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MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Estudos dirigidos em Pierre


Bourdieu

Teoria Praxiológica

Drª. Profª Neiva Furlin


Teoria da Prática de Bourdieu...

➢ Construiu uma sociologia da ação buscando compreender as “condutas humanas”, por


meio da análise da relação de mão dupla entre aquilo que chamará de “estruturas
objetivadas” e “estruturas incorporadas” e que comportará, por sua vez, a tentativa
de constituição de uma “teoria da prática”.

Recusa o paradigma epistemológico único do estruturalismo, que considera “objetivista”,


quanto de certa fenomenologia, tomada como “subjetivista”,

Propõe uma abordagem epistemológica que pretende articular dialeticamente o ator social
e a estrutura social. Que ela chama de “conhecimento praxiológico”

A noção de habitus será o dispositivo que permite articular as dimensões: objetividade e


subjetividade - Estrutura e ação do sujeito
Tradições teóricas dominantes que teve maior influencia
no pensamento Bourdieu
Fenomenologia Estruturalismo
Satre Levis Strauss

• Recusa o subjetivismo da • Recusa os diversos “positivismos”,


etnometodologia e do notadamente o “utilitarista” e o
interacionismo simbólico “marxista” em sua forma Althusseriana

As duas alternativas, por razões opostas, seriam incapazes de dar conta das práticas e de sua
regularidade, porque....

O método fenomenológico analisa as práticas O método estruturalista tem uma


em relação aos fins explícitos , não reconhece apropriação parcial do objeto, meramente
as disposições duráveis. Sartre faz de cada “objetiva”. Se torna uma estrutura esvaziada
ação uma sorte de confrontação sem de tempo e de vivência e de qualquer ação
antecedente do sujeito e do mundo real por parte dos indivíduos.
Fenomenologia
Estruturalismo

Husserl Merleau-Ponty Jean-Paul Sartre

Lévi-Strauss
Propõe superar à oposição entre “objetivismo” e
“subjetivismo”....

Pierre Bourdieu, propõe uma renovação no que concerne à oposição entre “objetivismo” e
“subjetivismo” em que a prática não seria resultado mecânico de ditames estruturais, nem o
resultado de intenções de escolhas de objetivos pelos indivíduos.
Sua teoria estaria inscrita no registro de uma “teoria da prática”, centrada na analise do habitus
Propõe superar à oposição entre “objetivismo” e
“subjetivismo”....

Pela análise do duplo processo de “interiorização da exterioridade” e de


“exteriorização da interioridade”, no qual se dá a elaboração, readequação,
enriquecimento e aprofundamento da noção de hábitus, passa a adquirir
tonalidades que enfatizam os modos de inculcação e de interiorização das
disposições duráveis que o constitui, levando Bourdieu a ressaltar fortemente a
importância das experiências da primeira educação e o papel do corpo, que
“aprende muito e retém bem.

O método utilizado e proposto por Pierre Bourdieu se insere no campo da


Sociologia da Prática ou Sociologia Reflexiva (BOURDIEU 2007)
(CAVALCANTE, 2017), alguns autores ainda preferem denominá-la de Teoria da
Prática (SCARTEZINI, 2011) (PETERS, 2017).
Bourdieu....

➢ Construiu uma perspectiva metodológica que contribuiu para denunciar os mecanismos de


manutenção ou de subversão do poder e para desvelar as formas sociais e simbólicas da
dominação presente nas relações sociais

“Ele procedeu no sentido de combinar em sua prática de pesquisa o racionalismo de


Bachelard e o materialismo de Marx com o interesse neokantiano de Durkheim pelas
formas simbólicas, a visão agonística de Weber sobre os Lebensordnungen (cotidiano)
em competição com as fenomenologias de Husserl e Merleau-Ponty (WACQUANT,
2002, p. 98).

➢ Dialogando com as teorias desses autores, Pierre Bourdieu construiu seu método,
favorecendo um conhecimento sem amarras intelectuais e aberto às diversas influências
teóricas com a finalidade de compreender o funcionamento prático da realidade social,
histórica e cultural de uma determinada sociedade.
O método de Pierre Bourdieu é...

Praxiológico Sistêmico Relacional

Parte-se da lógica da Os agentes sociais estão As ações dos agentes não se dão
práxis, o que remete a de forma desconexa de outras
inseridos em um sistema
uma noção da prática instâncias formativas, sociais e
(Campo) que se integra e
reflexiva da realidade e de históricas, e sendo assim, a
interage às mais diversas compreensão da realidade não
uma crítica teórica acerca esferas da vida cotidiana.
da atividade humana em pode ser apreendida como fato
sociedade. isolado de sua própria
historicidade coletiva.

A leitura praxiológica, sistêmica e relacional da realidade - considera que um


determinado fenômeno social depende totalmente das tramas que se inserem nas
relações históricas e sociais dessa realidade (BOURDIEU, 2007, 2003)
As grandes teorias e sua influência no pensamento de Pierre Bourdieu THIRY-
CHERQUES, 2006)

➢ Rejeita a redução objetivista que nega a prática dos agentes e não se


interessa senão pelas relações de coerção que eles impõem.
Do
➢ Nega o determinismo e a estabilidade das estruturas, mas mantém a noção
estruturalismo
de que o sentido das ações mais pessoais e mais transparentes não pertence
ao sujeito mas ao sistema completo de relações nas quais e pelas quais elas
se realizam (Bourdieu et al., 1990:32)

➢ Rejeita o descritivismo, que considera apenas como uma etapa do processo


Da de investigação. Mas absorve o rompimento com o senso comum, com as
fenomenologia pré-noções, com as doutrinas, com os modos de apreender o mundo.
➢ Ele segue a fenomenologia ao assumir uma “atitude fenomenológica”, que
entende o objeto como um todo e a ele integra a reflexão sobre a atitude,
tanto dos agentes quanto dos pesquisadores
As grandes teorias e sua influência no pensamento de Pierre Bourdieu THIRY-
CHERQUES, 2006)

➢ Se afasta das categorias marxistas ligadas à luta de classes: falsa


consciência, alienação, mistificação etc. Mas toma as ideias da luta pela
Do
dominação e da “consciência de classe”, que integra no conceito de habitus.
marxismo
➢ Para Bourdieu a dominação se exerce sempre mediante violência, seja ela
bruta ou simbólica seja mediante coação física, sobre os corpos, seja através
da coação espiritual, sobre as consciências (Bourdieu, 2001:203).

➢ Rejeita a ideia de que o fenômeno social é unicamente produto das ações


individuais, e que a lógica dessas ações deve ser procurada na racionalidade
Do dos atores.
individualismo ➢ Ele pensa que a formação das ideias é tributária das suas condições de
metodológico produção. Que os atos e os pensamentos dos agentes se dão sob
“constrangimentos estruturais”.
➢ Por isso insiste que, na pesquisa, se mantenha uma “vigilância
epistemológica”: o cuidado permanente com as condições e os limites da
validade de técnicas e conceitos
As grandes teorias e sua influencia no pensamento de Pierre Bourdieu THIRY-
CHERQUES, 2006)

Contra o ➢ Nega a ideia de que a observação é tanto mais científica quanto mais
positivismo conscientes e mais sistemáticos forem os métodos de que se serve)
➢ Bourdieu sustenta que, em sendo o objeto de estudo um ente que pensa e
fala, ele tende a tirar a objetividade da investigação. Para ele, o positivismo é
característico das ciências exatas.

✓ A epistemologia de Bourdieu implica, antes de tudo, a “objetivação do sujeito objetivizante”,


(Bonnewitz, 2002:5). Ele procura se colocar para além dos modelos existentes e da rigidez de
qualquer modelo explicativo da vida social.
✓ Entende que não se pode compreender a ação social a partir do testemunho dos
indivíduos, dos sentimentos, das explicações ou reações pessoais do sujeito.
✓ Parte de um construtivismo fenomenológico, que busca na interação entre os agentes
(indivíduos e os grupos) e as instituições encontrar uma estrutura historicizada que se impõe
sobre os pensamentos e as ações.
Método de Bourdieu

O estruturalismo de Bourdieu se volta para uma função crítica, a do desvelamento da


articulação do social. O método que adota se presta à análise dos mecanismos de
dominação, da produção de ideias, da gênese das condutas. (THIRY- CHERQUES,
2006, p. 28)

Desenvolve um estruturalismo dinâmico, genético ou construtivista.

Fundado em uma noção de estruturas históricas — como a do campo —,


contextuais e geradoras — como a do habitus — em que a percepção
individual ou do grupo, a sua forma de pensar e a sua conduta são
constituídas segundo as estruturas do que é perceptível, pensável e julgado
razoável na perspectiva do campo em que se inscrevem (Bourdieu, 1996, p.217
e segs.).
Método de Bourdieu

Desenvolve um estruturalismo dinâmico, genético ou construtivista.

No estruturalismo construtivista, as estruturas


objetivas do mundo social podem dirigir as ações
dos indivíduos, porém essas estruturas são
socialmente construídas
➢ Seu método se opõe a suposta neutralidade investigativa, pois considera que toda a prática
investigativa está relacionada com algum interesse e todo o pesquisador é produto do
mundo social (BOURDIEU 2007). Para isso defende a necessidade de uma sociologia
reflexiva ou uma vigilância epistemológica.

➢ Para Bourdieu, o sociólogo nunca pode perder de vista a parcialidade de suas análises: a
apreensão total da realidade social é uma epifania, um desejo que se não é mal-
intencionado é ingênuo.

➢ Para Bourdieu o objeto de estudo está inserido em um conjunto de relações . Defende que
o real é relacional
Sobre seus conceitos – percurso teórico metodológico

➢ Os conceitos primários formulados e aperfeiçoados por Bourdieu são o de habitus e o de campo. A


estes se agregam outros, secundários, que formam a rede de interações que orienta a sociologia
relacional e reflexiva da prática social.

➢ A teoria do habitus e a teoria do campo são entrelaçadas. Uma é o meio e a consequência da outra

➢ A teoria que Bourdieu leva à prova empírica não é um modelo, mas um referencial de conceitos
relacionais — campo, habitus, capital, estratégia, poder simbólico, dominação, violência
simbólica, torcas simbólicas e reprodução... — que são tanto a grade quanto o conteúdo da
explicação.

Percurso teórico metodológico construído por Bourdieu

Abordagem epistemológica bourdieusiana – para investigar o jogo da manutenção ou subversão


das estruturas sociais de dominação
As estruturas sociais na teoria de Bourdieu

As estruturas sociais estão em constante mudança a partir das relações sociais.


Contudo, considera que, por vezes, o modus operandi permanece inalterado favorecendo
uma reprodução social e cultural, especialmente no que se refere à manutenção do poder e
da dominação, como se evidencia nas obras: A reprodução (1992) e em Os herdeiros (2014).
Por conta dessa ultimas obras. Bourdieu , de forma precipitada tem sido, categorizado como
adepto da sociologia da reprodução

Bourdieu escapa à rigidez universalista do estruturalismo ao operar com a dinâmica


das relações sociais. Na medida em que os campos estão em permanente ebulição, as
estruturas podem ser subvertidas, sofrerem influências aleatórias. Uma vez em que
estruturam o campo, elas são continuadas, mas não são permanentes.
O individual é coletivo

➢ Bourdieu busca lançar as bases de dissolução de um velho antagonismo que assombra


o pensamento social: “falar do habitus, é colocar que o individual, e mesmo o pessoal, o
subjetivo, é social, coletivo. O habitus é uma subjetividade socializada” (WACQUANT;
BOURDIEU, 1992, p. 101).

A noção de habitus , mesmo que pouco explicita e elaborada começa a aparecer em seus
estudos sobre a Argélia. Mobiliza esse conceito para explicar as relações de afinidade
entre as práticas dos agentes e as estruturas objetivas (mercado de trabalho, mercado
matrimonial etc.), relações que uma situação de crise revelava a contrario, Bourdieu
pensará na chave de um “sistema de disposições”
As estruturas sociais na teoria de Bourdieu

➢ A Estrutura se reproduz, mas, dependendo dos resultados das lutas internas, da


influência da lutas externas em outros campos, ela pode não conservar a integridade
dos seus elementos. As posições podem ser alteradas.
➢ A estrutura de um campo é um estado das relações de força entre os agentes ou as
instituições que lutam para determinar a distribuição do capital específico,
acumulado no curso de lutas anteriores, que orienta as estratégias vindouras (Bourdieu,
1984 p. 114
As estruturas sociais na teoria de Bourdieu

Inscritos numa estrutura hierárquica os esquemas de pensamento são o produto das relações
de poder que se exprimem nas divisões fundadoras da ordem simbólica (grande/pequeno,
branco/negro, feminino/masculino etc.).

Para Bourdieu, portanto, “é o acordo pré-reflexivo entre as estruturas objetivas e as estruturas


incorporadas, e não a eficácia da propaganda deliberada dos aparelhos ou o reconhecimento livre da
legitimidade pelos cidadãos, que explica a facilidade, de resto algo espantosa, com a qual, ao longo da
história, e tirante algumas situações de crise, os dominantes impõem sua dominação”.
(BOURDIEU, 2001, p. 216).

“Dominação” ao mesmo tempo insidiosa, posto que “naturalizada” pelos “dominados” enquanto habitus, e
“eficaz” ao ponto de Bourdieu desenvolver a noção de “violência simbólica” como um dos instrumentos
maiores de análise das relações de poder nas sociedades contemporâneas.(SILVA, 2016, p.43-44)
As estruturas sociais na teoria de Bourdieu

➢ A sua concepção de estrutura é dinâmica. É a de um conjunto de relações históricas,


produto e produtora de ações, que é condicionada e é condicionante.
➢ Deriva da dupla imbricação entre as “estruturas mentais” dos agentes sociais e as
estruturas objetivas (o “mundo dos objetos”) constituídas pelos mesmos agentes.
➢ As primeiras instituem o mundo inteligível, que só é inteligível porque pensado a partir
das segundas. A reciprocidade da relação estabelece um movimento perpétuo, um
sistema generativo autocondicionado — o habitus — que busca permanentemente
se reequilibrar, que tende a se regenerar, a se reproduzir (THIRY-CHERQUES, 2006,
p. 31)
REFERÊNCIAS
BOURDIEU. Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Petrópolis: Vozes,
1985.
BOURDIEU. Pierre. Razões práticas. Campinas: Papirus, 2003.

BOURDIEU. Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007


CAVALCANTE, Cláudia Valente. A teoria da prática e a sociologia reflexiva de Bourdieu: uma abordagem para se pensar a realidade e
o método de pesquisa. In: PAIVA, Wilson Alves de (org). Reflexões sobre o método. Curitiba: CRV, 2017.

SCARTEZINI, Natalia. Introdução ao método de Pierre Bourdieu. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais. São Paulo:
Universidade Estadual Paulista - UNESP, n. 14 e 15, pp. 25-37, 2011.

SETTON, Maria da Graça Jacintho. Processos de socialização, práticas de cultura e legitimidade cultural. Revista Estudos de
Sociologia. São Paulo: Universidade Estadual Paulista – UNESP, v. 15, n. 28, pp. 19-35, 2010.

SILVA Anderson A. L. da. A teoria da prática de Pierre Bourdieu: entre estruturalismo e fenomenologia. Kínesis, v. 8, n. 18, p.31-45, Dez. 2016.

THIRY-CHERQUES, Hermano R. Pierre Bourdieu: a teoria na prática. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro,
v. 40, n. 1, p. 27-55, Jan./Fev. 2006

WACQUANT, Loïc. O legado sociológico de Pierre Bourdieu: duas dimensões e uma nota pessoal. Revista de Sociologia e Política.
Curitiba: Universidade Federal do Paraná - UFPR, n. 19, pp. 95-110, nov, 2002
.
WACQUANT, Loïc. Seguindo Pierre Bourdieu no campo. Revista de Sociologia e Política. Curitiba: Universidade Federal do Paraná -
UFPR, n. 26, pp. 13-29, jun, 2006.

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