se dedicam à vida


intelectual no Núcleo de Formação da Brasil Paralelo. São pessoas que
servem ensinando a verdade, ensinando a pensar, a estudar e a muito mais. 

10ª camada da personalidade: Eu transcendental


Trata-se da camada da vida moral. Uma vez conhecida a verdade, vive-se e age-
se diante dela. A questão feita é: Tudo o que faço na minha vida corresponde à
verdade?

Antes disso, a questão tinha um peso relativo e menos profundo. Neste caso, você
percebe que pode ser mau e não caminhar na verdade. Você percebe que pode
não agir de forma moral.

O indivíduo se vê como um representante da espécie humana, dotado de


autoconsciência e responsável por seus atos. Ele se vê de um ângulo no qual
qualquer outro em seu lugar também encararia da mesma forma.

Ele obedece às próprias regras, de forma que morrer por elas não seja mais um
absurdo.

Sofrimento
Na décima camada, quando a pessoa percebe que foi imoral, sente um profundo
rasgo em sua biografia. Ela sofre por perder poder.

Objetivo principal
Obter poder para exercer suas ideias na sociedade.

11ª camada da personalidade: Personagem


Ao passar um tempo constante no agir moral, alcança-se a camada do “eu
histórico”. Ora, quem assim agiu por muito tempo, gera um efeito na
história. Sua personalidade marca a história.

Ele percebe que as ações verdadeiras e morais não terminam com a morte, não
acabam neste mundo. Elas permanecem.

A motivação da décima primeira camada é a constituição de uma


personalidade duradoura através do tempo. Não importa se são ações grandes
ou pequenas, são ações inseridas na história como um todo, no processo de
evolução da espécie humana.

Neste caso, suas ações serão julgadas pela humanidade, afinal, elas mudam o
curso da história. Este tipo de ação não pode ser avaliada pelo conteúdo social ou
pelo proveito prático. Acontece em função de algo que ainda não existe.

Quando Getúlio Vargas se suicidou, ele sabia que sua ação entraria para a história
e mudaria seu curso. Ele o fez conscientemente, posicionando-se como peça
histórica em um momento específico, com a certeza de que o que ele que estava
fazendo mudaria o pensamento da coletividade humana.

Napoleão Bonaparte, George Washington, Lênin, Stálin, Alexandre e Genghis


Khan são outros exemplos de personalidades que mudaram conscientemente a
história.

Sofrimento
A dor desta própria camada é justamente falhar em atos históricos e não alcançar
impacto, não modificar o rumo das sociedades.

Objetivo principal
Mudar conscientemente o curso da história com suas ações.

12ª camada da personalidade: Destino final


A motivação é um constante agir diante de Deus.

Finalmente chegamos ao final das 12 camadas da personalidade. Nesta última,


temos um sujeito transcendental.

Não se trata apenas de estar diante do fim, da morte. A pessoa se vê diante de


um observador onisciente, do destino final. Deus conhece todas as coisas,
todos os corações, o melhor e o pior.

Muitos têm religião, frequentam os templos e seguem os ritos de culto. Mesmo


estas pessoas terminam o mês pensando em dinheiro, nos problemas do mundo,
na morte. Em qualquer camada é possível gostar de Deus. Mas, nas camadas
inferiores, a motivação por excelência não é Deus.

Nesta camada o sujeito precisa responder pessoalmente diante d’Aquele que


sabe tudo e criou tudo. Ele precisa responder a um ser infinito. Cada ato é
concebido sob um prisma eterno, cada ação é pensada diante de Deus.

Na 12ª camada, acontece o encontro com o sentido da vida. O indivíduo aceita


o sofrimento inevitável por amor a Deus. Um santo católico, por exemplo, será
enigmático e complexo caso Deus seja retirado da interpretação de seus atos.

Outros exemplos de pessoas que alcançaram a décima segunda camada são Jesus,
Gandhi, Sidarta Gautama, Moisés e Maomé.

Sofrimento
Decepcionar a Deus, não correspondê-lO. Sofre-se pela própria humanidade.

Principal objetivo
A redenção.
Por que acreditar nesta teoria?
Para o Professor Olavo de Carvalho, a primeira coisa a ser dita é que ela é
auto-evidente. À medida em que é apresentada, a teoria demonstra uma
geometria de encaixe dos argumentos e é reconhecida na vida.

O ouvinte percebe que é verdade quanto mais ouve e entende. Isto


ressignifica sua vida. A teoria não permanece teórica, pois está ancorada em
fatos, ela está adequada à realidade.

Ela também é crível por acomodar diferentes fenômenos psicológicos descritos


por Piaget, Freud, Jung, Lacan, Szondi, Frankl. A teoria das 12 camadas da
personalidade não cria fenômenos imaginados, mas organiza os que existem
e que já são percebidos.

Conclusão
As 12 camadas da personalidade fecham o ciclo de uma vida humana. Explicam
a vida daquele que possui um corpo, se manifesta, aprende, supera sua
necessidade afetiva, confronta o mundo em busca de vitória, conquista
habilidades úteis, descobre um dever social, vê-se diante da morte, busca a
verdade, busca a vida moral, constitui um “eu histórico” e alcança a
transcendência diante de Deus.

Quanto mais avançado nas camadas, mais singular é o indivíduo, mais


pessoal, mais único. É por isso que ele tem mais personalidade, é menos
identificado com as massas e se parece mais consigo mesmo do que com os
outros.

Tendo lido tudo isso, você consegue responder em qual camada da


personalidade você se encontra? 

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