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A utilização da arte com fins

terapêuticos: história e
possibilidades
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL, SEM AUTORIZAÇÃO.
Lei nº 9610/98 – Lei de Direitos Autorais

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Você já parou para refletir quando surgiu a arte? Qual a sua finalidade? Podemos dizer que
a arte surge juntamente com o ser humano, ela está presente em nossas vidas de muitas
maneiras, seja através de música, danças, festas populares, filmes, vídeos, imagens, etc.
Ela se relaciona com uma determinada época, com uma cultura, ou seja, ela é antes de
tudo, uma forma de expressão da humanidade.

Pesquisadores e cientistas estudam vestígios de povos que habitaram a Terra a cerca de


35mil anos a.C, levantando inúmeras hipóteses a respeito da produção cultural desses
povos que são cercados de descobertas e novas teorias. De acordo com Meira (2015,
p.16),

“os objetos, pinturas e construções do período Paleolítico, embora sejam hoje


reconhecidos como obras de arte (e admirados como tal em museus), provavelmente não
foram feitos com a mesma intenção de um artista do mundo moderno, mas sim com
finalidades bem utilitárias para a vida cotidiana”.

Foi no período Paleolítico que surgiram as pinturas rupestres, desenhos feitos nas paredes
de cavernas, que eram abrigos permanentes de grupos humanos, representando animais,
marcas de mãos, de maneira a narrar uma cena. Por desenharem diretamente sobre a
rocha, utilizavam várias técnicas.

Pesquisadores afirmam que a arte rupestre era mais que mera decoração, mas possuía
um sentido mítico, ligada a rituais com o objetivo de alcançar uma boa caçada. Foram
encontrados também vestígios de Deusas, como a Vênus de Willendord, encontrada em
1908 na Áustria, uma escultura em pedra calcária com cerca de 11 cm, que conforme a
tradição histórica e por meio de estudos, foi tomada como um amuleto de fertilidade ou
mesmo afrodisíaco aos homens, com formas arredondadas e figuras femininas.
Observamos o poder místico sendo estabelecido entre a arte e a humanidade, a conexão
do homem com a natureza, a função dessas obras eram questões míticas e ritualística
com a vertente de preservação da espécie. No Egito existia uma arte popular, mas devido
aos materiais utilizados para este fim, poucos exemplares se conservaram. Segundo Meira
(2015, p.41),

“a arte egípcia é vista como uma comunicação entre o mundo dos vivos e o mundo dos
mortos. Seus padrões extremamente rígidos tinham a função de ajudar a manter a ordem
do Universo, simbolizado pela deusa Maat, e fundamental para permanência do Estado
faraônico”.

Outras civilizações impulsionaram a arte de acordo com sua cultura na antiguidade, um


dos maiores destaques são Grécia e Roma, sendo Atenas uma das cidades estados mais
importantes no âmbito artístico e cultural. Destacamos a escultura como uma vertente
dessa civilização, que unia a perfeição, a simetria de suas obras comparando a perfeição
de “Deuses”, onde as esculturas lhes forneciam o ideal de beleza e com o decorrer dos
tempos, elas ganharam movimentos. Na escultura Grega, o nu era presente, porém na
escultura romana, a preocupação era com formação de guerreiros, assim, passaram a

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esculpir corpos com armaduras de guerras. Meira (2015, p.77) observa que

“a partir do século VII a.C. surgem as primeiras esculturas em mármore representando o


corpo humano em tamanho natural. Essas esculturas votivas podiam ser usadas como
monumentos funerários, mas não representavam nem deuses nem o falecido. Eram
imagens idealizadas que evocavam valores como a virilidade, a fertilidade e a vitória”.

A cultura Grega foi assimilada pelo Ocidente e pelos romanos, visto que até os nossos dias
podemos observar grande influência dessa cultura na sociedade. Os romanos absorveram
as culturas dos povos que eles dominavam e impuseram sua própria cultura, constituindo
vários arcos triunfais demonstrando suas vitórias, edifícios públicos e templos eram
cercados de mosaicos e afrescos com cenas de batalhas e heróis romanos, em especial na
Palestina, que foi uma região ocupada pelos romanos, tomavam um cuidado especial
diante da religiosidade. Segundo

“O Estado romano acreditou que, ao crucificar Jesus, estaria contendo o crescimento de


mais uma seita religiosa que podia se transformar em uma força política nessa região. No
entanto, apesar das perseguições, a presença do cristianismo no Império Romano só
cresceu a partir de então. Quando o Império romano entrou em crise, as outras religiões
foram perdendo sua força e o cristianismo conquistando a população” (MEIRA, 2015, p.
95).

Após essa ascensão do cristianismo, entramos em um novo tempo, a Idade Média, que
equivale ao período da queda do Império Romano (476 d.C.) até o fim do Império
Bizantino (1453). A cultura e a arte desse período foram relacionadas ao cristianismo, o
culto à religião criou amplas basílicas com o intuito de abrigar um número maiores de
fiéis. Os cristãos ornamentaram suas igrejas com mosaicos e afrescos, deixando as
esculturas adormecidas, para não trazerem a imagem romana para seus templos. Nesse
período, três tipos de arte dominavam: Arte Bizantina, a Arte Românica e a Arte
Gótica, todas ligadas ao cristianismo. O corpo nesse período era visto como pecado, todo
bem-estar e salvação estavam ligados à Cristo e à Igreja.

Com o crescimento das cidades e da economia, uma nova classe social surge – a
burguesia –, que não eram mais os descendentes de nobres e reis, mas a classe que
passou a ter bens através de seu trabalho, os banqueiros e comerciantes. No final do
século XIV, um novo período se desponta: o Renascimento. Ele ficou conhecido pelo
desabrochar da ciência, do humanismo, o homem passou a ser antropocentrista e deixou
o teocentrismo de lado. Grandes artistas surgem e são reconhecidos pelo seu trabalho
como Leonardo Da Vinci, Michelângelo, Boticelli, entre outros.

O campo artístico se transforma pelas técnicas de perspectivas e pela maneira que


representavam o mundo com ilusão de ótica, houve grande evolução no âmbito do teatro,
música e arquitetura. Nesse cenário, surge o protestantismo de Martim Lutero, que,
contrariando a ideologia da Igreja Católica, ajudou a dividir a população entre o
cristianismo e o protestantismo. No século. XVII, de forma a conquistar novos seguidores,
a Igreja Católica passou a investir na arte como forma de atrair a população para as
Igrejas e recuperar sua perda, surgindo então uma nova época, o Barroco. Os artistas
trabalhavam com a emoção, proporcionando efeitos que traduziam e impulsionavam que

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algo irreal poderia se torna real, utilizando de artifícios emocionais e efeitos de luz e
sombra. Retratos de uma elite, de poder nas mãos, levando a reis e monarcas no seu auge
com Luís XV na França, como berço da cultura, arte e luxo.

No modernismo, muitos movimentos artísticos foram acontecendo: Neoclássico, Realismo,


Impressionismo, Expressionismo, Arte Nova, Fauvismo, denominadas vanguardas
europeias. De acordo com Meira (2015, p.235),

“durante a primeira década do século XX, os artistas europeus deram passos em direção
ás invenções do Modernismo. A fim de evidenciar seu papel como precursores, os jovens
empregavam a palavra “ vanguarda” para definir sua atuação”.

Houve uma grande reação ao passado, tudo foi transformado, os artistas nesse momento
não se preocupavam em apresentar uma imagem real, mas sim as impressões, sensações
e até suas angústias. Portanto, é possível identificar o que estava acontecendo na
sociedade a partir da reflexão sobre a obras de cada artista. Um exemplo foi Salvador
Dali, que em suas obras representou os estudos do campo da mente, da psicologia de
Freud, que na década de 1920 e 1930 apresentava pesquisas no campo da psiquiatria.
Sobre isso, Meira (2015, p.55) afirma que

“as obras surrealistas mais frequentemente associadas a expressão do inconsciente são


do pintor espanhol Salvador Dali(1904-1989), que com sua técnica minuciosa e detalhista
produziu imagens que parecem dar forma concreta a natureza ambígua dos sonhos”.

Para a autora, o surrealismo era uma série de pinturas que liberavam a consciência de
cada um, com o objetivo de conhecer cada um e sua natureza, tentando, na versão
automática da produção artística, alguma interpretação de algo que não pode ser
verbalmente exposto. Assim, caminhamos para a Arte Contemporânea, que muitas vezes
necessita de uma apreciação mais apurada, não basta compreender a história e a técnica,
o principal é conhecer e se reconhecer nela.

A arte contemporânea não se preocupa com o gosto, com regras, mas com o que
realmente ela consegue transmitir através de um tempo, cultura, economia política, ela é
um ato social, que se manifesta nas mais diversas formas, levando em consideração os
novos modelos de sociedade, tecnologia e interatividade, saindo das paredes, das telas,
dos museus, hoje ela fala com o público e, acima de tudo, se ocupam com questões
sociais.

Desta maneira, surge um novo conceito de arte, que incorpora elementos do cotidiano
como a reciclagem, visto que estão associados aos excessos da informação. Para reagir
contra esse ambiente de saturação, manipula-se e se reaproveita não só o lixo produzido
pela sociedade contemporânea fundamentada no consumo, mas também as imagens,
filmes, textos, objetos e sons que transbordam o nosso cotidiano, tanto em forma física
quanto imaterial. Frente a essa nova proliferação, alguns artistas consideram não mais
haver sentido em produzir novidades e o desafio parece estar em operar os arquivos,
transformar o que já foi feito, criar novas relações entre as proposições do passado.

Atualmente o artista é um ser ativo, que estabelece uma relação direta com seu público,
que não se limita apenas a ser um espectador, mas uma pessoa que interage e modifica

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sua percepção através de sua perspectiva. Alguns curadores alegam que arte é educação,
outros, porém, inserem a arte como questionamento, formas de comunicação não verbal,
a fala do inconsciente, portanto, podemos dizer que a arte é vida e a vida é a arte!

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Referências
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Integrativa em Inovações Tecnológicas nas Ciências da Saúde, [S.L.], v. 3, n. 00, p.
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CIORNAI, Selma. Percursos em arteterapia: ateliê terapêutico, arteterapia no trabalho


comunitário, trabalho plástico e linguagem expressiva, arteterapia e história da arte. São
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Cia do eBook,2020.

MEIRA, Beá. Arte: Do rupestre ao Remix. São Paulo: Scipione Didáticos, 2015.

RABELO, Cleison Luiz; SILVA, Edenice Maria da; BARBOSA, Maria Euda. Arteterapia,
Processos, sentimentos e emoções. Revista PLUS FRJ: Revista Multidisciplinar em
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REIS, Alice Casanova dos. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo.
Revista Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L], v. 1, n. 34, p. 142-157, mar. 2014.

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