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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
ANTROPOLOGIA I

GRUPO 4

Emerson Matos
Gabriela Xavier
Matheus Saback
Tatiana Schwartz
Tayná Veloso

Salvador, 24 de janeiro de 2017


Inaugurando, na década de 60, um debate que se expressa como confrontação da
máxima, até então prevalecente no ambiente acadêmico conservador, a que Lévi-Strauss
chama de optimum de diversidade (p. 360), ou a noção sobre um dado equilíbrio entre o
imprescindível à sobrevivência das sociedades humanas, fundadas na coalizão de culturas, e o
necessário à não reversão das estruturas hierárquicas e relações de poder originalmente
capitalistas, lastreadas nas dinâmicas etnocêntricas tipicamente coloniais, é lançado o
estímulo à contraposição, pelo autor (em seu texto “Antropologia estrutural dois”), do
dispositivo retórico do falso evolucionismo. Tal recurso teórico, na mesma medida em que
simula ser dialógico, sob a tônica argumentativa universalizante que sujeita todos os
agrupamentos humanos ao instituto abrangente da humanidade (cuja compreensão não é,
entretanto, por todas as frações da espécie humana compartilhado), revela sua contrapartida
como discurso factualmente unívoco, propagandeado, sobretudo, ao gosto da crença europeia
numa interpretação diacrônica da relação entre as culturas, ou na existência de uma escala
temporal una e unidirecional, em que se organizam as ditas “culturas arcaicas” e “culturas
primitivas” como estágios anteriores ou ulteriores de desenvolvimento e complexidade.
A partir da determinação de três categorias sob as quais podem ser organizadas as
culturas, a saber: 1) aquela de culturas contemporâneas e situadas em partes diferentes doo
globo; 2) aquela de culturas que se expressam num mesmo espaço de outras que as
precederam no tempo e 3) aquela de culturas que se manifestam em períodos de tempo e
espaços diferentes; Lévi-Strauss atesta que a pretensa e atraente possibilidade de
estabelecimento de interconexões entre tais culturas como se supostamente associadas como
estágios (em ascendente complexificação) que se sucederiam num sentido linear de
temporalidade é, em verdade, perniciosa, uma vez que dada ao impulso de formulações de
correspondências e paralelismos interculturais descompromissados com a verdade, pelo fato
primordial de não poderem, em termos práticos, ter sua fundamentação averiguada. Isso
porque o domínio de um conhecimento tal acerca de todas as peculiaridades referentes às três
categorias em que Lévi-Strauss propõe dividir as culturas é inviável, sobretudo em se
tratando “de culturas sem escrita, sem arquitetura e tecnicamente rudimentares” (p. 367),
cujos vestígios, portanto, podem estar indisponíveis às empreitadas comparativas e de
escalonamento.
A insistência manifestada pelos adeptos do falso evolucionismo na consideração de
certas culturas, ditas primitivas, como formas arcaicas de uma outra civilização, não é,
portanto, contributiva para um debate honesto sobre a diversidade das culturas, pois não
admite a consideração da existência de ancestralidades de origens multivetoriais e
intercruzadas, cujas formas de contribuição para a conformação das culturas que ainda
vigoram ou que se apresentam ao estudo arqueológico não necessariamente são identificáveis
— sobretudo quando as civilizações anteriores em temporalidade estão extintas. Nesse
sentido, quaisquer tendências comparativas fundadas na suposição de que certas semelhanças
identificáveis entre culturas, no tempo presente de observação, necessariamente denotam uma
relação de equivalência global ou de anterioridade e sucessão no tempo entre elas, não
superam a condição de mecanismos meramente hipotéticos em que se toma “a parte pelo
todo” (p. 368).
Dentro da classificação das civilizações desaparecidas, o que se conhece destas é
delimitado ao que não foi destruído pelo tempo, e, em meio a isto, o que existe não se torna
suficiente para que seja possível a compreensão da forma de vida das sociedades antigas.
É importante e curioso que se procure relacionar as culturas que se assemelham,
embora situem-se em lugares distantes do globo. De que forma se relacionam as sociedades
que continuam arcaicas com as sociedades arcaicas que tiveram seu fim e situaram-se em
local geográfico distante? É diante de toda essa análise que se pode analisar a falsa
contestação do evolucionismo.
O evolucionismo, que se propõe a fazer analogias de culturas antigas com as culturas
da civilização Ocidental, não deve ser visto como verídico, já que as sociedades antigas têm a
mesma ordem de grandeza das sociedades modernas, não existindo um povo sem história ou
com história menos importante que a de outro povo. Por consequência, a tentativa de
consideração de um fato comum a duas civilizações como referencial viável de
estabelecimento de uma equivalência total entre ambas não deve ser totalmente aceita, uma
vez que os vestígios identificáveis são capazes de desmenti-la.
Ao defender que culturas se estabelecem a partir do desenvolvimento de um
funcionamento específico em um dado contexto, sob circunstâncias particulares de tempo e
espaço, recorrendo ao caráter fluido, evanescente dos fenômenos culturais- aqui entendidos
como padrões de comportamentos em grupos, símbolos, sistemas de regras, formas de se
comunicar, valores, tecnologia , utensílios e afins-, o autor, destaca o equívoco de certas
construções teóricas e hipóteses, que ao passar pelo crivo de uma análise aprofundada,
percebe-se o seu insucesso como tentativa de recorte para explicar, predizer, justificar um
aspecto da realidade, sobretudo, fenômenos comportamentais selecionados em grupos, ou,
uma certa cultura.
O conceito destacado pelo autor é o evolucionismo cultural, que tenta explicar o
funcionamento de certas culturas, tendo como parâmetro, a civilização ocidental, implicando
um erro de raciocínio que caminha para a interpretação de culturas anteriores, ou, isoladas,
geograficamente, como culturas arcaicas, inferiores ou emergentes em direção a um
desenvolvimento civilizatório. Assim, fica evidente que essas formulações teóricas são
carregadas de juízos de valores e que nada explicam de fato uma cultura específica e sim
contribui para a diferenciação pejorativa de outros modos de existência.
Cada cultura se adapta, se transforma, se mantém ou se extingue, de forma
funcionalmente organizada, e esses modos de funcionamento são estabelecidos de forma
peculiar, e o seu entendimento deve ser sob a luz de seu contexto de emergência, a função de
seus modos de se comportar em grupo, conhecendo-a como nomeia as coisas, suas formas de
linguagem e para que usa tais objetos - esse modo de elaboração, também conceitual e
conjectural para conhecer e interpretar uma dada cultura, deve ser levado em conta, a própria
cultura específica e não outra cultura como parâmetro de diferenciação- nota-se a
complexidade dos fenômenos culturais, que possivelmente, algumas culturas não
interpretaremos com sucesso, por conta da impossibilidade de acesso.
O modo de investigação de uma dada cultura recortado como etapas de progresso
civilizatório, se tem como tentativa, explicá-la, interpretá-la, não se aproxima com sucesso
dos fenômenos culturais, dos quais, a antropologia se debruça e consequentemente se
distancia de uma prática científica.
Sabemos então que todas as sociedades possuem uma mesma ordem de grandeza,
logo, a hipótese de considerá-las algumas como etapas do desenvolvimento de outras é
errônea, visto que, para isso ocorrer precisaria admitir que enquanto uma sociedade estivesse
“se avançando” a outra estaria em um estado de nenhuma mudança.
Com isso, poderíamos afirmar que as sociedades humanas em geral, cada uma teve
seu tempo, de forma desigual, e como disse Lévi-Strauss: enquanto umas metiam o
acelerador a seu tempo, outras divagavam em sua história. O que não tira a riqueza de cada
cultura, e sim se afirma como uma interpretação das diversas culturas, sem tirar nem pôr cada
uma das suas exclusivas riquezas.
Trecho 9
No trato da questão referente à colaboração das culturas, Claude Lévi-Strauss
estabelece a impossibilidade de que uma cultura outorgue a si a qualidade de superior,
relativamente a outras ditas “estacionárias”, num arranjo hierárquico que antagoniza, em seus
extremos, culturas supostamente “cumulativas” e “não-cumulativas”. Tal empreitada é, em si,
inviável, se considerada a natureza infundada de tal senso de “cultura não-cumulativa”, pois
não há, segundo Lévi-Strauss, factualmente, culturas fatalmente “estacionárias”, — do
mesmo modo que inexiste “história estacionária” — mas sim culturas mais ou menos
cumulativas, cujos graus de ‘complexidade de acumulação’ são diretamente condicionados
pela profundidade de coalizão (ou das coalizões) entre determinadas idiossincrasias que se
expressaram, mas não necessariamente pertenceram (uma vez que não se pode determinar,
com verdade e precisão, qualquer fator de propriedade, pioneirismo ou originalidade), nas/às
culturas que as precederam e/ou originaram.
É nesse sentido que Lévi-Strauss considera a variável do acaso e probabilidade
(tratada no tópico 8 de Raça e História), não como fator marcadamente e exclusivamente
regente da conformação de “culturas arcaicas” e “primitivas”, — perspectiva em que
prevalece o dispositivo argumentativo simplista que anula os fatores psicológicos, históricos,
econômicos, sociológicos e de expresso esforço criativo envolvidos nos processos inventivos
de tais culturas (que, em verdade, a todas as sociedades e suas respectivas culturas
pertencem), de modo a restringir a inerência de genuína potência imaginativa e
transformadora a outras culturas, geralmente ocidentais e brancas, sendo, portanto, as
transformações manifestadas em “culturas arcaicas” e “primitivas” meramente decorrentes da
aleatoriedade do acaso, — mas sim como fator regente do imbricamento, conjunção e
coalizão (imprevisível) de determinados elementos, referentes a determinadas culturas, de
que decorra estágio tal de complexa e excelente colaboração, de superioridade cumulativa
relativamente a outros processos de acumulação, que deflagre uma reação de cadeia, cuja
extensão, duração e variabilidade (p. 392) possa configurar uma revolução técnica e
socioeconômica, raramente vista (ou somente vista em duas oportunidades, referentes aos
períodos neolítico e industrial).
Desse modo, Claude Lévi-Strauss revoga a pretensão de exclusividade ou
originalidade, reivindicada por certas culturas, no tocante a contribuições ditas particulares,
que mais se referem a aquisições e/ou transformações de resultados de processos cumulativos
em que participam diversas culturas em coalizão. Não há, portanto, tal coisa como
contribuições específicas de uma cultura, como se essa se pretendesse absolutamente
hermética e caminhasse solitária na história temporal-espacial, uma vez que não há cultura
solitária — ainda que o seja no presente observável, dificilmente o terá sido em seu passado.
Logo, não poderá haver escalonamento ou organização hierárquica de culturas em natureza
de qualidade, do contrário, as culturas que a si outorgam a condição de superiores porque
“detentoras” do mais complexo estágio de acumulação, por si conquistado com absoluto
pioneirismo e exclusividade, em decorrência de sua participação, atuação e existência
supostamente solitárias na história, teriam de admitir a existência também de outras culturas.

Parte 2
O autor, ao longo do texto, pergunta-se, em diversas ocasiões, sobre como foi possível a
humanidade permanecer estacionária durante 90% da sua história, em média.Certamente,
a resposta não se encontra na diferença de inteligência entre o homem paleolítico e o
neolítico, mas no fato de que as combinações culturais do período, por obra do acaso, não
lograram séries cumulativas. O autor, pontua a dificuldade de considerar produtos culturais
reconhecidos como peculiares de uma dada cultura,levando em conta os intercâmbios na
história da humanidade, além do mais, esses choques culturais, ou, interações de culturas,
favorece mudanças, a variabilidade.
Vale ressaltar que quanto maior o número e quanto maior a diversidade de culturas em
coligação, maiores são as chances de aparecimento de uma civilização. Sob esse aspecto,
a variabilidade, o pluralismo cultural, ou, o desenvolvimento de interações de culturas
diferentes,em que, como princípio de valor de conduta, que favoreça o compartilhamento
recíproco de seus modos de existir, como cultura, é o caminho defendido pelo autor, para a
manutenção da humanidade, ou, sobrevivência da espécie.Distanciando-se do modelo
único de alcance para todas a culturas, que possui como parâmetro ou ideal, uma
civilização mundial sob os moldes dos valores morais ocidentais. Reconfigurando o
conceito, em defesa de uma civilização mundial que reconheça a diversidade e
peculiaridade das culturas, situadas num dado espaço e tempo.
Parte 3
Na discussão a respeito da colaboração das culturas, a Europa torna-se um exemplo
marcante, já que, durante muito tempo, foi caracterizada (e ainda é) por uma ‘’ soma’’ de
influências, tais como a grega, romana, germânica e anglo saxônica. Da mesma forma
ocorre com a América que, diante de parecida situação, apresenta uma fusão de culturas
nas quais o povoamento é ‘’ atual’’, e, ainda, por constituir um vasto hemisfério, resulta em
um quadro ainda mais marcante.
É diante dessa análise que se torna possível a compreensão de que o aspecto cumulativo
das culturas parte de algo pertencente a ‘’ conduta’’ destas. O existir das culturas parte do
preceito de uma maneira de estar, uma vez que todas necessitam de um superorganismo e
assim a cumulação de sua história. Neste viés, pode-se classificar, por exclusão e mediante
uma dúvida de existência ou não, a possibilidade de culturas estacionárias, que
fundamentam-se em sociedades isoladas. De qualquer forma, importa-se valorizar o traço
da coexistência de culturas, que está intrínseco em uma civilização.
parte4- O autor comenta sobre intercâmbios de culturas organizadas funcionalmente e de
modos peculiares, diante disso, estabelece contribuições vantajosas para as culturas, ou,
um tipo de utensílio ou objeto que é transferido de uma cultura para outra, em que , uma
delas incorpora em sua organização social, ele cita o exemplo do tabaco, que veio da
América, porém, existem padrões de comportamentos de uma cultura, que de caráter
sistêmico e funcional, e que fica inviável considerar uma intercambio que como
consequência uma das culturas tente seguir o modo de outra, o autor coloca como dois
resultados finais: uma desorganização ou os modos de existência dessas culturas se
transformar numa em uma cultura irredutível às outras duas, em contrapartida, ele conclui
que talvez a discussão não seja sobre a veracidade de existir culturas que se beneficiam de
outras, mas, sim a capacidade de compreensão do modo diferente que a uma cultura possa
se constituir e até de conhecê-la.
Sob o aspecto da materialidade das culturas, de suas existências peculiares num
dado espaço e tempo, a condição de ‘civilização mundial’ se torna um apelo abstrato e
moral, propondo um objetivo de sociedade, talvez, distanciando assim do aspecto originário
de uma dada cultura, colocando como um vocábulo que representa os elementos comuns
das culturas humanas, mas, como consequência distância da diversidade, e como nome
representativo não aproxima da realidade dos fenômenos culturais.
Sob o aspecto da materialidade das culturas, de suas existências peculiares num
dado espaço e tempo, a condição de ‘civilização mundial’ se torna um apelo abstrato e
moral, propondo um objetivo universal de sociedade que impõe certo distanciamento do
aspecto originário de dadas culturas (às quais muitas vezes não pertence a compreensão
de tal senso de coletividade generalista de civilização), bem como de seus respectivos
traços de diversidade, o que, de forma contraproducente, dilui, não aproxima e não conjuga
a realidade de tais fenômenos culturais, que talvez operassem melhor se em coalizão.

Parte 5 Para Levi Strauss há uma clara necessidade de se perpetuar a diversidade de


culturas. A noção de "civilização mundial" seria muito pobre ao analisar uma cultura
carregada de histórias e pensamentos levados de geração em geração, e seria uma
pena reduzi-los a meras substâncias vazias e restar-lhes apenas o corpo descarnado.
Deve-se compreender que as outras culturas são diferentes da sua nas mais diversas e
minuciosas maneiras, mas que isso não torna de uma melhor ou pior, mais avançado ou
menos avançada.
Por fim, Levi-Strauss conclui que a civilização mundial seria ou deveria ser uma junção
e existência de diversas culturas, co-existindo e convivendo entre si.

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