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FIGURAS DE SINTAXE

Estudos Estilísticos – 5.semestre.


Profa. Me. Ana Cecília
Maio de 2021.
 As figuras de sintaxe ou figuras de construção são uma
classificação das figuras de linguagem, elementos que tornam
um texto, especialmente aqueles que adotam a
linguagem literária, mais expressivo e linguisticamente rico.
CONCEITO  Enquanto as figuras de pensamento subvertem o sentido real
das palavras, as figuras de sintaxe promovem desvios sintáticos
e concordâncias irregulares que imprimem características
incomuns à construção linguística.
1. Elipse: é a omissão de um termo que pode ser facilmente
subentendido através da análise do contexto da frase, pois esse
termo foi anteriormente enunciado ou sugerido na oração.
Observe o exemplo de elipse na música de Edu Lobo:
Principais “(...) Onde a minha namorada...
Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço
figuras de Peço apenas
sintaxe Que ela lembre as nossas horas de poesia (...)”.
(Canto triste – Edu Lobo)

No trecho “Onde a minha namorada”, o verbo estar ou andar está


subentendido. Vale lembrar que há um caso específico de elipse,
conhecido como zeugma, em que há uma omissão de um termo já
citado na frase.
Veja que aqui ocorre ZEUGMA porque se omite os
verbos já citados na primeira oração.
2. Pleonasmo: consiste na repetição de um termo já expresso ou
até mesmo de uma ideia. Sua principal função, quando na
linguagem literária, é conferir clareza ou ênfase. Observe um
exemplo de pleonasmo na música de Chico Buarque:

“ Todo dia ela faz tudo sempre igual


Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã (...)”.
(Cotidiano – Chico Buarque)
3. Polissíndeto/Assíndeto: As duas figuras de sintaxe possuem
funções opostas. Enquanto no polissíndeto ocorre a repetição das
conjunções coordenativas, no assíndeto a característica principal
é a ausência delas. Observe os exemplos de polissíndeto e de
assíndeto:

"Vão chegando as burguesinhas pobres, / e as criadas das


burguesinhas ricas / e as mulheres do povo, e as lavadeiras da
redondeza." (Manuel Bandeira)
"Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco,
todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se." (Machado de
Assis)
4. Anáfora é caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras
no início de versos, orações ou períodos. Muito utilizada na poesia
e na música, a anáfora aumenta a expressividade da mensagem,
enfatizando o sentido de termos repetidos consecutivamente.
Anáfora tem sua origem na palavra grega anaphorá, que indica o ato
de trazer ou manter uma repetição.

Exemplos de anáforas:

Eu quero amor!
Eu quero alegria!
Eu quero calor!
Eu quero fantasia!
Vi você chegando e parei.
Vi você chegando e me calei.
Vi você chegando e chorei…
 5) Inversão ou Anástrofe é uma figura de linguagem, ou seja, um recurso
utilizado na linguagem oral e escrita que aumenta a expressividade da
mensagem. A anástrofe se refere a uma inversão leve da ordem normal
das palavras numa frase, ocorrendo essa inversão predominantemente
por antecipação de uma palavra que complementa outra palavra, ou seja,
em palavras correlativas. Vários autores defendem que na anástrofe
ocorre também a inversão entre o sujeito e o predicado.
Através da utilização de anástrofes, é possível realçar uma palavra ou
ideia, bem como criar um efeito surpresa na frase. Na poesia, esta figura
de linguagem é muitas vezes utilizada para cumprir as exigências do verso
relativamente à métrica e às rimas.
 Exemplos de anástrofe:
 Ao filho, a mãe deu um sorvete.
 Para todos os familiares mandou lembranças.
 Que faço eu com essa indecisão minha?
 Correto, eu acho que é!
6. Silepse é uma figura de linguagem caracterizada por estabelecer
concordância não com as palavras que compõem a frase, mas com a
ideia que se pretende transmitir ou com termos subentendidos. Não
obedece às regras de concordância gramatical, estabelecendo uma
concordância ideológica.
Há três tipos de silepse: silepse de gênero, silepse de número e
silepse de pessoa.
Silepse de gênero
Ocorre silepse de gênero quando há uma discordância gramatical
entre os gêneros dos artigos, substantivos, adjetivos, pronomes,…
O gênero indica o masculino e o feminino.
Exemplos:
Angra dos Reis é encantadora! (a concordância é feita com a palavra
cidade, feminina, que está subentendida)
A Rio-Santos está engarrafada. (a concordância é feita com a
palavra rodovia, feminina, que está subentendida)
A gente está cansado, precisando de férias. (a concordância é feita
com o sexo do emissor e não com a locução pronominal)
Vossa Santidade está alerto para os problemas atuais da igreja
católica. (a concordância é feita com o sexo da pessoa em questão e
não com o pronome de tratamento)
Silepse de número
Ocorre silepse de número quando o sujeito é uma palavra no
singular que transmite uma ideia de coletividade, havendo uma
discordância gramatical entre o sujeito e o verbo das orações que
estão mais distantes do sujeito. O número indica o plural e o
singular.
Exemplos:
O casal viajou pela Europa e tiraram muitas fotos. (a concordância é
feita com a ideia de plural transmitida pelo substantivo casal)
A multidão encheu as ruas e protestaram por um ensino melhor. (a
concordância é feita com a ideia de plural transmitida pelo
substantivo multidão)
A maioria das crianças gostam de chocolate. (a concordância é feita
com a palavra no plural crianças e não com o núcleo do sujeito:
maioria, no singular)
Silepse de pessoa
Ocorre silepse de pessoa quando há discordância entre o sujeito e a
pessoa verbal. Normalmente, o emissor se inclui num sujeito da
terceira pessoa do plural (eles), fazendo a flexão verbal na primeira
pessoa do plural (nós). Existem três pessoas gramaticais: primeira
(quem fala: eu e nós), segunda (com quem se fala: tu e vós), terceira
(de quem se fala: ele e eles).
Exemplos:
Todos preferimos viajar de avião. (a concordância é feita com nós e
não com eles: preferem)
A situação é complicada porque os alunos queremos a anulação da
prova. (a concordância é feita com nós e não com eles: querem)
Os três íamos conversando sobre assuntos cotidianos. (a
concordância é feita com nós e não com eles: iam)
7. Anacoluto, sendo uma figura de linguagem, é caracterizado como
sendo uma frase quebrada, ou seja, uma frase cuja estrutura sintática
é interrompida, sendo continuada de uma forma alternativa, deixando
solto o termo inicial da oração.
Esse termo antecipa o assunto da frase, enfatizando-o, mas fica
desligado da restante oração, permanecendo em suspenso.
Os anacolutos são frequentes na linguagem falada, caracterizada por
uma maior liberdade e espontaneidade, havendo mais lugar a mudanças
de pensamento e interrupções bruscas do discurso.
 Exemplos de anacolutos:
 Mariana, a leitura mantinha-a acordada durante a noite.
 Conselhos, se fossem bons não se davam, vendiam-se!
 Crianças, como ter paciência para elas?
 Meu vizinho, ouvi dizer que está muito doente.
 Eu, ele está sempre querendo conversar comigo.
Exemplos de anacolutos na literatura:
"Eu, porque sou mole, você fica abusando." (Rubem Braga)
"A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha." (Camilo
Castelo Branco)
"Umas carabinas que guardavam atrás do guarda-roupa, a gente
brincava com elas, de tão imprestáveis." (José Lins do Rego)

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