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REVISÃO

DE ENEM
Professora Kelly Mendes
 Sem lista de livros obrigatórios, a prova é pouco detalhista em
relação às obras, mas cobra compreensão do contexto
histórico;

 “Além de saber as obras clássicas de cada período, é


importante que o candidato tenha um ponto de vista crítico
sobre elas”;

 Principais características de cada escola literária;

 Vale prestar atenção no modernismo, período preferido dos


avaliadores do Enem;

 E se surgir alguma questão na prova com autores


contemporâneos, não se esquente: “nesse caso é só
interpretação do próprio trecho do texto apresentado na
questão”;
1 - Quinhentismo (Século XVI)
 A produção do período quinhentista está voltada para a literatura informativa, principalmente por meio de relatos de
viagens dos europeus encantados e assombrados diante de uma nova terra.

 O valor é mais histórico do que literário. Além disso, o período é marcado pela literatura jesuítica e materiais para a
catequização.

Principais autores:
- Pero Vaz de Caminha:
Escreveu “Carta ao Rei Dom Manuel” em 1500 para relatar a chegada ao Brasil.
- Padre José de Anchieta:
Escreveu textos religiosos e para teatro com destaque para a moral cristã e clara divisão entre o
bem o mal.
- Padre Manuel da Nóbrega:
Coordenou a primeira missão jesuítica ao Brasil e escreveu relatos aos superiores.
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre
TEXTO I TEXTO II tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso
em: 12 jun. 2013. (Foto: Reprodução)

Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco


começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia,
quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos
e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa
que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem
feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada
dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que

a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras
e preocupa-se apenas com a estética literária.
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica
brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em
primeiro plano, a inquietação dos nativos.
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística.
e)a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico,
retratando a colonização.
2 - Barroco (Século XVII)
 A literatura barroca é marcada pelo conflito entre matéria e espírito, o apelo à religião, ao sobrenatural e ao misticismo, bem como o
exagero e a extravagância.
 O contexto aborda a dominação espanhola no Brasil e a sombra da inquisição, que condenou o Padre Antônio Vieira por seus textos. A
poesia satírica também é um dos elementos de destaque do período.

Principais autores:
- Bento Teixeira:
Autor de Prosopopéia, obra que é o marco da introdução do barro no Brasil.
- Gregório de Mattos:
As poesias do escritor baiano também conhecido como "Boca do Inferno" possuem diferentes facetas:
lírica, satírica e religiosa – esta última em sua maturidade literária.
- Padre Antônio Vieira:
Talvez o mais polêmico dos autores, Vieira é autor do Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes e foi
preso pela inquisição de 1665 a 1667.
2. (ENEM)

Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a


escultura barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu e está
representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de
Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho.
Profundamente religiosa, sua obra revela:

a) liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação.


b) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais.
c) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino.
d) personalidade, modelando uma imagem sacra com feições populares.
e) singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras divinas.
(BARDI, P. M. Em torno da escultura no
Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil,
1989.)
3 - Arcadismo (Século XVIII)

 A produção desta escola literária tem como características o predomínio da razão, o objetivismo e o universalismo. A natureza
é utilizada como constante plano de fundo e a imitação da cultura clássica greco-latina também.
 A linguagem é simples e majoritariamente descritiva, sem subjetivismo.

Principais autores:
- Cláudio Manuel da Costa – Obras Poéticas
- Santa Rita Durão – Caramuru
- Tomás Antônio Gonzaga – Marília de Dirceu
No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, a mensagem de carpe diem é transmitida a jovens
estudantes para lembrar a brevidade da vida e a urgência de vivê-la de forma extraordinária. Carpe
diem é viver o hoje sem preocupações com o amanhã. É desfrutar a vida e os prazeres do momento
em que se vive. Essa expressão tem o objetivo de lembrar que a vida é breve e efêmera, razão pela
qual cada instante deve ser aproveitado.

Disponível em: <https://www.significados.com.br/carpe-diem/>. Acesso em: 19 set. 17. (Parcial e


adaptado.)
Carpe diem é uma convenção do período literário denominado

a)Parnasianismo.
b)Romantismo.
c)Realismo.
d)Modernismo.
e)Arcadismo.
4 - Romantismo (Século XIX)

 O romantismo pode ser dividido em três gerações: a primeira possui influências neoclássicas e aborda
questões históricas e políticas.
 O subjetivismo é extremo, a produção é medievalista e nacionalista, com bastante idealização da mulher.
A segunda fase é marcada pelo pessimismo, sentimentalismo exagerado e irracionalismo.
 Já a terceira inicia a transição para o realismo e há uma diluição das características românticas.

Principais autores:
 1.ª fase: Gonçalves Dias – Canção do Exílio
 2.ª fase: Álvares de Azevedo – Lira dos Vinte Anos
 3.ª fase: Castro Alves – O Navio Negreiro
(ENEM) Leia o soneto abaixo:

“Já da morte o palor me cobre o rosto,


Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece, O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda
E devora meu ser mortal desgosto! geração romântica, porém configura um lirismo que o
projeta para além desse momento específico. O
Do leito embalde no macio encosto fundamento desse lirismo é:
Tento o sono reter!… já esmorece a) a angústia alimentada pela constatação da
O corpo exausto que o repouso esquece… irreversibilidade da morte.
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação
O adeus, o teu adeus, minha saudade, diante da perda.
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade. c) o descontrole das emoções provocado pela auto
piedade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade, d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão
Olhos por quem viveu quem já não vive!” amorosa.
(AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)
e) o gosto pela escuridão como solução para o
sofrimento.
(ENEM) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a
personagem, critica sutilmente um outro estilo de época:
o Romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis
anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, A frase do texto em que se percebe a crítica do
com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:
coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do
tempo, porque isto não é romance, em que o autor a) “… o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos
sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e às sardas e espinhas …”
espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o
rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, b) “… era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça
saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, …”
precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo,
para os fins secretos da criação.” c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza,
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: cheia daquele feitiço, precário e eterno, …”
Jackson,1957.)

d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou


dezesseis anos … “

e) “… o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins


secretos da criação.”
5 - Naturalismo (Segunda metade do século XIX)

 No contexto do naturalismo é necessário observar os pensadores contemporâneos daquela época:


August Conte com o positivismo, o evolucionismo de Charles Darwin, o surgimento da psicanálise
com Sigmund Freud, o determinismo do meio com Hippolyte Taine e a luta pela emancipação do
proletariado com Karl Marx.
 Isso significa uma preocupação com uma descrição objetiva da realidade e a busca pela verdade,
marcada pelo determinismo biológico.

Principais autores:
- Aluísio de Azevedo – O Cortiço
QUESTÃO 111

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa,
molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de
nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos
reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu
como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de diretor, o narrador revela um olhar sobre a
última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na
inserção social do colégio demarcado pela
preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a
cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde (A) ideologia mercantil da educação,
de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de repercutida nas vaidades pessoais.
pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias,
conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, (B) interferência afetiva das famílias,
atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros determinantes no processo educacional.
elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido
concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais
(C) produção pioneira de material didático,
caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas
públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, responsável pela facilitação do ensino.
amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se
ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da (D) ampliação do acesso à educação, com a
pátria. Os lugares que não procuravam eram um belo dia negociação dos custos escolares.
surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E
não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do (E) cumplicidade entre educadores e famílias,
espírito. unidos pelo interesse comum do avanço social.
POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005
6 - Realismo (Segunda metade do século XIX)

Esta escola literária é marcada pela objetividade, a descrição da realidade, a narrativa de ação e aventura.
A mulher é vista com seus defeitos e qualidades, já a linguagem, é culta e direta Personagens esféricos.

Principais autores:
- Machado de Assis – Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Dom Casmurro, O Alienista.
- Ironia, ambiguidade, digressão, metalinguagem, pessimismo,
Capítulos curtos, pessoalidade narrativa,
personagens metafísicos;
“Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia no trapézio que eu tinha
no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim,
que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as
pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.”
(Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)

Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:

a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.

b) o autor preocupa-se com os detalhes, por meio de minuciosa descrição.

c) o autor dá relevância a outras circunstâncias, negligenciando o foco do assunto.

d) o autor não mostra preocupação com o discernimento do leitor, pois apenas sugere situações.

e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.


7 - Simbolismo (Fim do século XIX)

Escola pautada pelo subjetivismo, pessimismo e a dor de existir. A linguagem é vaga, fluida e busca sugerir
em vez de nomear. O uso de figuras de linguagem como metáforas, comparações, aliterações (repetições
de sons iguais ou semelhantes) e assonâncias (repetir sons de vogais em verso ou frase) e sinestesias
(mistura de diferentes sensações) é frequente.

Principais autores:
- Cruz e Souza – Tropos e Fantasias, Broqueis e Missal.
- Alphonsus de Guimarães – Setenário das Dores de Nossa Senhora, Ismália.
(ENEM) Cárcere das almas
“Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Os elementos formais e temáticos relacionados ao
Mares, estrelas, tardes, natureza.
contexto cultural do Simbolismo encontrados no
poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e
Sonha e, sonhando, as imortalidades
direta, de temas filosóficos.
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em
Ó almas presas, mudas e fechadas
relação à temática nacionalista.
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
c) o refinamento estético da forma poética e o
tratamento metafísico de temas universais.
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
d) a evidente preocupação do eu lírico com a
para abrir-vos as portas do Mistério?!”
realidade social expressa em imagens poéticas
(CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura inovadoras.
/ Fundação Banco do Brasil, 1993. )

e) a liberdade formal da estrutura poética que


dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de
temas do cotidiano.
8 - Parnasianismo (Final do século XIX e início do XX)

 O gosto pela descrição nítida, as concepções tradicionais sobre ritmo e rima, além do ideal da
impessoalidade são as características principais das obras parnasianas.
 O culto à forma é fundamental: os autores desta escola estão preocupados em fazer a arte pela arte,
sem discutir questões sociais.

Principais autores:
 Olavo Bilac – Tratado de Versificação
 Alberto de Oliveira
 Raimundo Correia.
(ENEM) Mal secreto
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado
Se a cólera que espuma, a dor que mora formal e racionalidade na condução temática, o
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce, soneto de Raimundo Correia reflete sobre a
Tudo o que punge, tudo o que devora forma como as emoções do indivíduo são
O coração, no rosto se estampasse; julgadas em sociedade. Na concepção do eu
lírico, esse julgamento revela que:
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face, a) a necessidade de ser socialmente aceito leva
Quanta gente, talvez, que inveja agora o indivíduo a agir de forma dissimulada.
Nos causa, então piedade nos causasse!
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno
Quanta gente que ri, talvez, consigo quando compartilhado por um grupo social.
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa! c) a capacidade de perdoar e aceitar as
diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo
Em parecer aos outros venturosa! a apiedar-se do próximo.
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia.
Brasilia: Alhambra, 1995.) e) a transfiguração da angústia em alegria é um
artificio nocivo ao convívio social.
9 - Pré-modernismo (Até a semana de 1922)

 No começo do século a literatura passa por um momento de transição em que as escolas mais recentes convivem por igual
importância, ao mesmo tempo em que os autores buscam apresentar coisas novas.
 É um período eclético: há a ascensão da burguesia urbana e diversas agitações de operários imigrantes no começo da
industrialização do país, que aos poucos substituía o foco na produção de café para uma diversificação econômica.

Principais autores:
- Euclides da Cunha – Os Sertões
- Monteiro Lobato – Reinações de Narizinho
- Lima Barreto – Triste Fim de Policarpo Quaresma
- Augusto dos Anjos – Eu
- Graça Aranha – Canaã
(ENEM)
Psicologia de um vencido A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura
“Eu, filho do carbono e do amoníaco, de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética
Monstro de escuridão e rutilância, e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas
Sofro, desde a epigênese da infância, dessa literatura de transição, como:

A influência má dos signos do zodíaco. a) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o
vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos
Profundissimamente hipocondríaco,
estéticos vigentes no Modernismo.
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta
em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “Influência
Que se escapa da boca de um cardíaco. má dos signos do zodíaco”.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas c) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em
“carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância”, “frialdade inorgânica”,
que restitui a visão naturalista do homem.
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los, d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética
E há de deixar-me apenas os cabelos, do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na
Na frialdade inorgânica da terra!” expressividade poética e o desconcerto existencial.
(ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. )

e) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao


mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos
mais tarde renovados pelos modernistas.
10 - Modernismo

 O período modernista é dividido em três etapas: na primeira, chamada de fase heroica, existe a busca por uma ruptura com a
preocupação das estruturas clássicas no parnasianismo e o simbolismo. Há grande influência de movimentos de vanguarda
como o dadaísmo, cubismo e surrealismo.
 Na segunda fase, há uma consolidação de estruturas e um forte caráter regionalista na produção. Já na terceira, a literatura
está mais próxima das questões existenciais e ainda que fale do regionalismo, como Guimarães Rosa em Sagarana, a
intenção é partir do regional para falar do universal.

Principais autores:
Primeira fase:
- Manuel Bandeira – Libertinagem; Lira dos Cinquent'anos,
 Estrela da Vida Inteira(poesia), Crônicas da Província do Brasil.
- Mário de Andrade – Lira Paulistana (poesia),
 Macunaíma (rapsódia), Amar, verbo intransitivo (romance).
Estrada

Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de
Interessa mais que uma avenida urbana. significados profundos a partir de elementos do
Nas cidades todas as pessoas se parecem. cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. contraste entre campo e cidade aponta para
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única. A) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação
Até os cães. dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com
Estes cães da roça parecem homens de negócios: relação à cidade.
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai! B) a percepção do caráter efêmero da vida,
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: possibilitada pela observação da aparente inércia da
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um vida rural.
bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos C) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como
símbolos, possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar. D) a visão negativa da passagem do tempo, visto que
esta gera insegurança.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar,
1967. E) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão
acerca da morte.
Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase,
Sambinha procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras. de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e
Afobadas braços dados depressinha nacional. No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos… se, pois:
Vestido é de seda. a) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas
Roupa-branca é de morim. costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento dos
Falando conversas fiadas versos é truncado, o que faz com que o evento perca a
As duas costureirinhas passam por mim. naturalidade.
— Você vai?
— Não vou não!
Parece que a rua parou pra escutá-las.
b) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante
Nem trilhos sapecas das costureirinhas — depressinha — que, em última instância,
Jogam mais bondes um pro outro. representam um Brasil de “todas as cores”.
E o Sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens. c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras
As nuvens são vermelhas. gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do
A tardinha cor-de-rosa. poema.
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas…
Fizeram-me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras! d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava
Isto é… a sociedade do início do século XX, machismo expresso em “que até
Uma era ítalo-brasileira. dão vontade pros homens da rua”.
Outra era áfrico-brasileira.
Uma era branca. e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão
Outra era preta. modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as origens
ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.
africana e italiana das mesmas.
10 - Modernismo

 - Oswald de Andrade – O Rei da Vela.

Segunda fase:
- Carlos Drummond de Andrade – Claro Enigma.
- Cecília Meirelles – Espectros.
- Érico Veríssimo – O Tempo e o Vento, Incidente em Antares.
- Graciliano Ramos – São Bernardo, Vidas Secas.
- Jorge Amado – Capitães de Areia, O Cavaleiro da Esperança, Gabriela, cravo e canela.

 - Rachel de Queiróz – Quinze.

 Terceira fase:
 - Guimarães Rosa – Sagarana.
 - Clarisse Lispector – A Hora da Estrela.
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula
disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da
pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o A elaboração de uma voz narrativa peculiar
nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector,
sei que o universo jamais começou. culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano
[…] da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta peculiaridade porque o narrador
continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as a) observa os acontecimentos que narra sob uma
coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré- ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às
pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta personagens.
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato.
Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o b) relata a história sem ter tido a preocupação de
que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra investigar os motivos que levaram aos eventos que a
mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por compõem.
aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões
uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos existenciais e sobre a construção do discurso.
poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de.
De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que d) admite a dificuldade de escrever uma história em
estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só razão da complexidade para escolher as palavras
não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a exatas.
morte parece dizer sobre a vida — porque preciso
registrar os fatos antecedentes. e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento). e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
Análise de questões...

Arte e Literatura – Vanguardas Poéticas


O título provocador do quadro
com o cachimbo, e a legenda
com a afirmação de que
aquilo não é um cachimbo,
colocou a base mesma da
discussão da representação na
arte.
Uma imagem não é uma
realidade, é uma
representação da realidade
com tudo o que isso encerra
de idealização (ainda que
realista) deformação,
reinvenção, ampliação
metafórica ou simbólica de
sentido.
CONCRETISMO
da sua memória
mil
Trabalhando com recursos formais inspirados no
e
Concretismo, o poema atinge uma expressividade que
mui
se caracteriza pela
tos
a) interrupção da fluência verbal, para testar os limites
out
da lógica racional.
ros
ros
b) reestruturação formal da palavra. para provocar
tos
o estranhamento no leitor.
sol
tos
c) dispersão das unidades verbais, para questionar o
pou
sentido das lembranças.
coa
pou
d) fragmentação da palavra, para representar o
coa
estreitamento das lembranças.
pag
amo
e) renovação das formas tradicionais, para propor
meu
ANTUNES, A.2 ou + corpos no mesmo espaço. uma nova vanguarda poética.
.
São Paulo: Perspectiva, 1998

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