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Linguagem e língua: signo, registro e

variação linguística
língua e linguagem
• A linguagem é o mecanismo que utilizamos
para transmitir nossos conceitos, ideias e
sentimentos. Trata-se de um processo de
interação. Qualquer conjunto de signos ou
sinais é considerado uma forma de linguagem.
• A língua é um código verbal característico, ou
seja, um conjunto de palavras e combinações
específicas compartilhado por um
determinado grupo.
Tipos de linguagem e suas variações

• A linguagem pode ser verbal, composta essencialmente


por palavras, e não verbal, quando a interação
acontece por meio de outros mecanismos que não a
palavra escrita.
• Com a difusão da informática, surgiu também a
linguagem digital, que usa combinações numéricas para
construir sites, aplicativos e jogos on-line. É por meio
da evolução da linguagem digital que podemos
também armazenar, traduzir e transmitir informações
usando computadores smartphones e outros meios
eletrônicos.
Variações linguísticas
Variações linguísticas
• São as ramificações naturais de uma língua, que se
diferenciam da norma-padrão em razão de fatores
como convenções sociais, momento histórico,
contexto ou região em que um falante ou grupo social
insere-se.
• São objeto de estudo da Sociolinguística, ramo que
estuda como a divisão da sociedade em grupos – com
diferentes culturas e costumes – dá origem a diferentes
formas de expressão da língua, as quais, embora se
baseiem nas normas impostas pela gramática
prescritiva, adquirem regras e características próprias.
Tipos de variações
• sociais (diastráticas),
• regionais (diatópicas),
• históricas (diacrônicas) e
• estilísticas (diafásicas).
Variações sociais (diastráticas)

• Não dependem da região em que o falante vive, mas sim dos grupos
sociais em que ele se insere, ou seja, das pessoas com quem ele
convive. São as variedades típicas de grandes centros urbanos, já que as
pessoas dividem-se em grupos em razão de interesses comuns,
como profissão, classe social, nível de escolaridade, esporte, tribos
urbanas, idade, gênero, sexualidade, religião etc.
• Para gerarem sentimento de pertencimento e de identidade, os grupos
desenvolvem características próprias, que vão desde a vestimenta até a
linguagem. Os surfistas, por exemplo, falam diferentemente de skatistas;
médicos comunicam-se diferentemente de advogados; crianças,
adolescentes e adultos possuem vocabulário bastante diferente entre si.
Os grupos mais escolarizados tendem a ser mais formais, enquanto os
grupos de menor formação normalmente são mais informais, ou seja, há
diferentes registros de linguagem.
Fatores que contribuem
• Há dois fatores que contribuem para a identificação das
variedades sociais:

• Gírias: palavras ou expressões informais, efêmeras e


normalmente ligadas ao público jovem.

• Jargão (termo técnico): palavras ou expressões típicas de


determinados ambientes profissionais.

• Veja a crônica abaixo de Luis Fernando Verissimo, do livro “As


mentiras que os homens contam”, acerca do uso das variedades
profissionais:
O jargão
• Nenhuma figura é tão fascinante quanto o
Falso Entendido. É o cara que não sabe nada
de nada mas sabe o jargão. E passa por
autoridade no assunto. Um refinamento
ainda maior da espécie é o tipo que não
sabe nem o jargão. Mas inventa.
• – Ó Matias, você entende de mercado de
capitais…
• – Nem tanto, nem tanto…
• (Uma das características do Falso Entendido
é a falsa modéstia.)
• Ou então, e esta é mortal:

• – Não é tão simples assim…

• Faz-se aquele silêncio que precede as grandes revelações, mas o falso informado não diz nada. Fica
subentendido que ele está protegendo as suas fontes em Brasília.

• E há o falso que interpreta. Para ele tudo o que acontece deve ser posto na perspectiva de vastas
transformações históricas que só ele está sacando.

• – O avanço do socialismo na Europa ocorre em proporções diretas ao declínio no uso da gordura


animal nos países do Mercado Comum. Só não vê quem não quer.

• E se alguém quer mais detalhes sobre a sua insólita teoria ele vê a pergunta como manifestação de
uma hostilidade bastante significativa a interpretações não ortodoxas, e passa a interpretar os
motivos de quem o questiona, invocando a Igreja medieval, os grandes hereges da história, e vocês
sabiam que toda a Reforma se explica a partir da prisão de ventre de Lutero?

• Mas o jargão é uma tentação. Eu, por exemplo, sou fascinado pela linguagem náutica, embora
minha experiência no mar se resuma a algumas passagens em transatlânticos onde a única
linguagem técnica que você precise saber é “Que horas servem o bufê?”. Nunca pisei num veleiro e
se pissasse seria para dar vexame na primeira onda. Eu enjoo em escada rolante. Mas, na minha
imaginação, sou um marinheiro de todos os calados. Senhor de ventos e de velas e,
principalmente, dos especialíssimos nomes de equipagem.
• Me imagino no leme do meu grande veleiro, dando ordens à tripulação:

• – Recolher a traquineta!
• – Largar a vela bimbão, não podemos perder esse Vizeu.

• O Vizeu é um vento que nasce na costa ocidental da África, faz a volta nas Malvinas
e nos ataca a boribordo, cheirando a especiarias, carcaças de baleia e,
estranhamente, a uma professora que eu tive no primário.

• – Quebrar o lume da alcatra e baixar a falcatrua!


• – Cuidado com a sanfona de Abelardo!

• A sanfona é um perigoso fenômeno que ocorre na vela parruda em certas


condições atmosféricas e que, se não contido a tempo, pode decapitar o piloto. Até
hoje não encontraram a cabeça do comodoro Abelardo.

• – Cruzar a spínola! Domar a espátula! Montar a sirigaita! Tudo a macambúzio e dois


quartos de trela senão afundamos, e o capitão é o primeiro a pular.
• – Cortar o cabo de Eustáquio!
Variações regionais (diatópicas)
• São as variedades linguísticas que sofrem forte influência do
espaço geográfico ocupado pelo falante. Em um país com
dimensões continentais como o Brasil, elas são extremamente
ricas (tanto em número quanto em peculiaridades
linguísticas).
• Essas variantes são percebidas por dois fatores:
• Sotaque: fenômeno fonético (fonológico) em que pessoas de
uma determinada região pronunciam certas palavras ou
fonemas de forma particular. São exemplos a forma como os
goianos pronunciam o R ou os cariocas pronunciam o S.
• Regionalismo: fenômeno ligado ao léxico (vocabulário) que
consiste na existência de palavras ou expressões típicas de
determinada região.
• Em Goiás, por exemplo, normalmente se diz “mandioca”; no
Sul, “aipim”; no Nordeste, “macaxeira”.
Antigamente
• Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e se um se
esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de
entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir
nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais
velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo
voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre,
mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro
smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo d’água, se
bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é
que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia
muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante
de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que
se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.

• ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento).


Variedades estilísticas ou diafásicas
• São as variedades linguísticas que surgem da
adequação que o falante faz de seu nível de
linguagem ao estilo exigido pelo texto ou pela
situação comunicativa. A crônica, por exemplo, é um
texto cujo estilo exige uso de linguagem coloquial; a
dissertação, por sua vez, exige do redator um estilo
de escrita mais formal. Portanto, caberá ao falante
ou redator dominar as diferentes variantes a fim de
adequá-las à situação comunicativa (mais ou menos
formal) e ao estilo exigido pelo texto.
Variedades históricas ou diacrônicas
• São as variedades linguísticas comumente
usadas no passado, mas que caíram em
desuso. São percebidas por meio
dos arcaísmos – palavras ou expressões que
caíram em desuso no decorrer do
tempo. Essas variedades são normalmente
encontradas em textos literários, músicas ou
documentos antigos.
Diferenças entre a linguagem culta e a
linguagem coloquial
• São dois os níveis de linguagem: a linguagem
culta, que segue as regras gramaticais, e a
linguagem coloquial, marcada pela informalidade.
• A língua é um código utilizado para elaborar
mensagens, sendo, portanto, um dos mais
eficientes meios para a comunicação entre os
falantes. Os níveis de linguagem dizem respeito a
duas modalidades da língua, ambas executadas
em diferentes contextos comunicacionais.
Linguagem culta
• Essa modalidade é responsável por representar as
práticas linguísticas embasadas nos modelos de
uso encontrados em textos formais. É o modelo
que deve ser utilizado na escrita, sobretudo nos
textos não literários, pois segue rigidamente as
regras gramaticais. A norma culta conta com
maior prestígio social e normalmente é associada
ao nível cultural do falante: quanto maior a
escolarização, maior a adequação com a língua
padrão.
Exemplo
• Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja
conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da
juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento
entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se
transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a
mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o
equilíbrio fisiológico de suas funções orgânicas, devido à natureza que
dispôs a ser mãe. Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão
formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo
Horizonte também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo,
dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados
uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da
saúde de 2,2 mil futuras mães, que, além do mais, ficarão presas a uma
mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e
extravagantes.
Linguagem coloquial
• é aquela utilizada em nosso cotidiano nas situações
em que o nível de formalidade é menor, portanto,
requer menor adequação às regras gramaticais. A
linguagem coloquial, ou linguagem popular, é mais
dinâmica, sendo marcada por grande fluidez verbal,
já que não existe a preocupação excessiva com a
norma-padrão da língua. Nela são permitidos
recursos expressivos da linguagem, como gírias, e
pode ser mais facilmente encontrada nos textos
literários, nos quais se admitem licenças poéticas.
Exemplo
• Até quando?

• Não adianta olhar pro céu


• Com muita fé e pouca luta
• Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
• E muita greve, você pode, você deve, pode crer
• Não adianta olhar pro chão
• Virar a cara pra não ver
• Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
• Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!

• GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo).
• Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento)
Linguagem vulgar (popular)
• Indo de encontro com a linguagem culta, a
vulgar é extremamente fora do padrão
gramatical e faz parte da fala dos analfabetos
ou semianalfabetos. As estruturas gramaticais
são “bagunçadas” e barbarismos são
frequentes. A exemplo temos os vícios “Nóis
vai”, “vamo ir”, “pra mim comer”.
Exemplo
Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

(Oswald de Andrade)
• São notáveis as diferenças entre a linguagem culta e a
linguagem coloquial, contudo, isso não significa que exista
uma modalidade superior à outra. Ambas, variedade padrão
e não padrão, devem ser respeitadas e seus usos devem estar
condicionados ao contexto comunicacional no qual o falante
está inserido. Saber quando utilizar cada uma das linguagens
faz do falante um poliglota do próprio idioma que sabe
definir o momento adequado para adotar cada um dos níveis
de linguagem. É preciso ressaltar que, embora o
conhecimento das variedades linguísticas amplie nossas
possibilidades de comunicação, é a norma culta que garante
a manutenção da unidade linguística de um país.
Adequação da linguagem a situações de
comunicação/contextos
• os falantes seguem um princípio cooperativo geral
que orienta os usos eficientes da língua. Numa
conversa e, podemos também dizer, numa
interação por escrito, ou via internet, os
interlocutores guiam-se – mesmo que disso não
tenham consciência – por máximas da qualidade,
da quantidade, da relevância e do modo. É
evidente que elas são frequentemente
desobedecidas, mas, num plano ideal, os
interlocutores são cooperativos.
• Não é adequado o médico que, durante uma consulta,
num posto de saúde, usa seu incompreensível jargão
para se dirigir ao seu paciente, completamente leigo
em assuntos de medicina. Ele será menos adequado
ainda, e também extremamente inconveniente se
tentar imitar, muitas vezes jocosamente a variante
linguística de seu paciente. A adequação à situação
comunicativa é perfeitamente possível, e, na maioria
dos casos, esta adaptação acontece pelo fato de
existir uma espécie de linguagem comum que todos
os falantes dominam.
• Nas situações comunicativas orais, isto é, em seminários, apresentações
de trabalhos e debates, alguns cuidados não só com o falar, como também
com o agir em público devem ser levados em consideração. Para isso
existem técnicas; a simpatia de quem está ouvindo liga-se com o ethos de
quem está falando. Falar bem, em voz alta, clara, pausada e convincente,
por exemplo, faz parte da adequação à situação comunicativa de um
seminário que os alunos preparam antecipadamente.
• Participar de discussões e debates não é entrar num bate-boca para
defender a todo custo seu ponto de vista, também não é ficar calado,
alheio ao que acontece, querendo que tudo termine logo, porque nada
daquilo lhe interessa. Participar de uma discussão é querer demonstrar
seu ponto de vista aos seus interlocutores e, mais que isso, é tentar
persuadi-los com a força de sua argumentação. Finalmente, também é
saber ouvir e respeitar o ponto de vista do outro.
Beija eu

Seja eu!
Seja eu!
Deixa que eu seja eu
E aceita
O que seja seu
Então deita e aceita eu...

Molha eu!
Seca eu!
Deixa que eu seja o céu
E receba
O que seja seu
Anoiteça e amanheça eu...

Beija eu!
Beija eu!
Beija eu, me beija
Deixa
O que seja ser...

Marisa Monte

Composição : Marisa Monte / Arnaldo Antunes / Arto Lindsay


Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.
Oswald de Andrade
O Poeta da Roça

Sou fio das mata, canto da mão grossa,


Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argun menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

(...)
Patativa do Assaré

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