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Professora Kelly Mendes
Variação linguística
• Todas as sociedades são heterogêneas sob dois pontos de vista:
• Por serem a expressão da identidade das sociedades que as usam, as línguas naturais
também são heterogêneas.
• Em consequência, todas as línguas naturais apresentam algum grau de variação.
Forças que agem sobre a
língua
• Duas forças agem sobre as línguas (CUNHA; CINTRA, 2001):
• uma força inovadora, que corresponde à variação linguística e é determinada pela diversidade
dos falantes e pela própria evolução da sociedade;
• uma força conservadora, que reprime a primeira e zela pela obediência à norma padrão. É
exercida por instituições como escola, imprensa, editoras, governos e órgãos públicos.
Força Força
conservadora inovadora
(variação
(norma padrão)
linguística)
Tipos de variação linguística
Para a filologia (ciência que estuda as línguas na perspectiva histórica), a resposta é simples: o rotacismo —
isto é, a troca de um som, especialmente o l ou o s, pelo r — é uma característica inerente à língua
portuguesa. Trata-se de uma tendência observada há muitos séculos, desde a evolução do latim ao
português:
Por um lado,
conservador: mantém
traços característicos do
português falado na Por outro lado, inovador:
Europa do século XVI. passou a apresentar traços
próprios, inéditos na Europa.
Português brasileiro e norma culta
Norma padrão é o jeito de falar e escrever uma língua que se definiu como sendo o “correto”.
• uniformizar a língua, para que documentos, leis, materiais didáticos, discursos, livros e outros textos
sejam compostos de maneira padronizada;
• valorizar a língua, sua literatura e, em última instância, o próprio povo que a usa.
Português brasileiro e norma culta
Como se estabelece a norma padrão de uma língua?
Em geral, as variantes escolhidas são as empregadas pela elite cultural da comunidade. Por isso,
a norma padrão também é chamada de norma culta.
Português brasileiro e norma culta
No Brasil, porém, a norma culta não corresponde à norma padrão. Por quê?
Porque a norma padrão consagrada no Brasil se baseia quase totalmente na norma culta portuguesa, ou
seja, nos hábitos linguísticos da elite cultural portuguesa, não de nossa elite cultural.
Por exemplo: todos os brasileiros (inclusive os mais escolarizados) falam “Me esqueci de comprar pão”. No
entanto, nossa norma padrão estabelece como correta a forma “Esqueci-me de comprar pão”, usada em
Portugal.
Português brasileiro e norma culta
Em outros países, para conhecer a norma padrão basta observar como falam e escrevem as pessoas mais
escolarizadas (ou seja, basta observar a norma culta).
Ô loco, meu! Tá mó
calorão hoje! Vâmo
tomá uns chope depois
do trampo?
Variação diatópica (regional):
exemplos
Falares urbanos X falares rurais
Regionalismos podem ou não ser estigmatizados, isto é, “vistos com maus olhos” pela população
em geral.
Com frequência, as marcas típicas da zona rural são estigmatizadas, em razão da situação de
exclusão social tradicionalmente vivida pelas populações do campo.
Veja esta comparação:
Já punhô
Bah! Tô tri água no
atrasado, fijão, fia?
guria!
Regionalismos estigmatizados
Regionalismos não (em geral rurais)
estigmatizados
(em geral urbanos)
Variação diastrática
(social)
Sob a perspectiva diastrática (dos estratos sociais), o modo de usar a língua varia conforme:
• o nível de escolaridade;
• a faixa etária;
• o sexo;
• a profissão;
• o grupo social a que a pessoa pertence (surfistas, “funkeiros”, evangélicos, fãs de música sertaneja etc.);
entre outros fatores.
Evolussaum...
Variação diamésica (oralidade e
escrita)
Principal diferença entre oralidade e escrita:
Oralidade Escrita
Os momentos de Há uma defasagem entre
produção e recepção os momentos de produção
são simultâneos: à e recepção.
medida que você fala,
seu interlocutor ouve.
Variação diamésica (oralidade e escrita)
Vantagens Vantagens
da oralidade da escrita
É possível negocia
ro É poss
ssível revisar o texto.
sentido cco
om o
interlocutor.
As falhas
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leitor tem acesso a ltass:: o
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o final.
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hora.
É possível consulta
r
fontes e checar info outrasas
Tende a haavver maio rmaaççõ
ões.
r
tolerância
cia a erros. Tende a haver maio
r cobrança.
Variação diafásica
(registro formal e informal)
• Não há uma divisão radical entre registro formal e informal: é mais correto pensar em um continuum
de formalidade. Além disso, é diferente ser formal oralmente e ser formal por escrito.
Variação diafásica (registro formal e informal)
A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma
característica do falar popular regional é
a) “Isso é um desaforo”
D
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada
(aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem
corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive descobrindo
essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E
irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez
de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora
em vez de apresentar sua mulher.
SABINO, Fernando. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da
língua, evidenciando que:
d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.
Variante regional – Enem 2015
Assum preto
(Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió
Assum preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá.
As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam da aplicação de um conjunto de
princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resultado de uma mesma regra,
a:
a) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.
D
No dia 21 de setembro de 2015, Sérgio Rodrigues, crítico literário, comentou que apontar um erro de português no
título do filme Que horas ela volta? “revela visão curta sobre como a língua funciona”. E justifica:
“O título do filme, tirado da fala de um personagem, está em registro coloquial. Que ano você nasceu? Que série você
estuda? e frases do gênero são familiares a todos os brasileiros, mesmo com alto grau de escolaridade. Será preciso
reafirmar a esta altura do século 21 que obras de arte têm liberdade para transgressões muito maiores?
Pretender que uma obra de ficção tenha o mesmo grau de formalidade de um editorial de jornal ou relatório de firma
revela um jeito autoritário de compreender o funcionamento não só da língua, mas da arte também.”
(Adaptado do blog Melhor Dizendo. Post completo disponível em http:// www melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em-que-ano-estamos-mesmo/. Acessado em 08/06/2016.)
Entre os excertos de estudiosos da linguagem reproduzidos a seguir, assinale aquele que corrobora os comentários
do post.
a) Numa sociedade estruturada de maneira complexa a linguagem de um dado grupo social reflete-o tão bem como
suas outras formas de comportamento. (Mattoso Câmara Jr., 1975, p. 10.)
b) A linguagem exigida, especialmente nas aulas de língua portuguesa, corresponde a um modelo próprio das classes
dominantes e das categorias sociais a elas vinculadas. (Camacho, 1985, p. 4.)
X
c) Não existe nenhuma justificativa ética, política, pedagógica ou científica para continuar condenando como erros os
usos linguísticos que estão firmados no português brasileiro. (Bagno, 2007, p. 161.)
C
d) Aquele que aprendeu a refletir sobre a linguagem é capaz de compreender uma gramática – que nada mais é do
que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua. (Geraldi, 1996, p. 64.)
Variante social – Enem 2013
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O Pensador. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
“A correção da língua é um artificialismo, continuei episcopalmente. O natural é a incorreção. Note que a gramática só
se atreve a meter o bico quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para longe, de orelhas murchas.”
LOBATO, Monteiro, Prefácios e entrevistas.
a) Tendo em vista a opinião do autor do texto, pode-se concluir corretamente que a língua falada é desprovida de
regras? Explique sucintamente.
A língua falada objetiva a comunicação e, por isso, se permite não utilizar a norma padrão ou culta, o que não deve ser considerado erro. A fala utiliza a
gramática descritiva, que é o uso da língua pelos seus falantes.
b) Entre a palavra “episcopalmente” e as expressões “meter o bico” e “de orelhas murchas”, dá-se um contraste de
variedades linguísticas. Substitua as expressões coloquiais, que aí aparecem, por outras equivalentes, que pertençam
à variedade padrão.
O termo “episcopalmente” segue a norma padrão. Podemos substituir “meter o bico” por “intrometer-se” e “de orelhas murchas” por “envergonhada”.
Referências
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. 3. ed. São Paulo:
Parábola, 2007.
BOWEN, J. Donald. A multiple register approach to teaching English. Estudos linguísticos, São Paulo, v. 1, n. 2,
1966, p. 35-44.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. Trad. de Celso Cunha. 5. ed. Lisboa: Liv. Sá da Costa, 1993.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 8. ed. São
Paulo: Cortez, 2002.