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UFSM

Curso: PPGExR-dout.
Disciplina: EDA892 - TEORIA SOCIOLÓGICA I
Docente: Marcos Botton Piccin. Discente: José Luis Gonçalves Ramos Tarefa: Resenha
Data 22/06/2023

DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico. Tradução Paulo Neves.


Revisão da tradução Eduardo Brandão. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Prefácios da primeira e segunda edições.

Inicialmente, Durkheim adverte que é preciso que se enfrente os paradoxos


impostos pelos fatos sociológicos e evitar o risco de permanecer refém do senso
comum. Para superar esses desafios, desenvolve seu método científico próprio
a ser aplicado nos estudos sociológicos, o que não era comum à sua época.

Define fundamentalmente o fato social como seu principal objeto, como coisa
passível de ser observada e analisada cientificamente. Porém, apesar de propor
um método científico, não considera a objetividade como princípio
inquebrantável, e sim, uma qualidade essencial (própria do espiritualismo)
quando aplicada aos fatos sociais. Seu método separa o reino psicológico do
reino social, entretanto, não deixa de ser essencialmente racionalista na medida
em que busca estender o racionalismo científico à conduta humana,
corroborando a ideia de que, historicamente, a conduta humana é redutível a
uma determinada relação de causa e efeito, que pode se transformar em regras
de referência para comportamentos futuros. Esclarece que o racionalismo
empregado no seu método revela a influência do positivismo no seu trabalho, no
entanto, considera necessário julgar propositalmente os fatos sociais como
sendo irracionais, para que se possa explicá-los ou dirigir o seu curso.

Considerando que à sua época renascia uma tendência ao misticismo, justifica


sua busca da inteligibilidade dos fatos sociais para encontrar, principalmente, o
seu valor útil e que, portanto, seu empreendimento poderia ser aceito pela
comunidade científica sem medo por aqueles que, embora divergindo de suas
ideias em determinados pontos, mantenham ainda a fé comum no futuro da
razão.
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Ao prefaciar a segunda edição, Durkheim rechaça algumas críticas ao seu


trabalho inicial, atribuindo à Inovação do seu método a causa da maior parte da
incompreensão e das inevitáveis controvérsias e discussões dele decorrentes.
Por outro lado, com o passar do tempo enxerga uma evolução nessa situação
inicial de contrariedade com muitas vozes contrárias diminuindo seu volume e
suas críticas, mantendo-as em determinados pontos em um nível que considera
aceitável e até salutar. Mesmo assim, reconhece que alguns problemas de
aceitação do seu método permanecem vivos, como por exemplo, a proposição
de que os fatos sociais devem ser tratados como coisas, e muitos consideraram
paradoxal o fato de Durkheim assimilar as realidades do mundo exterior àquelas
do mundo social. Para o autor isso representa um equívoco sobre o sentido e o
alcance da sua assimilação, cujo intuito não era rebaixar as formas superiores
do ser em formas inferiores, mas, contrariamente, reivindicar às formas
superiores um grau de realidade no mínimo em nível de que todos as possam
reconhecer também nas formas inferiores.

Uma vez que a questão controversa localizava-se no significado de “coisa”,


procura esclarecer que essa ideia se opõe à suposição de que se deveria partir
de fora para dentro, e se opõe ainda ao que se conhece a partir de dentro, para
ele, todo o objeto do conhecimento que não é naturalmente penetrado, sendo a
inteligência uma “coisa”, tudo que não pode fazer uma noção adequada por um
simples procedimento de análise mental, ou tudo o que o espírito não pode
chegar a compreender, exige que se saia de si mesmo através de observações
e experimentações, até chegar aos caracteres mais exteriores e mais
imediatamente acessíveis em relação aos grandes visíveis e aos mais
profundos.

Explica ainda que o tratamento dos fatos como coisas não são necessariamente
classificados em uma ou outra categoria do real, pois todo objeto de ciência é
uma coisa (excetuando-se os objetos matemáticos quando se trata de fatos
propriamente ditos). Para ele, os fatos sociais são coisas principalmente no
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momento em que são objetos de ciência, necessariamente, coisas ignoradas,


uma vez que historicamente as representações que são feias deles ao longo da
vida, quando feitas sem método, carecem de valor científico, e por isso mesmo
tendem a ser descartados.

Considerando que a maioria das instituições sociais já está presente antes do


Homem existir, este não tem nenhuma participação na sua formação, ficando
difícil que descubra suas causas pela improbabilidade de ter contribuído de
alguma forma com sua gênese, enxergando de uma maneira confusa e
provisória quase nada das determinações que o faz agir, e a natureza da sua
ação presente. Daí a dificuldade de discernir as causas complexas que
precedem as atitudes da coletividade, até porque, individualmente, só pode
participar em uma parte infinitésima dos atos sociais. Enquanto o indivíduo está
rodeado por uma multidão de pessoas escapa-lhe o que passa nas suas
consciências, por isso acaba não percebendo que a regra que as rege tenha
qualquer concepção metafísica, e não especula sobre o âmago dos seres. Isto
por si só, demanda dos sociólogos que se coloquem no mesmo estado de
espírito de outros pesquisadores, como da física, da química, da fisiologia, para
penetrar uma região ainda mais inexplorada do seu domínio científico que é, no
caso, o desconhecido mundo social.

Outra proposta sua que considera bastante questionada é a noção de que os


fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos. Para explicar a exterioridade
das coisas, ou dos fatos sociais, argumenta que os elementos que constituem o
fato social, embora originados na individualidade, se exteriorizam formando uma
união, e toda vez que elementos de quaisquer natureza se combinam, acabam
produzindo, por sua vez, fenômenos novos a partir dos quais é necessária a
concepção de que estão situados no conjunto do todo que representam, e não
mais nos seus elementos individuais. Esses princípios podem ser aplicados à
sociologia, como sugere a síntese sui generis que representa toda a sociedade,
onde se produzem fenômenos novos diferentes dos que acontecem nas
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consciências individuais, admitindo-se que esses fatos específicos só residem


na mesma sociedade, e não nos indivíduos que a compõem.

Esclarece, a seguir, outro aspecto bastante confundido em sua primeira edição,


a questão que se refere à concepção de como se manifestam as maneiras de
fazer, ou de pensar, identificadas particularmente por serem capazes de exercer
uma coerção sobre as consciências individuais. Esta proposição, em particular,
foi taxada como sendo uma espécie de filosofia do fato social, supondo que sua
explicação dos fatos sociais se dava simplesmente pela coerção. A crítica
acusava o fato de que supostamente Durkheim tentasse explicar o fato social
por uma, ou no máximo, duas propriedades distintivas, no entanto, a que ele
utiliza é considerada a que lhe parece melhor diante do objetivo proposto. Porém,
não descartando a possibilidade de outras caracterizações sobre vários critérios,
e sobre outras circunstâncias. Nesse sentido, argumenta que, em sociologia, às
vezes, é preciso fazer essas escolhas, pois existem casos em que o caráter de
correção não é tão fácil e imediatamente reconhecível, portanto, trata-se de uma
definição inicial com o intuito de possibilitar um discernimento imediato e sua
percepção antes da pesquisa.

Refuta outras críticas, e deixa bem claro que a expressão de instituição é cabível
a todas crenças e modos de conduta instituídos pela coletividade, assim sendo,
define a sociologia como a ciência das instituições, da sua gênese e do seu
funcionamento. Respondendo a contestações, recusas ou aceitações parciais
do princípio fundamental do seu método – a realidade objetiva dos fatos sociais
– ratifica que tudo se resume a tal princípio, por ser um dos pilares da sociologia.
Chega a afirmar que a sociologia, como ciência, só pode ser reconhecida a partir
do momento em que passa a perceber os fenômenos sociais como coisas
exisentes em uma forma definida, com maneira de ser constante e com natureza
independente do arbítrio individual, das quais derivam- se relações necessárias
(de causa e efeito, p.e.).
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Constata, por fim, que o preconceito da onipotência do homem sobre o social


ainda se mantém em caráter precário na sociologia até que possa se libertar
definitivamente dele, este sendo o principal objetivo do seu esforço.

Ao concluir, Durkheim resume as características do seu método, sendo primeira


a declaração de independência da filosofia, pois esta somente precisa admitir
como postulado que a causalidade seja aplicada aos fenômenos sociais, assim
como é admitida no mundo físico-químico, biológico e psicológico. Reivindica à
soliologia a independência da filosofia, não só por seu método sociológico
permitir, e requerer, a mesma independência das doutrinas práticas, mas
também pelo fato de que é preciso assinalar algo de novo no objeto que estuda,
pois, caso se mantivesse apenas como uma consequência filosófica, não
restaria senão o mesmo objeto de estudo da filosofia, o que impossibilitaria o
novo.

Considerando que os fatos dos outros reinos se verificam no reino social, sob
formas especiais que possibilitam compreender melhor a sua natureza, em
expressão mais elevada, afirma que para perceber essas diferenças, é preciso
superar as generalidades e buscar o detalhe dos fatos. Somente assim, a
sociologia poderá fornecer materiais mais originais para a própria reflexão, à
medida que se especializar. A propósito, questiona se a sociologia estaria
destinada a realçar a ideia de associação à psicologia e, quem sabe, à filosofia.

Por outro lado, não considera que a sociologia deva se associar a teorias sem
valor científico, como, por exemplo, a doutrina individualista, a comunista ou a
socialista, no sentido do seu senso comum, uma vez que elas tendem a reformar
e não apenas exprimir os fatos. O objetivo do seu método, enfim, é possibilitar a
compreensão da realidade social, praticando a observação empírica dos fatos
sociais capazes de ajudar nesta compreensão. Para o autor, o papel da
sociologia é o de libertar o pesquisador de todos os partidos e paixões, adotando
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uma atitude que somente a ciência pode proporcionar, pelo contato direto com
as coisas.

Como segunda característica, afirma que seu método é objetivo, dominado pela
ideia de que os fatos sociais são coisas e como tal devem ser tratados, porém,
de forma diferente do que são tratados pelas doutrinas de Comte e Spenser, isto
é, de forma prática, mais do que teórica. É por isso que se dedica a estruturar
seu método em forma de disciplina, de tal forma que possa o cientista utilizá-lo
no momento em que abordar o objeto de suas pesquisas, e depois acompanhá-
lo em todos os seus passos. Sua dedicação foi no sentido de instituir essa
disciplina formalmente e dispô-la aos cientistas sociais, pois acredita
que somente por meio de experiências metódicas é que se pode alcançar o
segredo das coisas.

O terceiro traço característico do seu método é o fato de ser exclusivamente


sociológico. Procura estabelecer, também, que é possível tratar cientificamente
os fatos sociais, até então à margem da prática empírica, preservando seus
caracteres específicos, evitando reduzi-los a uma imaterialidade que os
caracteriza, como por exemplo, a complexidade dos seus dados psicológicos.
Também não absorve a imaterialidade como o faz a escola italiana nas
propriedades gerais da matéria organizada. Complementa seu argumento
defendendo uma cultura especificamente sociológica para preparar o sociólogo
à compreensão dos fatos sociais, pois considera que a sociologia é propriamente
uma ciência distinta e autônoma. O que resta a ser feito em sociologia para que
seja uma ciência definitivamente constituída, é a construção de uma
personalidade independente, confirmando sua razão de ser quando adotar por
objeto uma ordem de fatos, que outras ciências não estudam. Nesse sentido,
ressalta a impossibilidade de utilizar as mesmas noções de outras ciências, por
não convir à compreensão das coisas, ou fatos, sociais.
Conclui declarando que esses parecem ser os princípios do seu método
sociológico.
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