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Filhos da internet
Ausência de acompanhamento dos pais nas atividades virtuais prejudica a formação
das crianças e abre portas para abusos
O fenômeno das redes sociais, tal qual da conexão digital como um todo, tem
contado com uma adesão significativa da massa jovem, à mercê de mais riscos no que diz
respeito ao contato com abordagens capazes de comprometer o caráter, com violência de
vários gêneros, dada a dinâmica e liberalidade contidas nas correntes de mensagem.
Conforme pesquisa mais recente publicada no segundo semestre de 2016 pelo Cetic
(Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), 87%
dos menores entrevistados possuem conta em sites de relacionamento, estando 63% na
faixa dos 9 aos 10 anos e 79% dos 11 aos 12. 40% do total interagiram com pessoas
desconhecidas na vida real, além de 20% terem visto imagens sexuais. Somente 48% dos
tutores declararam monitorar as atividades online, coisa que abre espaço para discussão
sobre a necessidade da supervisão durante a infância e métodos de prevenção a
problemas que possam partir do ambiente virtual.
A psicóloga Andrea Vaz Mercki, doutora pela PUC-SP e Texas A&M University,
realça a falta do discernimento entre correto ou errado, causa e resultado, na etapa vital de
construção primária da identidade e dos valores éticos, como fator para despertar atenção
ao que os pequenos fazem quando conectados. Não adianta apostar numa maturidade ou
esperteza. Ela indica por melhor cuidado o compartilhamento das próprias experiências
(dentro e fora da rede) numa conversa espontânea, livre das condenações, capaz de
incentivar crianças e adolescentes a confiar de volta, mas principalmente cita a adoção de
si mesmo no papel exemplar. “Como não podemos ignorar a existência da internet e as
redes sociais, o melhor a fazer é abrir o jogo e informar. Os pais ou responsáveis precisam
aproximar a criança de suas atividades cotidianas, mostrar, conversar e explicar o que
estão fazendo quando olham para seus celulares. Assim, a criança tenderá a ter uma
experiência positiva e sem aquela sensação de que há algo misterioso e proibido no
acesso à internet”, fala adicionando o fato de o comportamento em determinados níveis
etários ser movido pela imitação aliada à curiosidade digna de quem está começando a
descobrir o mundo — potencializada quando algo é reservado, em alguns casos levando as
crianças por caminhos inconvenientes. Além disso, os filhos também tendem a disputar
aquilo que vem a ser foco da atenção parental, buscando um sentimento de valorização
semelhante.
Desde o fortalecimento dos vínculos familiares via demonstração de interesse,
modelo de atitude e acolhimento, orientações mais contundentes podem ser incorporadas.
Segundo Andrea, vale estipular períodos pequenos para o uso, conversas somente com
pessoas próximas, pedido de opinião para postagem de fotos/vídeos/textos. Também é
válido explorar o controle de conteúdo oferecido no sistema dos sites, ao passo que os
acessos não devem ocorrer afastados, pois a companhia gera a reflexão que vai balancear
as situações virtuais com as situações exteriores Muito além do perigo ao deparar com
indivíduos mal intencionados, a internet facilita bolhas conceituais, isto quer dizer, que os
jovens não encarem o oposto, o diferente, a ponto para questionar os modos, os
pensamentos, acabando eles impedidos de evoluir a autonomia. “Na internet, tendemos a
buscar conteúdos que reafirmam nossas próprias ideias ao invés de desafiá-las. Acabamos
ficando cada vez mais encerrados em nós mesmos, o que dificulta encontrar soluções para
os problemas da vida e também para os problemas emocionais”, aponta a especialista.
Paralelamente ao emprego das normas, é essencial atribuir prazer aos assuntos
estimulantes do raciocínio lógico, da sabedoria de convívio/ sabedoria emotiva e que até
mesmo integrem o aprendizado escolar, dito formal, norteando para um rumo saudável.
Assim faz Priscila Fernandes da Silva, mãe do garoto Julio Cesar Fernandes de Souza,
hoje com 9 anos.
Priscila conta que tem loja virtual e adora jogos, o que alimentou a curiosidade do
seu filho por tecnologia. Aos 6 anos ele conquistou sua conta no Facebook. No entanto,
consome apenas páginas de curiosidades, jogos, vídeos de gameplay no Youtube, bem
como sites culinários, jamais deixando esquecidas brincadeiras concretas. Tudo o mais foi
previamente bloqueado. “Se era para colocar uma criança na maior vitrine que existe, fiz o
máximo possível para não ser visível usando os recursos das próprias redes sociais. Ele
aceita as regras e ainda me conta o que tem no perfil dele; eu costumo olhar o registro de
atividades para garantir que não passou nada. Tem hora certa para o uso da internet e não
pode fazer nada sem eu saber”, garante.
Já referente aos sinais exibidos pelo menor quando este sofre transtorno, a
psicóloga Ana Vaz descreve agressividade fora do normal ou retraimento como sintomas
mais comuns, ainda apelando: “Caso os pais percebam que o filho está passando por
situações de superexposição, discriminação, abuso ou constrangimento na rede, precisam
interferir. Devem identificar a pessoa que causa o constrangimento e impedir que isso
tenha continuidade, seja conversando diretamente com a pessoa ou em alguns casos,
registrando boletim de ocorrência.”
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