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As figuras de linguagem são divididas em: figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras
de palavras.

As figuras de linguagem são recursos que tornam mais expressivas as mensagens. Subdividem-se em figuras de
som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras.

Figuras de som

Figuras de construção

c) polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.


“ E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”

d) inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.


“De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.”

e) silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está
implícito. A silepse pode ser:

• De gênero
Vossa Excelência está preocupado.

• De número
Os Lusíadas glorificou nossa literatura.

• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete
na boca.”

f) anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma
determinada construção sintática e depois se opta por outra.
A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.

g) pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.


“E rir meu riso e derramar meu pranto.”

h) anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.


“ Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer”

Figuras de pensamento

a) antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.”

b) ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou
humorístico.
“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”

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c) eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar
alguma afirmação desagradável.
Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)

d) hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática.


Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)

e) prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres
animados.
O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

f) gradação ou clímax: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)


“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”

g) apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).


“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!”

Figuras de palavras

a) metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de
similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o
conectivo comparativo fica subentendido.
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

b) metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente
significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais
feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica
entre os termos. Observe:
Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)

c) catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por
empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido
figurado.
O pé da mesa estava quebrado.

d) antonomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:
...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)

e) sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
A luz crua da madrugada invadia meu quarto.

Figuras de Construção ou Sintáticas

As figuras de construção ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade ao significado. Assim, a lógica da frase é
substituída pela maior expressividade que se dá ao sentido.

Elipse

Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos
gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto. Exemplos:

1) A cada um o que é seu. (Deve se dar a cada um o que é seu.)


2)Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira.
Nesse exemplo, as desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse "eu".
3)Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
4) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.)

Zeugma

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Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. Exemplos:

Ele gosta de geografia; eu, de português.


Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.
Ela gosta de natação; eu, de vôlei.
No céu há estrelas; na terra, você.

Silepse

A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a ideia que ele representa. É
uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três
tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.

Silepse de Gênero

Os gêneros são masculino e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se faz com a ideia que o termo
comporta. Exemplos:

1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence ao gênero
masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto Velho).

2) Vossa excelência está preocupado.


Nesse exemplo, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
excelência.

Silepse de Número

Os números são singular e plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não concorda gramaticalmente com o
sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos:

A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade de Salvador.


Como vai a turma? Estão bem?
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.

Note que nos exemplos acima, os verbos andaram, estão e gritavam não concordam gramaticalmente com os sujeitos das
orações (que se encontram no singular, procissão, turma e povo, respectivamente), mas com a ideia de pluralidade que neles
está contida. Procissão, turma e povo dão a ideia de muita gente, por isso que os verbos estão no plural.

Silepse de Pessoa

Três são as pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de
concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no
sujeito.
Exemplos:

O que não compreendo é como os brasileiros persistamos em aceitar essa situação.


Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
"Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)

Observe que os verbos persistamos, temos e somos não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileiros,
agricultores e cariocas que estão na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, os agricultores
e os cariocas).

Polissíndeto / Assíndeto

Para estudarmos essas duas figuras de construção, é necessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre período
composto. No período composto por coordenação, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A oração coordenada
ligada por uma conjunção (conectivo) é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assindética.

Recordado esse conceito, podemos definir as duas figuras de construção:

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1) Polissíndeto

É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos. Observe o exemplo:

"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre."
(Olavo Bilac)

"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza.

2) Assíndeto

É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando no uso de orações
coordenadas assindéticas. Exemplos:

Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família.


"Vim, vi, venci." (Júlio César)

Pleonasmo Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é
realçar a ideia, torná-la mais expressiva. Veja este exemplo:

O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.

Nesta oração, os termos "o problema da violência" e "lo" exercem a mesma função sintática: objeto direto. Assim, temos um
pleonasmo do objeto direto, sendo o pronome "lo" classsificado como objeto direto pleonástico.

Outro exemplo:

Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.


Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
Nesse caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o pronome "lhes" exerce a função de objeto indireto pleonástico.

Exemplos:

"Vi, claramente visto, o lumo vivo." (Luís de Camões)

"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)

"E rir meu riso." (Vinícius de Moraes)

"O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem." (Manuel Bandeira)

Anáfora

É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim, um efeito de reforço e de coerência. Pela
repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual.
Os termos anafóricos podem muitas vezes ser substituídos por pronomes relativos. Assim, observe o exemplo abaixo:

Encontrei um amigo ontem. Ele disse-me que te conhecia. O termo ele é um termo anafórico, já que se refere a um amigo
anteriormente referido. Observe outro exemplo:

"Se você gritasse


Se você gemesse,
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...

4
Mas você não morre,
Você é duro José!" (Carlos Drummond de Andrade)

Anacoluto

Consiste na mudança da construção sintática no meio da frase, ficando alguns termos desligados do resto do período. Veja
o exemplo:

Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.

A expressão "esses alunos da escola" deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma interrupção da frase e essa
expressão fica à parte, não exercendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é chamado de "frase quebrada", pois
corresponde a uma interrupção na sequência lógica do pensamento.
Exemplos:

O Alexandre, as coisas não lhe estão indo muito bem.


A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo Castelo Branco)

É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da ordem direta dos termos da oração. Exemplos: Obs.: o anacoluto deve
ser usado com finalidade expressiva em casos muito especiais. Em geral, deve-se evitá-lo.

Hipérbato / Inversão

Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor venceu ao ódio.)
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)

Aliteração

Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo.
Exemplos:

Três pratos de trigo para três tigres tristes.


O rato roeu a roupa do rei de Roma.
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
Cruz e Souza (Aliteração em "v")

Assonância

Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. Exemplos:

"Sou um mulato nato no sentido lato


mulato democrático do litoral."

Sinédoque: Ocorre sinédoque quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual
da palavra numa relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:

o todo pela parte e vice-versa:


"A cidade inteira 1 viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos 2 de seu cavalo."
1 2
O povo. Parte das patas.

o singular pelo plural e vice-versa:


O paulista 3 é tímido; o carioca 4, atrevido.
3
Todos os paulistas. 4 Todos os cariocas.

o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum):


Para os artistas ele foi um mecenas 5.
5
Protetor.

Modernamente, a metonímia engloba a sinédoque.

5
Alegoria: A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em
expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras
estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um referencial e outro
metafórico.

Exemplo: "A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos
comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos
comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente... (Machado de Assis)

Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição
inicial da palavra.

Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela."

Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.

Exemplo: "Sou Ana, da cama


da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam."

Paronomásia: Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.

Exemplo: "Berro pelo aterro pelo desterro


berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."

FIGURAS DE SINTAXE

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua
ordem, possíveis repetições ou omissões.

Elas podem ser construídas por:

a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;


b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
d) ruptura: anacoluto;
e) concordância ideológica: silepse.

Portanto, são figuras de linguagem de construção ou sintaxe:

a) assíndeto e) elipse i) zeugma


b) anáfora f) pleonasmo j) polissíndeto
c) anástrofe g) hiperbato l) sínquise
d) hipálage h) anacoluto m) silepse

Assíndeto: Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem
justapostas ou separadas por vírgulas.

Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).

Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-
se." (Machado de Assis)

Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto.
Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.

Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas."


1
Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...)

Zeugma: Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.

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Exemplo: "Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários dos Felipes." 1
1
Zeugma do verbo: "e foram assassinados..."

Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.

Exemplo: "Depois o areal extenso...


Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só..." (Castro Alves)

Pleonasmo: Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado.

a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do
ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.

Exemplo: "Iam vinte anos desde aquele dia


Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quando em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira)

"Ó mar salgado, quando do teu sal


São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa)

b) Pleonasmo vicioso: É o desdobramento de idéias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas.
Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do
sentido real das palavras.

Exemplos: subir para cima, entrar para dentro, repetir de novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue, monopólio
exclusivo, breve alocução, principal protagonista

Polissíndeto: Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a
norma gramatical ( geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Exemplo: "Vão chegando as burguesinhas pobres,


e as criadas das burguesinhas ricas
e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel Bandeira)

Anástrofe: Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante / determinado).

Exemplo: "Tão leve estou 1 que nem sombra tenho." (Mário Quintana)
1
Estou tão leve...

Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.

Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. " 1 (Carlos Drummond de Andrade)


1
As belas passeiam na Avenida à tarde.

Sínquise: Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.

Exemplo: "A grita se alevanta ao Céu, da gente. " 1 (Camões)


1
A grita da gente se alevanta ao Céu.

Hipálage: Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a
outro, na mesma frase.

Exemplo: "... as lojas loquazes dos barbeiros." 2 (Eça de Queiros)


2
... as lojas dos barbeiros loquazes.

Anacoluto: Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a seqüência
lógica. A construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida - desprendidos dos
demais, geralmente depois de uma pausa sensível.

Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas." (Alcântara Machado)

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Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas associada.

a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).

Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito." (Guimarães Rosa)

b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).

Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam." (Mário Barreto)

c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se
inclui no sujeito enunciado.

Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas." (Machado de Assis)

Autoria: Norberto Gonçalves

PRINCIPAIS FIGURAS DE LINGUAGEM

Metonímia
Consiste na utilização de um termo por outro, tendo como sustentação um raciocínio de prolongamento de sentido.
É a figura que representa a parte pelo todo. As relações metonímicas podem ser de:

Parte / Todo
• “O bonde passa cheio de pernas...” (pessoas)

• “As velas do Mucuripe vão sair para pescar.” (barcos / pescadores)

Marca / Produto

Devido ao poder emblemático da mídia, é comum a utilização de uma marca em vez do nome do produto. São exemplos disso:
Toddy / Nescau (em vez de achocolatado em pó), Maisena (no lugar de amido de milho), Chicletes (como termo para
denominar goma de mascar), Cotonete (para se referir a hastes de algodão), etc.

Artista / Obra
• Sou alucinado por Guimarães Rosa, mas leio mais Drummond.
• Estava em dúvida se ouviria Caetano Veloso ou se veria um Fellini.

• Aquela mulher é encantada pelo cubismo, há horas que está aqui no museu diante de um Picasso.

Continente / Conteúdo
• Ela tomou oito taças de vinho.

• Ele comeu três pratos de feijoada e bebeu dois engradados de cerveja.

Antonomásia
É uma espécie de metonímia, pois, em vez de se empregar o nome da pessoa, utiliza-se de uma expressão que possa
identificá-la.
Exemplos:
• Comemorou-se em 2006 o centenário do voo do 14 Bis, criado pelo pai da aviação. (= Santos Dumont)
• O Boca do Inferno foi um dos mais agressivos poetas do barroco. (= Gregório de Matos)
• O poeta dos escravos é o autor de Espumas Flutuantes. (= Castro Alves).

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• O Poetinha se autodenominava o branco mais preto do Brasil. (= Vinicius de Moraes)
• O autor de Iracema teve também uma produção significativa de dramaturgia. (= José de Alencar).
• O filho de Deus veio para nos alertar. (= Jesus Cristo)

• O rei do futebol brasileiro entrou para a política. (= Pelé)

Perífrase
Consiste na substituição de um nome curto por uma expressão mais longa que o caracterize. É muito semelhante à
antonomásia, mas enquanto esta diz respeito às expressões que permitem identificar os nomes próprios, a perífrase – ou
circunlóquio – envolve as expressões que caracterizam também os nomes comuns.
Exemplos:
• O rei da selva (= leão)
• A cidade luz (= Paris)

• A última flor do Lácio (= língua portuguesa)

Hipérbole
Ocorre quando se emprega uma expressão exagerada para traduzir uma ideia. Na maioria das vezes, isso se dá porque o autor
ou falante quer impressionar, comover ou “chocar” seu interlocutor.
Exemplos:
• “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac)
• “Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô

Eu iria a pé do Rio a Salvador”

Eufemismo
O eufemismo é empregado para abrandar uma informação, evitando a utilização de termos que possam agredir ou assustar o
receptor da mensagem.
Exemplos:
• “No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela,
cunhatã se afastava.” (Seduzir / seios, genitália)
• Ele contraiu o mal de Lázaro. (A lepra)
• Eu os vi daquele jeito, como vieram ao mundo. (nus)
• Você faltou com a verdade. (Você mentiu.)

• Ele partiu desta para melhor. / Ele descansou. / (Ele morreu.)

Antítese
Emprego de termos antagônicos para reforçar a ideia de oposição.
Exemplos:
• “Última flor do lácio, inculta e bela, és, a um tempo, esplendor e sepultura.” (Olavo Bilac)
• “Todo sorriso é feito de mil prantos, toda vida se tece de mil mortes.” (Carlos de Laet)

• “Residem juntamente no teu peito um demônio que ruge e um Deus que chora.” (Olavo Bilac)

Paradoxo ou oxímoro
Expressão absurda que pode inclusive ser gerada por imagens antitéticas inconcebíveis. Em seu clássico soneto, Camões
utilizou o paradoxo:
O amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que dói e não se sente

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é um contentamento descontente

é dor que desatina sem doer.

Prosopopeia
Atribuição, a seres inanimados, de capacidade dos seres animados. Ou atribuição de características humanas a animais e
coisas, por isso é também chamada de personificação. Os textos de literatura infantil e as fábulas empregam frequentemente
essa figura de linguagem, o que garante o caráter fantástico e lúdico a tais produções literárias.
Exemplos:
• “A lua / tal qual a dona do bordel / pedia a cada estrela fria / um brilho de aluguel” (João Bosco e Aldir Blanc)

• “As casas espiam os homens / que correm atrás de mulheres.” (Drummond)

Pleonasmo
Também recebe o nome de redundância, pois se repete a mesma ideia com palavras similares. O pleonasmo pode ser um
recurso estilístico que poeticamente é explorado pelo autor, ou pode ser considerado um vício de linguagem quando é
pronunciado equivocadamente em algumas situações coloquiais da fala. Veja exemplos dos dois casos:
Exemplos:
• “Morrerás morte vil na mão de um forte.” (Gonçalves Dias)
• “Me sorri um sorriso pontual.” (Chico Buarque)
• “Quero converter-vos a vós.” (Padre Antônio Vieira)

• “Amanheci minha aurora.” (Guimarães Rosa)

Sinestesia
Fusão de sensações, confluência dos sentidos (audição, tato, visão, paladar, olfato). Essa figura de linguagem foi
marcadamente utilizada pelos escritores do Simbolismo, no final do século XIX, e pelos neossimbolistas da Segunda Fase do
Modernismo brasileiro.
Exemplos:
• “Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh! Sonora audição colorida do aroma.” (Cruz e Sousa)
• “Estou vendo aquele caminho / cheiroso da madrugada.” (Cecília Meireles)
• Ela estava usando um perfume doce.

• “O delírio do verbo estava no começo, lá / onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.” (Manoel de Barros)

Ironia
Expressão de sentido inverso que é reconhecida por uma entonação sarcástica ao se pronunciar a ideia. É a afirmação de algo
diferente do que se deseja comunicar. A ironia é um modo debochado, paródico e satírico de ridicularizar ou insultar alguém,
um contexto político ou alguma obra de arte. É uma forma crítica utilizada por meio do humor, por isso é tão utilizada nas
revistas em quadrinhos. Veja como ela aparece na seguinte tirinha:

EX: Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos”.

Gradação
É a apresentação de uma série de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax).
Exemplos:
• “Amor é assim – o rato que sai dum buraquinho: é um ratazão, é um tigre leão!” (Guimarães Rosa)
• “O trigo nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se, mediu-se.” (Padre Antônio Vieira)

• “Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Monteiro Lobato)

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Hipérbato
Consiste na alteração da ordem direta dos termos de uma oração, por isso é chamado também de inversão.
Exemplos:
• “Passarinho, desisti de ter.” (Rubem Braga). Ordem direta: Desisti de ter passarinho.
• “Porque brigavam no meu interior esses entes de sonho não sei.” (Graciliano Ramos). Ordem direta: Não sei porque esses
entes de sonho brigavam no meu interior.

• “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante.” (Osório Duque-Estrada). Ordem
direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.

“Passarinho, desisti de ter.” (Rubem Braga). Ordem direta: Desisti de ter passarinho.
• “Porque brigavam no meu interior esses entes de sonho não sei.” (Graciliano Ramos). Ordem direta: Não sei porque esses
entes de sonho brigavam no meu interior.

• “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante.” (Osório Duque-Estrada). Ordem
direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.

Anacoluto
Palavras ou expressões inseridas no início de um período sem desempenhar função sintática.
Exemplos:

• “Eu, também me parece que as leio, mas vou sempre dizendo que não...” (Almeida Garrett)

“Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.” (Alcântara Machado)


• A rua onde moras, nela é que desejo morar.
• Amigos, há muito não os vejo.

• “Poesia, ninguém gosta de choradeiras poéticas, ora! Poesia é outra coisa.” (Mario Quintana)

Apóstrofe
É uma interpelação da voz poética às divindades, pessoas, ou coisas personificadas. A apóstrofe traduz uma sensação de
súplica e lamentação. No início das orações, portanto, é comum a presença da apóstrofe, já que a voz devota clama: “Pai Nosso
que estais no céu...”, “Ó Deus tão misericordioso...”, “Virgem Maria, cheia de graça, rogai por nós, pecadores...”
Veja o emprego da apóstrofe nos seguintes fragmentos do poema “O navio negreiro”, de Castro Alves:
Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?!
[...]
Ó mar, por que não apagas
Com a espuma de tuas vagas
De teu manto este borrão?
[...]
Andrada! Arranca este pendão dos ares!

Colombo! Fecha a porta de teus mares!

Silepse
É uma figura sintática que privilegia a concordância com a ideia e não com as palavras escritas. Há silepse de:

Gênero
• “Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.” (Olavo Bilac)

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• “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” (Guimarães Rosa)
• Vossa Excelência parece magoado.

• “Conheci uma criança... mimos e castigos pouco podiam com ele.” (Garrett)

Número
• Corria gente de todos os lados, e gritavam.
• “ – E o povo de Maravalha? Perguntava ele aos canoeiros.
– Estão em São Miguel.” (José Lins do Rego)
• “Minha amiga, flor tem vida muito curta, logo murcham, secam, viram húmus.” (José Veiga)

Pessoa
• “Ambos recusamos praticar este ato.” (Alexandre Herculano)
• “– A gente precisa de mostrar às raparigas que não somos nenhuns miseráveis.” (Fernando Namora)
• “Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos os modernos.”(Machado de Assis)

• “Ficamos por aqui, insatisfeitos, os seus amigos.” (Carlos Drummond de Andrade)

Elipse
Omissão de algum termo na frase.
Exemplos:
• “Veio sem pinturas, um vestido leve, sandálias coloridas.” (Rubem Braga)
Elipse do conectivo com, que aparece subentendido: “Veio sem pinturas, com um vestido leve, com sandálias coloridas.”
• “No mar, tanta tormenta e tanto dano.” (Camões)

Elipse do verbo haver, antes dos advérbios “tanta” e “tanto”.

Zeugma
Omissão de algum vocábulo já mencionado anteriormente.
Exemplos:
• “As quaresmas abriam a flor depois do carnaval, os ipês, em junho.” (Rachel de Queiroz)
Zeugma do verbo abriam depois de “ipês”.
• “Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores.” (Gonçalves Dias)
Zeugma do vocábulo tem no segundo verso, que já havia aparecido no primeiro.
• “A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.” (Drummond)

Zeugma do vocábulo eram, na segunda oração.

Assíndeto
É a omissão das conjunções ou conectivos. Por isso se encontra nas orações assindéticas, nas quais os elementos têm uma
autonomia e um valor equivalente, sem qualquer ideia de superioridade ou subordinação.
Exemplos:
• “Vim, vi, venci.” (Expressão atribuída a Júlio César)
• “A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos.” (Machado de Assis)

• “Eu tinha a fama, a palavra, a carreira política...” (Joaquim Nabuco)

Polissíndeto
Como o próprio nome já indica, é o emprego de vários conectivos, que aparecem reiteradamente no texto.

EXERCÍCIOS

01. (UERJ–2011)

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Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
QUINTANA, Mario. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.
O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo.
Essa figura é denominada de
A) elipse. C) metonímia.

B) metáfora. D) personificação.

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