OS GÊNEROS DO DISCURSO

I
PROBLEMÁTICA E DEFINIÇÃO
(Mikhail Bakhtin)

TESE A SER DEFENDIDA

“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre
relacionadas com a utilização da língua”. (p. 280/pdf 158)

 modos variados de utilização da língua > as próprias esferas da atividade

humana // caráter da unidade nacional de uma língua <<< a língua se
concretiza através de enunciados [orais e escritos] > emanam dos integrantes
dessas diferentes esferas

ESTILO DE EXPOSIÇÃO ESCOLHIDA PELO AUTOR

 O AUTOR RECORRE À LÓGICA COMO TIPO DE EXPOSIÇÃO, PARTINDO DO GERAL

PARA CHEGAR AO PARTICULAR. A PARTIR DE UM PENSAMENTO DEDUTIVO, VAI
SE ENCADEANDO PREMISSAS QUE INDUZEM A UMA CONCLUSÃO

ENUNCIADOS <> GÊNEROS TEXTUAIS?

“O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas

esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela
seleção operada nos recursos da língua — recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais
—, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional”. (p. 280/pdf 158).
“e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação.
Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de
utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo
isso que denominamos gêneros do discurso”. ( p. 280/pdf 158).

COMENTÁRIO: Com essas assertivas, não se sabe no que o autor estava pensando
quando elaborou esse pensamento, mas são considerações que nos levam a conceber
gêneros do discurso como os gêneros textuais, dos quais nos falam Antônio
Marcuschi, Irandé Antunes, enfim, autories que produzem conhecimento no campo da
Linguística Textual.

 ENUNCIADOS > SENDO PRODUZIDOS COM ESPECIFICAÇÕES DAS DIFERENTES

ESFERAS DA ATIVIDADE HUMANA >> Discurso Médico (laudos, receitas,
atestados, relatórios médicos, etc.) – Discurso do Jornalismo (notícia,
reportagem, horóscopo, classificados, etc.) – Discurso Jurídico (petição,
sentença, intimação, etc.) – Discurso do Cotidiano (bilhete, anotações, carta
pessoal, receita, etc.) – Discurso Acadêmico (resumo, resenha, fichamento,
relatório, artigo, ensaio, TCC, Dissertação, Tese, etc.)

O PROBLEMA DOS GÊNEROS DO DISCURSO

“com efeito, como colocar no mesmo terreno de estudo fenômenos tão díspares como
a réplica cotidiana (que pode reduzir-se a uma única palavra) e o romance (em vários
tomos), a ordem padronizada que é imperativa já por sua entonação e a obra lírica
profundamente individual, etc.? A diversidade funcional parece tornar os traços
comuns a todos os gêneros do discurso abstratos e inoperantes”. ( p. 281/pdf 158).

ANTIGUIDADE > GÊNEROS DO DISCURSO

 GÊNEROS LITERÁRIOS > OU SEJA, CONSIDEROU-SE APENAS OS DIFENRENTES

ENUNCIADOS NOS LIMITES DA LITERATURA E NÃO EM COMPARAÇÃO COM
ENUNCIADOS DE OUTRAS ESFERAS
  GÊNEROS RETÓRICOS (JURÍDICOS E POLÍTICOS) > DAVA-SE MAIOR ATENÇÃO À
NATUREZA VERBAL DO ENUNCIADO (“a relação com o ouvinte e a influência
deste sobre o enunciado, a conclusão verbal peculiar ao enunciado”), MAS
ENCOBRIA A NATUREZA LINGUÍSTICA DO ENUNCIADO

 GÊNEROS DO COTIDIANO – GÊNEROS DO COTIDIANO (DIÁLOGOS) >

LINGUÍSTICA GERAL > “Mas, também nesse caso, o estudo não podia conduzir à
definição correta da natureza lingüistica do enunciado, na medida em que se
limitava a pôr em evidência a especificidade do discurso cotidiano oral,
operando no mais das vezes com enunciados deliberadamente primitivos (os
behavioristas americanos)”. (p. 282/159).

SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA

“Não há razão para minimizar a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso e a

conseqüente dificuldade quando se trata de definir o caráter genérico do enunciado.
Importa, nesse ponto, levar em consideração a diferença essencial existente entre o
gênero de discurso primário (simples) e o gênero de discurso secundário (complexo)”.
(p. 282/159).

 OS GÊNEROS SECUNDÁRIOS DO DISCURSO – FORMAÇÃO > ABSORVEM E

TRANSMUTAM OS GÊNEROS PRIMÁRIOS (SIMPLES) > RETIRAM A CARGA
VERBAL ESPONTÂNEA

“o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico,

etc. - aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural, mais
complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística,
científica, sociopolítica”. (p. 282/159).

 OS GÊNEROS PRIMÁRIOS – COMPONENTES DOS GÊNEROS SECUNDÁRIOS >

NÃO ESTÃO RELACIONADOS COM A REALIDADE EM QUE EXISTEM, MAS
TAMBÉM COM A DOS ENUNCIADOS ALHEIOS (O DIÁLOGO > ROMANCE).
COMENTÁRIO: Em princípio, relacionei os dois conceitos utilizados pelo autor, como se
ambos tivessem se referindo, respectivamente, ao que hoje os lingüístas chamam de
gênero textual e discurso. No entanto, nessa nova leitura, percebo que há a intenção
de tratar de algo que (talvez) hoje os estudiosos considerem como intergenericidade e
tem relação com a mistura de textos. A resenha temática tem essa característica, o
artigo tem essa característica... Só que, em sua abordagem, Bahkhtin analisa as
categorias que cria, a partir de um juízo de valor, quando lida com esse processo
dizendo que os gêneros primários aparecem numa comunicação cultural mais
complexa e mais evoluída (preconceito e racismo linguístico – Marcos Bagno e Gabriel
Nascimento).

“O estudo da natureza do enunciado e da diversidade dos gêneros de enunciados nas

diferentes esferas da atividade humana tem importância capital para todas as áreas da
lingüística e da filologia. Isto porque um trabalho de pesquisa acerca de um material
lingüístico concreto [...] lida inevitavelmente com enunciados concretos (escritos e
orais), que se relacionam com as diferentes esferas da atividade e da comunicação [...]
Ignorar a natureza do enunciado e as particularidades de gênero [...] desvirtua a
historicidade do estudo, enfraquece o vínculo existente entre a língua e a vida”. (p.
283/159).

ABORDAGEM DE ALGUMAS ÁREAS E ALGUNS PROBLEMAS DA LINGUÍSTICA

ESTILÍSTICA > ESTILO ESTÁ LIGADO AO ENUNCIADO > FORMAS TÍPICAS DE

ENUNCIADOS (GÊNEROS DO DISCURSO): POR SER INDIVIDUAL, EM ALGUNS CASOS,
PODE REFLETIR A INDIVIDUALIDADE DE QUEM FALA E ESCREVE, MAS NEM TODOS OS
GÊNEROS PODEM REFLETIR O ESTILO INDIVIDUAL

“A variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos estratos e

dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode relacionar-se de
diferentes maneiras com a língua comum [...] De fato, o estilo lingüístico ou funcional
nada mais é senão o estilo de um gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da
comunicação humana”. (p. 284/159).

“Uma dada função (científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e dadas condições
[...] geram um dado gênero [...] Porém, para ser correto e produtivo, este estudo
sempre deve partir do fato de que os estilos da língua pertencem por natureza ao
gênero e deve basear-se no estudo prévio dos gêneros em sua diversidade. Até agora,
a estilística da língua ignorou tais fundamentos, daí sua debilidade”. (p. 284/159).

COMENTÁRIO: Aqui, já se pode perceber, em Bahkhtin, um dos pressupostos para

pesquisas sobre o Ensino de LP e que hoje defendem que, na Educação Básica, o
ensino tenha como mote o texto, em seus variados gêneros e campos do discurso.

BAKHTIN APONTA A FALHA DOS ESTUDOS EM ESTILÍSTICA, EXPLICANDO QUE O

PROBLEMA ESTÁ NA CLASSIFICAÇÃO – NÃO PENSAM NUMA UNIDADE DE BASE
(ATIVIDADES HUMANAS > “CAMPOS DISCURSIVOS” [AQUILO A QUE ME REFERI NA
AULA PASSADA, COMO SE FOSSE OS GÊNEROS PRIMÁRIOS)

“Os enunciados e o tipo a que pertencem, ou seja, os gêneros

do discurso, são as correias de transmissão que levam da história da sociedade à
história da língua. Nenhum fenômeno novo (fonético, lexical, gramatical) pode entrar
no sistema da língua sem ter sido longamente testado e ter passado pelo acabamento
do estilo-gênero”. (286/259).

GRAMÁTICA (SINTAXE) (= / X) ESTILÍSTICA

“Pode-se dizer que a gramática e a estilística se juntam e se separam em qualquer fato

lingüístico concreto que, encarado do ponto de vista da língua, é um fato gramatical,
encarado do ponto de vista do enunciado individual, é um fato estilístico. Mesmo a
seleção que o locutor efetua de uma forma gramatical já é um ato estilístico”.
(287/162).

“o estudo do enunciado, em sua qualidade de unidade real da

comunicação verbal, também deve permitir compreender melhor a natureza das
unidades da língua (da língua como sistema): as palavras e as orações”. (288/162).