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produção textual II
Profa. Dra. Maíra Gomes
Variações linguísticas
• Até aqui temos compreendido as manifestações faladas ou escritas da
língua como processos essencialmente dinâmicos, sujeitos a
transformações e independentes de um modelo rígido, capaz de
determinar se este ou aquele texto é correto ou incorreto, adequado
ou inadequado, quando independentes do contexto de utilização. No
entanto, nem sempre foi assim. Existiram e ainda existem concepções
arcaicas do uso da língua, as quais vinculam determinadas formas de
dizer/escrever ao socialmente aceitável ou não, preconizando a
adesão irrestrita a uma gramática dita normativa, capaz de regular os
usos da língua de acordo com padrões de correção herdados de uma
elite cultural, a saber, os usos da aristocracia socioeconômica.
Variações linguísticas
• O QUE SÃO AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS?
• As variações linguísticas incidem naquilo que Bagno (2007) designa
como heterogeneidade ordenada, ou seja, formas distintas de dizer
e/ou escrever, com singularidades próprias e classificações diversas,
as quais, logicamente, não acontecem aleatoriamente, pois se
justificam dentro das possibilidades de enunciação e fatores
extralinguísticos característicos do uso que se faz da língua. Nesse
sentido, podemos observar variações
•.
• » Fonético-fonológica: pronúncias diversas para um mesmo fonema (o R do carioca e o R do interiorano
paulista na palavra “barco”, por exemplo);
• » Morfológica: estruturas diferenciadas em vocábulos que detêm um mesmo significado (pegajoso e
peguento, por exemplo, expressam a mesma ideia);
• » Sintática: organizações distintas para os termos frasais, mas conferindo um mesmo sentido (“Ouviram do
Ipiranga as margens plácidas/De um povo heróico o brado retumbante”, em ordem frasal direta, fica “As
margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”);
• » Semântica: significados distintos para uma mesma palavra (“exame” pode ser procedimento clínico, mas
pode ser também prova, avaliação); » Lexical: palavras diferentes remetem a um mesmo significado
(“página” e “lauda” se referem a cada face de uma folha);
• » Estilístico-pragmática: correspondem às diferentes situações de interação social, refletindo o estilo e
conveniências de uso dos falantes/escreventes (“simbora, galera” e “vamos embora, pessoal” expressam a
mesma ideia, mas remetem a contextos de interação distintos, podendo ser, inclusive, utilizados pelo
mesmo indivíduo) (BAgNo, 2007).
• É importante reforçar a questão do
ordenamento, isto é, as variações não podem se
processar sem quaisquer regras, sendo que cada
língua encerra determinadas possibilidades de
comunicação com manutenção do sentido da
mensagem. Vejamos:
• Dê-me uns pães. Me dê uns pão Me dá uns pão.
Me dá um pãos.
• Observe que, em português, as três primeiras
construções frasais são válidas, embora em
práticas sociais distintas. Isso já não acontece
com a última frase, pois a marcação do plural
apenas no último elemento não é aceita pela
nossa língua.
• Os fatores extralinguísticos constituem
componentes sociais que podem determinar as
variações da língua em seus registros falado ou
escrito. São eles que promovem os chamados
níveis de linguagem, os quais demandam a
Fatores concordância entre emissores e receptores de
extralinguístico que este ou aquele registro pode ser
compreendido dentro desta ou daquela
s situação de uso da língua. São fatores
extralinguísticos a origem geográfica, o status
socioeconômico, o grau de escolarização, a faixa
etária, o sexo, o mercado de trabalho, as redes
sociais.
• As manifestações escritas, geralmente,
não são aceitas pelo padrão culto da
língua, cabendo sua utilização em
textos literários, como signo de
autenticidade e poeticidade. Vejamos
um fragmento de João Simões Lopes
Neto (1865-1916), escritor gaúcho
notável pela utilização de elementos
da cultura riograndense em sua obra:
• ARTIGOS DE FÉ DO GAÚCHO
Muita gente anda no mundo sem saber pra quê: vivem porque vêem os outros viverem. Alguns aprendem à sua custa,
quase sempre já tarde pra um proveito melhor. Eu sou desses.
Pra não suceder assim a vancê, eu vou ensinar-lhe o que os doutores nunca hão de ensinar-lhe por mais que queimem as
pestanas deletreando nos seus livrões. Vancê note na sua livreta:
1º. Não cries guaxo: mas cria perto do teu olhar o potrilho pro teu andar.
2º. Doma tu mesmo o teu bagual: não enfrenes na lua nova, que fi ca babão; não arrendes na miguante, que te sai lerdo.
3º. Não guasqueies sem precisão nem grites sem ocasião: e sempre que puderes passa-lhe a mão.
4º. Se és maturrango e chasque de namorado, mancas o teu cavalo, mas chegas; se fores chasque de vida ou morte,
matas o teu cavalo e talvez não chegues.
5º. A maior pressa é a que se faz devagar.
6º. Se tens viajada larga não faças pular o teu cavalo; sai ao tranco até o primeiro suor secar; depois ao trote até o
segundo; dá-lhe um alce sem terceiro e terás cavalo para o dia inteiro.
7º. Se queres engordar o teu cavalo tira-lhe um pêlo da testa todas as vezes da ração.
8º. Fala ao teu cavalo como se fosse a gente.
9º. Não te fi es em tobiano, nem bragado, nem melado; pra água, tordilho; pra muito, tapado; mas pra tudo, tostado.
10º. Se topares um andante com os anelos às costas, pergunta-lhe — onde fi cou o baio?...
11º. Mulher, arma e cavalo do andar, nada de emprestar.
12º. Mulher, de bom gênio; faca, de bom corte; cavalo de boa boca; onça, de bom peso.
• 13º. Mulher sardenta e cavalo passarinheiro... alerta, companheiro!...
• 14º. Se correres eguada xucra, grita; mas com os homens, apresilha a língua.
• 15º. Quando dois brincam de mão, o diabo cospe vermelho...
• 16º. Cavalo de olho de porco, cachorro calado e homem de fala fi na… sempre de relancina...
• 17º. Não te apotres, que domadores não faltam...
• 18º. Na guerra não há esse que nunca ouviu as esporas cantarem de grilo...
• 19º. Teima, mas não apostes; recebe, e depois assenta; assenta, e depois paga...
• 20º. Quando ‘stiveres pra embrabecer, conta três vezes os botões da tua roupa...
• 21º. Quando falares com homem, olha-lhe para os olhos, quando falares com mulher, olha-lhe
para a boca... e saberás como te haver...
• Que foi? Ah! Quebrou-se a ponta do lápis? Amanhã vancê escreve o resto: olhe que dá para
encher um par de tarcas ...
FoNTE: NETo, 1976. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ bv000121.pdf
• Status econômico e grau de escolarização: O
pertencimento às camadas da sociedade
economicamente privilegiadas normalmente anda de
braços com altos níveis de escolarização, o que
possibilita a aprendizagem e maior contato com o
Variação padrão culto da língua, além de propiciar uma maior
variedade de situações para uso do mesmo. O padrão
linguística culto da língua costuma ser privilegiado nas escolas e
corresponde àquele contemplado nos textos das
esferas administrativas, jornalísticas e científicas. É
regulado pela gramática normativa e mais comumente
usado na linguagem escrita e literária, refletindo
prestígio social e cultural.
• A linguagem dita coloquial é usada espontânea e
fluentemente pela maioria das pessoas. Ela refuta a
rigidez gramatical, admitindo os chamados
coloquialismos (predomínio de orações
coordenadas, “a gente” no lugar de “nós”, tempos
verbais compostos, abreviaturas, etc.) e até algumas
gírias e vícios de linguagem (repetições,
estrangeirismos, etc.). Pode ser reconhecida nas
conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
Norma culta X transmissões esportivas, programas de Tv
(sobretudo os de auditório), novelas, postagens em
fala coloquial redes sociais, sites e blogs, etc.
• Observe como a mesma informação é transmitida
de duas maneiras diferentes, uma em contexto
formal (linguagem culta), outra em contexto
informal (linguagem coloquial):
• » A chefia da empresa realizará uma reunião
conosco para esclarecer a situação. (culta)
• » Os chefes vão fazer uma reunião com a gente pra
explicar a situação. (coloquial)
• Preconceito linguístico
• No Brasil, o preconceito linguístico é muito perceptível em dois âmbitos: no regional e no
socioeconômico.
• No primeiro caso, é comum que os agentes estejam nos grandes centros populacionais, os quais
monopolizam cultura, mídia e economia, como Sudeste e Sul. As vítimas, por sua vez,
normalmente, estão nas regiões consideradas pelos algozes como mais pobres ou atrasadas
culturalmente (como Nordeste, Norte e Centro-Oeste). Rótulos como o de “nordestino
analfabeto” ou de “goiano caipira”, infelizmente, ainda estão presentes no pensamento e no
discurso de muitos brasileiros.
• No segundo caso, o preconceito linguístico dirige-se da elite econômica para as classes mais
pobres. Segundo o professor Bagno, muitos usam a língua como ferramenta de dominação, visto
que o desconhecimento da norma-padrão, de acordo com essas pessoas, representaria um baixo
nível de qualificação profissional. Por essa razão, muitas pessoas permanecem nos subempregos
e com péssima remuneração. Resumindo, o preconceito linguístico é um dos pilares de
manutenção da divisão de classes no Brasil.
• A participação de escola, família e mídia na
propagação do princípio da adequação
linguística é fundamental para o fim do
preconceito linguístico.
• Adequação linguística: princípio segundo o
Fim do qual não se fala mais em “certo” ou
“errado” na avaliação de uma determinada
preconceito variedade linguística. Fala-se, pois, se a
variedade em questão é adequada ou não à
linguístico situação comunicativa (contexto) em que ela
se manifesta.
• Isso significa que, em um contexto formal
seria adequado o uso da linguagem formal
(padrão, culta) e inadequado o uso de uma
variedade informal (coloquial). Da mesma
forma, em situações informais, deve-se usar
uma variante informal (coloquial) em
detrimento da linguagem formal (padrão,
culta.
• “Veja que belos movimentos
elípticos fazem essas ondas,
meu caro amigo! Pega-las-
emos nesse instante ou mais
tardiamente?”
Textos dissertativos: redação
• DISSERTAR É O MESMO QUE EXPLANAR SOBRE UM TEMA,
DESENVOLVÊ-LO. APESAR DE, NECESSARIAMENTE, NÃO
ESTAR COMPROMETIDO COM A PERSUASÃO, NOS
VESTIBULARES É COMUM QUE O TEMA SEJA POLÊMICO E,
NESSE CASO, PRECISA DE ARGUMENTOS.
Textos dissertativos: redação
O texto dissertativo-argumentativo apresenta uma estrutura
formada por três partes convencionais:
• introdução - tese ou ideia principal;
• desenvolvimento - argumento;
• conclusão - resumo ou proposta de intervenção.
• Na Antiguidade clássica, Cícero já apontava a existência daqueles que suprimem a amizade de suas
vidas ao comentar que os que assim o faziam pareciam-no privar o mundo do sol. Se há um amplo
reconhecimento de sua importância, por que a amizade é vista e apresentada como algo difícil e raro?
• Nesse parágrafo, ele tenta explicitar algo que foi dito na introdução e no parágrafo anterior. É possível
saber o que foi?
• O autor utiliza esse parágrafo do desenvolvimento para explicar ainda melhor “os diversos tempos” e
mostra como era na Antiguidade Clássica, citando o que disse Cícero sobre a amizade para defender
sua tese.
• Depois ele questiona o que também já mencionou no parágrafo anterior -que a amizade é algo difícil
de ser obtido - fazendo uma pergunta no final do parágrafo.
• Observe que o desenvolvimento é sempre a explicação, a retomada do que foi dito na introdução.
Terceiro parágrafo
• Montaigne, em suas reflexões, oferece alguns elementos que nos permitem abordar melhor a
questão. Ao apresentar a amizade como um tipo de relacionamento no qual se busca uma
intimidade sem reservas, Montaigne põe o foco em um aspecto das relações pessoais, que se foi
complexo em seu tempo, seguramente é problemático na sociedade ocidental contemporânea.
• É possível perceber o que ele retoma dos parágrafos de introdução para explicar nesse segundo
parágrafo de desenvolvimento?
• Mais uma vez, o autor argumenta, utilizando o que Montaigne, citado no texto, disse sobre a
amizade, o que ajudará para reforçar seus argumentos e fazer uma relação com o mundo
contemporâneo que ele citou ainda no primeiro parágrafo.
• Ele fala sobre um aspecto das relações pessoais complexo, mas não diz qual é, só no parágrafo
seguinte.
Quarto parágrafo
A nossa aparência não busca refletir o que somos, mas em uma inversão de significado
da palavra “imagem” é ela que nos define para os outros. Em tal contexto como, como
construir intimidade? E, em consequência, como cultivar amizades? Se tem sido benéfico
para o sistema econômico, o individualismo narcisista tem transformado, no plano das
relações pessoais, campos aráveis em terras arenosas.
• Retomando a amizade no contexto do mundo contemporâneo, mencionado na
introdução, o autor retoma o parágrafo anterior e explica a questão da imagem para
reafirmar a dificuldade de cultivar amizades, colocada na introdução.
• Observe que o pequeno parágrafo seguinte explica o individualismo e as relações
pessoais, mencionados também em parágrafo anterior e, depois de falar em cultivar
amizades, fala sobre campos aráveis em terras arenosas.
• Até aqui, o autor do texto tenta explicar por que, para ele, é muito
importante e difícil cultivar amizades, tanto na antiguidade quanto no
mundo contemporâneo, tese defendida na INTRODUÇÃO. Essa defesa
foi feita nos parágrafos de DESENVOLVIMENTO, em que é desenvolvida a
ideia da introdução.
• O próximo parágrafo será a CONCLUSÃO do que foi dito em todos os
parágrafos, especialmente no da Introdução.
Vamos ler e observar o que é retomado!!!
Conclusão
• Milhares de anos atrás, a humanidade foi desafiada e deu uma resposta e um salto qualitativo ao
aprender a cultivar a terra. Hoje, o novo desafio é colocado e, novamente, a alternativa pode estar no
desenvolvimento do cultivo, da cultura da amizade.
• O que retoma o “milhares de anos atrás”?
• A dificuldade de cultivar amizades é comparada a que na antiguidade?
• Depois de se posicionar sobre um assunto e de mostrar que sua tese é pertinente, defendendo-a, a
conclusão normalmente é o espaço usado para sugerir uma proposta de intervenção ou apenas resumir
o que foi dito, o que ocorre nesse caso.
• Você seria capaz de dizer qual seria o título desse texto? Um bom título deve ser criativo, ou seja, ele
não deve ser óbvio, mas construído no decorrer de sua escrita.
• A seguir, três opções:
1. A amizade
2. A cultura da amizade
3.A dificuldade de fazer amigos
Estrutura dissertativa