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0 que é a verdade?
0 que são os homens?
Qual é a natureza da realidade?
Podemos provar que Deus exist e?
Somos realmente livres para
escolher quem somos e o que
fazemos?
Como devemos nos comportar
em sociedade?
MRS QURNPO
SfíO FEITRS,
RS PERGUNTRS
PRRECEM NUNCfí TER NO COMEÇO,
RESPOSTRS, PRRECEM «FILÓSOFOS" ERAM
FICRR PRRR SEMPRE. [ f f SIMPLESMENTE
PESSOAS QUE
FAZIAM PERGUNTAS A
RESPEITO PE TUPO.
HOJE EM PIR, R
FILOSOFIR TENPE
R SER ENTENPIPR
COMO RL-GO MRIS
SÉRIO.
EPISTEMOLOGIA
[(questões sobre o c o n h e c i m e n t o ) 1
j ÉT I CA
( b o m e mau)
EST ÉT I CA
(arte e beleza)
FILOSOFIA
(política)
ÍlL'MÍSlTlfflll»!ffllllHlll!lllWM\ll
A l g u n s f i l ó s o f o s a c r e d i t a m q u e a f i l o s o f i a d e v e evoluir, ir a l é m d a
simples argumentação e debate, outros p e n s a m q u e ela só existe
q u a n d o a c o n t e c e o c h a m a d o r a c i o c ín i o d e d u t i v o .
ALGUNS FILÓSOFOS
ESTfíO CONVENCIDOS PE
QUE A FILOSOFIA POPE
FAZER UM PROGRESSO
REAL NA PROCURA PO
I
CONHECIMENTO.
M a s t o d o s eles a c r e d i t a m
que os filósofos são
obrigados a dar algum
tipo de explicação, prova,
demonstração ou evidência
d e s u a s ideias. E e s s a
obrigação é a principal
diferença entre filosofia e
religião.
Teocracias
O s e g íp c i o s d a A n t i g u i d a d e e r a m b o n s e m m a t e m á t i c a e n a
c o n s t r u ç ã o d e t u m b a s g e o m é t r i c a s , m a s eles n ã o e r a m f a m o s o s
o u r e s p e i t a d o s p o r s u a f i l o s o f i a . S u a s e x p l i c a ç õ e s rel i gi osas p a r a
as coisas que existem eram elaboradas e coloridas, mas nada
convincentes e m termos filosóficos. Outro povo de excelentes e
maravilhosos matemáticos e astrónomos foram os babilónios.
FUNDAMENTAIS.
6
Os gregos
O s gregos antigos inventaram a filosofia,
mas ninguém sabe exatamente por
quê. Grande nação comerciante que
d o m i n a v a o leste d o M e d i t e r r â n e o ,
o povo grego assimilou mitos e
misticismos d o s povos vizinhos,
assim c o m o arquitetura e matemática.
Mas alguns filósofos-cientistas mais
irrequietos estavam c o n v e n c i d o s d a
existência de u m a ordem subjacente,
q u e r di zer, d e u m a l ó g i c a p o r t r á s d o
f a t o d e a s c o i s a s s e r e m c o m o s ã o . Eles
não se contentavam c o m as explicações
rel i gi osas - c o m o , p o r e x e m p l o , o
p e n s a d o r X e n ó f a n e s (c. 5 6 0 - 4 7 8 a . C ) .
é INGÉNUO ADORAR OS
DEUSES, POIS ELES SE
COMPORTAM DE MODO
IRRACIONAL E IMORAL
SE OS CAVALOS
TIVESSEM MÃOS E
SOUBESSEM DESENHAR,
ELES CERTAMENTE
DESENHARIAM DEUSES
PARECIDOS COM
CAVALOS.
i
A g r a n d e que st ã o d o s m ilé sios
Os primeiros filósofos d e verdade foram u m punhado de gregos excêntricos
q u e seis s é c u l o s a n t e s d a n o s s a e r a v i v i a m n a c i d a d e d e Mi l eto, n a J ô n i a ,
u m a c o l ó n i a d a M a g n a G r é c i a l ocal i zada o n d e f i c a a t u a l m e n t e a c o s t a d a
T u r q u i a . A p e r g u n t a f u n d a m e n t a l , o pri nci pal q u e s t i o n a m e n t o d e l e s era
este: d o q u e é f e i t a a realidade, o q u e a c o m p õ e ? A t u a l m e n t e , e s s a p o d e
p a r e c e r u m a p e r g u n t a b e m e s q u i s i t a d e s e fazer. A m a i o r parte d a s p e s s o a s
p r o v a v e l m e n t e diria q u e o m u n d o é feito d e m u i t a s c o i s a s di ferentes, p o r q u e
é a s s i m q u e ele a p a r e c e p a r a n ó s . M a s e s s e s mi l ési os n ã o a c e i t a v a m q u e
aqui l o q u e n ó s v e m o s sej a n e c e s s a r i a m e n t e a m e s m a c o i s a q u e a q u i l o q u e
é verdadeiro.
O PRINCÍPIO QUE REGULA
E ORDENA A VIDA é O AR,
TUDO é FEITO DE AR.
Ana x ím ie ne s
( 5 8 5 - 5 2 8 a.C.)
A n a x i m a n d r o ( 6 1 0 - 5 4 6 a.C.)
Anaximandro t a m b é m acreditava que a
Terra tinha um formato semelhante a u m a
enorme coluna de pedra. Não sabemos
muita coisa sobre esses primeiros
p e n s a d o r e s e x c ê n t r i c o s , a n ã o ser q u e
a ciência deles era mais cerebral que
e x p e r i m e n t a l . M a s el es t i v e r a m o g r a n d e
mérito d e n u n c a aceitar respostas q u e se
baseassem unicamente em explicações
sobrenaturais.
8
Pitágoras e a matemática
P i t á g o r a s (571 - 4 9 6 a.C.) t a m b é m se fez a m e s m a p e r g u n t a
f u n d a m e n t a l , m a s e n c o n t r o u u m a r e s p o s t a b a s t a n t e di ferente d a s
d o s o u t r o s p e n s a d o r e s . N a o p i n i ã o dele, a r e s p o s t a p a r a t u d o era a
m a t e m á t i c a . Ele vivia n a ilha d e S a m o s a n t e s d e e m i g r a r c o m s e u s
d i s c íp u l o s p a r a a região d e C r o t o n e , a t u a l m e n t e sul d a p e n ín s u l a italiana.
Pi tágoras era u m v e g e t a r i a n o q u e a c r e d i t a v a e m r e e n c a r n a ç ã o e d e c l a r o u
q u e c o m e r feijões er a p e c a m i n o s o . Ele e o s d i s c íp u l o s r e v e r e n c i a v a m
o s n ú m e r o s e e s t a v a m c o n v e n c i d o s d e q u e o m u n d o er a c o m p o s t o d e
números; que a evidência d a verdade era melhor revelada por proporções,
q u a d r a d o s e t r i â n g u l o s retângul os. O g r a n d e a c h a d o d e Pi tágoras foi
r e c o n h e c e r q u e as v e r d a d e s m a t e m á t i c a s p r e c i s a m ser p r o v a d a s e n ã o
s o m e n t e acei tas. Hoj e e m d i a , s e u m i s t i c i s m o n u m é r i c o n o s p a r e c e b e m
e s q u i s i t o . Ele d e c l a r o u q u e a " J u s t i ç a " era r e p r e s e n t a d a pel o n ú m e r o 4 ,
p o r q u e e s s e é u m n ú m e r o q u a d r a d o . Por f i m , ele f i c o u s u p e r c h o c a d o c o m
a d e s c o b e r t a q u e fez d o s n ú m e r o s "i rraci onai s", c o m o Pi e V2.
P i t á g o r a s c h e g o u i ncl usi ve a a f o g a r u m d i s c íp u l o , H i p a r s o d e T a r e n t o ,
p o r ele t e r d e m o n s t r a d o a o m u n d o a i n c ó m o d a i m p e r f e i ç ã o d o s
n ú m e r o s i rraci onai s. O u s e j a , n e m t o d o s o s f i l ó s o f o s t o l e r a m m u i t o
bem o debate c o m seus alunos.
9
H e rá c lit o e o m u n d o
e m movimento
H e rá c lit o, que viveu por volta de
500 a . C , parece ter sido mais
tolerante c o m a irracionalidade
d o universo. O apelido dele era
"o leme", porque defendi a a ideia
de que t u d o no m u n d o estava e m
c o n s t a n t e m u d a n ç a e e m c o n t ín u o
e s t a d o d e c o n f l i t o . Ele i l ustrou e s s e s
pensamentos c o m a f a m o s a frase
C r á t i l o (c. 4 0 0 a . C ) , u m a l u n o
dele, foi ainda mais longe.
10
Por e x e m p l o : u m a m o n t a n h a s o b e o u d e s c e , d e p e n d e n d o d o n o s s o
p o n t o d e p a r t i d a . M a s é i sso q u e as m o n t a n h a s f a z e m :
11
Pa rm ê nide s
P a r m ê n i d e s d e Eleia
( 5 1 5 - 4 9 0 a.C.) v i v e u n a r e g i ã o
d a G r é c i a , o n d e hoj e é o sul d a
Itália. Ele e s c r e v e u u m l o n g o
p o e m a sobre o poder d a lógica e
do conhecimento e concordava
c o m Heráclito q u a n t o ao
c o n h e c i m e n t o e m p ír i c o ser
s u b j e t i v o . Isso s i g n i f i c a q u e o
ser h u m a n o , p a r a d e s c o b r i r
verdades permanentes sobre o
m u n d o , deve confiar somente na
lógica e no pensamento.
POIS SEP é R
MESMA COISA
QUE PENSAR.
U t i l i z a n d o a r g u m e n t o s e s t r i t a m e n t e l ó g i c o s , ele f o r j o u u m a c o n c e p ç ã o
interessante sobre o t e m p o : t u d o o que existe é o presente imediato.
Falar s o b r e o p a s s a d o e o f u t u r o é u m s i m p l e s falar, j á q u e n e n h u m
d o s d o i s t e m e x i s t ê n c i a real. P a r m ê n i d e s a i n d a é a d m i r a d o p e l o s
filósofos c o n t e m p o r â n e o s por aceitar t o d a e qualquer concl usão
que fosse o resultado de u m argumento dedutivo rigoroso, por mais
e s t r a n h a q u e el a p u d e s s e ser.
12
Z e nã o, o p a r a d o x o d o
movimento
U m aluno de Parmênides c h a m a d o Zenão
( 4 9 0 - 4 3 0 a.C.) f i c o u f a m o s o p o r i n v e n t a r
paradoxos que c o s t u m a v a m explorar
a enigmática relação q u e muitas vezes
existe entre espaço e t e m p o . O mais
f a m o s o deles diz respeito a Aquiles e a
tartaruga. C o m o b o m esportista, Aquiles
d á u m a cabeça de vantagem à tartaruga,
vantagem proporcional à lentidão dela.
Mas Aquiles acaba descobrindo que não
é p á r e o p a r a a q u e l e s e u o p o n e n t e réptil...
A t a r t a r u g a e s t a r á s e m p r e u m p o u c o à f r e n t e d e A q u i l e s (se ti ver
s a íd o a n t e s dele), e p o r i sso n u n c a p o d e r á s e r a l c a n ç a d a . Esse
a r g u m e n t o a i n d a o c u p a f i l ó s o f o s , m a t e m á t i c o s e f ís i c o s . E t a m b é m
é t e m a de charadas. O que Zenão está dizendo é que o movimento
e a m u d a n ç a real s ã o i m p o s s ív e i s - a m e s m a t e s e d e f e n d i d a p o r s e u
mestre, Parmênides.
13
Em pé doc le s e o s
quatro e le m e nt os
O MUNDO é FEITO DE
TERRA, AR, FOGO E AGUA.
ELE é COMANDADO POR
DUAS FORÇAS OPOSTAS,
AMOR E CONFLITO,
ATRAÇAO E REPULSÃO.
OUTRAS QUALIDADES,
COMO O AROMA, Só
PEVEM FORÇOSAMENTE SE PRODUZEM QUANDO
EXISTIR MINÚSCULAS COISRS { V ÁTOMOS DE UM OBJETO
QUE AFINAL NAO
SER MAIS REPUZIPRS,
"CORTAPAS" OU
POIS PO CONTRARIO
POPEM
MAIS
PIVIPIPRS,
R
KA INTERAGEM COM OS
ÁTOMOS
DO NARIZ
DO OLFATO,
HUMANO.
D e m ó c r i t o , o a t o m i s t a ( 4 6 0 - 3 7 0 a . C ) , foi c o n t e m p o r â n e o d e S ó c r a t e s
e f i c o u f a m o s o p o r s u a s i ncrívei s t e o r i a s s o b r e a s u b s t â n c i a e a m a t é r i a ,
q u e a n t e c i p a r a m a s t e o r i a s d o s f ís i c o s a t o m i s t a s d o s é c u l o XX.
15
A p r e s e n t a n d o Sóc ra t e s
T o d a s e s s a s t e o r i a s s o b r e o s i g n i f i c a d o e a n a t u r e z a ín t i m a d o m u n d o
são conheci das c o m o "pré-socráticas". O q u e é notável nessas
c o n c e p ç õ e s é o quão próximas estão d e teorias desenvolvidas
p e l a c i ê n c i a e m p l e n o s é c u l o XX. E o s g r e g o s c h e g a r a m a elas s e m
a c e l e r a d o r d e p a r t íc u l a s o u o u t r o s a p a r e l h o s - s ó p e n s a n d o m u i t o !
S ó c r a t e s ( 4 7 0 - 3 9 9 a.C.) v i v e u e m A t e n a s , u m a p e q u e n a
" c i d a d e - e s t a d o " d o n a d e u m poderoso império no Mediterrâneo.
Muitos atenienses tinham escravos, o que era c o m u m naquela
é p o c a , e i sso d a v a a eles b a s t a n t e t e m p o p a r a fi car p e n s a n d o e m
a s s u n t o s c o m o d r a m a , h i s t ó r i a , a s t r o n o m i a o u f i l o s o f i a . Eles e s t a v a m
c o n v e n c i d o s d e q u e e r a m a ci vi l i zação m a i s a d i a n t a d a d a T e r r a ; e,
pelo q u e s a b e m o s , eram m e s m o !
16
Relativismo
cultural
H e r ó d o t o (484-424 a.C.)
foi u m h i s t o r i a d o r q u e
vi aj ou i n t e n s a m e n t e
p o r t o d a a G r é c i a e fez
umas tantas descobertas
surpreendentes
s o b r e as c r e n ç a s e o
comportamento de outros
povos. Filósofos sofistas,
como Prot á gora s,
deram-se conta das muitas
implicações disso, o que
o s l e v o u a fazer u m b o m
número de perguntas
bem incómodas.
SE OUTRAS PESSOAS
ACREDITAM EM COISAS
DIFERENTES DAS QUE
NÓS ACREDITAMOS,
COMO PODEMOS SABER
QUE NOSSAS CRENÇAS
ESTRO CORRETAS? COMO
TER CERTEZA DE QUE
QUALQUER CRENÇA é
CORRETA?
S ó c r a t e s e r a b a i x i n h o , d e p é s s i m a a p a r ê n c i a , e n a r i g u d o . O pai d e l e e r a
p e d r e i r o e a m ã e , p a r t e i r a . A e s p o s a , X a n t i p a , v e n d i a l e g u m e s e, m a i s
d e u m a vez, a c h o u q u e o marido era barbaramente vago. Porém, para
m u i t o s j o v e n s a t e n i e n s e s ele foi e v i d e n t e m e n t e u m a e s p é c i e d e g u r u
c a r i s m á t i c o , tal vez p o r q u e o s e n s i n a s s e a q u e s t i o n a r t u d o e q u a l q u e r
c o i s a - u m c o s t u m e s i n g u l a r q u e d e v i a , s e m d ú v i d a , irritar o s p a i s d o s
d i s c íp u l o s .
18
O s diá logos soc rá t ic os
Sócrates s e m p r e dizia não saber nada, è por c a u s a disso o oráculo
d e D e l f o s d e c l a r o u q u e ele e r a " o m a i s s á b i o d o s h o m e n s d a G r é c i a " .
Ele i n c e n t i v a v a e n f a t i c a m e n t e s e u s d i s c íp u l o s a d i s c u t i r ideias e
a r g u m e n t a r , e m geral p a r a d e m o n s t r a r o q u a n t o é difícil d a r r e s p o s t a s
s a t i s f a t ó r i a s a p e r g u n t a s f i l o s ó f i c a s . E s s a i n c e r t e z a q u e o s irritantes
" d i á l o g o s s o c r á t i c o s " p r o d u z i a m n a c a b e ç a d a s p e s s o a s tal vez
explique por que o apelido de Sócrates era "o m o s c a " .
N i n g u é m s a b e c o m c e r t e z a s e ele a c r e d i t a v a m e s m o q u e o d i á l o g o
c o n s e g u i a levar a v e r d a d e s s o b r e c o n c e i t o s c o m o " j u s t i ç a " , d e m o d o
q u e el es p u d e s s e m ser a p l i c a d o s a q u e s t õ e s é t i c a s e p o l ít i c a s . S u a
c o n v i c ç ã o central era d e q u e a sabedori a ética reside no eu, q u e "virtude
é conhecimento".
19
Condenado à morte
Infel i zmente, S ó c r a t e s t i n h a a l g u n s a m i g o s d u v i d o s o s , c o m o Críti as,
que m a n d a r a m executar sistematicamente vários atenienses que
m a n i f e s t a v a m ser c o n t r a o s " t r i n t a t i r a n o s " . Q u a n d o el es f o r a m
f i n a l m e n t e d e p o s t o s , u m júri d e m o c r a t a r e s o l v e u s e v i n g a r e " o m o s c a "
foi c o n s i d e r a d o c u l p a d o d e i m p i e d a d e e d e c o r r o m p e r a j u v e n t u d e , e
p o r i sso c o n d e n a d o à m o r t e . C o r a j o s a m e n t e , d e p o i s d e e x p l i c a r p o r q u e
p r e f e r i a n ã o sair d a c i d a d e e m o r r e r p o r s u a s ideias, S ó c r a t e s t o m o u
cicuta, o veneno que o matou.
S ó c r a t e s c o n t i n u a s e n d o u m a f i g u r a a m b íg u a . U m h o m e m q u e
e s c o l h e u m a u s aliados políticos, m a s q u e d e f e n d e u o l i v r e - p e n s a m e n t o ,
a c h a m a d a liberdade de consciência, contra o c o m p o r t a m e n t o
p r e g a d o p e l o E s t a d o . M a s é i n e g á v e l : ele m u d o u a f i l o s o f i a . A partir
d e l e a s q u e s t õ e s f i l o s ó f i c a s p a s s a r a m a ser s o b r e é t i c a h u m a n a e
p o l ít i c a , e n ã o m a i s s o b r e a n a t u r e z a ín t i m a d o m u n d o d a N a t u r e z a , o
m u n d o f ís i c o .
20
Pla t ã o e o
filósofo-re i
P l a t ã o ( 4 2 7 - 3 4 7 a.C.) foi u m
d o s d i s c íp u l o s d e S ó c r a t e s ,
mas, ao contrário de seu
mestre, tinha instintos de
autoritarismo. Ateniense de
origem aristocrática, detestava
os democratas, por terem
condenado Sócrates à morte.
QUANDO OBSERVO
TUDO ISSO,
MERGULHO NA
REPULSA AOS
ABUSOS DESTA
ÉPOCA.
Pl atão e r a d a o p i n i ã o d e q u e s e u s
compatriotas atenienses tinham
se t o r n a d o frouxos e decadentes.
Ele a d m i r a v a a i m p l a c á v e l f o r ç a
militar d e E s p a r t a , q u e v e n c i a
t o d a s as batalhas contra Atenas.
C h e g o u a ser t u t o r d o fi l ho d e
Di onísi o I d e S i r a c u s a , u m a l u n o
b a s t a n t e rel utante, m a s d e p o i s
voltou a Atenas, onde fundou sua
famosa Academia. Sua obra mais
i m p o r t a n t e foi A República, que
fez u m p r o j e t o d e t a l h a d o d e u m a
soci edade perfeita, g o v e r n a d a por
sábios filósofos-reis.
A doutrina do ina t ism o
Pl atão e t e r n i z o u o s d i á l o g o s s o c r á t i c o s a o d a r e s s a f o r m a a s u a o b r a .
Em seus primeiros escritos, conferiu respeitabilidade à doutrina d o
inatismo - a crença de que t o d o s já nascemos programados c o m
c e r t o s t i p o s d e c o n h e c i m e n t o . Ele fez u m a d e m o n s t r a ç ã o d e q u e isso
seri a a s s i m i n t e r r o g a n d o o j o v e m e s c r a v o q u e p e r t e n c i a a u m a m i g o
dele, M e n ã o .
s \
A e x p l i c a ç ã o d e l e foi q u e n ó s t o d o s t e m o s u m a a l m a i m o r t a l , q u e j á
p a s s a m o s por existências anteriores. Dessa f o r m a , t u d o o
que aprendemos, na verdade, não passa de "reconhecimento", ou
a n a m n e s e (pal avra g r e g a q u e s i g n i f i c a m e m ó r i a ) .
22
A s form a s ideais
Esse " r e c o n h e c i m e n t o " c o n t r i b u i u p a r a
fazer d e Pl atão u m h o m e m d e " d o i s
m u n d o s " . S e g u n d o ele, a p e s a r d e existir
o m u n d o das coisas óbvias d o dia a dia,
existe t a m b é m outro, o das eternas e
p e r f e i t a s " f o r m a s " . Essas f o r m a s s e r i a m
c o m o model os perfeitos, d o s quais
s u r g e m as coisas singulares que nós
vemos; assim, por exemplo, as cadeiras
que vemos seriam meras cópias d a pura
f o r m a , o u d a f o r m a ideal d e " c a d e i r i s m o "
a ideia de cadeira. Só u m a categoria
de pessoas dotadas de certa forma
d e i n t e l i g ê n c i a - e q u e ele c h a m o u d e EU VEDO UMA MESA
"guardiães", seriam capazes de "ver" E UMA XÍCARA.
e s s a s f o r m a s i deai s. N e m t o d o m u n d o MAS NfíO CONSIGO
c o n c o r d o u c o m i sso. VER O MESISMO
(/PEIA PE MESA) E O
XICARISMO (IPEIA
PE XÍCARA).
23
A alegoria d a c a ve rna
Pl atão e x p l i c o u s u a t e o r i a d a s
ideias p o r m e i o d e u m a a l e g o r i a , u m
mito. Pessoas c o m u n s são c o m o
prisioneiros que vivem o t e m p o
todo dentro de uma caverna escura,
obri gados a só ver as s o m b r a s
projetadas por u m a fogueira na
parede da caverna. Sombras que
eles p e n s a m q u e s ã o reais.
24
Em seus trabalhos tardios, Platão
parece ter duvi dado das formas e
d a relação delas c o m c a d a objeto
no m u n d o e m q u e vivemos, objetos
c h a m a d o s de "particulares". O
sistema platónico é chamado de
" f e c h a d o " : s e a c e i t a r m o s o q u e ele
afirma sobre o conhecimento, então
teremos s u p o s t a m e n t e de aceitar
s u a s r íg i d a s c o n c e p ç õ e s s o b r e é t i c a
e p o l ít i c a . A p a r e n t e m e n t e , P l a t ã o
acreditava que todo conhecimento
p o d e ser t ã o e s t á v e l e a b s t r a i o c o m o
a m a t e m á t i c a - e i sso n ã o é b e m
a s s i m . Ele t a m b é m p a r e c e t e r f i c a d o
"enfeitiçado" c o m a esquisitice grega
que insinuava que para "conhecer"
realmente alguma coisa precisamos
experimentá-la, vivenciar s u a
experiência de m o d o direto.
SE SOUBERMOS O
QUE é A ^BELEZA",
ENTRO a COMO SE
TIVÉSSEMOS FICADO
FRENTE A FRENTE
COM SUA FORMA.
26
Arist ót e le s, o m e s t r e
Q u a n d o t i n h a d e z o i t o a n o s , A r i s t ó t e l e s ( 3 8 4 - 3 2 2 a.C.) c h e g o u a A t e n a s
vindo d a Macedónia, ao norte d a Grécia, para estudar na A c a d e m i a de
P l a t ã o . S e m d ú v i d a n e n h u m a ele g o s t o u d e e s t u d a r ali, p o r q u e a c a b o u
f i c a n d o p o r v i n t e a n o s . Q u a n d o Pl atão m o r r e u , A r i s t ó t e l e s foi e m b o r a d e
Atenas, se casou e voltou para a Macedónia.
ELE FOI
CONVIDADO POR
FELIPE, O REI DA
MACEDÓNIA, A SER
TUTOR DO FILHO
DELE, ALEXANDRE,
QUE ESTAVA COM
TREZE ANOS.
MAIS TARDE, EU
ME TORNEI O
CONQUISTADOR
ALEXANDRE, O GRANDE.
A n o s d e p o i s ele v o l t o u a A t e n a s ,
onde fundou sua própria escola
de filosofia, o Liceu. Mas, q u a n d o
A l e x a n d r e m o r r e u , ele a c h o u
m e l h o r sair d e A t e n a s , p o r q u e o
imperialismo macedóni o tinha se
tornado extremamente impopular.
A c a b o u m o r r e n d o n o exílio, e m
3 2 2 a n t e s d e n o s s a e r a , n a ilha
de Eugeia. No testamento q u e
deixou, pedia que seus escravos
fossem postos e m liberdade,
a p e s a r d e a n o s a n t e s ter d i t o q u e
aqueles cativos eram escravos
"por natureza".
27
Lógic a d e d u t i v a o u silogíst ic a
A r i s t ó t e l e s e s c r e v e u c e r c a d e q u a t r o c e n t o s livros, s o b r e a s s u n t o s q u e
iam d e moluscos a almas imortais.
28
Outras estruturas lógicas d o m e s m o tipo, c h a m a d a s d e silogismo,
p o d e m ser p r o d u z i d a s c o m " N e n h u m s a p o " e " A l g u n s s a p o s " . E s e o s
a r g u m e n t o s seguirem al gumas regras básicas ( c o m o não admitir mais
n a c o n c l u s ã o d o q u e nas p r e m i s s a s ) , e n t ã o o s i l o g i s m o s e r á v á l i d o . E
se as premissas forem verdadeiras, e o argumento for válido, então a
conclusão estará garantida, correta.
29
I nduç ã o e c iê nc ia
Aristóteles não tinha ficado
inteiramente convencido c o m
a b i z a r r a T e o r i a d a s Ideias, d e
Pl atão. Ele t a m b é m a c h a v a q u e o
m u n d o era feito d e " f o r m a s " , m a s
elas s e r i a m s i m p l e s m e n t e " t i p o s
n a t u r a i s " , o u e s p é c i e s . Para ele, o
papel d o cientista é descobrir o q u e
são essas "espécies" e explorar
s u a s p r o p r i e d a d e s . Esse foi u m
d o s motivos pelos quais Aristóteles
reconheceu a importância d a indução
Observando determinados sapos
nadando, podemos supor que todos
os s a p o s s a b e m nadar.
Ao sermos capazes de
general i zar d e s a p o s
e s p e c íf i c o s p a r a e s p é c i e s ,
e s t a m o s c o m e ç a n d o a fazer
c i ê n c i a . P o d e m o s utilizar
generalizações indutivas
s o b r e a s e s p é c i e s p a r a fazer
uma dedução sobre um sapo T o d o s o s sapos s a b e m nadar.
i n d i v i d u a l , e isso d á à c i ê n c i a o Isso é u m s a p o .
p o d e r d e fazer u m a p r e v i s ã o . O u s e j a , ele s a b e n a d a r .
30
Ca usa final
Para Aristóteles, só as coisas individuais existem, e não as " f o r m a s " .
Ele t a m b é m e s t a v a c o n v e n c i d o d e q u e t u d o t e m u m a " c a u s a f i n a l " , o u
função potencial. Assim, o fogo t e m o potencial constante de se mover
p a r a c i m a , e o s o b j e t o s p e s a d o s , d e cair, d e s e m o v e r p a r a b a i x o . O u t r a s
coisas c o m o plantas, animais e seres h u m a n o s t ê m funções muito mais
complexas.
ALGUMA COISA
BEM PARECIDA
COM UM CRIADOR
DIVINO.
O u s e j a , a é t i c a a r i s t o t é l i c a di z m a i s r e s p e i t o à p r ó p r i a real i zação d o q u e
ao que se entende por moral, no sentido de c ó d i g o de c o n d u t a .
33
Assum indo a s responsabilidades
Para Aristóteles, Sócrates estava errado ao acreditar q u e "virtude é
conhecimento".
RECUSAR A
VAIDADE E O
ORGULHO, E TOMAR
CUIDADO PARA PARA NÓS, O
NfíO SE APEGAR UNIVERSO é RACIONAL,
SENTIMENTALMENTE APESAR DE A VIDA
A OUTRAS PESSOAS. HUMANA, SOCIAL E
POLÍTICA SER MA E
CRUEL.
O e s t o i c i s m o foi o
p e n s a m e n t o m a i s i nfl uente
n o m u n d o r o m a n o , e atrai u
pessoas socialmente tão
diferentes c o m o o escravo
E p i t e t o (55-135) e o
imperador M a r c o Auré lio
(121-180).
A filósofa contemporânea
Martha Nussbaum
redescobriu u m a rica fonte
de teoria estóica ética e
p o l ít i c a e m C í c e r o
(106-43 a . C ) , S é n e c a
(4 a . C - 6 5 d . C ) e e m
Marco Aurélio, q u e
c o m p a r t i l h a v a m ideais
de cidadania mundial e
equidade.
38
Cé t ic os e c ínic os
O s c é t i c o s t a m b é m s e p e r g u n t a r a m c o m o vi ver
b e m , m a s a s o l u ç ã o q u e el es e n c o n t r a r a m
foi b e m d i f e r e n t e . O c e t i c i s m o foi i n v e n t a d o
p o r P i r r o (c. 3 6 0 - 2 7 2 a . C ) , q u e a f i r m a v a n ã o
ser n a d a s á b i o a c r e d i t a r n o q u e q u e r q u e
f o s s e . Ele l e v a v a e s s a c o n v i c ç ã o a o e x t r e m o ,
a n d a n d o n a b e i r a d e fal ési as e p a s s a n d o
na frente de cavalos, e morreu... d e velhice.
D i ó g e n e s , o C ín i c o ( 4 1 2 - 3 2 2 a . C ) , e r a u m
c o m p l e t o anarquista, vivia dentro d e u m a
b a r r i c a e e r a r u d e c o m t o d o m u n d o , i ncl usi ve
c o m Alexandre, o Grande.
O CETICISMO PRODUZ
ALEGRIA, PORQUE
TENDO CONVICÇÕES
NfíO DOGMÁTICAS
NOS LIBERTAMOS DAS
PREOCUPAÇÕES.
A e x e m p l o de Heráclito,
S e x t o E m p í r i c o dizia
que todo o conhecimento
é relativo e p o r i sso n ã o
digno de confiança, e
q u e n o limite n a d a p o d i a
ser p r o v a d o . ( P o r q u e
t o d a p r o v a p r e c i s a v a ser
provada, e o que provava
t a m b é m precisava ser
provado, e assim por
d i a n t e , a o infinito.) N o f i m
das contas, é claro que
os céticos trapaceavam
- el es e r a m d o g m á t i c o s
no q u e dizia respeito a
sua doutrina central, o
relativismo.
39
M a i s u m p o u q u i n h o d e hist ória
C o s t u m a - s e dizer q u e o Império R o m a n o d e s m o r o n o u no
século V antes de nossa era, porém a própria
cidade de Roma continuou sendo um importante ^
centro eclesiástico cristão. E a m e t a d e leste d o
império, Bizâncio, declarada e m 293 Império
R o m a n o Oriental, t e n d o Constantinopla c o m o
capital, resistiu até cair di ante d o s t u r c o s
e m 1453. A civilização árabe floresceu
s o b o islamismo, no sécul o VII, e se
espalhou pelo Norte d a África,
c h e g a n d o até a Espanha.
A c he ga da do c rist ia nism o
C o n s t a n t i n o (c. 2 8 5 - 3 3 7 ) f o i o p r i m e i r o i m p e r a d o r r o m a n o a a d o t a r
o c r i s t i a n i s m o e t r a n s f o r m á - l o e m religião oficial d o i m p é r i o (c. 3 2 0 ) .
A s s i m c o m e ç o u o p o d e r d a Igreja C a t ó l i c a d e R o m a , q u e t r a t o u d e
t e n t a r i m p o r s u a c u l t u r a p o r t o d a a E u r o p a O c i d e n t a l . A Igreja t i n h a
o m o n o p ó l i o d e t o d a s as f o r m a s d e p e n s a m e n t o f i l o s ó f i c o e r e p r i m i a
a t i v a m e n t e q u a l q u e r i dei a o u v i s ã o d e m u n d o i n d e p e n d e n t e , o u n ã o
de acordo c o m sua doutrina.
41
Os pa is d a Igreja
O s p r i n c i p a i s p e n s a d o r e s d e s s e p e r ío d o s ã o e m geral c o n h e c i d o s
c o m o " p a i s " d a Igreja, p o r q u e eles e x p l i c i t a r a m e e s t a b e l e c e r a m a s
d o u t r i n a s c e n t r a i s d a Igreja C a t ó l i c a e s u a s c o m p l i c a d a s c r e n ç a s .
Eles f o r a m c o n s i d e r a d o s f i l ó s o f o s p o r q u e a c r e d i t a v a m q u e D e u s
t e r i a d o t a d o o s s e r e s h u m a n o s d e razão p a r a p o d e r e m a r g u m e n t a r
e d i s c u t i r p r o b l e m a s t e o l ó g i c o s . T u d o i sso e s t a v a b e m m a i s p a r a
s u p e r s t i c i o s a e c e g a f é c r i s t ã d o q u e p a r a fi l osofi a...
42
O p r o b l e m a d o de m ónio
A g o s t i n h o di zi a q u e a c u l p a d o n a s c i m e n t o d o d e m ó n i o é n o s s a , e
não d e Deus. O probl ema d o d e m ó n i o não teria aconteci do se Deus
tivesse programado autómatos " b o n s " e m vez de seres humanos. Mas,
g e n e r o s a m e n t e , Ele n o s c r i o u livres, i n d i v íd u o s a u t ó n o m o s .
s Xl
Isso foi u m a b o a n o t íc i a p a r a o s c i e n t i s t a s m e d i e v a i s , p o r q u e
significava que a ciência não era necessariamente u m a atividade
h e r é t i c a . A d o u t r i n a d e T o m á s d e A q u i n o t a m b é m d i z i a q u e , e m raras
o c a s i õ e s , e r a a c e i t á v e l d e s o b e d e c e r à lei secul ar, d e s d e q u e f o s s e
p o r a c r e d i t a r q u e el a c o n t r a r i a v a a lei d i v i n a .
46
A navalha de
Occam
Teólogos tardios, c o m o
Guilherme de Oc c a m
(1285-1349), deram
continuidade à escolástica
n o q u e diz r e s p e i t o a o s
espinhosos problemas
de linguagem, lógica
e significado. O c c a m
t a m b é m era nominalista,
e foi ele q u e m d i s s e q u e
um monte de problemas
filosóficos não passava
de blá-blá-blá sobre
entidades imaginárias.
N a opinião dele, as
grandes verdades em
geral s ã o s i m p l e s , p o r
i sso é t o l o preferir u m a
resposta complicada
e m vez de u m a resposta
s i m p l e s . Esse p r i n c íp i o
ficou conhecido c o m o
"a navalha de O c c a m " e
foi s u p e r i m p o r t a n t e p a r a
a ciência - m e s m o que
não tenha influenciado
a própria filosofia,
infelizmente.
é UMA BOBAGEM
FAZER COM MAIS,
QUANDO SE PODE
FAZER COM MENOS.
47
Humanismo
renascentista
O complexo acontecimento
h i s t ó r i c o e cul tura l c o n h e c i d o
c o m o Renascença, ou
Renascimento, c o m e ç o u no
N o r t e d a Itália n o s é c u l o XIV e
se espalhou por t o d a a Europa,
durante dois séculos.
/
^HUMANISMO"
RENASCENTISTA SIGNIFICA
QUE FILÓSOFOS PASSARAM
A PODER PENSAR SOBRE
A ATIVIDADE HUMANA E
SOBRE IDEIAS...
v
r
E SE CONCENTRAR MENOS NA
EXISTÊNCIA E NA NATUREZA
DE DEUS.
N i c o l a u M a q u i a v e l (1469-1527)
observou o comportamento
completamente sem escrúpulos
e cruel d o s g o v e r n a n t e s italianos
da Renascença, e chegou à
c o n c l u s ã o d e q u e a p o l ít i c a é
um jogo sujo e necessário, de
traição e de trapaças. Em seu
livro O príncipe, ele s u g e r i u
q u e m o r a l i d a d e e p o l ít i c a n ã o
combinam.
50
XG X X :;X X X Í > x?x . ^ x x x G x e o b X y x x ; . x n x - í G - G - ^ x \ x x * > : > ; - . 7 Í V X ' ; ^
O i ngl ês T h o m a s Hobbes
(1588-1679) fez u m balanço
b e m p e s s i m i s t a d o ser h u m a n o
e m s e u livro Leviatã. Ele e r a
f a s c i n a d o p e l o ri gor d e d u t i v o
d a geometria e acreditava que
o a r g u m e n t o lógico poderia ser
usado para produzir u m a filosofia
p o l ít i c a . A c o n c e p ç ã o d e l e d e
natureza humana, c h a m a d a
de e goísm o psic ológic o, é
mecanicista e profundamente
c ín i c a .
OS SERES HUMANOS
SÃO CRUÉIS E
EGOÍSTAS POR
INSTINTO, POR
ISSO QUALQUER
TENTATIVA PE
TORNÃ-LOS SERES
MORAIS É UMA
PERPA PE TEMPO.
XX X X ^ b X ^ j 30:T;Bv<0p a X
OXXX-X X ' "'Li X X X X i,íy':.:;
51
A t e oria do c ont ra t o soc ia l
Hobbes acreditava que, em um esforço desesperado para escapar d a
m o r t e n a p r ó p r i a c a m a , as p e s s o a s e g o ís t a s s e r i a m o b r i g a d a s a selar
u m a s c o m as o u t r a s u m " c o n t r a t o s o c i a l " r e c íp r o c o . M a s u m c o n t r a t o
e n t r e i n d i v íd u o s c r u é i s p r e c i s a r i a o b r i g a t o r i a m e n t e ser r e f o r ç a d o p o r
u m segundo "contrato governamental", que permitisse aos governos
punir q u e m não respeitasse o primeiro.
Por f i m , a s e x p e r i ê n c i a s a m a d o r a s q u e ele f e z a c a b a r a m m a t a n d o - o .
Ele m o r r e u d e b r o n q u i t e , p r o v o c a d a p o r s u a s r e p e t i d a s e x p o s i ç õ e s a o
frio d o i n v e r n o p a r a ir s o c a r n e v e n a g a r g a n t a d e u m a g a l i n h a . Ele q u e r i a
d e s c o b r i r s e o fri o a p r e s e r v a r i a .
53
Orige ns d a filosofia M ode rna
Considera-se q u e a filosofia dita M o d e r n a c o m e ç o u c o m R e n é
D e s c a r t e s (1596-1650), o matemático francês que não aceitava
as r e s p o s t a s f i l o s ó f i c a s t r a d i c i o n a i s , i n s i s t i n d o e m s u a a u t o n o m i a
i n t e l e c t u a l . Ele e s t u d o u o t r a b a l h o i nterno d a m e n t e e m s u a r e l a ç ã o
c o m o m u n d o externo e enfatizou a diferença entre perceber e pensar.
Seu método de dúvida sistemática é um trabalho introspectivo e
autobiográfico, mas t a m b é m extremamente objetivo e lógico.
3 x o > rxT un :a x x x x p e m .;
A t é m e s m o s e u s p e n s a m e n t o s a b s t r a t o s p o d i a m e s t a r e r r a d o s o u ser
i l usóri os. Tal vez u m d e m ó n i o invisível o t i v e s s e h i p n o t i z a d o , l e v a n d o - o a
pensar que estava acordado, fazendo cálculos matemáticos elaborados,
o que na verdade era falso.
55
Cogito ergo sum
A dúvi da cartesiana é cumulativa e implacável. Descartes sugeriu que
n ã o e x i s t e c o n h e c i m e n t o g a r a n t i d o . Ele d i z i a n ã o p o d e r t e r c e r t e z a n e m
m e s m o d a e x i s t ê n c i a real d o p r ó p r i o c o r p o . M a s ele a f i r m a v a p o d e r t e r
certeza absoluta de q u e seus pensamentos existiam: duvidar é pensar,
p o r i sso, a o d u v i d a r , ele e s t a v a p e n s a n d o . C o m e s s e i nsi ght, D e s c a r t e s
descobriu o " c o g i t o " .
/ /
57
A he ra nç a c a r t e s i a n a
O p e n s a m e n t o sol i tári o d e D e s c a r t e s (o c o g i t o ) p a r e c e p a r t i c u l a r e
inviolável, m a s a i n d a a s s i m ele é c o m p o s t o d e p a l a v r a s , c o m u m
conjunto d e regras gramaticais e t o d a u m a história cultural por trás. E
tal vez a p r o c u r a h u m a n a d e u m a c e r t e z a a b s o l u t a e n ã o h u m a n a s e j a
m a l c o n s t r u íd a . M a s m e s m o a s s i m t e m o s d e a g r a d e c e r a D e s c a r t e s ,
p o i s a h e r a n ç a q u e ele d e i x o u p e r m i t i u q u e p e n s a d o r e s p o s t e r i o r e s
l e v a s s e m s e u s q u e s t i o n a m e n t o s a i n d a m a i s l onge...
58
Que st õe s
espinosanas
B a r u c h S p i n o z a (1632-1677),
ou Benedito Espinosa, c o m o
p r e f e r i r e m , foi u m j u d e u h o l a n d ê s
que, c o m o D e s c a r t e s , t a m b é m
l e v a v a u m a v i d a sol i tári a.
P e n s a d o r livre, ele a c a b o u
sendo excomungado e expulso
d a comuni dade judaica, além
d e ser p r o i b i d o d e d a r a u l a s , o
que o obrigou a sobreviver c o m
bastante dificuldade d o seu
t r a b a l h o d e p o l i d o r d e l entes.
Esse t r a b a l h o a f e t o u s e u s Spinoza seguiu adiante c o m o
p u l m õ e s e o l evou à m o r t e . quebra-cabeça do problema
cartesiano d a "substância".
C o m o tinha afirmado Descartes,
existem dois tipos de totalidades
a u t ó n o m a s - a m e n t a l e a f ís i c a .
C o m o , e n t ã o , elas c o n s e g u e m
interagir?
E COMO UMA
SENSAÇÃO FÍSICA
PODE AFETAR A
MENTE?
A resposta de Spinoza, em
s u a É t i c a (1677), foi refutar
o dualismo cartesiano.
O monismo e spinosa no
Spinoza recorreu ao m é t o d o dedutivo d a geometria para demonstrar
q u e s ó e x i s t e uma s u b s t â n c i a - D e u s , a q u i l o e m q u e t u d o o m a i s
e x i s t e , c o m o u m modo de ser. E m o u t r a s p a l a v r a s , e x i s t e u m s i s t e m a
d e leis c i e n t íf i c a s d o q u a l a e x p e r i ê n c i a d a N a t u r e z a p o d e ser
deduzida. Nós só c o n h e c e m o s dois atributos divinos: o p e n s a m e n t o
(mente) e a e x t e n s ã o (corpo), m a s a m b o s o s m o d o s d e ser s ã o
a m e s m a coisa, expressada de dois jeitos diferentes. T o d o objeto
(modo d e extensão) é idêntico ao m o d o d e pensamento, exatamente
c o m o o c o r p o h u m a n o e a m e n t e . S e r á q u e isso q u e r di zer q u e as
pedras "pensam"?
O c o n c e i t o c e n t r a l d e Lei bni z é q u e o p e n s a m e n t o d e D e u s c o n t e r i a u m a
i n f i n i d a d e d e mundos possíveis, m a s s ó u m t e r i a s e real i zado, o melhor
d e t o d o s . O q u e d e c i d e o " m e l h o r " é u m m ín i m o d e c a u s a s (leis o u
s i g n i f i c a d o s ) e u m m á x i m o d e e f e i t o s ( e s t a d o s o u fins).
61
Devemos imaginar a m ô n a d a c o m o u m a s u b s t â n c i a individual..
1. q u e c o n t é m t o d o c o n c e i t o c o e r e n t e c o m el a, m a s n e n h u m o u t r o ;
2. ela não t e m partes, m a s "acidentes" das qualidades e tendênci a
mentais;
3. [não exi ste] n e n h u m a r e l a ç ã o c a u s a l e n t r e m ô n a d a s , m a s s ó e n t r e
seus estados;
4. c a d a m ô n a d a é u m m i c r o c o s m o à p a r t e , q u e reflete o
m a c r o c o s m o p o r inteiro;
5. e s s e m u n d o p o s s ív e l e x i s t e p o r q u e D e u s o c r i o u p o r u m
i m p e r a t i v o m o r a l , m a s n ã o n e c e s s a r i a m e n t e f ís i c o .
Lei bni z f i c o u c o n h e c i d o c o m o o
NO UNIVERSO PE
"Aristóteles d o m u n d o m o d e r n o " ,
MôNADAS, O ESPAÇO
p o r q u e e m sua grande teoria fez é RELATIVO AO LUGAR
um esforço de conciliação d o INDIVIDUAL DAS COISAS,
pensamento escolástico c o m E O TEMPO é RELATIVO
o n o v o r a c i o n a l i s m o c i e n t íf i c o . A SEUS SUCESSIVOS
Lei bni z d i v i d e c o m N e w t o n a ESTADOS
autoria d o conceito de que espaço
e t e m p o s ã o a b s o l u t o s e i nfi ni tos.
62
Voltaire e o I lum inism o
Lei bni z h a v i a p r o d u z i d o e e l a b o r a d o u m m o d e l o m e t a f ís i c o p a r a
descrever a estrutura básica d o universo. Mas será verdade? E c o m o
determinar se é verdade o u não? Essa questão revelou o p o n t o fraco
d a f i l o s o f i a r a c i o n a l i s t a t a n t o d e Lei bni z q u a n t o d e S p i n o z a . A n o v e l a
C â n d i d o , de V o l t a i r e (1694-1778) - u m das maiores figuras d o
I l u m i n i s m o - , s a t i r i z a v a a v i s ã o s u p e r o t i m i s t a d e Lei bni z d o " m e l h o r
d e t o d o s o s m u n d o s p o s s ív e i s " . O I l u m i n i s m o foi u m a e r a d e
radicalismo social e d e renovada confi ança no p o d e r d a razão, sobre
o d o g m a , a superstição e a tirania.
L o c k e e o e m p i r i s m o brit â nic o
J o h n L o c k e ( 1 6 3 2 - 1 7 0 4 ) a d o t o u a m a i o r p a r t e d a s ideias d e D e s c a r t e s
s o b r e a m e n t e e a p e r c e p ç ã o , m a s foi t a m b é m o f u n d a d o r d o e m p i r i s m o ,
q u e insistia q u e o c o n h e c i m e n t o h u m a n o b á s i c o d e v e t e r o r i g e m
n o s s e n t i d o s . Ele t a m b é m e r a d e o p i n i ã o q u e a d o u t r i n a c a r t e s i a n a e
p l a t ó n i c a d e i dei as i natas é r i d íc u l a , e q u e a m a i o r p a r t e d a m e t a f ís i c a
não faz sentido.
DEPOIS DESSE
PROCESSO INICIAL, AS
EXPERIÊNCIAS PODEM
SER CLASSIFICADAS
E ESTOCADAS NA
MEMÓRIA.
S ó e n t ã o a m e n t e p o d e c o m e ç a r a reunir e a f o r m a r a s p r ó p r i a s
ideias, e a p e n s a r i n d e p e n d e n t e m e n t e d o s s e n t i d o s .
64
Locke concordava c o m Descartes que
nossa experiência d o m u n d o é sempre
i ndi reta. T u d o o q u e n o s s a m e n t e
efetivamente tem c o m o experiência são
representações de imagens mentais,
o que significa que não p o d e m o s
ter qualquer conhecimento d a
"substância" d a qual o m u n d o é feito.
Locke também concordava que nossa
experiência, nossa vivência de qualquer
o b j e t o , c o m o u m a laranja, p o r e x e m p l o ,
é mista.
AS QUALIDADES
4
^SECUNDARIAS"
RS QUALIDADES PRIMARIAS" PE PE COR, AROMA
TAMANHO E PESO ESTÃO *NR" EGOSTO SÃO
LARANJA E SÃO OBJETIVA E MEROS EFEITOS DA
CIENTIFICAMENTE MENSURÁVEIS. LARANJA SOBRE
NOSSOS ÓRGÃOS
DOS SENTIDOS,
E POR ISSO SÃO
SUBJETIVOS E
RELATIVOS.
O m u n d o d e L o c k e é u m lugar
monocromáti co e sem aroma, no
qual nós, seres humanos, vivemos
nossas experiências d o único
jeito q u e c o n s e g u i m o s : colorido
e cheiroso. Se nós f ô s s e m o s d e
outro planeta e equipados c o m
órgãos d o s sentidos diferentes
d o s q u e t e m o s , e n t ã o as laranjas
continuariam sendo redondas, mas
as qualidades secundárias poderiam
ser o u t r a s . M a s L o c k e n u n c a
duvidou d a existência de um m u n d o
exterior ao nosso, q u e o fazia ter
essas experiências mentais.
65
O idealismo de Be rk e le y
O bispo G e o r g e B e r k e l e y (1685-1753) transformou o empirismo
d e L o c k e e m u m p e n s a m e n t o m u i t o m a i s m e t a f ís i c o - n o r m a l m e n t e
c o n h e c i d o c o m o i d e a l i s m o . Ele u s o u c o m o p o n t o d e p a r t i d a a p r ó p r i a
ilógica distinção entre primário e secundário, d a filosofia de Locke,
p a r a d e m o n s t r a r q u e o s d o i s a s p e c t o s n ã o p o d e m ser s e p a r a d o s . N ã o
é p o s s ív e l d i s t i n g u i r o f o r m a t o original d e u m o b j e t o s e m o a s p e c t o
secundário, a c o r . Então, por q u e assumir que algumas experiências
são "reais" e outras só "mentais"? Berkeley chegou à conclusão de que
t o d a s as nossas experiências são mentais, causadas por Deus, e que
t o d a s a s n o s s a s v i v ê n c i a s di ári as, m a i s b a n a i s , s ã o u m a g i g a n t e s c a
i l usão. Ele f o r m u l o u e s s e p e n s a m e n t o n a f a m o s a m á x i m a : e s s e est
percipi, existir é ser p e r c e b i d o . F e l i z m e n t e , D e u s f a z q u e n o s s a s i l usões
sejam coerentes e consistentes, de m o d o que nossas experiências
venham em "pacotes".
66
U m a das implicações disso é q u e quando as coisas não estão sendo
p e r c e b i d a s , elas d e i x a m d e existir. E s s a i dei a é b e m difícil d e acei tar,
m a s o s f i l ó s o f o s g o s t a m b a s t a n t e d e l a , p o r q u e é difícil p r o v a r o
c o n t r á r i o . A f i n a l , c o m o é q u e n ó s p o d e r ía m o s " p u l a r " p a r a f o r a d o s
n o s s o s s e n t i d o s p a r a c o n s e g u i r refutar o q u e B e r k e l e y di z?
Elas s e b a s e i a m n a i n d u ç ã o - n o s s a s
observações passadas de máquinas,
plantas e planetas mas nenhuma
delas está ligada a qualquer certeza
absoluta.
E, o q u e é m a i s i n q u i e t a n t e , ele t a m b é m t i n h a d ú v i d a s s o b r e a
e x i s t ê n c i a d o e u , j á q u e n ã o é p o s s ív e l d e t e c t á - l o : " S e m p r e q u e
questiono o que c h a m o de eu [mesmo]..., eu t r o p e ç o e m u m a ou
o u t r a p e r c e p ç ã o . . . , m a s eu n u n c a c o n s i g o c a p t a r , a g a r r a r a m i m
mesmo, em nenhum momento, sem a percepção".
70
O primitivo e st a do
d e inoc ê nc ia d e
Rousseau
Vol tai re e r a u m g r a n d e a d m i r a d o r
dos escritos de Locke sobre os
c h a m a d o s "direitos naturais".
Locke defendia a tese de que
s e g u r a m e n t e o s i n d i v íd u o s t ê m
a l g u n s d i r e i t o s inalienáveis, c o m o o
di rei to à p r o p r i e d a d e , l i b e r d a d e d e
consciência e d e expressão, e até
m e s m o o di rei to d e s e revol tar c o n t r a
g o v e r n o s e leis i n j u s t o s . M a s foi o
s u íç o J e a n - J a c q u e s R o u s s e a u
(1712-1778), um pré-romântico,
q u e m se transformou no pensador
p o l ít i c o m a i s i m p o r t a n t e d o final d o
s é c u l o XVIII. R o u s s e a u n ã o a c e i t a v a
a d o u t r i n a h o b b e s i a n a d e q u e o ser
humano é malvado por natureza.
E s s a s n e c e s s i d a d e s artificiais
e s t i m u l a r a m a g a n â n c i a artificial.
É p o r i sso - s e g u n d o R o u s s e a u -
que as pessoas d a era pré-social
eram c o m o crianças e selvagens,
m o r a l m e n t e s u p e r i o r e s . Ele
pregava u m a "volta à Natureza",
o que acabou influenciando o
m o v i m e n t o cul tural c o n h e c i d o
c o m o romantismo.
71
A vontade geral
Pior a i n d a , R o u s s e a u a c r e d i t a v a q u e a s leis d a s o c i e d a d e d e v e r i a m
ser a e x p r e s s ã o d o q u e c h a m o u d e " v o n t a d e g e r a l " , q u e s e m p r e
e s t a r i a c e r t a . N u n c a f i c o u c l a r o c o m o i sso a c o n t e c e r i a n e m q u a n d o
isso d e v e r i a ser e x e c u t a d o . Infel i zmente, s i t u a ç õ e s r e v o l u c i o n á r i a s
s e m p r e p r o d u z e m i deal i stas e o p o r t u n i s t a s f e r r e n h o s , d i s p o s t o s a s e
declarar a própria encarnação dessa entidade abstrata, que passam a
impor c o m violência aos demais.
72
A resposta de Kant a Hume
I m m a n u e l K a n t (1724-1804) era
u m professor solteirão meticuloso e
tão metódico que os moradores de
Kõnisberg acertavam os relógios e m
função d a rotina diária de Kant, o u
s e j a , p e l o horári o e m q u e ele p a s s a v a
p o r d e t e r m i n a d o s l u g a r e s . Ele t i n h a
um empregado chamado Lampe,
que andava atrás dele segurando u m
g u a r d a - c h u v a , a o n d e q u e r q u e ele
f o s s e , s ó p a r a o c a s o d e ser n e c e s s á r i o .
Kant declarou ter d e s p e r t a d o d o
sono racionalista no qual tinha estado
mergulhado lendo Hume. Mas não
MINHA RESPOSTA FOI PARA
concordava c o m a asserção de Hume
ARGUMENTAR CONTRA A
de que nós acreditamos na causalidade TEORIA PE HUME, PE QUE O
porque somos doutrinados por nossas CONHECIMENTO QUE TEMOS
experiências passadas sobre o m u n d o . PO NOSSO MUNDO NÃO PODE
VIR Só DA OBSERVAÇÃO.
DIZEM AS MÃS-UNGUAS
QUE HERR PROFESSOR
KANT GOSTA DA
COMPANHIA DE MULHERES
BONITAS E INTELIGENTES.
A MENTE ORGANIZA E
SISTEMATIZA O QUE NÓS
VIVENCIAMOS COM SUAS
PRÓPRIAS INTUIÇÕES"
E "CATEGORIAS"
PROGRAMADAS, QUE
TÊM O SENTIDO DE
TODOS OS DADOS
QUE NOS INUNDAM
ININTERRUPTAMENTE,
POR MEIO DE NOSSOS
SENTIDOS.
H u m e a f i r m a v a q u e c o n s t r u ím o s g r a d u a l m e n t e n o s s o a p a r a t o c o n c e i t u a i
feito d e nossas experiências. Kant replicou que, a m e n o s que t e n h a m o s
u m a e s p é c i e d e a p a r a t o c o n c e i t u a i m e n t a l p a r a d a r início a o p r o c e s s o ,
n e n h u m a e x p e r i ê n c i a seri a j a m a i s p o s s ív e l . O u sej a, ele foi o q u e
p o d e r ía m o s c h a m a r d e i d e a l i s t a s o f i s t i c a d o . " P e n s a m e n t o s s e m
c o n t e ú d o são vazios, intuições s e m conceitos são cegas."
74
Mundo fe nom e na l e
mundo noum e na l
De m o d o a i n d a m a i s f u n d a m e n t a l , t o d a s
a s n o s s a s e x p e r i ê n c i a s p r e c i s a m ser
incentivadas por meio das "formas d a
intuição" - t e m p o e espaço. Assim,
e m certa medida, nossa vivência d o
m u n d o é nossa própria criação, pois é
organizada por nós. Mas, apesar disso,
s ã o l i mi tes r i g o r o s o s d e c o m o e o q u e n ó s
vivenciamos. Não p o d e m o s escolher o
"input" que os nossos órgãos dos sentidos
nos dão, e não p o d e m o s mudar o jeito
c o m o a nossa mente é concebida.
Kant c h e g o u à c o n c l u s ã o d e q u e a c i ê n c i a h u m a n a
combina c o m o mundo dos fenómenos (também
chamado de m u n d o fe nom ê nic o) e que a
religião p e r m a n e c e n o d o m ín i o d o d e s c o n h e c i d o
mundo d o noumenal (também chamado de m u n d o
n o u m ê n i c o ) - o q u e faz q u e c i ê n c i a e religião n ã o
e n t r e m e m confl i to u m a c o m a o u t r a . M a s , s e t u d o
o q u e c o n s e g u i m o s vivenciar é o m u n d o f e n o m e n a l ,
c o m o é q u e p o d e m o s confi ar n a e x i s t ê n c i a d o
mundo noumenal?
O i m p e r a t i v o c a t e góric o
Kant defendia a tese d e que, diferentemente d o s objetos materiais,
nós, s e r e s h u m a n o s , p o d e m o s e s c a p a r d o m u n d o d a c a u s a l i d a d e .
P r e c i s a m o s t e r v o n t a d e p r ó p r i a e e s c o l h e r m o s ser s e r e s m o r a i s .
"Dever implica poder."
FUNCIONA ASSIM: SB
DECIDIRMOS MENTIR, ANTES
PRECISAMOS IMAGINAR O
QUE ACONTECERIA SE TODO
MUNDO MENTISSE.
A s s i m , m e n t i r é irracional e p o r i sso e r r a d o . K a n t a c r e d i t a v a e m D e u s
e a c h a v a q u e a religião p o s s i b i l i t a a p e s s o a s c o m u n s q u e o m u n d o
f a ç a s e n t i d o , q u a n d o m u i t a s v e z e s ele p a r e c e i m o r a l . M a s t a l v e z haj a
m a i s m o r a l d o q u e s e m p r e o b e d e c e r a u m c o n j u n t o d e leis m o r a i s
obrigatórias, i ndependentemente das circunstâncias individuais.
P o d e m o s pensar e m ocasiões nas quais mentir é a única coisa moral
q u e p o d e ser f e i t a .
76
A dia lé t ic a h e g e l i a n a
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831) era d e opinião - talvez c o m
certo exagero - que só o próprio sistema
f i l o s ó f i c o c o n s e g u i r i a revelar a s v e r d a d e s
fundamentais sobre t o d a a realidade e t o d a
a história humana. A filosofia d e Hegel é
d e tirar o f ô l e g o e e s c r i t a e m u m j a r g ã o
h e g e l i a n o a b s t r a t o , o q u e a t o r n a difícil d e
entender.
MAS EXISTE
OUTRA LÓGICA.
O CONHECIMENTO
TEM UMA HISTÓRIA
EVOLUTIVA, QUE é
FEITA PE CONCEITOS,
E NÃO ISOLADA
DE PROPOSIÇÕES
VERDADEIRAS OU
FALSAS.
Ideias n a s c e m e e v o l u e m
gradualmente na direção
de um melhor sentido e de
uma maior compreensão d a
realidade, e m u m processo por
ele c h a m a d o d e d i a l é t i c a .
77
Lógic a dia lé t ic a
A história s e m p r e lutou entre diferentes conceitos, q u e pretenderam
ser - c a d a u m e t o d o s eles - a m e l h o r d e s c r i ç ã o d a r e a l i d a d e . M a s
u m c o n c e i t o , o u t e s e , vai s e m p r e g e r a r a u t o m a t i c a m e n t e u m a t e s e
c o n t r á r i a , a a n t í t e s e , e e n t ã o vai a c o n t e c e r a f a m o s a l u t a e n t r e
a s d u a s . Isso a t é q u e o c o r r a u m a s í n t e s e d a s d u a s , o u s e j a , u m
conceito melhorado.
Esse é u m b a l a n ç o e v o l u c i o n i s t a
e rel i gi oso s o b r e a m e n t e e a
civilização humanas, no qual
a m b a s passam por vários estágios,
a t é q u e o " e s p ír i t o a b s o l u t o " e a
harmonia social sejam alcançados.
O e s t u d o d a história, na visão d e
H e g e l , p o d e r i a a j u d a r a fazer u m a
superdescoberta, de preferência a
mente de Deus.
O c o n h e c i m e n t o e a c onsc iê nc ia
humanos
A m e t a f ís i c a h e g e l i a n a t r a t a d a n a t u r e z a m e s m a d o p e n s a m e n t o . Para
Hegel , a filosofia t i n h a se t o r n a d o d e m a s i a d o estreita, r e d u c i o n i s t a ,
f o c a n d o s o m e n t e q u e s t õ e s t é c n i c a s s o b r e o c o n h e c i m e n t o . S e g u n d o ele,
a filosofia p r e c i s a v a d a r m a i s a t e n ç ã o a o p r o c e s s o hi stóri co d a c u l t u r a
e d o p e n s a m e n t o h u m a n o s . C o m o Kant, ele e r a u m " i d e a l i s t a " , p o r isso
concordava c o m seu antecessor quanto a nós nunca conhecermos o
m u n d o d i r e t a m e n t e p o r m e i o d o s n o s s o s s e n t i d o s , m a s s e m p r e d e u m jeito
q u e c o n t a c o m a m e d i a ç ã o , c o m o filtro d o n o s s o espíri to: d a n o s s a m e n t e ,
d a n o s s a c o n s c i ê n c i a . M a s Hegel foi m a i s l onge, levou e s s a c o n c e p ç ã o
a i n d a m a i s adi ante.
R REALIDADE é COMPOSTA
PELA MENTE E é UMA
CRIAÇÃO DELA. NÃO EXISTE
MUNDO ""NOUMENAL".
H e g e l t a m b é m foi a u t o r d e u m a n o v a e p r o f u n d a m a n e i r a d e p e n s a r a
c o n s c i ê n c i a i ndi vi dual e a l i b e r d a d e p e s s o a l .
80
O estado e o fim
d a hist ória
H e g e l referi a-se à P r ú s s i a
a u t o c r á t i c a , n a q u a l ele m e s m o
vi vi a, e v i a nel a u m a e s p é c i e d e
"superpessoa" que tinha atingido
o e s t á g i o final d a e v o l u ç ã o . Ele e
seus compatriotas seriam só u m a
pequena amostra dessa entidade
maior, d a qual teriam adquirido
esse status de identidade
e moral.
O REAL é RACIONAL.
U m j ei to d e c o n s e g u i r fazer isso é r e c o r r e r
a a t i v i d a d e s a r t ís t i c a s c o n t e m p l a t i v a s ;
o u t r o é levar u m a v i d a a b n e g a d a d e
R ÚNICA MANEIRA a s c e t a . S c h o p e n h a u e r foi o p r i m e i r o
PE ESCAPAR DESSA grande filósofo ocidental a sofrer a
ENGRENAGEM é DAR
i n f l u ê n c i a d o b u d i s m o . S u a s i dei as, q u e
UM FIM AO DESEJO.
atualmente já não t ê m a importância que
tiveram, causaram um grande impacto em
figuras importantes c o m o o composi tor
alemão R i c h a r d W a g n e r (1813-1883) e
N i e t z s c h e , u m f i l ó s o f o ím p a r .
83
Nietzsche: o anticristo
Fri edri ch N i e t z s c h e ( 1 8 4 4 - 1 9 0 0 ) ,
a p e s a r d e ter r e c e b i d o u m a r i g o r o s a
e d u c a ç ã o luterana (protestante), c o m o
muitos outros filósofos alemães,
t o r n o u - s e hostil a o c r i s t i a n i s m o
e rej ei tava c a t e g o r i c a m e n t e a s
crenças em qualquer tipo de m u n d o
"transcendente" ou "noumenal".
f \
DEUS ESTA MORTO...
E NÓS TEMOS MESMO
DE MATA-LO.
s \
A VERDADE, ASSIM COMO A MORALIDADE,
a ALGO RELATIVO. NÃO EXISTEM FATOS, Só
INTERPRETAÇÕES DE FATOS.
N i e t z s c h e foi o g r a n d e p r e c u r s o r d o p ó s - m o d e r n i s m o , o u sej a, d a n o s s a
é p o c a . S e m ele n ã o t e r ía m o s t i d o W i t t g e n s t e i n (ver p. 138) n e m D e r r i d a
(ver p. 162) - o d e s c o n s t r u t i v i s m o e as a r m a d i l h a s d a l i n g u a g e m . ("Nós
j a m a i s c o n s e g u i r e m o s n o s livrar d e D e u s , e n q u a n t o n ã o c o n s e g u i r m o s
n o s livrar d a g r a m á t i c a . " ) A p r ó p r i a t e o r i a d o c o n h e c i m e n t o d e F o u c a u l t
(ver p. 166) d e v e e n o r m e m e n t e à s ideias d e N i e t z s c h e s o b r e g e n e a l o g i a
e vontade de poder.
86
Et e rno retorno
Nietzsche t a m b é m propôs u m a "ciência
alegre", divertida: a d o eterno retorno.
E s s a i dei a t i n h a s i d o s u g e r i d a p o r u m d o s
pré-socráticos, Heráclito, q u e defendia
a t e s e d e q u e o t e m p o é c íc l i c o ,
r e p e t i n d o - s e e t e r n a m e n t e . E s s a foi a
sutil c r ít i c a d e N i e t z s c h e a o m o r a l i s t a
imperativo categórico de Kant e à
tenebrosa visão de Schopenhauer sobre
o d e s e j o ser a c a u s a d o s o f r i m e n t o . O
e t e r n o r e t o r n o é u m cri téri o p a r a c a d a u m
julgar o valor e os valores d a própria vida.
U m a p e s s o a se t o r n a c r i s t ã d i a n t e d e u m a " i n c e r t e z a o b j e t i v a " d e
q u e D e u s n ã o p o d e ser p r o v a d o . Isso n ã o t e m n a d a a ver c o m
a " c r i s t a n d a d e p ú b l i c a " d a s o c i e d a d e l u t e r a n a n a q u a l ele vi vi a
e q u e o c r i t i c a v a d u r a m e n t e . A fé d e l e e r a i r ó n i c a , b r i n c a l h o n a e
a p a i x o n a d a . A l é m d i s s o , ele e s c r e v i a c o m o u m n o v e l i s t a , u s a n d o
vários p s e u d ó n i m o s , contrariando o jeito seco e abstrato d e
fi l osofar.
• 89
Do i d e a l i s m o a o m a t e r i a l i s m o
Por m a i s d e o i t e n t a a n o s , o p e n s a m e n t o i deal i sta a l e m ã o d e f e n d e u
a t e s e d e q u e o m u n d o e r a f e i t o d e ideias, m e s m o q u e h o u v e s s e
d e s a c o r d o s s o b r e a n a t u r e z a d e s s a s i dei as e s o b r e c o m o a s
p e s s o a s a s c o n h e c i a m . L u d w i g F e u e r b a c h ( 1 8 0 4 - 1 8 7 2 ) foi u m a
personagem-chave na mudança que produziu uma nova concepção
d a visão hegeliana d e a lie n a ç ã o . Segundo Hegel, a consciência
progride estabelecendo diferenças que contrariam a ela m e s m a , e
e m seguida tenta, pela intuição, ultrapassar essa contradição ou
autoalienação. C o m o consequência, já que é assim que a mente
a v a n ç a e p r o g r i d e , e n t ã o o erro d a religião t o r n a - s e ó b v i o .
90
M a r x e o m a t e r i a l i s m o dia lé t ic o
K a r l M a r x (1818-1883) c o m e ç o u sendo u m hegeliano de esquerda,
m a s desenvolveu u m novo m o d e l o dialético materialista d a história.
S u a f i l o s o f i a é u m a m i s t u r a ori gi nal d e i d e a l i s m o a l e m ã o c o m
e c o n o m i a p o l ít i c a b r i t â n i c a e s o c i a l i s m o f r a n c ê s .
91
Para Marx, a história é u m a história de conflito dialético constante, m a s
n ã o e n t r e a s a b s t r a ía s ideias h e g e l i a n a s , e s i m e n t r e t o d a s a s c l a s s e s
s o c i a i s e f o r ç a s e c o n ó m i c a s , t o d a s elas b e m reais. P o r c a u s a d e s s a
visão é que o pensamento marxista é c h a m a d o de m a t e r i a l i s m o
d i a l é t i c o . S e g u n d o ele, p r i m e i r o e s s a l uta h i s t ó r i c a a c o n t e c e u e n t r e
e s c r a v o s e s e n h o r e s , d e p o i s e n t r e s e r v o s e s e n h o r e s f e u d a i s ; e, n a
sociedade moderna, a guerra e c o n ó m i c a ocorre entre a burguesia -
que é d o n a d o capital e d o s meios de produção - e o proletariado, os
operários que trabalham nessa indústria e assim v e n d e m sua força d e
trabalho. Marx dizia q u e de t o d o jeito essa guerra dialética acabaria
e m u m a revolução operária internacional, transformando a sociedade
h u m a n a e a história.
U m a f i l o s o f i a e c onóm ic a
Marx acreditava no determi ni smo e c o n ó m i c o , ou seja, q u e t o d a s as
c r e n ç a s e a t i v i d a d e s h u m a n a s , i n c l u i n d o a religião e a f i l o s o f i a , s e m p r e
f o r a m p r o d u z i d a s p o r f o r ç a s m a t e r i a i s . P a r a ele, a b a s e e c o n ó m i c a d e
t o d o sistema d e relações económi cas e de forças produtivas s e m p r e
d e t e r m i n a r á e d i r i g i r á a m a c r o e s t r u t u r a d e s u a s i n s t i t u i ç õ e s legais,
p o l ít i c a s e c u l t u r a i s . A f u n ç ã o p r i m o r d i a l d e s s a s i n s t i t u i ç õ e s é s e g r e g a r
e d i s s e m i n a r a i d e o l o g i a . Isso q u e r d i z e r q u e p o t e n c i a l m e n t e t o d o
m u n d o , t a n t o o s c a p i t a l i s t a s c o m o s u a s v ít i m a s , s o f r e m d e " f a l s a
consci ênci a" - a incapacidade d e perceber q u e u m a classe social está
explorando outra.
93
M a i s -v a l i a
A teoria d o valor-trabalho p r o p o s t a pelo e c o n o m i s t a D a v i d R i c a r d o
( 1 7 7 2 - 1 8 2 3 ) di zi a q u e o v a l o r d a s m e r c a d o r i a s é d i r e t a m e n t e
p r o p o r c i o n a l a o n ú m e r o d e h o r a s d e t r a b a l h o q u e elas e x i g i r a m .
M a r x foi a l é m . P a r a ele, i sso s i g n i f i c a v a q u e o s d o n o s d o c a p i t a l ($)
e x p l o r a v a m a f o r ç a d e t r a b a l h o , a m ã o d e o b r a , r o u b a n d o as h o r a s a
m a i s t r a b a l h a d a s - o q u e ele c h a m o u d e m a i s - v a l i a d e t u d o o q u e e r a
produzido.
94
O fim do capitalismo
Graças a outro economista, A d a m S m i t h (1723-1790), a maior parte
dos europeus do século XIX via o capitalismo como algo inevitável, ou
então como um presente divino. Marx era de opinião que s u a abordagem
científica d a economia previa a inevitável implosão final do sistema
capitalista. A riqueza ficaria concentrada nas mãos de uma minoria,
enquanto a maioria da população continuaria pobre.
O CAPITALISMO
REVELOU SER ALGO
INCRIVELMENTE FLEXÍVEL.
B fí MfílORIfí PfíS
SOCIEPfíPES COMUNISTfíS,
FUNPfíPfíS EM PRINCÍPIOS
MfíRXISTfíS, fíCPBOU SENPO
UM TREMENPO PESfíSTRE
MORRI, E ECONÓMICO.
96
Ideias podem ter um papel tão importante quanto a economia, no
que diz respeito a influenciar o pensamento humano e a história, o
que significa que afinal de contas Hegel tinha certa razão. Outros
filósofos e ativistas "pós-marxistas" concordavam com isso, como por
exemplo Antonio G r a m s c i (1891-1937), que sugeriu que a s pessoas
consideram "naturais" a s construções ideológicas de seu mundo social
e político.
ISSO SIGNIFICA
QUE OS
GOVERNOS
ACHAM
RELATIVAMENTE
FÁCIL PERSUAPIR
AS PESSOAS
A CONCORPAR
COM A PRÓPRIA
OPRESSÃO.
O PISCURSO POMINANTE
CONSISTE EM ELABORAR
UM SISTEMA PE SINAIS QUE,
JUNTOS, FORMAM UMA
POPEROSA E CONVINCENTE
MENTIRA, UMA LENPA, E
SÃO ELES QUE FORMAM
R o l a n d B a r t h e s (1915-1980), A *REALIPAPE" SOCIAL E
um pós-estruturalista, mostrou CULTURAL.
posteriormente de que modo e s s a
"naturalização" opera.
97
Utilitarismo: a ciência moral
Na mesma época em que Marx passava horas e horas na biblioteca
do Museu Britânico, em Londres, surgia na Inglaterra uma espécie
de filosofia ateísta e materialista batizada de utilitarismo. Ela foi
criada por J e r e m y B e n t h a m (1748-1832) e mais tarde aprimorada
por J o h n S t u a r t Mill (1806-1873). Ao contrário de Marx, os dois
ingleses eram de opinião que não havia nada de intrinsecamente
errado com o capitalismo - ele era inevitável e bom.
98
Todos os seres humanos
são organismos de
dor-e-prazer. Assim sendo,
a filosofia moral e política
deveria tratar de aumentar
o prazer humano e diminuir
a dor.
Bentham acreditava
sinceramente que a
"felicidade" podia ser
quantificada e cientificamente
mensurada, e que d e s s a forma
a questão moral e política
podia ser "resolvida". Isso
foi chamado de "cálculo da
felicidade (o grau de felicidade
que uma ação específica
causa)". Ele também estava
convencido de que o sistema
capitalista é o mais adaptado
a produzir a s maiores
quantidades (medidas) de
felicidade material.
Felicidade coletiva
Como um meio de organizar a s prioridades de um governo
democrático e populista, é claro que o utilitarismo faz sentido. Dar
às pessoas o que elas querem ou, pelo menos, o que o governo
acha que elas querem. Isso incentivou ideais vitorianos de utilidade
pública, como, por exemplo, providenciar uma rede de esgotos
e construir hospitais e escolas, porque esse tipo de coisa produz
alegria. Bentham também achava que o governo deveria castigar os
preguiçosos enviando-os para c a s a s de caridade, e os criminosos,
para prisões em que seriam vigiados o tempo todo de uma torre de
controle central.
100
A tirania da maioria e o pluralismo
John Stuart Mill tentou modificar a doutrina original de Bentham. A
preocupação dele era que o utilitarismo acabaria s e transformando
automaticamente em uma "tirania da maioria". S e a maioria a c h a s s e que
só poderia ser feliz s e severas medidas fossem aplicadas contra grupos
minoritários, como os ciganos ou os integrantes e viajantes de grupos
"alternativos", então o governo teria de aplicá-las.
O utilitarismo não é o melhor caminho para a garantia dos direitos
humanos. E como ele pressupõe que deva existir uma espécie de agência
central que faça a distribuição das cotas de felicidade, isso faria que
governos centralizadores e seus burocráticos escalões e tentáculos s e
tornassem poderosos demais.
102
O não governo é o melhor governo
Um dos primeiros filósofos
norte-americanos dizia que a
liberdade e a felicidade são
mais fáceis de alcançar s e m
a ajuda de qualquer governo.
Ele s e c h a m a v a H e n r y D a v i d
T h o r e a u (1817-1862). Thoreau
viveu por dois anos, dois m e s e s
e dois dias afastado do convívio
social. Ele s e isolou em uma
c a b a n a rústica à beira de um
lago, em Massachusetts, e
ali escreveu Walden (1854),
um livro que exaltava a s
tranquilas belezas d a vida
em um ambiente natural e
recomendava uma vida simples.
R NOSSR VIPR é
PE6PERPIÇRPR COM
PETRLHES... SIMPLICIPRPE,
SIMPLICIPRPEÍ
103
Certo dia, no ano de 1846, Thoreau saiu d a
cabana e foi à cidade para mandar remendar
um sapato. Infelizmente, ele foi visto por um
policial, que exigiu dele o pagamento da taxa
de capitação (o imposto por cabeça). Thoreau
estava convencido de que seus impostos
seriam usados para financiar a guerra
contra o México e a política escravagista
do governo, por isso s e recusou a pagar
a taxa. Resultado: foi preso e passou uma
noite na prisão. Depois disso, escreveu um
texto profundamente romântico e anarquista
chamado D e s o b e d i ê n c i a civil.
EU USEI R ""RESISTÊNCIR
PRSSIVR"" PRRR
CONFRONTRR O
IMPERIRUSMO BRITÂNICO
NR /NP/R - E VENCI, PO/S
O PERROTEI.
TRNTO THORERU
QURNTO EU TEMOS UMR No fim da vida, Emerson trabalhou
VISÃO CRÍTICR PESSR ativamente pela c a u s a abolicionista
RMéRICR QUE ESTA SE e fez vários discursos contra a
TORNRNPO PEMRSIRPO escravidão, percorrendo os estados
MRTERIRLISTR, URBRNR E nortistas dos Estados Unidos. A
INPUSTRIRL influência positiva desses dois
pensadores sobre a vida política
e cultural norte-americana foi
imensa. "Quem for Homem deve
obrigatoriamente ser não conformista."
106
Pragmatismo
Mas a filosofia norte-americana libertária
mais importante e autêntica foi o
pragmatismo. C h a r l e s S a n d e r s P e i r c e
(1839-1914) e William J a m e s (1842-1910)
eram ambos empiristas radicais, e por
isso ligeiramente hostis à especulação
metafísica que o transcendentalismo gerava.
O pragmatismo rejeitava tanto a s visões
filosóficas empiristas como a s racionalistas,
sobre o conhecimento ser uma espécie de
experiência mental particular. Segundo e s s a
linha de pensamento, todo o conhecimento
humano deveria ser entendido como uma
resposta adaptativa ao meio que nos cerca,
pela habilidade que nosso entendimento tem
de resolver problemas.
RS TEORIRS HUMRNRS Só
FRZEM SENTIPO PORQUE TÊM
UM "VRLOR PE COMPRR"
LIGRPO Ã SUR UTILIPRPE.
107
C. S . Peirce
O pragmatista [ou pragmático, termo
que evitamos porque pode dar margem
a mais de uma interpretação] mais
importante foi s e m dúvida C . S . Peirce.
Só muito recentemente passou-se a
considerar que ele sozinho preparou o
terreno para a filosofia do século XX.
Como Thoreau, ele nunca foi realmente
membro integrante d a respeitável
sociedade norte-americana. E m vida, não
conseguiu publicar nenhum livro e viveu
recluso a maior parte da vida. Morreu na
pobreza. Na juventude, foi físico prático e
fez importantes descobertas no domínio
da geofísica. Também fez contribuições
significativas à lógica formal e à filosofia
da ciência. S u a radical filosofia empirista
antecipou a s concepções da lógica
positivista, como veremos.
NÃO EXISTEM
*VERPRPES
SUPREMRS" QUE R
FILOSOFIR POSSR
/Cr ESTRBELECER SOBRE
R NRTUREZR, OU
*RERUPRPE». RS
IPEIRS INPIVIPURIS
SEMPRE PEVEM SER
TESTRPRS, PRRR
VERIFICRR OS EFEITOS
QUEPROPUZEM.
109
William J a m e s
William J a m e s foi enormemente
influenciado pelo pragmatismo de
Peirce. Ele concordava que a s ideias
não deveriam ser entendidas como
entidades metafísicas abstraías, mas
como ferramentas de uso prático,
como por exemplo a habilidade de
prever experimentos. S u a obra O s
princípios da psicologia (1890) foi o R EVOLUÇÃO PR
primeiro livro no qual a mente humana HUMRNIPRPE é UM
é o tema central, e em que s e insiste PROCESSO INTERRTIVO
NO QURL R CONSCIÊNC/R
que a psicologia deveria ser entendida
E O AMBIENTE QUE NOS
como uma das ciências naturais
CERCA INFLUENCIAM
experimentais. J a m e s s e interessava UM AO OUTRO
pelas bases físicas da consciência e RECIPROCAMENTE - A
s u a função biológica, que ele explicava CONSCIÊNCIA EXISTE
em termos darwinianos. PARA NOS AJUPAR A
SOBREVIVER.
Em s u a famosa Escola
Experimental d a Universidade
de Chicago, a s crianças eram
(e ainda hoje são) incentivadas
a resolver problemas usando
hipóteses criativas e a testá-las.
Para Dewey, a arte deve ser
incentivada, porque ela estimula
a s soluções "imaginativas" para
suas próprias "questões".
111
Democracia
Dewey era partidário da democracia por razões bem práticas. A s
sociedades democráticas são a s melhores porque são flexíveis,
não aceitam facilmente dogmas e podem d e s s a forma s e dedicar à
mudança, à evolução. Isso queria dizer que Dewey s e interessava
por uma nova disciplina, a sociologia, por c a u s a de s u a facilidade de
produzir estatísticas. Para ele, problemas e questões sociais não podiam
ser resolvidos com teorias abstraías.
Como todos nós, Dewey foi um produto do seu tempo. A visão dele
da "sociedade" era a visão d a classe média de cidadezinha norte-
-americana à qual ele pertencia, e suas concepções são gradualistas.
Educação e não agitação era, na opinião dele, a melhor solução para
melhorar a vida dos norte-americanos comuns.
112
Neopragmatistas
Nos Estados Unidos do pós-guerra, o pragmatismo perdeu força por
c a u s a das filosofias importadas d a Europa - a filosofia analítica e a
fenomenologia. Mas não por muito tempo. Na verdade, entre os
norte-americanos, o pragmatismo nunca desapareceu. S e u s
pensadores acreditavam que seu tema de investigação deveria ser
alguma coisa que tivesse aplicação prática, apesar de haver entre eles
mesmos muita discordância sobre qual seria exatamente esse uso ou
aplicação. Para o filósofo norte-americano W. V- Q u i n e (1908-2000),
alguns dos dogmas centrais d a filosofia analítica eram de uma falta de
precisão preocupante. Ele era pragmatista porque acreditava que o
conhecimento humano é inevitavelmente holístico.
EU PESCONFIO
PROFUNPRMENTE PR
FILOSOFIR "FUNPRCIONRL",
QUE RFIPMR QUE EXISTE UM
i iTnmi
Outro pensador norte-americano,
JEITO ESPECIRL PELO QURL
OS FILÓSOFOS
LOCRUZRP
CONSEGUEM
VEPPRPES
INQUESTIONÁVEIS SOBRE R
R i c h a r d Rorty (1931-2007), é com RERLIPRPE E ESTRBELECER
frequência rotulado de neopragmatista, OS "FUNPRMENTOS" PO
em parte porque ele insistia em perguntar CONHECIMENTO HUMRNO.
para que serve a filosofia, afinal.
Atualmente existem pelo menos 10 mil professores de filosofia nos
Estados Unidos. Para eles, a filosofia ainda é uma atividade prática
que lida com a s "questões" relativas à consciência, à inteligência
artificial, à ética médica, aos direitos humanos, à matemática, às
implicações do relativismo epistemológico e ético, à lógica, e assim
por diante. A filosofia norte-americana é um vasto edifício que um
pequeno livro como este não consegue resumir como deveria.
114
D a n i e l D e n n e t t (1942-) é autor de novas e radicais ideias sobre a
natureza d a consciência humana, assim como T h o m a s Nagel (1937-),
em seu ensaio intitulado Como é ser um morcego?.
115
Apresentando a filosofia do século X X
Nietzsche disse que a s ideias filosóficas não passam de convicções
dominantes de s u a respectiva época. O século X X d a filosofia não
foi exceção à regra. De maneiras diferentes, seus filósofos tiveram
a tendência de trabalhar os mesmos temas dominantes, como os
problemas da nova sociedade de massa, perda da identidade individual,
dúvida e incerteza relativistas. A tónica maior se concentrou nos
complexos problemas da consciência humana, do significado e da
lógica. Há quem considere atualmente que a filosofia dos últimos oitenta
anos tenha sido ou "analítica" ou "continental".
116
Origens da fenomenologia
A crítica kantiana d a metafísica levou à
convicção estabelecida de que nós podemos
até ter um conhecimento bastante seguro
do mundo empírico, com seus fenómenos
com os quais entramos em contato por meio
dos nossos sentidos - ou seja, o mundo das
aparências - , mas nunca conseguiremos
saber como é exatamente o mundo dito
noumenal, as coisas como elas são "de
verdade". A pergunta que s e poderia fazer
seria esta: "Mas o que é que vivenciamos
quando estamos tendo uma experiência?".
A f e n o m e n o l o g i a fez d e s s a pergunta e
da análise de como a s coisas aparecem
para a nossa consciência o centro de suas
discussões.
F r a n z B r e n t a n o (1838-1917), que
era filósofo e psicólogo, propôs o que
chamou de uma "psicologia descritiva, ou
fenomenológica".
EU QUERO SABER
EXATAMENTE O QUE é QUE
O INPIVÍPUO CONHECE,
QUANPO SUA CONSCIÊNCIA
SE VÊ CONFRONTAPA A
ALGUMA COISA.
EU CONCORPO, MONS/EUR
O ÚNICO CAMINHO SEGURO
PESCARTES, MAS COMO
PARA O CONHECIMENTO é O
SABER COM CERTEZA SOBRE
EXAME PE NOSSA PRÓPRIA
QUE A NOSSA CONSCIÊNCIA
CONSCIÊNCIA.
REALMENTE é?
O método das
reduções
Aparentemente, só havia um jeito
de saber com certeza o que é a
consciência: fazer uma série de
"reduções" que ignorem todo
tipo de distrações metafísicas e
teóricas, e só s e concentrar nos
conteúdos da consciência e em
sua característica fundamental,
a "intencionalidade". Husserl
chamou isso de suspensão do
juízo, recorrendo a uma palavra
grega - epochè - que significa
interrupção, parada, cessação.
O TRUQUE é SUSPENDER,
OU COLOCAR ENTRE
PARÊNTESES" TOPAS
AS QUESTÕES SOBRE
"VERDADE" OU
"REALIDADE", PE MOPO
QUE O ÚNICO CONTEÚDO
SEJA O IMEDIATISMO PA
EXPERIÊNCIA ÚNICA E PURA.
119
Heidegger: a busca do ser
A fenomenologia tinha atingido um nível primordial de consciência. A
questão era: a s "coisas em s i " são percebidas pela consciência, ou o
mundo só está aí, só existe para a mente? Martin H e i d e g g e r
(1889-1976), um aluno de Husserl, radicalizou a questão, perguntando
de modo ainda mais básico o que significa ser. E s s a questão do ser,
chamada de "ontologia fundamental" no livro de Heidegger O ser e
o tempo (1927), diz respeito a todos nós, como seres humanos que
somos, que vivemos.
/ \
121
O existencialismo de Sartre
Heidegger negava qualquer ligação com o existencialismo, uma filosofia
desenvolvida basicamente por J e a n - P a u l S a r t r e (1905-1980) com
base em conhecidas fontes do chamado pensamento continental:
Descartes, Hegel e Husserl. Apesar de a obra de Sartre O s e r e o nada
(1943) ter sido claramente influenciada por Heidegger, Marx teve mais
influência afinal. Sartre também estava à procura de "autenticidade",
e compartilhava com Kierkegaard a crença na importância do
"engajamento", do compromisso. Mas tudo depende, de modo
crucial, do fato de que não existe um Deus, o que torna o universo um
"absurdo", sem significado nem objetivo. Não haver um Deus também
significa que não há algo desse tipo na "natureza humana", porque os
seres humanos não foram "feitos" em um projeto divino, ou "essência".
Nós somos obra de nós mesmos, ou, como dizia Sartre, " a
existência precede a essência". Por isso, ele chamou s u a filosofia
de e x i s t e n c i a l i s m o - porque antes de tudo nós existimos, e
depois construímos nossa essência, ao fazer nossas escolhas.
122
Liberdade e má-fé
Em mais de um aspecto, o existencialismo de Sartre é cartesiano.
A mente é a única coisa d a qual temos certeza. Ele sempre opõe a
liberdade e a imaginação de nossa consciência humana ao que é não
consciente, objetos não livres, como um abridor de cartas. Mas, para
Sartre, o " e u " não é algum tipo de coisa estática que descobrimos por
meio do autoexame cartesiano. Ele é um projeto pessoal pelo qual
precisamos nos responsabilizar.
s \
NINGUÉM POPE DIZER "EU
SOU POR NATUREZA UMR
PESSOR DESPREZÍVEL",
PORQUE ISSO Só ACONTECE
... e disse o seguinte: "Julgar s e a vida vale ou não a pena ser vivida
constitui a questão fundamental da filosofia". De modo desafiador, Sísifo
decide dar ao castigo um significado, e d e s s a forma a tarefa assume,
efetivamente, um significado. Do mesmo modo, é isso que todos os
seres humanos deveriam fazer em suas vidas "absurdas".
125
Filosofia analítica: o problema da
matemática
Os filósofos têm o péssimo costume de fazer perguntas supersimples
mas que têm respostas espantosamente difíceis. Todo mundo sabe
que dois mais dois é igual a quatro. Mas os filósofos perguntam por
q u e i s s o é assim.
Pitágoras estava convencido de que a matemática é a chave para
entender tudo o que existe. Platão acreditava que os números têm
uma espécie de existência mística especial. Uma das principais
preocupações dos filósofos analíticos do século X X foi procurar
encontrar os "fundamentos" d a matemática na lógica.
126
Isso irritava o vitoriano filósofo
empirista John Stuart Mill, para quem a
certeza matemática s e parece demais
a uma "refeição gratuita". Ele afirmou
que a matemática não passa d a mais
provável verdade indutiva, baseada em
nossa experiência humana do mundo.
Mas, s e isso for verdade, por que tantas vezes a matemática nos fornece
um quadro tão preciso de como o mundo funciona? A explicação de
Kant foi que a matemática seria outro exemplo do "sintético a priori" -
para nós, a matemática está sempre certa porque esse é o modo como
o nosso cérebro é "conectado", o modo como ele funciona.
127
Frege e a matemática desmistificada
Got t lob F r e g e (1848-1925) viveu uma vida calma e isolada, mas mudou
a filosofia ocidental para sempre ao fazer da lógica o fundamento da
nova filosofia, no lugar do "problema do conhecimento". Ele jogou fora
a lógica tradicional, que era dedutiva, e criou uma nova versão, "formal"
e "simbólica". Utilizando e s s a s u a nova lógica, ele estava convencido de
que podia demonstrar a s profundas conexões entre matemática e lógica.
Frege desmistificou a matemática, mostrando que os números não são
"objetos", como a s girafas.
128
Em seguida, Frege demonstrou como a matemática é analítica, ou "vazia
129
E o mistério continua
Frege chegou muito perto de resolver o problema filosófico da
verdade matemática. Mas, infelizmente para ele, em 1903 B e r t r a n d
R u s s e l l (1872-1970) descobriu um paradoxo que parecia impossível
de resolver no sistema de Frege, e K u r t Gõdel (1906-1978)
demonstrou que sempre existirão verdades matemáticas que
continuarão sendo impossíveis de provar em qualquer sistema lógico.
Um sistema formal pode ser ou autoconsistente ou completo, mas
não os dois.
Cachorro
O SEGUNDO é AQUILO A
QUE ELA SE "REFERE", OU
"PONTOS" PE LIGAÇÃO ENTRE
COISAS E CONCEITOS.
O s e n t i d o da linguagem é um
fenómeno público baseado em uma
convenção, e por isso pode mudar.
Mas a r e f e r ê n c i a é ou a verdade
ou a falsidade. Frege fundou um
complexo sistema lógico baseado
em s u a intuição.
131
A lógica atomista de Russell
Na obra Principia mathematica (1910-1913), B e r t r a n d R u s s e l l
(1872-1970), secundado por Alfred North W h i t e h e a d (1861-1947), fez
o mesmo percurso que Frege em s u a malsucedida tentativa de provar
que mesmo a matemática mais simples tem fundamentos lógicos - por
exemplo, 1 + 1 = 2 .
/ \
132
Na melhor tradição do empirismo
britânico, Russell era um "atomista
lógico". Para ele, o melhor caminho NÓS Só PODEMOS TER
para entender o mundo é desmontar CERTEZR DRS COISRS
tudo o que existe, reduzindo a QUE CONHECEMOS
componentes individuais. A s POR MEIO DE UMR
CONVIVÊNCIA FAMILIAR,
proposições individuais podem então
PRÓXIMA E PIRETA.
ser referidas a sensações individuais
no entendimento humano, elas
mesmas causadas por pequenos TODO O RESTO PRECISA
"pedacinhos" do mundo. SER CONSTRUÍDO POR MEIO
DE UMA CONSTRUÇÃO
LÓGICA, COM ESSE BANCO
DE DADOS LÓGICO.
134
O Círculo de Viena
Os p o s i t i v i s t a s lógicos, ou Círculo de Viena, estavam mais para
cientistas que para filósofos. Moritz S c h l i c k (1882-1936), Otto
N e u r a t h (1882-1945) e Rudolf C a r n a p (1891-1970) eram de opinião
que toda a filosofia, em especial o idealismo hegeliano, era uma
bobagem metafísica.
ASSIM, A PROPOSIÇÃO
"DEUS é ABSOLUTO
E ETERNO" PARECE
FAZER SENTIDO, MAS é
TOTALMENTE IMPOSSÍVEL
DE VERIFICAR E, PORTANTO,
INCOMPREENSÍVEL.
137
O atomismo lógico de Wittgenstein
L u d w i g W i t t g e n s t e i n (1189-1951) primeiro estudou engenharia. O
interesse dele por lógica e matemática o levou a estudar com Bertrand
Russell em Cambridge, em 1 9 1 1 . Ele pertencia a uma rica, talentosa e
trágica família vienense - três de seus irmãos tinham s e suicidado. Ele
era um professor carismático, impaciente e enigmático, que não aceitava
a teoria de que o ensino universitário d a filosofia era algo inútil. Um
homem religioso que mudou a filosofia ocidental para sempre. Ele lutou
pelo exército austríaco durante a Primeira Guerra Mundial.
Assim, só porque existe uma palavra que serve para falar do conceito de
arte não faz sentido ficar correndo atrás da "coisa essencial" que confere
significado à palavra "arte", ou ficar perguntando como o conceito existe
na mente humana. A palavra "arte" só é usada pelas pessoas para falar
de diferentes atividades e artefatos compartilhados por um "conjunto de
coisas semelhantes".
140
Jogos de palavras
A linguagem é uma série de diferentes "jogos" de palavras, com muitas e
diferentes intenções e objetivos. Significado é o resultado de convenções
sociais, ou seja, de normas estabelecidas de comum acordo, produzidas
por determinadas "formas de vida", e elas não podem ser estabelecidas
separadamente, "fora" da linguagem. Isso quer dizer que a linguagem é
autónoma e flutua, é levada livremente pelo mundo afora. Wittgenstein
assumiu uma visão terapêutica do chamado discurso filosófico, por
c a u s a do que para ele era uma espécie de doença - o produto de uma
linguagem "saindo de férias", de modo que um jogo de palavras s e t
Pensamentos privados
A filosofia de Wittgenstein sobre a mente também é anticartesiana.
Pensamento é linguística. A linguagem é um produto social e a
consequência disso é que a linguagem não pode ser "privada",
particular. Isso significa, por s u a vez, que toda busca de certeza feita
na "primeira pessoa" é falsa e mal concebida. Descartes e seus muitos
filósofos-discípulos sempre defenderam a ideia de que a s experiências
de primeira pessoa são, de alguma forma, mais "imediatas" e certas do
que a s outras coisas. Mas escrever e falar sobre experiências mentais
supõe o uso de uma linguagem pública, comum a várias pessoas, que
obedeça a regras que determinam tanto significados quanto referências
A teoria freudiana do inconsciente
A "terapia" de Wittgenstein como solução para a doença linguística da
filosofia deve, de certa forma, algo a outro vienense, S i g m u n d F r e u d
(1856-1939), o fundador da psicanálise. S u a influente teoria de um
inconsciente sexualmente estruturado brotou d a neuropsicologia e d a
prática clínica. Mas a noção de que com frequência nós não temos
consciência de nosso próprio processo mental já era sobejamente
conhecida de filósofos do século XIX, como Schopenhauer, por exempl
Freud deu um passo a mais nessa teoria, sugerindo que a própria
civilização só se tornou possível pela repressão do instinto sexual a
um nível inconsciente, uma visão que sabota a busca filosófica de
racionalidade objetiva.
OS SERES HUMANOS
CONTINUAM NÃO
CONHECENDO AS ORIGENS
PRIMITIVAS DE SEUS
PENSAMENTOS, CRENÇAS E
DESEJOS.
144
O espírito dentro da máquina
Gilbert R y l e (1900-1976), outro
influente professor de Oxford,
também chegou a uma concepção
semelhante de "conceitos comuns"
pelo viés do empirismo britânico e
no interesse pela fenomenologia de
Brentano e Husserl. E m seu livro
O conceito de mente (1949), ele
afirmou que muitas vezes os filósofos
cometem o que chamou de "erros
de categoria". Para ele, o melhor
exemplo é o postulado de Descartes,
de uma mente separada do corpo
tendo pensamentos autónomos,
como s e fosse um "espírito
dentro da máquina".
ESSE DISCURSO
SOBRE "EXPERIÊNCIAS
PARTICULARES INTERNAS"
DEVERIA SEMPRE SER
CONSIDERADO COMO
DISPOSIÇÕES PARA AGIR DE
UMA DETERMINADA FORMA.
145
A filosofia da ciência
A divisão entre a s chamadas filosofias
"continental" e "analítica" - que, como
vimos, está longe de ter sido definida -
é, de qualquer modo, menos importante
que a constatação de que a ciência
passou a ter um papel fundamental no
século XX. Foram os cientistas, e não
os filósofos, que mudaram o modo
como vivemos, nossa visão de mundo
e a própria concepção que temos de
nós mesmos.
MAS O QUE O
CONHECIMENTO
CIENTÍFICO TEM PE
TÃO ESPECIAL?
E EM QUE ELE é
DIFERENTE DOS
OUTROS TIPOS DE
CONHECIMENTO?
146
Existem dois tipos de cientistas. Alguns usam um avental branco e
trabalham com equipamentos caros e superespecializados, e outros
se limitam a escrever coisas complicadas e impenetráveis nas lousas
das salas de aula. Mas os dois tipos são comumente chamados de
"cientistas" porque usam algum tipo de "método" científico que produz
um único tipo de conhecimento. E m geral, o conhecimento científico
deve ser "universal", "quantificável", "empírico" e dotado de "poder de
antecipação", de previsão. Um sapo cientista deveria, supostamente,
poder nos dizer tudo a respeito de t o d o s os sapos.
147
O método indutivo
Afinal, de onde os cientistas tiram suas
teorias? Evidentemente, a indução é
um "método" científico. Um cientista
observa e mede uma porção de sapos
andando e nadando, em diferentes
condições, e finalmente produz uma
"teoria sobre os anfíbios". Mas há mais
de cem anos o filósofo Hume já tinha
explicado que a indução só nos dá
probabilidades, não certezas.
O CIENTISTA Só é CAPAZ
PE DIZER QUE MUITO
PROVAVELMENTE TODOS OS
SAPOS SEJAM ANFÍBIOS.
150
Mas, como método científico, o falibilismo, ou falsificacionismo (veja
também p. 108), tem seus próprios problemas. S e nossas observações
do mundo têm inevitavelmente uma "bagagem teórica" que a s
acompanha, então por que uma observação qualquer deveria invalidar,
de imediato, uma teoria científica complexa? Como podemos ter certeza
de que podemos confiar nela? A s teorias científicas são complexas e
interdependentes, por isso não é tão fácil assim falsificá-las com uma
simples observação. A história também mostra que, com frequência,
os cientistas são super-relutantes a deixar para trás, a desistir de
suas queridas teorias, por c a u s a de alguma observação contrária. E m
determinadas ocasiões, eles chegaram a s e obstinar teimosamente -
mas nem sempre.
BU MESMO BATALHEI
ANOS TENTANDO
REFUTAR MEUS PRÓPRIOS
CONHECIMENTOS SOBRE
RADIAÇÃO...
Thomas Kuhn: a mudança de paradigma
Para Popper, a ciência é fator de indexação errática mas sistemática,
alimentada pela razão e fazendo progressos graduais que vão
promovendo a acumulação de "verdade" científica. T h o m a s K u h n
(1922-1996) desafiou e s s a visão ingénua de ciência. Ele olhou
detidamente para a história d a ciência e perguntou o seguinte: como é
que c a d a comunidade científica trabalha atualmente seu ramo de ciência,
como é e s s a prática?
9)
então isso tudo é uma péssima notícia para a filosofia, para a lógica e
até para a ciência.
156
N i e t z s c h e : a de silusã o d a v e r d a d e
As sementes do ceticismo pós-modernista sempre estiveram
presentes na filosofia ocidental, e isso já desde que Crátilo se
recusava a falar porque considerava que o significado de suas
palavras era instável. Um dos fundadores mais óbvios e recentes do
pós-modernismo (ou pensamento contemporâneo) é Nietzsche, que
afirmou que a linguagem só pode ser metafórica.
NA VERDADE NADA é
REALMENTE IGUAL
158
Um sistema de sinais
F e r d i n a n d d e S a u s s u r e (1857-1913), um linguista suíço, foi o
fundador do estruturalismo e da semiótica. Ele deixou de lado a busca
de um "significado" da linguagem e, em vez disso, preferiu descrever
sua utilização. O "significado" linguístico não deriva da correspondência
com "as coisas do lado de fora", mas sim das relações entre os próprios
sinais e suas posições, dentro de um sistema de significações.
A RELAÇÃO PA LINGUAGEM
COM O MUNDO é
ARBITRARIA. ELA NÃO é
SINÓNIMO DE REALIDADE.
159
Estruturalistas
Nos anos 1960, Saussure provocou a crítica estruturalista, sobretudo
na França, onde nasceu a abordagem de se pensar a filosofia como
uma forma de "discurso", entre outras. Todo discurso compartilha um
sistema de sinais no qual a [principal] característica da chave estrutural é
o código de opostos binários. Por exemplo, o significado do conceito de
"alma" deriva de seu oposto, "corpo"; ou "claro" de "escuro"; "natural"
de "cultural", e assim por diante. O antropólogo C l a u d e Lé vi-St ra uss
(1908-2009) defendia a tese de que um sistema binário de códigos opera
em todas as culturas, funcionando como uma lógica comum a elas.
160
Para os estruturalistas, o mundo é organizado em sistemas
interconectados, que se encaixam uns nos outros, ao lado de "profundas
estruturas" genéticas, que têm suas próprias "gramáticas" abertas à
análise. Essa concepção foi desenvolvida no final dos anos 1960 pelos
chamados "pós-estruturalistas", R o l a n d B a r t h e s (1915-1980), J u l i a
K r i s t e v a (1941-) e, principalmente, J a c q u e s D e r r i d a (1930-2004).
ISSO PORQUE
SUPONHA QUE TUDO O QUE SIGNIFICANTES
LEVEMOS AO ENCONTRARÍAMOS SEMPRE PODEM
EXTREMO A SERIA UM "JOGO DESESTABILIZAR
CONCEPÇÃO DE INFINITO DE SEUS OPOSTOS,
SAUSSURE, SOBRE SIGNIFICANTES", AS SIGNIFICAÇÕES
A NATUREZA SEM QUALQUER SEMPRE SÃO
"ARBITRÃRIA" DOS VERDADE PASSÍVEL FLUIDAS.
SIGNOS... DE SER VERIFICADA
POR TRÃS.
161
D e r r i d a e a de sc onst ruç ã o
A lição pós-estruturalista também se aplica aos textos filosóficos.
Eles podem ser lidos "apesar deles mesmos" ("contra eles mesmos")
- essa foi a estratégia de Derrida, chamada de d e s c o n s t r u t i v i s m o .
Não se trata de um "método", mas sim de uma espécie de terapia,
no sentido de Wittgenstein. O desconstrutivismo não persegue
um "significado verdadeiro", uma unidade: ele revela os muitos
significados em conflito inconsciente, um contra todos os outros, em
cada texto. O que está, aqui, sendo chamado de "inconsciente" são
as polaridades binárias subjacentes às hipóteses metafísicas (que as
escora, que dão sustentação a elas).
Ho m em - = GMDD^D3
Cl ar o - = @©©QDIP®
Razão - = @DuQ®§fi®
Pr e se n ça - - AQOQSOD©!!©
162
Logocentrismo
O desconstrutivismo escavou,
desenterrou as contradições internas
e as escorregadelas do significado
no texto, nos fazendo perceber que
os "significados" correntes, comuns,
são simplesmente aqueles que foram
"estabilizados", estabelecidos pela
cultura dominante e pelas ideologias
políticas dominantes. Para Derrida, o
problema é um erro de identidade. Os
filósofos sempre consideraram que
as palavras comunicam significados
que estão explicitamente presentes
na mente humana.
O SIGNIFICADO
NUNCA é FIXO, é
SEMPRE DIFERIDO.
165
Fouc a ult : o jogo de pode r
M i c h e l F o u l c a u l t (1926-1984), outro pensador-chave do
pós-modernismo, foi ainda mais longe. Segundo ele, poder e
conhecimento são cúmplices um do outro. Sistemas de controle
social foram sendo desenvolvidos em conjunto com as ciências,
desde o Iluminismo no século XVIII. A própria filosofia foi
cúmplice nesse "jogo de poder" da dominação alheia por meio da
marginalização. Foucault pediu emprestado o conceito nietzschiano
de "genealogia" para fazer suas próprias análises sócio-históricas.
166
U m m u n d o d e h i p e r -r e a l i d a d e
Os pensadores pós-modernistas avaliam a
pluralidade de pontos de vista e desafiam
ininterruptamente todos os sistemas
de legislação. O mundo que eles nos
apresentam é, muitas vezes, um mundo
fragmentado, uma "hiper-realidade" que
mais parece um pesadelo - como teorizou
J e a n B a u d r i l l a r d (1929-2007).
NÓS VIVEMOS EM UM
MUNDO HIPER-REAL DE
SIMULACROS - DENTRE
SIGNOS QUE NÃO TÊM
NENHUMA RELAÇÃO, NEM
COM UMA "REALIDADE"
SUPERFICIAL E PROVISÓRIA.
O l h e p a r a e s t e e spa ç o!
169
A filosofia oc ide nt a l n u m pisc a r d e olhos
EPISTEMOLOGIA - 0 QUE PODEMOS SABER E COM QUAL
PARMÊNIDES
i CONHECIMENTO EMPÍRICO
GRAU DE CERTEZA?
CONHECIMENTO "A
A IMPORTÂNCIA DA RAZÃO DO MUNDO "EXTERIOR" PRIORr DE CONCEITOS,
PENSAMENTOS, MENTES
ARISTÓTELES PLATÃO
LÓGICA DEDUTIVA SIMULACROS, NÃO CONFIÁVEIS PLATÃO
ABELARDO ARISTÓTELES MATEMÁTICA
PÓS-ESTRUTURALISTAS
PRAGMATISMO NORTE-
BARTHES
AMERICANO
DESCONSTRUTIVISMO
PEIRCE. JAMES. DEWEY
DERRIDA
O CONHECIMENTO PRECISA PHENOMENOLOGY
PERDA DA CONFIANÇA NA
TER "VALOR DE MERCADO" [OU
POSSIBILIDADE DE UMA
"VALOR DE COMPRA"] BRENTANO. HUSSERL
LINGUAGEM OBJETIVAOU PESQUISA SOBRE A
PERFEITAMENTE LÓGICA FILOSOFIA DA CIÊNCIA
CONSCIÊNCIA
FEYERABEND
CETICISMO...
CONTRA O MÉTODO
REJEITADO POR
FEUERBACH
MATERIALISMO RADICAL
MARX
MATERIALISMO DIALÉTICO
POSITIVISMO LÓGICO
A METAFÍSICA É UM "DISPARATE"
WITTGENSTEIN
"SOBRE [TUDO] AQUILO DE QUE
NÃO PODEMOS FALAR, DEVEMOS
NOS MANTER EM SILÊNCIO."
Su g e st õ e s d e l ei t u r as co m p l e m e n t a r e s
Neste livro, fizemos uma flagrante omissão de filósofas, de pensadoras mulheres.
Até muito recentemente, as mulheres eram deliberadamente excluídas do
privilegiado domínio de professores de filosofia - todo composto de integrantes
do sexo masculino. Mas, atualmente, existem tantas e tão boas pensadoras
que fica difícil encontrar um lugar para elas em livrinho tão pequeno. Os ícones
do vindouro pós-feminismo seguramente remediarão esse problema, mas os
leitores de agora podem (e devem) consultar algumas figuras-chave: Simone
de Beauvoir, Hanna Arendt, Julia Kristeva, e também outros nomes importantes
como Mary Wollstonecraft, Mary Warnock, Mary Migley, Iris Murdoch, Phillipa
Foot, Elizabeth Anscombe, dentre outras.
Segue-se uma lista de obras que devem ajudar na compreensão dos temas
discutidos, começando com alguns livros de introdução à história da filosofia
ocidental.
Existem anda muitos outros manuais de filosofia que podem ser úteis, como por
exemplo estes:
Philosophy made simple, R. H. Popkin & A. Stroll, Londres, Heinemann, 1986
| Made simple paperbacks, Nova York, 1993.
Introducing to philosophy, W. J. Earle, McGraw HiH, Nova York, 1992.
Philosophy of Sophia, Brenda Almond, Penguin, Londres e Nova York, 1992.
Man is the measure, Reuben Abel, The Free Press (Macmillan), Londres e
Nova York, 1990.
Confessions of a philosopher: a journey through we ste rn philosophy,
Bryan Magee, Random House, Londres e Nova York, 1998.
172
A maioria dos alunos de filosofia já recorreu, em alguma ocasião, a An
introduction to philosophical analysis, John Hospers, Routledge, Londres e
Nova York, 1990, um livro que é mais divertido do que o título sugere.
An introduction to we ste rn philosophy, Anthony Flew, Thames and
Hudson, Londres 1971. Esse é um excelente livro, pois Flew leva o leitor a pensar
por si mesmo e, dessa forma, a entender inúmeras ideias fundamentais. À venda
pela internet, no site da Amazon.
The great philosophers, Brian Magee, Oxford University Press, Oxford e Nova
York, 1988, é um livro acessível porque foi escrito na forma de uma série de
diálogos entre Magee e alguns filósofos contemporâneos sobre os pensadores
mais importantes do passado. Magee faz seus entrevistados explicarem as
coisas com clareza, na maior parte das vezes.
Issues in philosophy, Calvin Pinchin, Macmillan, Londres | Barnes & Noble,
Nova York, 1990, é um bom livro para quem for louco o bastante para achar que
precisa estudar o suficiente para tirar um A em filosofia.
The concise encyclopedia of we ste rn philosophy and philosophers,
ed. J. O. Urmson & Jonathan Rée, Unwin Hyman, Londres, 1976, é recheado
de artigos curtos e lúcidos sobre a maior parte dos filósofos ocidentais e suas
ideias.
The Oxford companion to philosophy, ed. Ted Honderich, Oxford University
Press, Londres e Nova York, 1995, é completo e inestimável, quando você quer
saber mais sobre o paradoxo de Aquiles e a tartaruga e sobre o homem que
inventou o paradoxo, Zenão. Ele também mostra como são alguns pensadores
contemporâneos.
Ag r a d e ci m e n t o s
O autor deve muito ao seu incisivo e aprumado editor, Richard Appignanesi, a
pessoa mais ocupada do mundo, e a Duncan Heath, o paciente e impecável
redator deste livro. O autor descobriu ainda que sem a inteligência, a
competência e a argúcia de Judy Groves este livro provavelmente teria
sido muito cansativo. Esse mesmo autor também agrade pela paciência e
compreensão de Judith Robinson, que está convencida de que ele deveria sair
mais vezes do estúdio.
Mais agradecimentos, desta vez a Howard Peters, Howard Selina, David King e
Bill Mayblin, por sua ajuda com a pesquisa iconográfica e intervenções técnicas.
Um obrigado especial a Oscar Zarate, por sua generosa ajuda, e a Arabella
Anderson, que concordou em ser fotografada.
Judy Groves é artista, ilustradora e designer. Ela também ilustrou outros livros
de introdução desta série: Jesus, Wittgensteisn, Lacan, Chomsky e Lévi-Strauss.
173
ín d i ce
Abelard, Pierre (Abelardo) Chomsky, Noam 104 desobediência civil, A (Tho
45 Cícero 38 reau) 104
Agostinho 42 ciência e filosofia 48,53, determinismo 93
Alexandre, o Grande 27,36 146-154,168-169 Deus 43,57,60, 84,122
alienação 90 Cínicos 39 Deus e o diabo 85
alma 32,160 Círculo de Viena 137 Dewey, John 111-112
análise lógica 134 Cogito ergo sum 58, diabo 43,85
anamnese 22 155,165 diálogos socráticos 19
Anaxágoras 15 comunismo 95 Diderot, Denis 63
Anaximandro 8 conceito de mente, O (Ryle) Diógenes 39
Anaxímenes 8 145 Discurso do método (Des-
Anselmo 44 condição pós-moderna, A cartes) 55
argumento cosmológico 46 (Lyotard) 165
argumento dedutivo 12 Confissões (Agostinho) 42 egoísmo psicológico 51
argumento ontológico 44 conhecimento 80,113, Ehrenfelds, Christian von
argumento teleológico 31, 131,157 118
43 consciência 116-118 Elogio da loucura (Erasmo)
Aristóteles 27-32,35,50 Constantino 43 49
atomismo15,133,139, Contra o método (Feyera- Emerson, Ralph Waldo
140 bend)154 105-106
atomismo lógico 134 contrato social, teoria do Empédocles 14
Aurélio, Marco 38 52 Empírico, Sexto 39
Austin, J . L 144 convicção-conclusão 70 empirismo 64,68,107
autenticidade 121,124 Crátilo 10,157 Epicuro 37
Ayer, A. J. 136 criador 31 epochè ver
cristianismo 41-43 suspensão 119
Bacon, Francis 53 e Kirkegaard 88-89 Erasmo 49
Barthes, Roland 97,161 Crítica da razão pura (Kant) Escola de Frankfurt 96
Baudrillard, Jean 167 74 escolástica 44,47,62
behaviorismo 145 espírito 61
Bentham, Jeremy 98-101 Das Nichts ver estóicos 38
Berkeley, George 66-67 Dasein "120 estruturalismo 109,160-
Brentano, Franz 117 democracia 112 162
budismo 83 Demócrito 15 eterno retorno 87
Dennett, Daniel 114 Ética (Spinoza) 59
cálculo da felicidade 99 Derrida, Jacques 158,161, eu, existência do 70,123
Carnus, Albert 125 162-164 existencialismo 88-89,
capitalismo 94-96 Descartes, René 54-58,65 122-124
Carnap, Rudolf 135 116,145,155
causa 31 desconstrutivismo 162- falibilismo 108,111
causalidade 69 163 falsa consciência 93
ceticismo 49,70 desejo 83 fato-premissas 70
174
felicidade 99-100 Igreja Católica 41,49 Má-fé 123
fenomenologia 75,117- imperativo categórico 76 mais-valia 94
118,120 inatismo, 22 Maquiavel, Nicolau 50
Fenomenologia do espírito inautencidade 121,124 Marcuse, Herbert 96
(Hegel) 81 inconsciente 143 Marx, Karl 91-94,96
Feuerbach, Ludwig 90 indução 30,68 marxismo 124
Feyerabend, Paul 154 instrumentalismo ver matemática 9,118,126-30
filosofia continental 116 pragmatismo 107-113 materialismo 90-92
filosofia do século XX108- intuição 105 dialético 91
110,116,126,134, Investigações filosóficas Meditações (Descartes) 55
140,146,165 (Wittgenstein) 140 mente 60,123
filosofia norte-americana mentira 76
102-115 James, William 107,110 milésios 8
filosofia racionalista (ou Jefferson, Thomas 102 Mill, John Stuart 98,101,
racionalismo) 57,62, 127
63, 68, 73,107,129 Kant, Immanuel 73-6,82, mito de Sísifo, O (Carnus)
formas, ideal 23-25 105,116,127 125
Foucault, Michel 166 Kierkegaard, Soren 88-89, mônada 61-62
Franklin, Benjamin 102 122 monismo 60
Frege, Gottlob 128-131 Kripke, Saul 114 moralidade 33,70,76
Freud, Sigmund 143 Kristeva, Julia 161 mundo fenomenal (ou fe-
funcionalismo 110 Kuhn, Thomas 152-154 nomênico) 75,82
fundacionalismo 164 mundo noumenal (ou nou-
Lacan, Jacques 164 mênico) 75,79
Gõdel, Kurt 130 Leibniz, Gottfried Wilhelm
Gramsci, Antonio 97 61-63 nada, o 121
gregos antigos 7 Leviatã (Hobbes) 51 Nagel, Thomas 114
guardiães 23,24 Lévi-Strauss, Claude 160 naturalização 97
liberdade 123 Neurath, Otto 135
Hegel, Georg W. F. 77-82 pessoal 80 Newton, Isaac 61-63
alienação 90 liberdade, A {m\\)m Nietzsche, Friedrich 84-87,
filosofia continental 116 linguagem 131,133,141- 116,157
Heidegger, Martin 120-122, 142,157-163 nominalismo 45,47
158 Linguagem, verdade e Nussbaum, Martha 38
Heráclito 10-11,87 lógica (Ayer) 136
Heródoto 17 linguística, filosofia 131 O ser e o nada (Sartre) 122
helenístico, período 36 Locke, John, 64-66,71 O ser e o tempo (Heideg-
Hobbes, Thomas, 51 lógica ger) 120
Hume, David 68-70,73 dedutiva 28,70 Ockham, William of 47,67
Husserl, Edmund 118 dialética 77-78 ontologia fundamental 120
e matemática 126,128- oposições binárias 160
idealismo 66-67,74,79, 129
90 logocentrismo 163 palavras, fazer coisas com
ideologia 93 Lyotard, Jean-François 166 144
175
panteísmo 60 Nietzsche 86 Spinoza, Baruch 59-60
paradigma 152-153 Reforma [luterana] 48 subjetivismo 70
paradoxo do movimento 13 relativismo 39 suspensão 119
Parmênides 12 religião 5,75 ver também
Peirce, C. S. 107-109 cristianismo, Deus, teolo- Tales 8
pensamento descritivo 140 gia natural tempo 87
pensamento, natureza do Renascença (ou Renasci- teocracias 6
79 mento) 48 teologia natural 46
percepção 66-67 República, A (Platão) 21 teoria da falsificação 150
pergunta fundamental 8,9, resistência passiva 104 teoria sobre a justiça, Uma
11,14,17,32 resolução de problemas (Rawls) 114
Pirro 39 111 Thoreau, Henry David 103-
Pitágoras 9,126 Ricardo, David 94 106
Planck, Max 151 Rorty, Richard 113,115 Tomás de Aquino 46,
Platão 21-26, 35,105,126 Rousseau,Jean-Jacques 69
Plotino 41 71 Tractatus Logico-Philoso-
pluralismo 101 Russell, Bertrand 130, phicus [Tratado lógico-
política 50-52 132-134 -filosófico] (Wittgens-
Popper, Karl 108,150 Ryle, Gilbert 145 tein) 138-9
pós-estruturalismo 97, transcendentalismo 105
161-162 Sartre, Jean-Paul 122-124,
positivismo lógico 108, 143 Úbermensch [Supra-
135-137 Saussure, Ferdinand de -Homem] 85
pós-modernismo 86,109, 159,161 utilitarismo 98-101
155-158 Schlick, Moritz 135
pragmatismo 107-113 Schopenhauer, Arthur 82- variedades da experiência
príncipe, O (Maquiavel) 50 83 religiosa, As (James)
Principia Mathematica Searle, John 115 110
(Russell, Whitehead) semiótica 109 verdade
132 significado 131 ver realidade, questão da
princípio de verificação (ou signos ver 8,9,14,80
testabilidade) 135 semiótica 109 Voltaire 63,71
princípios da psicologia, Os silogismo 29 vontade 82-83
(James) 110 silogismo lógico vontade própria (ou livre
Protágoras 17 ver lógica dedutiva 28, vontade) 76,110
psicologia 110 70 de poder 85,86 ver
símbolos também
Quine, W.V. 113 ver semiótica 109 vontade 82-83
Smith, Adam 95
Rawls, John 114 sociologia 112 Walden (Thoreau) 103
razão 86 Sócrates 16,18-20,34-35 Whitehead,A.N.35,132
realidade, questão da 8,9, sofisma 18
14,80 sofistas 17-18
Aristóteles 32 solipsismo 119
176
DAVB ROBINSON f
JUDY GROVES
FI LOSOFI A
UM GUIA GRÁFICO DA HISTÓRIA DO
PENSAMENTO
LeYa
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lllustrations copyright © by Judy Groves
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Tradução para a língua portuguesa:
copyright © 2012, Texto Editores Ltda.
12-06497 CDD-101
índices para catál ogo si stemáti co:
1. F i l o s o f i a : Introdução 101
2. Introdução à filosofia 101
2012
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