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Ruth C. L. Cardoso
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gas e ampla convlvencia com os informantes . É uma especte de para enriquecer as interpretações. Este modo de ver o trabalho
volta ao significado em seu estado puro, ao discurso "real", que científico está bem perto da clássica formulação do empiricismo
deve permitir descobrir novos sentidos não previstos pelas análises positivista: dados bem coletados devem falar por si mesmos.
macroestruturais. Considero muito saudável a volta ao trabalho de campo e ao
Porém, esta voga de novas técnicas de investigação e o inte- respeito pelo dado empírico, mas quero ressaltar o descompasso
resse pelos atores sociais de carne e osso não se fizeram acompanhar entre estas iniciativas e a assimilação da discussão sobre a natureza
de uma crítica teórico-metodológica consistente. Respondiam a um do conhecimento científico, o papel da subjetividade como instru-
mal-estar, a um desencanto com as generalizações apressadas e os mento de conhecimento, etc.
esquemas explicativos muito abstratos. Mas a volta ao concreto se Pelo menos em um ponto esta revisão era e é oportuna: é
deu · pelos mesmos caminhos já trilhados pela ciência positivista. preciso repensar a noção de determinação e de processos estru-
Os anos 70 se caracterizaram pelo aparecimento de várias turantes para reconhecer um espaço para os sujeitos sociais. A
releituras do marxismo que dialogavam com a dureza da ortodoxia redução do marxismo a um economicismo mecânico transforma os
que dominara este campo. Entretanto, na América Latina, as críticas atores sociais em objetos e o comportamento em ações automatiza-
ao marxismo tiveram pouca influência na prática política. Sem ter das . Sem uma revisão destas distorções teóricas, é difícil conseguir
chegado ao Estado de Bem-Estar Social e suportando um regime um bom rendimento das técnicas qualitativas de investigação .4
militar repressor, os intelectuais brasileiros estavam distantes da Mas o gosto pelo empírico tem suas conseqüências, e os pes-
efervescência crítica que atingia a Europa e os Estados Unidos. Os quisadores se deram conta deste descompasso, ainda que não o
pilares mais gerais da prática política marxista continuavam a ser enfrentassem de modo sistemático. Sintomas do mal-estar são as
úteis para interpretar nossa realidade, onde crescia a desigualdade longas introduções e os numerosos artigos sobre a relação pesquisa-
na distribuição de renda e aumentava a repressão. dor/ grupo pesquisado. Sentia-se a necessidade de elaborar inte-
Entretanto, outros temas nascidos deste movimento crítiCo fo- lectualmente esta relat;ão justamente porque a concepção tradicio-
ram assimilados aqui . Em primeiro lugar, incorporamos a discussão nal de neutralidade científica já não parecia útil. A defesa do enga-
sobre a politização da ciência e a necessidade de engajamento dos jamento político e a demonstração de que o conhecimento não pode
cientistas e, por outro lado, caminhamos facilmente no sentido da se libertar de uma certa dose de ideologia colocaram quase como
exploração das técnicas qualitativas de investigação, uma vez que uma exigência a definição do pesquisador como um aliado dos
nossa formação universitária sempre acentuou sua utilidade . Os grupos e minorias discriminadas, que também foram priorizados
núcleos quantitativistas no Brasil nunca foram muitos e se restrin- como objeto de estudo. Entretanto, esta intensificação da participa-
giram a algumas áreas do conhecimento. ção foi justificada por razões políticas e não pensada como instru-
Tudo isto criou uma situação onde não houve clima para um mento do conhecimento .
reexame dos instrumentos com que se constrói o conhecimento . Se, O positivismo continuou a imperar nos cursos de metodolo-
nos Estados Unidos, a valorização do dado qualitativo veio conju- gia e não se colocou em questão a natureza dos dados obtidos atra-
gada com o debate sobre as formas de conhecer, colocando em vés destas novas formas de coleta. Negamos a neutralidade do
discussão o princípio positivista da neutralidade e objetividade do pesquisador, apoiamos com entusiasmo seu conipromisso com o
pesquisador, aqui estas técnicas foram revalorizadas sem maior grupo estudado mas continuamos a conceber "os dados" como for-
inquietação. 3 A crítica à ciência vigente acentuou sua pobreza técni- mas objetivas com existência própria e independente dos atores.
ca e seu distanciamento do real, apontando para a necessidade de
renovar as formas de coleta de dados como um passo fundamental tropologia ; e Paul Feyraband, Against Method. 1.a ed., Londres, Verso Edi-
tion, 1978, que propõe uma nova visão do método científico.
4. Ê esta uina das razões pelas qu ais encontramos, freqüentemente, nos es-
3. A título de exemplo lembro os seguintes traba lhos: Deli Hymes (Org.) , tudos baseados em trabalho de campo, um desencontro entre as introduções
Reinventing Anthropology . 1.a ed ., Nova Iorque, Vintage Books, 1969, que teóricas e a apresentação do material de pesquisa. O quadro teórico é muito
especificamente busca uma postura metodológica dentro do campo da an- mais declaração de princípios que uma construção de referências analíticas.
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Também colaborou para minimizar o debate sobre esta questão já não podem ser enriquecidas pela investigação. É para quebrar
a forte presença do estruturalismo em nossa cena intelectual. Tanto esse círculo que Feyrabend reivindica, em seu livro Against
pela ótica de Lévi-Strauss como pela de Althusser, os sistemas sim- Method, 5 uma teoria do conhecimento anarquista. A capacidade
bólicos se impuseram como objetos privilegiados de análise. Estas de se surpreender, que deve ser inerente ao trabalho do cientista,
novas perspectivas ou distinguiam circuitos diversos de comunica- fica amortecida quando se propõe a fusão total do discurso do
ção, onde a troca de símbolos ganha autonomia, ou instâncias rela- investigador com o do grupo investigado. Enunciado a partir de \
tivamente autónomas que repõem a questão da determinação das uma posição social determina?a, este discurso expre~sa int~ress~s .
superestruturas. A instância ideológica ganhou espaço nas pesqui- contraditórios e é sempre parc1al e fragmentado. É a s1stemat1zaçao
sas e com ela as técnicas de análise do discurso também foram que a ciência propõe que~ara além destes frag- \'
privilegiadas. A contribuição da lingüística foi , neste últimos anos, mentos na busca de uma explicação mais global, porém, sempre
de fundamental importância para as ciências sociais, porém, as provisória.
técnicas mais difundidas de análise da narrativa não puseram em Não vou àprofundar agora esta discussão, que tem aspectos
causa os princípios positivistas. Pelo contrário, a delimitação de um controversos e complexos. Quero apenas recuperar o velho modelo
corpus discursivo como suporte primeiro da análise sociológica de observação participante (que supunha neutralidade do pesquisa-
reforça a evidência da externalidade do objeto e dificulta a inte- dor) para compreender por que, atualmente, ele se transformou em
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gração entre o d~o d~-!9!es e seu c~nto. Os modos participação observante. Isto é, por que, de adjetiva, a participaç~o
tradicionais de exercitar a observação participante promoviam a passou a substantiva e, neste movimento, se reinventou a empatia
participação como forma de desvendar os significados simbólicos como forma de compreender o outro, sem que Weber seja citado.
de outras culturas. Uma espécie de mergulho no fundo do outro O problema não existe apenas porque a pesquisa engajada
que é condição para o conhecimento, mas que, entretanto, dev:e ganhou espaço, mas é Fesultado deste desinteresse pela discussão
sempre ser completado pela observação dos comportamentos e de metodológica, como já assinalei.
sua recorrência.
A interpretação que se constrói sobre análises qualitativas não \
O estruturalismo contribuiu para uma maior sofisticação da está isolada das cond.i.ções em que o entrevistador e o entrevistado
análise de discursos, que não foi acompanhada por uma renovação se encontraram. A coleta de material não é apenas um momento
no campo da observação das práticas sociais. Continuamos a fazer de ~cumuÍação de informações, mas se combina com a reformu-
entrevistas e histórias de vida sem aprofundar a discussão da rela- lação de hipóteses, corri a descoberta de pistas n_ovas que são ela-
: ção entre o discurso dos atares e os sistemas estruturados, fossem boradas em novas entrevistas. Nestas investigações, o pesquisador é
eles entendidos como sistemas simbólicos ou como a estrutura o mediador entre a análise e a produção da informação, não apenas
de classes. como transmissor, porque não são fases sucessivas, mas como elo
Por outro lado, a intensificação da participação dos investiga- necessário. E, no Brasil, não houve muito interesse por desvendar
dores foi justificada, menos como forma de aproximar para conhe- estes processos. Tal como nos manuais tradicionais, a subjetividade
cer e mais como identificação de propósitos políticos entre pesquisa- é abolida e os discursos são analisados como exteriores aos atares~
dor e pesquisado. Isto reduz a pesquisa à denúncia e transforma o
que os produziram. As técnicas de investigação transitaram sem
pesquisador em porta-voz do grupo. E, como conseqüência, elimina questionamento entre as pesquisas com ou sem observadores parti·
um dos passos importantes da pesquisa participante, que é o estra- cipantes. Entretanto, várias orientações teóricas não-positivistas for-
nhamento como forma de compreender o outro. Mais adiante volta-
mularam novos lugares para a subjetividade do observador . E não
rei a esta questão metodológica. Agora quero discutir os efeitos
se trata do subjetivismo descontrolado invadindo o campo da refle-
da pesquisa, que é também ação política.
xão racional, mas sim da natureza in:tersubjetiva da relação entre
As pesquisas participantes são, muitas vezes, apresentadas
\ como formas de levar ao grupo a consciência de sua situação, mas
partem de interpretações políticas que ficam reificadas e por isso 5. Paul Feyrabend, Against Meth od . Londres, Verso Edition, 1978.
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o pesquisador e seu informante. Uma entrevista , enquanto está sendo Este ponto é importante porque o resgate da subjetividade
realizada, é uma forma de comunicação entre duas pessoas que como instrumento de trabalho não deve ser justificativa para a
.::stão procurando entendimento. Ambos aprendem, se aborrecem, indefinição dos limites entre ciência e ideologia e, portanto, não
se divertem e o discurso é modulado por tudo isto. devem servir de desculpa para repor a velha oposição entre verdade
O artigo de Mintz , "Encontrando Taso, me descobrindo" ,G e mistificacão. A relacão intersubjetiva não é o encontro de indi-
como o título indica, descreve esta relação com grande respeito . víduos autÓnomos e ~uto-suficientes. É uma comunicação simbó-
Contra seus críticos positivistas, Mintz afirma a importância da lica que supõe e repõe processos básicos responsáveis pela criação )
amizade para a história de vida de Taso. E esta amizade não se de significados e de grupos. É neste encontro entre pessoas que se
interpôs entre eles como um véu que impede a visão da "verdade" estranham e que fazem um movimento de aproximação que se pode
ou da "realidade" . Pelo contrário, foi a convivência e a afetividade desvendar sentidos ocultos e explicitar relações desconhecidas .
que permitiu chegar mais perto e mais fundo nos significados des- A prática de pesquisa que procura este tipo de contato precisa
conhecidos para ambos. Nesta relação o pesquisador se envolve com- valorizar a observação tanto quanto a participação. Se a última é
pletamente e por isso seus valores ou sua visão de mundo deixam condicão necessária para um contato onde afeto e razão se com-
de ser obstáculos e passam a ser condição para compreender as · pleta~, a primeira fornece a_ n:edida das co.is~s. Observar ~ contar:-r
diferenças e superar o etnocentrismo. Em geral, apesar de que "as descrever e situar os fatos umcos e os cot!dtanos, construmdo ca_:\
técnicas de metodologia qualitativa marcam uma ruptura decisiva deias de significação. Este modo de observar supõe, como vimos, .
com as técnicas quantitativas, o modo pelo qual são utilizadas supõe um investimento do observador na análise de seu próprio modo ~
um compromisso secreto com o positivismo para manter o sujeito, de olhar . Para conseguir esta façanha, sem se perder entrando pela·
finalmente, com um objeto. Atrás de toda preocupação com as psicanálise amadorística, é precis? _ancora~ ~s relações p~ssoais e~l ~ 1
\ técnicas e com a confiabilidade dos dados, está a crenca ( ... ) de seus contextos e estudar as cond1çoes sociaiS de produçao dos dis-
que o objeto da pesquisa existe em um mundo externo". 7 cursos. Do entrevistador e do entrevistado.
É ainda Willis, o autor do texto. acima , quem continua esta Este esforço não pode ser feito se não se coloca entre parên-
discussão chamando a atenção para "a insistente e quase neurótica teses os grandes paradigmas interpretativos assim como os parâme-
preocupação técnica com a diferenciação entre a observação parti- tros usados pelos entrevistados para explicar o mundo . A te~i~
cipante, o relato jornalístico ou a Arte" . Diz ele: "o romance pode do conhecimento nos oferece um caminho para compreender a reali- _/
mergulhar na subjetividade - é assim que cria cor e atmosfera - , dade e não uma série de "verdades" a serem comprovadas. O
mas como teremos certeza de que o autor não inventou tudo? encontro com desconhecidos, com que se pode cultivar uma relação
Sem dúvida, de certa maneira ele inventou! Se podemos acreditar de alteridade, é que permite conhecer o modo de operar de siste-
na Arte é porque ela revela um aspecto da imaginação que também mas simbólicos diversos que são postos em movimento por esta
faz parte de muitas realidades sociais. Neste caso, nosso objetivo interlocução. O objeto do conhecimento é aquilo que nenhum dos
deve ser a busca de objetos unificados que podemos esperar que dois conhece e que, por isso mesmo, pode surpreender. Logo, a
se apresentem como o mesmo para muitas pessoas". 8 novidade está na descqberta de alguma coisa que não foi com ar-
tilhada e não - como quer a noção usua e empatia - na co-
6. ln revista Dados, vol. 27, 1984, n.O J, p. 45-58. t~hão. 9
7. Willis, P. E., "The man in the iron cage: not own méthod" in Working Está na hora de retomar a questão inicial deste trabalho: a
papers in cultural studies n. 0 9, Ce nte r for contemporary C ultural Studies,
ênfase no papel militante do pesquisador e o abandono da reflexão
University of Birmingham , Spring, 1976, p. 137.
8. Esta questão não é nova, apesar de ter sido pouco tratada. Já em 1953,
teórica sobre os caminhos da observação participante.
Redfield publicou um artigo onde discutia a especificidade do conhecimento
antropológico frente as outras ciências sociais, justamente por sua proximi-
dade com a arte. 9. Willis, op. ci1, p. 141.
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Não se pode dizer que os problemas relativos ao como fazer
Para iniciar o debate
X
pesquisa não interessaram aos pesquisadores. Durante os anos 70 Por isso não cabe concluir. É mais adequado apresentar
a. gran~e maioria dos trabalhos de campo reservou espaço para ; algumas questões que merecem uma reflexão mais profunda.
discussao da relação sujeito/ objeto de investigação. Seja sob a 1. O trabalho de campo contribuiu definitivamente para a crítica
forma de auto-análise do pesquisador, ou como relato das condições do economicismo e dos vários estruturalismos, mas deixou de ir
em que .s~ realizou a investigação, estes autores contribuíram para à raiz das questões metodológicas e por isso levou a uma postura
tornar VlSlvel um aspecto escondido do trabalho de campo. Roberto eclética. Talvez até possamos defender o ecletismo se soubermos
Da Matta, em seu excelente ensaio - "O ofício do etnólogo ou conjugá-lo com o anarquismo de que nos fala Feyrabend (1978) .
como .ter anthropological blues" 10 - mostra que a formação do
2. Uma contribuição inegável da volta ao trabalho de campo foi
pesqmsador propõe o planejamento de todas as fases de seu tra-
a presença de atores sociais, suportes dos discursos, que ganharam
balho, mas não o prepara para ver com olhos críticos seus humo-
carne e osso e deixaram de ser autômatos. Depois de fazê-los entrar
res, cansaços e infortúnios enquanto observador participante; e
em cena, é preciso definir com que autonomia podem atuar dentro
nem explicita o mecanismo pelo qual se chega a descobrir novi- do script. Se, ao criticar o mecanicismo, também abandonarmos
dades. a noção de estrutura, ou ficamos sem resposta para esta questão,
Depois deste ensaio, muito se tem escrito sobre as aventuras ou nos juntamos aos weberianos e parsonianos para estudá-la
do pesquisador. A perspectiva é freqüentemente limitada a uma melhor.
auto-análise, mas certamente traduz uma inquietação . Arrisco afir-
3. Também merece cuidado a questão da subjetividade como instru-
mar que a subjetividade que não fomos treinados para controlar mento de conhecimento. Aqui se beira tanto um irracionalismo
teima em se fazer presente e isto porque ninguém mais defende a muito em moda que nega a ciência (podemos lembrar o sucesso de
noção de "neutralidade" que os manuais positivistas propunham Castafieda) quanto a camisa-de-força da crença na realidade exte-
como condição da ciência. Nestas condições·; colocar o intelectual rior. O desafio está em encontrar um caminho intermediário.
no cenário da pesquisa passou a expressar a necessidade de dominar
a relação que leva ao conhecimento, mas, por outro l~do, esses
r~latos se limitam às aventuras do antropólogo sem colocá-las expli-
citamente como etapas do conhecimento. Descreve-se, por exemplo,
todo o folclore da entrada em uma favela para depois apresentar
uma análise "objetiva" de sistemas de parentesco. É fácil perceber,
entretanto, que estas descrições traduzem um mal-estar, causado
pe!a falta de segurança quanto aos limites da participação e as
exigências da objetividade.
Os c~nc.eitos de neutralidade e objetividade são freqüente-
n:-ent~ .esgnmidos como armas para garantir a legitimação do saber
cwnttfico. Por isso mesmo, é fácil abandoná-las, e seria produtivo
promover um debate sobre o estado del'ta questão. Este trabalho
pretendeu ser um convite para abrir esta discussão.
Alba Zaluar
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idéias, rituais, conversas informais , instituições, etc. A armadilha
ou simbólícil imanehte. Outro ponto cego que Bourdíeu 2 procurou
é armada pela própria teoria que pensa a antropologia como um desfazer aô questionar a posição do observador: o código só existe
"encontro de subjetividades", mas como que garantido ou resolvido
enquanto tal para o observador que apreende a cultura (ou a língua)
pela estrutura inconsciente do simbolismo . . Segundo esta, a inter·
"cdfilél instrumento de decifração mais do que como meio de ação
subjetividade já estaria dada na própria constituição do espírito
e exfjtessão". Nesta pirueta, o observador termina de costas para
humano, na lógica contrastiva que caracteriza a formação da cadeia
o " tultivo" atuante, pensante, que adere, hesita, opta, confunde~se,
de significantes. Na tentativa de afirmar o primado do pensamento,
muctâ , recorre a estratégias para vencer ,
que levou à associação entre sociedade e cultura e entre cultura e
linguagem, acabou·se por pressupor uma nova teoria do consenso óutra conseqüência para uma teoria do sujeito começa, então ,
social ou do inconsciente social: as estruturas inconscientes do pen· a s~ delinear. Pois se é encontro de subjetividades , a pesquisa
samento (igual à linguagem) estariam por detrás de todas as culturas atltfopológíca, nesta linha teórica, não coloca um e outro sujeitos
(igual às sociedades) . O social assim homogeneizado reduziu·se a na mesma posição , ou seja, as duas subjetividades não têm o mesmo
um código cujo conhecimento (deciframento) , por sua vez , restrin- estatuto . Um ; o " nativo ' ', o observado, uma estranha subjetividade
giu-se ao movimento do implícito para o explícito, ou seja, do sem sujeito ,:i deixa-se pensar pela lógica simbólica de seus mitos
inconsciente, da forma , para o consciente, o substantivo. A pesquisa e de sua linguagem. B o espírito humano, por assim dizer, que
etnográfica, por isso mesmo , resumiu-se quase a completar o reper- pensa por ele. Sem história , sem reflexão, sem crítica , sem criação ,
tório das manifestações dessa lógica simbólica cujos · princípios já um homem cdnsehsual, conformista e tradicional , um prisioneiro
estariam decifrados previamente. Os universais do pensamento hu- da rigidez da língua , o "nativo" nao tem nada a vet com a nossa
mano ou a lógica contrastiva dos significantes, cuja cadeia começa teoria do sujeitG. Um homem nu , porque despido de toda a varie·
de um ponto zero da significação ou de um significante primeiro , dade da história , apenjls repete um único mito : o do logos, que
prescindiria do cuidadoso levantamento dos significados e de seus desconhece ; mas qUe o comanda de dentro , desde D seu inconscíen·
contextos, Apenas se buscariam os equivalentes do hau, do mana, te. 4 O outrà , observador absoluto que decifrou o enigma dos códi·
que levariam necessariamente ao símbolo zero, como na cadeia gos , um ser histórico, crítico, que acumula conhecimentos e que
numérica. A ativídade da pesquisa, da busca, da descoberta , teria os discute, analisa e supera. Desde um lugar onde lhe está garan·
o campo delimitado pela prévia solução do enigma ou do código tida a objetividade, este observador é um sujeito que domiha o
decifrado. Uma experiência semelhante a se ser analisada por um iogas e pode usâ-lo em suil estratégia de obter novos cohhecimentos
psicanalista lacaniano ortodoxo.
e decifrar mistérios . Estrilnhamente, porém, só o faz encontrando
O descaso deste antropólogo pela atividade de pesquisa, na
pàtés de opostos por toda a pilrte e cumprindo ele mesmo a profe·
qual poderia até encontrar dados que negassem essa teoria, mani-
tia que proferiu sobre o pensamehto humaho . Uma razão simbó-
festa-se no uso indiscriminado do i·ótulo " empirista" a todos que
lica que , córtscientemehte, repete o mesmõ jdgo dos cegos " nativos ''.
se neguem a adotar tais pressupostos ou a cair no que seus críticos
Efupresta à sua visão ao que não vê para repetir-lhe o gesto só
chamaram de subjetivismo sem sujeito, universalísmo abfltrato ou
por ele visto ad infinitum. Tudo isso é nomeado de a busca mais
mesmo objetivismo abstrato , Muitas vezes o rótulo de ' 'empiri:Jta"
vem acompanhado de outros: " substantivista" , ''não-rehltivi sta ou profunda e mais importante dos universais ou dos princípios incons-
etnocêntrico" , "prisioneiro do viés da razão prática" , O paradigma
teórico Se fecha e ameaça COrtar as linhf!S de comunicação entre 2. Pierre Bourdieu, Ésquisse d'un e Th eorie de la Pratique. Genebra, Librairie
. os pesquisadores. Os pontos cegos dessa teoria que pretende ter Droz, 1972.
decifrado de vez o inconsciente precisam ser retirados do impen sado 3. Paul Rlcoeur, lnierpretação e Ideologia. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
(ou do seu inconsciente) e posta na mesa de nossas dl§cvssões, 1977.
4. bennis Tedlock, "The anaiogical tradition and the emergence of a dialo-
Apesar de não focalizá-la, esta teoria contém de modo implí-
glca1 anthropo lbgy'', in A nthropologica/ Research, vol. 35, n. 0 4, 1979,
cito uma teoria da prática que é subsumida numa razão c\.!ltural p. 395-7.
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cient:s da cultura, único modo de escapar às trapaças do etno- vista, quem é a pessoa entrevistada e a sua adesão ao que diz não
centnsmo.
são problemas . Nem muito menos a sua representatividade como
Apesar de tudo: ou por causa mesmo dessa definição prévia, porta-voz do grupo: todos são suportes de um mesmo pensar con-
um encontro g~rantldo. Não há o que temer no campo ou na sensual (social) porque inconsciente.
poltrona do gabmete. O simbólico garante. Não há risco de entender Por outro lado, a posição do observador enquanto participante
mal ou ser mal entendido e o desencontro não é uma possibilidade do processo da pesquisa também não entra nas cogitações teóricas .
sem~re presente. Com a metalinguagem decifradora do simbólico De fato, tudo leva a crer que, desta perspectiva , não importa como
servi~do de chave de todos os códigos, não há tampouco perigo de o pesquisador é de fato recebido ou visto pelo grupo. O corpus é
s~ ~air no mal dos males da antropologia: o etnocentrismo. O coletado de um modo ou de outro . Apenas oscila-se entre a possibi-
co?Igo cultural "nativo" pronto, acabado, completo e fechado , insti- lidade de "virar nativo", igualmente garantida pelas subjetividades
tl1ldo desde logo, tal como na definição do código "não-erudito" "encontradas" na lógica simbólica , e a saída mais ou menos rápida
"prim!tivo" ou "selv.agem", apresenta"se diante do observador já da convivência com os "nativos". Uma história que, recontada por
transfigurado em ob]eto, sobre o qual aquele se debruca usando Lévi-Strauss , tornou-se piada na;, versão de um "empirista" ameri-
~lenamente a sua razão para encontrar a lógica (racionaÍ) contras- cano. Revisitando a tribo dos Zuni, Tedlock 6 ouviu a interpretação
tlva ou principal do nativo. Não é de admirar, portanto, que dessa de um informante sobre a famosa conversão de Cushing, feito
escola de pensamento não tenha saído nenhuma teoria sobre 0 sacerdote pelos Zuni. Sim, de fato, tinham transformado o "homem
trabalho de campo. Ê como se tudo já estivesse resolvido antes branco" em "Sacerdote do Arco" numa cerimônia em que todo o
mesmo de se começar a batalha do entendimento. A própria posicão corpo do homem branco foi pinta&:> de listras negras. Os Zuni
do observador enquanto tal não é posta em questão. > disseram suas preces de cor (do coração), enquanto o homem
. O ma~erial e~nográfico aqui é arranjadd como um corpus, u~ branco as leu num pedaço de papel. E para os Zuni, explicou
conJunto sistematizado, fixo, arranjado de forma tal que possa Tedlock, o papel escrito é chamado de "listrado" e o corpo listrado
ser transposto em escrita . Privilegia-se todos os atos, enunciados e é o corpo de um palhaço. A "conversão" se realizou, pois, num
gesto.s, em .geral os oficiais e os mais formalizados, que podem ritual marcado pela ironia e a brincadeira, filhas da distância, só
ser sistematizados dessa forma, e acaba-se por construir uma estru- desvendadas num diálogo e na busca cuidadosa dos significados
tura estruturada, um sistema de signos decifrados. Não entra em contextuais dos nativos. O menosprezo pelo contexto, pelas nuanças
paut~ o processo de decisões e estratégias tomadas em meio a de significado, pelas divergências e pela ambigüidade, nem media-
conflitos e acordos , vacilações e dúvidas, impulsos e racionalizacões das nem resolvidas, não teria melhor exemplo.
val?res e predisposições. Este Viés etnográfico, que consiste> e~ Ainda no tema de "virar nativo", mas no outro extremo da
regtstrar o que já está codificado ou predisposto à escrita leva 0 postura diante do encontro de subjetividade, armam-se os ardis da
a.ntropól?go a ~esconfiar e igüorar ~ que é ptlvaâo, pesso~l . ilegí- pesquisa participante. Esta tem o mérito, sem dúvida, de questio-
timo e Improvisado porque a tradição metodológica o ensina a nar a finalidade dos nossos trabalhos e os benefícios que eles tra-
despr~zar o que não tem forma, o que é contraditorio e ambíguo.5 riam para os que aturam a nossa infindável e nem sempre agradável
. Por causa deste viés, grande parte das pesquisas foram redu- curiosidade . Mas a observação, tal como pensada por Malinowski
Zidas ao re?istro dos d!scursos oficiais e das entrevistas, que podem na sua ainda insubstituível teoria do trabalho de campo, é posta
ser, ~ranscnta~ . e analisadas com as mesmas téc.nicás usadas üas entre parênteses para que toda a atenção ·seja dada ao seu adjetivo
ana.llses de m1~os ~ de .textos. O contexto da açãd do que fói dito feito substantivo: a participação. De Malinowski, um "técnico"
muttas vezes nao e registrado. Como o antropólogo obteve a entre- cientificista, pouco resta no contraste com um Marx "político" que,
segundo os teóricos da pesquisa participante, veria na pesquisa uma
5. Pierre Bourdieu, op. cit. ; idem , Le Sens Pratique. Paris, Montotl,· 1982,
livro 2.
6. D. Tedlock, op. cit.
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tomar decisões e estabelecer estratégias que levem em _co~ta ? lugar
intervenção na realidade. 7 Vários problemas permanecem não resol- que ocupa enquanto estranho, diferente , superior o~ dtstnbm~or de
vidos com respeito à posição do observador : seria ele um líder, recursos. Sua presença, como de qualquer pesqmsador, ena um
um educador, um dirigente, ou um mero catalisador? Em qualquer novo campo de relações ou um espaço público que devem ser, eles
um destes casos, como exerceria as atividades de pesquisador? mesmos , objeto de reflexão porque históricos, datados e marcados
Tudo parece indicar que , da observação, enquanto distancia- pela alteridade. · _ .
mento sempre retomado apesar da presença continuada e da con- Como prática ainda não enriquecida pela reflexao (dtstan-
vivência às vezes íntima, quase tudo desaparece na força centrífuga ciada) que merece, a pesquisa participante _rode te_r outros resu.lta-
do "projeto político" que une observador e observado, ambos com dos diretos na dinâmica política local, nao prevtstos no pro!eto
o estatuto de agentes deste projeto. Neste caso , o pesquisador, que político popular. Ao se negar o posto de ob~ervador e ao av~hzar
se identifica com o projeto político popula;, não o discutido em (participativamente) ações e pessoas, o p~squtsador pode estar mad-
várias instâncias e lugares da sociedade maior , mas o projeto espe- vertidamente legitimando lideranças locats, tanto de pessoa~ quanto
cífico desenvolvido no local por um pequeno grupo de pessoas, de grupos, ao mesmo tempo que ajuda a institu_ir_ o ~rópno. modo
avaliza e participa da ação coletiva do grupo , mas não avalia a de comunicação entre líderes e liderados . Ao prlVllegta~ ? d~scu~so
sua própria presença enquanto estrangeiro num grupo que não é o sobre a carência e um certo modo de encaminhar as retvmdu;aço~s
seu. A própria tensão sujeito/objeto é negada pela afirmação de que locais, 0 pesquisador já definiu previamente o camp? de sua atençao
todos são sujeitos críticos e autônomos numa mesma ,ação política, e seus informantes-agentes principais. Ao fazer. 1sso, pode esta~
ou seja, a distinção e o conseqüente distanciamento entre observa- rdorcando um tipo de retórica e um tipo de hderança qu~ e7ta
dor e observado deixaria de ter cabimento, dissolvidos que ficam long; -de ser a única a mobilizar e a organ,izar Q esp_aço publico
pelo engajamento num mesmo projeto político . Esta dialéticà da local.s Mesmo que, na aua ética de respeito a autono~ma dos agen-
aproximação-distanciamento , que faz a festa da antropologia , sóme tes exima-se do papel de educador que outros se tmputam, sua
na luta pela construção de uma creche no bairro popular . mera' presença junto · a uma assoctaçao· - ou a um grupo . . de
. pessoas
No entanto, o pequisador não some do mesmo jeito. Ele não pode vir a aumentar o prestígio e a força delas em detnment?. de
deixa de ter seu próprio projeto intelectual, sua própria linguagem outras organizações, neste campo polítiGo altamente omnpetlttvo
e sua forma própria de se comunicar com seus pares, tudo isso de que fazem parte as organizações populares.
manifestado sem disfarces na obra final de sua autorià. Como autor, A imagem q1,1e a pesquisa registra das classe~ popuhue~ é . a
pelo menos, o pesquisador se diferencia . Além disso , qual o seu de grupos locais que se identificam peh1 falta de 1 ~~la carenc~~ ·
impacto e a sua aceitaçãb enquanto membro de uma classe social Estas existem de fato e §ãO o móvel çle projetas pohttcos os .mms
superior, uma raça idendHcada com o dominador, com uma lingua- variados, não neoessarianwnte aquele que Q pesqui~ado~ cgns~~era
gem, hábitos , vestimenta, gestos e gostos eruditos num grupà de como o m0derno , adequado , eficaz ou ju§to: O peng~. e a:~ha-l~s
subalternos, dominados tJU carentes? Sua função de coordenadêf, e encª mpá-los segundg um modelo ester~ottpado d~ partl~l~açao
sua competência em faiar bem, seu capital social (a rede de relações democnÜica", Além dis§o , ao focalizar ~ tom~r. como dect~tvo e
ou contatos com políticos, partidos e, não menos importante, agên- decidido Q disq.tr~p sgbre é!~ carências matenals, .o pesqt.nsador
cias de financiamento tie pesquisas desconhecidas pelos agentes dà é!p~na~ ª juda a fixar ou cristªlizar a identiçlª~e negatlY!l (pela f<llt~)
grupo pesquisàdo) rtãô reporiam a distinção negada ou dela como des!ms cla§ses. Aq1,1i, é! razão prátiça, ~ntendtda ~u~se que !;!Xc;l~sl
resolvida pelo objetivô pàlítico comum? De líder a mero catalisa' vam~nte em seu sentido utilit~rio e tornada o objettvo. ga ,r~sqmsa,
dor, o pesquisador participante atravessa muitas passagens , encruzi- torna conta d~ todo g plllço d~üxandg é! culturª (pu o snnbohço) nos
lhadas e armàdilhas. Tem, como todos os outros peséjüisadóres, que
120
121
Decerto nas conversas informais e nas entrevistas, o " na ti v "
sociedades de pequena escala , 25 mas que pode se expressar p lu ex lica a su; linguagem, justifica ou tenta entender as ~u as c ttS
canção, pela montagem do espetáculo do desfile carnavalesco, pel ~ dos outros " nativos" .ou mesmo revela segredos mantidos vela-
discurso formalizado em reuniões, pelas discussões acaloradas n a ~ açoes t hos Este também é um material precioso para o
ruas, bares, casas, esquinas e nos centros religiosos ou nas orga ni - dos a outros es ran · · "estran
zações populares. São estas formas de comunicação ou interação antropólogo que c~nseguiu romper ~s ~,a:~~:~:7. u~~~s~~oa~~bstitui ~
falante-ouvinte , das quais o diálogo entre o pesquisador e o pes-
quisado é apenas uma, que importa registrar, estudar, analisar e ~~i:r~s·~=d~~ ~~d~~:~:ól~m~:~~~~~~o~oe~~i:~:r:
não faz parte o grupo ' '
i~:;r~~~~~~f~c~~~
d b ancos
entender. E criticar. com o mundo dos poderosos , dos cultos , dos ric~s, os r 'd'
Uma vez desfeita a associação entre o social e o consensual, te mesmo que de forma sutil e matizada pela ~mt_zade constrUI a
entre a cultura e a língua, outros modelos que dão lugar para as ~o .,relacionamento diário. Esta necessária med~açao .te~ q~~ s~~
ambigüidades, tensões, inconsistências e conflitos entram em cena . constantemente avaliada e analisada para se, enten~er o stgF~ tc~ue
O social passa a ser pensado como drama, 26 como campo de forças ou si nificados) do que é dito ao antropologo. ~ ~ma a a
em luta ou como política do significado. 27 Com estes modelos, os ~ambé~ não pode ser divorciada do contexto propno. Umal f:Ia,
significantes em cadeia deixam de ser o foco da atenção e as ·dispu- . f o e amigo pode conter importantes reve açoes
tas, nuanças, contextos dos significados, é que exigem toda a perícia
e cuidado do atar-observador que é o antropólogo . Por isso mesmo,
pelo seu tom m tm · A
. , . . 1 Outra
ao antro ólogo as coisas do seu mundo stmbohco e ..s~cJa . '
,
aprender de fato a linguagem dos " nativos" é tarefa absolutamente p dos urbanos e xinguanos altamente pohttzados , pode
indispensável. Muitos dos equívocos e erros etnográficos decorreram nestes mun 'l hame se ele um
do fato de que o pesquisador não conhecia bem a linguagem do fazer do gra~~dor. 0~ do ~,aderno d~,::s~~Ja~~;,~ · ~m ve~culo para
grupo que estudou.
Mas não se trata tampouco de restringir a pesquisa ao diálogo ~~i~~~s~~~;éiad;:~~:::;~l:nq~::
neste campo
e:::~: ~:t~:~s:v~~~ :~~r:ss:e~~=~~~~:
" · 't , em pensa-
entre o antropólogo e o nativo ou de criar uma antropologia dialó- ingênuos, nem meras subjetividades, nem suJei os s
gica, como propõe Tedlock,28 que pensa a antropologia baseada mento crítico ou autónomo .
apenas na forma de comunicação específica que caracteriza o diálogo (.
entre o antropóligo e ,o "nativo" . Ora, como já vimos, para entender
a cultura do ponto de vista do sujeito que fala, atua e pensa, o I
II
antropólogo precisa se valer tanto da representação quanto da ação, i
esta também reprodutora e transformadora a um só tempo. Um "na- I•
e o privado. j
25. Goody, op. cit.; Washbaugh, op. cit.; Tedlock, op. cit. I•
26. Victor Turner, Schism and continuity in an Africa society, Manchester. ,t
j
University Press, 1957.
27. Clifford Geertz, op. cit.
28 . D . Tedlock, op. cit. , p. 387-98.
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