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Unidade

1 Variação linguística
Professor, conduza o debate evidenciando a necessidade de adaptação da
linguagem de acordo com o contexto, seja formal ou informal.

Objetivo(s) “Somos poliglotas de nossa própria língua”


• Estudar noções de Essa afirmação foi feita inicialmente pelo gramático e filólogo Evanildo Bechara em sua obra Ensino da
variação linguística
gramática. Opressão? Liberdade?, publicada em 1985. O que será que ele quis dizer com isso? Para você, o que
e compreender a
realidade linguística é ser “poliglota de sua própria língua”?
do Brasil. Vamos comparar o uso da língua com a escolha de uma roupa para ser usada em determinada ocasião.
• Saber adequar o Em um guarda-roupas, um indivíduo tem várias peças. Imagine que ele vai participar de uma situação de en-
modo de falar às
trevista de emprego: nessa situação, que roupa ele deverá usar? Bermuda e camiseta? Ou calças e camisa? De
diversas situações
de comunicação. modo semelhante, ser poliglota na própria língua é saber adequar o modo de falar às situações comunicativas,
• Refletir sobre é valorizar as variações de uso da língua nos grupos sociais, é respeitar a identidade do outro falante e ter a
variação linguística própria identidade respeitada.
e interação na
Essa ideia, defendida pela maioria dos estudiosos da linguagem, é uma das bases do pensamen-
internet.
• Reconhecer e to linguístico moderno. Hoje em dia, reconhece-se que a língua que falamos não é una e homogênea,
valorizar a variação como se acreditou um dia. Essa visão está vinculada à noção de variações linguísticas, que são formas
linguística nos diferentes de usar uma língua de acordo com fatores que influenciam nessas mudanças. Assim, prefe-
grupos sociais re-se usar os adjetivos “adequado” e “inadequado”, em vez de “certo” e “errado”, para qualificar as cons-
e respeitar
truções gramaticais.
a identidade
linguística de Pensemos num exemplo: a frase “Eu assisti ao filme” é adequada à norma-padrão do português. No
outros falantes, entanto, em uma situação informal, como uma reunião familiar, é muito mais provável que alguém fale “Eu
para ter a própria assisti o filme” e ninguém se incomode com isso. Da mesma forma, dizer “Os menino chegou” é inadequado à
identidade
norma-padrão, mas corrente na linguagem coloquial.
respeitada.

Fatores de variação linguística


Existem vários fatores que influenciam na variação de uma língua, especialmente na fala. Os principais
são os diatópicos, os diastráticos e os diafásicos.
As variações diatópicas são aquelas que ocorrem em função do lugar geográfico em que a língua é utili-
zada. A palavra “mandioca”, por exemplo, é mais usada nas regiões Sul e Sudeste, enquanto “macaxeira”, que
designa o mesmo elemento, é mais comum no Norte e no Nordeste.
Já as variações diastráticas são vinculadas à diversidade de classes sociais. É comum, por exemplo, ou-
virmos pessoas de classes socioeconômicas menos favorecidas dizerem “bicicreta” e “iorgute”, uma vez que
Língua Portuguesa

muitas delas tiveram pouco contato com a norma-padrão.


As variações diafásicas (ou estilísticas), por sua vez, relacionam-se às modalidades expressivas da
língua. Elas podem ocorrer em função do canal utilizado para a comunicação, do grau de intimidade entre as
pessoas que se comunicam, do tipo de texto produzido, etc. Imagine, por exemplo, uma pessoa que tem de
abordar o mesmo assunto em três situações: em uma palestra para desconhecidos, em uma conversa com
alguém íntimo e em um texto literário. É notório que, na primeira situação, essa pessoa preferirá a variante
formal, atrelada à norma-padrão, preocupação que não se observará no segundo contexto. Na terceira cir-
cunstância, provavelmente, essa pessoa, como autor, procurará utilizar recursos expressivos que deem um
trato artístico às palavras.
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Tipos de variação linguística
A variação linguística pode dar-se, principalmente, em três níveis: fonético, léxico-semântico e sintático, Hipertexto
independentemente de se relacionar com fatores diatópicos, diastráticos ou diafásicos. Nas produções
No nível fonético, as variações são riquíssimas em nosso país. Basta observar como um piracicabano, um textuais dos inúmeros
vestibulares e no Enem,
paulistano e um soteropolitano pronunciariam a frase “A torta de carne está muito ardida” para perceber que
os critérios de correção
a forma como se articulam certos fonemas em nossa língua é bastante diversificada. variam. Contudo,
nesses exames é muito
importante evitar desvios
da norma-padrão, tais
como erros ortográficos,
Hipertexto
de concordância, de
A Fonética, como vimos no Caderno 1 do 1o ano, nos mostra as características mais evidentes de que o português brasileiro não é uma conexão adequada entre
língua simples e homogênea, como muitos acreditam. Alguns estudiosos falam de “dialetos” do português brasileiro, caracterizados, parágrafos, entre outros.
entre outros fatores, pelos aspectos fonéticos. Como exemplo, considere o dialeto “caipira”, falado em algumas cidades da região Esses desvios podem
Sudeste, e o usado em algumas regiões do Nordeste. O fonema /r/ é retroflexo (produzido com o encurvamento da língua em direção ser permitidos em
ao palato) naquelas e velar (produzido na região do véu palatino) nestas. conversações cotidianas,
A variação linguística diastrática também se fundamenta em fatores fonéticos (além de outros, conforme já vimos). É comum, por falas de um personagem
exemplo, ouvirmos determinados falantes omitirem semivogais em certos ditongos (“oro”, em vez de “ouro”; “mantega”, em vez ou quando utilizados em
de “manteiga”) ou pronunciarem ditongos como hiatos (“flu-í-do”, em vez de “flui-do”; “gra-tu-í-to”, em vez de “gra-tui-to”). Nesse gêneros literários com
objetivos claros para
mesmo nível linguístico, também é frequente o acréscimo de fonemas a palavras que, teoricamente, não os deveriam ter. Exemplos:
criar efeitos de sentido,
“adevogado” ou “adivogado” (em vez de “advogado”), “pissicólogo” (em vez de “psicólogo”), etc.
por exemplo. Nos dois
últimos casos, vale o
emprego das aspas.
Na frente de Produção de
No nível do léxico (palavras) e da se-
textos, você estudará os
mântica (significado), também há grande Pão francês
Pão de sal critérios de correções de
diversidade. Observe um exemplo na ima- Rio de Janeiro (RJ G)
produções textuais dos
) Belo Horizonte (M exames oficiais e tomará
gem ao lado.
contato com exemplos
No nível sintático, por fim, são mui- de uma produção textual
tas as diferenças na forma como se cons- bem-sucedida nesse

Givaga/Shutterstock
troem as frases. Só para exemplificar, contexto.

consideremos o artigo definido: em al-


gumas regiões do país (como a Nordes-
te) não é usado diante de nomes de pes-
soas, mas em outras quase sempre os
Filão Cacetinho
precede (como na Sudeste, por exemplo).
) Santa Maria (RS)
A Gramática, como se sabe, é o estudo Ribeirão Preto (SP

das normas de uma língua. Mas, diante da


variação linguística, de que “língua”, prin-
cipalmente, se ocupa a Gramática?
A Gramática se ocupa ora da língua espelhada no uso que os grandes escritores fizeram (e fazem) de
nosso idioma, ora da língua corrente em veículos de comunicação, quer impressos, quer orais (como jornais
e telejornais, publicações científicas, etc.), ora da língua usada nas interações cotidianas (as chamadas gra-
máticas de uso). Vê-se, então, que os gramáticos atualmente se voltam para estudar e descrever regulari-
dades das diversas variações linguísticas, quer da linguagem oral, quer da linguagem escrita, e prescrever as Língua Portuguesa
normas do que seria, segundo eles, o português culto. É importante lembrar que a língua falada é muito
dinâmica, e as mudanças que ocorrem no âmbito da oralidade são muito mais rápidas do que as que ocorrem
na escrita.
A língua que se submete às regras gramaticais é também chamada de variante de prestígio, dado que a
sociedade costuma dar mais valor a ela do que às outras. Uma das provas disso é que, em qualquer redação
produzida em contextos profissionais, é exigido o respeito a tais normas. Eis o principal motivo pelo qual nos-
sos estudos gramaticais se basearão nessa norma linguística, reconhecendo e valorizando, é claro, todos os
usos do português.
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Anotações
Variação linguística e as interações na internet
Interações virtuais são caracterizadas por velocidade, urgência nas infor-
mações, pressa. Por isso, as pessoas escrevem na internet de modo abrevia-
do, rápido e sucinto. Abreviar palavras representa economia de espaço e de
tempo nesse contexto.
Nessas interações, o uso de maiúsculas pode significar que a pessoa
está gritando, e a pontuação muitas vezes é abolida. Assim, ao se entrar na
comunicação virtual, são deixadas de lado muitas regras da comunicação
impostas pela sociedade.
Como você já estudou, é preciso enxergar na língua muito mais do
que erros, acertos de gramática e suas nomenclaturas. Fatores externos
à língua propriamente articulam variações de acordo com cada contexto,
situação. Portanto, a maneira como as pessoas se comunicam na internet
não pode ser caracterizada como certa nem errada, mas como uma alter-
nativa linguística característica desse contexto. A questão principal é saber onde e quando usar essa forma
de comunicação.
Uma postura importante de todo usuário da língua portuguesa é compreender a estrutura da língua e, ao
usá-la, ser capaz de optar pela forma mais adequada a cada contexto.

Atividades discursivas
1. (UFMG) Leia estes textos, em que se aborda a aprovação pelo MEC do livro “Por uma vida melhor” e se
discutem questões relacionadas ao ensino da língua materna:
Texto 1
Falando errado
Morro e não consigo ver tudo. Na quadra da vida em que nos encontramos, esta expres-
são popular se torna latente. O Ministério da Educação aprova o uso do livro “Por uma vida
melhor”, da “Coleção Viver, Aprender”, cujo conteúdo ensina o aluno a falar errado. É isso
mesmo! A justificativa tem uma certa pompa ao criar um novo apêndice linguístico, quando
fundamenta que o aluno do ensino fundamental deve aprender a usar a “norma popular da
língua portuguesa”. Os autores da obra defendem o uso da “língua popular” afirmando que a
“norma culta não leva em consideração a chamada língua viva”. Ora, ora! Temos, aí, tempos
revolucionários, que implicam novas regras na comunicação e expressão. Há poucas semanas
foi o surgimento de projeto de lei que determina a extinção de palavras estrangeiras em escritas
oficiais e em publicidades. Agora, em documento oficial – um livro aceito pelo MEC –, escreve-
-se errado para ensinar a falar errado. Assim sendo, não poderemos criticar a [...] quantidade
de lastimáveis programas no horário nobre da televisão e outras barbaridades perpetradas à
cultura brasileira.
SANTOS, Milton. Jornal do Comércio, 17/5/2011. Disponível em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=62332>.
Língua Portuguesa

[Fragmento]. Acesso em: 20 jun. 2011.

Texto 2
Polêmica ou ignorância?
Discussão sobre livro didático só revela ignorância da grande imprensa
[...] Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze
anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprova-
dos pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento
em sala de aula. [...]
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Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português Anotações
avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter
inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irrepri-
mível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado
por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos pro-
venientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se
sentir alvo de zombaria e preconceito. [...]
Nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes
usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam
permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses
profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa
automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes
não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos
que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é
preciso repetir isso a todo momento.
O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os
mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que a defendem, empregar
regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediata-
mente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte
essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe
devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?
BAGNO, Marcos. Disponível em: <http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745>. [Fragmento]. Acesso em: 20 jun. 2011.

a) Explicite o ponto de vista defendido em cada texto e cite argumentos que os autores mobilizam para defender
sua posição.
Milton Santos, lançando mão da ironia, critica a distribuição do livro Por uma vida melhor no ensino público. Para o

autor, o conteúdo veiculado pela obra ensinaria os alunos a falar “errado”. De acordo com Santos, isso poderia agredir a

cultura brasileira, tão desconsiderada nos contextos midiáticos. Por sua vez, Marcos Bagno destaca o preconceito da

posição de Santos, pois a obra Por uma vida melhor só inclui na escola as variedades linguísticas desprestigiadas pelas

gramáticas, para valorizar as variedades das “classes populares” como arcabouço sócio-histórico também.

b) No final do texto 2, o autor cita a fala de um jornalista como exemplo que contraria a gramática normativa.
Identifique a regra gramatical a que se refere o autor e explique por que ela não foi respeitada na fala do jornalista
citado.

Língua Portuguesa
Na pergunta “Como é que fica então as concordâncias?”, Carlos Monforte não respeita uma das regras da gramática

normativa que demanda concordar-se o verbo com o seu sujeito.

c) Reescreva a frase do jornalista, de modo a adequá-la à norma-padrão do português.


Como é que ficam, então, as concordâncias?.

d) Explique por que o autor do texto qualifica a situação de emprego da frase do jornalista como “divertida”.
Marcos Bagno assinala ironicamente a transgressão gramatical de uma pessoa que defende acirradamente a adequação

da fala às regras impostas pela gramática normativa e diverte-se com a evidente contradição.

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Anotações 2. (Unifesp) Leia o texto.
A nossa instrução pública, cada vez que é reformada, reserva para o observador surpresas
admiráveis. Não há oito dias, fui apresentado a um moço, aí dos seus vinte e poucos anos,
bem-posto em roupas, anéis, gravatas, bengalas, etc. O meu amigo Seráfico Falcote, estudante,
disse-me o amigo comum que nos pôs em relações mútuas.
O Senhor Falcote logo nos convidou a tomar qualquer coisa e fomos os três a uma confeita-
ria. Ao sentar-se, assim falou o anfitrião:
— Caxero, traz aí quarqué cosa de bebê e comê.
Pensei de mim para mim: esse moço foi criado na roça, por isso adquiriu esse modo feio de
falar. Vieram as bebidas e ele disse ao nosso amigo:
— Não sabe Cunugunde: o veio tá i.
O nosso amigo comum respondeu:
— Deves então andar bem de dinheiros.
— Quá ele tá i nós não arranja nada. Quando escrevo é aquela certeza. De boca, não se
cava... O veio oia, oia e dá o fora.
[...]
Esse estudante era a coisa mais preciosa que tinha encontrado na minha vida. Como era
ilustrado! Como falava bem! Que magnífico deputado não iria dar? Um figurão para o partido
da Rapadura.
O nosso amigo indagou dele em certo momento:
— Quando te formas?
— No ano que vem.
Caí das nuvens. Este homem já tinha passado tantos exames e falava daquela forma e
tinha tão firmes conhecimentos!
O nosso amigo indagou ainda:
— Tens tido boas notas?
— Tudo. Espero tirá a medaia.
(Lima Barreto. Quase doutor.)

a) Tendo em vista o conceito contemporâneo de variação linguística, que ensina a considerar de maneira equânime
as diferentes formas do discurso, avalie a atitude do narrador em relação à personagem Falcote, expressa na
seguinte frase: (...) esse moço foi criado na roça, por isso adquiriu esse modo feio de falar.
A gramática normativa impõe uma norma baseada na noção de correto, e é dessa perspectiva que o narrador-personagem

encara o falar de Falcote. Revela, então, um grande preconceito linguístico, desconsiderando as variedades não padrão,

dentre as quais Falcote trazia a de pessoas de regiões agrícolas ou sem instrução formal.

b) Reescreva na norma-padrão – Caxero, traz aí quarqué cosa de bebê e comê e em seguida transcreva um trecho da
crônica em que se manifesta a atitude irônica do narrador.
Língua Portuguesa

Na norma-padrão, esse trecho poderia ser transcrito como: “Caixeiro (Garçom), traga-nos alguma coisa de beber

e comer". O narrador-personagem reflete com ironia no trecho em que qualifica muito positivamente a forma de falar de

Falcote, a ponto de considerá-lo um ótimo candidato a deputado (“Como era ilustrado! Como falava bem! Que magnífico

deputado não iria dar? Um figurão para o partido da Rapadura”), e também quando se diz surpreso pelos conhecimentos

adquiridos ao longo da sua formação acadêmica (“Este homem já tinha passado tantos exames e falava daquela forma

e tinha tão firmes conhecimentos”).

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Atividades

Em sala
Texto para as próximas três questões.

Sotaques no papel
Feitos sem pretensão científica, “dicionários” informais exploram as falas típicas de estados brasileiros
Em suas viagens para casa, de Brasília ao Piauí, o jornalista Paulo José Cunha, de 57 anos, gosta de puxar uma cadeira e ouvir
as histórias de dona Yara, sua mãe. Desses momentos familiares, o professor da Universidade Federal de Brasília (UnB) coletou
grande parte dos verbetes e expressões tipicamente piauienses que deram origem à 4Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês.
O cirurgião vascular paraibano Antonio Soares da Fonseca Jr., de 61 anos, autor do Dicionário do Português Nordestino,
conta que primeiro escolhia aleatoriamente algum destino entre Rio Grande do Norte e Sergipe. Depois de pegar um avião de
São Paulo, sentava na primeira mesa de 5boteco da região e chamava o primeiro que passava para dividir uma cerveja. Aí
era ligar o gravador e registrar o 6papo carregado de expressões, como 3o substantivo “lapada” (pancada), o verbo “cascavilhar”
(procurar minuciosamente), a profissão “capagato” (técnico agrícola) e a aprendiz de interjeição “pronto” (“quando olhei, pronto!,
tudo havia acabado”).
É nesse ambiente informal de pesquisa empírica que a maioria dos dicionários regionais é concebida. Sem o peso da respon-
sabilidade de seguir as metodologias exigidas pela academia, esses trabalhos são marcados pela despretensão e pelo bom humor.
[...]
De tão encantado com o falar do catarinense, o comerciante, taxista e escritor Isaque de Borba Corrêa, de 47 anos, é um auto-
didata em linguística. Nada parecido com o Isaque que em 1981 lançou o Dicionário do Papa-Siri, com expressões típicas da região
de Camboriú e do Vale do Itajaí. Ele conta que tinha vergonha de dizer que estava montando um livro naqueles moldes. Hoje,
termos como 1“dialetologia” (estudo dos traços linguísticos dos dialetos) e 2“idiotismos” 16(traços que mais caracterizam uma língua
em relação a outras que lhe são cognatas) são rotina na vida do autor que, em 2000, lançou uma obra “mais evoluída”, segundo
sua avaliação: o Dicionário Catarinense.
[...]
O trabalho desenvolvido pelos apaixonados por regionalismos é visto com ressalvas pelos lexicógrafos 8profissionais. Mesmo o
termo “dicionário” para identificar as obras é contestado, por exemplo, pelo lexicógrafo 14Francisco da Silva Borba, organizador do
Dicionário Unesp do Português Contemporâneo, que reúne cerca de 60 mil verbetes.
– Esses trabalhos são, na verdade, vocabulários. É o recolhimento de palavras de determinada região – explica.
[...]
– 17Eles podem, assim, induzir a erro e oficializar versões equivocadas – analisa o lexicógrafo 15Francisco Filipak, autor do Di-
cionário Sociolinguístico do Paraná [...].
Diferentemente dos demais vocabulários regionais, o de Filipak é concebido como um dicionário, 9de fato. Após 1330 anos de
pesquisa, catalogação e seleção, 18ele reuniu os 6 mil verbetes que compõem o estudo de 400 páginas. Seguindo 10à risca a meto-
dologia dos 11grandes dicionários do país, Filipak incluiu todas as designações de cada verbete, citando suas variações vocabulares
típicas só daquela região. Hoje, com 83 anos, 19diz desconhecer outro dicionário regional que tenha se guiado pelo mesmo 12rigor
metodológico.
[...]
Mesmo sendo de autores 7diletantes, os dicionários regionais são valorizados pelos pesquisadores que formulam obras consa-
gradas. Todos constam das prateleiras das equipes que atualizam os maiores dicionários da língua.
BONINO, Rachel. Sotaques no papel. Língua Portuguesa, ano II, n. 27, p. 18-21. [Adaptado] Língua Portuguesa
1. (UFSC) Assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S) com relação aos fatos de linguagem do texto.
01) O uso das aspas em “dicionários” (subtítulo), “dialetologia” (ref. 1) e “idiotismos” (ref. 2) serve para indicar ironia, discordância da autora em
relação ao valor que outros atribuem aos termos.
02) A classificação elaborada por Antonio Soares da Fonseca Jr. (ref. 3), além de informal, é equivocada, porque o termo “lapada” seria mais
bem enquadrado como verbo do que como substantivo e porque não existe uma classe dos “aprendizes de interjeição”.
04) O título Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês (ref. 4), dado ao dicionário elaborado por Paulo José Cunha, revela ao leitor a grande
abrangência e seriedade do trabalho dos lexicógrafos amadores.
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08) O emprego dos termos informais “boteco” (ref. 5) e “papo” (ref. 6), que destoa um pouco do restante do texto, marcado pelo uso da variedade
culta escrita, pode ser explicado em parte como reflexo do próprio assunto tratado, a informalidade com que Antonio Soares da Fonseca Jr.
colhe dados para seu dicionário.
16) O adjetivo “diletantes” (ref. 7) funciona no texto como sinônimo de “profissionais” (ref. 8), uma vez que o texto aproxima o trabalho dos
autores diletantes, “apaixonados por regionalismos”, ao dos lexicógrafos profissionais.
32) As expressões “de fato” (ref. 9), “à risca” (ref. 10), “grandes dicionários do país” (ref. 11) e “rigor metodológico” (ref. 12), assim como
a informação de que o dicionário de Filipak consumiu “30 anos de pesquisa, catalogação e seleção” (ref. 13), servem ao mesmo fim
argumentativo, que é dar ao leitor uma impressão de solidez científica dessa obra.
Resposta: 08 + 32 = 40.
2. (UFSC) Com base no texto, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
01) Observa-se que, nas ref. 14 e 15, quando o nome de um pesquisador é introduzido no texto, segue-se um aposto, separado do restante
do texto por vírgula(s), conforme previsto nas regras de pontuação.
02) O trecho “traços que mais caracterizam uma língua em relação a outras que lhe são cognatas” (ref. 16) poderia ser reescrito como
“traços que mais caracterizam uma língua em relação a outras que são cognatas delas”, sem prejuízo ao sentido do texto.
04) No trecho “Eles podem, assim, induzir a erro [...]” (ref. 17), se a palavra “erro” fosse substituída por “falha”, seria necessário escrever “Eles
podem, assim, induzir à falha [...]”, porque a presença do substantivo feminino implicaria uma crase, nesse contexto.
08) No trecho “[...] ele reuniu os 6 mil verbetes que compõem o estudo de 400 páginas” (ref. 18), o pronome relativo “que” poderia ser
substituído por “cujos”, caso se desejasse um estilo mais formal.
16) Se seguidas à risca as regras de colocação pronominal previstas na norma-padrão, o pronome “se” deveria aparecer anteposto ao verbo
“tenha” em “[...] diz desconhecer outro dicionário regional que tenha se guiado pelo mesmo rigor metodológico” (ref. 19).
Resposta: 01 + 16 = 17.
3. (UFSC) Com base no texto, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
01) O valor dos dicionários regionais advém do seu caráter empírico, isto é, da relativa falta de rigor metodológico com que são elaborados.
02) O trabalho dos dicionaristas diletantes, apesar de ser largamente empírico e não seguir métodos científicos rígidos, é de algum
interesse para os lexicógrafos profissionais.
04) O relato sobre Isaque de Borba Corrêa confirma o fato de que os dicionaristas regionais desenvolvem seu trabalho de forma empírica, sem
buscar conhecimentos científicos que o embasem.
08) Em seu trabalho de dicionarista, Antonio Soares da Fonseca Jr. obedece a certo rigor científico, porque escolhe o lugar onde fará a
pesquisa, o informante e o tópico da conversação.
16) Devido aos cuidados metodológicos empregados em sua composição, o Dicionário Sociolinguístico do Paraná não pode ser considerado
mera obra empírica de pesquisador diletante.
Resposta: 02 + 16 = 18.
Para casa
Textos para a próxima questão.

Texto I
A rede veia
Luiz Queiroga e Cel. Ludugero

Eu tava com a Felomena


Ela quis se refrescar
O calor tava malvado
Ninguém podia aguentar
Língua Portuguesa

Ela disse meu Lundru


Nós vamos se balançar
A rede veia comeu foi fogo
Foi com nois dois pra lá e pra cá

Começou a fazer vento com nois dois a palestrar


Filomena ficou beba de tanto se balançar
Eu vi o punho da rede começar a se quebrar
A rede veia comeu foi fogo
Só com nois dois pra lá e pra cá
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A rede tava rasgada e eu tive a impressão
Que com tanto balançado nois terminava no chão
Mas Felomena me disse, meu bem vem mais pra cá
A rede veia comeu foi fogo
Foi com nois dois pra lá e pra cá
Disponível em: <www.luizluagonzaga.mus.br/index.php?option=com_content&task=view&id=&&&Itemid= 103>. Acessado em: 2 ago. 2011.

Texto II
Pescaria
Dorival Caymmi
Ekkachai/Shutterstock

Ô canoeiro,
bota a rede,
bota a rede no mar
ô canoeiro,
bota a rede no mar.
Cerca o peixe,
bate o remo,
puxa a corda,
colhe a rede,
ô canoeiro,
puxa a rede do mar.
Vai ter presente pra Chiquinha
ter presente pra laiá,
canoeiro, puxa a rede do mar.
Cerca o peixe,
bate o remo,
puxa a corda,
colhe a rede,
ô canoeiro,
puxa a rede do mar.
Louvado seja Deus,
ó meu pai.
Disponível em: <www.miltonnascimento.com.br/#/obra>. Acessado em: 2 ago. 2011.

Texto III
A rede
Lenine e Lula Queiroga

Nenhum aquário é maior do que o mar


Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior me causa o efeito
De concha no ouvido

Língua Portuguesa
Barulho de mar
Pipoco de onda
Ribombo de espuma e sal
Nenhuma taça me mata a sede
Mas o sarrabulho me embriaga
Mergulho na onda vaga
E eu caio na rede,
Não tem quem não caia
E eu caio na rede,
Não tem quem não caia
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Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe
De raios que controla a onda cerebral do peixe
Nenhuma rede é maior do que o mar
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra
Nem quando ela acerta,
Nem quando ela erra
Nem quando ela envolve todo o Planeta
Explode e devolve pro seu olhar
O tanto de tudo que eu tô pra te dar
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor
Não tem quem me prove
Disponível em: <www.lenine.com.br/faixa/a-rede-1>. Acessado em: 2 ago. 2011.

Texto IV
Nina
Chico Buarque

Nina diz que tem a pele cor de neve


E dois olhos negros como o breu
Nina diz que, embora nova,
Por amores já chorou
Que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
Nina adora viajar, mas não se atreve
Num país distante como o meu
Nina diz que fez meu mapa
E no céu o meu destino rapta
O seu
Nina diz que se quiser eu posso ver na tela
A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela
Posso imaginar por dentro a casa
A roupa que ela usa, as mechas, a tiara
Posso até adivinhar a cara que ela faz
Quando me escreve
Nina anseia por me conhecer em breve
Me levar para a noite de Moscou
Sempre que esta valsa toca
Fecho os olhos, bebo alguma vodca
E vou
Disponível em: <www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=nina_2011.htm>. Acessado em: 2 ago. 2011.
Língua Portuguesa

(UFF-RJ) Uma língua varia em função de aspectos sociais, localização geográfica e uso de diferentes registros, ligados às situações
de comunicação.

Marque a alternativa que analisa corretamente a ocorrência de variação linguística nos textos.
a) O verso “Nós vamos se balançar” (Texto I, linha 6) apresenta um exemplo da modalidade culta da língua, revelada no emprego dos pronomes.
b) No verso “A rede veia comeu foi fogo” (Texto I, linha 7), a grafia da palavra sublinhada procura reproduzir pronúncia comum em algumas
regiões do Brasil (veia por velha), que exemplifica uma variação fonética.
c) Em “E eu caio na rede / Não tem quem não caia” (Texto III, linhas 11-12), o emprego do verbo ter é marca do registro culto da língua, utilizado
preferencialmente na modalidade escrita.
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d) Em “Vai ter presente pra Chiquinha” (Texto II, linha 12), o nome “Chiquinha” exemplifica o uso do registro informal, utilizado, sobretudo, em
documentos oficiais e sermões religiosos.
e) No verso “Posso até adivinhar a cara que ela faz” (Texto IV, linha 16), a palavra cara exemplifica uma variação de registro linguístico
predominante em situações formais.
Resposta: B.

Mais Enem

1. (Enem) Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela comunidade sobrepõem-se ao longo do
território, seja numa relação de oposição, seja de complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram
uma norma nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as normas do português de
Portugal às normas do português brasileiro, mas também as chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se
insistir na ideia de que essas normas se consolidam em diferentes momentos da nossa história e que só a partir do século XVIII se
pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em
Portugal, ora, ainda, em ambos os territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas.
In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007. [Adaptado]

O português do Brasil não é uma língua uniforme. A variação linguística é um fenômeno natural, ao qual todas as línguas estão
sujeitas. Ao considerar as variedades linguísticas, o texto mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas socialmente,
chamando a atenção do leitor para a
a) desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta.
b) difusão do português de Portugal em todas as regiões do Brasil só a partir do século XVIII.
c) existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil, distinta da de Portugal.
d) inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado país.
e) necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser aceitos.
Resposta: C.

Conectando saberes
Na disciplina de História do Brasil, você vai estudar a presença dos portugueses no Brasil.
Você já parou para imaginar as características da língua e os costumes que, ao embarcarem em um navio rumo ao Novo Mundo, famílias portuguesas, nobres,
aventureiros, degredados, religiosos, marinheiros traziam?
Que tal conectar os saberes de História com os de Língua Portuguesa e ficar com a mente atenta para a formação da língua oficial de nosso país?

2. (Enem) Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade de erros existen-
tes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o
nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a
placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa
foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse:
— Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: <http://rosabe.sites.uol.com.br>. Acesso em: 2 ago. 2012. Língua Portuguesa
A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das mar-
cas de variação objetiva
a) evidenciar a importância de marcas linguísticas valorizadoras da linguagem coloquial.
b) demonstrar incômodo com a variedade característica de pessoas pouco escolarizadas.
c) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor.
d) criticar a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos.
e) estabelecer uma política de incentivo à escrita correta das palavras.
Resposta: C. 19

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3. (Enem) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordes-
tinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as
variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí
têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo
mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim.
O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um
duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me
chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998. [Fragmento adaptado]

Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões.
As características regionais exploradas no texto manifestam-se
a) na fonologia.
b) no uso do léxico.
c) no grau de formalidade.
d) na organização sintática.
e) na estruturação morfológica.
Resposta: A.
4. (Enem) Serafim da Silva Neto defendia a tese da unidade da língua portuguesa no Brasil, entrevendo que no Brasil as delimi-
tações dialetais espaciais não eram tão marcadas como as isoglossas da România Antiga. Mas Paul Teyssier, na sua História da
Língua Portuguesa, reconhece que na diversidade socioletal essa pretensa unidade se desfaz. Diz Teyssier: “A realidade, porém, é
que as divisões ‘dialetais’ no Brasil são menos geográficas que socioculturais. As diferenças na maneira de falar são maiores, num
determinado lugar, entre um homem culto e o vizinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de
duas regiões distantes uma da outra”.
SILVA, R. V. M. O português brasileiro e o português europeu contemporâneo: alguns aspectos da diferença.
Disponível em: <www.uniroma.it>. Acesso em: 23 jun. 2008.

Glossário
Isoglossa: linha imaginária que, em um mapa, une os pontos de ocorrência de traços e fenômenos linguísticos idênticos.

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

De acordo com as informações presentes no texto, os pontos de vista de Serafim da Silva Neto e de Paul Teyssier convergem
em relação
a) à influência dos aspectos socioculturais nas diferenças dos falares entre indivíduos, pois ambos consideram que pessoas de mesmo nível
sociocultural falam de forma semelhante.
b) à delimitação dialetal no Brasil assemelhar-se ao que ocorria na România Antiga, pois ambos consideram a variação linguística no Brasil
como decorrente de aspectos geográficos.
c) à variação sociocultural entre brasileiros de diferentes regiões, pois ambos consideram o fator sociocultural de bastante peso na constituição
das variedades linguísticas no Brasil.
d) à diversidade da língua portuguesa na România Antiga, que até hoje continua a existir, manifestando-se nas variantes linguísticas do
português atual no Brasil.
e) à existência de delimitações dialetais geográficas pouco marcadas no Brasil, embora cada um enfatize aspectos diferentes da questão.
Resposta: E.
Língua Portuguesa

5. (Enem) Ataliba de Castilho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte da metamorfose natural
da língua.
– Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o que ocorreu com “você”, que se tornou o
pronome átono “CE”. Agora, o interneteiro pode ajudar a reduzir os excessos da ortografia, e bem sabemos que são muitos. Por que
o acento gráfico é tão importante assim para a escrita? Já tivemos no Brasil momentos até mais exacerbados por acentos e dis-
pensamos muitos deles. Como toda palavra é contextualizada pelo falante, podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro
mostra um caminho, pois faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O internetês pode, no futuro, até tornar a
comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um jargão complexo, que, em vez de aproximar as pessoas em menor tempo, estimule
o isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos.
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Para Castilho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que precisamos na língua. Será a internet.
O jeito eh tc e esperar pra ver?
Disponível em: <http://revistalingua.com.br>. Acesso em: 3 jun. 2015. [Adaptado]

Na entrevista, o fragmento “O jeito eh tc e esperar para ver?” tem por objetivo


a) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias.
b) mostrar os perigos da linguagem da internet como potencializadora de dificuldades da escrita.
c) evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita.
d) explicar que se trata de um erro linguístico por destoar do padrão formal apresentado ao longo do texto.
e) Exemplificar dificuldades de escrita dos interneteiros que desconhecem as estruturas da norma-padrão.
Resposta: A.

Sintetizando a unidade
Chegamos ao final da unidade e é hora de sistematizar os conteúdos trabalhados.
Observe com atenção o esquema e escreva nas linhas embaixo de cada conteúdo dos alvéolos de cor azul um destaque sucinto e
relevante que você faz do estudo realizado.
Nas linhas referentes aos alvéolos de cor vermelha e verde, faça o que se pede.

Fatores
Norma-
de
-padrão
variação
Variação
linguística

• Diatópicos (relativos ao lugar geográfico Também chamada de norma culta ou varian-

em que a língua é utilizada). te de prestígio, é a que se submete rigida-

• Diastráticos (vinculados à diversidade de mente às regras gramaticais.

classes sociais).

• Diafásicos (relacionados às modalidades


Tipos
expressivas da língua). de
variação

?! Blá-Blá-Blá!!

• Fonéticas.

• Léxico-semânticas.

• Sintáticas. Escreva a melhor


Escreva ideia que lhe ocorreu
cinco durante os estudos
palavras-chave realizados nesta
desta unidade. unidade.

Resposta pessoal. Resposta pessoal. Língua Portuguesa

Agora, volte aos objetivos apresentados no início desta unidade e converse com seus colegas e com o professor, para verificar se
vocês os alcançaram.
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