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Realismo em

Portugal

(Moças peneirando trigo – Gustave Courbet)


“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose
do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a
arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mal
na nossa sociedade.” Eça de Queirós.
Esta escola literária busca enfatizar o panorama sombrio de injustiças sociais, da opressão, no
descrédito das instituições, o preconceito e a exploração atentando contra a dignidade humana.
Moças às margens do Sena –Gustavo Courbert
As Respigadeiras – Jean François Millet

Os Quebradores de Pedra – Jean François Millet


Origens do Realismo

A literatura realista teve como


marco inicial, na Europa, a
publicação em 1857, o romance
Madame Bovary, de Gustave
Flaubert.

“a tendência agora é manter-se dentro do campo dos


fatos e de nada mais do que fatos.” Gustave Flaubert.
O CONTEXTO DO REALISMO
No Brasil, ocorreu em um período em que a sociedade passava pro profundas
modificações principalmente trabalhistas, os quais são comumente retratadas nas
telas dos artistas realistas.

O Realismo marca um momento de profundas transformações históricas, a segunda fase da


Revolução Industrial marca o crescente aumento de número de fábricas e da mão de obra
assalariada, o proletariado. O período da utilização do petróleo, da eletricidade, do aço na
construção das estradas de ferro, o início da estruturação do capitalismo.
Doutrinas filosóficas no Realismo
POSITIVISMO de Auguste Conte – rejeição de
qualquer interpretação metafísica da
linguagem, pautava-se no estudo e
experimento científico.

Socialismo científico e Manifesto Comunista de


Marx – que dá início ao socialismo que apresenta
uma análise crítica da política e economia
vigente.
EVOLUCIONISMO – de Charles Darwin com a
Teoria da evolução das espécies em que as teorias
e os valores e verdades da igreja são questionados.

DETERMINISMO - de Hippolyte Taine ao


defender os três fatores determinantes do
comportamento humano:
meio, raça e momento histórico
Cenas do cotidiano expondo a espontaneidade dos trabalhadores.

“RASPANDO O ASSOALHO” (1875), DE GUSTAVE CAILLEBOTTE


As respigadeiras de Millet, retrata a cena do trabalho rural.
O Realismo se preocupava com descrição da realidade fiel dos fatos, mesmo que essa e realidade
não fosse a realidade desejada.
Características do Realismo

 Objetivismo - o autor mantêm-se distante dos fatos narrados;

 Universalismo - buscavam o coletivo, o não “eu”, demonstrando imparcialidade e


impessoalismo;

 Personagens esféricas: complexas e dinâmicas que evoluíam psicologicamente no


decorrer da narrativa;
são personagens complexas; definidas por vários traços diferentes, cheias de contradições;
apresentam comportamentos imprevisíveis, enigmáticos, que vão sendo definidos no decorrer da
narrativa, evoluindo e, muitas vezes, surpreendendo o leitor. Ora são covardes, ora corajosas; ora
possuem virtudes, ora defeitos; enfim, expressam a verdadeira natureza humana.

 Contemporaneidade: interessa o presente, o hoje, crítica social voltada a


desmascarar a hipocrisia e imoralidade da igreja e da burguesia;

 Detalhismo: busca de um retrato mais fiel da realidade;


Realismo em Portugal
Marco inicial: Questão Coimbrã – 1865

Disputa entre Castilho e seus protegidos X Antero de Quental/ Coimbra


Velho X novo
Conservadorismo X progresso
Literatura de salão X literatura viva
Realismo em Portugal
Antero de Quental - vida sofrida, devido a enfermidade, poesia metafísica, pessimista=estado de espírito.

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.


Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,


Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:


Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...


Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Realismo em Portugal
Eça de Queirós
representante maior da prosa realista em Portugal;
Grande renovador do romance , abandonou a linha
romântica , e estabeleceu uma visão crítica da realidade;
 Afastou-se do estilo clássico, deu a frase uma maior
simplicidade , mudando a sintaxe e inovando na
combinação das palavras;
Evitou a retórica tradicional e os lugares comuns;
Criou novas formas de dizer , introduziu neologismos e,
principalmente utilizou o adjetivo de maneira inédita e
expressiva;
Realismo em Portugal
Eça de Queirós – 1ª fase
 Publicação de folhetins
Emprega com intensidade imagens, metáforas e comparações ao tratar de
temas históricos e adota uma postura anticlerical.
Realismo em Portugal
Eça de Queirós – 2ª fase - 1875
 Realista
Com a publicação de O crime do Padre Amaro até Os Maias.
Realismo em Portugal
Eça de Queirós – 3ª fase -
 Pós-realista
Iniciada com a publicação de A Ilustre casa do senhor Ramires e A cidade e
as serras.
Análise de O crime do padre Amaro
 Realista/naturalista;
 Ataca a corrupção do clero e a hipocrisia burguesa;
 A questão do celibato;
 Romance de tese;
 Narrador: 3ª pessoa, onisciente, distancia entre autor e
obra – antipatia por padres, beatas, descrições rudes e
grosseiras;
 Tempo e espaço: Leiria, bispado, Amaro é transferido.
1860-1870 – tempo cronológico, linear, eventuais voltas
ao passado.
Análise de O crime do padre Amaro
Personagens
 Amaro - protagonista do romance. Um jovem padre, bonito.
Tornou-se sacerdote sem vocação. Vendo maus exemplos de
outros padres, deixa de lado seus escrúpulos, começou a agir
como muitos dos seus colegas - DETERMINISMO.

 Amélia - filha da Sra. Augusta Caminha. Jovem bonita, de pela


alva e olhos muito negros.

 João Eduardo - sujeito alto, bigodes que caem nos cantos da


boca. É escrevente e nutri por Amélia uma paixão desmedida.

 Cônego Dias - padre idoso, rico, influente, morador de Leiria,


conselheiro e confidente do Pe. Amaro; amante não declarado
de D. Augusta Caminha, conhecida como S. Joaneira.
Análise de O crime do padre Amaro
Enredo

“-Tudo passa!”
Análise de O primo Basílio
 Publicado em 1878, romance de tese.
 Narrador: 3ª pessoa onisciente – intimidade –identificação entre
narrador e história.
 Tempo: segunda metade do séc. 19.
 Espaço: Lisboa – cenário da crítica, Alentejo – rouba Jorge de
Luisa, Paraíso – contraponto entre a vida doméstica e o mundo
das alcovas, Paris – devolve Basílio a Luisa.
 Crítica: burguesia, monarquia e igreja, lares com bases falsas e
podres.
 Personagens: protótipo da futilidade, ociosidade:
 Luisa, Basílio, Jorge, Juliana, conselheiro Acácio.
Análise de O primo Basílio
Personagens
 Luísa: representa a jovem romântica, inconsequente, a adúltera
ingênua e, no final, arrependida. Retrato da futilidade, da
fragilidade e da ociosidade que caracterizavam as mulheres de
sua classe e tempo. Mimada a sonhadora, precisava do amparo
masculino;

 Basílio: o conquistador e irresponsável, "bom vivant" pedante e


cínico. Personagem desprovido de qualquer senso moral. Joga
com o sentimento alheio. Não tem compromisso com nada nem
com ninguém.

 Jorge: Personagem caracterizada por certa hipocrisia masculina.


Condena-se no que reprova.
Análise de O primo Basílio
Personagens
 Conselheiro Acácio: Homem de palavratório complicado e
inútil. Tipifica o formalismo próprio da época, o falso
moralismo, o apego às aparências.
 Juliana: personagem mais completa e acabada da obra, símbolo
da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem,
solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por
isso odeia a tudo e a todos, não se detém a qualquer
sentimento de fundo moral. É a representante maior da
população que circundava o lar do engenheiro.
 Leopoldina: encarna o avesso da moral da época. Adúltera,
fumante, escandaliza a toda a sociedade. Age conscientemente,
possui vários amantes.
Análise de O primo Basílio
Enredo
 Os protagonistas são Jorge, bem-sucedido engenheiro, e Luísa,
típico casal burguês de classe média da sociedade lisboeta do
século XIX.
 A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas
quando Jorge viaja a trabalho para Alentejo a fim de fiscalizar
suas minas.
 Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em uma
melancolia pela ausência do marido.
 Basílio chega do exterior. Ele e Luísa haviam namorado antes
dela conhecer Jorge.
 Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para
reconquistar o amor de Luísa, agora transformado em ardente
paixão - adultério. Há troca de cartas de amor;
Análise de O primo Basílio
... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe
escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso
que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia
um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa
existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto
diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de
sensações!

Foi-se ver ao espelho.


Que linda manhã!
Era um daqueles dias
do fim
de agosto em que o estio

...
Eça de Queiroz
Análise de O primo Basílio
Enredo
 Os encontros se sucedem, uma das cartas é interceptada por
Juliana, graças aos conselhos "sábios" de tia Vitória.
Análise de O primo Basílio
Enredo
 Começam as chantagens. Luísa se transforma em escrava de
Juliana, e começa a adoecer. Com frágil constituição, os maus
tratos que sofre de Juliana lhe tiram o ânimo, minando-lhe a
saúde. Basílio foge covardemente, deixando-a sem apoio.
Análise de O primo Basílio
Enredo
 Luísa encontra a ajuda desinteressada e pronta de Sebastião que
arma uma cilada para Juliana, acaba provocando-lhe um ataque
e a morte.
 Luísa, cercada do carinho de Jorge, porém, tarde demais:
enfraquecida pela tirania de Juliana, adoece.
 Em delírio, conta a Jorge seu adultério, fazendo-o entrar em
desespero e, no entanto, perdoar-lhe a traição.
 Luísa morre e o lar antes "formalmente feliz", se desfaz.
 O romance termina com a volta de Basílio e seu cinismo, ao
saber da morte da amante, quando comenta com um amigo que
se soubesse que Luísa havia morrido teria trazido Alphonsine, a
amante que tem em Paris:
- “Antes ela do que eu!”
“Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se
desumanizam na cidade.”
Eça de Queiroz

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