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DISCIPLINA: LITERATURA PROFESSOR: ANDERSON DAMASCENO


REALISMO beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance,
1. As considerações abaixo contextualizam o período em que em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas
surgiu a arte Realista. e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto
O termo Realismo é de origem francesa. Ele foi usado pela nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos
primeira vez em 1855 pelo pintor Gustave Coubert, que intitulou da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o
sua exposição de arte, realizada em Paris, como Le Réalisme. A indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da
arte de Coubert já demonstrava uma certa oposição à liberdade criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira,
artística do _______________, pois tentava retratar os costumes ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita
de sua época. O primeiro romance que refletiu essa nova preguiça e alguma devoção, – devoção, ou talvez medo; creio que
tendência foi Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert, medo.
seguido por Thérèse Raquim (1867), de Émile Zola. ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Scipione,
1994. p. 45.
O objetivismo surge como uma espécie de recusa ao subjetivismo
e ao individualismo, característicos do período Romântico. Com 3. O texto denuncia o estilo irônico de seu autor. Aqui ele critica
isso, o personalismo é substituído por uma espécie de não-eu, as idealizações românticas que haviam moldado o público leitor.
revelando assim um homem mais universal, voltado para as Observe que Machado parte de uma adjetivação que nos leva a
coisas que estão ao seu redor. A _________ perde seu espaço montar um perfil de heroína romântica (voluntariosa, bonita,
para a razão e para o materialismo (doutrina que explica em carregada de feitiço) para só num segundo momento provocar a
termos evolutivos o problema da origem do mundo, dispensando ruptura com o uso de adjetivos como
assim a criação divina.). a) misteriosa – devota – faceira.
Os Realistas procuram retratar o homem a partir da observação b) imaculada – eterna – precária.
do seu meio ambiente e dos seus costumes, preocupando-se com c) ignorante – devota – fresca.
o momento presente e com o cotidiano, desprezando o d) ignorante – pueril – preguiçosa.
nacionalismo e o passado histórico. A ___________ passa então e) faceira – devota – preguiçosa.
a ser um instrumento de denúncia social, ou seja, contra tudo o 4. O trecho “...isto não é romance, em que o autor sobredoura a
que havia de ruim na sociedade. Por isso, é comum encontrar realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas” revela o
obras que satirizam: o clero, a monarquia, a burguesia e, em predomínio da função da linguagem
especial, a família burguesa. Devido a essa postura a) poética, pelo uso da ironia.
____________, pode-se dizer que os artistas desse período eram b) referencial, pelo estilo crítico e conciso.
antimonárquicos, antiburgueses e anticlericais. c) apelativa, pelo desejo de convencer o leitor.
Fonte: Mundo Cultural d) metalinguística, pela reflexão acerca do estilo do texto.
Os termos que completam o texto acima são, respectivamente, e) poética, pela presença da conotação.
os apontados na alternativa:
a) Romantismo – emoção – literatura – ideológica 5. “O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão
b) Romantismo – emoção – literatura – fantasiosa fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria
c) Classicismo – lógica – cultura – ideológica suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que
d) Simbolismo – lógica – literatura – fantasiosa bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que
e) Romantismo – emoção – cultura – fantasiosa eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem
atinar com a solução do enigma.”
2. As alternativas abaixo apresentam características do Realismo, O fragmento teve suas referências bibliográficas
exceto: intencionalmente omitidas a fim de que seja assinalada a
a) Reprodução da realidade pelo documento fiel da vida que alternativa cujas propostas, preenchendo as lacunas da frase
pretendia introduzir na obra. abaixo, completariam uma análise adequada de suas ideias.
b) Consequência do surto científico e da fadiga da repetição das “No excerto o narrador, que é o protagonista da história,
fórmulas subjetivas. questiona-se porque se sente dividido: percebe o mundo de um
c) O romancista deve ser um observador dos fatos, que modo ____________, mas aspiraria a que ele fosse organizado
documenta sem emitir opiniões. de acordo com princípios __________.”
d) Estabelecimento de correspondências estreitas entre os a) romântico, modernos
objetos de diferentes sentidos, como formas, cores, perfumes e b) realista, modernos
sons. c) realista, românticos
e) O escritor deveria escrever da melhor maneira possível e d) moderno, realistas
trocar os heroísmos pelas pequenas covardias da realidade e) realista, naturalista
cotidiana.
6. “Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é
Fragmento do capítulo XXVII, para solução das questões 3 e 4. verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino
era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais
a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e
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voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1993 (fragmento).
escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que
estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da
punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade
dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por do texto que garante a universalização de sua abordagem reside
pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que
casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, simboliza o triunfo da aparência sobre a essência.
recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição
dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a da mão de obra escrava pela dos imigrantes.
um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o
obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, desejo de eternização de Rubião.
nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que
os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, metaforicamente representam a durabilidade dos bens
puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das produzidos pelo trabalho.
matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que
um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões reproduz o sentimento de xenofobia.
de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande
admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o 8. Uma noite dessas, vindo da cidade para o Engenho Novo,
por simples formalidade: em particular dava-me beijos. encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao
vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me
chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem
isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava
alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.” cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.) que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
De acordo com o texto, a que se refere o trecho: “... não contente [...] No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e
com o malefício”? acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não
a) Ao fato de o garoto ser “opiniático e egoísta” mesmo estando gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à
sob as influências do pai muito severo, porém prático. alcunha, que afinal pegou.
b) Ao pai que é relapso em relação à educação do filho; quase [...] Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no
nunca o repreende e quando o faz, dá-lhe beijos depois. sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem
c) Ao fato de Brás Cubas ter quebrado a cabeça de uma escrava, calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me
porque lhe negara uma colher do doce de coco que esta estava fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei
fazendo. melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até
d) Ao choro e reclamação do moleque Prudêncio, quando o fazia ao fim do livro, vai este mesmo.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro.
de seu cavalo de todos os dias.
e) Às diabruras em geral como esconder chapéus ou beliscar os Esse fragmento do romance Dom Casmurro publicado, em 1899,
braços das matronas. pelo escritor carioca Machado de Assis é revelador de um de seus
traços estéticos mais marcantes, qual seja
7. Capítulo III a) o diálogo com o leitor, com recorrentes vocativos.
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe b) a metalinguagem com contínuas explicações sobre o próprio
deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era texto.
de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de c) a ironia com um relato onisciente do narrador observador.
coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que d) o psicologismo com alusão recorrente ao determinismo da
era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que raça e do meio.
aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, e) o criticismo com a predileção pela denúncia das mazelas
de escolher, escolheria a bandeja, - primor de argentaria, sociais.
execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era
espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das 9. TEXTO
mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava Ora, aí está justamente e epígrafe do livro, se eu lhe quisesse
acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio
estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem,
a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O mas ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o
seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da que for menos claro ou totalmente escuro.
província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha
francês, Jean; foi degradado a outros serviços. história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de
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solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as
os seus trebelhos(*). pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris (...).
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e (Aluísio Azevedo. O cortiço. 9ª ed. São Paulo. Ática, 1970. P. 56-7).
o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de Considerando a leitura do trecho acima, podemos inferir que
peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não a) a descrição do fragmento enaltece os elementos espaciais em
tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras detrimento da sensualidade de Rita Baiana.
podem ganhar a partida, e assim vai o mundo. b) a ausência de sugestões sensoriais dá ao fragmento um caráter
(Machado de Assis, “Esaú e Jacó”) romântico.
(*) Trebelhos: peças do jogo de xadrez. c) há muitas sugestões sensoriais confirmadas por meio de
A intervenção direta do narrador no texto cumpre a função de verbos de ação e de substantivos e adjetivos que contêm a
a) distanciar o leitor da articulação da história, evitando mesma ideia.
identificação emocional com as personagens. d) o trecho acima evidencia um caráter subjetivo e cheio de
b) despertar a atenção do leitor para a estrutura da obra, idealização, uma vez que a mulher é descrita com riqueza de
convidando-o a participar da organização da narrativa. detalhes.
c) levar o leitor a refletir sobre as narrativas tradicionais, cuja e) são características fortes presentes nesse trecho: a presença
sequência lógico-temporal é complexa. da natureza, a ambição e o ciúme patológico.
d) sintetizar a sequência dos episódios, para explicar a trama da
narração. 2. Os padres são fisicamente (e sublinhava a palavra),
e) confundir o leitor, provocando incompreensão da sequência anatomicamente, fisiologicamente, homens como os outros: têm
narrativa. coração, órgãos sexuais, nervos como os outros homens.
Portanto, assiste-lhes o mesmíssimo direito de procriação,
10. Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu pudesse direito natural e até consagrado pela Escritura. O contrário é
contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria contrafazer a natureza humana que, afinal, não obedece a
mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto alguma preceitos de castidade.
exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez, para (Fragmento retirado do romance A Normalista, de Adolfo Caminha).
compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige. Considerando o trecho acima, podemos inferir que o texto
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro) defende
Considerando-se o contexto desse romance de Machado de a) uma visão realista da sexualidade, já que procura inserir todos
Assis, pode-se afirmar corretamente que, no trecho acima, ao os homens, inclusive os padres, no universo da procriação.
comentar o próprio estilo, o narrador procura b) uma visão modernista da sexualidade que não defende o
a) afiançar a credibilidade do ponto de vista que lhe interessa celibato, entendendo-o como algo negativo.
sustentar. c) uma visão parnasiana da sexualidade, uma vez que ocorre a
b) provocar o leitor, ao declará-lo incapaz de compreender o citação do texto bíblico.
enredo do livro. d) uma visão naturalista da sexualidade como algo comum e
c) demonstrar que os assuntos do livro são mero pretexto para a instintivo, próprio do ser humano, independente de ser padre.
prática da metalinguagem. e) uma ideia naturalista da sexualidade, já que cita a procriação
d) revelar sua adesão aos padrões literários estabelecidos pelo e a Santa Escritura.
Romantismo.
e) conferir autoridade à narrativa, ao basear sua argumentação Texto para as questões 3 e 4.
na História Sagrada. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os
dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas só
NATURALISMO um ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a
1. (...) E viu a Rita baiana, que fora trocar o vestido por uma fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas;
saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar. A lua ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se.
destoldara-se nesse momento, envolvendo-a em sua cama de Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa
prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se de plantas rasteiras que
acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o
feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre
muito de mulher. a terra.
Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como
rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a formigas; fazendo compras.
esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço.
carnal num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já 3. O Naturalismo foi uma importante estética literária da segunda
correndo de barriga empinada; já recuando de braços metade do século XIX, nela, a arte nutre-se da ciência de maneira
estendidos, a tremer toda, como se fosse afundando num prazer bem particular. Não à toa os romances naturalistas serem
grosso que nem azeite em que se não toma pé e nunca se chamados de experimentais ou “de tese” pois absorvem ideias
encontra fundo. Depois, como se voltasse à vida, soltava um
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positivas e os pensamentos de Darwin e Tayne. Confirma essa e) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos
afirmação a seguinte passagem do texto: dispensados aos negros.
a) “O rumor crescia, condensando-se...” 6.
b) “...já se não destacavam vozes dispersas...”
c) “...ouviam-se gargalhadas e pragas...”
d) “...a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.”
e) “Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como
formigas...”

4. O caráter de denúncia social através da observação das


mazelas e “patologias”, sobretudo nos meios menos favorecidos,
caracteriza toda a produção de Aluísio Azevedo. O tratamento
dado aos personagens no fragmento confirma tal afirmação por
apresentar
a) “zoomorfização” do próprio cortiço que é o protagonista do
enredo.
b) “reificação” dos moradores que não têm vontade própria As peneiradoras de trigo (1854), de Gustave Courbet.
porque são produtos do meio. Atentando para a forma bem como para o tema, podemos
c) “animalização” dos homens e mulheres que compartilham os associar esta imagem ao
cubículos do cortiço. a) Romantismo, evidenciado pela abordagem idealizada do
d) “personificação” dos elementos da natureza que rodeiam o cotidiano.
ambiente dos moradores mais pobres. b) Parnasianismo, comprovado pelo rigor formal utilizado pelo
e) “coisificação” do próprio cortiço que inanimado não tem pintor.
vontade própria. c) Realismo, caracterizado pela objetividade formal e pela
temática cotidiana.
5. O mulato d) Arcadismo, confirmado pela abordagem do universo
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos camponês.
Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava e) Romantismo, por colocar em relevo a beleza da mulher a
modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; despeito do espaço.
tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes 7.
lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de
agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha
de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos:
"Mulato". E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa
nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que
estrangulava todas as outras ideias.
- Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos
escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele.
Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as
reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva
e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça
e de sangue. A leitora (1872 - 4), de Claude Monet.
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento). A cena retratada pode ser associada
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, a) ao Realismo pela verossimilhança da cena e pelo enfoque
vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador social.
expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois b) ao Romantismo pelo tema associado à formação de um novo
a) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à público leitor.
condição de raça. c) ao Expressionismo pelo uso de formas bem definidas,
b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no valorizando o onírico.
século XIX. d) ao Arcadismo pela presença dos elementos formais clássicos e
c) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes pelo apelo ao “fugere urbem”.
entre homens e mulheres.
d) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de 8. Capítulo LI / É minha!
ascender socialmente. – É minha! – disse eu comigo, logo que a passei a outro
cavalheiro; e confesso que durante o resto da noite foi-se-me a
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ideia entranhando-me no espírito, não à força de martelo, mas b) caracterização da personagem feminina como um estereótipo
de verruma. da mulher sensual e misteriosa.
– É minha! – dizia eu ao chegar à porta de casa. Mas ai, como c) convicção de que a mulher é um organismo frágil e
se o destino ou o acaso, ou que quer que fosse, se lembrasse de condicionado por seu ciclo reprodutivo.
dar algum passo aos meus arroubos possessórios, luziu-me no d) submissão da personagem feminina a um processo que a
chão uma coisa redonda e amarela. Abaixei-me; era uma moeda infantiliza e limita intelectualmente.
de ouro, uma meia dobra. – É minha! Repeti eu a rir-me e meti-a e) incapacidade de resistir às pressões socialmente impostas,
no bolso. representadas pelo pai e pelo médico.
Nessa noite não pensei mais na moeda; mas no dia seguinte,
recordando o caso, senti uns repelões da consciência e uma voz 10. TEXTO I
que me perguntava por que diabo seria minha uma moeda que
eu não herdara nem ganhara, mas somente achara na rua.
Evidentemente não era minha; era de outro, daquele que a
perdera, rico ou pobre, e talvez fosse pobre, algum operário que
não teria com que dar de comer à mulher e aos filhos; mas, se
fosse rico, o meu dever ficava o mesmo. Cumpria restituir a
moeda e o melhor meio, o único meio era fazê-lo por intermédio
de um anúncio ou da polícia. Enviei uma carta ao chefe da polícia,
remetendo-lhe o achado e rogando-lhe que, pelos meios a seu
alcance, fizesse devolvê-lo às mãos do verdadeiro dono.
(Porto Alegre: LePM, 1997.p.106-8)
Considerando o trecho acima e seus conhecimentos sobre o
Realismo brasileiro, podemos inferir que
a) a repetição da frase “É minha!” cria um paralelo em diferentes
situações entre Virgília e o dinheiro.
FREUD, L. Francis Wyndham. Óleo sobre tela, 64 x 52 cm. Coleção pessoal, 1993.
b) nesse trecho, é possível percebermos umas das características
mais fortes do realismo: o pessimismo e o ciúme. TEXTO II
c) assim como Brás Cubas não tinha a consciência pesada por Lucian Freud é, como ele próprio gosta de relembrar às pessoas,
ficar com Virgília, também não o tinha por pegar uma moeda que um biólogo. Mais propriamente, tem querido registrar verdades
não lhe pertencia. muito especificas sobre como é tomar posse deste determinado
d) a repetir a frase “É minha!” Brás Cubas mostra corpo nesta situação particular, neste específico espaço de
arrependimento por estar apaixonado pela esposa de Lobo tempo.
SMEE, S. Freud. Köln: Taschen, 2010.
Neves.
Considerando a intencionalidade do artista, mencionada no
e) nenhuma relação há entre a moeda encontrada por Brás Cubas
Texto II, e a ruptura da arte no século XX com o parâmetro
e o relacionamento do protagonista com Virgília.
acadêmico, a obra apresentada trata do(a)
a) exaltação da figura masculina.
9. — É o diabo!... praguejava entre dentes o brutalhão,
b) descrição precisa e idealizada da forma.
enquanto atravessava o corredor ao lado do Conselheiro,
c) arranjo simétrico e proporcional dos elementos.
enfiando às pressas o seu inseparável sobretudo de casimira
d) representação do padrão do belo contemporâneo.
alvadia. — É o diabo! Esta menina já devia ter casado!
e) fidelidade à forma realista isenta do ideal de perfeição.
— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é por falta de
esforços de minha parte; creia!
— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão bom para
procriar, se sacrifique desse modo! Enfim — ainda não é tarde;
mas, se ela não se casar quanto antes
— hum... hum!... Não respondo pelo resto!
— Então o Doutor acha que...?
Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia imaginar o que
eram aqueles temperamentozinhos impressionáveis!... eram
terríveis, eram violentos, quando alguém tentava contrariá-los!
Não pediam — exigiam — reclamavam!
AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG, 2003 (fragmento).
O romance O homem, de Aluísio Azevedo, insere-se no contexto
do Naturalismo, marcado pela visão do cientificismo. No
fragmento, essa concepção aplicada à mulher define-se por uma
a) conivência com relação à rejeição feminina de assumir um
casamento arranjado pelo pai.

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