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p. 14: “formar uma ideia mais clara de como o comportamento e a vida afetiva dos
povos ocidentais mudou lentamente após a Idade Média. O segundo capitulo propõe-se a
mostrar como isso aconteceu. Tenta, com tanta simplicidade e clareza quanta possível, abrir
caminho à compreensão do processo psíquico civilizador. E possível que a ideia de um
processo psíquico que se estenda por gerações para a arriscada e duvidosa ao pensamento
histórico moderno. Mas não é possível concluir, de maneira puramente teórica e especulativa,
se as mudanças psíquicas observáveis no curso da hist6ria ocidental ocorreram em uma dada
ordem e direção (...)”.
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p. 210-1: “Todas essas cenas são o retrato de uma sociedade na qual as pessoas
davam vazão a impulsos e sentimentos de forma (...) fácil, rápida, espontânea e aberta
do que hoje, na qual as emoções eram menos controladas e, em consequência menos
reguladas e passíveis de oscilar mais violentamente entre extremos”.
p. 211: “Nesse padrão de regulação das emoções, que foi característico de toda a
sociedade secular da Idade Média, entre os camponeses como entre os cavaleiros
fidalgos, certamente não faltaram grandes variações. E as pessoas que se conformavam
a esse padrão se sujeitavam a grande número de restrições em seus impulsos. Mas tais
restrições e controles se faziam e uma direção diferente e em seu grau menor que em
períodos posteriores, e não assumiam a forma de autocontrole constante, quase
automático. O tipo de integração e interdependência em que viviam essas pessoas não as
compelia a abster-se de funções corporais uma na frente da outra ou a controlar os seus
impulsos agressivos na mesma extensão que na fase seguinte. Isto se aplica a todos.
Mas, claro, para o camponeses, a margem para agressão era mais restrita do que para o
cavaleiro – isto é, restrita a seus pares. No caso do cavaleiro, ela era menos restrita fora
de sua classe do que dentro dela, porquanto aqui era regulada pelo código da cavalaria.
[c. Kant] Uma restrição de ordem social às vezes se impunha ao camponês pelo simples
fato de que não tinha o suficiente para comer. Isto certamente representa um controle de
impulsos do mais alto do mais alto grau e que afeta todo o comportamento do ser
humano. Mas ninguém prestava atenção a isso e esta situação social dificilmente lhe
tornava necessário impor controles a si mesmo quando assoava o nariz, escarrava ou
pegava vorazmente comida na mesa. Nesta direção, a coação na classe cavaleirosa era
mais forte. Por mais uniforme, por conseguinte, que o padrão medieval de controle das
emoções pareça em comparação com situações posteriores, ele incluía grandes
diferenças, correspondentes à estratificação secular da própria sociedade, para nada
dizer da sociedade clerical. Essas diferenças não foram ainda analisadas em detalhe. São
visíveis nesses desenhos se os gestos comedidos e, às vezes, mesmo afetados dos nobres
são comparados com os movimentos desajeitados de criados e camponeses”.
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p. 231-2: “De acordo com 0 conceito de ideologia desenvolvido no seio da tradi~ao
marxista, poder/amos tenlaf explicar os aspectos ideol6gicos da negligencia a que foi relegado
0 desenvolvimento social, e a preocupagao com 0 estado dos sistemas sociais, dominantes nas
teorias sociol6gicas recentes, exclusivamente por referencia a ideais de classes cujas
esperangas, anseios e ideais· estao relacionados nao com o futuro, mas com a manutengao da
ordem existente. Mas esta explica~ao classista das crengas e ideais sociais implicitos na tcoria
sociol6gica jli nao 6 satisfat6ria em nosso seculo. Neste, temos que levar em conta tambem 0
desenvolvimento de ideais nacionais que transcendem classes sociais, a fim de entender os
aspectos ideol6gicos das teorias sociol6gicas. A integragao das duas classes industriais em uma
estrutura estatal previamente governada par minorias pré-industriais numericamente bem
pequenas; a ascensao de ambas as classes a uma posl~ao em que seus.representantes
desempenham urn papel mais ou menos domi. nante no Estado, e no qual nem mesmo os
setores mais fracos do operariado podem ser governados sem seu consentimento; e a
resultante identi. fica~ao mais forte de ambas as classes com a na~ao - todos esses fatores dao
uma for~aespecial, nas atitudes sociais de nossa epoca, a cren~a na pr6pria na~ao de cada um
como um dos mais altos valores da vida humana. 0 alongamento e a multiplica~ao de cadeias
de interdependencia entre os Estados, e 0 agravamento de tensOes e conflitos espedficos
entre eles, resultantes dessa orienta~ao, as importantissimas gnerras de Iiberta~ao nacional e
a amea~a sempre presente de gljerra geral - todos esses fatores contribuiram para 0
crescimento de padrOes de pensamento centralizados na na~ao”.
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p. 248: “Isto deve bastar aqui, como introd~ao a urna reorienta~ao da autoconsciencia
individual, e ao resultante desenvolvimento da imagem do homem, sem os quais fica muito
limitada nossa capacidade de conceber urn processo civilizador ou urn processo de lange prazo
que envolva estruturas sociais e de personalidade. Enquanto 0 conceito de individuo estive.r
ligado a autopercep~ao do "ego" em urna gaiola fechada, dificilmente poderemos conceber a
"sociedade" como outra coisa que urn conjunto de monadas sem janelas. Conceitoscomo
"estrutura social", "processo social" ou "desenvolvimento social" parecem enta~, na melhor
das hip6teses, cria~oes artificials dos soci610gos, como as constru~oes "ideal tipicas" de que
os cientistas necessitam para instaurar alguma ordem, pelo menos no pensamento, no que
parece, em verdade, ser uma acurnula~ao inteiramente desorganizada e desestruturada de
agentes individuais absolutamente independentes”.
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p. 270-1: “A substituição de ‘uma ideologia orientada para o futuro por outra
orientada para o presente e, às vezes, ocultada por um passe de mágica intelectual, que pode
ser recomendado a qualquer sociólogo interessado no estudo das ideologias como um
excelente exemplo do tipo mais sutil de formação de ideologias. A orientação das várias
ideologias centradas na ordem existente como mais alto ideal produz, às vezes, o resultado de
que os expoentes desses valores – em particular, mas não exclusivamente os expoentes de
suas nuanças conservadoras-liberais – apresentam suas posições como simples declarações
não-ideológicas de fatos, e restringem o conceito de ideologia aqueles tipos que se propõem a
mudar a ordem vigente, especialmente dentro do Estado. Urn exemplo do disfarce de
ideologia no desenvolvimento ,da sO-: ciedade aterna e a bern conhecida Realpolitik. Este
argumento parte da ideiaj eoneebida como uma dec1aracao puramente de fato, de que, na
poUtica intemacional, todas as naeoes realrnente exploram seu poder potencial com vistas
aointeresse nacional, de maneira implacavel e ilimitada. Esta aparente declaracao "de fato"
serviu para. justifiear urn ideal centralizado na naeao, uma versiio moderna do ideal maquis·
velieo, que afirma que a polftica nacional deve ser aplicada no campo intemacional aem
eonsideraeao pelas demais, mas exctusivamente no interesse naeional. Este ideal da Real
politik é, de fato, irrea1 porque na verdade todas as nações dependem umas das outras”.
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