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Entendendo Filosofia é um guia

ilustrado que traz o pensamento


dos filósofos maisimportantes
do mundo ocidental: Sócrates,
Descartes, Hegel, Kant,
Nietzsche, Marx e Sartre,
entre muitosoutros.

fl Filosofia nasceu para atender


às quest ões mais incomodas
e provocativas sobre a nossa
exist ência como:

0 que é a verdade?
0 que são os homens?
Qual é a natureza da realidade?
Podemos provar que Deus exist e?
Somos realmente livres para
escolher quem somos e o que
fazemos?
Como devemos nos comportar
em sociedade?

Entendendo Filosofia foi


pensado para servir como uma
concisa int rodução sobre os
filósofos e as suas propostas
para a compreensão do mundo.
Que st õe s
Em geral, a maioria d a s pessoas s e m p r e está o c u p a d a demais para
s e d e b r u ç a r s o b r e p e n s a m e n t o s c l a s s i f i c a d o s c o m o " f i l o s ó f i c o s " . Isso
a c o n t e c e p o r q u e el as s ã o o b r i g a d a s a c o n s u m i r o t e m p o n a l u t a d i á r i a
d a v i d a , o u e n t ã o p o r q u e p r e f e r e m vi ver s u a a p r a z ív e l e t r a n q u i l a
r o t i n a . M a s , e m a l g u m a s raras o c a s i õ e s , u n s p o u c o s i n d i v íd u o s
i n c ó m o d o s e irritantes - q u e a l é m d e t u d o t ê m t e m p o d e s o b r a
para gastar - se p õ e m a fazer u m a s tantas perguntas que parecem
superóbvias, mas cujas respostas não são n e m um pouco...

QUAL ÉA NATUREZA DA REAUDADE? 0 QUE VEM A SER EFETIVAMENTEA


EXISTÊNCIA HUMANA, 0 QUE SÃO OS SERES HUMANOS?
0 QUE EXISTE DE ESPECIAL E DE ESPECÍFICO NA MENTE HUMANA E NA
CONSCIÊNCIA?
PODEMOS TER CERTEZA EFETIVA A RESPEITO DEALGUMA COISA?
EXISTEM DIFERENÇAS EVIDENTES ENTREARGUMENTOS VÁUDOS EARGUMENTOS
FALSOS, INADEQUADOS?
0 QUEÉA VERDADE? 0 QUE É SIGNIFICADO?
COMO DEVEMOS NOS COMPORTAR UNS COM OS OUTROS E COMO DEVEMOS
ORGANIZARA SOCIEDADE? OS GOVERNOS SÃO UMA BOA IDEIA?
O que é filosofia?
T a l v e z , a s q u e s t õ e s f i l o s ó f i c a s n ã o p a r e ç a m t e r m u i t o a ver c o m
a vida cotidiana. Mas os filósofos continuam a procurar respostas
convincentes. A l g u m a s vezes eles c o n s e g u e m , outras não.

MRS QURNPO
SfíO FEITRS,
RS PERGUNTRS
PRRECEM NUNCfí TER NO COMEÇO,
RESPOSTRS, PRRECEM «FILÓSOFOS" ERAM
FICRR PRRR SEMPRE. [ f f SIMPLESMENTE
PESSOAS QUE
FAZIAM PERGUNTAS A
RESPEITO PE TUPO.

HOJE EM PIR, R
FILOSOFIR TENPE
R SER ENTENPIPR
COMO RL-GO MRIS
SÉRIO.

EPISTEMOLOGIA
[(questões sobre o c o n h e c i m e n t o ) 1

M ET AFÍ SI CA (tempo, espaço,


D e u s , c a u s a e real i dade)

j ÉT I CA
( b o m e mau)

EST ÉT I CA
(arte e beleza)

FILOSOFIA
(política)

ÍlL'MÍSlTlfflll»!ffllllHlll!lllWM\ll
A l g u n s f i l ó s o f o s a c r e d i t a m q u e a f i l o s o f i a d e v e evoluir, ir a l é m d a
simples argumentação e debate, outros p e n s a m q u e ela só existe
q u a n d o a c o n t e c e o c h a m a d o r a c i o c ín i o d e d u t i v o .

ALGUNS FILÓSOFOS
ESTfíO CONVENCIDOS PE
QUE A FILOSOFIA POPE
FAZER UM PROGRESSO
REAL NA PROCURA PO

I
CONHECIMENTO.

OUTROS PIZEM QUE ELA é


O ^PENSAMENTO SOBRE O
PENSAMENTO», E, ATUALMENTE, UA
NAO AUUPA A EXPLICAR IPEIAS E
DISSOLVER MAL-ENTENPIPOS.

M a s t o d o s eles a c r e d i t a m
que os filósofos são
obrigados a dar algum
tipo de explicação, prova,
demonstração ou evidência
d e s u a s ideias. E e s s a
obrigação é a principal
diferença entre filosofia e
religião.
Teocracias
O s e g íp c i o s d a A n t i g u i d a d e e r a m b o n s e m m a t e m á t i c a e n a
c o n s t r u ç ã o d e t u m b a s g e o m é t r i c a s , m a s eles n ã o e r a m f a m o s o s
o u r e s p e i t a d o s p o r s u a f i l o s o f i a . S u a s e x p l i c a ç õ e s rel i gi osas p a r a
as coisas que existem eram elaboradas e coloridas, mas nada
convincentes e m termos filosóficos. Outro povo de excelentes e
maravilhosos matemáticos e astrónomos foram os babilónios.

J MAS ELES TAMBÉM PARECEM TER


SE CONTENTADO COM RESPOSTAS
DA ESFERA DA MITOLOGIA
RESPONDER A PERGUNTAS E
QUESTÕES
PARA

FUNDAMENTAIS.

Sociedades teocráticas governadas por


c a s t a s d e s a c e r d o t e s e m geral t ê m u m
pensamento estático e monopolista.
Elas i n s i s t e m e m e x p l i c a ç õ e s o r t o d o x a s
e s u f o c a m ideias i n d e p e n d e n t e s e n ã o
c o n v e n c i o n a i s . A s c o n v i c ç õ e s d e hoj e
p r e c i s a m o b r i g a t o r i a m e n t e ser iguais à s
de ontem.

6
Os gregos
O s gregos antigos inventaram a filosofia,
mas ninguém sabe exatamente por
quê. Grande nação comerciante que
d o m i n a v a o leste d o M e d i t e r r â n e o ,
o povo grego assimilou mitos e
misticismos d o s povos vizinhos,
assim c o m o arquitetura e matemática.
Mas alguns filósofos-cientistas mais
irrequietos estavam c o n v e n c i d o s d a
existência de u m a ordem subjacente,
q u e r di zer, d e u m a l ó g i c a p o r t r á s d o
f a t o d e a s c o i s a s s e r e m c o m o s ã o . Eles
não se contentavam c o m as explicações
rel i gi osas - c o m o , p o r e x e m p l o , o
p e n s a d o r X e n ó f a n e s (c. 5 6 0 - 4 7 8 a . C ) .

é INGÉNUO ADORAR OS
DEUSES, POIS ELES SE
COMPORTAM DE MODO
IRRACIONAL E IMORAL

SE OS CAVALOS
TIVESSEM MÃOS E
SOUBESSEM DESENHAR,
ELES CERTAMENTE
DESENHARIAM DEUSES
PARECIDOS COM
CAVALOS.

O u seja, os primeiros filósofos gregos


procuravam encontrar respostas que
hoj e c h a m a r ía m o s d e " c i e n t íf i c a s " , e
não mais "religiosas".

i
A g r a n d e que st ã o d o s m ilé sios
Os primeiros filósofos d e verdade foram u m punhado de gregos excêntricos
q u e seis s é c u l o s a n t e s d a n o s s a e r a v i v i a m n a c i d a d e d e Mi l eto, n a J ô n i a ,
u m a c o l ó n i a d a M a g n a G r é c i a l ocal i zada o n d e f i c a a t u a l m e n t e a c o s t a d a
T u r q u i a . A p e r g u n t a f u n d a m e n t a l , o pri nci pal q u e s t i o n a m e n t o d e l e s era
este: d o q u e é f e i t a a realidade, o q u e a c o m p õ e ? A t u a l m e n t e , e s s a p o d e
p a r e c e r u m a p e r g u n t a b e m e s q u i s i t a d e s e fazer. A m a i o r parte d a s p e s s o a s
p r o v a v e l m e n t e diria q u e o m u n d o é feito d e m u i t a s c o i s a s di ferentes, p o r q u e
é a s s i m q u e ele a p a r e c e p a r a n ó s . M a s e s s e s mi l ési os n ã o a c e i t a v a m q u e
aqui l o q u e n ó s v e m o s sej a n e c e s s a r i a m e n t e a m e s m a c o i s a q u e a q u i l o q u e
é verdadeiro.
O PRINCÍPIO QUE REGULA
E ORDENA A VIDA é O AR,
TUDO é FEITO DE AR.

Ana x ím ie ne s
( 5 8 5 - 5 2 8 a.C.)

EXISTE UMA ESPÉCIE DE PRINCÍPIO


FUNDAMENTAL QUE COMPÕE TUDO O
QUE EXISTE, E AO QUAL TUDO O
QUE EXISTE DEVE
EVENTUALMENTE VOLTAR.

A n a x i m a n d r o ( 6 1 0 - 5 4 6 a.C.)
Anaximandro t a m b é m acreditava que a
Terra tinha um formato semelhante a u m a
enorme coluna de pedra. Não sabemos
muita coisa sobre esses primeiros
p e n s a d o r e s e x c ê n t r i c o s , a n ã o ser q u e
a ciência deles era mais cerebral que
e x p e r i m e n t a l . M a s el es t i v e r a m o g r a n d e
mérito d e n u n c a aceitar respostas q u e se
baseassem unicamente em explicações
sobrenaturais.

8
Pitágoras e a matemática
P i t á g o r a s (571 - 4 9 6 a.C.) t a m b é m se fez a m e s m a p e r g u n t a
f u n d a m e n t a l , m a s e n c o n t r o u u m a r e s p o s t a b a s t a n t e di ferente d a s
d o s o u t r o s p e n s a d o r e s . N a o p i n i ã o dele, a r e s p o s t a p a r a t u d o era a
m a t e m á t i c a . Ele vivia n a ilha d e S a m o s a n t e s d e e m i g r a r c o m s e u s
d i s c íp u l o s p a r a a região d e C r o t o n e , a t u a l m e n t e sul d a p e n ín s u l a italiana.
Pi tágoras era u m v e g e t a r i a n o q u e a c r e d i t a v a e m r e e n c a r n a ç ã o e d e c l a r o u
q u e c o m e r feijões er a p e c a m i n o s o . Ele e o s d i s c íp u l o s r e v e r e n c i a v a m
o s n ú m e r o s e e s t a v a m c o n v e n c i d o s d e q u e o m u n d o er a c o m p o s t o d e
números; que a evidência d a verdade era melhor revelada por proporções,
q u a d r a d o s e t r i â n g u l o s retângul os. O g r a n d e a c h a d o d e Pi tágoras foi
r e c o n h e c e r q u e as v e r d a d e s m a t e m á t i c a s p r e c i s a m ser p r o v a d a s e n ã o
s o m e n t e acei tas. Hoj e e m d i a , s e u m i s t i c i s m o n u m é r i c o n o s p a r e c e b e m
e s q u i s i t o . Ele d e c l a r o u q u e a " J u s t i ç a " era r e p r e s e n t a d a pel o n ú m e r o 4 ,
p o r q u e e s s e é u m n ú m e r o q u a d r a d o . Por f i m , ele f i c o u s u p e r c h o c a d o c o m
a d e s c o b e r t a q u e fez d o s n ú m e r o s "i rraci onai s", c o m o Pi e V2.

P i t á g o r a s c h e g o u i ncl usi ve a a f o g a r u m d i s c íp u l o , H i p a r s o d e T a r e n t o ,
p o r ele t e r d e m o n s t r a d o a o m u n d o a i n c ó m o d a i m p e r f e i ç ã o d o s
n ú m e r o s i rraci onai s. O u s e j a , n e m t o d o s o s f i l ó s o f o s t o l e r a m m u i t o
bem o debate c o m seus alunos.

9
H e rá c lit o e o m u n d o
e m movimento
H e rá c lit o, que viveu por volta de
500 a . C , parece ter sido mais
tolerante c o m a irracionalidade
d o universo. O apelido dele era
"o leme", porque defendi a a ideia
de que t u d o no m u n d o estava e m
c o n s t a n t e m u d a n ç a e e m c o n t ín u o
e s t a d o d e c o n f l i t o . Ele i l ustrou e s s e s
pensamentos c o m a f a m o s a frase

NfíO SE PODE ENTRAR


DUAS VEZES NO MESMO
RIO.

C r á t i l o (c. 4 0 0 a . C ) , u m a l u n o
dele, foi ainda mais longe.

NAO SE PODE ENTRAR


NO MESMO RIO NEM UMA
ÚNICA VEZ.

M a s Heráclito já foi muito mal


interpretado: sua c o n c e p ç ã o d o
universo era, na verdade, d e q u e
p o r t r á s d o real e x i s t e u n i d a d e
e c o n s i s t ê n c i a . S e g u n d o ele, o
conhecimento que conseguimos
por meio dos nossos sentidos, e
no qual tolamente acreditamos,
é inevitavelmente o de u m
" o b s e r v a d o r r e l a t i v o " , q u e r dizer,
nosso conhecimento depende do
ponto de vista d a observação.

10
Por e x e m p l o : u m a m o n t a n h a s o b e o u d e s c e , d e p e n d e n d o d o n o s s o
p o n t o d e p a r t i d a . M a s é i sso q u e as m o n t a n h a s f a z e m :

CIMA E O CAMINHO IV/


PARA BAIXO SfíO UM V .
SÓ EA MESMA COISA.
S e u m rio n ã o m u d a s s e o t e m p o
t o d o , n ã o s e r i a u m rio. M a s ,
apesar disso, nós sabemos
q u e ele é o q u e é. C o m i s s o ,
Heráclito estava provavelmente
dizendo que o verdadeiro
conhecimento vem do nosso
pensar, d a nossa mente, e
não d a nossa observação das
c o i s a s . A ê n f a s e q u e ele d a v a
à mudança acelerada de tudo
talvez tenha sido sua maior
contribuição para a p e r g u n t a
f u n d a m e n t a l : p o d e m o s dizer
que, no f u n d o , o m u n d o é feito
de fogo - algo que está sempre
mudando e que ainda
assim mantém sua
unidade, permanece
ele m e s m o ?

11
Pa rm ê nide s
P a r m ê n i d e s d e Eleia
( 5 1 5 - 4 9 0 a.C.) v i v e u n a r e g i ã o
d a G r é c i a , o n d e hoj e é o sul d a
Itália. Ele e s c r e v e u u m l o n g o
p o e m a sobre o poder d a lógica e
do conhecimento e concordava
c o m Heráclito q u a n t o ao
c o n h e c i m e n t o e m p ír i c o ser
s u b j e t i v o . Isso s i g n i f i c a q u e o
ser h u m a n o , p a r a d e s c o b r i r
verdades permanentes sobre o
m u n d o , deve confiar somente na
lógica e no pensamento.

POIS SEP é R
MESMA COISA
QUE PENSAR.

U t i l i z a n d o a r g u m e n t o s e s t r i t a m e n t e l ó g i c o s , ele f o r j o u u m a c o n c e p ç ã o
interessante sobre o t e m p o : t u d o o que existe é o presente imediato.
Falar s o b r e o p a s s a d o e o f u t u r o é u m s i m p l e s falar, j á q u e n e n h u m
d o s d o i s t e m e x i s t ê n c i a real. P a r m ê n i d e s a i n d a é a d m i r a d o p e l o s
filósofos c o n t e m p o r â n e o s por aceitar t o d a e qualquer concl usão
que fosse o resultado de u m argumento dedutivo rigoroso, por mais
e s t r a n h a q u e el a p u d e s s e ser.

12
Z e nã o, o p a r a d o x o d o
movimento
U m aluno de Parmênides c h a m a d o Zenão
( 4 9 0 - 4 3 0 a.C.) f i c o u f a m o s o p o r i n v e n t a r
paradoxos que c o s t u m a v a m explorar
a enigmática relação q u e muitas vezes
existe entre espaço e t e m p o . O mais
f a m o s o deles diz respeito a Aquiles e a
tartaruga. C o m o b o m esportista, Aquiles
d á u m a cabeça de vantagem à tartaruga,
vantagem proporcional à lentidão dela.
Mas Aquiles acaba descobrindo que não
é p á r e o p a r a a q u e l e s e u o p o n e n t e réptil...

MAS NESSE MEIO-


PARA AQUILES CHEGAR PO PONTO -TEMPO A TARTARUGA
A ATé O PONTO B, ELE PRECISA DA CHEGOU AO PONTO
PRIMEIRO ATINGIR O PONTO C, PO D, E QUANDO AQUILES
QUAL JA SAIU A TARTARUGA. CHEGAR LA, INFELIZMENTE
PARA ELE A TARTARUGA
JA TERA ATINGIDO O
PONTO E, E ASSIM POR
DIANTE...

A t a r t a r u g a e s t a r á s e m p r e u m p o u c o à f r e n t e d e A q u i l e s (se ti ver
s a íd o a n t e s dele), e p o r i sso n u n c a p o d e r á s e r a l c a n ç a d a . Esse
a r g u m e n t o a i n d a o c u p a f i l ó s o f o s , m a t e m á t i c o s e f ís i c o s . E t a m b é m
é t e m a de charadas. O que Zenão está dizendo é que o movimento
e a m u d a n ç a real s ã o i m p o s s ív e i s - a m e s m a t e s e d e f e n d i d a p o r s e u
mestre, Parmênides.

13
Em pé doc le s e o s
quatro e le m e nt os

O MUNDO é FEITO DE
TERRA, AR, FOGO E AGUA.
ELE é COMANDADO POR
DUAS FORÇAS OPOSTAS,
AMOR E CONFLITO,
ATRAÇAO E REPULSÃO.

ATÉ A ÉPOCA MEDIEVAL,


ESSES QUATRO
ELEMENTOS FORAM
CONSIDERADOS AS
SUBSTANCIAS BÁSICAS
C o m a introdução dessa noção de
DE TUDO O QUE EXISTE.
forças contrárias, Empédocles tentou
explicar c o m o os c o m p o s t o s são
f e i t o s e d e s t r u íd o s , c o m o eles n a s c e m
e m o r r e m . A f ís i c a d e l e o l e v o u à
convicção d a existência de u m ciclo
constante de reencarnação destrutiva
e c o n s t r u t i v a . Ele d i z i a p o d e r t e r
sido " u m garoto ou u m a garota,
u m a moita ou um peixe marinho"
a n t e s d e ser E m p é d o c l e s . D e u f i m
aos próprios dias pulando dentro d a
cratera d o vulcão Etna, talvez c o m o
d e m o n s t r a ç ã o d e s u a filosofia.
Os atomistas
A n a x á g o r a s ( 5 0 0 - 4 2 8 a.C.) e x p l i c o u
que nós somos o que comemos.
Tudo é u m a mistura, u m a mescla.
Assim, o que existe são porções
de sangue, carne, ossos, cabelos e
unhas e m semente, e m germe, o que
explicaria c o m o a c o m i d a c o m p õ e o
corpo humano.

NO FIM PAS CONTAS, EXISTE


UM PEPfíCINHO PB TOPPS
RS COISRS BM CRPR COISR,
UM COMPONENTE PB TUPO
BM TUPO, POR ISSO TUPO O
QUE EXISTE é FEITO PE UMR
QURNTIPRPE INFINITA PE
PEQUENAS COISRS.

OUTRAS QUALIDADES,
COMO O AROMA, Só
PEVEM FORÇOSAMENTE SE PRODUZEM QUANDO
EXISTIR MINÚSCULAS COISRS { V ÁTOMOS DE UM OBJETO
QUE AFINAL NAO
SER MAIS REPUZIPRS,
"CORTAPAS" OU
POIS PO CONTRARIO
POPEM
MAIS
PIVIPIPRS,
R
KA INTERAGEM COM OS
ÁTOMOS
DO NARIZ
DO OLFATO,
HUMANO.

MATÉRIA NfíO EXISTIRIA.


ESSES PEPRCINHOS «NAO
CORTÁVEIS", OU "ÁTOMOS"
EM GREGO, MOVIMENTRM-
-SE, COLIPEM UNS COM OS
OUTROS E FORMAM NOVOS
COMPOSTOS - E SAO
INPIVIS/VEIS, O QUE
EXPLICA QUALIPAPES
OBJETIVAS PO
MUNPO E PE TUPO O
QUE EXISTE, COMO
PESO, FORMATO E
VOLUME.

D e m ó c r i t o , o a t o m i s t a ( 4 6 0 - 3 7 0 a . C ) , foi c o n t e m p o r â n e o d e S ó c r a t e s
e f i c o u f a m o s o p o r s u a s i ncrívei s t e o r i a s s o b r e a s u b s t â n c i a e a m a t é r i a ,
q u e a n t e c i p a r a m a s t e o r i a s d o s f ís i c o s a t o m i s t a s d o s é c u l o XX.
15
A p r e s e n t a n d o Sóc ra t e s
T o d a s e s s a s t e o r i a s s o b r e o s i g n i f i c a d o e a n a t u r e z a ín t i m a d o m u n d o
são conheci das c o m o "pré-socráticas". O q u e é notável nessas
c o n c e p ç õ e s é o quão próximas estão d e teorias desenvolvidas
p e l a c i ê n c i a e m p l e n o s é c u l o XX. E o s g r e g o s c h e g a r a m a elas s e m
a c e l e r a d o r d e p a r t íc u l a s o u o u t r o s a p a r e l h o s - s ó p e n s a n d o m u i t o !

S ó c r a t e s ( 4 7 0 - 3 9 9 a.C.) v i v e u e m A t e n a s , u m a p e q u e n a
" c i d a d e - e s t a d o " d o n a d e u m poderoso império no Mediterrâneo.
Muitos atenienses tinham escravos, o que era c o m u m naquela
é p o c a , e i sso d a v a a eles b a s t a n t e t e m p o p a r a fi car p e n s a n d o e m
a s s u n t o s c o m o d r a m a , h i s t ó r i a , a s t r o n o m i a o u f i l o s o f i a . Eles e s t a v a m
c o n v e n c i d o s d e q u e e r a m a ci vi l i zação m a i s a d i a n t a d a d a T e r r a ; e,
pelo q u e s a b e m o s , eram m e s m o !
16
Relativismo
cultural
H e r ó d o t o (484-424 a.C.)
foi u m h i s t o r i a d o r q u e
vi aj ou i n t e n s a m e n t e
p o r t o d a a G r é c i a e fez
umas tantas descobertas
surpreendentes
s o b r e as c r e n ç a s e o
comportamento de outros
povos. Filósofos sofistas,
como Prot á gora s,
deram-se conta das muitas
implicações disso, o que
o s l e v o u a fazer u m b o m
número de perguntas
bem incómodas.

SE OUTRAS PESSOAS
ACREDITAM EM COISAS
DIFERENTES DAS QUE
NÓS ACREDITAMOS,
COMO PODEMOS SABER
QUE NOSSAS CRENÇAS
ESTRO CORRETAS? COMO
TER CERTEZA DE QUE
QUALQUER CRENÇA é
CORRETA?

S e m p r e é fácil a c h a r q u e n o s s a s p r ó p r i a s c r e n ç a s s ã o " n a t u r a i s " ,


q u a n d o n a v e r d a d e elas s ã o " c u l t u r a i s " . A s s i m , o s s o f i s t a s m u d a r a m
o o b j e t o , o t e m a d e refl exão e p e s q u i s a f i l o s ó f i c a , d a p e r g u n t a
f u n d a m e n t a l p a r a vári as o u t r a s p e r g u n t a s s o b r e o s m o d o s d e ser d o
ser h u m a n o e d e s u a s d i f e r e n t e s s o c i e d a d e s .
17
Prot á gora s, o s o f i s t a
P r o t á g o r a s ( 4 9 0 - 4 2 0 a.C.) d i s s e q u e " o ser h u m a n o é a m e d i d a
de t o d a s as coisas" - o que significa que não existem verdades
o b j e t i v a s , m a s s o m e n t e l i m i t a d a s e relativas c o n v i c ç õ e s h u m a n a s .
E s s a a f i r m a ç ã o s o a s u p e r - r e l a t i v i s t a e a t é m e s m o p ó s - m o d e r n a . Ele
disse ainda q u e a filosofia não passava d e retórica, o u seja, a arte
d a p e r s u a s ã o v e r b a l ( u m i n s t r u m e n t o , u m a p e r íc i a b a s t a n t e útil e m
debates), e que aprender a ter esse tipo d e c o m p e t ê n c i a transformava
os alunos e m "bons homens".

S ó c r a t e s e r a b a i x i n h o , d e p é s s i m a a p a r ê n c i a , e n a r i g u d o . O pai d e l e e r a
p e d r e i r o e a m ã e , p a r t e i r a . A e s p o s a , X a n t i p a , v e n d i a l e g u m e s e, m a i s
d e u m a vez, a c h o u q u e o marido era barbaramente vago. Porém, para
m u i t o s j o v e n s a t e n i e n s e s ele foi e v i d e n t e m e n t e u m a e s p é c i e d e g u r u
c a r i s m á t i c o , tal vez p o r q u e o s e n s i n a s s e a q u e s t i o n a r t u d o e q u a l q u e r
c o i s a - u m c o s t u m e s i n g u l a r q u e d e v i a , s e m d ú v i d a , irritar o s p a i s d o s
d i s c íp u l o s .
18
O s diá logos soc rá t ic os
Sócrates s e m p r e dizia não saber nada, è por c a u s a disso o oráculo
d e D e l f o s d e c l a r o u q u e ele e r a " o m a i s s á b i o d o s h o m e n s d a G r é c i a " .
Ele i n c e n t i v a v a e n f a t i c a m e n t e s e u s d i s c íp u l o s a d i s c u t i r ideias e
a r g u m e n t a r , e m geral p a r a d e m o n s t r a r o q u a n t o é difícil d a r r e s p o s t a s
s a t i s f a t ó r i a s a p e r g u n t a s f i l o s ó f i c a s . E s s a i n c e r t e z a q u e o s irritantes
" d i á l o g o s s o c r á t i c o s " p r o d u z i a m n a c a b e ç a d a s p e s s o a s tal vez
explique por que o apelido de Sócrates era "o m o s c a " .

N i n g u é m s a b e c o m c e r t e z a s e ele a c r e d i t a v a m e s m o q u e o d i á l o g o
c o n s e g u i a levar a v e r d a d e s s o b r e c o n c e i t o s c o m o " j u s t i ç a " , d e m o d o
q u e el es p u d e s s e m ser a p l i c a d o s a q u e s t õ e s é t i c a s e p o l ít i c a s . S u a
c o n v i c ç ã o central era d e q u e a sabedori a ética reside no eu, q u e "virtude
é conhecimento".

19
Condenado à morte
Infel i zmente, S ó c r a t e s t i n h a a l g u n s a m i g o s d u v i d o s o s , c o m o Críti as,
que m a n d a r a m executar sistematicamente vários atenienses que
m a n i f e s t a v a m ser c o n t r a o s " t r i n t a t i r a n o s " . Q u a n d o el es f o r a m
f i n a l m e n t e d e p o s t o s , u m júri d e m o c r a t a r e s o l v e u s e v i n g a r e " o m o s c a "
foi c o n s i d e r a d o c u l p a d o d e i m p i e d a d e e d e c o r r o m p e r a j u v e n t u d e , e
p o r i sso c o n d e n a d o à m o r t e . C o r a j o s a m e n t e , d e p o i s d e e x p l i c a r p o r q u e
p r e f e r i a n ã o sair d a c i d a d e e m o r r e r p o r s u a s ideias, S ó c r a t e s t o m o u
cicuta, o veneno que o matou.

S ó c r a t e s c o n t i n u a s e n d o u m a f i g u r a a m b íg u a . U m h o m e m q u e
e s c o l h e u m a u s aliados políticos, m a s q u e d e f e n d e u o l i v r e - p e n s a m e n t o ,
a c h a m a d a liberdade de consciência, contra o c o m p o r t a m e n t o
p r e g a d o p e l o E s t a d o . M a s é i n e g á v e l : ele m u d o u a f i l o s o f i a . A partir
d e l e a s q u e s t õ e s f i l o s ó f i c a s p a s s a r a m a ser s o b r e é t i c a h u m a n a e
p o l ít i c a , e n ã o m a i s s o b r e a n a t u r e z a ín t i m a d o m u n d o d a N a t u r e z a , o
m u n d o f ís i c o .
20
Pla t ã o e o
filósofo-re i
P l a t ã o ( 4 2 7 - 3 4 7 a.C.) foi u m
d o s d i s c íp u l o s d e S ó c r a t e s ,
mas, ao contrário de seu
mestre, tinha instintos de
autoritarismo. Ateniense de
origem aristocrática, detestava
os democratas, por terem
condenado Sócrates à morte.

QUANDO OBSERVO
TUDO ISSO,
MERGULHO NA
REPULSA AOS
ABUSOS DESTA
ÉPOCA.

Pl atão e r a d a o p i n i ã o d e q u e s e u s
compatriotas atenienses tinham
se t o r n a d o frouxos e decadentes.
Ele a d m i r a v a a i m p l a c á v e l f o r ç a
militar d e E s p a r t a , q u e v e n c i a
t o d a s as batalhas contra Atenas.
C h e g o u a ser t u t o r d o fi l ho d e
Di onísi o I d e S i r a c u s a , u m a l u n o
b a s t a n t e rel utante, m a s d e p o i s
voltou a Atenas, onde fundou sua
famosa Academia. Sua obra mais
i m p o r t a n t e foi A República, que
fez u m p r o j e t o d e t a l h a d o d e u m a
soci edade perfeita, g o v e r n a d a por
sábios filósofos-reis.
A doutrina do ina t ism o
Pl atão e t e r n i z o u o s d i á l o g o s s o c r á t i c o s a o d a r e s s a f o r m a a s u a o b r a .
Em seus primeiros escritos, conferiu respeitabilidade à doutrina d o
inatismo - a crença de que t o d o s já nascemos programados c o m
c e r t o s t i p o s d e c o n h e c i m e n t o . Ele fez u m a d e m o n s t r a ç ã o d e q u e isso
seri a a s s i m i n t e r r o g a n d o o j o v e m e s c r a v o q u e p e r t e n c i a a u m a m i g o
dele, M e n ã o .
s \

A e x p l i c a ç ã o d e l e foi q u e n ó s t o d o s t e m o s u m a a l m a i m o r t a l , q u e j á
p a s s a m o s por existências anteriores. Dessa f o r m a , t u d o o
que aprendemos, na verdade, não passa de "reconhecimento", ou
a n a m n e s e (pal avra g r e g a q u e s i g n i f i c a m e m ó r i a ) .
22
A s form a s ideais
Esse " r e c o n h e c i m e n t o " c o n t r i b u i u p a r a
fazer d e Pl atão u m h o m e m d e " d o i s
m u n d o s " . S e g u n d o ele, a p e s a r d e existir
o m u n d o das coisas óbvias d o dia a dia,
existe t a m b é m outro, o das eternas e
p e r f e i t a s " f o r m a s " . Essas f o r m a s s e r i a m
c o m o model os perfeitos, d o s quais
s u r g e m as coisas singulares que nós
vemos; assim, por exemplo, as cadeiras
que vemos seriam meras cópias d a pura
f o r m a , o u d a f o r m a ideal d e " c a d e i r i s m o "
a ideia de cadeira. Só u m a categoria
de pessoas dotadas de certa forma
d e i n t e l i g ê n c i a - e q u e ele c h a m o u d e EU VEDO UMA MESA
"guardiães", seriam capazes de "ver" E UMA XÍCARA.
e s s a s f o r m a s i deai s. N e m t o d o m u n d o MAS NfíO CONSIGO
c o n c o r d o u c o m i sso. VER O MESISMO
(/PEIA PE MESA) E O
XICARISMO (IPEIA
PE XÍCARA).

EXATAMENTE. PARA VER A


MESA E A XÍCARA VOCÊ Só
PRECISA PE OLHOS, E ISSO
VOCÊ TEM. MAS PARA VER O
MESISMO E O XICARISMO VOCÊ
PRECISA PE INTELIGÊNCIA, E
ISSO VOCÊ NfíO TEM.

23
A alegoria d a c a ve rna
Pl atão e x p l i c o u s u a t e o r i a d a s
ideias p o r m e i o d e u m a a l e g o r i a , u m
mito. Pessoas c o m u n s são c o m o
prisioneiros que vivem o t e m p o
todo dentro de uma caverna escura,
obri gados a só ver as s o m b r a s
projetadas por u m a fogueira na
parede da caverna. Sombras que
eles p e n s a m q u e s ã o reais.

NÓS SOMOS COMO


ESSES PRISIONEIROS,
ENSINADOS DESPE QUE
NASCEMOS A ACREDITAR
QUE OS FENÓMENOS, AS
EXPERIÊNCIAS PO PIA A PIA
SRO TUPO O QUE EXISTE.

Da m e s m a forma, q u e m é a c o s t u m a d o a desenvolver habilidades


mentais, c o m o os matemáticos, descobre que por trás d o m u n d o d a
e x p e r i ê n c i a sensível e x i s t e o u t r o m u n d o , m e l h o r e m a i s v e r d a d e i r o ,
m a i s real - o m u n d o d a s f o r m a s . Essas p e s s o a s c o n s e g u i r ã o , p o r f i m ,
ver e c o n h e c e r " a p r ó p r i a d i v i n d a d e " e s e t r a n s f o r m a r e m infalíveis
dirigentes "de ouro" e m u m a sociedade c o m p o s t a de pessoas
incultas, feitas de prata, bronze e ferro, e q u e jamais q u e s t i o n a m o
s i s t e m a . N e s s a R e p ú b l i c a , s e a l g u é m q u i s e r s a b e r c o m o agir, b a s t a
perguntar a um "guardião".

24
Em seus trabalhos tardios, Platão
parece ter duvi dado das formas e
d a relação delas c o m c a d a objeto
no m u n d o e m q u e vivemos, objetos
c h a m a d o s de "particulares". O
sistema platónico é chamado de
" f e c h a d o " : s e a c e i t a r m o s o q u e ele
afirma sobre o conhecimento, então
teremos s u p o s t a m e n t e de aceitar
s u a s r íg i d a s c o n c e p ç õ e s s o b r e é t i c a
e p o l ít i c a . A p a r e n t e m e n t e , P l a t ã o
acreditava que todo conhecimento
p o d e ser t ã o e s t á v e l e a b s t r a i o c o m o
a m a t e m á t i c a - e i sso n ã o é b e m
a s s i m . Ele t a m b é m p a r e c e t e r f i c a d o
"enfeitiçado" c o m a esquisitice grega
que insinuava que para "conhecer"
realmente alguma coisa precisamos
experimentá-la, vivenciar s u a
experiência de m o d o direto.

SE SOUBERMOS O
QUE é A ^BELEZA",
ENTRO a COMO SE
TIVÉSSEMOS FICADO
FRENTE A FRENTE
COM SUA FORMA.

Mas nunca ficou claro o que


s ã o e s s a s f o r m a s , o n d e elas
e x i s t e m , c o m o elas s ã o , e p o r
que só uns poucos sábios
conseguem "vê-las".
Espe c ia list a s e m filosofia
Pl atão i n c e n t i v o u g e r a ç õ e s p o s t e r i o r e s d e f i l ó s o f o s a a c r e d i t a r q u e
era t r a b a l h o d e l e s d e s c o b r i r t i p o s e s p e c i a i s d e c o n h e c i m e n t o m ís t i c o ,
o u " i d e a l " , q u e e s t a r i a m e s c o n d i d o s s o b a s u p e r f íc i e , s o b a a p a r ê n c i a
d o c o t i d i a n o . S u a f i l o s o f i a p o l ít i c a t a m b é m é u m i n c e n t i v o p e r i g o s o
a s e criar u m a " u t o p i a " t r a ç a d a p o r u m a elite a u t o r i t á r i a e " s u p e r i o r " .
N ó s s a b e m o s b e m n o q u e i sso p o d e dar.

26
Arist ót e le s, o m e s t r e
Q u a n d o t i n h a d e z o i t o a n o s , A r i s t ó t e l e s ( 3 8 4 - 3 2 2 a.C.) c h e g o u a A t e n a s
vindo d a Macedónia, ao norte d a Grécia, para estudar na A c a d e m i a de
P l a t ã o . S e m d ú v i d a n e n h u m a ele g o s t o u d e e s t u d a r ali, p o r q u e a c a b o u
f i c a n d o p o r v i n t e a n o s . Q u a n d o Pl atão m o r r e u , A r i s t ó t e l e s foi e m b o r a d e
Atenas, se casou e voltou para a Macedónia.

ELE FOI
CONVIDADO POR
FELIPE, O REI DA
MACEDÓNIA, A SER
TUTOR DO FILHO
DELE, ALEXANDRE,
QUE ESTAVA COM
TREZE ANOS.

MAIS TARDE, EU
ME TORNEI O
CONQUISTADOR
ALEXANDRE, O GRANDE.

A n o s d e p o i s ele v o l t o u a A t e n a s ,
onde fundou sua própria escola
de filosofia, o Liceu. Mas, q u a n d o
A l e x a n d r e m o r r e u , ele a c h o u
m e l h o r sair d e A t e n a s , p o r q u e o
imperialismo macedóni o tinha se
tornado extremamente impopular.
A c a b o u m o r r e n d o n o exílio, e m
3 2 2 a n t e s d e n o s s a e r a , n a ilha
de Eugeia. No testamento q u e
deixou, pedia que seus escravos
fossem postos e m liberdade,
a p e s a r d e a n o s a n t e s ter d i t o q u e
aqueles cativos eram escravos
"por natureza".
27
Lógic a d e d u t i v a o u silogíst ic a
A r i s t ó t e l e s e s c r e v e u c e r c a d e q u a t r o c e n t o s livros, s o b r e a s s u n t o s q u e
iam d e moluscos a almas imortais.

28
Outras estruturas lógicas d o m e s m o tipo, c h a m a d a s d e silogismo,
p o d e m ser p r o d u z i d a s c o m " N e n h u m s a p o " e " A l g u n s s a p o s " . E s e o s
a r g u m e n t o s seguirem al gumas regras básicas ( c o m o não admitir mais
n a c o n c l u s ã o d o q u e nas p r e m i s s a s ) , e n t ã o o s i l o g i s m o s e r á v á l i d o . E
se as premissas forem verdadeiras, e o argumento for válido, então a
conclusão estará garantida, correta.

A lógica é u m a ferramenta poderosa, m a s Aristóteles nunca explicou


s o b r e o q u e e x a t a m e n t e a l ó g i c a e s t á f a l a n d o , d o q u e el a t r a t a - s e é d a
própria palavra, d a mente h u m a n a ou sobre c o m o a linguagem funciona.

29
I nduç ã o e c iê nc ia
Aristóteles não tinha ficado
inteiramente convencido c o m
a b i z a r r a T e o r i a d a s Ideias, d e
Pl atão. Ele t a m b é m a c h a v a q u e o
m u n d o era feito d e " f o r m a s " , m a s
elas s e r i a m s i m p l e s m e n t e " t i p o s
n a t u r a i s " , o u e s p é c i e s . Para ele, o
papel d o cientista é descobrir o q u e
são essas "espécies" e explorar
s u a s p r o p r i e d a d e s . Esse foi u m
d o s motivos pelos quais Aristóteles
reconheceu a importância d a indução
Observando determinados sapos
nadando, podemos supor que todos
os s a p o s s a b e m nadar.

Ou seja, todos os sapos sabem nadar.

Ao sermos capazes de
general i zar d e s a p o s
e s p e c íf i c o s p a r a e s p é c i e s ,
e s t a m o s c o m e ç a n d o a fazer
c i ê n c i a . P o d e m o s utilizar
generalizações indutivas
s o b r e a s e s p é c i e s p a r a fazer
uma dedução sobre um sapo T o d o s o s sapos s a b e m nadar.
i n d i v i d u a l , e isso d á à c i ê n c i a o Isso é u m s a p o .
p o d e r d e fazer u m a p r e v i s ã o . O u s e j a , ele s a b e n a d a r .
30
Ca usa final
Para Aristóteles, só as coisas individuais existem, e não as " f o r m a s " .
Ele t a m b é m e s t a v a c o n v e n c i d o d e q u e t u d o t e m u m a " c a u s a f i n a l " , o u
função potencial. Assim, o fogo t e m o potencial constante de se mover
p a r a c i m a , e o s o b j e t o s p e s a d o s , d e cair, d e s e m o v e r p a r a b a i x o . O u t r a s
coisas c o m o plantas, animais e seres h u m a n o s t ê m funções muito mais
complexas.

E PORQUE TUDO E CADA


ACONTECIMENTO TEM UMA
CAUSA, SE RECUARMOS ATÉ
O COMEÇO DOS TEMPOS,
CHEGAREMOS R CONCLUSRO
DE QUE DEVE TER HAVIDO UMA
CAUSA PRIMEIRA, OU ^PRIMEIRO
MOTOR»...

ALGUMA COISA
BEM PARECIDA
COM UM CRIADOR
DIVINO.

Essa explicação circular e s e m


c o n s i s t ê n c i a n e n h u m a foi c h a m a d a d e
explanação t e le ológic a , ou argumento
teleológico. É c o m o se a " c a u s a " fosse
u m puxador interno, u m a finalidade
última, e não u m propulsor separado.
Filósofos e cientistas c o n t e m p o r â n e o s
são m e n o s confiantes e m relação a
a f i r m a r o q u e seri a e s s e p u x a d o r . E,
depois d a teoria evolucionista de Darwin,
eles j á n e m a c r e d i t a m q u e a l g u m a c o i s a X X Í X X X W X - T r - J ;x X X £ a X '

desse tipo exista.


31
A l m a s e subst â nc ia s
Aristóteles t a m b é m deu sua contribuição para responder à p e r g u n t a
f u n d a m e n t a l . Ele n ã o a c e i t a v a q u e o b j e t o s m a t e r i a i s f o s s e m s i m p l e s
cópias, simulacros das "formas" eternas e imutáveis. Para Aristóteles,
t o d a s as coisas são feitas d e u m a única "substânci a", q u e t e m
propriedades "essenciais" e propriedades "acidentais". As essenciais
definem uma coisa.

E s s a q u e s t ã o f i l o s ó f i c a d a " s u b s t â n c i a " c o n t i n u o u a i nqui etar o s


filósofos nos 2500 anos que se seguiram. Aristóteles t a m b é m disse
q u e a s a l m a s s ã o o p r i n c íp i o d e t o d a v i d a b i o l ó g i c a . A s p l a n t a s t ê m
u m a a l m a vegetativa q u e as faz crescer, os animais t ê m outra, q u e
os faz t e r e m sensações, e os h u m a n o s t ê m as duas, além de t e r e m
a razão. Diferentemente das c o n c e p ç õ e s pitagórica e platónica d e
alma, a d e Aristóteles não é garantia d e imortalidade.
32
A é t ic a d a m ode ra ç ã o
A teoria platónica sobre a ética é assunto para superespecialistas.
M a s a t e o r i a ari stotél i ca l e m b r a m a i s u m a e s p é c i e d e p r á t i c a c o t i d i a n a
d e c o m p e t ê n c i a s q u e a mai or parte d o s a d u l t o s a d q u i r e p o r m e i o d a
e x p e r i ê n c i a . O s pais e x e r c i t a m o s filhos a ter c o m p o r t a m e n t o a d e q u a d o
c o m relação a o u t r a s c r i a n ç a s , e a d u l t o s a p r e n d e m c o m o ser sensíveis
e m o d e r a d o s e m s u a s rel ações c o m o s o u t r o s . O s seres h u m a n o s s ã o
ani mai s soci ai s, p r o g r a m a d o s p a r a v i v e r e m j u n t o s e m h a r m o n i a , m e s m o
q u e s e u " s o f t w a r e " d e c o m o s e c o m p o r t a r p r e c i s a ser r e g u l a r m e n t e
e x e r c i t a d o , e s c o l h e n d o o " m e i o - t e r m o " entre p o i o s o p o s t o s .

O u s e j a , a é t i c a a r i s t o t é l i c a di z m a i s r e s p e i t o à p r ó p r i a real i zação d o q u e
ao que se entende por moral, no sentido de c ó d i g o de c o n d u t a .

33
Assum indo a s responsabilidades
Para Aristóteles, Sócrates estava errado ao acreditar q u e "virtude é
conhecimento".

A ética aristotélica p o d e parecer simplória e óbvia, m a s sua "teoria d a


v i r t u d e " p a r e c e b e m a c e r t a d a . A é t i c a d e v e r i a se o c u p a r d e p r o d u z i r
p e s s o a s e t i c a m e n t e e x p e r i m e n t a d a s , q u e r dizer, q u e t e n h a m u m a
v i v ê n c i a d o q u e é é t i c o , e m v e z d e criar s i s t e m a s d e m o r a l o u r e g r a s .
Mas será que os seres h u m a n o s t ê m essas virtudes morais, ou essa
c a p a c i d a d e ? N o s s a c a p a c i d a d e t a l v e z s e j a agi r c o m o i n d i v i d u a l i s t a s
impiedosos e empedernidos.
34
Pla t ónic os s o n h a d o r e s e
srist ot é lic os r G s l i s t d s
S ó c r a t e s , Pl atão e A r i s t ó t e l e s f o r m a m a b a s e f i r m e e s ó l i d a d a
filosofia ocidental. O pensador A . N . W h i t e h e a d (1861-1947) fez
a f a m o s a afirmação de q u e t o d a a filosofia ocidental não passa d e
n o t a s d e r o d a p é d o p e n s a m e n t o d e P l a t ã o . R e a l m e n t e , Pl atão f e z
t o d a s as perguntas corretas, para as quais os filósofos ainda estão
p r o c u r a n d o respostas. T a m b é m se c o s t u m a dizer q u e d e s d e aquela
é p o c a o s filósofos t ê m o u inclinações platónicas ou aristotélicas.
I n t e r v a l o : hist ória r e s u m i d a
As independentes cidades-Estados gregas foram engolidas pelo
imperador macedónio A l e x a n d r e , o G r a n d e (356-323 a . C ) , o pupilo
d e A r i s t ó t e l e s q u e f e z c o n q u i s t a s q u e i a m d a Pérsi a à s f r o n t e i r a s d a
ín d i a , p a s s a n d o p e l o Egi to. Esse foi o c o m e ç o d o p e r í o d o h e l e n í s t i c o
(323-27 a . C ) , q u a n d o a cultura grega se espalhou por t o d o o
Mediterrâneo. Os generais d e Alexandre dividiam e c o m a n d a v a m os
t e r r i t ó r i o s c o n q u i s t a d o s (a r a i n h a d o Egi to C l e ó p a t r a ( 6 9 - 3 0 a.C.) e r a
d e s c e n d e n t e d e u m del es), a t é q u e o I m p é r i o R o m a n o o s i n v a d i u .
r \
OS ROMANOS SfíO
BONS SOLDADOS,
BONS ENGENHEIROS E
Os e pic urist a s - "c ult ive s e u ja rdim "
A f i l o s o f i a h e l e n ís t i c a s e f r a g m e n t o u e m d i v e r s a s e s c o l a s , i n f l u e n c i a d a s
p e l o m o d e l o a r i s t o t é l i c o d e " v i v e r b e m " , q u e d e i x o u d e si gni fi car ser u m
digno cidadão de u m a pequena cidade-Estado para tornar-se sobreviver
e m u m i m e n s o s i s t e m a i mperi al q u e n o m a i s d a s v e z e s e r a c o r r u p t o .
E p i c u r o (341 - 2 7 0 a.C.) s u g e r i u q u e p a r a ser feliz a p e s s o a s ó p r e c i s a d e
t r a n q u i l i d a d e e p a z d e espírito. C o m o d i s c íp u l o d e D e m ó c r i t o , ele d e f e n d i a
a t e s e d e q u e a m o r t e não p r e c i s a ser t e m i d a - el a é s i m p l e s m e n t e a
inevitável t r a n s f o r m a ç ã o d e n o s s o s c o r p o s e a l m a s e m á t o m o s .
O s e st óic os
Os estóicos diziam que o caminho para
b e m vi ver a v i d a e r a a c r e d i t a r s o m e n t e
n a razão e s e a f a s t a r d a s e m o ç õ e s ,
porque no fim das contas os sentimentos
n o s f a r ã o ser infelizes.

RECUSAR A
VAIDADE E O
ORGULHO, E TOMAR
CUIDADO PARA PARA NÓS, O
NfíO SE APEGAR UNIVERSO é RACIONAL,
SENTIMENTALMENTE APESAR DE A VIDA
A OUTRAS PESSOAS. HUMANA, SOCIAL E
POLÍTICA SER MA E
CRUEL.

O e s t o i c i s m o foi o
p e n s a m e n t o m a i s i nfl uente
n o m u n d o r o m a n o , e atrai u
pessoas socialmente tão
diferentes c o m o o escravo
E p i t e t o (55-135) e o
imperador M a r c o Auré lio
(121-180).
A filósofa contemporânea
Martha Nussbaum
redescobriu u m a rica fonte
de teoria estóica ética e
p o l ít i c a e m C í c e r o
(106-43 a . C ) , S é n e c a
(4 a . C - 6 5 d . C ) e e m
Marco Aurélio, q u e
c o m p a r t i l h a v a m ideais
de cidadania mundial e
equidade.

38
Cé t ic os e c ínic os
O s c é t i c o s t a m b é m s e p e r g u n t a r a m c o m o vi ver
b e m , m a s a s o l u ç ã o q u e el es e n c o n t r a r a m
foi b e m d i f e r e n t e . O c e t i c i s m o foi i n v e n t a d o
p o r P i r r o (c. 3 6 0 - 2 7 2 a . C ) , q u e a f i r m a v a n ã o
ser n a d a s á b i o a c r e d i t a r n o q u e q u e r q u e
f o s s e . Ele l e v a v a e s s a c o n v i c ç ã o a o e x t r e m o ,
a n d a n d o n a b e i r a d e fal ési as e p a s s a n d o
na frente de cavalos, e morreu... d e velhice.
D i ó g e n e s , o C ín i c o ( 4 1 2 - 3 2 2 a . C ) , e r a u m
c o m p l e t o anarquista, vivia dentro d e u m a
b a r r i c a e e r a r u d e c o m t o d o m u n d o , i ncl usi ve
c o m Alexandre, o Grande.

O CETICISMO PRODUZ
ALEGRIA, PORQUE
TENDO CONVICÇÕES
NfíO DOGMÁTICAS
NOS LIBERTAMOS DAS
PREOCUPAÇÕES.

Sexto Empírico (c. 200)

A e x e m p l o de Heráclito,
S e x t o E m p í r i c o dizia
que todo o conhecimento
é relativo e p o r i sso n ã o
digno de confiança, e
q u e n o limite n a d a p o d i a
ser p r o v a d o . ( P o r q u e
t o d a p r o v a p r e c i s a v a ser
provada, e o que provava
t a m b é m precisava ser
provado, e assim por
d i a n t e , a o infinito.) N o f i m
das contas, é claro que
os céticos trapaceavam
- el es e r a m d o g m á t i c o s
no q u e dizia respeito a
sua doutrina central, o
relativismo.
39
M a i s u m p o u q u i n h o d e hist ória
C o s t u m a - s e dizer q u e o Império R o m a n o d e s m o r o n o u no
século V antes de nossa era, porém a própria
cidade de Roma continuou sendo um importante ^
centro eclesiástico cristão. E a m e t a d e leste d o
império, Bizâncio, declarada e m 293 Império
R o m a n o Oriental, t e n d o Constantinopla c o m o
capital, resistiu até cair di ante d o s t u r c o s
e m 1453. A civilização árabe floresceu
s o b o islamismo, no sécul o VII, e se
espalhou pelo Norte d a África,
c h e g a n d o até a Espanha.
A c he ga da do c rist ia nism o
C o n s t a n t i n o (c. 2 8 5 - 3 3 7 ) f o i o p r i m e i r o i m p e r a d o r r o m a n o a a d o t a r
o c r i s t i a n i s m o e t r a n s f o r m á - l o e m religião oficial d o i m p é r i o (c. 3 2 0 ) .
A s s i m c o m e ç o u o p o d e r d a Igreja C a t ó l i c a d e R o m a , q u e t r a t o u d e
t e n t a r i m p o r s u a c u l t u r a p o r t o d a a E u r o p a O c i d e n t a l . A Igreja t i n h a
o m o n o p ó l i o d e t o d a s as f o r m a s d e p e n s a m e n t o f i l o s ó f i c o e r e p r i m i a
a t i v a m e n t e q u a l q u e r i dei a o u v i s ã o d e m u n d o i n d e p e n d e n t e , o u n ã o
de acordo c o m sua doutrina.

41
Os pa is d a Igreja
O s p r i n c i p a i s p e n s a d o r e s d e s s e p e r ío d o s ã o e m geral c o n h e c i d o s
c o m o " p a i s " d a Igreja, p o r q u e eles e x p l i c i t a r a m e e s t a b e l e c e r a m a s
d o u t r i n a s c e n t r a i s d a Igreja C a t ó l i c a e s u a s c o m p l i c a d a s c r e n ç a s .
Eles f o r a m c o n s i d e r a d o s f i l ó s o f o s p o r q u e a c r e d i t a v a m q u e D e u s
t e r i a d o t a d o o s s e r e s h u m a n o s d e razão p a r a p o d e r e m a r g u m e n t a r
e d i s c u t i r p r o b l e m a s t e o l ó g i c o s . T u d o i sso e s t a v a b e m m a i s p a r a
s u p e r s t i c i o s a e c e g a f é c r i s t ã d o q u e p a r a fi l osofi a...

U m d e s s e s " p a i s " q u e t e i m a v a m e m insistir n a a u t o r i d a d e a b s o l u t a


d a Igreja foi A g o s t i n h o ( 3 5 4 - 4 3 0 ) , q u e p a r a a Igreja e r a S a n t o . Ele
nasceu no Norte d a África e escreveu as f a m o s a s C o n f i s s õ e s , sobre
s u a p r ó p r i a j u v e n t u d e infeliz.

42
O p r o b l e m a d o de m ónio
A g o s t i n h o di zi a q u e a c u l p a d o n a s c i m e n t o d o d e m ó n i o é n o s s a , e
não d e Deus. O probl ema d o d e m ó n i o não teria aconteci do se Deus
tivesse programado autómatos " b o n s " e m vez de seres humanos. Mas,
g e n e r o s a m e n t e , Ele n o s c r i o u livres, i n d i v íd u o s a u t ó n o m o s .

Agostinho chegou à conclusão de que Deus sempre sabe de antemão


q u a i s e s c o l h a s m o r a i s v a m o s fazer, m a s n ã o s e i n t r o m e t e . Ele t a m b é m
ficou impressionado c o m o a r g u m e n t o t e le o ló g ic o d a existência de
D e u s : a d o u t r i n a d o o b j e t i v o e d a c a u s a final (no s e n t i d o d e f i n a l i d a d e ) .
O m u n d o é bonito, o r d e n a d o e planejado, t u d o servindo para justificar a
existência de u m criador divino fora d o nosso t e m p o .
43
A prova d e Anse lm o
No século XI, filósofos-teólogos eram
c h a m a d o s de " h o m e n s d e letras", ou " h o m e n s
d a e s c o l a " , e a f i l o s o f i a q u e el es p r o d u z i a m e r a
chamada de "escolástica". A n s e l m o
( 1 0 3 3 - 1 1 0 9 ) , q u e p a r a a Igreja t a m b é m e r a
Santo, ficou f a m o s o por ter inventado o
argumento ontológico d a existência de
Deus, que é mais ou menos assim:

ODA IDEIA DE DEUS DEVESER A DO MAIOR SER QUE JÁ


EXISTIU.

m ASA EXISTÊNCIA DE ALGO SÓ NA MENTEHUMANA É


INFERIOR À EXISTÊNCIA REAL.

SSIM, COMO DEUS É 0 MAIOR SER QUE SE PODEIMAGINAR,


ELE DEVEEXISTIR DE VERDADE, DO MESMO JEITO QUE NA
MENTEHUMANA.

Aparentemente, Anselmo achava MAS IPBIAS PB


que se embaralhasse direitinho COISAS B AS
as p a l a v r a s , d e a l g u m a m a n e i r a PRÓPRIAS COISAS
conseguiria produzir a prova d a SfíO BEM PIFBRBNTBS,
QUANPO SB TRATA
existência de Deus - o argumento
PB EXISTÊNCIA.
ontológico é u m a espécie de
ilusionismo, d e truque.
O nominalismo de Abelardo
O e c l e s i á s t i c o f r a n c ê s Pierre A b e l a r d , q u e f i c o u c o n h e c i d o c o m o
A b e l a r d o (1079-1144), tinha u m c a s o c o m u m a aluna dele c h a m a d a
H e l o ís a e foi c a s t r a d o p o r c a u s a d i s s o . Ela e n t r o u p a r a u m c o n v e n t o e
os dois passaram o resto d a vi da escrevendo cartas u m para o outro.
A b e l a r d o foi a u t o r

POR ISSO é QUE


PRLRVRRS SRO ELE COSTUMR
SOMENTE NOMES, OU SER CHRMRDO DE
*SIGNIFICRNTES", *NOMINRLISTR".

s Xl

E m q u a l q u e r d i c i o n á r i o , p a l a v r a s c o m o " g a t o " o u " c a d e i r a " s ã o e m geral


" u n i v e r s a i s " , o u c l a s s e s d e p a l a v r a s . P a r a Pl atão, e s s a s p a l a v r a s s e
referiam a " f o r m a s " divinas. Abel ardo dizia q u e não, q u e essas entidades
não existem, pois são simples informações particulares sobre coisas
d e s t e m u n d o . O u s e j a , a l i n g u a g e m p o d e levar f i l ó s o f o s a a c r e d i t a r n a
existência de coisas esquisitas q u e na verdade não existem.
45
Aquino e a teologia na t ura l
T o m á s d e A q u i n o ( 1 1 2 5 - 1 2 7 4 ) , t a m b é m S a n t o p a r a a Igreja
C a t ó l i c a , i n v e n t o u o u t r o a r g u m e n t o p a r a j usti fi car a e x i s t ê n c i a d e
Deus, parecido c o m o argumento de Aristóteles, d o "primeiro motor
i m ó v e l " . Esse a r g u m e n t o c o s m o l ó g i c o a f i r m a q u e t u d o t e m u m a
c a u s a , e, a s s i m , t e m q u e t e r h a v i d o a G r a n d e C a u s a P r i m e i r a d e
t u d o - ou Deus. T o m á s de Aqui no t a m b é m acreditava e m "teologia
natural".

Isso foi u m a b o a n o t íc i a p a r a o s c i e n t i s t a s m e d i e v a i s , p o r q u e
significava que a ciência não era necessariamente u m a atividade
h e r é t i c a . A d o u t r i n a d e T o m á s d e A q u i n o t a m b é m d i z i a q u e , e m raras
o c a s i õ e s , e r a a c e i t á v e l d e s o b e d e c e r à lei secul ar, d e s d e q u e f o s s e
p o r a c r e d i t a r q u e el a c o n t r a r i a v a a lei d i v i n a .
46
A navalha de
Occam
Teólogos tardios, c o m o
Guilherme de Oc c a m
(1285-1349), deram
continuidade à escolástica
n o q u e diz r e s p e i t o a o s
espinhosos problemas
de linguagem, lógica
e significado. O c c a m
t a m b é m era nominalista,
e foi ele q u e m d i s s e q u e
um monte de problemas
filosóficos não passava
de blá-blá-blá sobre
entidades imaginárias.
N a opinião dele, as
grandes verdades em
geral s ã o s i m p l e s , p o r
i sso é t o l o preferir u m a
resposta complicada
e m vez de u m a resposta
s i m p l e s . Esse p r i n c íp i o
ficou conhecido c o m o
"a navalha de O c c a m " e
foi s u p e r i m p o r t a n t e p a r a
a ciência - m e s m o que
não tenha influenciado
a própria filosofia,
infelizmente.

é UMA BOBAGEM
FAZER COM MAIS,
QUANDO SE PODE
FAZER COM MENOS.

47
Humanismo
renascentista
O complexo acontecimento
h i s t ó r i c o e cul tura l c o n h e c i d o
c o m o Renascença, ou
Renascimento, c o m e ç o u no
N o r t e d a Itália n o s é c u l o XIV e
se espalhou por t o d a a Europa,
durante dois séculos.

/
^HUMANISMO"
RENASCENTISTA SIGNIFICA
QUE FILÓSOFOS PASSARAM
A PODER PENSAR SOBRE
A ATIVIDADE HUMANA E
SOBRE IDEIAS...
v

r
E SE CONCENTRAR MENOS NA
EXISTÊNCIA E NA NATUREZA
DE DEUS.

A soci edade feudal morria lentamente. A s cidades iam se tornando


mais importantes e os m e m b r o s d a nova classe mercantil incentivavam
n o v a s i dei as n o â m b i t o d a m a t e m á t i c a , d a c i ê n c i a e d a t e c n o l o g i a , e m
parte porque essas coisas p o d i a m ajudá-los a ganhar mais dinheiro.
A outra grande m u d a n ç a daquela época, a Reforma, permitiu que
f i l ó s o f o s q u e v i v i a m e m p a ís e s p r o t e s t a n t e s f i z e s s e m q u e s t i o n a m e n t o s
m a i s r a d i c a i s s o b r e c i ê n c i a , p o l ít i c a e m o r a l i d a d e .
48
E r a s m o , o c é t ic o
U m filósofo que s e m querer ajudou a desencadear a Reforma
p r o t e s t a n t e foi E r a s m o ( 1 4 6 6 - 1 5 3 6 ) , c o m s e u livro Elogio da loucura.
E r a s m o e r a u m c r ít i c o f e r o z d a c o r r u p ç ã o n a Igreja C a t ó l i c a . Ele n ã o
levava ni nguém a sério, m e n o s ainda o s filósofos.

A exempl o dos pensadores d a Escola cética antes dele, Erasmo t a m b é m


e r a d e o p i n i ã o q u e a " s a b e d o r i a " h u m a n a é ilusória e i nati ngível .
49
T e óric os polít ic os
Aristóteles d o m i n o u basicamente
t o d a a teologia, a filosofia e a
ciência medievais. Os cientistas
da Renascença começaram
a descobrir que muitas vezes
ele t i n h a e s t a d o r e d o n d a m e n t e
e r r a d o . P o r e x e m p l o , o Sol n ã o
gira e m volta d a Terra. Aristóteles
t a m b é m insistira q u e o o b j e t i v o
d a a t i v i d a d e p o l ít i c a e r a p r o d u z i r
cidadãos eticamente virtuosos.
Doi s p e n s a d o r e s r e n a s c e n t i s t a s
estavam convencidos de que,
a respeito desse assunto,
Aristóteles t a m b é m não tinha
razão.

N i c o l a u M a q u i a v e l (1469-1527)
observou o comportamento
completamente sem escrúpulos
e cruel d o s g o v e r n a n t e s italianos
da Renascença, e chegou à
c o n c l u s ã o d e q u e a p o l ít i c a é
um jogo sujo e necessário, de
traição e de trapaças. Em seu
livro O príncipe, ele s u g e r i u
q u e m o r a l i d a d e e p o l ít i c a n ã o
combinam.

MUITAS VBZES, UM GOVERNANTE BEM-SUCEPIPO


PRECISA MENTIR, TRAPACEAR, QUEBRAR PROMESSRS
E, EVENTUALMENTE, ATÉ MESMO MATAR.

Maquiavel está mais para teórico


d a p o l ít i c a d o q u e r e a l m e n t e p a r a
filósofo, mas sua observação
a g u d a d a s p r á t i c a s p o l ít i c a s
e s t a b e l e c e u o s p r i n c íp i o s d a
moderna s o c i e d a d e c i v i l
s e c u l a r (não religiosa).

50
XG X X :;X X X Í > x?x . ^ x x x G x e o b X y x x ; . x n x - í G - G - ^ x \ x x * > : > ; - . 7 Í V X ' ; ^

O i ngl ês T h o m a s Hobbes
(1588-1679) fez u m balanço
b e m p e s s i m i s t a d o ser h u m a n o
e m s e u livro Leviatã. Ele e r a
f a s c i n a d o p e l o ri gor d e d u t i v o
d a geometria e acreditava que
o a r g u m e n t o lógico poderia ser
usado para produzir u m a filosofia
p o l ít i c a . A c o n c e p ç ã o d e l e d e
natureza humana, c h a m a d a
de e goísm o psic ológic o, é
mecanicista e profundamente
c ín i c a .

OS SERES HUMANOS
SÃO CRUÉIS E
EGOÍSTAS POR
INSTINTO, POR
ISSO QUALQUER
TENTATIVA PE
TORNÃ-LOS SERES
MORAIS É UMA
PERPA PE TEMPO.

Deixados por conta própria,


n o " e s t a d o n a t u r a l " , el es
inevitavelmente se matariam uns
aos outros. Rapidamente, a vida
d a s pessoas se tornaria "solitária,
pobre, dura, brutal e c u r t a " .

XX X X ^ b X ^ j 30:T;Bv<0p a X
OXXX-X X ' "'Li X X X X i,íy':.:;
51
A t e oria do c ont ra t o soc ia l
Hobbes acreditava que, em um esforço desesperado para escapar d a
m o r t e n a p r ó p r i a c a m a , as p e s s o a s e g o ís t a s s e r i a m o b r i g a d a s a selar
u m a s c o m as o u t r a s u m " c o n t r a t o s o c i a l " r e c íp r o c o . M a s u m c o n t r a t o
e n t r e i n d i v íd u o s c r u é i s p r e c i s a r i a o b r i g a t o r i a m e n t e ser r e f o r ç a d o p o r
u m segundo "contrato governamental", que permitisse aos governos
punir q u e m não respeitasse o primeiro.

GOVERNOS SOBERANOS SÃO


VITAIS PARA A PRESERVAÇÃO PA
V/PA HUMANA E POS VALORES PA
CIVILIZAÇÃO. A MORALIPAPE NÃO
PASSA PE UM ACORPO CÍNICO
ENTRE VILÕES.

Moralidade é a m e s m a coisa que


o b e d i ê n c i a às leis. Isso n ã o é lá
muito envaidecedor para nós c o m o
espécie, mas pelo menos H o b b e s
incentivou um novo interesse pela
natureza humana, e a convicção
d e q u e g o v e r n o s s ó t ê m di rei to d e
g o v e r n a r p o r m e i o d e u m contrato.
52
A filosofia d a
c iê nc ia d e B a c o n
O próprio F r a n c i s B a c o n (1561-
1626) e r a u m a s t u t o p o l ít i c o i ngl ês,
m a s c o m o f i l ó s o f o ele e s t a v a m a i s
i n t e r e s s a d o nas n o v a s c i ê n c i a s e a t é
o n d e el as p o d i a m c h e g a r . Ele f o i o
p r i m e i r o a di zer q u e " c o n h e c i m e n t o
é poder". Bacon não chegou a
fazer n e n h u m a d e s c o b e r t a , m a s
se interessou especialmente pelos
novos métodos de observação
CAUSAS SÃO INTEIRAMENTE
e m p ír i c a , e x p e r i m e n t a ç ã o e i n d u ç ã o ,
OBJETOS MATERIAIS E OS
e m p r e g a d o s por cientistas c o m o PROCESSOS OBEDECEM
Galileu Galilei ( 1 5 6 4 - 1 6 4 2 ) . B a c o n A LEIS QUE PESSOAS DE
n ã o l e v a v a m u i t o a séri o, n e m BOM-SENSO TAMBÉM
confiava muito na doutrina aristotélica CONSEGUEM DESCOBRIR
d a "causa final". SOZINHAS, RECORRENDO A
PROCEDIMENTOS CIENTÍFICOS.

Por f i m , a s e x p e r i ê n c i a s a m a d o r a s q u e ele f e z a c a b a r a m m a t a n d o - o .
Ele m o r r e u d e b r o n q u i t e , p r o v o c a d a p o r s u a s r e p e t i d a s e x p o s i ç õ e s a o
frio d o i n v e r n o p a r a ir s o c a r n e v e n a g a r g a n t a d e u m a g a l i n h a . Ele q u e r i a
d e s c o b r i r s e o fri o a p r e s e r v a r i a .
53
Orige ns d a filosofia M ode rna
Considera-se q u e a filosofia dita M o d e r n a c o m e ç o u c o m R e n é
D e s c a r t e s (1596-1650), o matemático francês que não aceitava
as r e s p o s t a s f i l o s ó f i c a s t r a d i c i o n a i s , i n s i s t i n d o e m s u a a u t o n o m i a
i n t e l e c t u a l . Ele e s t u d o u o t r a b a l h o i nterno d a m e n t e e m s u a r e l a ç ã o
c o m o m u n d o externo e enfatizou a diferença entre perceber e pensar.
Seu método de dúvida sistemática é um trabalho introspectivo e
autobiográfico, mas t a m b é m extremamente objetivo e lógico.

Descartes ficou profundamente impressionado c o m o quanto a


m a t e m á t i c a p o d i a ser rel evante e m c i ê n c i a s c o m o a a s t r o n o m i a . Ele
escreveu a maior parte de sua filosofia no ambiente c a l m o e tolerante
d a Holanda protestante.
^A
Dúvida c ie nt ífic a
O Discurso do método, d e D e s c a r t e s (1637), p r o c u r a e s t a b e l e c e r u m
n o v o t i p o d e c o n h e c i m e n t o c i e n t íf i c o r i g o r o s o , o b e d e c e n d o a r e g r a s d e
u m p r o c e d i m e n t o s i m p l e s . E m s u a s Meditações (1641), ele s e p e r g u n t a
s e e x i s t e q u a l q u e r t i p o d e c o n h e c i m e n t o q u e p o s s a ser s e g u r o e c e r t o .
Apl i cando a técni ca d a dúvi da sistemática e radical, descobri u q u e p o d i a
destruir qualquer tipo de certeza que tivesse.

3 x o > rxT un :a x x x x p e m .;
A t é m e s m o s e u s p e n s a m e n t o s a b s t r a t o s p o d i a m e s t a r e r r a d o s o u ser
i l usóri os. Tal vez u m d e m ó n i o invisível o t i v e s s e h i p n o t i z a d o , l e v a n d o - o a
pensar que estava acordado, fazendo cálculos matemáticos elaborados,
o que na verdade era falso.
55
Cogito ergo sum
A dúvi da cartesiana é cumulativa e implacável. Descartes sugeriu que
n ã o e x i s t e c o n h e c i m e n t o g a r a n t i d o . Ele d i z i a n ã o p o d e r t e r c e r t e z a n e m
m e s m o d a e x i s t ê n c i a real d o p r ó p r i o c o r p o . M a s ele a f i r m a v a p o d e r t e r
certeza absoluta de q u e seus pensamentos existiam: duvidar é pensar,
p o r i sso, a o d u v i d a r , ele e s t a v a p e n s a n d o . C o m e s s e i nsi ght, D e s c a r t e s
descobriu o " c o g i t o " .

COMO ESTOU PENSRNDO, DEVO


EXISTIR. NO MÍNIMO, EM RLGUM
TIPO PE SENTIDO MENTRL, OU SEUR,
COGITO ERGO SUM. EU PENSO,
LOGO EXISTO.

C o m seu achado, Descartes


quis demonstrar q u e os seres
humanos são, bizarramente,
dualistas - mentes ou almas
q u e p e r t e n c e m a o d o m ín i o d o
espi ri tual h a b i t a n d o c o r p o s q u e
s ã o c o m o m á q u i n a s e, n o f i m d a s
c o n t a s , p e r e c ív e i s . M a s n o s s a
mente é imortal. Entretanto, não
ficou muito claro c o m o os dois,
mente e corpo, interagem.
56
Ideias c la ra s e
distintas
Descartes estava convencido de que
Deus era a garantia d o pensamento
abstrato racional, "claro e distinto"
c o m o o p r ó p r i o c o g i t o . Isso s i g n i f i c a
que nosso "claro" pensamento
matemáti co sobre o m u n d o seria
correto, mas nossas experiências
s e n s o r i a i s relativas a ele s e r i a m t o d a s
subjetivas e enganosas.

NÓS PODEMOS TER


CERTEZA DA DIMENSÃO E
DO PESO DE UMA LARANJA,
MAS NÃO SOBRE SUA COR,
AROMA OU GOSTO.

Ou seja, o ceticismo d e Descartes é


u m a espécie de j ogo filosófico, que
ele u s a v a p a r a e s t a b e l e c e r q u e t i p o
d e conhecimento seguro e x i s t e .

Existem inúmeros problemas nessa


estrada subjetiva para u m a certeza
única e pessoal. Parece esquisito
acreditar que nossos sentidos
" m e n t e m " , nos enganam. Porque,
afinal d e c o n t a s , n ó s s ó s a b e m o s
que, n a v e r d a d e , u m p e d a ç o d e
madeira mergul hado na á g u a é reto
p o r q u e n o s s o s o l h o s n o s d i z e m isso
- depois. T a m b é m é b e m esquisito
associar Deus à figura de guardião
das certezas matemáticas.
/ /

/ /

57
A he ra nç a c a r t e s i a n a
O p e n s a m e n t o sol i tári o d e D e s c a r t e s (o c o g i t o ) p a r e c e p a r t i c u l a r e
inviolável, m a s a i n d a a s s i m ele é c o m p o s t o d e p a l a v r a s , c o m u m
conjunto d e regras gramaticais e t o d a u m a história cultural por trás. E
tal vez a p r o c u r a h u m a n a d e u m a c e r t e z a a b s o l u t a e n ã o h u m a n a s e j a
m a l c o n s t r u íd a . M a s m e s m o a s s i m t e m o s d e a g r a d e c e r a D e s c a r t e s ,
p o i s a h e r a n ç a q u e ele d e i x o u p e r m i t i u q u e p e n s a d o r e s p o s t e r i o r e s
l e v a s s e m s e u s q u e s t i o n a m e n t o s a i n d a m a i s l onge...

A filosofia d e Descartes t a m b é m conferiu respeitabilidade ao d o g m a


d e q u e o c o n h e c i m e n t o v e r d a d e i r o s ó p o d e d e r i v a r d a razão, o q u e
t r a n s f o r m o u o c o n h e c i m e n t o e m p ír i c o e m s e c u n d á r i o , e s t i m u l a n d o c o m
isso u m d e b a t e f i l o s ó f i c o q u e d u r o u p e l o m e n o s c e m a n o s , s e n ã o m a i s .

58
Que st õe s
espinosanas
B a r u c h S p i n o z a (1632-1677),
ou Benedito Espinosa, c o m o
p r e f e r i r e m , foi u m j u d e u h o l a n d ê s
que, c o m o D e s c a r t e s , t a m b é m
l e v a v a u m a v i d a sol i tári a.
P e n s a d o r livre, ele a c a b o u
sendo excomungado e expulso
d a comuni dade judaica, além
d e ser p r o i b i d o d e d a r a u l a s , o
que o obrigou a sobreviver c o m
bastante dificuldade d o seu
t r a b a l h o d e p o l i d o r d e l entes.
Esse t r a b a l h o a f e t o u s e u s Spinoza seguiu adiante c o m o
p u l m õ e s e o l evou à m o r t e . quebra-cabeça do problema
cartesiano d a "substância".
C o m o tinha afirmado Descartes,
existem dois tipos de totalidades
a u t ó n o m a s - a m e n t a l e a f ís i c a .
C o m o , e n t ã o , elas c o n s e g u e m
interagir?

COMO UMA DECISÃO


MENTAL FAZ PARA
^EMPURRAR", MOVER
ALGO FÍSICO?

E COMO UMA
SENSAÇÃO FÍSICA
PODE AFETAR A
MENTE?

A resposta de Spinoza, em
s u a É t i c a (1677), foi refutar
o dualismo cartesiano.
O monismo e spinosa no
Spinoza recorreu ao m é t o d o dedutivo d a geometria para demonstrar
q u e s ó e x i s t e uma s u b s t â n c i a - D e u s , a q u i l o e m q u e t u d o o m a i s
e x i s t e , c o m o u m modo de ser. E m o u t r a s p a l a v r a s , e x i s t e u m s i s t e m a
d e leis c i e n t íf i c a s d o q u a l a e x p e r i ê n c i a d a N a t u r e z a p o d e ser
deduzida. Nós só c o n h e c e m o s dois atributos divinos: o p e n s a m e n t o
(mente) e a e x t e n s ã o (corpo), m a s a m b o s o s m o d o s d e ser s ã o
a m e s m a coisa, expressada de dois jeitos diferentes. T o d o objeto
(modo d e extensão) é idêntico ao m o d o d e pensamento, exatamente
c o m o o c o r p o h u m a n o e a m e n t e . S e r á q u e isso q u e r di zer q u e as
pedras "pensam"?

S p i n o z a e n f a t i z o u a lógica n a teologia. Por isso, p a r a ele, a l i b e r d a d e


c i e n t íf i c a t o t a l é c o e r e n t e c o m t u d o o q u e é i m p o r t a n t e n a Bíbl i a.
O " m o n i s m o " d e l e foi e r r o n e a m e n t e c o n f u n d i d o c o m p a n t e í s m o
("Deus e s t á e m t o d a s as c o i s a s " ) , q u e m u i t o i n f l u e n c i o u o s r o m â n t i c o s
a l e m ã e s e i ngl eses.
60
Le ibniz e a monadologia
G o t t f r i e d W i l h e l m L e i b n i z ( 1 6 4 6 - 1 7 1 6 ) f o i u m incrível m a t e m á t i c o ,
f i l ó s o f o e p o l ít i c o . Rival d e I s a a c N e w t o n ( 1 6 4 2 - 1 7 2 7 ) , s ã o d e
a u t o r i a d e l e o s f u n d a m e n t o s d o c á l c u l o integral d i f e r e n c i a l e m s u a s
p e s q u i s a s e p r o c u r a p o r u m a " á l g e b r a d o r a c i o c ín i o " . C r ít i c o t a n t o d e
D e s c a r t e s q u a n t o d e S p i n o z a , ele f o r j o u s e u p r ó p r i o e i n t r i n c a d o s i s t e m a
m e t a f ís i c o , a m o n a d o l o g i a (1714).

O c o n c e i t o c e n t r a l d e Lei bni z é q u e o p e n s a m e n t o d e D e u s c o n t e r i a u m a
i n f i n i d a d e d e mundos possíveis, m a s s ó u m t e r i a s e real i zado, o melhor
d e t o d o s . O q u e d e c i d e o " m e l h o r " é u m m ín i m o d e c a u s a s (leis o u
s i g n i f i c a d o s ) e u m m á x i m o d e e f e i t o s ( e s t a d o s o u fins).

61
Devemos imaginar a m ô n a d a c o m o u m a s u b s t â n c i a individual..

1. q u e c o n t é m t o d o c o n c e i t o c o e r e n t e c o m el a, m a s n e n h u m o u t r o ;
2. ela não t e m partes, m a s "acidentes" das qualidades e tendênci a
mentais;
3. [não exi ste] n e n h u m a r e l a ç ã o c a u s a l e n t r e m ô n a d a s , m a s s ó e n t r e
seus estados;
4. c a d a m ô n a d a é u m m i c r o c o s m o à p a r t e , q u e reflete o
m a c r o c o s m o p o r inteiro;
5. e s s e m u n d o p o s s ív e l e x i s t e p o r q u e D e u s o c r i o u p o r u m
i m p e r a t i v o m o r a l , m a s n ã o n e c e s s a r i a m e n t e f ís i c o .

Lei bni z f i c o u c o n h e c i d o c o m o o
NO UNIVERSO PE
"Aristóteles d o m u n d o m o d e r n o " ,
MôNADAS, O ESPAÇO
p o r q u e e m sua grande teoria fez é RELATIVO AO LUGAR
um esforço de conciliação d o INDIVIDUAL DAS COISAS,
pensamento escolástico c o m E O TEMPO é RELATIVO
o n o v o r a c i o n a l i s m o c i e n t íf i c o . A SEUS SUCESSIVOS
Lei bni z d i v i d e c o m N e w t o n a ESTADOS
autoria d o conceito de que espaço
e t e m p o s ã o a b s o l u t o s e i nfi ni tos.

62
Voltaire e o I lum inism o
Lei bni z h a v i a p r o d u z i d o e e l a b o r a d o u m m o d e l o m e t a f ís i c o p a r a
descrever a estrutura básica d o universo. Mas será verdade? E c o m o
determinar se é verdade o u não? Essa questão revelou o p o n t o fraco
d a f i l o s o f i a r a c i o n a l i s t a t a n t o d e Lei bni z q u a n t o d e S p i n o z a . A n o v e l a
C â n d i d o , de V o l t a i r e (1694-1778) - u m das maiores figuras d o
I l u m i n i s m o - , s a t i r i z a v a a v i s ã o s u p e r o t i m i s t a d e Lei bni z d o " m e l h o r
d e t o d o s o s m u n d o s p o s s ív e i s " . O I l u m i n i s m o foi u m a e r a d e
radicalismo social e d e renovada confi ança no p o d e r d a razão, sobre
o d o g m a , a superstição e a tirania.
L o c k e e o e m p i r i s m o brit â nic o
J o h n L o c k e ( 1 6 3 2 - 1 7 0 4 ) a d o t o u a m a i o r p a r t e d a s ideias d e D e s c a r t e s
s o b r e a m e n t e e a p e r c e p ç ã o , m a s foi t a m b é m o f u n d a d o r d o e m p i r i s m o ,
q u e insistia q u e o c o n h e c i m e n t o h u m a n o b á s i c o d e v e t e r o r i g e m
n o s s e n t i d o s . Ele t a m b é m e r a d e o p i n i ã o q u e a d o u t r i n a c a r t e s i a n a e
p l a t ó n i c a d e i dei as i natas é r i d íc u l a , e q u e a m a i o r p a r t e d a m e t a f ís i c a
não faz sentido.

QUANDO NASCE, O SER


HUMANO NÃO PASSA DE
UMA VABULA RASA» VAZIA,
E Só CONSEGUE ADQUIRIR
CONHECIMENTOS BÃSICOS
SOBRE O MUNDO POR MEIO
DOS SENTIDOS.

DEPOIS DESSE
PROCESSO INICIAL, AS
EXPERIÊNCIAS PODEM
SER CLASSIFICADAS
E ESTOCADAS NA
MEMÓRIA.

S ó e n t ã o a m e n t e p o d e c o m e ç a r a reunir e a f o r m a r a s p r ó p r i a s
ideias, e a p e n s a r i n d e p e n d e n t e m e n t e d o s s e n t i d o s .

64
Locke concordava c o m Descartes que
nossa experiência d o m u n d o é sempre
i ndi reta. T u d o o q u e n o s s a m e n t e
efetivamente tem c o m o experiência são
representações de imagens mentais,
o que significa que não p o d e m o s
ter qualquer conhecimento d a
"substância" d a qual o m u n d o é feito.
Locke também concordava que nossa
experiência, nossa vivência de qualquer
o b j e t o , c o m o u m a laranja, p o r e x e m p l o ,
é mista.
AS QUALIDADES
4
^SECUNDARIAS"
RS QUALIDADES PRIMARIAS" PE PE COR, AROMA
TAMANHO E PESO ESTÃO *NR" EGOSTO SÃO
LARANJA E SÃO OBJETIVA E MEROS EFEITOS DA
CIENTIFICAMENTE MENSURÁVEIS. LARANJA SOBRE
NOSSOS ÓRGÃOS
DOS SENTIDOS,
E POR ISSO SÃO
SUBJETIVOS E
RELATIVOS.

O m u n d o d e L o c k e é u m lugar
monocromáti co e sem aroma, no
qual nós, seres humanos, vivemos
nossas experiências d o único
jeito q u e c o n s e g u i m o s : colorido
e cheiroso. Se nós f ô s s e m o s d e
outro planeta e equipados c o m
órgãos d o s sentidos diferentes
d o s q u e t e m o s , e n t ã o as laranjas
continuariam sendo redondas, mas
as qualidades secundárias poderiam
ser o u t r a s . M a s L o c k e n u n c a
duvidou d a existência de um m u n d o
exterior ao nosso, q u e o fazia ter
essas experiências mentais.
65
O idealismo de Be rk e le y
O bispo G e o r g e B e r k e l e y (1685-1753) transformou o empirismo
d e L o c k e e m u m p e n s a m e n t o m u i t o m a i s m e t a f ís i c o - n o r m a l m e n t e
c o n h e c i d o c o m o i d e a l i s m o . Ele u s o u c o m o p o n t o d e p a r t i d a a p r ó p r i a
ilógica distinção entre primário e secundário, d a filosofia de Locke,
p a r a d e m o n s t r a r q u e o s d o i s a s p e c t o s n ã o p o d e m ser s e p a r a d o s . N ã o
é p o s s ív e l d i s t i n g u i r o f o r m a t o original d e u m o b j e t o s e m o a s p e c t o
secundário, a c o r . Então, por q u e assumir que algumas experiências
são "reais" e outras só "mentais"? Berkeley chegou à conclusão de que
t o d a s as nossas experiências são mentais, causadas por Deus, e que
t o d a s a s n o s s a s v i v ê n c i a s di ári as, m a i s b a n a i s , s ã o u m a g i g a n t e s c a
i l usão. Ele f o r m u l o u e s s e p e n s a m e n t o n a f a m o s a m á x i m a : e s s e est
percipi, existir é ser p e r c e b i d o . F e l i z m e n t e , D e u s f a z q u e n o s s a s i l usões
sejam coerentes e consistentes, de m o d o que nossas experiências
venham em "pacotes".

66
U m a das implicações disso é q u e quando as coisas não estão sendo
p e r c e b i d a s , elas d e i x a m d e existir. E s s a i dei a é b e m difícil d e acei tar,
m a s o s f i l ó s o f o s g o s t a m b a s t a n t e d e l a , p o r q u e é difícil p r o v a r o
c o n t r á r i o . A f i n a l , c o m o é q u e n ó s p o d e r ía m o s " p u l a r " p a r a f o r a d o s
n o s s o s s e n t i d o s p a r a c o n s e g u i r refutar o q u e B e r k e l e y di z?

X : X x < x x ,,:x-x-} x o r .^&oooeol3.. - ^ b ^ x ^ a x : . ,


M e s m o a s s i m , a d o u t r i n a d o " i d e a l i s m o " (só e x i s t e m "i dei as") n ã o resiste
à navalha d e O c c a m - assumir q u e existe realmente u m m u n d o exterior
que provoca, q u e causa nossas vivências, e m vez d e u m a deidade para
lá d e o c u p a d a , s e r i a u m a e x p l i c a ç ã o b e m m a i s s i m p l e s .
67
Hume e o
empirismo ceticista
D a v i d H u m e (1711 - 1 7 7 6 ) , u m a d a s
pri nci pai s f i g u r a s d o I l u m i n i s m o n a
Escócia, e que tinha tido contato c o m
o s filósofos f r a n c e s e s q u e l i deravam
o movimento, era ateu e mordaz c o m
relação a o s a r g u m e n t o s t r a d i c i o n a i s
d a teologia que pretendem "provar"
a existência d e Deus. Empirista
c o n v i c t o , ele t a m b é m e r a e x t r e m a n t e
c é t i c o q u a n t o à s a s s e r ç õ e s feitas
p e l o s racionalistas a respei to d o
p o d e r e d a e x t e n s ã o d a razão
h u m a n a . A e x e m p l o d e Berkeley,
ele e r a u m t a n t o q u a n t o fi l ósofo d a
filosofia, p o i s m u i t a s d a s u a s ideias
eram mais técnicas que outra coisa,
mas ainda assim importantes para a
fi l osofi a m o d e r n a .

Hume reconhecia a fraqueza


fundamental d a i n d u ç ã o c o m o fonte
de conhecimento, contra empiristas
c o m o Bacon, que acreditavam que a
i n d u ç ã o er a a b a s e d e t o d a c i ê n c i a .

SE TOPOS OS GANSOS QUE VOCÊ


PESSOALMENTE TIVER OBSERVADO
FOREM BRANCOS, CIENTIFICAMENTE
é MUITO PROVÁVEL QUE ÍVOCÊ
ACREDITE QUE1 TODOS OS
GANSOS DO MUNDO SEJAM
BRANCOS - ATé VOCÊ IR PARA
A AUSTRÁLIA E VER UM GANSO
PRETO. E Aí, O QUE ACONTECE?

H u m e só estava dizendo que as


descobertas d a ciência baseadas
n a o b s e r v a ç ã o p r e c i s a m ser s e m p r e
entendidas c o m o conjecturas e
temporárias. A indução jamais pode
dar a m e s m a certeza que a lógica.
68
O problema d a c a usa lida de
H u m e foi o p r i m e i r o f i l ó s o f o a e x p l i c a r o q u e é a c a u s a l i d a d e .
Pensadores medievais, c o m o T o m á s de Aquino, acreditavam firmemente
n a causalidade - pois ela provaria a existência d e Deus. H u m e analisou
o c o n c e i t o d e " c a u s a " e d e s c o b r i u q u e ele n ã o p a s s a d e c r e n ç a h u m a n a
baseada e m experiências passadas. T o d o m u n d o prefere pensar q u e
todos os acontecimentos têm uma causa.

NÓS ACREDITAMOS QUE SEMPRE


EXISTE UMA CAUSA PARA
AS MAQUINAS PARAREM DE
FUNCIONAR, PARA AS PLANTAS
CRESCEREM E PARA OS PLANETAS
GIRAREM EM TORNO DO SOL.
TODAS ELAS SfíO CRENÇAS
PERFEITAMENTE RAZOÁVEIS, MAS
NAO PASSAM DE CRENÇAS.

Elas s e b a s e i a m n a i n d u ç ã o - n o s s a s
observações passadas de máquinas,
plantas e planetas mas nenhuma
delas está ligada a qualquer certeza
absoluta.

Hume t a m b é m admitiu que não


é p o s s ív e l p r o v a r c r e n ç a s o u
convicções morais. O conceito de
"mal dade" não é algo que se possa
ver. P o d e m o s p r o v a r c o i s a s c o m o
"Sócrates é mortal", c o m base no
fato de todos os homens serem
m o r t a i s e S ó c r a t e s ser h o m e m .
Ce t ic ism o m ora l

A c o n c e p ç ã o d e H u m e sobre a filosofia moral é por vezes c h a m a d a


de "subjetivismo". É a convicção de que proposições morais c o m o
"Hi tl er e r a u m d e m ó n i o " s ó s e referi rem a s e n t i m e n t o s s u b j e t i v o s
d e u m a p e s s o a ("eu n ã o g o s t o d e Hitler"). P a r a H u m e , n ã o e x i s t e m
c o n v i c ç õ e s o u c r e n ç a s h u m a n a s q u e p o s s a m ser " p r o v a d a s " , e a
" r a z ã o " é s u p e r v a l o r i z a d a . A p e s a r d e ser u m f i l ó s o f o r a d i c a l , ele
tinha c o n v i c ç õ e s pessoais conservadoras, q u e o levaram a sugerir
q u e o s s e r e s h u m a n o s s ó p o d e m ser felizes s e c o n t a r e m c o m s e u s
sentimentos naturais d e c o m p a i x ã o pelo outro e respeitarem t o d a s as
tradições sociais.

E, o q u e é m a i s i n q u i e t a n t e , ele t a m b é m t i n h a d ú v i d a s s o b r e a
e x i s t ê n c i a d o e u , j á q u e n ã o é p o s s ív e l d e t e c t á - l o : " S e m p r e q u e
questiono o que c h a m o de eu [mesmo]..., eu t r o p e ç o e m u m a ou
o u t r a p e r c e p ç ã o . . . , m a s eu n u n c a c o n s i g o c a p t a r , a g a r r a r a m i m
mesmo, em nenhum momento, sem a percepção".

70
O primitivo e st a do
d e inoc ê nc ia d e
Rousseau
Vol tai re e r a u m g r a n d e a d m i r a d o r
dos escritos de Locke sobre os
c h a m a d o s "direitos naturais".
Locke defendia a tese de que
s e g u r a m e n t e o s i n d i v íd u o s t ê m
a l g u n s d i r e i t o s inalienáveis, c o m o o
di rei to à p r o p r i e d a d e , l i b e r d a d e d e
consciência e d e expressão, e até
m e s m o o di rei to d e s e revol tar c o n t r a
g o v e r n o s e leis i n j u s t o s . M a s foi o
s u íç o J e a n - J a c q u e s R o u s s e a u
(1712-1778), um pré-romântico,
q u e m se transformou no pensador
p o l ít i c o m a i s i m p o r t a n t e d o final d o
s é c u l o XVIII. R o u s s e a u n ã o a c e i t a v a
a d o u t r i n a h o b b e s i a n a d e q u e o ser
humano é malvado por natureza.

RS PBSSORS QUE VIVERAM


NA ERA PRé-CIVILIZRPR
ERAM SERES HUMANOS
^NATURAIS", E VIVIAM
EM CONTENTAMENTO E
BENEVOLÊNCIA. MAS COM
A CHEGADA DAS GRANDES
INVENÇÕES DA CIVILIZAÇÃO
HUMANA E DA PROPRIEDADE
PRIVADA, TUDO MUDOU
PARA PIOR.

E s s a s n e c e s s i d a d e s artificiais
e s t i m u l a r a m a g a n â n c i a artificial.
É p o r i sso - s e g u n d o R o u s s e a u -
que as pessoas d a era pré-social
eram c o m o crianças e selvagens,
m o r a l m e n t e s u p e r i o r e s . Ele
pregava u m a "volta à Natureza",
o que acabou influenciando o
m o v i m e n t o cul tural c o n h e c i d o
c o m o romantismo.
71
A vontade geral
Pior a i n d a , R o u s s e a u a c r e d i t a v a q u e a s leis d a s o c i e d a d e d e v e r i a m
ser a e x p r e s s ã o d o q u e c h a m o u d e " v o n t a d e g e r a l " , q u e s e m p r e
e s t a r i a c e r t a . N u n c a f i c o u c l a r o c o m o i sso a c o n t e c e r i a n e m q u a n d o
isso d e v e r i a ser e x e c u t a d o . Infel i zmente, s i t u a ç õ e s r e v o l u c i o n á r i a s
s e m p r e p r o d u z e m i deal i stas e o p o r t u n i s t a s f e r r e n h o s , d i s p o s t o s a s e
declarar a própria encarnação dessa entidade abstrata, que passam a
impor c o m violência aos demais.

72
A resposta de Kant a Hume
I m m a n u e l K a n t (1724-1804) era
u m professor solteirão meticuloso e
tão metódico que os moradores de
Kõnisberg acertavam os relógios e m
função d a rotina diária de Kant, o u
s e j a , p e l o horári o e m q u e ele p a s s a v a
p o r d e t e r m i n a d o s l u g a r e s . Ele t i n h a
um empregado chamado Lampe,
que andava atrás dele segurando u m
g u a r d a - c h u v a , a o n d e q u e r q u e ele
f o s s e , s ó p a r a o c a s o d e ser n e c e s s á r i o .
Kant declarou ter d e s p e r t a d o d o
sono racionalista no qual tinha estado
mergulhado lendo Hume. Mas não
MINHA RESPOSTA FOI PARA
concordava c o m a asserção de Hume
ARGUMENTAR CONTRA A
de que nós acreditamos na causalidade TEORIA PE HUME, PE QUE O
porque somos doutrinados por nossas CONHECIMENTO QUE TEMOS
experiências passadas sobre o m u n d o . PO NOSSO MUNDO NÃO PODE
VIR Só DA OBSERVAÇÃO.

DIZEM AS MÃS-UNGUAS
QUE HERR PROFESSOR
KANT GOSTA DA
COMPANHIA DE MULHERES
BONITAS E INTELIGENTES.

SIM, é VERDADE. E OS K a n t d i s s e q u e o ser h u m a n o " v ê "


ALUNOS DELE GOSTAM c a u s a l i d a d e n o m u n d o p o r q u e ele
DE SUAS LEITURAS, é f e i t o d e s s e j e i t o . Ele foi o p r i m e i r o
QUE DIZEM SER PARA filósofo a mostrar que nem os
LÃ DE DIFÍCEIS. racionalistas n e m o s empiristas
estavam completamente correios.
As estruturas mentais precedem a
e x pe riê nc ia
E m s u a Crítica da razão pura (1781), Kant d e m o n s t r o u c o m o o u s o
d a razão, p a r a estabel ecer " v e r d a d e s " metafísicas, s e m p r e p r o d u z
c o n t r a d i ç õ e s . E, e m s e g u i d a , d e m o n s t r o u c o m o nós a d q u i r i m o s
c o n h e c i m e n t o s o b r e o m u n d o . A m e n t e h u m a n a é ativa, e não u m
recipiente q u e r e c e b e i n f o r m a ç õ e s p a s s i v a m e n t e . Q u a n d o o l h a m o s p a r a
o m u n d o , n ó s o " c o n s t i t u ím o s " d e m o d o q u e ele f a ç a s e n t i d o . A l g u n s d o s
c o n c e i t o s q u e a p l i c a m o s às n o s s a s experi ênci as v e e m efeti vamente d e
n o s s a s experi ênci as p a s s a d a s , m a s as m a i s i m p o r t a n t e s p r e c e d e m a
experi ênci a. Elas s ã o a priori - anteriores à n o s s a experi ênci a, p o r isso
f o r a m c h a m a d a s d e inatas (nós j á n a s c e m o s c o m elas). C o m o as n o ç õ e s
de t e m p o e espaço, por exemplo.

A MENTE ORGANIZA E
SISTEMATIZA O QUE NÓS
VIVENCIAMOS COM SUAS
PRÓPRIAS INTUIÇÕES"
E "CATEGORIAS"
PROGRAMADAS, QUE
TÊM O SENTIDO DE
TODOS OS DADOS
QUE NOS INUNDAM
ININTERRUPTAMENTE,
POR MEIO DE NOSSOS
SENTIDOS.

H u m e a f i r m a v a q u e c o n s t r u ím o s g r a d u a l m e n t e n o s s o a p a r a t o c o n c e i t u a i
feito d e nossas experiências. Kant replicou que, a m e n o s que t e n h a m o s
u m a e s p é c i e d e a p a r a t o c o n c e i t u a i m e n t a l p a r a d a r início a o p r o c e s s o ,
n e n h u m a e x p e r i ê n c i a seri a j a m a i s p o s s ív e l . O u sej a, ele foi o q u e
p o d e r ía m o s c h a m a r d e i d e a l i s t a s o f i s t i c a d o . " P e n s a m e n t o s s e m
c o n t e ú d o são vazios, intuições s e m conceitos são cegas."
74
Mundo fe nom e na l e
mundo noum e na l
De m o d o a i n d a m a i s f u n d a m e n t a l , t o d a s
a s n o s s a s e x p e r i ê n c i a s p r e c i s a m ser
incentivadas por meio das "formas d a
intuição" - t e m p o e espaço. Assim,
e m certa medida, nossa vivência d o
m u n d o é nossa própria criação, pois é
organizada por nós. Mas, apesar disso,
s ã o l i mi tes r i g o r o s o s d e c o m o e o q u e n ó s
vivenciamos. Não p o d e m o s escolher o
"input" que os nossos órgãos dos sentidos
nos dão, e não p o d e m o s mudar o jeito
c o m o a nossa mente é concebida.

TUPO O QUE PODEMOS


VIVENCIAR é O MUNDO
""FENOMENAL" - O DOS
FENÓMENOS (COMO AS
COISAS ""APARECEM"
PARA NÓS) -, QUE
PODE NÃO SER NEM
UM POUCO PARECIDO
COM O MUNDO
""NOUMENAL" (COMO
AS COISAS REALMENTE
"CÃO"). Só DEUS
PODE VER ESTE ÚLTIMO
MUNDO, E ELE NÃO é
CONDICIONADO PELAS
NOÇÕES DE TEMPO
E ESPAÇO, COMO A
MENTE HUMANA.

Kant c h e g o u à c o n c l u s ã o d e q u e a c i ê n c i a h u m a n a
combina c o m o mundo dos fenómenos (também
chamado de m u n d o fe nom ê nic o) e que a
religião p e r m a n e c e n o d o m ín i o d o d e s c o n h e c i d o
mundo d o noumenal (também chamado de m u n d o
n o u m ê n i c o ) - o q u e faz q u e c i ê n c i a e religião n ã o
e n t r e m e m confl i to u m a c o m a o u t r a . M a s , s e t u d o
o q u e c o n s e g u i m o s vivenciar é o m u n d o f e n o m e n a l ,
c o m o é q u e p o d e m o s confi ar n a e x i s t ê n c i a d o
mundo noumenal?
O i m p e r a t i v o c a t e góric o
Kant defendia a tese d e que, diferentemente d o s objetos materiais,
nós, s e r e s h u m a n o s , p o d e m o s e s c a p a r d o m u n d o d a c a u s a l i d a d e .
P r e c i s a m o s t e r v o n t a d e p r ó p r i a e e s c o l h e r m o s ser s e r e s m o r a i s .
"Dever implica poder."

S e q u i s e r m o s ser v i r t u o s o s , t e m o s d e fazer o q u e d e v e ser f e i t o e


i g n o r a r n o s s a s i n c l i n a ç õ e s , n o s s o s d e s e j o s [naturais]. Ser u m a p e s s o a
m o r a l s i g n i f i c a n ã o fazer o q u e v e m n a t u r a l m e n t e [ c o m o i m p u l s o ] , e
e m geral isso e n v o l v e u m a l uta i n t e r n a c o n t r a n o s s o s m a u s d e s e j o s .
Fazendo uso d a razão, p o d e m o s descobrir qual é nosso dever -
o b e d e c e n d o a u m conjunto d e regras obrigatórias, d e i m p e r a t i v o s
c a t e g ó r i c o s . K a n t a f i r m o u q u e " t o d a p e s s o a s ó d e v e r i a agir d e
m o d o q u e c a d a a ç ã o p u d e s s e ser t r a n s f o r m a d a e m lei u n i v e r s a l " .

FUNCIONA ASSIM: SB
DECIDIRMOS MENTIR, ANTES
PRECISAMOS IMAGINAR O
QUE ACONTECERIA SE TODO
MUNDO MENTISSE.

A PRÓPRIA MENTIRA SE TORNARIA


NORMAL. O CONCEITO DE
VERDADE (E O DE MENTIRA)
DEIXARIA DE EXISTIR. LINGUAGEM,
LÓGICA, SIGNIFICADO E TODA
COMUNICAÇÃO HUMANA
DESAPARECERIA EM UM VÃCUO
ILÓGICO E HORRIPILANTE.

A s s i m , m e n t i r é irracional e p o r i sso e r r a d o . K a n t a c r e d i t a v a e m D e u s
e a c h a v a q u e a religião p o s s i b i l i t a a p e s s o a s c o m u n s q u e o m u n d o
f a ç a s e n t i d o , q u a n d o m u i t a s v e z e s ele p a r e c e i m o r a l . M a s t a l v e z haj a
m a i s m o r a l d o q u e s e m p r e o b e d e c e r a u m c o n j u n t o d e leis m o r a i s
obrigatórias, i ndependentemente das circunstâncias individuais.
P o d e m o s pensar e m ocasiões nas quais mentir é a única coisa moral
q u e p o d e ser f e i t a .

76
A dia lé t ic a h e g e l i a n a
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831) era d e opinião - talvez c o m
certo exagero - que só o próprio sistema
f i l o s ó f i c o c o n s e g u i r i a revelar a s v e r d a d e s
fundamentais sobre t o d a a realidade e t o d a
a história humana. A filosofia d e Hegel é
d e tirar o f ô l e g o e e s c r i t a e m u m j a r g ã o
h e g e l i a n o a b s t r a t o , o q u e a t o r n a difícil d e
entender.

Até Hegel entrar e m cena, para os filósofos


Aristóteles tinha inventado a lógica e
pronto!

MAS EXISTE
OUTRA LÓGICA.
O CONHECIMENTO
TEM UMA HISTÓRIA
EVOLUTIVA, QUE é
FEITA PE CONCEITOS,
E NÃO ISOLADA
DE PROPOSIÇÕES
VERDADEIRAS OU
FALSAS.

Ideias n a s c e m e e v o l u e m
gradualmente na direção
de um melhor sentido e de
uma maior compreensão d a
realidade, e m u m processo por
ele c h a m a d o d e d i a l é t i c a .
77
Lógic a dia lé t ic a
A história s e m p r e lutou entre diferentes conceitos, q u e pretenderam
ser - c a d a u m e t o d o s eles - a m e l h o r d e s c r i ç ã o d a r e a l i d a d e . M a s
u m c o n c e i t o , o u t e s e , vai s e m p r e g e r a r a u t o m a t i c a m e n t e u m a t e s e
c o n t r á r i a , a a n t í t e s e , e e n t ã o vai a c o n t e c e r a f a m o s a l u t a e n t r e
a s d u a s . Isso a t é q u e o c o r r a u m a s í n t e s e d a s d u a s , o u s e j a , u m
conceito melhorado.

ESSE NOVO CONCEITO


PRODUZIRA SUA PRÓPRIA
ANTÍTESE, E ASSIM POR DIANTE.
ESSE PROCESSO VAI CONTINUAR,
DE MODO INEXORÁVEL, ATé QUE
SE ATINJA, FINALMENTE, A ""IDEIA
ABSOLUTA".

Esse é u m b a l a n ç o e v o l u c i o n i s t a
e rel i gi oso s o b r e a m e n t e e a
civilização humanas, no qual
a m b a s passam por vários estágios,
a t é q u e o " e s p ír i t o a b s o l u t o " e a
harmonia social sejam alcançados.
O e s t u d o d a história, na visão d e
H e g e l , p o d e r i a a j u d a r a fazer u m a
superdescoberta, de preferência a
mente de Deus.
O c o n h e c i m e n t o e a c onsc iê nc ia
humanos
A m e t a f ís i c a h e g e l i a n a t r a t a d a n a t u r e z a m e s m a d o p e n s a m e n t o . Para
Hegel , a filosofia t i n h a se t o r n a d o d e m a s i a d o estreita, r e d u c i o n i s t a ,
f o c a n d o s o m e n t e q u e s t õ e s t é c n i c a s s o b r e o c o n h e c i m e n t o . S e g u n d o ele,
a filosofia p r e c i s a v a d a r m a i s a t e n ç ã o a o p r o c e s s o hi stóri co d a c u l t u r a
e d o p e n s a m e n t o h u m a n o s . C o m o Kant, ele e r a u m " i d e a l i s t a " , p o r isso
concordava c o m seu antecessor quanto a nós nunca conhecermos o
m u n d o d i r e t a m e n t e p o r m e i o d o s n o s s o s s e n t i d o s , m a s s e m p r e d e u m jeito
q u e c o n t a c o m a m e d i a ç ã o , c o m o filtro d o n o s s o espíri to: d a n o s s a m e n t e ,
d a n o s s a c o n s c i ê n c i a . M a s Hegel foi m a i s l onge, levou e s s a c o n c e p ç ã o
a i n d a m a i s adi ante.

R REALIDADE é COMPOSTA
PELA MENTE E é UMA
CRIAÇÃO DELA. NÃO EXISTE
MUNDO ""NOUMENAL".

A própria consciência nunca é


estática, congelada, pois está
sempre mudando e desenvolvendo
novas categorias e conceitos,
que determinam c o m o nós
vi venci amos o m u n d o . O q u e faz
que o conheci mento sempre seja
contextualmente dependente e
s e m p r e o r e s u l t a d o d e u m a série d e
posições conflitantes.
79
Conhe c im e nt o relativo e absoluto
Q u a l q u e r p o n d e r a ç ã o f i l o s ó f i c a s o b r e o q u e v e n h a a ser " o b j e t i v o " , n o
sentido de oposto a "subjetivo", é inteiramente enganoso. Os filósofos
jamais serão capazes d e produzir algo d o género "verdade filosófica
a b s o l u t a " , p o i s i dei as s ã o a l g o q u e m u d a o t e m p o t o d o , p o r d e f i n i ç ã o .
O c o n h e c i m e n t o é u m processo cultural e histórico di nâmi co, e não
a l g u m a c o i s a f o r a d o t e m p o , e s t á t i c a , à e s p e r a d e ser d e s c o b e r t a . Essas
afirmações - de q u e não p o d e haver n e m verdades n e m fatos objetivos
estáveis, e m u m a dialética q u e m u d a s e m parar - fazem Hegel soar
c o m o u m p r o f e t a d o p ó s - m o d e r n i s m o . M a s , a p e s a r d i s s o , ele a c r e d i t a v a
que esse movente processo dialético deveria culminar e m u m estágio
fi nal , n o q u a l o s s e r e s h u m a n o s a t i n g i r i a m o " c o n h e c i m e n t o e f e t i v o ,
v e r d a d e i r o , d a q u i l o q u e r e a l m e n t e é".

H e g e l t a m b é m foi a u t o r d e u m a n o v a e p r o f u n d a m a n e i r a d e p e n s a r a
c o n s c i ê n c i a i ndi vi dual e a l i b e r d a d e p e s s o a l .

A UBERDADE PESSOAL AINDA a,


NECESSARIAMENTE, A UBERDADE DAS
PESSOAS QUE VIVEM EM SOCIEDADE. A
HISTÓRIA DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS
é UMA HISTÓRIA FEITA DE ESTÁGIOS
PROGRESSIVOS.

Povos orientais, persas, gregos,


romanos e sociedades medievais
i nfri ngi ram s e v e r a s l i m i t a ç õ e s à
liberdade pessoal. Para Hegel,
a Alemanha protestante tinha
chegado a um ponto, a
u m estágio no qual a
individualidade pessoal e
a liberdade haviam sido
conquistadas por meio d a
interação entre os
i n d i v íd u o s e a s o c i e d a d e n a
q u a l eles v i v i a m .

80
O estado e o fim
d a hist ória
H e g e l referi a-se à P r ú s s i a
a u t o c r á t i c a , n a q u a l ele m e s m o
vi vi a, e v i a nel a u m a e s p é c i e d e
"superpessoa" que tinha atingido
o e s t á g i o final d a e v o l u ç ã o . Ele e
seus compatriotas seriam só u m a
pequena amostra dessa entidade
maior, d a qual teriam adquirido
esse status de identidade
e moral.

O REAL é RACIONAL.

Hegel estava sinceramente c o n v e n c i d o d e ter c o m p l e t a d o o trabalho de


Kant, ao ter produzi do essa c o n c e p ç ã o d o c o n h e c i m e n t o absoluto q u e
p e r m i t i r i a falar e m " f i m d a h i s t ó r i a " . S e u p r o c e s s o d i a l é t i c o d e t e r m i n i s t a
c h e g a r i a a o f i m q u a n d o o " e s p ír i t o " q u e - s e g u n d o ele - g u i a t o d a a
r e a l i d a d e e a razão h u m a n a f o s s e f i n a l m e n t e r e v e l a d o . O p r o c e s s o
p a r a a t i n g i - l o s e r i a n e c e s s a r i a m e n t e á r d u o e difícil, p o r q u e e n v o l v e o
conflito incessante entre forças históricas gigantescas e muitas vezes
i m p l a c á v e i s . É i n e g á v e l q u e e s s e f o i r e a l m e n t e o c a s o n a E u r o p a a partir
d e 1 8 0 7 , a n o d a p r i m e i r a e d i ç ã o d a Fenomenologia do espírito.
Atualmente, parece b e m p o u c o provável q u e a história d a h u m a n i d a d e
p o s s a t e r u m d e s t i n o " p r e v i s ív e l " , o u u m o b j e t i v o ú l t i m o , s e j a ele
hegeliano ou d e outro tipo qualquer.
81
O c onc e it o de vont a de de Sc hope nha ue r
U m p e n s a d o r c o n t r á r i o às i dei as h e g e l i a n a s foi A r t h u r S c h o p e n h a u e r
( 1 7 8 8 - 1 8 6 0 ) . S e g u n d o ele, a c r e n ç a d e H e g e l d e u m f i m feliz p a r a a
história d a humani dade era a divagação d e u m "charlatão estúpi do
e d e s a s t r a d o " . C o m o t a m b é m e r a i deal i sta, S c h o p e n h a u e r e s t a v a
c o n v e n c i d o de q u e os seres h u m a n o s só p o d e m vivenciar os f e n ó m e n o s
d o m u n d o , n a d a m a i s . M a s , p a r a ele, e s s e m u n d o f e n o m e n a l e r a u m a
ilusão, s e m p r e c o n t r o l a d o p e l o d e s e j o . O d e s e j o , s e g u n d o ele, c o m a n d a
d i r e t a m e n t e t u d o o q u e vi ve, i n c l u i n d o o s s e r e s h u m a n o s .
Os seres humanos preferem pensar que suas próprias vidas t ê m algum
tipo d e significado superimportante, mas a única coisa que existe, para
eles, é a u r g ê n c i a d e sati sfazer n o v o s d e s e j o s . O s d i f e r e n t e s d e s e j o s
i n d i v i d u a i s e n t r a m i n e v i t a v e l m e n t e e m c o n f l i t o , e i sso é o q u e p r o d u z o
sofrimento humano.

U m j ei to d e c o n s e g u i r fazer isso é r e c o r r e r
a a t i v i d a d e s a r t ís t i c a s c o n t e m p l a t i v a s ;
o u t r o é levar u m a v i d a a b n e g a d a d e
R ÚNICA MANEIRA a s c e t a . S c h o p e n h a u e r foi o p r i m e i r o
PE ESCAPAR DESSA grande filósofo ocidental a sofrer a
ENGRENAGEM é DAR
i n f l u ê n c i a d o b u d i s m o . S u a s i dei as, q u e
UM FIM AO DESEJO.
atualmente já não t ê m a importância que
tiveram, causaram um grande impacto em
figuras importantes c o m o o composi tor
alemão R i c h a r d W a g n e r (1813-1883) e
N i e t z s c h e , u m f i l ó s o f o ím p a r .

83
Nietzsche: o anticristo
Fri edri ch N i e t z s c h e ( 1 8 4 4 - 1 9 0 0 ) ,
a p e s a r d e ter r e c e b i d o u m a r i g o r o s a
e d u c a ç ã o luterana (protestante), c o m o
muitos outros filósofos alemães,
t o r n o u - s e hostil a o c r i s t i a n i s m o
e rej ei tava c a t e g o r i c a m e n t e a s
crenças em qualquer tipo de m u n d o
"transcendente" ou "noumenal".

f \
DEUS ESTA MORTO...
E NÓS TEMOS MESMO
DE MATA-LO.

Seu trabalho de pesquisa e m filologia


c l á s s i c a fez q u e ele v i s s e o m u n d o
dos antigos gregos c o m o sendo
superior ao m u n d o moderno, o d o
cristianismo, c o m sua entusiasta
aceitação de sofrimento, c o m
s u a c u l p a e d a n a ç ã o eterna(s). A
criativa c o n c e p ç ã o d e vida grega, ao
contrário, era de u m a sábia aceitação
do destino e d a celebração do fato
de que o sofrimento humano pode
produzir u m a vida que seja trágica
mas, a o m e s m o t e m p o , n o b r e .
P a r a a lé m d e D e u s e d o d i a b o
C o m o muitos outros filósofos antes dele,
Nietzsche se p r e o c u p o u c o m a definição
d o q u e seri a a n a t u r e z a h u m a n a . P a r a ele,
era u m erro fazer generalizações sobre
o s s e r e s h u m a n o s , p o r q u e i sso o s
reduzia a u m a falsa "natureza
c o m u m " [a t o d o s ] . Ele p r o f e t i z o u
que o capitalismo moderno
e o progresso tecnológico só
produziriam um m u n d o burguês, de
m e d ío c r e s " ú l t i m o s h o m e n s " , n o s e n t i d o
de o mais baixo na escala de valores

BU QUERO QUE O SER HUMANO


SE TRANSFORME EM ALGO
MELHOR - NO SUPRA-
-HOMEM, O 'ÚBERMENSCH,
O ULTRAPASSAMENTO DO
HOMEM, O ALéM DO HOMEM.

A cultura judaico-cristã favorece


a fraqueza e a banalidade, a
mediocridade, ao passo que
o Úbermensch - citado
formal mente pela primeira vez
em seu incomparável E a s s i m
f a l o u Z a r a t u s t r a (1883) - n ã o
aceitaria "a moralidade d e m a n a d a ,
d e escravos" e olharia "para a l é m "
das noções tradicionais de Deus e de
d i a b o , o l h a r i a p a r a a l g o m a i s radi cal e
individualmente criativo - a "vontade
de poder". Não "vontade de potência",
m a s s i m v o n t a d e d e p o d e r fazer, p o d e r
criar, c o n s e g u i r .
Apesar de essa noção de Úbermensch
d e N i e t z s c h e n ã o ter n a d a a ver c o m
s u p e r i o r i d a d e d e c l a s s e o u d e r a ç a , ela
era s e m d ú v i d a s e x i s t a . M a s h á q u e m
diga que sua noção de " v o n t a d e d e
p o d e r " foi d e p o i s t r a n s v i a d a p a r a
inspirar a d o u t r i n a a n t i s s e m i t a d o
nazismo.
85
P r e c u r s o r d a pós-m ode rnida de
O c e t i c i s m o radi cal d e N i e t z s c h e n ã o a c e i t a q u e p o s s a m
existir f a t o s o u r e g r a s m o r a i s b a s e a d o s n a " r a z ã o " - s o m e n t e
preconceitos e parcialidades c o n t e m p o r â n e o s que a t e n d e m às
necessidades humanas. T o d o o conhecimento conceituai se
baseia e m generalizações determinadas por ideologias e sistemas
de classificação de c a d a época, o que provocam inevitavelmente
o individualismo e a particularização. A grande maioria das ditas
" v e r d a d e s " e t e r n a s n ã o p a s s a d e c o n v i c ç õ e s t e m p o r á r i a s e úteis, q u e
vão m u d a n d o c o n f o r m e a história avança, c o m o passar d o t e m p o .

s \
A VERDADE, ASSIM COMO A MORALIDADE,
a ALGO RELATIVO. NÃO EXISTEM FATOS, Só
INTERPRETAÇÕES DE FATOS.

N i e t z s c h e foi o g r a n d e p r e c u r s o r d o p ó s - m o d e r n i s m o , o u sej a, d a n o s s a
é p o c a . S e m ele n ã o t e r ía m o s t i d o W i t t g e n s t e i n (ver p. 138) n e m D e r r i d a
(ver p. 162) - o d e s c o n s t r u t i v i s m o e as a r m a d i l h a s d a l i n g u a g e m . ("Nós
j a m a i s c o n s e g u i r e m o s n o s livrar d e D e u s , e n q u a n t o n ã o c o n s e g u i r m o s
n o s livrar d a g r a m á t i c a . " ) A p r ó p r i a t e o r i a d o c o n h e c i m e n t o d e F o u c a u l t
(ver p. 166) d e v e e n o r m e m e n t e à s ideias d e N i e t z s c h e s o b r e g e n e a l o g i a
e vontade de poder.

86
Et e rno retorno
Nietzsche t a m b é m propôs u m a "ciência
alegre", divertida: a d o eterno retorno.
E s s a i dei a t i n h a s i d o s u g e r i d a p o r u m d o s
pré-socráticos, Heráclito, q u e defendia
a t e s e d e q u e o t e m p o é c íc l i c o ,
r e p e t i n d o - s e e t e r n a m e n t e . E s s a foi a
sutil c r ít i c a d e N i e t z s c h e a o m o r a l i s t a
imperativo categórico de Kant e à
tenebrosa visão de Schopenhauer sobre
o d e s e j o ser a c a u s a d o s o f r i m e n t o . O
e t e r n o r e t o r n o é u m cri téri o p a r a c a d a u m
julgar o valor e os valores d a própria vida.

SE VOCÊ ESTIVER REALMENTE


VIVENDO UMA VIDA BOA, NÃO
SERIA FORMIDÁVEL REPETI-LA
MAIS UMA VEZ, OUTRA VEZ E
OUTRA VEZ MAIS?

Nesse sentido, a vida humana deixa


d e ser j u l g a d a e m v i s t a d e u m f i m ,
c o m o no cristianismo, mas de m o d o
positivo, c o m o u m a escolha feita a
c a d a m o m e n t o . A i dei a d e N i e t z s c h e
de escolha presente que confirma e
a f i r m a o val or d a v i d a , d a e x i s t ê n c i a
h u m a n a , faz dele, t a m b é m , o precursor
d o existencialismo.
O e x i s t e n c i a l i s m o cristão d e K i e r k e g a a r d
O filósofo dinamarquês S o r e n K i e r k e g a a r d (1813-1855) não
c o n c o r d a v a c o m a v i s ã o k a n t i a n a d e q u e a c r e n ç a rel i gi osa e a m o r a l
p o d e r i a m ter c o m o b a s e a r a z ã o . P a r a ele, a f é e r a a l g o t o t a l m e n t e
irracional e c o m p l e t a m e n t e i n d e m o n s t r á v e l . Ele t a m b é m f a l o u c o n t r a
o processo dialético hegeliano f u n d a m e n t a d o no conceito cristão d o
"doi s/e" - u m a espécie de "dois e m u m " - q u e engole as pessoas e m sua
individualidade, ignorando suas necessidades e realidade pessoais, para
fazer u m g r a n d e e ú n i c o c o n j u n t o d e d e c i s õ e s d e " o u / o u " .

O assunto que mais interessava e preocupava Kierkegaard era o probl ema


d a e x i s t ê n c i a . P o r i sso é q u e a f i l o s o f i a d e l e é c o n s i d e r a d a p r e c u r s o r a d o
existencialismo. A maioria das pessoas simplesmente ignora questões
que dizem respeito ao significado de suas próprias vidas, e prefere
s e refugi ar e m u m a e s p é c i e d e m u n d o f e i t o d e r o t i n a i m p e s s o a l . P a r a
K i e r k e g a a r d , i sso n ã o e r a o b a s t a n t e .

EXISTIR SIGNIFICA QUE


TEMOS UBERDADE DE
ESCOLHER QUEM SOMOS
E ISSO, POR SUA VEZ,
IMPLICA VIVER UMA VIDA DE
COMPROMISSO.
O s a l t o d a fé
P a r a K i e r k e g a a r d , i sso s i g n i f i c a v a
tornar-se u m cristão engajado, d a n d o
o " p u l o d a f é " , p o r q u e é i m p o s s ív e l
c o n h e c e r e f e t i v a e e s s e n c i a l m e n t e as
c r e n ç a s c e n t r a i s d o c r i s t i a n i s m o . Ele
c o n c l u i u q u e p o d e m o s e s c o l h e r viver
primordialmente u m a vida moral, u m a
v i d a d e a s c e t a , o u u m a v i d a religiosa.
Ele f i c o u c o m a ú l t i m a o p ç ã o .

U m a p e s s o a se t o r n a c r i s t ã d i a n t e d e u m a " i n c e r t e z a o b j e t i v a " d e
q u e D e u s n ã o p o d e ser p r o v a d o . Isso n ã o t e m n a d a a ver c o m
a " c r i s t a n d a d e p ú b l i c a " d a s o c i e d a d e l u t e r a n a n a q u a l ele vi vi a
e q u e o c r i t i c a v a d u r a m e n t e . A fé d e l e e r a i r ó n i c a , b r i n c a l h o n a e
a p a i x o n a d a . A l é m d i s s o , ele e s c r e v i a c o m o u m n o v e l i s t a , u s a n d o
vários p s e u d ó n i m o s , contrariando o jeito seco e abstrato d e
fi l osofar.

• 89
Do i d e a l i s m o a o m a t e r i a l i s m o
Por m a i s d e o i t e n t a a n o s , o p e n s a m e n t o i deal i sta a l e m ã o d e f e n d e u
a t e s e d e q u e o m u n d o e r a f e i t o d e ideias, m e s m o q u e h o u v e s s e
d e s a c o r d o s s o b r e a n a t u r e z a d e s s a s i dei as e s o b r e c o m o a s
p e s s o a s a s c o n h e c i a m . L u d w i g F e u e r b a c h ( 1 8 0 4 - 1 8 7 2 ) foi u m a
personagem-chave na mudança que produziu uma nova concepção
d a visão hegeliana d e a lie n a ç ã o . Segundo Hegel, a consciência
progride estabelecendo diferenças que contrariam a ela m e s m a , e
e m seguida tenta, pela intuição, ultrapassar essa contradição ou
autoalienação. C o m o consequência, já que é assim que a mente
a v a n ç a e p r o g r i d e , e n t ã o o erro d a religião t o r n a - s e ó b v i o .

T e m p o s d e p o i s , ele m u d o u d e u m " h e g e l i a n i s m o d e e s q u e r d a " , c r ít i c o


d a i l usão rel i gi osa, p a r a u m m a t e r i a l i s m o r a d i c a l : " V o c ê é o q u e v o c ê
c o m e " , a f i r m o u ele, q u e r e n d o d i z e r q u e o a s p e c t o materi al v e m a n t e s ,
e q u e a s ideais s ã o s e c u n d á r i a s . Esse c a s a m e n t o f e i t o p o r F e u e r b a c h ,
entre hegelianismo e materialismo, abriu cami nho para Marx.

90
M a r x e o m a t e r i a l i s m o dia lé t ic o
K a r l M a r x (1818-1883) c o m e ç o u sendo u m hegeliano de esquerda,
m a s desenvolveu u m novo m o d e l o dialético materialista d a história.
S u a f i l o s o f i a é u m a m i s t u r a ori gi nal d e i d e a l i s m o a l e m ã o c o m
e c o n o m i a p o l ít i c a b r i t â n i c a e s o c i a l i s m o f r a n c ê s .

ATé AGORA, OS FILÓSOFOS


SE LIMITARAM A INTERPRETAR
O MUNDO, DE DIVERSAS
MANEIRAS. A QUESTÃO é
MUDÃ-LO.

A dialética de Hegel transformava a


história d a humani dade e m u m percurso
p r o g r e s s i v o q u e ia i n c o r p o r a n d o
liberdades humanas, culminando na
liberdade absoluta d o Estado prussiano.
P a r a M a r x , c o m i sso H e g e l e s t a v a
c o m e t e n d o u m t r e m e n d o erro, o u
sej a, " a c o n s c i ê n c i a n ã o d e t e r m i n a
a vida, mas o contrário: a vida é que
determina a consciência. O pensamento
n ã o c r i a e n ã o p o d e criar a r e a l i d a d e ;
mas realidades económi cas p o d e m
determinar c o m o as pessoas p e n s a m " .

91
Para Marx, a história é u m a história de conflito dialético constante, m a s
n ã o e n t r e a s a b s t r a ía s ideias h e g e l i a n a s , e s i m e n t r e t o d a s a s c l a s s e s
s o c i a i s e f o r ç a s e c o n ó m i c a s , t o d a s elas b e m reais. P o r c a u s a d e s s a
visão é que o pensamento marxista é c h a m a d o de m a t e r i a l i s m o
d i a l é t i c o . S e g u n d o ele, p r i m e i r o e s s a l uta h i s t ó r i c a a c o n t e c e u e n t r e
e s c r a v o s e s e n h o r e s , d e p o i s e n t r e s e r v o s e s e n h o r e s f e u d a i s ; e, n a
sociedade moderna, a guerra e c o n ó m i c a ocorre entre a burguesia -
que é d o n a d o capital e d o s meios de produção - e o proletariado, os
operários que trabalham nessa indústria e assim v e n d e m sua força d e
trabalho. Marx dizia q u e de t o d o jeito essa guerra dialética acabaria
e m u m a revolução operária internacional, transformando a sociedade
h u m a n a e a história.
U m a f i l o s o f i a e c onóm ic a
Marx acreditava no determi ni smo e c o n ó m i c o , ou seja, q u e t o d a s as
c r e n ç a s e a t i v i d a d e s h u m a n a s , i n c l u i n d o a religião e a f i l o s o f i a , s e m p r e
f o r a m p r o d u z i d a s p o r f o r ç a s m a t e r i a i s . P a r a ele, a b a s e e c o n ó m i c a d e
t o d o sistema d e relações económi cas e de forças produtivas s e m p r e
d e t e r m i n a r á e d i r i g i r á a m a c r o e s t r u t u r a d e s u a s i n s t i t u i ç õ e s legais,
p o l ít i c a s e c u l t u r a i s . A f u n ç ã o p r i m o r d i a l d e s s a s i n s t i t u i ç õ e s é s e g r e g a r
e d i s s e m i n a r a i d e o l o g i a . Isso q u e r d i z e r q u e p o t e n c i a l m e n t e t o d o
m u n d o , t a n t o o s c a p i t a l i s t a s c o m o s u a s v ít i m a s , s o f r e m d e " f a l s a
consci ênci a" - a incapacidade d e perceber q u e u m a classe social está
explorando outra.

93
M a i s -v a l i a
A teoria d o valor-trabalho p r o p o s t a pelo e c o n o m i s t a D a v i d R i c a r d o
( 1 7 7 2 - 1 8 2 3 ) di zi a q u e o v a l o r d a s m e r c a d o r i a s é d i r e t a m e n t e
p r o p o r c i o n a l a o n ú m e r o d e h o r a s d e t r a b a l h o q u e elas e x i g i r a m .
M a r x foi a l é m . P a r a ele, i sso s i g n i f i c a v a q u e o s d o n o s d o c a p i t a l ($)
e x p l o r a v a m a f o r ç a d e t r a b a l h o , a m ã o d e o b r a , r o u b a n d o as h o r a s a
m a i s t r a b a l h a d a s - o q u e ele c h a m o u d e m a i s - v a l i a d e t u d o o q u e e r a
produzido.

Os operários são os verdadeiros


p r o d u t o r e s d e r i q u e z a , m a s el es s ã o
a l i e n a d o s d o q u e p r o d u z e m - eles
não percebem que na verdade essa
r i q u e z a p e r t e n c e a eles. " O t r a b a l h o
d e muitos se transforma no capital
de uns p o u c o s privilegiados."

94
O fim do capitalismo
Graças a outro economista, A d a m S m i t h (1723-1790), a maior parte
dos europeus do século XIX via o capitalismo como algo inevitável, ou
então como um presente divino. Marx era de opinião que s u a abordagem
científica d a economia previa a inevitável implosão final do sistema
capitalista. A riqueza ficaria concentrada nas mãos de uma minoria,
enquanto a maioria da população continuaria pobre.

VAI HAVER UMA CRISE


PE SUPERPOPULAÇÃO, E
O CAPITALISMO TEM PE
SOFRER UM COLAPSO.

E então haveria uma revolução


e nasceria uma sociedade
comunista, na qual todos dariam
de acordo com suas habilidades
e receberiam de acordo com suas
necessidades. Ou seja, c a d a um
daria o que pudesse e receberia
aquilo de que precisasse.
95
O profeta Marx
Marx sempre afirmava que não
era "marxista". Apesar de levar a
si mesmo e s u a s ideias muito a
sério, ele não gostava de ser visto
por s e u s discípulos como sendo
um profeta infalível. Atualmente,
os economistas já não estão
nem um pouco convencidos
de que a teoria marxista p o s s a
ser transformada em "ciência",
com a respectiva capacidade de
previsão inabalável. Muitas d a s
previsões de Marx revelaram-se
completamente erradas.

O CAPITALISMO
REVELOU SER ALGO
INCRIVELMENTE FLEXÍVEL.

B fí MfílORIfí PfíS
SOCIEPfíPES COMUNISTfíS,
FUNPfíPfíS EM PRINCÍPIOS
MfíRXISTfíS, fíCPBOU SENPO
UM TREMENPO PESfíSTRE
MORRI, E ECONÓMICO.

O pensamento de Marx não explica


muito bem sobre como a base
económica da sociedade produz
a superestrutura política e cultural.
Alguns marxistas, como Herbert
M a r c u s e (1898-1979), integrante
da chamada "Escola de Frankfurt",
defendiam a tese de que, na verdade,
a tal "superestrutura" tem vida própria.

96
Ideias podem ter um papel tão importante quanto a economia, no
que diz respeito a influenciar o pensamento humano e a história, o
que significa que afinal de contas Hegel tinha certa razão. Outros
filósofos e ativistas "pós-marxistas" concordavam com isso, como por
exemplo Antonio G r a m s c i (1891-1937), que sugeriu que a s pessoas
consideram "naturais" a s construções ideológicas de seu mundo social
e político.

ISSO SIGNIFICA
QUE OS
GOVERNOS
ACHAM
RELATIVAMENTE
FÁCIL PERSUAPIR
AS PESSOAS
A CONCORPAR
COM A PRÓPRIA
OPRESSÃO.

O PISCURSO POMINANTE
CONSISTE EM ELABORAR
UM SISTEMA PE SINAIS QUE,
JUNTOS, FORMAM UMA
POPEROSA E CONVINCENTE
MENTIRA, UMA LENPA, E
SÃO ELES QUE FORMAM
R o l a n d B a r t h e s (1915-1980), A *REALIPAPE" SOCIAL E
um pós-estruturalista, mostrou CULTURAL.
posteriormente de que modo e s s a
"naturalização" opera.

97
Utilitarismo: a ciência moral
Na mesma época em que Marx passava horas e horas na biblioteca
do Museu Britânico, em Londres, surgia na Inglaterra uma espécie
de filosofia ateísta e materialista batizada de utilitarismo. Ela foi
criada por J e r e m y B e n t h a m (1748-1832) e mais tarde aprimorada
por J o h n S t u a r t Mill (1806-1873). Ao contrário de Marx, os dois
ingleses eram de opinião que não havia nada de intrinsecamente
errado com o capitalismo - ele era inevitável e bom.

Bentham era um advogado excêntrico interessado na relação entre


moralidade e lei.

Por pensar assim, ele tratou de construir um sistema político e ético


baseado naquilo que chamou de definição "científica" da natureza
humana.

98
Todos os seres humanos
são organismos de
dor-e-prazer. Assim sendo,
a filosofia moral e política
deveria tratar de aumentar
o prazer humano e diminuir
a dor.

POR ISSO é QUE


O TRRBRLHO POS
GOVERNOS ELEITOS
PEVERIR SER O
PE GR RR NT IR R
MRIOR FELICIPRPE
POSSÍVEL, PO MRIOR
NÚMERO POSSÍVEL PE
PESSORS.

Bentham acreditava
sinceramente que a
"felicidade" podia ser
quantificada e cientificamente
mensurada, e que d e s s a forma
a questão moral e política
podia ser "resolvida". Isso
foi chamado de "cálculo da
felicidade (o grau de felicidade
que uma ação específica
causa)". Ele também estava
convencido de que o sistema
capitalista é o mais adaptado
a produzir a s maiores
quantidades (medidas) de
felicidade material.
Felicidade coletiva
Como um meio de organizar a s prioridades de um governo
democrático e populista, é claro que o utilitarismo faz sentido. Dar
às pessoas o que elas querem ou, pelo menos, o que o governo
acha que elas querem. Isso incentivou ideais vitorianos de utilidade
pública, como, por exemplo, providenciar uma rede de esgotos
e construir hospitais e escolas, porque esse tipo de coisa produz
alegria. Bentham também achava que o governo deveria castigar os
preguiçosos enviando-os para c a s a s de caridade, e os criminosos,
para prisões em que seriam vigiados o tempo todo de uma torre de
controle central.

100
A tirania da maioria e o pluralismo
John Stuart Mill tentou modificar a doutrina original de Bentham. A
preocupação dele era que o utilitarismo acabaria s e transformando
automaticamente em uma "tirania da maioria". S e a maioria a c h a s s e que
só poderia ser feliz s e severas medidas fossem aplicadas contra grupos
minoritários, como os ciganos ou os integrantes e viajantes de grupos
"alternativos", então o governo teria de aplicá-las.
O utilitarismo não é o melhor caminho para a garantia dos direitos
humanos. E como ele pressupõe que deva existir uma espécie de agência
central que faça a distribuição das cotas de felicidade, isso faria que
governos centralizadores e seus burocráticos escalões e tentáculos s e
tornassem poderosos demais.

Isso perturbava Mill. E m seu A liberdade (1859), ele defendeu a


tolerância para com a s ideias e o modo de vida das minorias, contanto
que não prejudicassem a s outras pessoas.

UMR SOCIEPRPE PLURRUSTR é UMR


SOCIEPRPE SRPIR, PORQUE PROPICIR
UM ESPRÇO COMUM NO QURL R
*VERPRPE" TRIUNFRRA SOBRE R
MENTIRR. EXISTE MUITR MORRL MRIS,
RLÉM PRS REGRRS PR MRIORIR.

Mill também parecia ser de opinião


que os fundamentos da teoria
utilitarista de Bentham eram,
eles mesmos, bem maliciosos e
astutos. Isso porque, mesmo que
biologicamente o ser humano seja
programado para correr atrás da
própria felicidade, que incentivo o
utilitarismo dá para que a s pessoas
se preocupem e ajam no sentido de
também propiciar a felicidade alheia?
101
Origens do pensamento norte-amer icano
Os Estados Unidos são uma invenção europeia, em parte porque s u a
Constituição s e baseia nos princípios filosóficos do Iluminismo. Depois
da guerra de independência (1774-1781), os chamados "pais fundadores"
tiveram de decidir qual seria o futuro político da nação. Discutia-se muito
o papel do governo central e até onde iria seu poder. Na verdade, um
grande número de políticos não confiava nas instituições democráticas.
Mas outros, como T h o m a s J e f f e r s o n (1743-1826) e B e n j a m i n
F r a n k l i n (1706-1790), levavam a s ideias europeias sobre filosofia e
política muito a sério, e a posição deles acabou s e impondo. O s Estados
Unidos s e tornaram uma república democrática.

102
O não governo é o melhor governo
Um dos primeiros filósofos
norte-americanos dizia que a
liberdade e a felicidade são
mais fáceis de alcançar s e m
a ajuda de qualquer governo.
Ele s e c h a m a v a H e n r y D a v i d
T h o r e a u (1817-1862). Thoreau
viveu por dois anos, dois m e s e s
e dois dias afastado do convívio
social. Ele s e isolou em uma
c a b a n a rústica à beira de um
lago, em Massachusetts, e
ali escreveu Walden (1854),
um livro que exaltava a s
tranquilas belezas d a vida
em um ambiente natural e
recomendava uma vida simples.

R NOSSR VIPR é
PE6PERPIÇRPR COM
PETRLHES... SIMPLICIPRPE,
SIMPLICIPRPEÍ

103
Certo dia, no ano de 1846, Thoreau saiu d a
cabana e foi à cidade para mandar remendar
um sapato. Infelizmente, ele foi visto por um
policial, que exigiu dele o pagamento da taxa
de capitação (o imposto por cabeça). Thoreau
estava convencido de que seus impostos
seriam usados para financiar a guerra
contra o México e a política escravagista
do governo, por isso s e recusou a pagar
a taxa. Resultado: foi preso e passou uma
noite na prisão. Depois disso, escreveu um
texto profundamente romântico e anarquista
chamado D e s o b e d i ê n c i a civil.

MEU ENSRIO PREGR UMR *RESISTÊNCIR


PRSSIVR", OU SEJR, PPOTESTRP
CONTPR MRUS GOVERNOS.

EU USEI R ""RESISTÊNCIR
PRSSIVR"" PRRR
CONFRONTRR O
IMPERIRUSMO BRITÂNICO
NR /NP/R - E VENCI, PO/S
O PERROTEI.

A nobre tradição de desrespeito ainda continua sendo praticada até


hoje. Muitos norte-americanos respeitáveis como N o a m C h o m s k y
(1928-) acreditam na prioridade da consciência individual sobre a
autoridade do governo, e sabiamente s e mantêm na posição de
desconfiar de grandes corporações e agências estatais que em
grande escala definem o que o país é internamente, além de s u a
política estrangeira. O s beatniks e os hippies são grupos "alternativos"
que podem ser classificados como pertencentes a e s s a dissidência
defendida por Thoreau.
104
Emerson: o conhecimento está além
Thoreau não desenvolveu suas ideias sobre a consciência individual
vivendo como um eremita, em esplêndido isolamento rural. Ele fazia
parte de um movimento literato e filosófico norte-americano chamado
t r a n s c e n d e n t a l i s m o . Quando a filosofia passa a ter uma etiqueta
de "transcendente", em geral é porque invoca alguma verdade de
tipo superior, com pretensões de ter o estatuto de verdade - alguma
coisa que estaria para além da experiência sensível do ser humano,
e só passível de ser alcançada por meio d a razão ou d a intuição. A s
"formas" de Platão e a s especulações d a teologia medieval sobre a
natureza de Deus são exemplos disso. Para Kant, esse conhecimento
transcendental é impossível de ser alcançado, apesar de existir um tipo
de conhecimento transcendental, o das categorias e intuições, que torna
a experiência humana possível.

lá de místico e enfatizava a primazia da


intuição e da consciência individual
sobre a autoridade d a religião
organizada e formal.
105
Transcendentalistas como Emerson e Thoreau defendiam pontos de
vista panteístas sobre a beleza do mundo natural, uma beleza que existe,
segundo eles, como resultado d a divindade que mora em c a d a coisa
(uma concepção filosófica que hoje dia não tem nada de transcendente).
Emerson sugeriu que o objetivo maior da vida humana é a união com
o que chamou de "supra-alma" - uma entidade amorfa, de certa forma
aparentada ao monismo de Spinoza e ao "Espírito absoluto" de Hegel.
O transcendentalismo é um estranho amálgama derivado de vários
elementos da tradição literária e filosófica europeia (do Leste também),
que na realidade foi mais um fenómeno literário e social - interessante, é
bem verdade - do que uma filosofia.

TRNTO THORERU
QURNTO EU TEMOS UMR No fim da vida, Emerson trabalhou
VISÃO CRÍTICR PESSR ativamente pela c a u s a abolicionista
RMéRICR QUE ESTA SE e fez vários discursos contra a
TORNRNPO PEMRSIRPO escravidão, percorrendo os estados
MRTERIRLISTR, URBRNR E nortistas dos Estados Unidos. A
INPUSTRIRL influência positiva desses dois
pensadores sobre a vida política
e cultural norte-americana foi
imensa. "Quem for Homem deve
obrigatoriamente ser não conformista."
106
Pragmatismo
Mas a filosofia norte-americana libertária
mais importante e autêntica foi o
pragmatismo. C h a r l e s S a n d e r s P e i r c e
(1839-1914) e William J a m e s (1842-1910)
eram ambos empiristas radicais, e por
isso ligeiramente hostis à especulação
metafísica que o transcendentalismo gerava.
O pragmatismo rejeitava tanto a s visões
filosóficas empiristas como a s racionalistas,
sobre o conhecimento ser uma espécie de
experiência mental particular. Segundo e s s a
linha de pensamento, todo o conhecimento
humano deveria ser entendido como uma
resposta adaptativa ao meio que nos cerca,
pela habilidade que nosso entendimento tem
de resolver problemas.

UMR IPEIR POPE SEP


PIGOROSRMENTE
PEFENPIPR, MRS NÃO
FRZ NENHUMR PIFERENÇR
NR NOSSR V/PR P/ÃRIR,
E POR ISSO NÃO é
NEM IMPORTRNTE NEM
""VERPRPEIRR".

RS TEORIRS HUMRNRS Só
FRZEM SENTIPO PORQUE TÊM
UM "VRLOR PE COMPRR"
LIGRPO Ã SUR UTILIPRPE.

RSS/M, NO F/NRL RTÉ


MESMO O MISTICISMO
TRRNSCENPENTRUSTR FOI
"ÚTIL", SE CONSEGUIU RJUPRR
OS NORTE-RMERICRNOS PO
SÉCULO XIX R PRR UM SENTIPO
ÃS PRÓPRIRS VIPRS.

107
C. S . Peirce
O pragmatista [ou pragmático, termo
que evitamos porque pode dar margem
a mais de uma interpretação] mais
importante foi s e m dúvida C . S . Peirce.
Só muito recentemente passou-se a
considerar que ele sozinho preparou o
terreno para a filosofia do século XX.
Como Thoreau, ele nunca foi realmente
membro integrante d a respeitável
sociedade norte-americana. E m vida, não
conseguiu publicar nenhum livro e viveu
recluso a maior parte da vida. Morreu na
pobreza. Na juventude, foi físico prático e
fez importantes descobertas no domínio
da geofísica. Também fez contribuições
significativas à lógica formal e à filosofia
da ciência. S u a radical filosofia empirista
antecipou a s concepções da lógica
positivista, como veremos.
NÃO EXISTEM
*VERPRPES
SUPREMRS" QUE R
FILOSOFIR POSSR
/Cr ESTRBELECER SOBRE
R NRTUREZR, OU
*RERUPRPE». RS
IPEIRS INPIVIPURIS
SEMPRE PEVEM SER
TESTRPRS, PRRR
VERIFICRR OS EFEITOS
QUEPROPUZEM.

Ele dizia de si mesmo que era um


"falibilista" - partidário do princípio da
"falseabilidade" ou "falibilismo" - , porque
admitia que todo conhecimento científico
que o ser humano pode gerar é sempre
provisório. Com e s s a noção por ele
criada, antecipou o "falsificacionismo" de
K a r l P o p p e r (ver p. 150).
108
Semiótica
Mais importante ainda, pode-se dizer que
ele praticamente inventou a semiótica
- teoria dos sinais, ou signos - , uma
disciplina crucial para o desenvolvimento
do estruturalismo e do pós-modernismo
do século XX. Peirce classificava os signos
como sendo naturais (nuvens significam
chuva, manchas vermelhas significam
sarampo); icônicos (quando o signo s e
parece com o significado que ele tem -
como a imagem de ervilhas, em um pacote
de ervilhas congeladas); ou convencionais
(quando o signo é simplesmente algo
inventado, o resultado de algo combinado
- uma convenção, como por exemplo
a cor vermelha significar "perigo" nas
sociedades ocidentais). Peirce chamou
e s s e s sinais, ou signos, de "símbolos".

ELES POPEM SER OS MAIS


ESTRANHOS POSSÍVEIS, PORQUE
CONSTITUÍPOS UNICAMENTE
FATO PE SEREM USAPOS OU
ENTENPIPOS TAL QUAL.

A s palavras e a linguagem são


construídas a partir d e s s e s símbolos.
Signos naturais e icônicos em geral
apontam a presença daquilo a que s e
referem. Mas símbolos como palavras
raramente fazem isso. S e lermos um
livro no qual estiver a palavra "elefante",
dificilmente inferiremos que há um
elefante na nossa c a s a . Com isso,
Peirce chegou muito perto do fato de
a s palavras serem o que chamamos
de símbolos "arbitrários" - no sentido
de aleatórios - , que de alguma forma
ainda geram um significado. A s
ramificações d e s s a descoberta foram
superimportantes para a filosofia, como
veremos na parte final deste livro.

109
William J a m e s
William J a m e s foi enormemente
influenciado pelo pragmatismo de
Peirce. Ele concordava que a s ideias
não deveriam ser entendidas como
entidades metafísicas abstraías, mas
como ferramentas de uso prático,
como por exemplo a habilidade de
prever experimentos. S u a obra O s
princípios da psicologia (1890) foi o R EVOLUÇÃO PR
primeiro livro no qual a mente humana HUMRNIPRPE é UM
é o tema central, e em que s e insiste PROCESSO INTERRTIVO
NO QURL R CONSCIÊNC/R
que a psicologia deveria ser entendida
E O AMBIENTE QUE NOS
como uma das ciências naturais
CERCA INFLUENCIAM
experimentais. J a m e s s e interessava UM AO OUTRO
pelas bases físicas da consciência e RECIPROCAMENTE - A
s u a função biológica, que ele explicava CONSCIÊNCIA EXISTE
em termos darwinianos. PARA NOS AJUPAR A
SOBREVIVER.

A psicologia d e s s a linha de pensamento é muitas vezes conhecida


como f u n c i o n a l i s m o - para ele, o importante é o que a consciência
faz e a s diferenças que ela produz. J a m e s também reconhecia que
a consciência existe como um fluxo contínuo, e não como uma série
de ideias separadas: e s s a concepção influenciou tanto a ficção do
século X X quanto a fenomenologia de Husserl. J a m e s também estava
convencido de que é possível exercitar a vontade própria (ou livre
vontade) para curar a si mesmo d a depressão, coisa que ele mesmo fez.
Ele observou que a s crenças religiosas em geral dão significado à vida
de muitas pessoas, e no fim d a vida s e dedicou ao estudo do fenómeno
do misticismo, escrevendo As variedades da experiência religiosa
(1902). Acabou convencido d a existência de Deus, mas um Deus finito,
o que explicaria por que os seres humanos são livres e separados de
Deus, e por que o demónio está presente em nosso mundo.
110
John Dewey
J o h n D e w e y (1859-1952) foi um
partidário do pragmatismo
sistemático, ou instrumentalismo,
para quem ser "filosófico" significava
desenvolver uma inteligência crítica e
manter uma abordagem "científica"
das questões humanas.
Pragmatistas como Dewey eram
grandes entusiastas do sucesso d a
ciência e seus métodos de pesquisa.
Dewey estava convencido de que a
filosofia também tem um papel na
democracia norte-americana,
contribuindo para todo
EU SUGIRO ROS
conhecimento na esfera d a ética, d a
EPUCRPORES QUE RS
arte, d a educação e das recém-
CRIRNÇRS PEIXEM PE
-emergentes ciências. A exemplo de SER CONSIPERRPRS
Peirce, Dewey era um teórico do SIMPLES RECIPIENTES
"falibilismo", mas ainda mais PRSSIVOS QUE
convicto das reais possibilidades de 'RECISRM SER CHEIOS
haver progressos práticos nos RTé R BOCR PE
assuntos humanos. A sociedade só INFORMRÇRO.
avança s e seus membros forem KW
educados para ser inteligentes e
sensíveis.

E SIM COMO ESPÍRITOS


INPEPENPENTES
SOLUCIONAPORES PE
PROBLEMAS, E QUE
PRECISAM SER PESAFIAPOS
O TEMPO TOPO.

Em s u a famosa Escola
Experimental d a Universidade
de Chicago, a s crianças eram
(e ainda hoje são) incentivadas
a resolver problemas usando
hipóteses criativas e a testá-las.
Para Dewey, a arte deve ser
incentivada, porque ela estimula
a s soluções "imaginativas" para
suas próprias "questões".
111
Democracia
Dewey era partidário da democracia por razões bem práticas. A s
sociedades democráticas são a s melhores porque são flexíveis,
não aceitam facilmente dogmas e podem d e s s a forma s e dedicar à
mudança, à evolução. Isso queria dizer que Dewey s e interessava
por uma nova disciplina, a sociologia, por c a u s a de s u a facilidade de
produzir estatísticas. Para ele, problemas e questões sociais não podiam
ser resolvidos com teorias abstraías.

Como todos nós, Dewey foi um produto do seu tempo. A visão dele
da "sociedade" era a visão d a classe média de cidadezinha norte-
-americana à qual ele pertencia, e suas concepções são gradualistas.
Educação e não agitação era, na opinião dele, a melhor solução para
melhorar a vida dos norte-americanos comuns.

112
Neopragmatistas
Nos Estados Unidos do pós-guerra, o pragmatismo perdeu força por
c a u s a das filosofias importadas d a Europa - a filosofia analítica e a
fenomenologia. Mas não por muito tempo. Na verdade, entre os
norte-americanos, o pragmatismo nunca desapareceu. S e u s
pensadores acreditavam que seu tema de investigação deveria ser
alguma coisa que tivesse aplicação prática, apesar de haver entre eles
mesmos muita discordância sobre qual seria exatamente esse uso ou
aplicação. Para o filósofo norte-americano W. V- Q u i n e (1908-2000),
alguns dos dogmas centrais d a filosofia analítica eram de uma falta de
precisão preocupante. Ele era pragmatista porque acreditava que o
conhecimento humano é inevitavelmente holístico.

EU PESCONFIO
PROFUNPRMENTE PR
FILOSOFIR "FUNPRCIONRL",
QUE RFIPMR QUE EXISTE UM

i iTnmi
Outro pensador norte-americano,
JEITO ESPECIRL PELO QURL
OS FILÓSOFOS
LOCRUZRP
CONSEGUEM
VEPPRPES
INQUESTIONÁVEIS SOBRE R
R i c h a r d Rorty (1931-2007), é com RERLIPRPE E ESTRBELECER
frequência rotulado de neopragmatista, OS "FUNPRMENTOS" PO
em parte porque ele insistia em perguntar CONHECIMENTO HUMRNO.
para que serve a filosofia, afinal.
Atualmente existem pelo menos 10 mil professores de filosofia nos
Estados Unidos. Para eles, a filosofia ainda é uma atividade prática
que lida com a s "questões" relativas à consciência, à inteligência
artificial, à ética médica, aos direitos humanos, à matemática, às
implicações do relativismo epistemológico e ético, à lógica, e assim
por diante. A filosofia norte-americana é um vasto edifício que um
pequeno livro como este não consegue resumir como deveria.

J o h n R a w l s (1921-2002), em Uma teoria sobre a justiça, tentou


demonstrar como é possível conciliar justiça social com a democracia
liberal capitalista por meio de um imaginário e engenhoso contrato
pré-societário.

S a u l K r i p k l e (1940-) procurou mudar o modo como os filósofos


refletem sobre a relação entre lógica e experiência. Ele afirma que
nosso conhecimento de que a água é H 2 0 é tão certo quanto nossos
conhecimentos sobre matemática e lógica.

114
D a n i e l D e n n e t t (1942-) é autor de novas e radicais ideias sobre a
natureza d a consciência humana, assim como T h o m a s Nagel (1937-),
em seu ensaio intitulado Como é ser um morcego?.

J o h n S e a r l e (1932-) desenvolveu trabalhos na esfera d a filosofia da


linguagem, criticando todas a s entusiásticas teorias materialistas sobre a
mente.

O neopragmático Rorty defende categoricamente a tese de que a


filosofia s e transformou atualmente em uma divertida voz, parte de
uma vasta conversa geral d a civilização, ou, pior ainda, uma espécie de
"doença" a cujos praticantes ele recomenda que façam terapia. E s s a
visão cética talvez seja verdadeira, mas parece bem pouco provável que
consiga ser suficiente para estancar o alucinante número de novos livros
e artigos de filosofia publicados atualmente nos Estados Unidos (por
volta de 4 mil).

115
Apresentando a filosofia do século X X
Nietzsche disse que a s ideias filosóficas não passam de convicções
dominantes de s u a respectiva época. O século X X d a filosofia não
foi exceção à regra. De maneiras diferentes, seus filósofos tiveram
a tendência de trabalhar os mesmos temas dominantes, como os
problemas da nova sociedade de massa, perda da identidade individual,
dúvida e incerteza relativistas. A tónica maior se concentrou nos
complexos problemas da consciência humana, do significado e da
lógica. Há quem considere atualmente que a filosofia dos últimos oitenta
anos tenha sido ou "analítica" ou "continental".

Pode-se dizer que a filosofia continental é uma releitura da tradição que


herdamos de Descartes, Kant e Hegel.

116
Origens da fenomenologia
A crítica kantiana d a metafísica levou à
convicção estabelecida de que nós podemos
até ter um conhecimento bastante seguro
do mundo empírico, com seus fenómenos
com os quais entramos em contato por meio
dos nossos sentidos - ou seja, o mundo das
aparências - , mas nunca conseguiremos
saber como é exatamente o mundo dito
noumenal, as coisas como elas são "de
verdade". A pergunta que s e poderia fazer
seria esta: "Mas o que é que vivenciamos
quando estamos tendo uma experiência?".

A f e n o m e n o l o g i a fez d e s s a pergunta e
da análise de como a s coisas aparecem
para a nossa consciência o centro de suas
discussões.

F r a n z B r e n t a n o (1838-1917), que
era filósofo e psicólogo, propôs o que
chamou de uma "psicologia descritiva, ou
fenomenológica".

EU QUERO SABER
EXATAMENTE O QUE é QUE
O INPIVÍPUO CONHECE,
QUANPO SUA CONSCIÊNCIA
SE VÊ CONFRONTAPA A
ALGUMA COISA.

Para Brentano, o aspecto mais


importante é a intenção: a
consciência sempre tem um
objeto "intencional", ela sempre
está direcionada para alguma
coisa, na direção de algo. S e nós
acreditamos, odiamos ou vemos,
é porque existe alguma coisa na
qual acreditamos, ou que odiamos,
ou que vemos - mesmo que isso
não exista objetivamente, como
por exemplo um fantasma ou uma
lembrança.
117
A ligação entre psicologia e
matemática
A fenomenologia está diretamente ligada ao nascimento d a psicologia
experimental, fundada oficialmente por Wilhelm Wundt (1832-1920).
Ele foi o primeiro a sugerir que a introspecção - o exame de nosso
próprio estado mental, dependendo de certo número de regras
rigorosas - poderia ser um método experimental. O próprio Brentano
era bastante chegado a um dos fundadores da Gestalt, C h r i s t i a n
von E h r e n f e l s (1859-1932). A matemática também forneceu uma
ligação importante, no caso de E d m u n d H u s s e r l (1859-1938),
originalmente um filósofo da matemática que adotou a ideia de
Brentano sobre a consciência intencional. Ele definiu a fenomenologia
como a descrição do conteúdo da consciência.

EU CONCORPO, MONS/EUR
O ÚNICO CAMINHO SEGURO
PESCARTES, MAS COMO
PARA O CONHECIMENTO é O
SABER COM CERTEZA SOBRE
EXAME PE NOSSA PRÓPRIA
QUE A NOSSA CONSCIÊNCIA
CONSCIÊNCIA.
REALMENTE é?
O método das
reduções
Aparentemente, só havia um jeito
de saber com certeza o que é a
consciência: fazer uma série de
"reduções" que ignorem todo
tipo de distrações metafísicas e
teóricas, e só s e concentrar nos
conteúdos da consciência e em
sua característica fundamental,
a "intencionalidade". Husserl
chamou isso de suspensão do
juízo, recorrendo a uma palavra
grega - epochè - que significa
interrupção, parada, cessação.

O TRUQUE é SUSPENDER,
OU COLOCAR ENTRE
PARÊNTESES" TOPAS
AS QUESTÕES SOBRE
"VERDADE" OU
"REALIDADE", PE MOPO
QUE O ÚNICO CONTEÚDO
SEJA O IMEDIATISMO PA
EXPERIÊNCIA ÚNICA E PURA.

O problema, como o próprio


Husserl reconhecia, é que
um exercício desse tipo leva
inevitavelmente ao s o l i p s i s m o
- a única coisa da qual
podemos ter certeza absoluta
somos nós mesmos. Aliás,
ele duvidava até disso, já que
nossa identidade nunca está
diretamente presente em nossa
consciência.

119
Heidegger: a busca do ser
A fenomenologia tinha atingido um nível primordial de consciência. A
questão era: a s "coisas em s i " são percebidas pela consciência, ou o
mundo só está aí, só existe para a mente? Martin H e i d e g g e r
(1889-1976), um aluno de Husserl, radicalizou a questão, perguntando
de modo ainda mais básico o que significa ser. E s s a questão do ser,
chamada de "ontologia fundamental" no livro de Heidegger O ser e
o tempo (1927), diz respeito a todos nós, como seres humanos que
somos, que vivemos.
/ \

A noção de Descartes de que "eu s o u " ao "pensar que eu sou", assim


como a identidade da consciência de Husserl, deixam de lado o fato
de que nós existimos neste mundo condicionados ao fato de sermos
mortais. "Estar aí" no mundo (Dasein) não é a mesma coisa que "ser
consciente". Ser humanos é a nossa capacidade de existir no mundo,
existir determinado pelas escolhas que fazemos, incluindo as falsas e a s
inautênticas.
120
O nada e a inautenticidade
Heidegger fez a seguinte pergunta:
"Por que existe alguma coisa,
em vez de nada?". Nós somos
confrontados a uma angústia sem
objeto, um "nada" (Das Nichts),
que é a nossa própria morte, o fato
de sabermos que vamos morrer.
Mas, enquanto vivemos, nosso ser
neste mundo precisa s e realizar
por meio de atos de livre escolha.
Somente isso pode nos dar alguma
garantia de a u t e n t i c i d a d e . Nós
fomos "jogados" no mundo e para
a maioria das pessoas isso será
determinado pelos "outros", pelos
papéis medíocres que nos são
impostos por eles a c a d a dia.

O PAPEL QUE ASSUMIMOS


NOS TORNA INAUTÊNTICOS
PORQUE ELE NÃO NOS
PERTENCE.

Mas é possível ser "autêntico"


em uma época de sociedade de
massa, de ideologias autoritárias
e de tecnologia? Diante d e s s a s
dificuldades, Heidegger concluiu
que os seres humanos precisam
se empenhar e s e comprometer
com suas próprias culturas e
tradições - um ponto de vista que
o levou, segundo s e diz, a apoiar
Hitler e o nazismo, uma escolha
política desastrosa, algo que
aparentemente ele jamais teria
lamentado. De qualquer forma, ele
entrou para a história como uma
figura genial e problemática.

121
O existencialismo de Sartre
Heidegger negava qualquer ligação com o existencialismo, uma filosofia
desenvolvida basicamente por J e a n - P a u l S a r t r e (1905-1980) com
base em conhecidas fontes do chamado pensamento continental:
Descartes, Hegel e Husserl. Apesar de a obra de Sartre O s e r e o nada
(1943) ter sido claramente influenciada por Heidegger, Marx teve mais
influência afinal. Sartre também estava à procura de "autenticidade",
e compartilhava com Kierkegaard a crença na importância do
"engajamento", do compromisso. Mas tudo depende, de modo
crucial, do fato de que não existe um Deus, o que torna o universo um
"absurdo", sem significado nem objetivo. Não haver um Deus também
significa que não há algo desse tipo na "natureza humana", porque os
seres humanos não foram "feitos" em um projeto divino, ou "essência".

Nós somos obra de nós mesmos, ou, como dizia Sartre, " a
existência precede a essência". Por isso, ele chamou s u a filosofia
de e x i s t e n c i a l i s m o - porque antes de tudo nós existimos, e
depois construímos nossa essência, ao fazer nossas escolhas.
122
Liberdade e má-fé
Em mais de um aspecto, o existencialismo de Sartre é cartesiano.
A mente é a única coisa d a qual temos certeza. Ele sempre opõe a
liberdade e a imaginação de nossa consciência humana ao que é não
consciente, objetos não livres, como um abridor de cartas. Mas, para
Sartre, o " e u " não é algum tipo de coisa estática que descobrimos por
meio do autoexame cartesiano. Ele é um projeto pessoal pelo qual
precisamos nos responsabilizar.

s \
NINGUÉM POPE DIZER "EU
SOU POR NATUREZA UMR
PESSOR DESPREZÍVEL",
PORQUE ISSO Só ACONTECE

A s pessoas de "má-fé" tentam escapar o tempo todo, de todas a s


maneiras possíveis, assumindo um papel social ("Eu sou um garçom, é
isso que eu sou."). Elas distorcem a s u a verdade, s e transformam em
c o i s a s - mas elas também confirmam que a liberdade é real. Mas será
que a liberdade é realmente tão "total" como pretendia Sartre? E a
"má-fé" é sempre tão má?
123
Vida política autêntica
Não é difícil entender por que a escolha pela autenticidade era uma
saída real para Sartre. A s forças nazistas que ocuparam Paris entraram
na Cidade Luz em 1 9 4 1 . C a d a um e todo mundo precisavam decidir
que posição tomar: colaborar com os ocupantes ou combatê-los.
Sartre s e alistou na Resistência Francesa. Anos depois, ele apoiou a
independência d a Argélia e recusou o Prémio Nobel. Ele sempre dizia
que o marxismo era a única filosofia válida para o mundo moderno.

Sartre dedicou a vida inteira à


luta contra s u a "inautenticidade
pessoal, e nunca aceitou
dormir sobre os louros do fácil
papel de ser o "famoso filósofo
existencialista".
124
Carnus e o absurdo
Albert C a r n u s (1913-1960), nascido na Argélia, era jornalista, ensaísta
e novelista, e também negava ser um existencialista. Mas a reflexão
profunda que ele fez do significado emocional do que significa viver em
um "universo absurdo" e ímpio certamente colaborou para isso. S e u
engajamento na Resistência Francesa o aproximou de Sartre, mas os
dois tinham posições completamente diferentes sobre o comunismo e
sobre a independência da Argélia. Como s e pode afirmar o significado de
alguma coisa, em um universo completamente sem significado? Carnus
deu um exemplo disso em seu livro O mito do Sísifo (1943). Sísifo
foi condenado a empurrar eternamente, ladeira acima, uma pedra que
rolava para baixo ao final de c a d a dia. Carnus s e pôs a refletir sobre esse
mito grego e seu significado...

... e disse o seguinte: "Julgar s e a vida vale ou não a pena ser vivida
constitui a questão fundamental da filosofia". De modo desafiador, Sísifo
decide dar ao castigo um significado, e d e s s a forma a tarefa assume,
efetivamente, um significado. Do mesmo modo, é isso que todos os
seres humanos deveriam fazer em suas vidas "absurdas".
125
Filosofia analítica: o problema da
matemática
Os filósofos têm o péssimo costume de fazer perguntas supersimples
mas que têm respostas espantosamente difíceis. Todo mundo sabe
que dois mais dois é igual a quatro. Mas os filósofos perguntam por
q u e i s s o é assim.
Pitágoras estava convencido de que a matemática é a chave para
entender tudo o que existe. Platão acreditava que os números têm
uma espécie de existência mística especial. Uma das principais
preocupações dos filósofos analíticos do século X X foi procurar
encontrar os "fundamentos" d a matemática na lógica.

126
Isso irritava o vitoriano filósofo
empirista John Stuart Mill, para quem a
certeza matemática s e parece demais
a uma "refeição gratuita". Ele afirmou
que a matemática não passa d a mais
provável verdade indutiva, baseada em
nossa experiência humana do mundo.

Mas, s e isso for verdade, por que tantas vezes a matemática nos fornece
um quadro tão preciso de como o mundo funciona? A explicação de
Kant foi que a matemática seria outro exemplo do "sintético a priori" -
para nós, a matemática está sempre certa porque esse é o modo como
o nosso cérebro é "conectado", o modo como ele funciona.

127
Frege e a matemática desmistificada
Got t lob F r e g e (1848-1925) viveu uma vida calma e isolada, mas mudou
a filosofia ocidental para sempre ao fazer da lógica o fundamento da
nova filosofia, no lugar do "problema do conhecimento". Ele jogou fora
a lógica tradicional, que era dedutiva, e criou uma nova versão, "formal"
e "simbólica". Utilizando e s s a s u a nova lógica, ele estava convencido de
que podia demonstrar a s profundas conexões entre matemática e lógica.
Frege desmistificou a matemática, mostrando que os números não são
"objetos", como a s girafas.

128
Em seguida, Frege demonstrou como a matemática é analítica, ou "vazia

Os filósofos racionalistas afirmaram mais de uma vez que a matemática


era o maior paradigma, dos tipos de verdades fundamentais, já
produzido sobre a mente humana. A desmistificação feita por Frege d a
matemática foi crucial, porque ajudou a destruir a ilusão de que existe
algum tipo de conhecimento metafísico que só os filósofos são capazes
de descobrir.

129
E o mistério continua
Frege chegou muito perto de resolver o problema filosófico da
verdade matemática. Mas, infelizmente para ele, em 1903 B e r t r a n d
R u s s e l l (1872-1970) descobriu um paradoxo que parecia impossível
de resolver no sistema de Frege, e K u r t Gõdel (1906-1978)
demonstrou que sempre existirão verdades matemáticas que
continuarão sendo impossíveis de provar em qualquer sistema lógico.
Um sistema formal pode ser ou autoconsistente ou completo, mas
não os dois.

Assim, a matemática conseguiu escapar da lógica e continuou sendo


uma das questões centrais d a filosofia contemporânea.
130
Significado e
referência
Frege também foi um dos fundadores
da moderna filosofia linguística. Ele
ajudou a mudar o foco de discussão da
filosofia contemporânea, do problema
do conhecimento para o problema
- ainda mais fundamental - do
s i g n i f i c a d o . Frege chamou a atenção A PR/ME/RR
para o fato de que a gramática de uso CONSISTE NO
corrente não é lógica, e que a própria "SENTIPO", OU
lógica é independente da psicologia. A SIGNIFICADO,
AQUILO QUE NÓS
linguagem tem duas funções diferentes:
ENTENDEMOS.

Cachorro

O SEGUNDO é AQUILO A
QUE ELA SE "REFERE", OU
"PONTOS" PE LIGAÇÃO ENTRE
COISAS E CONCEITOS.

O s e n t i d o da linguagem é um
fenómeno público baseado em uma
convenção, e por isso pode mudar.
Mas a r e f e r ê n c i a é ou a verdade
ou a falsidade. Frege fundou um
complexo sistema lógico baseado
em s u a intuição.

131
A lógica atomista de Russell
Na obra Principia mathematica (1910-1913), B e r t r a n d R u s s e l l
(1872-1970), secundado por Alfred North W h i t e h e a d (1861-1947), fez
o mesmo percurso que Frege em s u a malsucedida tentativa de provar
que mesmo a matemática mais simples tem fundamentos lógicos - por
exemplo, 1 + 1 = 2 .

/ \

132
Na melhor tradição do empirismo
britânico, Russell era um "atomista
lógico". Para ele, o melhor caminho NÓS Só PODEMOS TER
para entender o mundo é desmontar CERTEZR DRS COISRS
tudo o que existe, reduzindo a QUE CONHECEMOS
componentes individuais. A s POR MEIO DE UMR
CONVIVÊNCIA FAMILIAR,
proposições individuais podem então
PRÓXIMA E PIRETA.
ser referidas a sensações individuais
no entendimento humano, elas
mesmas causadas por pequenos TODO O RESTO PRECISA
"pedacinhos" do mundo. SER CONSTRUÍDO POR MEIO
DE UMA CONSTRUÇÃO
LÓGICA, COM ESSE BANCO
DE DADOS LÓGICO.

A linguagem ordinária, comum, precisa ser reduzida a uma forma


lógica, s e quisermos que ela seja unívoca, sem ambiguidades. Um
bom exemplo de como isso funciona é a palavra "é". Russell propôs
o que chamou de teoria das "descrições definidas", usando o famoso
exemplo "O rei d a França é careca". O que e s s e "é" está descrevendo
nessa frase? Russell aborda esse " é " estritamente pela análise lógica -
abordagem completamente do "ser" de Heidegger, como s e vê.
133
Análise lógica
A frase "O rei d a França é c a r e c a " é única porque ela parece s e referir a
alguém que não existe. A solução de Russell para esse quebra-cabeça
linguístico foi desmontar a frase em componentes lógicos, o que faz que
fique mais fácil perceber onde estão os erros, como...

[ > EXISTE UM REI DA FRANÇA ATUALMENTE. ERRADO.

P> TODO REI QUE FOR REI DA FRANÇA É CARECA.

[ > SÓ EXISTE UM REI DA FRANÇA.

O que s e vê é que o "é" d a frase


original, "O rei d a França é careca",
sugere maldosamente que exista
um rei, quando na verdade ele não
existe, e a análise lógica revela isso
claramente. E s s e tipo de análise
também aponta a diferença entre o
"sentido" da frase e s u a "referência".

Tanto Frege como Russell


eram de opinião que a filosofia
contemporânea não podia continuar
tendo um tema de reflexão, mas sim
se transformar em uma "atividade
analítica". Os filósofos do século
XX precisavam ser lógicos, e não
videntes mergulhando na natureza
íntima d a realidade. O que não
impediu Russell, um lorde inglês, de
refletir e escrever sobre um grande
número de temas morais e políticos.

134
O Círculo de Viena
Os p o s i t i v i s t a s lógicos, ou Círculo de Viena, estavam mais para
cientistas que para filósofos. Moritz S c h l i c k (1882-1936), Otto
N e u r a t h (1882-1945) e Rudolf C a r n a p (1891-1970) eram de opinião
que toda a filosofia, em especial o idealismo hegeliano, era uma
bobagem metafísica.

PARA NÓS, SIGNIFICADO E TESTABILIDADE,


OU PRINCÍPIO DE VERIFICAÇÃO (A TEORIA
DE QUE TUDO DEVE PODER SER TESTADO),
SÃO A MESMA COISA.

ASSIM, A PROPOSIÇÃO
"DEUS é ABSOLUTO
E ETERNO" PARECE
FAZER SENTIDO, MAS é
TOTALMENTE IMPOSSÍVEL
DE VERIFICAR E, PORTANTO,
INCOMPREENSÍVEL.

Para eles, a "gramática superficial" da linguagem tinha levado os


filósofos a pseudodebates sem fim sobre entidades imaginárias, como
as "substâncias" de Spinoza e Leibniz.
135
O positivismo lógico de A. J . Ayer
Para os positivistas lógicos não existe o que s e havia convencionado
chamar de "conhecimento filosófico" - o caminho para o
conhecimento passava necessariamente - e somente - pela
ciência. A filosofia devia s e limitar a ser uma atividade analítica que
esclareceria os conceitos e a s confusões linguísticas. Nos anos 1930,
A . J . A y e r (1910-1989) foi a Viena para ficar conhecendo o grupo e
voltou de lá como um discípulo. Ele escreveu seu livro Linguagem,
verdade e iógica aos trinta e seis anos de idade, e a fria e técnica
desqualificação que ele fez, tanto d a religião quanto d a linguagem
ética, dizendo que ambas não passavam de "bobagem", de um
"disparate", chocou muita gente na Inglaterra.
Testando para encontrar o significado
Os membros do Círculo de Viena, que eram todos partidários d a
tolerância e do progresso científico, tiveram alguns problemas com a s
insanidades do nazismo germânico. Schlick foi assassinado por um
aluno mentalmente perturbado, assunto sobre o qual os professores de
filosofia preferem não falar.

Como teoria do significado, o v e r i f i c a c i o n i s m o (a teoria de que tudo


deve poder ser verificado empiricamente), logo veio abaixo, em parte
porque muitas ciências contemporâneas não podem ser testadas de
um modo simples, como "olhe e constate". Afinal, até agora ninguém
viu um "quark", como então uma coisa d e s s a s poderia ser "testada"?
O significado também deveria ser testado antes de seu resultado. Mas
como s e pode testar alguma c o i s a que ainda nem entendemos? E s s a
questão foi deixada para outro filósofo vienense resolver, de modo
mais convincente.

137
O atomismo lógico de Wittgenstein
L u d w i g W i t t g e n s t e i n (1189-1951) primeiro estudou engenharia. O
interesse dele por lógica e matemática o levou a estudar com Bertrand
Russell em Cambridge, em 1 9 1 1 . Ele pertencia a uma rica, talentosa e
trágica família vienense - três de seus irmãos tinham s e suicidado. Ele
era um professor carismático, impaciente e enigmático, que não aceitava
a teoria de que o ensino universitário d a filosofia era algo inútil. Um
homem religioso que mudou a filosofia ocidental para sempre. Ele lutou
pelo exército austríaco durante a Primeira Guerra Mundial.

FOI NAS TRINCHEIRAS


QUE EU COMECEI A
DESENVOLVER MINHA
TEORIA SOBRE A
LINGUAGEM E A LÓGICA.

Wittgenstein publicou uma obra breve e extremamente difícil, o


Tractatus Logico-Philosophicus [Tratado lógico-filosófico], em 1922.
138
O Tractatus começa com a s seguintes palavras: "O mundo é tudo
o que está em questão". Ou seja, "tudo o que conta". No início,
Wittgenstein adotou a linha de pensamento "atomista" de Russell, que
afirma a necessidade de "quebrarmos" a s sentenças, para que possam
ser reveladas suas complexidades lógicas. A preocupação dele era
mostrar que, no limite, o significado deriva de atómicas frases lógicas
que formam um "quadro" preciso do que ele, de maneira curiosa,
chamou de "fatos atómicos" do mundo.

E s s a premissa significa que existem limites para os tipos de


pensamentos significativos que podemos ter, com a linguagem que
temos. A s questões metafísicas só são levantadas, ou seja, elas só
existem porque os filósofos estão sempre tentando "dizer o que não
pode ser dito", ou seja, "falar sobre o que não s e consegue falar". A
última frase desse notável livro diz: "Sobre [tudo] aquilo de que não
podemos falar, devemos nos manter em silêncio".
139
O significado do significado
Em uma segunda fase, Wittgenstein abandonou s u a primeira abordagem
"atomista", de resolução do "problema do significado", e passou a
questionar toda a tradicional procura d a filosofia d a generalidade, leia-se
das "essências". A nova abordagem era algo completamente diferente
- o chamado p e n s a m e n t o d e s c r i t i v o , tema do livro póstumo de
Wittgenstein, a s Investigações filosóficas (1953).

ISTO NÃO É UM FILÓSOFO.

Assim, só porque existe uma palavra que serve para falar do conceito de
arte não faz sentido ficar correndo atrás da "coisa essencial" que confere
significado à palavra "arte", ou ficar perguntando como o conceito existe
na mente humana. A palavra "arte" só é usada pelas pessoas para falar
de diferentes atividades e artefatos compartilhados por um "conjunto de
coisas semelhantes".
140
Jogos de palavras
A linguagem é uma série de diferentes "jogos" de palavras, com muitas e
diferentes intenções e objetivos. Significado é o resultado de convenções
sociais, ou seja, de normas estabelecidas de comum acordo, produzidas
por determinadas "formas de vida", e elas não podem ser estabelecidas
separadamente, "fora" da linguagem. Isso quer dizer que a linguagem é
autónoma e flutua, é levada livremente pelo mundo afora. Wittgenstein
assumiu uma visão terapêutica do chamado discurso filosófico, por
c a u s a do que para ele era uma espécie de doença - o produto de uma
linguagem "saindo de férias", de modo que um jogo de palavras s e t
Pensamentos privados
A filosofia de Wittgenstein sobre a mente também é anticartesiana.
Pensamento é linguística. A linguagem é um produto social e a
consequência disso é que a linguagem não pode ser "privada",
particular. Isso significa, por s u a vez, que toda busca de certeza feita
na "primeira pessoa" é falsa e mal concebida. Descartes e seus muitos
filósofos-discípulos sempre defenderam a ideia de que a s experiências
de primeira pessoa são, de alguma forma, mais "imediatas" e certas do
que a s outras coisas. Mas escrever e falar sobre experiências mentais
supõe o uso de uma linguagem pública, comum a várias pessoas, que
obedeça a regras que determinam tanto significados quanto referências
A teoria freudiana do inconsciente
A "terapia" de Wittgenstein como solução para a doença linguística da
filosofia deve, de certa forma, algo a outro vienense, S i g m u n d F r e u d
(1856-1939), o fundador da psicanálise. S u a influente teoria de um
inconsciente sexualmente estruturado brotou d a neuropsicologia e d a
prática clínica. Mas a noção de que com frequência nós não temos
consciência de nosso próprio processo mental já era sobejamente
conhecida de filósofos do século XIX, como Schopenhauer, por exempl
Freud deu um passo a mais nessa teoria, sugerindo que a própria
civilização só se tornou possível pela repressão do instinto sexual a
um nível inconsciente, uma visão que sabota a busca filosófica de
racionalidade objetiva.

OS SERES HUMANOS
CONTINUAM NÃO
CONHECENDO AS ORIGENS
PRIMITIVAS DE SEUS
PENSAMENTOS, CRENÇAS E
DESEJOS.

Jean-Paul Sartre foi um dos


filósofos e psicólogos que s e
opuseram à teoria freudiana
do inconsciente, por ela
não poder ser c h e c a d a
empiricamente.
143
Filosofia da linguagem ordinária
Para Wittengestein, a função terapêutica do filósofo contemporâneo
seria como "ensinar a uma m o s c a como voar [através da janela aberta,
em vez de ficar s e debatendo contra o vidro]", ou mostrar como a
maioria dos quebra-cabeças é simplesmente o resultado de uma
confusão linguística.

J . L. A u s t i n (1911-1960), que era professor e conferencista de


"linguagem filosófica" ordinária, mostrou isso mais de uma vez. A questão
dele era examinar em detalhe de que forma ideias como "percepção" ou
"conhecimento" são utilizadas na linguagem comum. Austin introduziu
o conceito de "como fazer coisas com palavras", ou "quando d i z e r é
fazer". Resumindo, isso quer dizer que nós não devemos só dizer alguma
coisa, mas fazer alguma coisa. S e eu digo a alguém "Parece que vai
chover", ao mesmo tempo executo uma série de atos.

144
O espírito dentro da máquina
Gilbert R y l e (1900-1976), outro
influente professor de Oxford,
também chegou a uma concepção
semelhante de "conceitos comuns"
pelo viés do empirismo britânico e
no interesse pela fenomenologia de
Brentano e Husserl. E m seu livro
O conceito de mente (1949), ele
afirmou que muitas vezes os filósofos
cometem o que chamou de "erros
de categoria". Para ele, o melhor
exemplo é o postulado de Descartes,
de uma mente separada do corpo
tendo pensamentos autónomos,
como s e fosse um "espírito
dentro da máquina".

ESSE DISCURSO
SOBRE "EXPERIÊNCIAS
PARTICULARES INTERNAS"
DEVERIA SEMPRE SER
CONSIDERADO COMO
DISPOSIÇÕES PARA AGIR DE
UMA DETERMINADA FORMA.

Ryle elaborou uma teoria filosófica chamada de behaviorismo


(comportamento, maneira de agir, em inglês), de que os termos mentais
deveriam ser sempre traduzidos em sensações físicas. E s s a concepção
behaviorista da linguagem e do significado poderia ser convincente s e
todo mundo que falasse de sensações e pensamentos sempre s e referisse
às sensações e pensamentos das outras pessoas. Mas e s s a teoria não
é convincente como explicação sobre a maneira pela qual nós usamos a
linguagem para referir nossos próprios pensamentos e convicções.

145
A filosofia da ciência
A divisão entre a s chamadas filosofias
"continental" e "analítica" - que, como
vimos, está longe de ter sido definida -
é, de qualquer modo, menos importante
que a constatação de que a ciência
passou a ter um papel fundamental no
século XX. Foram os cientistas, e não
os filósofos, que mudaram o modo
como vivemos, nossa visão de mundo
e a própria concepção que temos de
nós mesmos.

MAS O QUE O
CONHECIMENTO
CIENTÍFICO TEM PE
TÃO ESPECIAL?

E EM QUE ELE é
DIFERENTE DOS
OUTROS TIPOS DE
CONHECIMENTO?

E fácil s e deixar ofuscar pelo


brilho de todo esse sucesso
e passar a rezar pela cartilha
do "cientificismo" - o culto da
ciência e a crença um tanto
ingénua de que ela pode resolver
todos os problemas humanos.

146
Existem dois tipos de cientistas. Alguns usam um avental branco e
trabalham com equipamentos caros e superespecializados, e outros
se limitam a escrever coisas complicadas e impenetráveis nas lousas
das salas de aula. Mas os dois tipos são comumente chamados de
"cientistas" porque usam algum tipo de "método" científico que produz
um único tipo de conhecimento. E m geral, o conhecimento científico
deve ser "universal", "quantificável", "empírico" e dotado de "poder de
antecipação", de previsão. Um sapo cientista deveria, supostamente,
poder nos dizer tudo a respeito de t o d o s os sapos.

147
O método indutivo
Afinal, de onde os cientistas tiram suas
teorias? Evidentemente, a indução é
um "método" científico. Um cientista
observa e mede uma porção de sapos
andando e nadando, em diferentes
condições, e finalmente produz uma
"teoria sobre os anfíbios". Mas há mais
de cem anos o filósofo Hume já tinha
explicado que a indução só nos dá
probabilidades, não certezas.

O CIENTISTA Só é CAPAZ
PE DIZER QUE MUITO
PROVAVELMENTE TODOS OS
SAPOS SEJAM ANFÍBIOS.

Mas observar é provar? Aquilo


que nós "vemos" é muitas
vezes influenciado por nosso
condicionamento cultural e
educacional. É difícil fugir de
todos os nossos pressupostos
(preconceitos e prejuízos)
sobre o mundo, e também
completamente impossível
descrever o que estamos vendo
por meio de uma linguagem que
seja "objetiva".
148
Ver não é somente um processo pelo qual recebemos dados
passivamente, por meio de nossos sentidos, e sim um processo mais
complexo de recebimento e categorização das informações.

Nosso cientista tem, segura e inevitavelmente, certo número de


pressuposições sobre o que vem a ser um sapo, sobre como eles nadam
e o que isso implica, sobre quantos sapos ele precisa observar, contar e
medir, e assim por diante. E ele sabe que antes disso tudo não poderá
elaborar uma nova teoria sobre sapos. Nenhuma ciência baseada na
indução jamais será segura, e sempre terá um problema com a base
humana e questionável da observação "empírica".
149
Teoria da falsificação
K a r l P o p p e r (1902-1994) afirmou que a "Teoria d a falsificação"
seria um método mais acertado para pensar sobre o procedimento
científico. Segundo ele, a s teorias científicas sempre são provisórias
e devem ser entendidas como tal. Os verdadeiros cientistas sempre
apontarão maneiras pelas quais suas teorias podem ser "falsificadas",
ou seja, contraditas por alguma nova observação.

Adeptos das pseudociências,


como a astrologia e a
psicanálise freudiana, sempre
se recusarão a aceitar
qualquer evidência que possa
contradizer suas convicções e
crenças mais profundas.

150
Mas, como método científico, o falibilismo, ou falsificacionismo (veja
também p. 108), tem seus próprios problemas. S e nossas observações
do mundo têm inevitavelmente uma "bagagem teórica" que a s
acompanha, então por que uma observação qualquer deveria invalidar,
de imediato, uma teoria científica complexa? Como podemos ter certeza
de que podemos confiar nela? A s teorias científicas são complexas e
interdependentes, por isso não é tão fácil assim falsificá-las com uma
simples observação. A história também mostra que, com frequência,
os cientistas são super-relutantes a deixar para trás, a desistir de
suas queridas teorias, por c a u s a de alguma observação contrária. E m
determinadas ocasiões, eles chegaram a s e obstinar teimosamente -
mas nem sempre.

Max P l a n c k (1858-1947) é um caso interessante. A física quântica


começou com a descoberta matemática de Planck, que vinha desmentir
a sacrossanta segunda lei d a termodinâmica.

BU MESMO BATALHEI
ANOS TENTANDO
REFUTAR MEUS PRÓPRIOS
CONHECIMENTOS SOBRE
RADIAÇÃO...
Thomas Kuhn: a mudança de paradigma
Para Popper, a ciência é fator de indexação errática mas sistemática,
alimentada pela razão e fazendo progressos graduais que vão
promovendo a acumulação de "verdade" científica. T h o m a s K u h n
(1922-1996) desafiou e s s a visão ingénua de ciência. Ele olhou
detidamente para a história d a ciência e perguntou o seguinte: como é
que c a d a comunidade científica trabalha atualmente seu ramo de ciência,
como é e s s a prática?

9)

FICA EVIDENTE QUE UMA TEORIA


PARTICULAR, OU PARADIGMA,
é SEMPRE TOMADA COMO
BASE DE MÉTODO CORRETO DE
OBSERVAÇÃO DO MUNDO.

Mas os paradigmas sempre mudam de direção ao longo da história.


O modelo cosmológico já foi aristotélico, ptolomaico, copernicano e
newtoniano, e hoje é einsteiniano.
152
Afinal, por que os paradigmas mudam? Porque um paradigma vai
acumulando elementos não resolvidos, como um quebra-cabeça no qual
algumas peças não s e encaixam, e isso por c a u s a dos desafios lançados
pelos próprios cientistas. A s afirmações de Galileu ou de Einstein,
por exemplo, mergulharam a época em que c a d a um viveu em uma
tremenda crise.
.

O sistema de convicções dos cientistas sobre esferas celestes, ou


raios de luz, entrou em colapso, por ser incapaz de acomodar novas
ideias. Kuhn insistia que a ciência "progride" por meio de mudanças
revolucionárias inesperadas, e não por meio de algum processo
metódico de evolução. Para os cientistas, isso não é assim tão diferente
da fé religiosa. A nova ciência é aceita não por c a u s a de s u a força
de convencer sobre a s novas evidências, mas sim porque os velhos
cientistas vão morrendo e outros mais jovens ocupam o lugar deles.
153
Anarquismo epistemológico
Para os cientistas, Kuhn estava ameaçando a racionalidade e o progresso
da ciência, o que não era o caso. Mas talvez a crítica mais radical da
ciência tenha vindo do austríaco P a u l F r e y e r a b e n d (1924-1994). O
balanço feito por ele, em seu livro Contra o método (1974), ressaltou a
existência de uma verdadeira lista de teorias científicas contraditórias - o
que ficou conhecido como "anarquismo epistemológico".

SE A CIÊNCIR FEZ "PROGRESSOS",


FOI SOMENTE GRRÇRS R
CIENTISTRS NÃO CONFORMISTRS,
QUE RGIRRM CONTRARIANDO OS
MÉTODOS ESTABELECIDOS.

É tolo esperar que a "ciência"


- que é criativa quando é
inerentemente anarquista e
pluralista - possa ser governada
por um conjunto fixo e verificável
de regras metodológicas. Além
disso, não existe nada de
fundamentalmente "superior" no
conhecimento científico.
154
Do moderno ao pós-moderno
A filosofia Moderna começou com Descartes e s u a tentativa de
estabelecer um método seguro para chegar racionalmente à verdade,
uma f u n d a ç ã o e m p í r i c a , s e m importar o quanto de "realidade"
precisasse eventualmente ser sacrificado nesse processo. Para ele, e s s a
fundação era o cogito - "Penso, logo existo".

Dúvidas relativas à existência do eu, à verdade objetiva e ao


significado da linguagem foram aumentando desde a época de
Descartes, em uma evidente "crise" do conhecimento, agora
chamada de condição pós-moderna.
155
Os três grandes " s e "
do pós-modernismo
Talvez possamos encarar a filosofia pós-moderna como assombrada pelos
três grandes " s e " :

s e os pensamentos humanos já não podem ser garantidos como


"nossos"...

se a linguagem com a qual pensamos não pode referir de modo


expressivo o mundo externo sobre o qual ela fala...

se os significados dos símbolos linguísticos autónomos mudam o tempo


todo...

então isso tudo é uma péssima notícia para a filosofia, para a lógica e
até para a ciência.

A chave do ceticismo pós-moderno é o problema da linguagem, ou


melhor, a ilusão de seu significado.

156
N i e t z s c h e : a de silusã o d a v e r d a d e
As sementes do ceticismo pós-modernista sempre estiveram
presentes na filosofia ocidental, e isso já desde que Crátilo se
recusava a falar porque considerava que o significado de suas
palavras era instável. Um dos fundadores mais óbvios e recentes do
pós-modernismo (ou pensamento contemporâneo) é Nietzsche, que
afirmou que a linguagem só pode ser metafórica.

NA VERDADE NADA é
REALMENTE IGUAL

Para Nietzsche, o que é considerado "conhecimento" não passa da


concepção que os mais fortes impõem às demais pessoas. Devemos
nos proteger da perigosa ficção que postula um "tema" de conhecimento
indolor e atemporal, nos precaver contra as armadilhas de conceitos
contraditórios como "razão pura", ou como "conhecimento em si".
157
Linguagem e realidade
O ceticismo pós-moderno não é um mero capricho, mas uma inevitável
consequência histórica. Neste livro, repassamos toda uma série de
discussões complicadas a respeito da linguagem, do significado e do
conhecimento, neste nosso passeio pela história da filosofia. Eis três
nomes de filósofos contemporâneos extremamente diferentes entre si -
Heidegger, Wittgenstein e Jacques Derrida - que se questionavam sobre
a relação entre linguagem e realidade.

Na verdade, o que é que eles estão dizendo? Vejamos.


H e i d e g g e r : como seres humanos, jamais conseguiremos separar
linguagem e realidade.
W i t t g e n s t e i n : tudo [o que existe] não passa de "jogos de linguagem",
dos quais a filosofia ocidental é um exemplo.
D e r r i d a : nós usamos a linguagem para pensar e nos comunicar, mas não
temos nenhum modo objetivo de saber o que está realmente relacionado
com a realidade "exterior", com as coisas às quais a linguagem se refere.
Nossos pensamentos estão "presos na armadilha" [da linguagem].

158
Um sistema de sinais
F e r d i n a n d d e S a u s s u r e (1857-1913), um linguista suíço, foi o
fundador do estruturalismo e da semiótica. Ele deixou de lado a busca
de um "significado" da linguagem e, em vez disso, preferiu descrever
sua utilização. O "significado" linguístico não deriva da correspondência
com "as coisas do lado de fora", mas sim das relações entre os próprios
sinais e suas posições, dentro de um sistema de significações.

A RELAÇÃO PA LINGUAGEM
COM O MUNDO é
ARBITRARIA. ELA NÃO é
SINÓNIMO DE REALIDADE.

E Saussure disse mais: "Em uma linguagem só existem diferenças, sem


a existência de termos fixos."

159
Estruturalistas
Nos anos 1960, Saussure provocou a crítica estruturalista, sobretudo
na França, onde nasceu a abordagem de se pensar a filosofia como
uma forma de "discurso", entre outras. Todo discurso compartilha um
sistema de sinais no qual a [principal] característica da chave estrutural é
o código de opostos binários. Por exemplo, o significado do conceito de
"alma" deriva de seu oposto, "corpo"; ou "claro" de "escuro"; "natural"
de "cultural", e assim por diante. O antropólogo C l a u d e Lé vi-St ra uss
(1908-2009) defendia a tese de que um sistema binário de códigos opera
em todas as culturas, funcionando como uma lógica comum a elas.

160
Para os estruturalistas, o mundo é organizado em sistemas
interconectados, que se encaixam uns nos outros, ao lado de "profundas
estruturas" genéticas, que têm suas próprias "gramáticas" abertas à
análise. Essa concepção foi desenvolvida no final dos anos 1960 pelos
chamados "pós-estruturalistas", R o l a n d B a r t h e s (1915-1980), J u l i a
K r i s t e v a (1941-) e, principalmente, J a c q u e s D e r r i d a (1930-2004).

ISSO PORQUE
SUPONHA QUE TUDO O QUE SIGNIFICANTES
LEVEMOS AO ENCONTRARÍAMOS SEMPRE PODEM
EXTREMO A SERIA UM "JOGO DESESTABILIZAR
CONCEPÇÃO DE INFINITO DE SEUS OPOSTOS,
SAUSSURE, SOBRE SIGNIFICANTES", AS SIGNIFICAÇÕES
A NATUREZA SEM QUALQUER SEMPRE SÃO
"ARBITRÃRIA" DOS VERDADE PASSÍVEL FLUIDAS.
SIGNOS... DE SER VERIFICADA
POR TRÃS.

O trabalho de crítica de um filósofo é reconhecer essas "derrapagens"


do significado e "ler o texto apesar dele mesmo".

161
D e r r i d a e a de sc onst ruç ã o
A lição pós-estruturalista também se aplica aos textos filosóficos.
Eles podem ser lidos "apesar deles mesmos" ("contra eles mesmos")
- essa foi a estratégia de Derrida, chamada de d e s c o n s t r u t i v i s m o .
Não se trata de um "método", mas sim de uma espécie de terapia,
no sentido de Wittgenstein. O desconstrutivismo não persegue
um "significado verdadeiro", uma unidade: ele revela os muitos
significados em conflito inconsciente, um contra todos os outros, em
cada texto. O que está, aqui, sendo chamado de "inconsciente" são
as polaridades binárias subjacentes às hipóteses metafísicas (que as
escora, que dão sustentação a elas).

Ho m em - = GMDD^D3
Cl ar o - = @©©QDIP®
Razão - = @DuQ®§fi®
Pr e se n ça - - AQOQSOD©!!©

Termos privilegiados penetram nos sistemas, produzindo hierarquias


culturais.

162
Logocentrismo
O desconstrutivismo escavou,
desenterrou as contradições internas
e as escorregadelas do significado
no texto, nos fazendo perceber que
os "significados" correntes, comuns,
são simplesmente aqueles que foram
"estabilizados", estabelecidos pela
cultura dominante e pelas ideologias
políticas dominantes. Para Derrida, o
problema é um erro de identidade. Os
filósofos sempre consideraram que
as palavras comunicam significados
que estão explicitamente presentes
na mente humana.

O ERRO é ASSUMIR QUE


EXISTE ALGUMA COISA
"DO LADO DE FORA" DO
TEXTO, QUE DÃ A ELE UM
SENTIDO ÚNICO E FIXO.

O SIGNIFICADO
NUNCA é FIXO, é
SEMPRE DIFERIDO.

A filosofia se baseia em uma relação


de um-para-um entre palavras
e significados, como garantia
de verdade. Esse é o erro do
l o g o c e n t r i s m o , que, para Derrida,
pode fazer a "linguagem da razão"
ser totalitária - pois suprime e exclui
tudo o que é diferente, ou que não é
adequado, que não combina.
163
A a u t o -e x i s t e n t e
Derrida atacou o f u n d a c i o n a l i s m o : a doutrina que afirma a existência
de convicções básicas que se justificam a si mesmas. E o alicerce
fundamental, a convicção básica da filosofia Moderna é o c o g i t o de
Descartes. O psicanalista J a c q u e s L a c a n (1910-1981) contribuiu para
a discussão com a perturbadora ideia de que o "eu" é uma ficção - o
que veio sabotar, minar a busca de cartesianos e fenomenologistas de
uma certeza que tem como eixo o eu fundador, ou seja, uma procura de
verdade baseada no eu. A identidade privada e única não passa de uma
ilusão útil, que permite que tenhamos a sensação de segurança e dá
algum sentido a nossas experiências, que mudam o tempo todo.

Lacan afirmou que a parte mais profunda de nós, nosso inconsciente,


é estruturada como a linguagem. Só quando a criança adquire
a linguagem é que ela passa a fazer parte do mundo social e se
transforma em um "eu".
164
O fim da s gra nde s na rra t iva s
O pós-modernismo também fez a filosofia penetrar em áreas da história
política e social. Nesse contexto, J e a n-Fra nç ois L y o t a r d (1924-1998)
resolveu sacudir outro mito "fundacional" dos mais importantes: a
própria ideia de progresso, que desde a época do Iluminismo tinha
passado a ser um princípio aplicado de razão. O pensamento
contemporâneo do século XX havia herdado, de modo um tanto ingénuo
e desastroso, a fé nas "grandes narrativas" de emancipação, criação
abundante e verdade universal. Em seu livro A condição pós-moderna
(1979), Lyotard argumentou que essas "grandes narrativas" - em outras
palavras, essa história de uma sociedade racional e ordenada - tinham
simplesmente entrado em colapso.

Nós passamos pelo fascismo, assistimos ao fim do comunismo, e agora


vivemos uma época de economias mafiosas, de mercado financeiro
ganancioso e de catástrofes ambientais em escala mundial. Se esses
são os resultados da "razão objetiva", então deve haver alguma coisa de
errado com ela.

165
Fouc a ult : o jogo de pode r
M i c h e l F o u l c a u l t (1926-1984), outro pensador-chave do
pós-modernismo, foi ainda mais longe. Segundo ele, poder e
conhecimento são cúmplices um do outro. Sistemas de controle
social foram sendo desenvolvidos em conjunto com as ciências,
desde o Iluminismo no século XVIII. A própria filosofia foi
cúmplice nesse "jogo de poder" da dominação alheia por meio da
marginalização. Foucault pediu emprestado o conceito nietzschiano
de "genealogia" para fazer suas próprias análises sócio-históricas.

A institucionalização do conhecimento é o instrumento de poder que


considera e transforma em patologia o "maluco", o "criminoso" e o
"sexualmente diferente".

166
U m m u n d o d e h i p e r -r e a l i d a d e
Os pensadores pós-modernistas avaliam a
pluralidade de pontos de vista e desafiam
ininterruptamente todos os sistemas
de legislação. O mundo que eles nos
apresentam é, muitas vezes, um mundo
fragmentado, uma "hiper-realidade" que
mais parece um pesadelo - como teorizou
J e a n B a u d r i l l a r d (1929-2007).

NÓS VIVEMOS EM UM
MUNDO HIPER-REAL DE
SIMULACROS - DENTRE
SIGNOS QUE NÃO TÊM
NENHUMA RELAÇÃO, NEM
COM UMA "REALIDADE"
SUPERFICIAL E PROVISÓRIA.

O QUE TALVEZ POSSA


EXPLICAR POR QUE A
FILOSOFIA PÓS-MODERNA
SE ESFORÇA PARA PARECER
LÚDICA, IRÓNICA E PARÓDICA.

A própria filosofia se tornou uma


sátira - de onde a profusão de
pontos de vista, que chamam
deliberadamente a atenção para
o caráter escorregadio de seus
próprios signos flutuantes. Nem
sempre ela é uma leitura clara ou
divertida! Mas como os pós-
-modernistas podiam escapar
do paradoxo de sempre, que
confronta todos os céticos?
Como podem eles pretender que
a razão é uma "construção" que
não pode contar nem com uma
forma mínima de razão?
167
E q u a n t o à c iê nc ia ?
Nenhum ramo do conhecimento escapou desse relativismo
pós-modernista, corrosivo e radical. A ciência e a lógica também foram
acusadas de ser "construções" - meras interpretações da experiência.
Não existe nenhuma realidade universal e atemporal, assim como não
existe nenhum conhecimento seguro sobre ela.

Os cientistas pós-modernos são bem mais evasivos quando


perguntados sobre a "verdade" científica, porque eles são obrigados
a admitir que o conhecimento científico sempre é provisório. Muitos
chegam a confessar que já não acreditam em uma natureza regrada
por "leis" fixas, descobertas pela objetiva ciência humana. A teoria da
relatividade de Einstein, a mecânica quântica de Bohr, o princípio de
incerteza de Heisenberg - todos têm o papel de o b s e r v a d o r e s centrais
do conhecimento científico. E se Kuhn estiver certo, os cientistas
mais parecem crentes religiosos do que pesquisadores neutros, e a
ciência deles é mediada por "paradigmas" centrais que raramente são
questionados pela comunidade científica. Essa é a concepção relativista,
mas existe outra...
168
A c onc e pç ã o r e a l i s t a
Mas nem todos os cientistas e filósofos se deixaram convencer pelo
ceticismo pós-modernista. Muitos deles refutam por completo a
noção de que o conhecimento científico produzido pelas ciências
físicas "puras" não passa de "um discurso dentre outros", ou de uma
"construção social" relativa a uma "visão de mundo" ocidental.

R BOR CIÊNCIA a UM ELA a PRODUZIDA POR CIENTISTAS


ESTUDO RIGOROSO E QUE TOMAM PRECAUÇÕES
DISCIPLINADO SOBRE RIGOROSAS CONTRA A
COMO A NATUREZA AUTODECEPÇÃO OU CONTRA
FUNCIONA. ISSO a REAL. PREJUÍZOS, PRECONCEITOS. E
ISSO a REAL.

É verdade que os métodos experimentais


é que forneceram material nos domínios
da cosmologia, da genética e muitos
outros. Quilómetros, segundos e o
ato de fazer medições podem até ser
"construções sociais", mas a velocidade
da luz continua sendo de 299.792.458 k m /
segundo, e isso não depende de quem
sabe disso, e também não vai mudar ou
desaparecer!

O l h e p a r a e s t e e spa ç o!

169
A filosofia oc ide nt a l n u m pisc a r d e olhos
EPISTEMOLOGIA - 0 QUE PODEMOS SABER E COM QUAL

PARMÊNIDES
i CONHECIMENTO EMPÍRICO
GRAU DE CERTEZA?

CONHECIMENTO "A
A IMPORTÂNCIA DA RAZÃO DO MUNDO "EXTERIOR" PRIORr DE CONCEITOS,
PENSAMENTOS, MENTES
ARISTÓTELES PLATÃO
LÓGICA DEDUTIVA SIMULACROS, NÃO CONFIÁVEIS PLATÃO
ABELARDO ARISTÓTELES MATEMÁTICA

NOMINALISMO E UNIVERSAIS OBSERVAÇÃO E INDUÇÃO AS FORMAS


INATISMO
HEGEL FRANCIS BACON
CERTEZA
A DIALÉTICA INDUÇÃO E CIÊNCIA
DESCARTES
FILOSOFIA ANALÍTICA DESCARTES
A CERTEZA DA CONSCIÊNCIA
OS POUCO CONFIÁVEIS
FREGE. RUSSELL PENSANTE
SENTIDOS
LÓGICA SIMBÓLICA E MATEMÁTICA E DEUS
EMPIRISMO BRITÂNICO
MATEMÁTICA
SIGNIFICADO E REFERÊNCIA LOCKE
ATOMISMO LÓGICO QUALIDADES PRIMÁRIAS E
SECUNDÁRIAS
POSITIVISMO LÓGICO
O SIGNIFICADO DERIVA DA BERKELEY
TESTABILIDADE INEXISTÊNCIA DO MUNDO
"EXTERIOR" (IDEALISMO)
WITTGENSTEIN
HUME
O FEITIÇO DA LINGUAGEM
NOSSO "CONHECIMENTO" MAIS
JOGOS DE PALAVRAS
PSICOLÓGICO DO QUE LÓGICO
AUSTIN
KANT
LINGUAGEM COMUM
IDEALISMO TRANSCENDENTAL: NOSSA
ATOS DE LINGUAGEM
EXPERIÊNCIA DO MUNDO É CONSTITUÍDA POR
C. S. PIERCE NOSSO APARATO CONCEITUAL INTEGRADO
SEMIÓTICA
HEGEL
ESTRUTURALISTAS O CONHECIMENTO HUMANO SEMPRE SERÁ
LÉVI-STRAUSS DINÂMICO, HISTÓRICO

PÓS-ESTRUTURALISTAS
PRAGMATISMO NORTE-
BARTHES
AMERICANO
DESCONSTRUTIVISMO
PEIRCE. JAMES. DEWEY
DERRIDA
O CONHECIMENTO PRECISA PHENOMENOLOGY
PERDA DA CONFIANÇA NA
TER "VALOR DE MERCADO" [OU
POSSIBILIDADE DE UMA
"VALOR DE COMPRA"] BRENTANO. HUSSERL
LINGUAGEM OBJETIVAOU PESQUISA SOBRE A
PERFEITAMENTE LÓGICA FILOSOFIA DA CIÊNCIA
CONSCIÊNCIA

RELATIVISMO POPPER HEIDEGGER. SARTRE


FALSIFICACIONISMO NÃO EXISTE NADA MAIS, PARA
O SER HUMANO, DO QUE
JE SER
CONSCIENTE

FEYERABEND
CETICISMO...
CONTRA O MÉTODO

... MAS ELE SEMPRE ESTEVE POR PERTO. DESDE OS GREGOS


METAFÍSICA, ESPAÇO E POLITICA, NATUREZA
TEMPO, CAUSALIDADE, HUMANA, AUTORIDADE E
SOFISTAS DIREITOS
APARÊNCIA E REALIDADE,
RELATIVISMO
DEUS PLATÃO
A TEORIA DOS CONTRATOS
GOVERNO DOS MELHORES, OU
FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
DO QUE É FEITO O UNIVERSO? SÓCRATES DITADURA ESCLARECIDA

ÁGUA? AR? FOGO? VIRTUDE É CONHECIMENTO ARISTÓTELES


MATEMÁTICA? ÁTOMOS? PLATÃO DEMOCRACIA E ESCRAVIDÃO

PLATÃO - AS FORMAS OS ESPECIALISTAS DO "BEM" E MAQUIAVEL


DA ÉTICA
ARISTÓTELES- CAUSA FINAL DIRIGENTES IMPIEDOSOS
ARISTÓTELES
PAIS DA IGREJA E ESCOLÁSTICA
EPICURISTAS E ESTÓICOS HOBBES
A EXISTÊNCIA DE DEUS PODE A ÉTICA DE UMA COMPETÊNCIA CONTRATO SOCIAL
SER PROVADA? PRÁTICA ROUSSEAU
VONTADE GERAL
TEOLOGIA CRISTÃ
DESCARTES
DUALISMO - MENTE/MATÉRIA
COMANDO DIVINO HEGEL
HUME O ESTADO PRUSSIANO
SPINOZA
"ABISMO" SER/NÃO SER: NÃO
MONISMO - UMA SUBSTÂNCIA
MARX
PODEM EXISTIR "FATOS" MORAIS
LUTA DIALÉTICA, OU LUTA DE
LEIBNIZ KANT CLASSES
MONADOLOGIA - SUBSTÂNCIAS DEONTOLOGIA: OS DEVERES GRAMSCI. MARCUSE. FOUCAULT
MONÁSTICAS DERIVAM DA RAZÃO PODER ESTATAL IDEOLÓGICO
BERKELEY- IDEALISMO
UTILITARISTAS
KANT
FELICIDADE COLETIVA
MUNDO NOUMENAL E MUNDO
FENOMENAL (OU MUNDO SARTRE
NOUMÊNICO E FENOMÊNICO) ESCOLHAS INDIVIDUAIS E
RESPONSABILIDADE
HEGEL
IDEALISMO DIALÉTICO

REJEITADO POR
FEUERBACH
MATERIALISMO RADICAL

MARX
MATERIALISMO DIALÉTICO

POSITIVISMO LÓGICO
A METAFÍSICA É UM "DISPARATE"

WITTGENSTEIN
"SOBRE [TUDO] AQUILO DE QUE
NÃO PODEMOS FALAR, DEVEMOS
NOS MANTER EM SILÊNCIO."
Su g e st õ e s d e l ei t u r as co m p l e m e n t a r e s
Neste livro, fizemos uma flagrante omissão de filósofas, de pensadoras mulheres.
Até muito recentemente, as mulheres eram deliberadamente excluídas do
privilegiado domínio de professores de filosofia - todo composto de integrantes
do sexo masculino. Mas, atualmente, existem tantas e tão boas pensadoras
que fica difícil encontrar um lugar para elas em livrinho tão pequeno. Os ícones
do vindouro pós-feminismo seguramente remediarão esse problema, mas os
leitores de agora podem (e devem) consultar algumas figuras-chave: Simone
de Beauvoir, Hanna Arendt, Julia Kristeva, e também outros nomes importantes
como Mary Wollstonecraft, Mary Warnock, Mary Migley, Iris Murdoch, Phillipa
Foot, Elizabeth Anscombe, dentre outras.

Segue-se uma lista de obras que devem ajudar na compreensão dos temas
discutidos, começando com alguns livros de introdução à história da filosofia
ocidental.

História da filosofia ocidental, Bertrand Russell - Divertido e de fácil


compreensão, mas idiossincrático e hoje um tanto ultrapassado.
A short history of philosophy, Robert C. Solomon & Kathleen M. Higgins,
Oxford University Press, Oxford e Nova York, 1996. Completo e agradável
de ler, ele inclui pensadores não ocidentais, mas é hostil à maioria dos
pós-modernistas.
From Descartes to Wittgenstein, Roger Scruton, Routledge, Londres e Nova
York, 1981. Em mais de uma passagem bastante difícil, mas miraculosamente
consegue tornar a compreensão de Hegel e Frege acessível.
A history of we ste rn philosophy, D. W. Hamlyn, Penguin, Londres e Nova
York, 1988. Completo e sensível, mas algumas vezes requer muito do leitor. É
um guia de ideias e argumentos dos principais pensadores ocidentais.
O mundo de Sofia, Jostein Gaarder, é uma história da filosofia que pensa que
é uma novela. Melhor como história do que como novela.

Em geral, os livros da Modern Masters, da Oxford University Press, são muito


bons para conhecer a vida e as ideias principais dos filósofos. O de autoria de
Peter Singer, sobre Hegel, é excelente. São leituras de manuais de introdução ao
pensamento dos filósofos clássicos e contemporâneos, apresentados de modo
claro, resumido e acessível. Este livro faz parte dessa série.

Existem anda muitos outros manuais de filosofia que podem ser úteis, como por
exemplo estes:
Philosophy made simple, R. H. Popkin & A. Stroll, Londres, Heinemann, 1986
| Made simple paperbacks, Nova York, 1993.
Introducing to philosophy, W. J. Earle, McGraw HiH, Nova York, 1992.
Philosophy of Sophia, Brenda Almond, Penguin, Londres e Nova York, 1992.
Man is the measure, Reuben Abel, The Free Press (Macmillan), Londres e
Nova York, 1990.
Confessions of a philosopher: a journey through we ste rn philosophy,
Bryan Magee, Random House, Londres e Nova York, 1998.

172
A maioria dos alunos de filosofia já recorreu, em alguma ocasião, a An
introduction to philosophical analysis, John Hospers, Routledge, Londres e
Nova York, 1990, um livro que é mais divertido do que o título sugere.
An introduction to we ste rn philosophy, Anthony Flew, Thames and
Hudson, Londres 1971. Esse é um excelente livro, pois Flew leva o leitor a pensar
por si mesmo e, dessa forma, a entender inúmeras ideias fundamentais. À venda
pela internet, no site da Amazon.
The great philosophers, Brian Magee, Oxford University Press, Oxford e Nova
York, 1988, é um livro acessível porque foi escrito na forma de uma série de
diálogos entre Magee e alguns filósofos contemporâneos sobre os pensadores
mais importantes do passado. Magee faz seus entrevistados explicarem as
coisas com clareza, na maior parte das vezes.
Issues in philosophy, Calvin Pinchin, Macmillan, Londres | Barnes & Noble,
Nova York, 1990, é um bom livro para quem for louco o bastante para achar que
precisa estudar o suficiente para tirar um A em filosofia.
The concise encyclopedia of we ste rn philosophy and philosophers,
ed. J. O. Urmson & Jonathan Rée, Unwin Hyman, Londres, 1976, é recheado
de artigos curtos e lúcidos sobre a maior parte dos filósofos ocidentais e suas
ideias.
The Oxford companion to philosophy, ed. Ted Honderich, Oxford University
Press, Londres e Nova York, 1995, é completo e inestimável, quando você quer
saber mais sobre o paradoxo de Aquiles e a tartaruga e sobre o homem que
inventou o paradoxo, Zenão. Ele também mostra como são alguns pensadores
contemporâneos.

Ag r a d e ci m e n t o s
O autor deve muito ao seu incisivo e aprumado editor, Richard Appignanesi, a
pessoa mais ocupada do mundo, e a Duncan Heath, o paciente e impecável
redator deste livro. O autor descobriu ainda que sem a inteligência, a
competência e a argúcia de Judy Groves este livro provavelmente teria
sido muito cansativo. Esse mesmo autor também agrade pela paciência e
compreensão de Judith Robinson, que está convencida de que ele deveria sair
mais vezes do estúdio.

Mais agradecimentos, desta vez a Howard Peters, Howard Selina, David King e
Bill Mayblin, por sua ajuda com a pesquisa iconográfica e intervenções técnicas.
Um obrigado especial a Oscar Zarate, por sua generosa ajuda, e a Arabella
Anderson, que concordou em ser fotografada.

Dave Robinson foi professor de filosofia por muitos anos. Recentemente


escreveu e ilustrou Leading questions, um livro sobre a teoria literária
contemporânea. Ele também é o autor de Introducing ethics e de Descartes.

Judy Groves é artista, ilustradora e designer. Ela também ilustrou outros livros
de introdução desta série: Jesus, Wittgensteisn, Lacan, Chomsky e Lévi-Strauss.

173
ín d i ce
Abelard, Pierre (Abelardo) Chomsky, Noam 104 desobediência civil, A (Tho
45 Cícero 38 reau) 104
Agostinho 42 ciência e filosofia 48,53, determinismo 93
Alexandre, o Grande 27,36 146-154,168-169 Deus 43,57,60, 84,122
alienação 90 Cínicos 39 Deus e o diabo 85
alma 32,160 Círculo de Viena 137 Dewey, John 111-112
análise lógica 134 Cogito ergo sum 58, diabo 43,85
anamnese 22 155,165 diálogos socráticos 19
Anaxágoras 15 comunismo 95 Diderot, Denis 63
Anaximandro 8 conceito de mente, O (Ryle) Diógenes 39
Anaxímenes 8 145 Discurso do método (Des-
Anselmo 44 condição pós-moderna, A cartes) 55
argumento cosmológico 46 (Lyotard) 165
argumento dedutivo 12 Confissões (Agostinho) 42 egoísmo psicológico 51
argumento ontológico 44 conhecimento 80,113, Ehrenfelds, Christian von
argumento teleológico 31, 131,157 118
43 consciência 116-118 Elogio da loucura (Erasmo)
Aristóteles 27-32,35,50 Constantino 43 49
atomismo15,133,139, Contra o método (Feyera- Emerson, Ralph Waldo
140 bend)154 105-106
atomismo lógico 134 contrato social, teoria do Empédocles 14
Aurélio, Marco 38 52 Empírico, Sexto 39
Austin, J . L 144 convicção-conclusão 70 empirismo 64,68,107
autenticidade 121,124 Crátilo 10,157 Epicuro 37
Ayer, A. J. 136 criador 31 epochè ver
cristianismo 41-43 suspensão 119
Bacon, Francis 53 e Kirkegaard 88-89 Erasmo 49
Barthes, Roland 97,161 Crítica da razão pura (Kant) Escola de Frankfurt 96
Baudrillard, Jean 167 74 escolástica 44,47,62
behaviorismo 145 espírito 61
Bentham, Jeremy 98-101 Das Nichts ver estóicos 38
Berkeley, George 66-67 Dasein "120 estruturalismo 109,160-
Brentano, Franz 117 democracia 112 162
budismo 83 Demócrito 15 eterno retorno 87
Dennett, Daniel 114 Ética (Spinoza) 59
cálculo da felicidade 99 Derrida, Jacques 158,161, eu, existência do 70,123
Carnus, Albert 125 162-164 existencialismo 88-89,
capitalismo 94-96 Descartes, René 54-58,65 122-124
Carnap, Rudolf 135 116,145,155
causa 31 desconstrutivismo 162- falibilismo 108,111
causalidade 69 163 falsa consciência 93
ceticismo 49,70 desejo 83 fato-premissas 70
174
felicidade 99-100 Igreja Católica 41,49 Má-fé 123
fenomenologia 75,117- imperativo categórico 76 mais-valia 94
118,120 inatismo, 22 Maquiavel, Nicolau 50
Fenomenologia do espírito inautencidade 121,124 Marcuse, Herbert 96
(Hegel) 81 inconsciente 143 Marx, Karl 91-94,96
Feuerbach, Ludwig 90 indução 30,68 marxismo 124
Feyerabend, Paul 154 instrumentalismo ver matemática 9,118,126-30
filosofia continental 116 pragmatismo 107-113 materialismo 90-92
filosofia do século XX108- intuição 105 dialético 91
110,116,126,134, Investigações filosóficas Meditações (Descartes) 55
140,146,165 (Wittgenstein) 140 mente 60,123
filosofia norte-americana mentira 76
102-115 James, William 107,110 milésios 8
filosofia racionalista (ou Jefferson, Thomas 102 Mill, John Stuart 98,101,
racionalismo) 57,62, 127
63, 68, 73,107,129 Kant, Immanuel 73-6,82, mito de Sísifo, O (Carnus)
formas, ideal 23-25 105,116,127 125
Foucault, Michel 166 Kierkegaard, Soren 88-89, mônada 61-62
Franklin, Benjamin 102 122 monismo 60
Frege, Gottlob 128-131 Kripke, Saul 114 moralidade 33,70,76
Freud, Sigmund 143 Kristeva, Julia 161 mundo fenomenal (ou fe-
funcionalismo 110 Kuhn, Thomas 152-154 nomênico) 75,82
fundacionalismo 164 mundo noumenal (ou nou-
Lacan, Jacques 164 mênico) 75,79
Gõdel, Kurt 130 Leibniz, Gottfried Wilhelm
Gramsci, Antonio 97 61-63 nada, o 121
gregos antigos 7 Leviatã (Hobbes) 51 Nagel, Thomas 114
guardiães 23,24 Lévi-Strauss, Claude 160 naturalização 97
liberdade 123 Neurath, Otto 135
Hegel, Georg W. F. 77-82 pessoal 80 Newton, Isaac 61-63
alienação 90 liberdade, A {m\\)m Nietzsche, Friedrich 84-87,
filosofia continental 116 linguagem 131,133,141- 116,157
Heidegger, Martin 120-122, 142,157-163 nominalismo 45,47
158 Linguagem, verdade e Nussbaum, Martha 38
Heráclito 10-11,87 lógica (Ayer) 136
Heródoto 17 linguística, filosofia 131 O ser e o nada (Sartre) 122
helenístico, período 36 Locke, John, 64-66,71 O ser e o tempo (Heideg-
Hobbes, Thomas, 51 lógica ger) 120
Hume, David 68-70,73 dedutiva 28,70 Ockham, William of 47,67
Husserl, Edmund 118 dialética 77-78 ontologia fundamental 120
e matemática 126,128- oposições binárias 160
idealismo 66-67,74,79, 129
90 logocentrismo 163 palavras, fazer coisas com
ideologia 93 Lyotard, Jean-François 166 144

175
panteísmo 60 Nietzsche 86 Spinoza, Baruch 59-60
paradigma 152-153 Reforma [luterana] 48 subjetivismo 70
paradoxo do movimento 13 relativismo 39 suspensão 119
Parmênides 12 religião 5,75 ver também
Peirce, C. S. 107-109 cristianismo, Deus, teolo- Tales 8
pensamento descritivo 140 gia natural tempo 87
pensamento, natureza do Renascença (ou Renasci- teocracias 6
79 mento) 48 teologia natural 46
percepção 66-67 República, A (Platão) 21 teoria da falsificação 150
pergunta fundamental 8,9, resistência passiva 104 teoria sobre a justiça, Uma
11,14,17,32 resolução de problemas (Rawls) 114
Pirro 39 111 Thoreau, Henry David 103-
Pitágoras 9,126 Ricardo, David 94 106
Planck, Max 151 Rorty, Richard 113,115 Tomás de Aquino 46,
Platão 21-26, 35,105,126 Rousseau,Jean-Jacques 69
Plotino 41 71 Tractatus Logico-Philoso-
pluralismo 101 Russell, Bertrand 130, phicus [Tratado lógico-
política 50-52 132-134 -filosófico] (Wittgens-
Popper, Karl 108,150 Ryle, Gilbert 145 tein) 138-9
pós-estruturalismo 97, transcendentalismo 105
161-162 Sartre, Jean-Paul 122-124,
positivismo lógico 108, 143 Úbermensch [Supra-
135-137 Saussure, Ferdinand de -Homem] 85
pós-modernismo 86,109, 159,161 utilitarismo 98-101
155-158 Schlick, Moritz 135
pragmatismo 107-113 Schopenhauer, Arthur 82- variedades da experiência
príncipe, O (Maquiavel) 50 83 religiosa, As (James)
Principia Mathematica Searle, John 115 110
(Russell, Whitehead) semiótica 109 verdade
132 significado 131 ver realidade, questão da
princípio de verificação (ou signos ver 8,9,14,80
testabilidade) 135 semiótica 109 Voltaire 63,71
princípios da psicologia, Os silogismo 29 vontade 82-83
(James) 110 silogismo lógico vontade própria (ou livre
Protágoras 17 ver lógica dedutiva 28, vontade) 76,110
psicologia 110 70 de poder 85,86 ver
símbolos também
Quine, W.V. 113 ver semiótica 109 vontade 82-83
Smith, Adam 95
Rawls, John 114 sociologia 112 Walden (Thoreau) 103
razão 86 Sócrates 16,18-20,34-35 Whitehead,A.N.35,132
realidade, questão da 8,9, sofisma 18
14,80 sofistas 17-18
Aristóteles 32 solipsismo 119

176
DAVB ROBINSON f
JUDY GROVES

FI LOSOFI A
UM GUIA GRÁFICO DA HISTÓRIA DO
PENSAMENTO

Entendendo é uma premiada coleção de livros ilustrados sobre os pensadores e


os temas mais importantes da história. Aborda teorias fundamentais de diversos
campos de estudo, como filosofia, psicologia, ciências, política, religião, estudos
culturais e linguística. Cada livro é escrito por um reconhecido especialista do
assunto e ilustrado por um artista gráfico. De forma agradável, a coleção oferece
informações úteis e objetivas para leitores que tanto buscam um primeiro contato,
como desejam adquirir um conhecimento conciso sobre o assunto.

TRADUÇÃO: MARLY N. PERES

LeYa

1 reimpressão
Text copyright © by Dave Robinson
lllustrations copyright © by Judy Groves
Todos os direitos reservados.
Tradução para a língua portuguesa:
copyright © 2012, Texto Editores Ltda.

Título original: Introducing Philosophy

Diretor editorial: Pascoal Soto


Editor: Pedro Almeida
Editor assistente: André Fonseca
Preparação: Joaci Pereira Furtado
Revisão: Rinaldo Milesi
Capa e diagramação: Osmane Garcia Filho

D a d o s Internacionais d e Catal ogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira d o Livro, SP, Brasil)

Robi nson, Dave


Entendendo filosofia : um guia gráfico d a história d o p e n -
s a m e n t o / Dave Robinson, Judy Groves; tradução Marly N. Peres.
- São P a u l o : Leya, 2 0 1 2 .

Título original: Introducing philosophy.


ISBN 9 7 8 - 8 5 - 8 1 7 8 - 0 1 8 - 4

I . Filosofia 2. Filosofia - Introdução I. Groves, Judy.


II. Título.

12-06497 CDD-101
índices para catál ogo si stemáti co:
1. F i l o s o f i a : Introdução 101
2. Introdução à filosofia 101

2012
Todos os direitos desta edição reservados à
texto editores ltda.
[Uma editora do Grupo Leya]
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01248-010 - São Paulo - sp - Brasil
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' * Piai o AVE ROBZNSON f oi pr of essor


de f i l osof i a dur ant e muit os

* Teoria C anos. É aut or dos livros Ét ica


e Descart es dest a col eção.
fltualmente, é prof essor de
* Foca est udos cr ít i cos e vive em
Devon, na I nglat er r a.

* Linguí
* ítá JUDYGROVES é pi nt or a,
ilust r ador a e designer g r áf i ca.
I lust r ou diversos t ít ulos da

* Econc coleção Ent endendo, como


Chomsky, Bert rand Russell,
Feminismo, ent r e out r os.
* Inteligência

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