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REALISMO e NATURALISMO — Portugal

CONTEXTO MUNDIAL

2ª Metade do século XIX


poder da burguesia
implementação do capitalismo
avanço do industrial
burguesia X proletariado

Em toda a Europa repercute a “Comuna de Paris” —


Tentativa do proletariado de assumir o poder político.
Desenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas
filosóficas e sociais difundidas:

• O positivismo de Augusto Comte: considerar somente o


pode ser provado cientificamente.

• O determinismo de Hipólito Taine: o comportamento do


homem depende do meio, raça e momento histórico.

• O evolucionismo de Charles Darwin : a seleção natural —


os mais fortes derrotam os mais fracos.
•O socialismo de Proudhon e o socialismo de Karl Marx e
Engels: luta de classes — o poder burguês tende a ser
superado pela classe proletária.

•A negação ao Cristianismo de Renan: a crença absoluta


nas conquistas da ciência para explicar o universo.
CONTEXTO EM PORTUGAL

• Cultura é laica, burguesa destinada a um público


alfabetizado.

• Produção industrial inexistente e o desequilíbrio da


produção agrícola, houve um atraso tecnológico econômico
e social que se contrapõe a juventude acadêmica de
Coimbra, que deu origem ao Realismo.

• Questão Coimbrã
Românticos X Realistas
Antonio Feliciano de Castilho Antero de Quental
Falta bom senso e bom gosto
Questão Coimbrã
Movimento que ficou conhecido como "
Questão Coimbrã" (1865), quando se defrontam jovens
estudantes de Coimbra que estavam atentos às novas
ideias vindas da Alemanha, França e Inglaterra.
Nos anos 70, os intelectuais que integravam o grupo
de Coimbra promovem um ciclo de palestras que ficou
conhecido por "Conferências Democráticas do Cassino
Lisbonense".
Entre os participantes do ciclo está o jovem Eça de
Queirós, que estava alheio à Questão Coimbrã, mas havia
aderido ao novo pensamento realista.
E do lado romântico está Antonio Feliciano de
Castilho
O Realismo surgiu na França, o surgimento da escola
se deve a postura crítica e social do final do Romantismo.

Em 1857 — Gustave Flaubert — Madame Bovary —


fala sobre o casamento e o adultério burguês — processo
contra o autor.

Em Portugal o Realismo teve:

Início: 1865 – Questão Coimbrã.


Término : 1890 – Oaristos de Eugênio de Castro.
Realismo e Naturalismo
Uma das principais diferenças entre o
realismo e naturalismo é justamente as personagens que
aparecem nas obras.
Enquanto no realismo as personagens fazem parte
da classe burguesa, no naturalismo, elas são pessoas
simples ou mesmo marginalizadas pela sociedade.
Para muitos estudiosos do tema, o naturalismo é
considerado uma radicalização do realismo. Ele envolve
personagens de qualquer classe social, os prazeres carnais,
o sensualismo e o erotismo.
Diferente do realismo, essa tendência surge com o
intuito de chocar o público e apresentar uma nova
realidade “nua e crua”.
O Naturalismo surgiu na França em meados do
século XIX com a publicação da obra “Germinal” do
escritor francês Émile Zola.

Nessa obra, o escritor aborda sobre a greve de


trabalhadores mineiros no norte da França. A temática
escolhida já demonstra as raízes do naturalismo donde a
realidade é retratada de forma objetiva e realista.
O Naturalismo em Portugal tem início em 1875 com
a publicação da obra de “O Crime do Padre Amaro” (1875)
de Eça de Queirós.
Embora ele seja mais citado como escritor realista, a
obra de Eça abrange diversas características do
naturalismo.
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO

•análise psicológica, usa ironia e sugere e aponta em vez


de afirmar.

•ênfase nas relações entre o homem e a sociedade


burguesa, atacando suas instituições e seus fundamentos
ideológicos: o casamento, o clero, as contradições entre
ricos e pobres.

•tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao


leitor um espaço de interpretação de elaboração de suas
próprias conclusões a respeito da obra.
CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO

•as personagens tendem a ser simplificadas, pois são


vistas como joguetes, os fatores biológicos e sociais que
determinam suas ações, pensamentos e sentimentos.

•ênfase na descrição coletivamente dos homens que se


assemelham aos animais em suas taras, vícios e
anormalidades.

•a visão determinista conduz e direciona as conclusões do


leitor e empobrece os textos.
Autores do Realismo e Naturalismo

Eça de Queiroz: O Crime do Padre Amaro; O Primo


Basílio; O Mandarim; A Relíquia; Os Maias; A Ilustre Casa
de Ramires; Correspondência de Fradique Mendes; A
Cidade e as Serras; A Tragédia da Rua das Flores.
Antero de Quental: Sonetos de Antero; Beatrice e
Fiat Lux; Primaveras Românticas; Odes Modernas; Bom
Senso e Bom Gosto; Sonetos Completos; Raios de Extinta
Luz; Prosas.
Cesário Verde: A Débil; A Forca; Cadências Tristes;
Deslumbramentos; Em Petiz; Flores Velhas; Heroísmos;
Ironias do Desgosto; Lágrimas; Merina; Noite Fechada; O
Sentimento dum Ocidental; Provincianas; Responso;
Setentrional; Vaidosa.
Eça de Queirós (1845-1900) foi um escritor
português. "O Crime do Padre Amaro" foi o seu primeiro
grande trabalho, um marco inicial do Realismo em
Portugal. Foi considerado o melhor romance realista
português do século XIX.
Foi o único romancista português que conquistou
fama internacional nessa época. Foi duramente criticado
por suas críticas ao clero e à própria pátria.
A crítica social unida à análise psicológica aparece
nos livros "O Primo Basílio", "O Mandarim", "A Relíquia" e
"Os Maias".
O CRIME DO PADRE AMARO: “ O Padre Amaro torna-se sacerdote em
Leiria, província de Portugal, por interferência do Conde de Ribamar, cuja
mulher é sua aparente. Lá hospeda-se na casa de D. Joaneira, amante do
Cônego Dias, mãe de Amélia e amiga de algumas beatas velhas, ignorantes
e supersticiosas, que regularmente visitam a residência. Forma-se nela um
grupo de mulheres e clérigos, que se divertem em longos serões nos quais
as modinhas tocadas por Amélia ao piano,os jogos, as conversas fúteis e
os mexericos puritanos e moralistas são as grandes atrações.João Eduardo,
namorado de Amélia pouco querido por ela, também participa dos serões,
até incomodar-se com as intimidades entre ela e o padre.De fato, desde a
chegada de Amaro ambos se sentem atraídos, e o padre se encoraja cada
vez mais em cortejar a rapariga, movido por intenso desejo de possuí-la.
João Eduardo escreve um texto num jornal de oposição, assinando-se
apenas "um liberal", em que critica violentamente a corrupção do clero, e
exemplifica suas críticas mencionando comportamentos devassos dos
religiosos frequentadores da casa de Amélia. Esse incidente faz com que
Amaro, preocupado com sua reputação, mude de residência, afastando-se
da rapariga, o que só lhes intensifica o sentimento.
Quando um dos padres denunciados no artigo, o vingativo padre
Natário, descobre a identidade do difamador, João Eduardo, que
marcara o casamento com Amélia, é enxotado do lugarejo, sem
noiva, sem emprego e sem respeitabilidade. Amaro, então,
triunfante, respeitado por todos como um santo, um virtuoso,
consegue um espaço para encontrar-se com Amélia e uma boa
história para encobrir seu amor: ajudado por Dionísia, uma ex-
cortesã, transforma em alcova a casa do sineiro, ao lado da Igreja, e
justifica de duas maneiras as visitas regulares de Amélia ao lugar:
para tio Esguelhas, o sineiro, diz que a está preparando para a vida
religiosa, em segredo, e para a mãe, as beatas e os outros padres,
que ela está virtuosamente ensinando a ler e a conhecer a doutrina
cristã a Totó, uma menina entrevada e considerada louca, filha do tio
Esguelhas. Amélia e Amaro vivem sua paixão voraz sem incidentes
maiores, apesar da fúria de Totó, que tem aversão a Amélia e os
denuncia ao Cônego Dias.
No entanto, quando o velho descobre a trama e acusa Amaro, este
revela que sabe de sua relação com D. Joaneira, e desde então
tornam-se cúmplices. Um incidente muda o rumo dos fatos: Amélia
engravida e Amaro encarrega Dionísia de procurar João Eduardo,
para casá-la com o rapaz. Não o encontrando, elabora mais um plano
maquiavélico: faz com que D. Joaneira vá com o Cônego para a praia,
enquanto Amélia, a pretexto de ajudar D. Josefa, a irmã do Cônego,
que adoecera, viaja com ela para um povoado, onde poderá ter a
criança em segredo. Lá a rapariga consegue por pouco tempo se
afastar do padre, influenciada por um sacerdote a quem se confessa
e que procura salvá-la, apontando a crueldade e o egoísmo de
Amaro e tentando convencê-la a se casar com João Eduardo, que
estava de volta. Entretanto, Amaro com facilidade a seduz para si
novamente.
Na ocasião do parto, entrega a criança a uma mulher "tecedeira de
anjos", isto é, que mata os bebês que recebe, e Amélia, ressentida
com a separação do filho, sofre uma série de convulsões e vem a
falecer. Amaro imediatamente embarca para Lisboa, onde tempos
depois, em companhia do Conde Ribamar, reencontra o velho amigo
Cônego Dias, justamente quando a cidade está perplexa com as
notícias sobre os acontecimentos sangrentos da Comuna de Paris. O
Conde comenta com os padres, na cena final do romance, sobre a
paz, a prosperidade e o contentamento de Portugal, que a seu ver
desperta inveja à Europa, dentre outras razões por ter "sacerdotes
respeitáveis" como aqueles a quem lisonjeia...”
O PRIMO BASÍLIO: “Casados há três anos, Luísa e Jorge moram numa
rua pouco elegante de Lisboa, frequentada por gente pobre e que se
diverte com mexericos e intrigas. Jorge é engenheiro e trabalha num
Ministério, enquanto Luísa, de personalidade enfraquecida pela
leitura de romances, vive de forma ociosa e sonhadora. O casal só
deseja um filho, que lhe complete a felicidade. Jorge parte para
interior — o Alentejo — a negócios. Luísa, solitária, aborrece-se com
a ausência do marido até a chegada de Basílio, um primo que fora
seu primeiro amor e que a abandonara. Ao ver a prima, Basílio passa
a desejá-la para uma aventura que diminua o tédio de sua
permanência na cidade, cujo provincianismo despreza, mas na qual
tem negócios a resolver.
Luísa cede às tentações do charme, da paixão por Basílio, que a
"perverte" contando suas aventuras amorosas, iguais às dos
romances lidos por Luísa, se entrega a ele, cometendo adultério.
Juliana, a "criada de dentro", ávida por uma vingança contra todas
as patroas, rouba algumas cartas trocadas pelos amantes, passando
a chantagear Luísa. Basílio, que havia prometido levar Luísa a Paris,
abandona-a novamente. Ela se desespera, então, com a chegada
de Jorge. Apaixonada "como nunca" pelo marido, ela transforma-se
em criada, a mando de Juliana, até Jorge pegá-la em flagrante e
demitir a empregada. Luísa, depois de rezar, jogar na loteria, e até
mesmo de tentar se entregar a um banqueiro para conseguir o
dinheiro da chantagem, conta o seu segredo a Sebastião, um amigo
de Jorge, que promete ajudá-la. Acompanhado de um policial, ele
consegue recuperar as cartas de Juliana, que morre espumando de
raiva, vitimada por um colapso nervoso.
Luísa, recuperada de uma "febre cerebral", volta a adoecer, de
maneira fatal, por causa de uma carta de Basílio para ela, que Jorge
lera. Martirizado pelo desejo de matar e o de perdoar a mulher,
Jorge termina por relevar o adultério. A história termina com a
morte de Luísa, seguida de duas ironias: um necrológio sobre a sua
virtude, feito pelo Conselheiro Acácio, um falso puritano, hipócrita e
que representa o convencionalismo bem-sucedido, a vacuidade
premiada; e a volta de Basílio, o Janota, o almofadinha, que toma
conhecimento da morte da prima, lamentando-se com um amigo
por não ter trazido Alphonsine, sua amante francesa.”
A RELÍQUIA: “Tem como tema a hipocrisia religiosa, misturando
caricatura e lirismo. Teodorico, que é a personagem principal, faz
uma peregrinação à Terra Santa a fim de trazer uma relíquia sagrada
para a sua tia. Em troca, tem a certeza de que ela o nomeará
herdeiro de todos os seus bens e ele tornar-se-á rico. A troca casual
de dois embrulhos, porém, faz com que ele traga para sua tia a
camisola de Mary, com quem teve um caso durante a viagem, e não
a sonhada relíquia. Deserdado, Teodorico é expulso da casa da tia.”

A CIDADE E AS SERRAS: “Obra que defende a vida no campo, opondo


Paris à aldeia portuguesa em Tormes, Jacinto, a personagem central,
vive deslumbrado pelo avanços da civilização até que, obrigado a
viajar para o campo, perde sua bagagem e vê-se obrigado a viver de
forma rústica e natural. Com isso, aprende a valorizar a simplicidade
só encontrada no campo.”
OS MAIAS: “Relata detalhadamente a vida da alta sociedade
portuguesa, abordando como tema o incesto entre dois irmãos.
Carlos Eduardo e Maria Eduarda conhecem-se em Lisboa e
apaixonam-se, sem saber que são irmãos; haviam sido separados na
infância, tendo vivido em países diferentes. O acaso faz com que
descubram o parentesco e percebam, horrorizados, a relação
incestuosa que praticaram. Ao lado desta trama central, o autor
desenvolve um amplo painel dos costumes da época, evidenciando
sua futilidade e artificialidade.”

A ILUSTRE CASA DE RAMIRES: “Obra que mescla duas narrativas


diferentes: numa, em estilo realista, o autor traça o perfil de Gonçalo
Mendes Ramires, um fidalgo português em decadência, mas que
conserva traços do verdadeiro espírito lusitano; na outra, escrita pelo
próprio Gonçalo em estilo romântico, semelhante ao de Alexandre
Herculano, narram-se os feitos de Tructesindo Ramires, ancestral de
Gonçalo, na Idade Média.”
Antero de Quental (1842-1891) foi um poeta e
filósofo português. Foi um verdadeiro líder intelectual do
Realismo em Portugal. Dedicou-se à reflexão dos grandes
problemas filosóficos e sociais de seu tempo. Contribuiu
para a implantação das ideias renovadoras da geração de
1870.

Expressa em seus sonetos a sua inquietação


religiosa e metafísica constituindo a parte mais
importante de sua obra: "Sonetos de Antero" (1861),
"Primaveras Românticas" (1872), "Sonetos Completos"
(1886) e "Raios de Extinta Luz" (1892).
À Virgem Santíssima/ Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia

N'um sonho todo feito de incerteza,


De nocturna e indizível ansiedade,
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza...

Não era o vulgar brilho da beleza,


Nem o ardor banal da mocidade...
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza...

Um místico sofrer... uma ventura


Feita só do perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira...

Ó visão, visão triste e piedosa!


Fita-me assim calada, assim chorosa...
E deixa-me sonhar a vida inteira!
O poeta português José Joaquim Cesário Verde nasceu em
Lisboa no dia 25 de fevereiro de 1855. Conhecido por seus dois
últimos nomes, ele é visto como um dos predecessores e grande
influência do estilo poético realizado no século XX em Portugal.

Cesário Verde não conseguiu escapar da doença


(tuberculose) e faleceu aos 30 anos, em dezenove de julho de 1886.
Silva Pinto, em sua homenagem, organizou uma compilação com a
poesia do amigo, que chamou de “O Livro de Cesário Verde”. Em
1901 este livro foi publicado.

As características mais importantes encontradas na análise de sua


obra são imagens muito visuais que tinham o objetivo de
dimensionar a realidade do mundo, a mistura do moral com o físico,
a combinação de sensações, comparações, metáforas, sinestesias,
versos decassílabos e quadras.
Um tema recorrente nas poesias de Cesário Verde é a mulher.
Ele nos apresenta dois tipos femininos, sempre atrelados aos locais
em que ambienta seus versos. Na cidade, cria uma mulher calculista,
madura, frívola, fria, autodestrutiva e dominadora. Em sua
representação do campo, o poeta monta arquétipos de mulheres
pobres, feias, doentes, esforçadas e trabalhadoras.
Vaidosa
Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.

Contam que tens um modo altivo e sério,


Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
Loira

E pensava de longe, triste e pobre,


Desciam pela rua umas varinas
Como podias conservar-te sobre
O salto exagerado das botinas.

E tu, sempre febril, sempre inquieta,


Havia pela rua uns charcos de água
Ergueste um pouco a saia sobre a anágua
De um tecido ligeiro e violeta.

Adorável! Na idéia de que agora


A branda anágua a levantasse o vento
Descobrindo uma curva sedutora,
Cada vez caminhava mais atento.

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