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Arthur B. Telló
Raquel Belisario
André Roca
Foto do autor
Pedro Poeta
ISBN: 978-85-93577-00-0
ISBN: 978.85.93577-00-0
21
Canarim, Kroeff Sérgio. São proposições inéditas.
22
Wittgenstein, Ludwig. Tractatus Lógico-Philosophicus. 3. Ed. 2 reimpressão. Editora da Universidade de
São Paulo. São Paulo/ 2010. Pág. 279
23
Canarim, Kroeff Sérgio. Contraponto a tese de Wittgenstein.
SUMÁRIO
PREFÁCIO 13
INTRODUÇÃO 17
GLOSSÁRIO 21
CAPÍTULO I 27
I.I 29
O QUE É O ABSOLUTO?
I.II 33
I.III 35
I.III.I 37
PARCIALMENTE VERDADEIRO, PARCIALMENTE FALSO E INCOMPLETO
I.IV 39
LÓGICA E ONTOLOGIA
I.V 41
O ACENO-ONIPRESENTE-DA-ONISCIÊNCIA-DE-MUNDOS
I.VI 43
A NOVA METAFÍSICA
I.VII 44
O PENSAMENTO E ALGUM-TODO-NENHUM-AQUÉM-ENTRE-ALÉM-SER-
NÃO-SER-IMANENTE-TRANSCENDENTAL-A-SI-MESMO
I.VIII 46
DA SUPERAÇÃO HUMANA
I.IX 49
O PÓS-HOMEM
I.X 52
DA EXISTÊNCIA DE DEUS
I.XI 55
DEUS-QUE-ULTRAPASSA-A-SI-MESMO
I.XII 57
I.XIII 60
I.XIV 62
I.XV 66
I.XVI 72
I.XVII 75
I.XVIII 77
I.XVIII.II 82
A GRANDE MODERAÇÃO TOLERANTE
I.XVIII.III 84
SENTIDO GERAL E INDIVIDUAL DA VIDA INTELIGENTE
I.XIX 85
VERDADE E COMPLETUDE
I.XX 87
I.XXI 89
I.XXII 91
CAPÍTULO II 95
II.I 97
LIVRE ARBÍTRIO
II.II 100
AUTOANÁLISE
II.III 103
II.IV 104
EXPERIÊNCIAS
II.IV.I 107
ALTERADORES DA TOTALIDADE-DO-NOSSO-SER-RACIONAL-INTUITIVO-
PULSIONAL-SENSITIVO-SENSÍVEL-INSTINTIVO-IMAGINATIVO-MÍSTICO-
CONSCIENTE-INCONSCIENTE-MEDITATIVO-VOLITIVO
II.IV.II 108
HOMENS DE GÊNIO
II.IV.III 109
NOVOS CONTATOS ONTOLÓGICOS
II.V 111
CIÊNCIA
II.VI 114
II.VII 118
FINITUDE
II.VIII 123
CRENÇAS
II.VIII.I 127
CRENÇAS PRÁTICAS
II. IX 129
A LINGUAGEM
II.X 133
EXISTÊNCIA
II.XI 138
AMOR
II.XII 142
II.XIV 155
ESTÉTICA
II.XV 158
IDEOLOGIAS
II.XVI 163
AÇÕES
II.XVII 168
VALORES E MORAL
II.XVIII 172
CICLOS EVOLUTIVO
II.XIX 179
LÓGICA E ALGUM-TODO-NENHUM-AQUÉM-ENTRE-ALÉM-SER-NÃO-SER-
IMANENTE-TRANSCENDENTAL-A-SI-MESMO: PARA UMA PÓS-LÓGICA
II.XX 182
II.XXI 185
II.XXII 187
OS METAFÍSICOS
EPÍLOGO 191
BIBLIOGRAFIA 193
PREFÁCIO
21
Canarim, Sérgio. Filhos do Vácuo: Cartas ao homem-Deus. Porto Alegre: Buqui. 2015. p.10-11.
fortes influências de Lacan e algumas influências de Bion. Esses fatores influen-
ciaram drasticamente minha escrita para uma maior clareza e um maior domínio
conceitual dos termos filosóficos e da própria História da Filosofia. Confesso que
ainda poderia estudar a vida inteira e, mesmo assim, jamais dominaria a história 15
do pensamento filosófico. Essa base que adquiri, todavia, é suficiente para a ela-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
boração desta obra.
A história me julgará.
21
Com esta ressalva queremos manter aberta a possibilidade de haver outras formas de vida inteligente;
caso haja, no presente ou no futuro, este autor que vos fala seria muito feliz em compartilhar os seus es-
critos com todas elas.
21
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
GLOSSÁRIO
Consistente-inconsistente-aconsistente (lógico-ilógico-alógico) -
22 na junção das três possibilidades da realidade: consistente - queremos dizer que
algo está de acordo com a lógica; inconsistente - algo que é contrário a lógica;
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
-transcendental-a-si-mesmo: este conceito é formulado para expandir a lingua-
gem que até então estava restrita aos domínios do ser e não ser, por isso, dizemos
que essa expressão é a explosão e implosão dos conceitos mais gerais da lingua-
gem e da estrutura metafísica do mundo. Este conceito será analisado sobre diver-
sos aspectos em diferentes subtítulos do texto. É um conceito aberto que permite
novas possibilidades de expansão acrescentando novos termos.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Homo Sapiens finito e histórico: homo sapiens é o nome da espécie
do homem tradicionalmente definida pela ciência, acrescentamos o termo finito
para que tenhamos em mente a nossa limitação diante do absoluto enquanto má-
xima totalidade radical que é finito-infinito-afinito. Acrescentamos, ainda, o ter-
mo histórico, pois o indivíduo é sempre vinculado ao momento histórico em que
vive, as questões que um determinado indivíduo se coloca são as questões do seu
tempo. Ambas as expressões também significam um fim no horizonte do homo
sapiens, todo homem que nasce também morre é, portanto, tanto finito quanto
histórico. Finito, pois sua vida acaba, e histórico, pois sua vida se dá dentro de um
lapso temporal com início e fim.
Totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-
-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente-meditati-
vo-volitivo: este conceito visa fundir todas as forças e faculdades atribuídas por
nós mesmos a nossa espécie homo sapiens finito e histórico. Cada um dos termos
preserva seu significado original na língua portuguesa. Juntos eles unem todas as
forças e as faculdades que compõem o ser humano, ao contrário da maioria das
ideias transhumanistas que desejam aumentar a razão ou a bondade da nossa es-
pécie, nós queremos uma expansão radical de todas as forças e faculdades que nos
compõem. É um conceito aberto que permite novas possibilidades de expansão
acrescentando novos termos, nós queremos representar a totalidade do Ser de um
indivíduo da raça humana, nada impede que novas forças e faculdades sejam des-
cobertas no nosso ser, mesmo não as mencionando, já queremos expandi-las, pois
queremos expandir todas as possibilidades do homo sapiens finito e histórico.
Incorporar-conceber ou conceber-incorporar: Estes verbos estão
com seu uso corrente na língua portuguesa, conceber: ser fecundado (por); dar
à luz; parir, gerar. Incorporar: dar ou tomar corpo. Integrar(-se) um elemento a
24 (um conjunto); juntar(-se). Podemos substituir conceber-incorporar por gerar-in-
tegrar, por exemplo. O conceber-incorporar se dá quando a totalidade de forças
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
I.I
O QUE É O ABSOLUTO?
os seus poderes e de ultrapassá-los para o que um deus não é capaz, como Deus-
que-ultrapassa-a-si-mesmo21. Ao longo da história, foi demonstrado que, pelo
contrário, o conhecimento humano tem uma série de fragilidades intransponí-
veis. Somos finitos, tal totalidade é imanente e transcendental ao finito, infinito e
afinito22. Jamais conseguimos responder a questões muito mais elementares que
esta: quem nos criou? Deus existe? Por que existimos? Qual o sentido da vida? É
possível conhecer a realidade absolutamente? É possível conhecer qualquer ente
existente absolutamente?
Diante de tal ignorância, fica claro que o máximo que podemos fazer
é conceber um caminho para a pergunta “o que é o absoluto”? Todavia, avança-
mos muito sob certos aspectos, construímos uma ciência capaz de produzir co-
nhecimentos suficientes para criarmos soluções tecnológicas, fazermos previsões
e até mesmo explicarmos certos aspectos da realidade.
21
Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo, é a entidade capaz de igualar-se ao absoluto enquanto máxima totali-
dade radical. Faremos uma subseção sobre a transformação do desejo obscuro, em parte inconsciente de
vir-a-ser Deus para o desejo consciente de vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
(A)finito: estamos utilizando o “A” como prefixo de negação, uma maneira de utilizá-lo vigente na língua
22
portuguesa. Faremos uma subseção para explicar porque julgamos necessário cunhar esta nova expressão.
23
Lewis, David. On the Plurality of Worlds. Blackwell Publishing. Oxford. 2011. Pág. vii.
que as das ciências empíricas em geral, permitem que sejamos capazes de conce-
ber uma totalidade mais radical do que nossos antepassados, além de representar
um respaldo ontológico para pluralidade de mundos. Por exemplo, já somos ca-
pazes de ao menos imaginar que além deste universo que habitamos possa haver 31
uma infinita possibilidade de outros universos com realidades das mais variadas.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Essas visões do realismo modal e da física especulativa, apesar de
serem quase impossíveis de qualquer demonstração empírica24, podem ser muito
fecundas para apontar um novo caminho.
Alguns físicos estão em busca de provas empíricas da existência de outros universos além do nosso, estão
24
mana, deram origem a todo espaço lógico. Dividido pela maior parte da tradição
filosófica por verdadeiro e falso, com exceções: alguns, por exemplo, defendem
um terceiro termo, o indeterminado.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
deixando em aberto se é possível que alguma forma de inteligência possa cum-
prir este objetivo.
I.II
26
De acordo com Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Alógico. 1. Que não necessita de demonstração para
ser tido como certo e verdadeiro; que é evidente. 2. FIL que não possui lógica, coerência interna, consistência
ou concatenação em sua organização interior; ilógico irracional. 3. FIL que não se submete a um tipo particular
de lógica, a uma lógica particular ou especifica (p.ex. ao raciocínio silogístico ou a lógica dialética). Pag. 164
Nós não estamos usando o vocábulo de acordo com o uso oficial estabelecido nesse dicionário. Nós usamos
o prefixo (a) como negação no sentido de privação. Mesmo assim, queremos ressaltar uma diferença entre
ilógico e alógico. O primeiro, definimos como algo que desrespeita os princípios da lógica, principalmente
o princípio de não contradição. Ora, se algo desrespeita as regras da lógica é porque poderia respeitá-las.
O segundo, definimos como algo completamente privado de sentido lógico. Isto é, não respeita e nem des-
respeita as regras da lógica, pois não possui estas possibilidades em si.
ontologicamente, seja composto de aspectos lógicos, ilógicos e alógicos. Isto é,
todo universo possível ontologicamente pode ser lógico-ilógico-alógico. Obvia-
mente, não há provas da existência de outros universos; por essa razão, não po-
34 demos afirmar que esses universos possíveis possuem ou não possuem qualquer
propriedade. Supomos, a partir da nossa experiência neste universo, que univer-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O absoluto enquanto máxima totalidade radical é lógico-ilógico-alógico.
I.III
mento, nem mesmo se são consistentes a nossa lógica, como defende o realismo
modal, nem mesmo se são inconsistentes. Posso conceber um mundo inconsis-
tente, então a máxima totalidade radical deve contemplá-lo, assim como a mun-
dos possíveis consistentes. Nós acreditamos que ontologicamente todo universo é
consistente-inconsistente-aconsistente, mas podemos conceber mundos apenas
inconsistentes ou apenas consistentes. Estes mundos lógicos ou ilógicos são, so-
bretudo, pensáveis. Sendo assim, estes mundos são parte do absoluto enquanto
máxima totalidade radical.
Ao concebermos-incorporarmos algum-todo-nenhum-aquém-en-
tre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo, ultrapassamos a nós
mesmos explodindo e implodindo a linguagem através da explosão e implosão de
seus conceitos mais gerais: ser e não ser. Expressão que contém todas as possi-
bilidades de sentido da e para a linguagem, fragmentando-a, cria novos sentidos
e abre o caminho para constante criação de novos sentidos da e para a lingua-
gem. Abre, igualmente, possibilidade de novos referentes virem à tona, os quais
antes jaziam velados. Assim, esperamos que traga o inaudito nas nossas inves-
tigações filosóficas ou particulares da ciência, nas nossas criações artísticas, na
nossa existência, na totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensiti-
vo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente-meditativo-
volitivo.
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo requer sob certos aspectos a suspensão do juízo ló-
gico, trazendo à tona nossas limitações constantemente, ao mesmo tempo reve-
lando o ultrapassamento dos nossos limites ontológicos, epistêmicos, lógicos,
éticos, políticos, sociais, estéticos e existenciais. Uma vez concebido-incorporado
o absoluto enquanto máxima totalidade radical, temos a consequência de que
nenhum pensamento, mundo possível (consistente-inconsistente-aconsistente)
ser ou nada possível, pode estar absolutamente em desacordo com algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
Uma nova concepção de valor de verdade vem à tona. A ilustração
desta ideia particular requer uma subseção que virá a seguir.
37
I.III.I
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
PARCIALMENTE VERDADEIRO, PARCIALMENTE FALSO E INCOMPLETO
“Mas esta é uma antiga, eterna história: o que ocorreu então aos estoicos su-
cede ainda hoje, tão logo uma filosofia começa acreditar em si mesma. Ela
sempre cria o mundo à sua imagem, não consegue evitá-lo, filosofia é esse
impulso tirânico mesmo, a mais espiritual vontade de poder, de “criação do
mundo”, de causa prima (causa primeira).”27
À luz de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-ima-
nente-transcendental-a-si-mesmo, expressão qual serve como um caminho que
abre constantemente novas possibilidades de verdade e completude do absoluto
enquanto máxima totalidade radical, qualquer proposição estará sempre parcial
e incompleta em relação à verdade e à falsidade. Qualquer proposição é sempre
uma tentativa de descrever um estado de coisas na realidade ou na mente de
27
Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Além do Bem do Mal: Prelúdio a uma filosofia do futuro. Companhia das
Letras. São Paulo 2005. Pág. 15
quem a pronuncia. Um recorte que, de acordo com a tradição, se correspondente
ao que deseja descrever, será verdadeiro e, se não correspondente ao que deseja
descrever, será falso. Não entraremos na discussão de se é possível atribuir valor
38 de verdade aos estados mentais.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
-inconsistente-aconsistente; o ser e o nada que possa separar este Universo atual
consistente-inconsistente-aconsistente de todo universo possível consistente-in-
consistente-aconsistente; o ser e o nada que possa separar todo Universo possível
consistente-inconsistente-aconsistente de algum Universo possível consistente-
-inconsistente-aconsistente; o ser e o nada que possa haver internamente neste
Universo atual consistente-inconsistente-aconsistente e em todo Universo possí-
vel consistente-inconsistente-aconsistente; todo pensamento consistente-incon-
sistente-aconsistente e toda ação consistente-inconsistente-aconsistente. Ora,
nenhuma proposição, objeto, pensamento pode estar absolutamente em desacor-
do com isso. Conterá sim, uma infinita possibilidade de proporções de verdade,
falsidade e completude em relação a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-
-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
I.IV
LÓGICA E ONTOLOGIA
é, a realidade não poderia ser ilógica para Aristóteles e, na verdade, para muitos
filósofos até hoje.
Como foi dito na seção anterior, nós não estamos negando a lógica
nesta obra, e sim, apenas sugerindo que a realidade em sua totalidade radical é
também ilógica e alógica. Isto é, a lógica é apenas uma forma humana de descre-
ver a realidade limitada pelo modo de perceber e pensar humanos. Nada mais
que isso. Extremamente útil para formarmos uma ciência universal para com-
preensão da linguagem. Não estamos negando-lhe valor.
28
Aristotle. The Complete Works of Aristotle. Volume II (Bollingenseries ; 71:2). Princeton University Press.
New Jersey. 1994. Pág. 1588.
que uma partícula desrespeita o princípio de não contradição. Uma singularida-
de quando testada mostra comportamentos contraditórios. Isto é, está e não está
num determinado ponto do espaço ao mesmo tempo, por exemplo. Embora saiba-
mos que a ciência seja problemática e limitada, acreditamos que pelo menos sob 41
alguns aspectos ela seja capaz de representar a realidade.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Se, no próprio universo da qual a lógica foi derivada, há provas de
suas falhas ontológicas, no nada interno a este universo ou interno a possíveis
universos ontológicos, no pensamento, na ação, em possíveis outros universos
ontológicos, no nada e no ser que possa haver externo a este universo e a todo
possível universo menos razões teremos para crer na lógica como única estrutura.
I.V
O ACENO-ONIPRESENTE-DA-ONISCIÊNCIA-DE-MUNDOS
29
Heidegger, Martin. A Caminho da Linguagem. 3 ed. Vozes. Editora Universitária São Francisco. 2003.
Pág.93
O aceno é onipresente porque, uma vez concebido-incorporado al-
gum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-
si-mesmo, não há como regressar, os sentidos da e para a linguagem são expandi-
42 dos, fragmentando-se, criando novos sentidos e trazendo a constante abertura de
novas possibilidades de novos sentidos da e para a linguagem. Assim como abre
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Este aceno que vem a nós vai para fora de nós e é desde a fonte
de onde repentinamente nos advém, transforma o que era visão de mundo para
o constante conceber-incorporar, o para sempre conceber-incorporar este Uni-
verso consistente-inconsistente-aconsistente; todo Universo possível consisten-
te-inconsistente-aconsistente; o nada e o ser internos a este Universo consisten-
te-inconsistente-aconsistente; o possível nada e o possível ser externos a este
Universo consistente-inconsistente-aconsistente e a todo Universo possível con-
sistente-inconsistente-aconsistente; o possível nada e o possível ser internos a
todo Universo possível consistente-inconsistente-aconsistente; todo pensamento
possível consistente-inconsistente-aconsistente e toda ação possível consistente-
-inconsistente-aconsistente.
A NOVA METAFÍSICA
43
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Será que estamos falando de uma nova metafísica? Eu diria que, em
parte, sim. A Metafísica surgiu originariamente como estudo do ser enquanto ser, pri-
meiros princípios, ciência suprema ou primeira, contemplação do primeiro motor.
Não vamos nos adentrar numa história da Metafísica aqui, por duas
razões principais: não a conheço suficientemente para tanto; o objetivo deste li-
vro não é fazer história da filosofia e, sim, apontar novas possibilidades de pensa-
mento, linguagem, criação, ontologia, conhecimento, ética, política religião, arte
e existência.
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo é uma nova metafísica porque é um novo represen-
tante do que foi no passado um fundamento. Embora não seja um fundamento,
é o aceno-onipresente-da-onisciência-de-mundos, onipresença na vida humana,
a abertura da e para a linguagem dos antigos e novos sentidos em fusão. Gera a
fragmentação de sentidos da e para a linguagem, criação de sentidos da e para a
44 linguagem e constante abertura de possibilidades de sentido da e para a lingua-
gem. Assim como abre possibilidade de novos referentes virem à tona, os quais
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Deve, todavia, ficar claro que é muito mais que uma metafísica, a
sua concepção-incorporação pela totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pul-
sional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconscien-
te-meditativo-volitivo gera a transformação da visão de mundo. O resultado desta
transformação não é mais uma visão de mundo como uma totalidade finita ou
infinita como já dissemos na seção anterior. Sendo assim, há consequências em
todas as possibilidades do homo sapiens finito e histórico. Metafísica, epistemolo-
gia, lógica, ética, política, cultura, religião, ciência, arte, existência em si daquele
que concebe-incorpora devem ser ultrapassadas para novas possibilidades geran-
do uma complexidade inaudita e, portanto, com consequências sem número e
sem uma possível previsão exata.
I.VII
O PENSAMENTO E ALGUM-TODO-NENHUM-AQUÉM-ENTRE-
ALÉM-SER-NÃO-SER-IMANENTE-TRANSCENDENTAL-A-SI-MESMO
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
de quantidade entre esses conceitos, e ainda os conceitos de imanente e trans-
cendental a si mesmo. Nenhum conteúdo mental deve escapar das possibilidades
do absoluto enquanto máxima totalidade radical. Por isso, criamos a expressão
algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-
-a-si-mesmo para abrir toda possibilidade de verdade e completude possível a
nós – homines sapientes finitos e históricos - e, além disso, para manter em aber-
to o surgimento de novas possibilidades de verdade e completude do absoluto
enquanto máxima totalidade radical. Ora, já dissemos que a visão de mundo de
quem concebe-incorpora algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-
-imanente-transcendental-a-si-mesmo transforma-se em o aceno-onipresente-da-
-onisciência-de-mundos, o qual torna aquele que concebe-incorpora algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo
onipresente à abertura de novas possibilidades de verdade e completude deste
mundo consistente-inconsistente-aconsistente, de todo o mundo possível consis-
tente-inconsistente-aconsistente e do possível nada e do possível ser externo e
interno a este mundo consistente-inconsistente-aconsistente e de todo mundo
consistente-inconsistente-aconsistente.
I.VIII
DA SUPERAÇÃO HUMANA
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
pados no conjunto denominado de espécie homo sapiens finito e histórico (finito
e histórico são propriedades atribuídas a esta espécie por nós mesmos).
Na verdade, ainda é uma falácia que nos resta uma única alternati-
va, restam-nos duas: permanecermos impotentes vítimas do acaso e necessárias
vítimas da morte; ou lutar para atingir nosso sentido geral enquanto classe de
seres especialmente inteligentes: vir-a-ser-Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
O todo da vida como conhecemos corre risco de ser extinta no futu-
ro. Principalmente nós, homo sapiens finito e histórico, tipo de seres que são os
únicos conhecidos com as propriedades necessárias para denominação de vida
48 inteligente. Obviamente, aceitando que há uma possibilidade de infinitos univer-
sos separados pelo nada surgirem a todo instante (embora instante não seja algo
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
que possa ser dito sobre o nascer de um universo, sabido que espaço e tempo são
qualidades deste universo específico no qual vivemos, e visto que não sabemos
sobre outros universos e certamente também não sobre o nada em si) provavel-
mente poderá haver vida inteligente além da nossa. Logo, a dúvida nos obriga
a buscar uma solução para nossa impotência. Se o caminho entre nós e Deus já
era incalculável, imaginemos, então, a Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo. Sendo
assim, seguir o sentido geral do homo sapiens finito e histórico é criar o nosso
sucessor para que este crie o sucessor do sucessor e assim sucessivamente até
que a vida possa vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo ou se extinga tentan-
do vir-a-sê-lo.
O PÓS-HOMEM
49
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
“Os mais preocupados perguntam hoje como fazer para conservar o
homem?” Mas Zaratustra pergunta – e é o primeiro e único a fazê-lo: - “Como fazer
para que o homem seja superado?”30
30
Nietzsche, Fredriech. Assim falava Zaratustra. Pág. 359.
Assim, para que um dia a vida inteligente possa igualar-se a algum-todo-nenhum-
-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo, devemos
tomar as rédeas da evolução, e não mais permitir que ela ocorra naturalmente,
50 mas sim artificialmente como uma re-evolução artificial. O passo que nós, ho-
mens, podemos dar é criar o nosso sucessor: o pós-homem.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
31
“Transhumanism” é um movimento cultural e intelectual internacional com o objetivo de transformar
fundamentalmente a condição humana através do desenvolvimento científico e tecnológico, para aumen-
tar consideravelmente intelectual humano, aprimorar o corpo físico e as capacidades psicológicas. Para
saber mais: http://en.wikipedia.org/wiki/Transhumanism
sucessor do homo sapiens finito e histórico) e, assim, até que nosso objetivo seja
alcançado ou desvaneça junto com a vida inteligente deste universo.
Pode ser levantada a hipótese de que tal ser seria capaz de nos dizi- 51
mar, e estaríamos, então, criando o maior genocídio da história, até mesmo nossa
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
própria extinção. Uma alternativa certamente plausível, entretanto não iremos
igualmente ser aniquilados pelo tempo? E, mais grave do que isso, seguir num
universo que aniquila todo e qualquer ente com que tivemos contato até hoje ao
longo da história. Assim, seguirá eternamente havendo novas possibilidades de
vida e muitas não possibilidades também. Talvez um deserto cósmico se instau-
re após nossa aniquilação natural, quando algum fenômeno maior do que nosso
poderio tecnológico ocorrer, ou talvez apenas o tempo cumpra sua função inexo-
rável de transformação de tudo que é.
I.X
DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Os leitores teístas devem estar com uma aflição a esta altura. Não
seria a grande blasfêmia teleológica querer tornar-se Deus? Deus é a perfeição
aos olhos do homo sapiens finito e histórico, então, mais grave, é querer tornar-se
Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Por exemplo, entre outras propriedades, Deus é o ser que possui a
propriedade da máxima perfeição. Todavia, nós não sabemos se a máxima perfei-
ção lógica concebida por nós é realmente a máxima perfeição ontológica possível.
Ou se limitá-lo a princípios lógicos já não seria uma blasfêmia. Claro que estamos
falando do Deus da tradição filosófica e religiosa ocidental, que foi caracterizado
por aqueles que tentaram fazê-lo como um ser sem contradições de propriedades.
Não sabemos sobre as concepções orientais, talvez haja concepções que aceitem
que Deus possa possuir propriedades contraditórias. Falta-nos conhecimento da
cultura oriental para afirmar ou negar, apenas supomos para fins ilustrativos.
Todavia, sendo na concepção ocidental ou na concepção oriental parece haver
mais razões para não contarmos com ele, pois até hoje não houve uma revelação
sequer do seu ser no mundo. Vivemos sob seu silêncio.
Mais plausível é acreditar que Deus era nosso ponto de apoio mí-
tico. Como disse Heidegger, a concepção mítica do mundo era nossa concessão
de apoio pré-ciência. Além disso, por mais que adquiramos novos conhecimen-
tos, sempre haverá explicações razoáveis para os fenômenos sem necessidade de
qualquer força suprassensível.
Concedendo aos teístas que seja verdade que Deus existe, pergunto:
se Deus nos deu este poder criativo de manipular a nossa própria evolução, será
que não é este o caminho para voltarmos a ele? Por nossos próprios méritos de
modo muito mais árduo, realista e merecedor chegaríamos a ele neste mundo e
não em outro, construindo nossa deidade ao custo de séculos ou milênios de re-e-
54 volução artificial. Ademais, Deus tornou-se irrelevante para as nossas decisões e
concepções sobre o absoluto enquanto máxima totalidade radical. Uma vez que
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
percebemos que nem mesmo Deus seria suficiente para igualar-se a algum-todo-
nenhum-ser-não-ser-aquém-entre-além-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
DEUS-QUE-ULTRAPASSA-A-SI-MESMO
55
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Deus, em qualquer tradição ocidental ou oriental, não seria o ser
mais perfeito, o maior ser que é ou, em último caso, o conceito ideal que reúna
todas as propriedades máximas que um ser poderia possuir? Por exemplo, na
tradição judaico-cristã, Deus é onipotente, onisciente, onipresente. Contudo, esta
entidade não possui matéria, portanto está fora do mundo sensível apesar de es-
tar onipresente no mesmo. O que poderia parecer uma contradição lógica, não
o é. Deus se conecta de fora com cada evento de cada cadeia causal do mundo
simultaneamente. Assim como no lado oriental, onde temos estruturas em que
Deus, mundo e alma humana são uma unidade; como também são uma dualida-
de, na versão cristã em que a hierarquia se constrói por Deus e mundo sensível
subordinado a ele.
Todavia, vimos que para nós que transformamos nossa antiga vi-
são de mundo que poderia ser una ou dualista em algo muito mais complexo
de possibilidades, estas visões de mundo estão ultrapassadas. Para nós, o mun-
do entendido pelo nosso universo na sua totalidade de possibilidades que são
lógicas, ilógicas e alógicas não é equivalente à totalidade de possibilidades. So-
mente o absoluto enquanto máxima totalidade radical é equivalente à totalidade
de possibilidades. Isto inclui não só o nosso universo em seus aspectos lógicos,
ilógicos e alógicos, como todo universo possível em seus aspectos lógicos, ilógi-
56 cos e alógicos, assim como o nada interno ou externo a este universo em seus
aspectos lógicos, ilógicos e alógicos e a todo universo possível em seus aspectos
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
É possível, através da experiência empírica, aceitar a afirmação on-
tológica: todo ser carrega a potencialidade de não ser. Estamos interessados no
conceito de ser da Ontologia. Para tanto, utilizaremos duas concepções de ser32. Na
primeira, como o que está presente na experiência de vida do homo sapiens finito e
histórico pelo menos em algum ponto no espaço e no tempo no qual viveu. São algu-
mas relações de sua compreensão de si: como um, com a multiplicidade de outros,
nesse todo ordenado que chama de mundo. Na segunda concepção, envolve toda e
qualquer coisa, assim como todo e qualquer pensamento atualizados neste universo,
em todo universo possível, ou no ser que possa haver fora de todo universo possível.
O não ser, neste caso, tem o significado determinado como aquilo que não existe,
ou o nada. Estamos a par de todas as controvérsias sobre o não ser de modo geral;
todavia, enquanto o nada, ele é o polo oposto desta relação binária e será dito por
nós, na primeira concepção, como o que não está presente na experiência de vida do
homo sapiens finito e histórico, pelo menos em algum ponto no espaço e no tempo
no qual viveu. O que não é alguma relação de sua compreensão de si: como um, com
a multiplicidade de outros, nesse todo ordenado que chama de mundo. Na segunda
concepção, não é uma coisa e não é um pensamento atualizados neste universo, em
todo universo possível, ou no ser que possa haver fora de todo universo possível.
32
Falaremos mais das concepções ontológicas do ser na seção II.XII A questão do ser versus algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
lado dos limites de si”. Se aceitarmos que o não ser carrega potencialidade para
ser, isso significa que de todo não ser, além dos limites de cada universo possível,
poderá nascer um novo universo, implicando uma possibilidade de infinitos uni-
58 versos surgirem de desagregações de não ser. Não ser é sem espaço e tempo. Não
é nem infinito nem finito, mas é capaz de trazer à tona infinitas possibilidades de
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Por outro lado, as hipóteses que acabamos de ver estão dentro das
possibilidades da Física e da Filosofia tradicionais, ou melhor, da Física e da Me-
tafísica tradicionais. A compreensão exclusivamente racional do mundo nos obri-
gou a reduzir as nossas experiências empíricas, a própria realidade do mundo, as
possibilidades dualísticas lógicas, como: ser e não ser, verdade e falsidade, bem
33
Feynman’s double-slit experiment, este é o nome original do experimento. É possível encontrar mui-
to material na internet sobre o assunto, como no link: <http://physicsworld.com/cws/article/news/2013/
mar/14/feynmans-double-slit-experiment-gets-a-makeover>.
e mal, belo e feio. Com a concepção-incorporação de algum-todo-nenhum-aquém-
-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo atingida pela to-
talidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-
-imaginativo-místico-consciente-inconsciente-meditativo-volitivo, há a expansão 59
dessa dualidade, pois nós explodimos e implodimos os conceitos mais gerais da
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
linguagem ser e não ser. Assim, nós fragmentamos os sentidos existentes da e
para a linguagem, criamos novos sentidos da e para a linguagem e, doravante,
manteremos a possibilidade de criação de novos sentidos da e para a linguagem
para sempre em abertura. Assim como abrimos possibilidade de novos referentes
virem à tona, os quais antes jaziam velados.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
vividas diariamente podem permitir uma associação mental entre ser e não ser,
a ponto de ambos possuírem uma possibilidade de relação causal, enquanto que
ser formal, isto é, existência sem matéria nunca pode ser experimentada de forma
alguma, pois sua própria definição exige estar fora do mundo.
Muito mais perto do papel de Deus como o puro ser formal está a hipó-
tese do ser enquanto campo energético fora dos possíveis universos. Inclusive, se al-
gum dia conseguirmos descobrir a existência de ser fora dos universos possíveis, este
fará uma grande justiça às tradições aristótélica, cristã e, até mesmo, algumas versões
orientais de Deus que se assemelham muito à noção de primeiro motor aristotélica.
34
Essência é o conceito da filosofia antiga que serve para determinarmos aquilo que forma a identidade
de um ser em particular ou de uma classe de seres tal como “homem”. Não podemos extrair essência de
objetos fabricados por nós, por exemplo, “caneta” não possui essência. Tipo entendemos como aquilo que
dá a classe de uma determinada coisa contemporaneamente para a filosofia analítica. Pode ser atribuído a
objetos fabricados por nós, como, por exemplo, “caneta”.
que abre o maior número de possibilidades de verdade e completude do absoluto
enquanto máxima totalidade radical. O que significa que, se Deus na tradição
ocidental é equivalente ao não ser enquanto o nada, ou o ser enquanto extra mul-
62 tiverso, então é apenas parte do absoluto e não equivalente a ele. Já em algumas
tradições orientais (a despeito do nosso parco conhecimento das mesmas, já ad-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
I.XIV
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
resposta ou caminho que abre infinitas novas possibilidades de verdade e comple-
tude a pergunta “O que é o absoluto?”. Pois, como já dito, a verdade absoluta e a
completude absoluta do absoluto enquanto máxima totalidade radical só pode ser
unidade indivisível. Qualquer divisão perde conexões tornando tal recorte parcial-
mente verdadeiro, parcialmente falso e incompleto em relação ao absoluto enquan-
to máxima totalidade radical. Todas as descrições da realidade, sejam exteriores, ou
sejam sobre estados mentais, são simplificações da complexidade que nos escapa.
Poderia citar uma coisa bastante sabida: a cor vermelha não está na
bola, é o resultado da interação da luz com o ente bola. Isso seria, no entanto, tam-
bém uma simplificação da bola vermelha determinada por axiomas da física. Esta,
por sua vez, reduz a realidade, a fim de servir suas previsões e construções úteis, a
propriedades quantificáveis. Portanto, a bola já é sempre muito mais do que uma
bola vermelha, seja do ponto de vista empírico da sensibilidade de quem a vê, ou
seja do ponto de vista científico que analisa apenas o ser enquanto este aspecto.
de igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo. Não conhecemos tal ser, e nem mesmo nosso con-
ceito ideal de ser (Deus) poderia igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Pois, para nós, apenas
Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo poderia igualar-se ao absoluto enquanto máxi-
ma totalidade radical. O homo sapiens finito e histórico poderá continuar dizen-
do que a proposição é verdadeira sic et simpliciter. Para nós, contudo, ela será
parcialmente verdadeira, parcialmente falsa e incompleta em relação ao abso-
luto enquanto máxima totalidade radical. Isso não nos impede de proferir fra-
ses normalmente como aqueles que não conceberam-incorporaram algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo,
pois, como já dissemos, não negamos a utilidade dessa forma de valoração de
verdade, apenas negamos parcialmente sua verdade em relação ao absoluto en-
quanto máxima totalidade radical.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
maneira como abre possibilidade de novos referentes virem à tona, os quais antes
jaziam velados. Numa expansão inaudita das possibilidades da e para a linguagem,
aquele que concebe-incorpora terá a onipresença da imanência e transcendência
da finitude, infinitude e afinitude do absoluto enquanto máxima totalidade radical.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
será por meio de descrições particulares parcialmente verdadeiras, parcialmente
falsas e incompletas de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-ima-
nente-transcendental-a-si-mesmo. Neste caso, não limitaremos o conhecimento
a descrições, as incorporações-concepções do absoluto enquanto máxima tota-
lidade radical podem se dar sem uma descrição correspondente, pois são parti-
culares de cada indivíduo homo sapiens finito e histórico. Elas se dão por meio
totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instinti-
vo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente-meditativo-volitivo.
Por outro lado, a identificação absoluta com uma única religião tor-
na o homo sapiens finito e histórico ainda muito mais finito e histórico, pois o
cega diante de todas as outras religiões e formas de conhecimento institucionali-
zadas. A arte é mais livre das formas institucionalizadas de incorporar-conceber
algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-
-a-si-mesmo. Levaremos em conta o artista de gênio, isto é, o capaz de uma obra
original com poder de trazer novas descrições do absoluto enquanto máxima to-
talidade radical. Deixaremos de lado o artista clichê.
A filosofia nasceu para ser a mãe das ciências, para tratar dos temas ra-
cionais mais importantes da razão: metafísica, teoria do conhecimento, ética, política,
lógica, estética, poderiam ser ditas como as principais disciplinas historicamente da
filosofia. Embora sempre calcada na razão, demonstrou-se incapaz de produzir certe-
zas, o grande sonho dos filósofos dogmáticos. Isto é, os que acreditam numa verdade
objetiva e que são os componentes da principal tradição filosófica de Sócrates, Platão
e Aristóteles a Frege, Russell, Wittgenstein e os analíticos contemporâneos.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
silar e obscuro do projeto de desvelamento da verdade.
terminação exata da ideia mística de totalidade que carregava no seu ser. Nasceu
ignorante quanto às principais perguntas; mesmo que fiel a alguma explicação reli-
giosa, morreu com dúvidas quanto a cada uma delas. Portanto, dentro de nós, sempre
houve o desejo velado, inconsciente, de finalmente possuir a revelação do mistério, o
que só pode ser traduzido numa ação ainda muito menor em relação à tal impotência:
criar nosso sucessor, e este, o seu sucessor, para que haja ainda uma esperança de que
a vida inteligente chegue a vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente e outras forças
ou formas de ser que possam ser atualizadas mesmo desconhecidas algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
Diante da transformação da visão de mundo em o aceno-onipresente-da-onis-
ciência-de-mundos, tanto a consciência de limite quanto de ultrapassamento de
si mesmo deverão tornar-se onipresente no nosso ser. Saberemos igualmente que
poderemos, no máximo, criar nosso próprio sucessor nesta busca de verdade e
completude. Busca incessante de igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
Há quem julgue não fazer qualquer sentido falar sobre conceitos tão
gerais. É possível defender que o ser é um conceito vazio, não agrega nada perten-
cer ao conjunto lógico do ser. A não ser aquilo que já está dado num ente quando
estamos diante dele: estar-aí-no-mundo. O não ser é ainda mais complicado; al-
guns dizem que não se pode falar diretamente sobre ele, pois enquanto conceito
deduzido da negação do ser, não tem propriedades.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
das possibilidades que eram, até então, binárias. Ou, então, predicávamos ser ou
predicávamos não ser de algo. No máximo, havia a indeterminação entre esses
dois conceitos na tradição filosófica. Nós, desde que incorporamos-concebemos
algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-
-a-si-mesmo, percebemos que são reduções da experiência do absoluto enquanto
máxima totalidade radical transformar todos os seus movimentos apenas em va-
riações de ser e não ser, ou quiçá indeterminação entre esses dois conceitos.
Ser versus não ser, verdade versus falsidade, certo versus errado, belo
versus feio tomam finalmente seu lugar de simplificadores do absoluto enquanto
máxima totalidade radical, recortes que fizemos para adequá-lo à compreensão
do intelecto humano.
I.XVII
SER-IMANENTE-TRANSCENDENTAL-A-SI-MESMO
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Objetivo é descrever na linguagem uma experiência que, somente
sendo reduzida em riqueza existencial, poderá simbolizar algo incomensurável.
É a experiência de incorporação-concepção de algum-todo-nenhum-aquém-en-
tre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo pela totalidade-do-
nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-
místico-consciente-inconsciente e outras forças ou formas de ser que possam ser
criadas ou descobertas no homo sapiens finito e histórico. Esta experiência não
pode ser descrita na linguagem sem uma drástica redução em relação a incorpo-
ração-concepção em si do absoluto enquanto máxima totalidade radical.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
I.XVIII
Ao longo deste livro, para um leitor passivo, talvez ainda não tenha
ficado claro o sentido geral da vida inteligente, e consequentemente do seu sub-
conjunto chamado de humanidade.
Elaboramos, nas seções anteriores, as limitações cognitivas huma-
nas, não apenas racionais, mas da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pul-
sional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconscien-
78 te-meditativo-volitivo. Incorporamos-concebemos nossa resposta à pergunta “o
que é absoluto?” enquanto máxima totalidade radical, passamos a ter presente o
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Além disso, são limitadas pela lógica, enquanto o absoluto como máxima
totalidade radical é lógico-ilógico-alógico. Concluímos que a verdade absoluta e a com-
pletude absoluta dependem da existência de uma entidade que não seja apenas parte,
mas a qual seja capaz de igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Uma entidade que deve superar Deus. No
entanto, não temos nenhum conceito que supere Deus, então criamos Deus-que-ultra-
passa-a-si-mesmo para designar tal entidade. Nós também sabemos que um ser assim,
ou pelo menos o mais próximo que conseguimos imaginar em nossa breve história da
humanidade, jamais poderia ser criado diretamente por nós ou pelo pós-homem. Ele terá
que criar sua respectiva superação e, assim, sucessivamente até que a vida inteligente
possa igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-trans-
cendental-a-si-mesmo ou extinguir-se por causas naturais ou artificiais. Na nossa expe-
riência empírica, jamais tivemos contato com algum ente que não fosse aniquilado. Isto
é, na pior das hipóteses, a existência segue como sempre foi a nossa percepção.
Este é o sentido geral da vida inteligente: vir-a-ser Deus-que-ultra-
passa-a-si-mesmo, a máxima ambição nascida da incorporação-concepção de
algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-
-a-si-mesmo. Tudo bem, pois um homem igualmente finito e histórico do meu 79
tempo poderia perguntar: “afinal, o que nós homens contemporâneos e normais
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
ganharemos com isso?” Responderíamos, eu e o leitor atento, que simplesmente
igualar-se ao absoluto enquanto máxima totalidade radical. Isso significa ultra-
passar a onisciência, a onipotência e a onipresença do que concebíamos como
conceito ideal. Ele ainda argumentaria, “mas eu vou morrer em breve, em 20 ou
30 anos, estarei fora do mundo. Se não houver um Deus, não houver alma, ou
vida após a morte de qualquer forma eu estou fora para sempre da existência.”
I.XVIII.I
A INTENSIDADE
Intenso: que se manifesta ou faz sentir com força, com vigor, com
abundância. Ativo, agudo, enérgico, extraordinário, forte, poderoso, profundo,
veemente, vigoroso, violento, vivo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Quanto mais sábios, mais poder nos será
dado, mais possibilidades de gozo e compreensão.
82
Na verdade, a busca por intensidade é a busca também por igua-
lar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcen-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
nal, mas apenas Deus-que-ultrapassa-a-si mesmo.
84
Uma vida intercalada de intensidade e descanso, crivada de expe-
riências novas, simultâneas e sucessivas, julgadas por meio da grande moderação
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo já
estarão sempre individualmente, ou enquanto classe, contribuindo para o vir-a-
ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo. Cabe a cada um de nós indivíduos inteli-
gentes que incorporamos-concebemos algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo decidir o quanto dedicaremos
ao sentido individual ou ao sentido geral da vida inteligente.
I.XIX
VERDADE E COMPLETUDE
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
cundante e o fenômeno são ignoradas quase que completamente, e as relações
entre o ambiente circundante, o fenômeno e o absoluto enquanto máxima totali-
dade radical são completamente desconhecidas, pelo menos até a incorporação-
concepção de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo. Depois, estaremos constantemente abertos a novas
possibilidades de verdade e completude que podem surgir em toda experiência.
I.XX
35
O prefixo “a” de (a)finito tem o sentido de negação. Afinito é aquilo que não tem extensão nenhuma, nem
determinada nem indeterminada.
I.XXI
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Será o pensamento capaz de ser mais imaginativo do que o absoluto
enquanto máxima totalidade radical na qual se insere o ser pensante?
Não parece possível, é por isso que toda proposição é parcialmente ver-
dadeira, parcialmente falsa e incompleta em relação ao absoluto enquanto máxima
totalidade radical. Todas as combinações de representações que formam proposições
são formas de separar ou agregar as possibilidades de algum-todo-nenhum-aquém-
-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Portanto, jamais se-
rão descrições absolutamente verdadeiras, absolutamente falsas e absolutamente
completas do absoluto enquanto máxima totalidade radical. Elas são parcialmente
falsas, pois envolvem um sem número de imprecisões que não são consideradas.
Se penso em algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-
-imanente-transcendental-a-si-mesmo, é obviamente possível pensar no absoluto
enquanto máxima totalidade radical como algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Entretanto, ao mesmo tempo,
não é totalmente compreensível para minha razão, por isso dizemos que há sus-
pensão lógica, ou epoché, sob certos aspectos. Ainda que, com a totalidade-do-meu-
ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-
consciente-inconsciente, eu seja capaz de incorporar-conceber essa expressão sem
a entender completamente. É como uma passagem para ultrapassar a mim mesmo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Pensador – Bom, o livro começa com uma pergunta. A pergunta mais
geral e, portanto, mais primeira de todas. É um passo atrás das per-
guntas historicamente primeiras sobre o ser. É a pergunta sobre o ab-
soluto enquanto máxima totalidade radical. Tão geral que nada pode
lhe escapar. Numa metáfora reducionista, como nenhuma matéria
pode escapar a gravidade do buraco negro. A resposta absolutamente
verdadeira e absolutamente completa a essa pergunta infelizmente
não é acessível a seres finitos e históricos, tais quais somos nós e
qualquer outro ser que possa haver com inteligência que já tivemos
contato empírico. Então, nosso trabalho é apenas apontar o caminho
que possa ser mais rico e capaz de maior abertura de possibilidades
de verdade e completude em relação ao nosso desígnio. Desígnio este
que é responder de modo absolutamente verdadeiro e absolutamen-
te completo a pergunta mais geral de todas. Este caminho provisório
visa ultrapassar a totalidade daquilo que somos através da própria
totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensí-
vel-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente.
Psicanalista – algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-transcendental-a-si-mesmo?
Psicanalista – É isso.
Psicanalista – Não saberia lhe dar referências agora. Mas não, Ed- 93
gar Morin tem um método que respeita certas regras tradicionais.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Pensador – Sim, não conheço bem a obra dele. Mas, pelo pouco
que vi, me parece que ele ainda está no âmbito da lógica clássica,
enquanto nós queremos uma abertura para além da questão do ser.
Buscamos responder a pergunta “o que é o absoluto?” Ou, mais de-
terminadamente, “o que é o absoluto enquanto máxima totalidade
radical?” Nós queremos descrevê-lo em todas as suas possibilidades,
sobre todos os seus aspectos, tanto lógicos, quanto ilógicos e alógicos.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
II.I
LIVRE ARBÍTRIO
21
Esta concepção está em Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Além do Bem do Mal: Prelúdio a uma filosofia do
futuro. Companhia das Letras. São Paulo 2005. Parágrafo 260. Pág. 155
22
Cabe lembrar que universos possíveis ontologicamente, na nossa concepção, devem possuir aspectos lógicos,
ilógicos e alógicos. Enquanto universos possíveis são compreendidos pela tradição como universos possíveis
logicamente e não ontologicamente. Embora haja defensores do chamado realismo modal, essa escola acredita
que todo universo possível logicamente é um universo existente ontologicamente. Nós não ratificamos essa tese,
pois quem concebe-incorpora algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-
si-mesmo acredita que todo o universo possível ontologicamente é lógico-ilógico-alógico. Portanto, universos
possíveis logicamente existem enquanto pensamentos, não enquanto entidades materiais na realidade.
outros que supomos semelhantes a nós, ou de nós com o conjunto de entes que
compreendemos como mundo, será limitado às nossas possibilidades, enquanto
aquilo que somos e não enquanto ao mundo que julgamos compreender. Agora,
se não somos capazes de compreender nem mesmo o universo do qual somos par- 99
te de modo absolutamente verdadeiro e absolutamente completo, muito menos
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
ainda seríamos capazes de compreender o absoluto enquanto máxima totalidade
radical de modo absolutamente verdadeiro e absolutamente completo.
ou, pelo menos, esta é uma proposição com alta proporcionalidade de verdade e
completude dentro das proporções de parcialidade de verdade, parcialidade de
falsidade e completude que qualquer proposição pode ter em relação a algum-to-
do-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
Temos tudo para agarrar-nos aos entes sempre dados do mundo, de sua sempre
dada transformação e aniquilação, e para não crer no não dado, isto é, Deus, alma,
salvação da alma, nem que podemos conhecer absolutamente a nós mesmos ou a
realidade. Ergo, nasce aí uma liberdade tal que simplesmente se ultrapassa a ques-
tão do livre arbítrio. A liberdade já é sempre um fardo nascido do mistério.
II.II
AUTOANÁLISE
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
para vida inteligente que, em sua versão sintética de densidade máxima, tornam-
se equivalentes a viver no sentido de aproximar-se ao máximo, que uma vida
finita e histórica possa permitir, de igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-en-
tre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Sabemos que jamais
atingiremos absolutamente o igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Tanto enquanto con-
junto homo sapiens finito e histórico, quanto enquanto indivíduos constituídos
por uma complexa rede de forças que chamamos totalidade-do-nosso-ser-racio-
nal-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-cons-
ciente-inconsciente-meditativo-volitivo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Da tradição platônica até a tradição analítica dos dias de hoje, o es-
paço lógico é binário enquanto concepção de verdade; dualista enquanto relação
sujeito-objeto, ou, no caso platônico, dualista também é o mundo enquanto sensí-
vel e suprassensível, ou, para Descartes, enquanto corpo e alma; ou monista para
algumas tradições religiosas orientais, nas quais o mundo é dividido em duas for-
ças, yin e yang, forças que se complementam, harmonizam-se e se interpenetram.
Monistas, também, para algumas escolas filosóficas como na pré-socrática de Par-
mênides, em que o ser é uno, indivisível, simples, eterno e imutável. Na contempo-
raneidade, a fenomenologia, na qual o conhecimento originário dissolve a relação
sujeito-objeto, levado à radicalidade por Heidegger, em que ser-no-mundo já é sem-
pre ser-com-outro, e a manualidade da relação com os entes do homo sapiens finito
e histórico, chamado por Heidegger de Dasein -traduzível por ser-aí -, se dá antes da
formação de proposições capazes de possuírem um valor de verdade.
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo é compreensível sob alguns aspectos, embora in-
compreensível sob outros aspectos. Tanto a incompreensão da complexidade da
máxima totalidade radical, agora concebida-incorporada, quanto a compreensão,
devem nos aproximar dos sentidos geral e individual da vida inteligente determi-
nados na seção I.XVIII. SENTIDO DA VIDA INTELIGENTE e nas suas subseções.
104
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
II.IV
EXPERIÊNCIAS
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Definiremos, finalmente, experiência: no todo daquilo que chama-
mos vida, entre nascimento (não excluímos a possibilidade de haver experiências
na vida pós-concepção e pré-nascimento) e morte, a totalidade-do-nosso-ser-ra-
cional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-
consciente-inconsciente-meditativo-volitivo foi, é e será crivada de sucessivos e
simultâneos contatos com os entes já sempre dados no mundo, com outros in-
divíduos homo sapiens finito e histórico, com outros pensamentos que não os
produzidos em nós mesmos, mas recebidos externamente e experiências mentais
no sentido de experiências internas ao nosso ser.
ALTERADORES DA TOTALIDADE-DE-NOSSO-SER-RACIONAL-
INTUITIVO-PULSIONAL-SENSITIVO-SENSÍVEL-INSTINTIVO-
IMAGINATIVO-MÍSTICO-CONSCIENTE-INCONSCIENTE
107
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Esta subseção é dedicada às experiências que naturalmente ou artifi-
cialmente alterem o modo de ser da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pul-
sional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente.
Um ser humano finito e histórico, durante as contingências de sua vida, experi-
mentará incontáveis diferentes estados de seu ser, contudo, através de indutores
naturais e artificiais, poderá experimentar alguns estados que não se atinge pela
experiência sem uso desses indutores. Assim, poderíamos dizer que podemos expe-
rimentar induções de alteração da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pul-
sional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente
de forma artificial através das drogas, substâncias que possuem propriedades que
alteram nosso ser por determinando lapso temporal; e natural que se dá através
dos mais diversos métodos de meditação. Alguns adeptos da meditação insistem
em que ela seria suficiente para revelar o absoluto independente de outras formas.
Todavia, é uma experiência não passível de descrição através da linguagem.
II.IV.II
HOMENS DE GÊNIO
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
místico-consciente-inconsciente-meditativo-volitivo. São novas possibilidades de
abertura de verdade e completude, as quais podem aumentar a proporcionalidade
de verdade e completude de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-
-imanente-transcendental-a-si-mesmo, as quais nos estariam vedadas se não co-
nhecessemos aquele escrito, aquela teoria, tal revelação, certa obra de arte, etc.
II.IV.III
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
gerais da linguagem ser e não ser. Doravante contamos com os sentidos já exis-
tentes da e para a linguagem, com a fragmentação desses sentidos, com a criação
de novos sentidos da e para a linguagem, e com a constante abertura de possi-
bilidades de criação de novos sentidos da e para a linguagem. Assim como abre
possibilidade de novos referentes virem à tona, os quais antes jaziam velados. Te-
remos formas inauditas de descrição disponíveis para cada experiência sucessiva
ou simultânea que vivenciarmos.
II.V
CIÊNCIA
guns problemas graves: primeiro, a ciência trabalha com universais, isto é, com gru-
pos de indivíduos que foram definidos como portadores de propriedades, as quais
definem a identidade enquanto tipo de indivíduos, ou, no passado, diriam os filó-
sofos: são indivíduos que possuem a mesma essência. Não vamos nos adentrar nas
discussões nominalistas ou realistas sobre o conceito de universal, não precisamos
destas distinções para o ponto em questão. O que nos importa é a abstração que é
feita para agrupar sob um mesmo nome estes indivíduos, pois é assim que nascem
conceitos, como o de homem, definido como animal racional. A questão é que não
existe o homem no mundo, ele é apenas um conceito abstrato para identificar e
diferenciar os animais racionais dos outros entes do mundo, onde existem apenas
indivíduos totalmente únicos, cada qual com uma identidade inconfundível.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Além de estudar o objeto apenas sob certo aspecto, há outros que es-
capam aos métodos científicos. A física, por exemplo, estuda fenômenos através
de suas propriedades quantitativas, diferenciando um tipo de som de outro por
características como frequência e comprimento de onda. Isto é, apenas proprie-
dades quantitativas, deixando em aberto as propriedades qualitativas.
II.VI
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
de Platão, e pouco mais de 21 séculos após a aparição da personagem Jesus Cristo,
ainda continuamos seguindo este velho padrão de exploração do homem pelo
homem. Seja nas sociedades primitivas, na antiguidade, no feudalismo, no mer-
cantilismo, no capitalismo ou no comunismo, há sempre a luta por poder, e a elite
que domina, em qualquer sistema, age em prol de seus interesses, explorando a
grande massa de pobres ou remediados.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
to do ser, perda do que nos é mais fundamental, ou mais originário. A mesma tec-
nologia também traz vantagens, novas possibilidades surgem. Por exemplo, dentro
de algum tempo, poderemos ter máquinas capazes de fazer todo o trabalho manual.
Neste possível futuro, precisaremos apenas fazer o trabalho intelectual, e, mesmo
assim, alguns destes trabalhos poderiam ser feitos por máquinas também.
finito e afinito. Nossas crenças agora são parciais verdades, parciais falsidades e
sempre incompletas em relação ao absoluto enquanto máxima totalidade radical.
II.VII
FINITUDE
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
de ser que somos e não são propriedades reais objetivas.
geral chamado de seres vivos. Ser finito enquanto ser vivo significa não apenas
limitado espacialmente e temporalmente, mas que nossa finitude é a morte. Ou
seja, existimos hoje e não existiremos em um tempo ainda indeterminado, mas
certo no futuro. Não há pós-vida garantida.
Para ilustrar esta atitude de incerteza, podemos citar uma das pos-
síveis interpretações do eterno retorno de Nietzsche, que, a despeito do conteúdo
metafísico da infinitude do espaço e tempo, foca no conteúdo existencial. O que
constitui um sentido individual para vida criado pelo filósofo do martelo: permi-
tir, incentivar e hierarquizar as forças ativas e reativas – dionisíacas e apolíneas
- a ponto de ter uma vontade de potência para vida tal que aceitemos viver a mes-
ma vida eternamente. Isto é, fazer da nossa vida a nossa obra de arte, pois é tudo
que temos na temporalidade da sucessão do tempo. Assim como na eternidade,
não podemos mais contar com qualquer mundo supra-sensível, a que se apega-
ram nossos antepassados.
Mas nós criamos um sentido geral para vida inteligente, por quê?
Nós não estamos negando nosso sentido geral, apenas refletimos que não temos
controle sobre o seu fim. Criar o pós-homem para que este crie o pós-pós-homem
e, assim, sucessivamente (quiçá em algum momento simultaneamente) para que
a vida inteligente venha a ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo é um sentido que
depende de nós apenas na primeira etapa (criar o pós-homem). Igualar-se a al-
gum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a- 121
si-mesmo é o máximo sentido geral para vida inteligente possível, todavia não
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
depende de nós após a primeira etapa, e nada garante que a vida não seja aniqui-
lada antes de chegar a tal estágio. Ou, ainda, nada garante que este estágio seja
atingível. Ou, pior ainda, nada garante que teremos sucesso em criar um sucessor
que expanda a totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-
sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente, cumprindo, as-
sim, a primeira etapa para que nosso sucessor possa criar o seu próprio sucessor
cumprindo a próxima etapa, etc.
Neste caso, parece que uma das ideias centrais sugeridas neste livro:
“toda ação humana foi, é, e será realizada com o fim inconsciente ou consciente
de vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo” faz um sentido histórico compatível
com a tradição. Embora estejamos sugerindo que a vida inteligente efetivamente
venha a ser, através de ações neste mundo, não apenas o primeiro motor, caso hou-
vesse um, mas o próprio absoluto enquanto máxima totalidade radical, criando a
re-evolução artificial. Os homens criando o pós-homem, e este, seus sucessores, até
que a vida inteligente iguale-se algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo ou deixe de existir. Se houver sucesso,
será independente da existência prévia de qualquer Deus e exclusivamente pelos
méritos da vida inteligente efetivamente existente no mundo sensível.
CRENÇAS
123
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Crença sobre o mundo, consideraremos toda opinião humana ge-
rada pela convicção em sua verdade, seja injustificadamente ou racionalmente
justificada. É um ato de crer numa determinada proposição como correta repre-
sentação da realidade. No âmbito da tradição de Platão à analítica contempo-
rânea, segue-se esta definição, apenas filosofias alternativas existencialistas ou
fenomenológicas lidam com outro enfoque em relação as crenças sobre o mundo.
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo é o resultado destas explosão e implosão dos con-
ceitos ser e não ser, os conceitos mais gerais da linguagem. Não visa ser uma
crença diretamente, embora traga em si esta possibilidade. É a própria expansão
da linguagem para além da bipolaridade, para que possa se aproximar mais do
absoluto enquanto máxima totalidade radical. Expansão da linguagem para além
de qualquer conceito, para além da própria capacidade analítica de criá-los, pois
intencionalmente desejamos abrir a linguagem para os aspectos ilógicos e alógi-
cos do absoluto enquanto máxima totalidade radical, além de manter os aspectos
lógicos da linguagem, obviamente. Este é um caminho em construção, pois so- 125
mos seres finitos que pensam e lidam com entes na sucessão temporal. Portanto,
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
lidamos com uma quantidade finita de entes no mundo, no tempo, e pensamos
em imagens ou proposições singularmente e sequencialmente no tempo.
O incorporar-conceber algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-
-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo trará novas crenças, e é através
delas que avançamos para novas formas de viver. Neste renovar constante de
crenças, a vida inteligente poderá ter como futuro possível igualar-se algum-to-
do-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mes-
mo. As novas crenças são consequência do ultrapassamento de nós mesmos, e
ele se dá de várias formas que trazem em si a possibilidade de virem a ser novas
crenças: com a transformação da nossa visão de mundo no aceno-onipresente-
da-onisciência-de-mundos; com a explosão e a implosão dos conceitos mais ge-
rais da linguagem ser e não ser, nos permitindo incorporar-conceber algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo;
com a mudança na defesa de nossas crenças pessoais pela defesa da grande mo-
deração tolerante. A finitude enquanto morte pelo pós-homem. A morte de Deus
pelo vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
Note-se, não queremos negar a razão, pois seria loucura, mas apenas
ultrapassá-la, enquanto a fundimos com a totalidade-do-nosso-ser-racional-intuiti- 127
vo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-incons-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
ciente. Isso não nos impedirá de elaborar um argumento válido no contexto ade-
quado, poiso absoluto enquanto máxima totalidade radical é também lógico. Além
disso, aceitar crenças particulares sem uma avaliação racional seria um retrocesso
à era mítica. Não queremos isso, utilizamos as regras do bem pensar até quando
isto é possível num caminho que, por definição, deve, sob certos aspectos, romper
com estas regras, pois nosso caminho é lógico, ilógico e alógico. Algum-todo-ne-
nhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo é um
caminho de fragmentação, criação e constante abertura para a criação de sentidos
da e para a linguagem; de criação de sentidos para a vida inteligente (o que deno-
minamos de sentido individual e sentido geral da vida inteligente); e de mistério, se
tentarmos compreendê-lo apenas através da razão, fracassaremos. Devemos estar
no limiar entre lógica e suspensão lógica, pois é este limiar que nos apresenta novas
possibilidades inauditas. Este limiar nos apresenta nosso próprio ultrapassamento.
II.VIII.I
CRENÇAS PRÁTICAS
pelo prazer, pela dor, ou para provar nossa liberdade, como diria Dostoievski.
A LINGUAGEM
129
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
“Therefore it must be itself that thought thinks (since it is the most
excellent of things), and its thinking is a thinking on thinking.”(1074b1 33-35)23
Aristotle. The Complete Works of Aristotle. Volume II (Bollingen series; 71:2). Princeton University Press.
23
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo aponta os limites da linguagem, ao mesmo tempo, ele
ultrapassa estes limites. É, na verdade, a expressão do ultrapassamento de nós mes-
mos em todos os possíveis aspectos: lógicos, epistemológicos, ontológicos, linguís-
ticos, éticos, políticos, estéticos, científicos, artísticos, místicos e existenciais.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
chamado Samadhi pelos orientais, experiências divinas pelos ocidentais, ou de
modo geral experiências místicas. Todavia, salvo as diferenças que possa haver,
devido à visão de mundo de cada indivíduo que vivenciou a experiência, nós,
pela primeira vez, estamos expressando linguisticamente o absoluto enquanto
máxima totalidade radical. É o fim do silêncio.
que nasceram desse novo lidar com a linguagem brotarão como flores na primavera.
Sem artificialidade.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Linguagem é reconstruir o absoluto tal qual ele já é, mas sempre com
defeitos, pois é a nossa limitação enquanto homo sapiens finito e histórico. Por ser-
mos finitos, não podemos reconstruir através da linguagem o absoluto de modo ab-
solutamente verdadeiro e absolutamente completo, já que algum-todo-nenhum-a-
quém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo é imanente e
transcendental ao finito, infinito e afinito. Porém, ser capaz de reconstruí-lo através
da linguagem é a chave da possibilidade de vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mes-
mo, mesmo sendo esta reconstrução parcialmente verdadeira, parcialmente falsa e
incompleta, por que é através do conhecimento que teremos a possibilidade de dar
o primeiro passo para vida inteligente vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
Do conhecimento possibilitado pela linguagem poderemos criar o pós-homem.
II.X
EXISTÊNCIA
Assim, surgiu o cerne do que seria elaborado por Frege, que acredi-
tava em duas possibilidades de predicação: uma de primeira ordem, isto é, das
propriedades que formam os conceitos; e outra de segundo, das propriedades de
propriedades. Frege acreditava que a existência era uma predicação de segunda
ordem, na qual se determinam a existência dos conceitos na realidade e não den-
tro de sua própria definição. A existência é a atribuição de um número um ao con-
ceito, ela determina que o conjunto formado por este conceito não é vazio. Logo,
não pode fazer parte das notas características deste conceito. Isto é, a existência
não pode fazer parte das propriedades definidoras de um conceito, pode apenas
ser uma propriedade externa às propriedades que definem um conceito. Portanto,
só pode ser propriedade de propriedades e não propriedade de um conceito.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
cometeu acertos e erros. No que tange a existência, estão surgindo críticas à solu-
ção Fregeana. Colin McGinn, por exemplo, apontou no seu livro Logical Properties
uma série de problemas em tirar da existência a capacidade de ser um predicado
de primeira ordem, assim como torná-la mista. Em determinados casos, ser um
predicado de primeira ordem e, em outros, ser um predicado de segunda ordem.
deração tolerante. Não somos capazes de conceber uma única verdade absoluta so-
bre os conceitos fundamentais. A razão cria sistemas hierárquicos de determinação
da realidade nos quais princípios mais fundamentais determinam a validade de
princípios menos fundamentais. Logo, se desconhecemos conceitos fundamentais,
desconhecemos princípios fundamentais, os quais são hierarquicamente superio-
res nos nossos sistemas racionais de determinação da realidade. O que significa
duas coisas: primeiro, nossa capacidade em relação a desvelar a verdade absoluta
e a completude absoluta do absoluto enquanto máxima totalidade radical é limi-
tada, pois nós descobrimos nossos princípios racionais como incertos alicerces da
realidade; segundo, só nos resta utilizarmos nossa capacidade para criar nossa su-
peração. Aqueles que expandirão as possibilidades de verdade e completude para
as questões fundamentais e para quaisquer questões, para que, de posse destas no-
vas possibilidades de verdade e completude, possam criar o sucessor do sucessor
e assim sucessivamente (ou quiçá, no futuro longínquo, simultaneamente). Nosso
poder, apesar de limitado é ainda o máximo poder com que tivemos contato.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Este igualar-se só é possível a uma entidade que transcenda o conceito de Deus. A
entidade capaz deste igualar-se é Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
II.XI
AMOR
“Procurei o que era a maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma
perversão da vontade desviada da substância suprema — de Vós, ó Deus — e
tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se
levanta com intumescência”24.
24
Agostinho, Santo. Confissões. Coleção Pensadores. 2ed. Abril Cultural. São Paulo. 1980. Pág. 156.
Homo sapiens finito e histórico – “espécie” (não vamos discutir
aqui se espécie é uma arbitrariedade que tomou forma com a confusão gerada
por um conceito central na obra aristotélica: a substância) incapaz de descrever
o absoluto enquanto máxima totalidade radical de modo absolutamente verda- 139
deiro e absolutamente completo, ser finito que é na sucessão do tempo e em um
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
determinado lugar no espaço, pensa no amor através de categorias. Um ser que
pensa por meio de conceitos analíticos. Amor à sabedoria, amor erótico, amor
materno, amor paterno, amor filial, amor aos amigos, amor aos irmãos; amor à
humanidade, aos animais, amor aos seres vivos, amor ao planeta, amor à vida,
amor a Deus, amor ao mundo, amor aos entes, amor ao universo. Embora seja
incapaz de definir o amor de modo unívoco, define então através destas diversas
categorias. De qualquer modo, pode-se dizer que é um sentimento de ligação de
um ente com outro, uma tentativa de re-ligação, de ser-com-o-outro-um-só, de
um ente com entes, de ser-com-outros-um-só. De entes entre entes, ou um ou
uns entes com uma suposta totalidade de entes que é o mundo ou universo de
ser-com-mundo-um-só, ou dos homens com o suposto ser formal ou perfeito que
é Deus, ser-com-ser-supremo-um-só.
25
Heidegger, Martin. Ser e Tempo. 2ed. Vozes. Vozes. Editora Universitária São Francisco. Bragança Pau-
lista.2007.Pág.
corporamos-concebemos o absoluto enquanto máxima totalidade radical na qual
já sempre somos. Abrimos novas possibilidades de fala, temos a abertura de no-
vas possibilidades de amar. A totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsio-
nal-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente 141
criará novas categorias e abrirá possibilidades para o amor transcategorial.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Amor à sabedoria, amor erótico, amor materno, amor paterno, amor
filial, amor aos amigos, amor aos irmãos. Amor à humanidade, aos animais, amor
aos seres vivos, amor ao planeta, amor à vida, amor a Deus, amor ao mundo, amor
aos entes, amor ao universo. Até aqui estávamos no âmbito da antiga visão de
mundo. Nós a transformamos no aceno-onipresente-da-onisciência-de-mundos,
para nós novas possibilidades de amor abrem-se: amor a este universo consis-
tente-inconsistente-aconsistente; amor ao nada e ao ser interno a este universo
consistente-inconsistente-aconsistente; amor a todo possível universo consistente-
-inconsistente-aconsistente; ao possível nada e ao possível ser interno a todo uni-
verso possível consistente-inconsistente-aconsistente, amor ao possível nada e ao
possível ser externos a este universo consistente-inconsistente-aconsistente, amor
ao possível nada e ao possível ser externos a todo universo possível consistente-in-
consistente-aconsistente, amor a todo pensamento possível consistente-inconsis-
tente-aconsistente e a toda a ação possível consistente-inconsistente-aconsistente;
amor ao pós-homem; amor a Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo. Todas essas formas
de amar tradicionais e as novas formas que se abrem com a incorporação-concep-
ção algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcenden-
tal-a-si-mesmo poderão ser na totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsio-
nal-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente
dirigidas simultaneamente ou sucessivamente. Mas somos indivíduos particulares
da “espécie” homo sapiens finito e histórico, não atingimos nem mesmo os ideais
que estão incorporados-concebidos pela totalidade-de-nosso-ser, pois isso seria a
perfeição do que nos é possível. Não a máxima perfeição, mas a perfeição de ser
finito e histórico. Mesmo assim, a perfeição nos é vedada. A nossa constitutiva
imperfeição é, por definição e empiricamente verificada ao longo da existência
individual de todo homo sapiens finito e histórico que vive no presente e viveu no
passado, presumida dos que virão no futuro.
totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instinti-
vo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente, muitas vezes o resultado é uma
ação arbitrária que não visa a realizar os objetivos deliberados.
II.XII
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
teto e Sofista de Platão, o não ser tem sido tão essencial quanto o ser para com-
preensão humana. A questão do ser e a possibilidade de atribuirmos verdade ou
falsidade a uma proposição nasceram simultânea e intimamente relacionadas,
permitindo-nos a criação de uma lógica binária, modo pelo qual a Filosofia e a
Ciência construíram seus discursos. A lógica permite, através de algo inexplica-
do - chamaremos de intuição de modo ilustrativo -, possuir a mais eficiente forma
de universalidade de compreensão ao homo sapiens finito e histórico. Por isso, é
óbvio que os conceitos mais centrais serão a máxima totalidade binária imagi-
nável. Assim, conceituamos e instituímos os primeiros princípios da linguagem
racional, através de propriedades que pudéssemos atribuir a todas as entidades
contidas nos conceitos mais gerais da razão; objetivávamos abarcar a “totalidade”
na qual sempre estivemos inseridos. Totalidade, mas dentro dos limites em repre-
sentar o mundo através de uma linguagem de fundamentação lógica, isto é, divi-
dida em dois campos contraditórios. De um lado do espaço lógico, a verdade, e,
do outro, a falsidade. Assim, instituíram-se os princípios fundamentais da lógica:
princípio de não contradição, algo não pode ser e não ser sob o mesmo aspecto ao
mesmo tempo; princípio de identidade, todo objeto é idêntico a si mesmo; princí-
pio do terceiro excluído, quando duas proposições se opõem contraditoriamente
não podem ambas ser falsas ou verdadeiras. Existem variações nas definições
destes princípios, mas estas são formulações clássicas dos mesmos. Estamos ape-
nas as utilizando como ilustração das consequências de uma lógica binária.
como algo que está presente na experiência de vida de todo homo sapiens finito e
histórico em algum momento entre o nascimento e a morte, é alguma relação de
sua compreensão de si como um com a multiplicidade de outros neste todo orde-
nado que chama de mundo. Na segunda concepção, ser é toda a coisa, toda a ação
e todo pensamento atualizados em algum ponto do espaço e tempo.
Parece que há algo que é mais originário do que o ser e o não ser
enquanto conceitos mais gerais humanos. Tentamos, nesta obra, trazer a nós,
enquanto homo sapiens finitos e históricos, a ideia de que esses conceitos não
compreendem a totalidade de modo radical e máximo. A investigação a respeito
de uma outra pergunta, a qual não envolve esses conceitos explicitamente na sua
formulação, é capaz de abarcar uma generalidade que inclui os conceitos ser, não
ser e ainda outras possibilidades não contidas nesses conceitos mais gerais do
entendimento até então. A pergunta a qual nos referimos é: “o que é o absoluto?”,
compreendido nesta obra como absoluto enquanto máxima totalidade radical.
Obviamente, a investigação de uma pergunta busca gerar uma res-
posta. Ora, se dissemos que a pergunta pelo absoluto enquanto máxima tota-
lidade radical inclui os conceitos de ser e não ser e os ultrapassa, a resposta
que buscamos deve expandir essa concepção de mundo binária. Não por capri- 145
cho, já que a realidade dividida em dois polos opostos é um bom princípio de
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
compreensão universal, ou, quem sabe, a única possível forma de compreen-
são universal do homo sapiens finito e histórico - dúvida insolúvel. Algum-todo-
nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo
incorporado-concebido através da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-
-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-incons-
ciente-meditativo-volitivo permite que estes representantes do ser homo sapiens
finito e histórico possam pela primeira vez expressar na linguagem o absoluto
enquanto máxima totalidade radical. Não como o absoluto é em sua verdade
absoluta e completude absoluta, mas em um novo caminho de complexidade
inaudita, gerado pela explosão e implosão dos conceitos mais gerais ser e não
ser. Descrição que transcende os limites até então binários de descrição proposi-
cional. Assim, vislumbramos o outro lado do limite da linguagem, sem uma com-
preensão sob todos os aspectos, mas ultrapassando a nós mesmos, pois quem
acessa os dois lados de seu próprio limite ultrapassa o seu limite em si mesmo. É
o caminho para o pós-homem, quiçá a sua futura linguagem.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
não está presente na experiência de vida de todo homo sapiens finito e histórico pelo
menos em algum momento entre o nascimento e a morte, o que não é alguma relação
de sua compreensão de si como um com a multiplicidade de outros neste todo ordena-
do que chama de mundo. Na segunda concepção, não é uma coisa, não é uma ação e
nem um pensamento atualizados em algum ponto no espaço e tempo.
A incorporação-concepção de algum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo nos apresenta as possi-
bilidades que possam ser mais sutis que esses dois conceitos no devir das entida-
des que compõem o absoluto. São geradas pela implosão e explosão dos conceitos
mais gerais do entendimento ser e não ser.
Quando a totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sen-
sitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente atinge
uma intensidade inaudita por meio do cultivo dessa totalidade de forças que nos
compõem, incorporamos-concebemos algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Essa incorporação-concepção
altera de várias formas a totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sen-
sitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente. Nossa vi-
são de mundo é transformada no aceno-onipresente-da-onisciência-de-mundos. A
grande moderação tolerante é nosso novo critério em relação às crenças teóricas,
crenças práticas e ações. Nossos novos sentidos geral e individual da vida são ela- 149
borados. Fragmentamos, criamos e mantemos em abertura os sentidos da e para a
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
linguagem. O antigo desejo velado de vir-a-ser Deus torna-se o desejo da totalidade-
do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginati-
vo-místico-consciente-inconsciente de vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
II.XIII
26
McTaggart, John Elis McTaggart. Some Dogmas of Religion. Edward Arnold 41 & 43v Madox Street, Bond
Street. W. Londres.1906. Pág.21.
dos obtiveram sucesso parcial, pois a investigação filosófica sempre se pautou na
razão como instrumental para entender a realidade. Pela sua própria definição, a
razão é algo finito que analisa passo a passo as conexões entre as proposições de
um argumento para verificar sua validade lógica. Método que foge do regresso ao 151
infinito, pois uma cadeia infinita de proposições não pode gerar uma conclusão.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O que não seria problema se o absoluto, enquanto máxima totalidade radical,
fosse finito e fosse possível de separá-lo em objetos ainda menores, capazes de
serem desvelados de modo absolutamente verdadeiro e absolutamente completo.
27
Estas mudanças, assim como outras mudanças radicais, são possíveis graças à explosão e à
implosão dos conceitos mais gerais da linguagem que geram a expressão que designa o abso-
luto enquanto máxima totalidade radical como algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-
-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. O fato de podermos elaborar tal expressão prova a capa-
cidade para além da lógica vigente de nosso pensamento. Sob certos aspectos, somos capazes de pensar
o ilógico e o alógico também. Aliás, já existem lógicos como os de Amsterdam que admitem desconhe-
cer os limites do pensável. Não negando tais limites apenas admitindo sua incapacidade de concebê-los.
Já sabem, todavia, estes vanguardistas da lógica que o princípio de não contradição (o qual veda a possibi-
lidade de duas proposições p e ~p serem verdadeiras ao mesmo tempo) não é o limite do pensável. Isto por
si só abre a possibilidade para que sejamos capazes de uma nova lógica no futuro, quem sabe de alguma
maneira mais próxima da fusão entre lógica, ilógica e alógica.
Depois dessa explicação sobre as razões do surgimento das novas
possibilidades para a filosofia que estamos propondo nesta obra, voltemos ao
tema propriamente dito da seção.
152
Nós, em vista do exposto, incorporamos-concebemos algum-todo-ne-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
nhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo, portanto
somos obrigados a não separar mais alma, corpo, mente e eu, pois o próprio processo
de elaboração dessa expressão para designar o absoluto enquanto máxima totalidade
radical nos leva a fusão da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensi-
tivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente. Para podermos
implodir e explodir os conceitos mais gerais da linguagem ser e não ser, precisamos
nos elevar a uma intensidade tal, que só pode ser gerada pela fusão das forças que nos
compõem. Isto é, pela fusão da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-
sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
homo sapiens finito e histórico, aproximarmo-nos de Deus-que-ultrapassa-a-si-mes-
mo; e tem como fim último da vida inteligente: ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
II. XIII.I
IDENTIDADE PESSOAL
28
A formulação “ser-aí” não está de acordo com a obra citada que prefere a tradução “presença”. Não
concordo com esta definição por isso optei por alterar o termo na citação por “ser-aí”, o qual é largamente
aceito pelos comentadores e na opinião deste autor está mais próximo do termo original “Dasein”.
29
Heidegger, Martin. Ser e Tempo.2ed. Vozes. Vozes. Editora Universitária São Francisco. Bragança Paulis-
ta.2007.Pág. 85-86.
diacrônica, na qual a mudança é visível, o que pode ser resumido como conti-
nuidade qualitativa, continuidade espaço-temporal e a manutenção do que hoje
chamam de sortal. Sortal seria o tipo de coisa no qual um objeto particular é des-
154 crito como pertencente, por exemplo, sortal caneta, o qual representa todas as ca-
netas particulares do mundo. Embora, todos esses critérios sejam questionáveis
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
30
Alguns devem argüir que não existe uma tradição em comum entre Locke e os analíticos. O que posso
concordar sobre certos aspectos. Todavia, o que chamo de tradição é sobre tudo o dogmatismo, que em
essência acredita que as proposições podem revelar verdades objetivas a respeito do mundo ou da realida-
de. Sob este aspecto há uma tradição que possui representantes de Platão aos analíticos contemporâneos.
Contudo, nós somos adeptos da grande moderação tolerante: toda
proposição é parcialmente verdadeira, parcialmente falsa e incompleta em rela-
ção ao absoluto enquanto máxima totalidade radical. Só haveria verdade absoluta
e completude absoluta se um ser fosse capaz de igualar-se algum-todo-nenhum-a- 155
quém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Uma vez que
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
este ser não existe, ou pelo menos qualquer contato com um ser assim nos foi ve-
dado, o máximo que podemos esperar é que a fusão das forças que nos compõem,
atotalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-
-imaginativo-místico-consciente-inconsciente-meditativo-volitivo, seja um critério
que abra o máximo de possibilidades de verdade e completude da identidade pes-
soal em relação ao absoluto enquanto máxima totalidade radical, cônscios de que
nunca será um critério absolutamente verdadeiro e absolutamente completo.
II.XIV
ESTÉTICA
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
Nósqueincorporamos-concebemosalgum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo com intuito de abrir o máxi-
mo de possibilidades de ultrapassarmos a nós mesmos, acreditamos que os filósofos
posteriores a Nietzsche devem ter aprendido o sentido da terra no lugar do sentido
do supra-terreno. O filósofo-artista é o futuro filósofo pós-nietzscheano. Em um certo
sentido, possui o domínio do estético e, em outro, o domínio da razão e da lógica.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
e completude de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo. As experiências estéticas podem ocorrer tanto quando
trazem à tona aquilo que de alguma forma - inconscientemente ou conscientemen-
te - em nós se encontrava, quanto quando revelam aspectos ainda totalmente des-
conhecidos por nós. Atingem o sujeito em um grau ainda mais elevado de beleza,
pois tudo aquilo que obscuramente sempre quisemos é vir-a-ser Deus, e ser Deus é
ser onisciente, onipotente, onipresente. Esse era o ideal que tínhamos antes de atin-
gir a explosão e a implosão dos conceitos mais gerais da linguagem ser e não ser,
pois ainda não conhecíamos o significado mais profundo da existência: igualar-se
a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-
si-mesmo, possibilidade reservada a Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
Enquanto seres finitos que somos, tudo que podemos fazer é aproxi-
mar nossa existência do igualar-se a Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo. Esse igua-
lar-se abre caminho para a sua plenitude a partir do cultivo das forças que nos
compõem. Quando a totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensi-
tivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente ascende à
intensidade em um grau tão elevado de potência, nosso ser funde-se, gerando
a incorporação-concepção de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Este homem, que todos nós somos ou
podemos ser, é capaz de viver a máxima intensidade dessa totalidade que o com-
põe, será o novo criador de mundos, será aquele que o filósofo, e não o próprio
artista criador, definirá com um determinado conceito estético. Para nós, além
do artista, igualmente será um criador estético o filósofo, o cientista, o profeta,
o político, que tenha incorporado-concebido algum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
A própria vida daqueles que ascenderem a totalidade-do-
seu-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imagina-
tivo-místico-consciente-inconsciente à intensidade em um grau capaz de
158 incorporar-conceber algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanen-
te-transcendental-a-si-mesmo será um evento estético. Ascender que é regulado
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
pela finitude. A máxima intensidade possível por mais tempo, é o que desejamos,
finitos que somos. Por isso, dizemos que o sentido individual da vida é elevar a
intensidade da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sen-
sível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente até que nossas forças
fundam-se incorporando-concebendo algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-
-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo, intensidade que é intercalada com
pausas de descanso devido à nossa fragilidade enquanto seres finitos que perecem
e morrem. É a otimização máxima de intensidade qualitativa e quantitativa de vida.
II.XV
IDEOLOGIAS
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
possível o conhecimento absolutamente verdadeiro. Assim, não apenas nós, mas
todo homem vive sempre angustiado com o mistério de existir, e, principalmente,
com uma asserção ainda mais terrível: um dia deixará de existir. Não há dúvidas,
pela experiência empírica que tudo aquilo que é um determinado ente, com uma
determinada identidade e um determinado tipo (ou essência) no presente dei-
xará de sê-lo no futuro. Qualquer outra crença suprassensível não pode negar a
experiência diária de todos nós da finitude dos entes. Aliás, as crenças suprassen-
síveis pouco importam, a morte é real, tão real quanto a vida. O pós-morte é que
é imaginado, tanto quando é o nada quanto quando é outra vida que não esta em
que sempre existimos enquanto este ser que somos.
Neste sentido, uma das últimas ideologias que parece haver morri-
do no mundo contemporâneo é o Comunismo, ideal que tinha em sua essência a
união dos homens em prol da igualdade: o fim da propriedade privada, do Estado
e das classes sociais. Todo ideal é uma utopia, a qual seus defensores buscam
tornar realidade numa situação futura. Assim foi o Comunismo, uma ideia que
teve um funcionamento desastroso na prática, pois seu princípio primeiro, “cada
um faz de acordo com sua capacidade e cada um recebe de acordo com sua neces-
sidade”, não passava de uma proposição mal projetada enquanto possibilidade
de cenário das relações políticas econômicas e sociais do futuro. Eles desejavam
que esta proposição fosse universalmente válida, o modo de viver mais justo para
160 a sociedade mundial constituída pelo homo sapiens finito e histórico. Acontece
que na prática o homem não quer viver de modo igualitário e não quer dar sua
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
absoluta e a completude absoluta do absoluto enquanto máxima totalidade radical.
Quanto ao nosso sentido individual para vida, será que pode haver
um sentido que celebre a vida mais radicalmente do que cultivar a máxima inten-
sidade possível da totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-
sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente, com intervalos
de descanso, e assim abrir incessantemente novas possibilidades de verdade e
completude de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo até o fim de nossas existências. Será que nossos oposi-
tores poderão conceber sentidos para a vida inteligente melhores que estes?
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
mente a totalidadede-seu-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-ins-
tintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente abrirá o maior número de
possibilidades de verdade e completude do absoluto enquanto máxima totalidade
radical, ele consequentemente será mais sábio e adepto da grande moderação to-
lerante. Terá, portanto, qualidades importantíssimas no âmbito político. Assim,
parece que a política se liga de várias formas às ideias que defendemos nesta obra.
II.XVI
AÇÕES
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
possibilidades jamais substituir ou anular as possibilidades que existiam antes
da incorporação-concepção de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Ora, até esta seção dizíamos que Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo é
a única entidade capaz de conhecer a verdade absoluta e a completude absoluta,
agora estamos dizendo que esta entidade é também capaz de ações absolutamen-
te corretas e absolutamente completas e relação ao bem. Diante desta convergên-
cia das possibilidades práticas e teóricas do absoluto enquanto máxima totali-
dade radical, a nós - homo sapiens finito e histórico - há a mesma convergência
no aproximar-se ao igualar-se a algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Ser parcialmente verdadeiro no cam-
po teórico é equivalente a ser parcialmente certo no campo prático, parcialmente
falso no plano teórico é equivalente parcialmente errado no plano prático e a
incompletude das ações e das proposições à cerca da realidade são também equi-
valentes em relação ao absoluto enquanto máxima totalidade radical.
VALORES E MORAL
168
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
“E tudo isso por um motivo insignificante que não valeria a pena mencionar:
precisamente pelo fato de que o homem, invariavelmente e em todo lugar,
quem quer que ele seja, sempre gostou de fazer o que quis, e não como man-
dão a razão e o interesse próprio; ele, inclusive, pode querer algo contra seus
próprios interesses, e às vezes até deve indubitavelmente querê-lo.”31
31
Fiodor Dostoiévski. Memórias do Subsolo.
pessoas ajam de acordo com o bem si ou a moral quando estes se opõem aos inte-
resses pessoais dos agentes. E por outro lado, o radicalismo nietzschiano também
parece estar exagerado demais, como se o homem nem se perguntasse pela ação
boa em si e devesse seguir sua natureza, mas de que adiantaria ser homem se não 169
escapamos da nossa constituição primária que nos adaptou apenas a sobrevivên-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
cia e não a busca de proposições universalmente válidas?
Não sabemos exatamente por quê, mas essa mesma natureza nos
dotou de linguagem, sendo assim, não vamos ao menos entreter perguntas como:
o que é o bem do homo sapiens finito e histórico enquanto coletividade? O que é o
bem do homem individual em relação a sua existência finita e histórica?
A Incorporação-concepção de algum-todo-nenhum-aquém-entre-
-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo trouxe à tona máximas
inauditas: todo pensamento humano em relação à realidade é parcialmente ver-
dadeiro, parcialmente falso e incompleto; em relação a moral é parcialmente cer-
to, parcialmente errado e incompleto. Como discutimos na seção anterior, as pos-
sibilidades práticas e teóricas são equivalentes em relação ao absoluto enquanto
máxima totalidade radical. Acreditamos que qualquer moral criada pelo homo
sapiens finito e histórico será - em relação ao absoluto enquanto máxima totali-
dade radical - parcialmente verdadeira, parcialmente falsa e incompleta. Assim,
como parcialmente certa, parcialmente errada e incompleta.
Nós agora operamos sobre uma nova complexidade, não mais apenas
vontade de potência ou racionalidade prática. Não acreditamos mais em ações iso-
ladas boas em si. Nem numa mediania baseada em concepções do senso-comum
como valentia, liberalidade, temperança. Ou numa força denominada de vontade
de potência, como uma inexorável máxima ontológica que no fundo tem um quê
aristotélico teleológico. Nós agora temos uma nova teleologia. Nós agora não quere-
mos contemplar, crer, ou matar Deus. Nós agora queremos ser Deus-que-ultrapas-
170 sa-a-si-mesmo. Queremos a vida inteligente igualando-se a algum-todo-nenhum-a-
quém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Esta é nossa
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Por outro lado, nós queremos o máximo bem da única vida que te-
mos, já que não podemos contar com a vida após a morte, além de estarmos cien-
tes que a criação do pós-homem é uma empreitada incerta. Por isso, concebemos
um sentido individual para vida de todo e cada homo sapiens finito e histórico.
Viver através da máxima intensidade, com pausas de descanso para otimizar a
intensidade em relação a finitude – viver o máximo de tempo possível com a má-
xima intensidade possível. Através desta intensidade, abrir novas possibilidades
de verdade e completude de algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-
-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Sabiamente, Aristóteles já disse na sua obra Ética a Nicômaco que o
estudo da razão prática, do bem do homem é um estudo inexato. E como o estagi-
rita diz, é tolice exigir maior exatidão do que o assunto permite. Resta-nos, com-
preender os sentidos individual e geral como fins da vida inteligente, mas cada
um deverá decidir por si mesmo o quanto deseja sacrificar em prol da criação
do pós-homem e o quanto necessita ter uma existência individual intensa. Não
podemos fazer uma fórmula universal. E, ao mesmo tempo, os dois sentidos são
como um espiral virtuoso. Pois ambos os sentidos abrem novas possibilidades
de verdade e completude de algum- todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Assim, viver para ambos é viver pelo
ultrapassamento de si mesmo e pelo ultrapassamento do próprio homo sapiens
finito e histórico. Quanto mais sábio diante do absoluto um homem é, se é capaz
de evoluir sempre na proporção de verdade e completude do seu pensamento em
relação ao absoluto enquanto máxima totalidade radical, ele estará indiretamen-
te sendo mais capaz de contribuir para criação do pós-homem. Ou o contrário,
trabalhando em prol do pós-homem com intuito final da vida inteligente vir-a-ser
Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo um homo sapiens finito e histórico particular
estará certamente tendo uma experiência de alta intensidade.
Aquele que através do cultivo da intensidade das forças que nos com-
põe, atinge uma intensidade tal que realiza a fusão da totalidade de seu ser racional-
-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-
-inconsciente explodi e implodi os conceitos mais gerais da linguagem ser e não
serincorporando-concebendoalgum-todo-nenhum-aquem-entre-além-ser-não-ser-
-imanente-transcendental-a-si-mesmo existencialmente e enquanto pertencente
ao conjunto homo sapiens finito e histórico se aproximará de vir-a-ser Deus-que-
-ultrapassa-a-si-mesmo. Assim, ambos os sentidos se completam. Cada situação
específica exigirá mais ou menos atenção ao sentido geral e ao sentido individual
da vida inteligente. Nós vivemos na incerteza, logo não podemos exigir sacrifícios
de vida e morte de ninguém. Cada homem na proporção que desejar deve balan-
cear os sentidos geral e individual no seu próprio ser. E pode tanto morrer pela
coletividade, se assim o quiser, como o contrário, sabendo que não há garantias
de sucesso no sentido geral da vida inteligente vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-
mesmo, nem mesmo na criação do pós-homem, pode não sacrificar nada pelos seus
semelhantes. Embora, nos parece pobre e contrário a grande moderação tolerante
172 viver absolutamente de acordo com qualquer dos sentidos da vida inteligente em
detrimento absoluto do outro sentido. A vida mais rica para nós é que tenta harmo-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
II.XVIII
CICLOS EVOLUTIVO
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O que queremos dizer com ciclos evolutivos? Podemos defini-los
como modos de ser do desenvolvimento da civilização do homo sapiens finito e
histórico, como fenômeno no qual se verifica que visões de mundo, modos de ser
e crenças que respondem a questões fundamentais mudam de Abc para não Abc e
depois são retomadas como algo novo Aby com novas propriedades e com a perda
de propriedades anteriores. São posições mais evoluídas, pois possuem a consciên-
cia histórica de outras posições em relação a visões de mundo, a modos de ser e a
crenças fundamentais do homo sapiens finito e histórico. São como espirais que
ciclicamente alternam visões de mundo, modos de ser e crenças fundamentais.
O que torna ainda mais frágil esta noção é o fato de estarmos suge-
rindo, nos exemplos a seguir, visões de mundo, modos de ser e crenças funda-
mentais para o homo sapiens finito e histórico que ainda não foram totalmente
conceituados nas ciências sociais e humanas, estão apenas no inconsciente cole-
tivo, ou são previsões para o futuro baseadas na interpretação determinada pelos
próprios ciclos evolutivos que estamos defendendo nesta seção da obra.
EXEMPLO 1
Sem Deus
Com Deus
Morte de Deus
Vir-a-ser-Deus
Não se sabe ao certo quando a noção de Deus surgiu para a vida
inteligente, mas parece correto presumir que diante da ignorância em relação a
entes e fenômenos do mundo foram criados sistemas míticos. A compreensão dos
mistérios do mundo se dava através da força causal de deuses. Eles eram entes
especiais do mundo: as estrelas, o sol, a lua, o trovão, o vento, o raio, o mar, o rio,
a chuva etc. É como se o ser humano finito e histórico precisasse antropomorfizar
sua visão de mundo, compreendendo as coisas à luz de seu próprio modo de ser
causal. Assim, o sol torna-se um Deus que permite a vida com seu calor e luz. O
trovão, o Deus que anuncia a chuva ou ato de um Deus-chuva, assim como vento
que sopra e zuni ao ouvido etc. Na verdade o primeiro grande passo é constituir
174 uma totalidade baseada em um sistema de compreensão metafísico primitivo.
Assim, saímos dos pobres de mundo, como diria Heidegger, para os capazes de
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Sustentabilidade primitiva
Nas primeiras comunidades humanas, o modo de viver era equilibrado 175
com a natureza, pois o equilíbrio ecológico era necessário para sobrevivência. Através
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
do equilíbrio entre fauna, flora e outros elementos, a vida em todas as suas formas
é conservada num determinado ambiente. O homem dependia dessa relação com a
natureza para se alimentar das diversas formas de vida sem extinguir essas mesmas
diversas formas de vida, não havendo uma consciência de proteção do mundo, pois
a possibilidade de destruição do mundo pelas próprias mãos do homem não estava
em questão, a falta de aparatos tecnológicos para tanto impediam esta reflexão. Havia
uma relação harmoniosa com a natureza, entretanto através de uma visão de mundo
mítica que geralmente atribui status divino a entidades naturais.
Consumo autodestrutivo
Com a ascensão da ciência moderna, o fim da visão preponderante-
mente mítica da natureza e a passagem para visão preponderantemente científica
através de leis universais sem a influência de entidades divinas proporcionaram
um avanço tecnológico nunca antes vislumbrado pelo homo sapiens finito e histó-
rico. Houve a revolução industrial, e passamos a produzir bens de consumo numa
escala inaudita. Assim, ainda sem saber, começávamos o processo de destruição
do mundo. A técnica é cega em relação ao equilíbrio ambiental que permite a vida.
EXEMPLO 3
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
e anomalias congênitas. Embora todos estes regramentos sejam justificados por
mitos ou dogmas religiosos, eles tinham o intuito mesmo que intuitivo e às vezes
inconsciente de organizar a sociedade e principalmente os responsáveis por cada
criança. Se sabemos que a mulher é fiel ao seu companheiro, é presumido que o
filho gerado provém do sêmen do mesmo, logo, que este está passando seus ge-
nes adiante para continuação da espécie e igualmente será responsabilizado pela
sobrevivência do infante. Ou, no caso do incesto, verificou-se na experiência em-
pírica problemas nas crianças que são geradas por parentes consanguíneos pró-
ximos com mais frequência que nos nascidos de pais sem parentesco próximo.
Pequenas comunidades
Impérios
178
Comunidade mundial
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
EXEMPLO 5
Nomadismo primitivo
Os primeiros representantes do conjunto denominado homo sapiens
finito e histórico não sabiam produzir alimentos e cultivar animais de abate, forne-
cedores de ovos ou leite. Viviam se alimentando do mundo natural com frutas, ve-
getais e animais selvagens abatidos por eles mesmos. Eram caçadores e coletores de
alimentos. Então, obviamente deveriam se mover em busca do alimento. Quando
faltava num lugar, era hora de achar outro para morar, com bons suprimentos. Isso
era o nomadismo primitivo, não havia consciência sobre o sedentarismo, isto é, que
é possível cultivar alimentos e domesticar animais e ter um lar fixo.
Sedentarismo
Com o advento da agricultura e da domesticação de animais, final-
mente podia-se descansar da vida dura de buscar alimentos todo tempo. Podiam
agora construir casas mais complexas e assim fundavam a sociedade como a co- 179
nhecemos com comunidades fixas num determinado território. Com uma organi-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
zação social capaz de atingir graus de complexidade antes inconcebíveis baseada
nessa possibilidade de estar sempre num mesmo local.
II.XIX
LÓGICA E ALGUM-TODO-NENHUM-AQUÉM-ENTRE-ALÉM-
SER-NÃO-SER-IMANENTE-TRANSCENDENTAL-A-SI-MESMO:
PARA UMA PÓS-LÓGICA
talidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-ima-
ginativo-místico-consciente-inconsciente, abrimos novas possibilidades de sentido
da e para a linguagem: fragmentamos os sentidos existentes da e para a linguagem;
criamos novos sentidos da e para a linguagem; e mantemos aberta a possibilidade de
criação constante de novos sentidos da e para a linguagem. Assim como abrimos a
possibilidade de novos referentes virem à tona, os quais antes jaziam velados.
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
que esperar do lógico do futuro. Para que possa compreender esse projeto, deverá
elevar a totalidade de seu ser racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-sensível-instin-
tivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente a uma intensidade tal que possa
realizar a fusão das forças que o compõem para incorporar-conceber algum-todo-ne-
nhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo, e, as-
sim, incorporar-conceber os aspectos lógicos, ilógicos e alógicos do absoluto enquanto
máxima totalidade radical. Terá de permitir a totalidade de seu ser racional-intuitivo-
-pulsional-sensitivo-sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconscien-
te tornar-se em ato toda a potencialidade que dentro de si mesmo é possibilidade de
vir-a-ser. Intensificará suas forças não racionais e não intuitivas aos mesmos níveis de
intensidade das forças racionais e intuitivas, as quais exercem - geralmente - supre-
macia neste tipo de homo sapiens finito e histórico em particular.
Queremos uma nova lógica para um novo homem. Aquele que ultra-
passa a si mesmo. Aquele que transforma a antiga visão de mundo no aceno-oni-
presente-da-onisciência-de-mundos. Aquele que transforma o desejo inconsciente
de vir-a-ser Deus no desejo consciente de vir-a-ser Deus-que-ultrapassa-a-si-mes-
mo. Aquele que julgava que a totalidade era o mundo, o qual tinha suas estruturas
mais fundamentais subordinadas às regras da lógica para o absoluto enquanto
máxima totalidade radical composto deste Universo consistente-inconsistente-
-aconsistente; todo Universo possível consistente-inconsistente-aconsistente; o
nada e o ser internos a este Universo consistente-inconsistente-aconsistente; o
possível nada e o possível ser externos a este Universo consistente-inconsistente-
-aconsistente e a todo Universo possível consistente-inconsistente-aconsistente;
o possível nada e o possível ser internos a todo Universo possível consistente-in-
consistente-aconsistente; todo pensamento possível consistente-inconsistente-a-
consistente e toda ação possível consistente-inconsistente-aconsistente. As estru-
turas mais gerais que compõem o absoluto enquanto máxima totalidade radical
que acabamos de citar são melhor descritas como estruturas fundamentais que
não são apenas lógicas, mas lógicas, ilógicas e alógicas. Talvez a lógica do futuro
não seja mais chamada de lógica, mas tenha um novo batismo: lógica-ilógica-aló-
gica a ciência das estruturas da linguagem do homem que ultrapassa a si mesmo.
II.XX
182
OBSCURIDADE VERSUS CLAREZA
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Afinal, dirão os analíticos: o que você ganha com esse “epoché sob
certos aspectos”? Qual a vantagem de conceber um conceito inconsistente? Por
que você não fala claramente?
Aliás, isso sempre foi afirmado. Ele ainda poderia afirmar que, de-
pendendo da combinação feita com os conceitos desta expressão, podem ser com-
postas contradições e tautologias, mas que todas elas juntas se transformam num
curto-circuito do entendimento.
Afinal, por que criar tal expressão? A expressão criada é nossa obs-
cura resposta à pergunta “o que é o absoluto?”, pergunta que pode ser estendida
com o seguinte complemento: “enquanto máxima totalidade radical”. E aí, te-
remos na versão extensa e determinada: “O que é o absoluto enquanto máxima
totalidade radical?”. O intuito é responder a esta pergunta de modo a abrir o má-
ximo de possibilidades de verdade e completude, o que significa dizer infinitas 183
possibilidades de verdade e completude do absoluto enquanto máxima totalida-
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
de radical, já que não podemos criar uma resposta que seja absolutamente verda-
deira e absolutamente completa a esta pergunta.
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não-ser-imantente-
transcendental-a-si-mesmo é uma expressão gerada pela implosão e explosão dos
conceitos mais gerais da linguagem ser e não ser. Consequentemente, inaugura
novas possibilidades da e para a linguagem, fragmenta os sentidos existentes até
então da e para a linguagem, cria novos sentidos da e para a linguagem e forma
uma constante abertura de possibilidades para o surgimento de novos sentidos da e
para a linguagem. Assim como abre possibilidade de novos referentes virem à tona,
os quais antes jaziam velados. O ultrapassamento da linguagem vigente represen-
ta o ultrapassamento de nós mesmos. Este ultrapassamento gera a expansão dos
limites lógicos, epistemológicos, ontológicos, estéticos, científicos, artísticos, políti-
cos, éticos, religiosos, existenciais, de visão de mundo, da concepção de Deus e dos
sentidos geral e individual da vida inteligente qua homo sapiens finito e histórico.
184
Justamente o que por meio de uma análise analítica não se pode ver,
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
Aristóteles, na sua obra Ética a Nicômaco buscava o bem do homem.
Concluiu que o homem busca a felicidade através de um conjunto de bens, estes
bens não são absolutamente determinados. Existem os bens externos ao agente, que
são condições necessárias, mas não são condições suficientes para felicidade, tais
como riqueza, amigos, família. Existem os bens internos ao agente, os quais acom-
panhados dos bens externos são causa suficiente para felicidade, tais como atingir a
excelência nas atividades que se exerce e realizar ações de acordo com os princípios
da ética de Aristóteles. Porém, entre esses bens internos ao agente, existe um es-
sencial para a máxima felicidade: a vida contemplativa do filósofo, mais especifica-
mente a contemplação da filosofia primeira, o que chamamos de Metafísica. É o bem
necessário para que o homem atinja seu cume teleológico enquanto espécie animale
racionale. A vida contemplativa era a observação rigorosa do primeiro motor, o ente
suprassensível, imóvel, simples, eterno, imutável e imaterial, cuja única atividade é
um pensar que só pensa em si mesmo. Único ser puramente formal, motor imóvel
de todo movimento, ser não causado e causa primeira que deu origem ao Cosmos.
32
Há muitas controvérsias sobre Nietzsche. Alguns o consideram o primeiro pós-moderno, nós concorda-
mos com isso nesta obra. Como já dito anteriormente esta obra não é uma obra de história da filosofia ou
de interpretação das doutrinas filosóficas dos filósofos citados. Tais citações são meramente ilustrativas as
teses originais sustentadas.
acordo com a vontade de potência, a qual atingimos através da hierarquização e
o cultivo das nossas forças internas ativas (dionisíacas) e reativas (apolíneas). Há
esperança transcendente no que diz respeito tão somente ao indivíduo que pode
186 vir a ser o super-homem (übermesch). Essa transcendência se dá aqui e agora
no mundo sensível, o super-homem é o homem que modifica a si mesmo. Nós,
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
com o objetivo de serem os mais ambiciosos possíveis. Todavia, esta nova teleologia
pode ser um caminho sem fim, e é um caminho sem fim no que diz respeito a nós –
homo sapiens finito e histórico. O que não significa que num futuro longínquo não
possa haver a satisfação desta teleologia. A beleza de ser isso que somos é a possibi-
lidade de ultrapassar a nós mesmos, mas a realização da nova teleologia não cabe a
nós, apenas caberá a Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo. Não há absolutamente qual-
quer garantia de sucesso na jornada da vida inteligente para vir-a-ser Deus-que-ultra-
passa-a-si-mesmo, e, talvez, até mesmo nunca se complete de modo absolutamente
verdadeiro e absolutamente completo esta teleologia, mas desejar ser Deus-que-ul-
trapassa-a-si-mesmo é desejar igualar-se algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-
-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo. Isso é a máxima fusão dos dois senti-
dos da vida inteligente, individual e geral. Logo, é também o caminho para felicidade.
II.XXII
OS METAFÍSICOS
O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
EPÍLOGO
algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo grande moderação
tolerante aceno-onipresente-da-onisciência-de-mundos algum-todo-
nenhum-aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-
si-mesmo consistente-inconsistente-aconsistente algum-todo-nenhum-
aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo
algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-
aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo
totalidade-do-nosso-ser-racional-intuitivo-pulsional-sensitivo-
sensível-instintivo-imaginativo-místico-consciente-inconsciente
algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-
aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo
algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-
transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-
ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo algum-todo-nenhum-
aquém–entre-além-ser-não-ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo
igualar-se algum-todo-nenhum-aquém–entre-além-ser-não-ser-
imanente-transcendental-a-si-mesmo
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O ABSOLUTO E O PÓS-HOMEM
BIBLIOGRAFIA
OOque
queééooAbsoluto
Absolutoenquanto
enquantomáxima
máximatotalidade
totalidaderadical?
radical?
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não
Algum-todo-nenhum-aquém-entre-além-ser-não
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
ser-imanente-transcendental-a-si-mesmo.
Como
Comoser
serooAbsoluto?
Absoluto?
Criando
Criando o pós-homem e este o seu sucessor atéque
o pós-homem e este o seu sucessor até quevida
vida
inteligente
inteligentese
setorne
torneDeus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
Deus-que-ultrapassa-a-si-mesmo.
Desde que a filosofia existe, ser e não ser são os limites da linguagem.
As grandes revoluções se dão em momentos de grande perigo, e Sérgio
se joga com todo o seu ser neste perigo pois é chegada a hora de um
novo homem e de uma nova linguagem que o acompanhe.