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VARIAÇÃO LÍNGUÍSTICA

- Preconceito linguístico
- Norma culta da língua
- Certo ou errado?
- Letramento
HABILIDADE 25
• Identificar, em textos de diferentes gêneros, as
marcas linguísticas que singularizam as variedades
linguísticas sociais, regionais e de registro.
• Esta é uma das mais importantes Habilidades.
Pretende-se aqui que o candidato saiba reconhecer,
dentro da unidade da língua portuguesa, a
diversidade decorrente da existência de variantes
linguísticas ditadas por razões geográficas,
históricas, sociais, contextuais. É preciso, assim, que
sejam identificadas marcas que tipificam as distintas
variedades, em diferentes gêneros textuais.
Variedades linguísticas sociais, regionais e
de registro
• Já vimos em outros momentos que, para exercer
a capacidade de comunicar, o homem, no
decurso da sua história, utiliza-se de sistemas
particulares de signos e regras, códigos que
denominamos língua – em nosso caso, o
português . Mas, será que o português, aquele
que usamos diariamente, é rigorosamente igual
ao de todos os brasileiros?
• Seria ingenuidade esperar que não surgissem
diferenças em um meio de expressão que sofre
influências do tempo, do espaço e de outros
contextos em que seu emprego se manifesta. Uma
língua nunca é usada pelos falantes de maneira
uniforme.
• É neste ponto que entra o conceito de variante
linguística. Essas variantes não são línguas
dentro da língua, mas possuem especificidades que
as tornam reconhecíveis.
• Convivemos com elas diariamente ao fazer a
leitura de um texto mais antigo, ao manter um
diálogo com aquele seu amigo gaúcho, ao
conversarmos dentro de casa com familiares, ao
formularmos e apresentarmos aquele trabalho
escolar. E você percebe que, de situação para
situação, cada uma dessas manifestações guarda
características singulares.
• 1. Variação geográfica – ocorre de local para local,
diferenciando o uso da língua em uma
determinada região. Pode ser mínimo o seu grau
de afastamento da língua corrente (o jeito
nordestino, gaúcho ou carioca de falar o
português), mas também pode ter características
tais que dificultem a comunicação no seio de uma
própria língua, sem que, apesar disso, constituam
uma outra língua ( como o nosso falar do
português em relação ao de Portugal).

• Vídeo: Sotaques
• 2. Variação sociocultural – ocorre entre
diferentes camadas ou grupos sociais ou
culturais de mesma língua, ainda que no mesmo
espaço geográfico. No campo desse tipo de
variação situam-se os níveis da língua em suas
modalidades oral e escrita, com predominância
ora de uma ora da outra.

• Vídeo: Chico Bento


• 3. Variação profissional – ocorre no exercício de
certas atividades que acabam por impor, em uso
restrito, um jargão técnico recheado de termos
específicos. Quando você acha um pouco
estranho o linguajar daquele advogado, e até
“folclórica” a forma de expressão de certos
policias, é disso que se trata.
• Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por
exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo
‘estereotipação’? E, no entanto, por que não?
• – Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
• – Minha saudação aos aficionados do clube aos demais
esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
• – Como é?
• – Aí, galera.
• – Quais são as instruções do técnico?
• – Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção
coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação,
aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico,
concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de
meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação
momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão
inesperada do fluxo da ação.
• – Ahn?
• – É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.
• – Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
• – Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez
mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões,
inclusive, genéticas?
• – Pode.
• – Uma saudação para a minha genitora.
• – Como é?
• – Alô, mamãe!
• – Estou vendo que você é um, um...
• – Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à
expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de
expressão e assim sabota a estereotipação?
• – Estereoquê?
• – Um chato?
• – Isso.
• (VERISSIMO, Luis Fernando. In: Correio Brasiliense, 12/maio/1998.)
• 4. Variação expressiva – é o contexto que determina o
seu emprego. Há momentos formais que exigem do
indivíduo um discurso adequado ( por exemplo, a
defesa de tese de um estudante, ou a peça oratória de
um promotor), como há situações em que deve
predominar a descontração, a informalidade (por
exemplo, a conversa dos torcedores na arquibancada
do Maracanã, ou os diálogos familiares que se travam
no dia a dia). Julgamos que aqui se possa considerar
a expressão literária da língua ( com preocupações de
ordem estética, como criatividade, inventividade). E
também (por que não?) aquelas expressões de gíria
que usamos no convívio rotineiro com seus amigos,
em situações de informalidade.
• Gerente – Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?
Cliente – Estou interessado em financiamento para
compra de veículo.
Gerente – Nós dispomos de várias modalidades de
crédito. O senhor é nosso cliente?
Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou
funcionário do banco.
Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê
tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na
agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente
conversar com calma.
(BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua
materna. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado).
Habilidade 26

• Relacionar as variedades linguísticas a situações


específicas de uso social.
• Identificar as diversas variedades linguísticas – que
devem ser reconhecidas sem preconceito -, a
Habilidade cobra uma adequada relação entre essas
manifestações e determinadas situações ditadas pelo
contexto social. Aqui não se discute o conceito do
“certo ou errado”, e, sim, a preocupação com o
“adequado ou inadequado”.

• Vídeo: Sobre preconceito...


As variedades linguísticas e situações de
uso social
• Nossa língua é a língua portuguesa. Ela existe há
muito tempo e se espalha por muitos pontos do
planeta. Mantém sua unidade (?), mas, é claro,
apresenta diversidades em decorrência de
aspectos temporais, geográficos, sociais e de
outra natureza.
• Se ela é a língua de Camões, o formidável poeta de Os
Lusíadas, que no século XV se fez notável pela beleza dos
versos e pelo apuro formal, é também a língua dos nossos
poetas modernistas, que romperam com a tradição
literária e fizeram seus versos se aproximarem da
linguagem do povo. Se ela é o código de comunicação dos
juízes, jurisconsultos e advogados – com dias
peculiaridades formais que o ambiente do fórum exige,
também o é nas praias em que os sufistas trocam ideias e
conversam animada e informalmente. Ela é do letrado e do
analfabeto, do engenheiro, do poeta e do compositor
popular. Ela está aqui, nos sotaques diversos dos cariocas,
paulistas, mineiros, gaúchos ou nordestinos, mas também
está lá, nos lares de Lisboa, Moçambique e em todo o
mundo lusófono.
Habilidade 27
• Reconhecer os usos da norma padrão da língua
portuguesa nas diferentes situações de
comunicação.
• A Habilidade privilegia o registro padrão da
língua portuguesa, o emprego da chamada
norma culta, fundamentado em conceitos
gramaticais e aplicável em situações de
formalidade. O candidato deve, pois, dominar os
conceitos gramaticais e sua aplicação.
Os usos da norma padrão da língua
portuguesa
• Muitos estudantes costumam interrogar-se, nas
aulas de português e fora delas, sobre a efetiva
necessidade do uso da norma culta da língua
portuguesa. O raciocínio é simples e, para alguns
desavisados, parece fazer sentido: se eu me
entendo com os outros e os outros me entendem
com o uso informal, por que razão tenho que me
preocupar com a norma culta? Você é um dos
que já se fez essa pergunta?
• Em primeiro lugar, ninguém defende o uso absoluto e
exclusivo da língua padrão. O estudo das variantes
linguísticas já deixou claro que é o contexto que
determina esse ou aquele emprego, essa ou
aquela escolha.
• Já vimos diversas situações que impõem, por assim
dizer, a informalidade: nas arquibancadas do futebol,
no ambiente doméstico, nas festas de jovens (e
mesmo de adultos), certamente predomina o
coloquial e até soaria muito estranha, nessas ocasiões,
a preocupação com o registro culto da língua.
• Porém, o mesmo raciocínio se aplica ao uso da
norma padrão. Aquela conferência proferida em
meio acadêmico, aquele discurso político de
impacto, aquela defesa de tese diante de uma
banca examinadora, e mesmo aquela redação
solicitada nos concursos (Enem, inclusive), essas
e outras são situações que impõem a norma
culta.
À medida que vai amadurecendo para o mundo e
inserindo-se no mercado de trabalho, esse mesmo
jovem questionador perceberá que aumentarão
significativamente as situações de uso “obrigatório”
da língua padrão. Isso para não falar de sua condição
de “leitor do mundo”, que dele exigirá cada vez mais
esse domínio para um contato mais efetivo com os
mestres da literatura, com os textos legais que regem
o seu comportamento como cidadão, com artigos e
editoriais de âmbito diversos, etc.
• Por isso, o assunto deve ser tratado sem
preconceitos ou radicalismos. Melhor mesmo
será reafirmarmos, com o mestre Evanildo
Bechara, a necessidade de sermos “poliglotas na
nossa própria língua”; vale dizer, temos mesmo
que dominar os diversos registros em função dos
diversos contextos que os determinam.

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