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Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação das imagens contidas neste livro e
pelas opiniões nele expressas, as quais não são, necessariamente, as mesmas da UNESCO e
não comprometem a organização.
Ficha Catalográfica.
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I CONGRESSO ONLINE DE
RESISTÊNCIA LGBTI+
RESISTÊNCIA LGBTI+:
CADERNO DE TRABALHOS
COR.LGBTI
2020
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ORGANIZAÇÃO
Isabel Ceccon Iantas
Kenji Theodoro Karazawa Takashima
Kleire Anny Pires de Souza
Marina de Fátima da Silva
COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO
Hadassa Freire da Silva Gonçalves Santos
Isabel Ceccon Iantas
Kenji Theodoro Karazawa Takashima
Kleire Anny Pires de Souza
Marcos Rodrigues Ferreira
Marina de Fátima da Silva
Morena Pérez da Silva Mendes Ribeiro
Nahomi Helena de Santana
COORDENADOR CIENTÍFICO
Clarindo Epaminondas de Sá Neto
AVALIADORAS E AVALIADORES DOS RESUMOS
Adriana Aparecida Pinto
Anabella Pavão da Silva
Arthur Rogoski Gomes
Claudia Regina Nichnig
Denison Melo de Aguiar
Elder Luan Dos Santos Silva
Fernanda Schier de Fraga
Guilherme Moraes da Costa
Heloísa Helena Silva Pancotti
Isabel Cortes da Silva Ferreira
Janaina Sodré Bortolato
Leandro Franklin Gorsdorf
Péricles de Souza Macedo
Roberto Cezar Maia de Souza
Rodrigo Alessandro Sartoti
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 8
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DEFENDENDO O LAMPIÃO DA ESQUINA: 143
“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL” 144
CONSEQUÊNCIAS DA RACIALIDADE PARA A COMUNIDADE LGBTI+: 146
BRASIL: UM PAÍS DE TODOS? 148
A TRANSEXUALIDADE EM ÊXODO: 150
O DIREITO AO PRÓPRIO SER: 151
SAÚDE MENTAL DAS MULHERES LÉSBICAS 153
O “CUIDADO DE SI” FOUCAULTIANO NA SOCIABILIDADE TRANS EM CAMPO
GRANDE (MS) 155
NOTAS PARA CONCEPÇÕES TRANSVIADAS DE SAÚDE 157
SAÚDE DA MULHER LÉSBICA E BISSEXUAL 158
MULHERES DESVIANTES: 160
POLÍTICAS PÚBLICAS E A COMUNIDADE LGBT+ 162
A NECESSIDADE DE SE PENSAR LIMITES ÉTICOS E JURÍDICOS DA ATUAÇÃO
MÉDICA SOBRE CORPOS INTERSEXO NO BRASIL 164
REPRESENTATIVIDADE TRANS NA POLÍTICA: 165
O ACESSO A POPULAÇÃO TRANSGÊNERO E TRAVESTIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE: 167
A JUDICIALIZAÇÃO DOS DIREITOS DA COMUNIDADE LGBT: 170
GAYS E HSH: 172
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS TRANSEXUAIS: 174
SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBTI+ NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: 176
SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRANSGÊNEROS: 177
A SITUAÇÃO DA MULHER TRANSSEXUAL NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
BRASILEIRO 179
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE E DIREITO DA POPULAÇÃO LGBTQIA+: 180
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR HOMENS HOMOSSEXUAIS: 182
HÁ DIREITOS PARA QUEM NÃO IMPORTA? 184
A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO EM PSICOLOGIA PARA A PREVENÇÃO DO
SUICÍDIO ENTRE LGBTQIA+ 186
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A PROTEÇÃO
INTERNACIONAL DE PESSOAS LGBTQIA+: 187
A PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA FÍSICA NA COMUNIDADE LBGTQIA+ DE
ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE NO PARÁ 189
EXPERIÊNCIAS DE LESBOPARENTALIDADE E MILITÂNCIA FEMINISTA LÉSBICA NO
NORDESTE DO BRASIL 191
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA LGBTQIA+ 193
DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL NO BRASIL: 195
OS 30 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) COMO
MARCO DE REFLEXÃO À RESISTÊNCIA LGBTI+ NO DIREITO DAS FAMÍLIAS
BRASILEIRO 197
ALTERNATIVAS À ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 199
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO CASEIRA: 200
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO: 202
DESAFIO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL
204
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APRESENTAÇÃO
Na semana do dia 03 ao 08 de Agosto de 2020, ocorreu a primeira edição do
Congresso Online de Resistência LGBTI+. Essa obra é resultado das exposições, conversas e
debates que ocorreram ao longo do evento.
A ideia de realizar um congresso pautando a resistência LGBTI+ surgiu de um
contexto de retirada de direitos e de uma sensação geral de desmobilização do movimento.
Apesar do contexto triste de pandemia, que causou o distanciamento presencial entre nós,
bem como crises sociais, econômicas e políticas, foi possível reunir, de forma virtual, vozes
do Brasil inteiro para debater questões urgentes do nosso movimento. Como a comunidade
LGBTI+ vive em meio às adversidades mesmo em situações tidas como “normais”, e as
superamos diariamente, para nós, tirar o melhor de um obstáculo é a regra e não a exceção.
Por isso, agradecemos todos, todas e todes que contribuíram e ajudaram na construção de
um evento dessa proporção.
Fomos capazes de reunir, em um só ato, militantes e ativistas de todas as regiões do
país, que carregaram em suas falas as experiências de uma vida inteira de lutas, nos mais
variados contextos étnicos, sociais e culturais.
Essa troca de vivências, estudos e opiniões é, mais do que nunca, essencial para a
construção de um movimento LGBTI+ capaz de fazer frente aos retrocessos e às violências
que perpassam a nossa realidade.
Portanto, esse livro é um símbolo de uma iniciativa que não se encerra na semana
de palestras de Agosto de 2020, mas que inicia uma jornada coletiva em prol da articulação
do movimento LGBTI+ brasileiro. É o marco inicial de um movimento que pretende fazer
ecoar nossas vozes e ocupar os espaços que nos são de direito.
Deixamos, também, aberto o convite para quem quer continuar construindo lado a
lado essa militância ativa LGBTI+, seja por meio da formação política, da publicização de
nossas pautas ou da pesquisa acadêmica.
Os painéis do evento estão disponíveis no canal do Youtube para assistir, reassistir e
divulgar o conhecimento:
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Vídeos no Youtube:
03/08/2020 - Memória e Resistência
04/08/2020 - LGBTI+ e a Questão Étnico-racial
05/08/2020 - LGBTI+ e o Sistema Educacional
06/08/2020 - Família LBT
07/08/2020 - Políticas públicas e saúde
08/08/2020 - Qual movimento nós queremos?
Por fim, deixamos nossos agradecimentos especiais à Comissão Organizadora do
evento e aos intérpretes de libras, que ajudaram a dar mais acessibilidade ao evento, Thays
Ribeiro de Lima Santana, Elizama Kate da Silva Pereira e Felipe de Jesus Sampaio, bem
como àqueles e àquelas que ajudaram na construção e no apoio para a realização do I
Congresso Online de Resistência LGBTI+: Federação Nacional de Estudantes de Direito
(FENED); Grupo Dignidade; Liga Brasileira de Lésbicas; Rede LésBi Brasil; Coletivo Cássia;
Resistência Rosely Roth; Núcleo de Estudos em Direito e Diversidades da UFSC (NEDD);
Centro Acadêmico de Direito da UCSal; Movimento Popular da Juventude em Disparada;
Centro acadêmico de Direito João Messias (CADJOM); Centro Acadêmico Luiz Carpenter -
UERJ (CALC); Centro Acadêmico Hugo Simas - UFPR (CAHS); Direito a igualdade e
Valorização das sexualidades (DIVaS); Cátedra UNESCO - UFGD; Aliança Nacional LGBTI+;
Núcleo de Estudos de Diversidade de Gênero e Sexual (NEDGS).
(R)existiremos!
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A COMPREENSÃO DAS LESBIANIDADES A
PARTIR DO GOOGLE
Julianna Paz Japiassu Motter1
1. INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem como ponto de partida a mudança dos algoritmos de resposta
do buscador da Google para o termo “lésbica”, realizada em agosto de 2019, após a
campanha intitulada #SEOlesbienne na plataforma Twitter. A campanha foi iniciada por
Fanchon Mayaudon-Nehlig, uma ativista lésbica francesa, e ganhou forte adesão das usuárias
lésbicas no país. SEO é a sigla para Search Engine Optimization, um mecanismo para
otimização e/ou aperfeiçoamento dos resultados mais aparentes nas buscas. A ação conseguiu
que o buscador da Google, o maior buscador de conteúdo da internet, mudasse o algoritmo de
resultados de pesquisas para o termo lesbienne (lésbica, em francês), os termos relacionados e
sua tradução para outros idiomas.
A principal motivação da campanha era alertar e cobrar a plataforma sobre o viés
apresentado nos resultados, que fazia com que a busca pelo termo e correlatos resultasse
predominantemente em conteúdos pornográficos. O argumento do trabalho é de que isso se
deve ao fato de que plataformas digitais, como o buscador da Google e tantas outras
utilizadas, não são construções neutras, mas sim estruturas com normas e valores morais,
sociais e políticos previamente inseridos (VAN DJICK, POELL & WAAL, 2018). Mas
plataformas são, também, estruturas passíveis a mudanças e reparos, que suscitam diferentes
ações e respostas nos usuários, tal como a campanha citada anteriormente e que pressionou a
Google a fazer algum tipo de mudança.
O objetivo deste ensaio é, portanto, a partir do caso mencionado, refletir sobre as
problemáticas envoltas na mudança algorítmica e tentar trazer pistas teóricas que nos ajudem
não apenas a compreender o funcionamento dos buscadores, mas principalmente a
importância dos buscadores na (re)produção de regimes de (in)visibilidades desde o exemplo
das lesbianidades e de suas múltiplas interpretações algorítmicas.
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/UFBA).
Pesquisadora do grupo de pesquisa Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura (GIG@/UFBA). Salvador – Bahia.
E-mail: juliannamotter@gmail.com.
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2. GOOGLE, MAS O QUE SÃO AS LÉSBICAS?
Antes da resposta à campanha #SEOlesbienne, ao digitar o termo lésbica ou correlatos
no buscador da Google, o cenário expressado pela plataforma era completamente diferente e
tendencioso – enviesado. A começar pelas expressões sugeridas para completar a pesquisa,
um recurso da ferramenta onde um usuário digita o termo e a plataforma faz sugestões para
completar a palavra, frase ou expressão, de acordo com as associações mais frequentes. Para
o termo “lésbica” eram frequentemente sugeridas palavras e/ou expressões de teor sexual e
pornográfico.
Quando acionado o "Estou com Sorte" do Google, um outro recurso da plataforma,
que relaciona o termo, ou expressão, pesquisado fazendo sugestões a partir daqueles
conteúdos mais acessados ou relacionados ao tema, a página para o qual o usuário era
direcionado era do portal de conteúdo pornográfico XVídeos (MOTTER, 2018), um dos
maiores sites de pornografia do mundo, conhecido principalmente pela oferta de conteúdos
gratuitos.
Mas a questão fundamental, e que motivou o início da campanha, tinha a ver com a
principal função da plataforma: os resultados apresentados quando a pesquisa era de fato
efetuada e o encadeamento de páginas indexadas sobre o termo lesbienne – em qualquer que
fosse o idioma. Quando acionada a busca, fosse a partir do próprio termo ou de termos e
expressões relacionados, os resultados gerados eram predominantemente de conteúdos
pornográficos, ao invés de conteúdos de teores mais informativos, históricos ou mesmo de
notícias ou atualidades. Esse tipo de resultado se destacava não somente em relação às
pesquisas sobre sujeitos ou assuntos em geral, mas também em relação aos resultados
apresentados quando realizadas buscas sobre os demais indivíduos da comunidade LGBT –
exceto quando estes eram mulheres transexuais e/ou travestis, que também tendem a gerar na
plataforma resultados enviesados para pornografia e/ou hiperssexualização.
É válido ressaltar que, em geral, não há como ter acesso à formulação dos algoritmos
das plataformas, especialmente de grandes empresas como a Google. Mas essa opacidade
possibilita a construção de uma série de reflexões teóricas sobre a relevância dos algoritmos
na sociedade contemporânea, com ênfase nos resultados apresentados pelos algoritmos dos
buscadores, que são hoje de extrema relevância na aquisição de conhecimento e informações
(GILLESPIE, 2018). Algoritmos são elementos constitutivos das plataformas que, diante dos
processos de plataformização da vida (LUPTON, 2014; VAN DJICK, POELL & WAAL,
2018) nas mais diversas esferas – trabalho, socialização, economia –, tornaram-se, também,
elementos constitutivos da própria sociedade.
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A mudança de cenário, nos resultados para esse caso específico, foi fruto de uma
pressão coletiva que fez com o que a Google finalmente revisasse o tipo de conteúdo gerado
(output) a partir do termo acionado (input). Cabe ao Google, nesse sentido, decidir o que vai
ser visto sobre um determinado fenômeno ou objeto. Tem sido possível afirmar, portanto, que
algoritmos geram, alimentam ou (re)produzem regimes de (in)visibilidades nas mais diversas
esferas. E que algoritmos servem não somente para a fabricação de mundos, mas para
reforçar estruturas já vigentes, principalmente aquelas que perpetuam discursos de
discriminação, violência e opressão (BUCHER, 2012; NOBLE, 2018; SILVA, 2019), visto
que os discursos sobre as lesbianidades apresentados nas plataformas estão comumente
relacionados à pornografia, fetichização e hiperssexualização.
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plataformas são evocadas para basicamente todas as esferas da vida: alimentação,
relacionamentos, trabalho, gestão de tarefas, lazer.
Para Deborah Lupton (2014), a internet é um arquivo das coisas e um arquivo de si.
Para além da quantidade de informações geradas e armazenadas, há também a questão sobre
o conhecimento dessas informações, porque em uma lógica da economia da informação,
muitas coisas são tensionadas a partir desses arquivos, tanto em termos de conteúdo, quanto
sobre sua própria acessibilidade.
Por fim, ao responderem às lógicas econômicas e, sobretudo, políticas, algoritmos dão
visibilidade àqueles que já têm visibilidade e essa relação é difícil de mudar. Os algoritmos
constroem e implementam regimes de poder e conhecimento, e o seu uso tem implicações
normativas (KITCHIN, 2017). Algoritmos criam movimentos e também são criados a partir
dos movimentos. Atendem aos seus desenvolvedores e seus primeiros pressupostos, mas
também são constituídos a partir de seus usos e demandas.
Um exemplo das opressões perpetuadas por algoritmos de plataformas é o caso dos
resultados hiperssexualizadores apresentados a respeito de mulheres negras e latinas
(NOBLE, 2018). E se é verdade que algoritmos são capazes de moldar a vida social em
vários níveis (BUCHER, 2012) e que eles podem ser capazes não apenas de disciplinar,
regular e controlar, mas também de guiar e reformular a maneira como pessoas interagem
com as coisas (KITCHIN, 2017), é possível afirmar que a ótica pornográfica não responde e
nem pode responder ao que são lésbicas e que essa tentativa de resposta encontra diversas
ressonâncias nas violências lesbofóbicas as quais lésbicas estão frequentemente submetidas.
A mudança algorítmica representa, portanto, uma porta de entrada para mudança nesse
paradigma da violência e da objetificação de mulheres lésbicas.
a. Por que conteúdos pornográficos não podem ser a resposta para o que são
as lésbicas?
A pornografia, da maneira como era apresentada pelo buscador, é entendida aqui
enquanto uma forma de perpetuação de discursos de violência e colonização dos corpos.
Embora já existam debates em torno de outras formas de produção pornográfica, feitas por e
para mulheres, sujeitos LGBTQIA+ e outros grupos cuja autonomia sexual tenha sido
historicamente sequestrada pelos interesses e desejos hegemônicos, o conteúdo pornográfico
levantado – e o conceito de pornografia trazido à discussão – ainda está submetido às lógicas
de dominação e objetificação próprias de uma indústria violenta e violentadora, que
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representa e reproduz desigualdades (D’ABREU, 2013). O que reflete na produção, na
circulação e no próprio consumo desses produtos.
A pornografia hegemônica é aquela de maior circulação, que responde a uma
indústria pornográfica, e que passou por diversas mudanças na distribuição e no formato –
antes, haviam locadoras ou áreas específicas de locadoras para esse tipo de conteúdo, em
seguida, canais pagos na televisão fechada. Hoje, os conteúdos pornográficos representam
uma grande parte da diversidade de conteúdos disponibilizados, procurados e acessados na
World Wide Web. Ainda submetida à indústria pornográfica, que movimenta milhões por
anos, a pornografia, hoje, pode ser facilmente acessada em portais como o Xvídeos e o
PornHub, que oferecem conteúdo gratuito, mas também reúnem conteúdos exclusivos para
usuários assinantes. Em seus catálogos, existem desde produções maiores, quanto criações
mais independentes e caseiras, além de conteúdos disponibilizados ao vivo, para interação
entre os usuários e produtores daquele conteúdo.
Embora a distribuição desse tipo de pornografia tenha se diversificado ao longo dos
anos, o que persiste é o caráter violador da pornografia hegemônica e sua relevância na
produção e consolidação de sentidos sobre o que devem ser as práticas sexuais – voltadas
somente para realização dos desejos e prazeres masculinos (DINES, 2010), cisgêneros,
brancos e heterossexuais. Potencialmente alinhada à naturalização de estupros
(MALAMUTH & CHECK, 1985) e, no que diz respeito ao recorte proposto, com o estupro
corretivo de mulheres lésbicas. Estupro corretivo é aquele motivado pela própria orientação
sexual da vítima, ampliando a concepção do estupro “conceitualizado como um crime contra
a autonomia sexual de um indivíduo" (VITO, GILL, & SHORT, 2009) e tendo como
finalidade a correção de uma sexualidade entendida enquanto anormal e/ou incorreta.
Não existem análises aprofundadas sobre a violência lesbofóbica no Brasil, porque a
maior parte dos dados sobre sujeitos LGBTQIA+ ainda é proveniente de informações
divulgadas pela mídia e pesquisas promovidas por meios alternativos – como, por exemplo, o
LesboCenso do Distrito Federal e Entorno, organizado pela Coletiva Coturno de Vênus. Essa
constatação é bastante reforçada tanto pelos levantamentos do Grupo Gay da Bahia (GGB),
existentes há 30 anos, quanto o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil, publicado em 2018 e que
reúne dados de 2014 a 2017 sobre violência contra lésbicas, ambos frutos de dados não
oficiais.
Segundo levantamento da revista Gênero e Número, a partir de dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em média seis lésbicas sofreram estupro
corretivo por dia durante o ano de 2017. Trazer a questão dos estupros corretivos é
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importante para reforçar a forma como a pornografia hegemônica atua na construção de
sentidos sobre lesbianidades e sobre as vivências sexuais lesbianas enquanto objetos do
prazer sexual masculino. Para além disso, corroboram a ideia de que cabe aos homens a
determinação dos meios e finalidades da sexualidade das mulheres em geral.
O ódio às lésbicas existe como parte integrante do patriarcado uma vez que elas
são consideradas mulheres que não se submetem às normas heterossexuais que
recorrentemente possibilitam a dominação masculina sobre as mulheres
heterossexuais (CARNEIRO PERES, FELIPPE SOARES, & DIAS, 2018, p.20).
O poder masculino, com isso, assume uma posição na qual é o detentor do olhar
moral que objetifica os corpos e, ao mesmo tempo, delibera e administra esses
corpos. Dessa forma, são construídos padrões e normas que ditam as
subjetividades, as corporeidades e, inclusive, os espaços autorizados para mulheres
– sejam eles na geografia do mundo ou de seus próprios corpos (MOTTER, 2018, p.
10).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao assumir lesbianidades no plural, entende-se que, se não há uma categoria universal
de mulher e, dessa forma, também não há uma categoria universal de lésbica, porque as
estruturas de poder e opressão atuam de formas diversas, mesmo em corpos que
compartilham de uma mesma identificação sexual. Entendendo essa pluralidade, sabemos que
certos corpos estão mais suscetíveis à violência do que outros e que existe uma infinidade de
violências possíveis.
Com isso, parece haver, no tempo presente, um tensionamento sobre a representação e
os sentidos dos corpos lésbicos nos ambientes digitais, que se apresentam sempre a partir do
viés de direito ao corpo e à sexualidade, que são componentes fundamentais, afinal, para o
vir-a-ser lésbica. Esse tensionamento se expressa pela resposta primeira dos buscadores, a da
pornografia, que ainda persiste em outros buscadores como o Bing e o Yahoo e, em
contrapartida, da mobilização coletiva para que a campanha #SeoLesbienne se tornasse
visível e tivesse sua demanda cumprida, ou seja, da presença e permanência de usuárias
lésbicas nas diversas redes sociais e plataformas. Central é, portanto, a disputa de sentidos
sobre os corpos lésbicos. Hoje, com um grande número de páginas e perfis nas redes sociais
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produzindo conteúdos e fomentando saberes sobre mulheres lésbicas, há cada vez mais uma
vigilância sobre os conteúdos que perpetuam violência e discriminações.
E por que tudo isso importa? Porque algoritmos não apenas criam movimentos e
devires, mas principalmente quando em buscadores ou em outras fontes de conhecimento,
ajudam ou acabam por estabilizar sentidos e/ou informações sobre determinados sujeitos ou
assuntos. A perpetuação de discursos de violência a partir da pornografia, que costumava ser
o resultado principal do buscador da Google e, em contrapartida, uma movimentação social,
como a campanha #SeoLesbienne, para a mudança nesse tipo de resposta algorítmica,
demonstram não só a falsa neutralidade tecnológica que blinda ainda as plataformas, mas
também a importância dos usuários na reformulação, no aperfeiçoamento e na constante
vigilância desses algoritmos, cada vez mais presentes.
A pornografia não responde e nem pode responder ao que são lésbicas. Primeiro,
porque a violência e a objetificação não podem ser o meio de definição para essas sujeitas.
Segundo, porque não há uma resposta universal para quem são as lésbicas. Ainda há muito o
que acompanhar nas respostas geradas das diversas plataformas sobre as lesbianidades:
tiraram a pornografia, mas o que virá depois? Estaremos atentas. Em um mundo
plataformizado, essa mudança algorítmica representa uma possibilidade de mudança nesse
paradigma da violência e da objetificação de mulheres lésbicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUCHER, T. Want to be on the top? Algorithmic power and the threat of invisibility on
Facebook. New Media & Society, 14(7), 1164–1180, 2012.
D’ANDRÉA, C.; JURNO, A.. Algoritmos como um devir: uma entrevista com Taina Bucher.
Parágrafo, [S.l.], v. 6, n. 1, p. 165-170, jun. 2018. ISSN 2317-4919. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/723>. Acesso em: 26
out. 2020.
COULDRY, N.; HEPP, A. The Mediated Construction of Reality. Cambridge, UK: Polity
Press, 2017.
DINES, G. Pornland: How Porn Has Hijacked Our Sexuality Boston: Beacon Press, 2010
18
GILLESPIE, T. A relevância dos algoritmos. Parágrafo, [S.l.], v. 6, n. 1, p. 95-121, jun.
2018. ISSN 2317-4919. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/722>>. Acesso em:
07 out. 2019.
NOBLE, S. U. Algorithms of oppression: How search engines reinforce racism. NYU Press,
2018.
VAN DJICK, J.; POELL, T.; WAAL, M.C. The platform society: public values in a
connected world. New York: Oxford University Press, 2018.
19
VITO, D.; GILL, A.; SHORT, D. A tipificação do estupro como genocídio. Sur, Rev. int.
direitos human., São Paulo , v. 6, n. 10, p. 28-51, June 2009 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452009000100003&
amp;lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 out. 2020.
20
MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO E
RESISTÊNCIA DAS MULHERES LÉSBICAS NAS
DÉCADAS DE 70 E 80
Isabel Ceccon Iantas2
Marina de Fátima da Silva3
1. INTRODUÇÃO
O movimento auto-organizado de mulheres lésbicas surgiu no país em decorrência de
diversos fatores e fortaleceu-se também em decorrência da adoção de mecanismos de
resistência significativos para a época. Em uma época caracterizada pelo conservadorismo,
pela repressão aos movimento sociais, característica da ditadura civil-militar, do preconceito
e do mote pela moral, família e bons costumes, as mulheres lésbicas eram duplamente
perseguidas: por serem mulheres desviantes e por amarem outras mulheres também
desviantes.
O início da organização do movimento LGBTI+ no Brasil, inicia-se, principalmente,
pela união de homens gays em grupos que, inicialmente, não visavam a organização política.
Todavia, o movimento por muito tempo foi encarado como um movimento homossexual,
mesmo em grupos mistos. No presente artigo será utilizada a sigla para facilitar a
compreensão, porém, tendo em mente que o termo LGBTI+ é contemporâneo e foi cunhado
após muitos anos de debates e lutas que fogem do tema aqui proposto.
Nas décadas de 70 e 80, o movimento lésbico começa a criar forma, com espaços
auto-organizados, com a criação de revistas e folhetins e a disseminação das pautas e ideias
específicas das mulheres que amam outras mulheres. Dessa forma, quando falamos em uma
organização da resistência lésbica, estamos falando da construção de um movimento próprio,
que extrapola os limites do movimento homossexual e do movimento feminista.
O movimento LGBTI+ nessa época era encabeçado e estruturado estritamente no G,
deixando as mulheres nos bastidores e com as tarefas manuais. Além disso, os homens gays
reproduziam a misoginia e reproduziam uma ideia de feminilidade extremamente tóxica para
as lésbicas. Por outro lado, o movimento feminista também as afastava, uma vez que pautava
2
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, isabel.iantas9@gmail.com.
3
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, fsmah22@gmail.com.
21
uma ideia de direito sexual restrito à heterosexualidade, sem dar abertura para a realidade
daquelas mulheres que se relacionavam com outras mulheres.
O silenciamento e a invisibilidade das lésbicas dentro dos movimentos sociais era
uma realidade difícil, vez que a própria expressão da lesbianidade nas cidades tinha que se
dar clandestinamente, em bares e pontos de encontro afastados do centro. Assim, para resistir
tanto à repressão da ditadura civil-militar quanto da exclusão dos grupos de esquerda, as
mulheres lésbicas passaram a se organizar e construir ferramentas para serem vistas, ouvidas
e respeitadas.
Ainda hoje se fala em um apagamento da história e da luta lésbica, estando elas ainda
em uma posição de extrema vulnerabilidade social, com a negligência das políticas públicas e
demais ambientes da sociedade civil. Assim, resgata-se alguns dos mecanismos de resistência
utilizados por essas mulheres dentro da intersecção do movimento LGBTI+ e do feminista,
para sobreviver à opressão, para lutar pela redemocratização, para disseminar suas ideia e
pautas e para abraçar as demais mulheres que, assim como elas, estavam clandestinas - mas
não mais.
2. AUTO-ORGANIZAÇÃO LÉSBICA
Quando tratamos do início da organização LGBTI+ no Brasil, é importante frisar que,
em um primeiro momento, os encontros de grupos “homossexuais” não visavam qualquer
envolvimento político, sendo apenas um grupo para marcar festas e conhecer pessoas
(AGUIAR, 2018: 133). Segundo GREEN (2014), os homossexuais possuíam grande receio
de se envolver em movimentos sociais, tendo em vista que mesmo em grupos de esquerda
ainda havia muita homofobia (GREEN, 2014, p. 62).
No Brasil, mais especificamente em São Paulo, a primeira organização homossexual a
assumir um posicionamento político e efetivamente militar em prol dos direitos sociais foi o
grupo “SOMOS” - Grupo de afirmação Homossexual. Todavia, inicialmente era formado
majoritariamente por homens, conforme narra GREEN (2014): “não mais do que duas dúzias
de homens e, às vezes, amigas lésbicas de alguns dos integrantes compareciam a encontros
regulares (...). Enquanto em 1978 não mais do que quatro mulheres participaram durante
algum tempo na organização” (GREEN, 2014, p. 68). Esse grupo pautava não apenas os
direitos da população LGBTI+, mas também demais pautas políticas de esquerda: contra a
ditadura, a favor da redemocratização, a favor dos direitos da classe trabalhadora, contra os
abusos da polícia, contra o racismo e o machismo.
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Em 1979, a presença de mulheres lésbicas passou a aumentar progressivamente,
trazendo para dentro do SOMOS debates sobre a misoginia dentro do próprio movimento
gay. Por ocuparem posições inferiores e subalternas até dentro da militâncias, as mulheres
começaram a pautar a necessidade de criação de um grupo auto-organizado, para debater
questões específicas do movimento lésbico - invisibilizadas nos grupos de caráter misto.
Ainda segundo GREEN (2014), dentro do grupo foi criada uma setorial dentro do
próprio SOMOS destinada ao debate lésbico, porém, em abril de 1980, houve o racha
definitivo com a criação de um grupo propriamente dito “lésbico-feminista”. Algumas
mulheres saíram em definitivo, para se focar na construção do novo grupo e outras mulheres
permaneceram no SOMOS, por verem a importância de um grupo misto homossexual
(GREEN, 2014: 69).
Em outubro de 1981, o Grupo Lésbico-Feminista é rebatizado de Grupo de Ação
Lésbico-Feminista (GALF) por militantes remanescentes, com a intenção de reviver o
movimento (OLIVEIRA, 2017, p. 11). Com o seu enfraquecimento, em 1989, surge a Rede
de Informação Um outro Olhar, que também perde força rapidamente (SOARES; COSTA,
2011: 38). No Rio de Janeiro, por sua vez, cria-se o grupo Lamuricumá, que, da mesma
forma, tem dificuldades em se manter ativo (LINO, 2019, p. 16).
As dificuldades de manutenção do movimento lésbico ativo são as mais diversas,
desde a dificuldade de se encontrar um ponto de encontro no qual não haja ataques policiais e
opressão da sociedade, conforme falaremos mais adiante; as dificuldades financeiras; a dura
repressão às mulheres que se autodeclararam lésbicas - inclusive a luta até hoje pelo uso deste
termo, em vez de termos como “entendida”; entre outras questões.
Ao longo dos anos 1990, o movimento lésbico passa a focar sua militância nas
instituições públicas e políticas, ocupando espaços dentro de partidos políticos e,
principalmente organizações não governamentais. Dessa forma, fortalece-se a ligação com o
Estado, tendo em vista que, assim, era possível construir campos para uma atuação efetiva de
mudanças, podendo realmente fazer e pensar em projetos conjuntos (ALMEIDA;
HEILBORN, 2008, p. 227-229).
Em 1996, há a criação do Seminário Nacional de Lésbicas - SENALE, que visa reunir
as militantes e construir um espaço propício para discutir gênero e sexualidade, pautando
ações futuras (LINO, 2019: 17). Dessa forma, na primeira edição do encontro, 100 lésbicas
compareceram para construir esse espaço auto-organizado de militância nacional. Foi aí,
também, que se decidiu que o dia 29 de Agosto - data que ocorreu a primeira manifestação
lésbica no Brasil, que será tratada adianta - seria considerado o Dia Nacional pela
23
Visibilidade Lésbica (SOARES; COSTA, 2011: 39). Já em 2003, durante o III Fórum Social
Mundial, houve a criação do grupo Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), que atua até os dias de
hoje, como uma organização autônoma de mulheres lésbicas e bissexuais (SOARES;
COSTA, 2011: 39).
Hoje, o movimento lésbico está muito mais estruturado e presente nos movimentos
sociais e dentro da política brasileira. Todavia, é inegável a persistência da invisibilidade e do
silenciamento de suas pautas. Ainda hoje, o relacionamento lésbico é retratado como fetiche,
a saúde lésbica é menosprezada e suas relações sociais ainda são permeadas pela lesbofobia e
pela misoginia, não apenas por grupos conservadores, mas também pelos movimentos sociais
de esquerda, movimentos LGBTI+ e movimentos feministas.
Uma pessoa poderia esperar que, desde que homens gays podem ser, de certa
forma, vítimas de ódio às mulheres, eles poderiam ter chegado a uma incomum
identificação com as mulheres e, por tanto,ter firmado alianças políticas com elas.
Está é uma possibilidade política que está em algum grau atualizada por alguns
homens gays, mas, para a maioria, tal identificação é realmente impossível. Eles
sabem, mesmo que não articuladamente, que sua classificação com as mulheres é
baseada em um profundo mal-entendido. Como a maioria dos outros homens que
por uma razão ou outra chegaram a sentir um gostinho de como é ser uma mulher
em uma cultura misógina, eles estão inclinados a protestar, não a injustiça de
qualquer pessoa ser tratada de forma tão mesquinha, mas a injustiça deles serem
tratados assim quando não são mulheres (FRYE, 1983: 3).
Ao se depararem com a realidade do patriarcado, homens gays que sofreram com essa
condição, chocaram-se não por entender finalmente a luta das mulheres lésbicas, mas sim por
serem retirados de seus privilégios. Esse fato fez com que o feminino fosse uma subversão
usada para chocar os padrões, porém respeitando os limites impostos pelo próprio
patriarcado, pois os homens não abriram mão da hierarquia socialmente construída.
No mesmo sentido, o movimento feminista heterosexual também não viu a
necessidade de pautar o lesbianismo em sua luta, vez que não eram atingidas pela mesma
opressão, bem como não as viam como “iguais”. Pelo contrário, a “ameaça lavanda”
amedrontava as feministas, que temiam ser classificadas na mesma categoria do movimento
lésbico, fato que poderia descredibilizar suas próprias demandas perante a sociedade. De
acordo com AGUIAR (2018), “o que implica o lesbo-ódio por parte das feministas
heterossexuais é justamente o fato de tratar lésbicas como algo que não pertence a sua
realidade, portanto que não pertence a este mundo, reforçando o estigma de clandestinidade
do lesbianismo” (AGUIAR, 2018: 143).
25
Assim, a incompatibilidade nos três movimentos foi um dos pilares que definiu o
caminho do movimento lésbico. O silenciamento em todos os debates progressistas vigentes
fez com que a independência fosse não só um desejo, mas uma necessidade. Caso contrário,
seriam relegadas ao esquecimento, vivendo suas demandas em segredo e sendo postas sempre
em segundo lugar na agenda de lutas sociais. Dessa forma, apesar de uma superficial
existência de um movimento LGBTI+ coeso, tanto quando pautamos o início da organização
quanto nos dias atuais, com a sigla completa, as mulheres lésbicas ocupavam e ainda ocupam
um imaginário subalterno, que impõe o silêncio e a exclusão. Esse fenômeno é marcante na
construção de um movimento lésbico autônomo concebido atualmente, seja nas pautas da
diversidade sexual ou nas pautas feministas.
Dentre as demais 41 edições lançadas, apenas essa e outras duas capas tiveram temas
relacionados à pauta lésbica, mesmo que de forma indireta. Não havia a presença efetiva de
mulheres lésbicas dentro do jornal e, muitas delas não compunham o grupo justamente por
não verem suas pautas e mesmo suas existências representadas ali dentro. Dessa forma, após
participar dessa edição, surgiu a ideia de criar um jornal específico para as questões das
mulheres lésbicas. Assim, a primeira publicação de efetivamente ativismo lésbico no Brasil
surgiu em 1981 o Grupo Lésbico-Feminista - LF inicia a produção do Jornal
ChanacomChana (CCC) que, posteriormente, foi revivido e transformado em Boletim pelo
Grupo de Ação Lésbico-Feminista - GALF, tendo em vista as dificuldades de financiamento
de manter a produção (OLIVEIRA, 2017:12).
Para além da disseminação de informações relevantes, o jornal tinha como propósito
maior reunir e acolher mais mulheres, de todos os cantos, para compor o movimento. Em
carta inicial do jornal, conversando com o grupo do Rio de Janeiro Lamuricumá, de janeiro
de 1981, escreve-se:
Basta você assumir o compromisso de fazer 5 (cinco) cópias deste exemplar, seja
como xerox? com carbono ou memo [sic] à mão. Cinco não é muito !! E será fácil
encontrar outras 5 mulheres para passá-las adiante. Se elas aceitarem por sua vez
o compromisso cada mês você fará o mesmo, entregando-lhe um novo exemplar.
Não entregue a quem não quizer [sic] se comprometer a copiá-lo, pois isso
romperia a corrente (CHANACOMCHANA, 1981, p. 2).
Para corroborar com a união das mulheres lésbicas de todos os cantos e somar com a
luta e o movimento, o ChanaComChana tinha duas sessões, uma de informes e uma em que
publicava cartas enviadas pelas leitoras, que interagiam entre si. No segundo boletim lançado
pelo GALF, em 1982, lê-se na página 10: “O Boletim CHANACOMCHANA também é seu.
Ele está aberto a sua opinião, suas críticas, suas poesias, sugestões, correspondência,
etc…”. Já na página 12, depois da publicação das cartas, há uma sessão “Para quem gosta de
escrever e quer conhecer pessoas novas”, com o nome e o endereço de mulheres para a troca
de correspondências (CHANACOMCHANA, 1982, p.10-12). Portanto, a busca pela
27
aproximação das mulheres, criando vínculos afetivos foi algo muito importante para o
movimento da época.
Diversos foram os temas tratados nas edições publicadas pelo jornal/boletim, trazendo
entrevistas, tirinhas, denúncias, reportagens, divulgação de eventos e encontros, informes
políticos e sociais e textos teóricos sobre o movimento lésbico e o movimento lesbofeminista.
Esse jornal, portanto, tinha como proposta ir além da mera militância, mas também, como foi
dita, acolher e unir as mulheres lésbicas, para não só agregar pernas ao movimento, mas
principalmente apoiar e incluir essas mulheres, que se encontravam muitas vezes vivendo sua
sexualidade na clandestinidade.
Muitas foram as dificuldades enfrentadas para a manutenção do jornal e do boletim,
desde os problemas financeiros até agressões que as militantes sofriam ao tentar vendê-lo em
seus pontos de encontro, com o desgaste das próprias militantes (OLIVEIRA, 2017: 12-13).
Assim, em 1987 o Boletim publica sua última edição. Apesar dessa experiência específica do
estado de São Paulo, atualmente o movimento lésbico possui diversas ferramentas de difusão
de informação, seja nas redes sociais, seja em grupos de apoio e contato das militantes.
5. MANIFESTAÇÕES E RESISTÊNCIAS
O caráter repressivo do governo autoritário da ditadura civil-militar não era
direcionado apenas aos grupos de esquerda, que conspiravam contra o regime, mas também a
qualquer ato ou grupo que fugisse da ideia de “moral e bons costumes” difundida pelos
grupos reacionários da época. Logo, as pessoas LGBTI+ eram alvos de ataques,
perseguições, provocações e ameaças por parte, principalmente, da política.
Como resposta aos abusos policiais no estado de São Paulo, em 13 de junho de 1980,
as mulheres lésbicas e outros movimentos sociais realizaram um ato público. Todavia, como
resposta, em 13 de novembro do mesmo ano, o delegado José Wilson Richett comandou uma
operação que foi intitulada “Operação Sapatão” - mais uma entre as várias ferramentas de
opressão e perseguição das lésbicas no estado (OLIVEIRA, 2017: 16). Essa operação prendeu
diversas mulheres que só foram liberadas com o pagamento de fiança.
Se o movimento homossexual já era visto como extremamente marginalizado e
pertence ao “gueto” das cidades, as lésbicas encontravam-se em total clandestinidade.
Conforme já dito, era muito difícil manter ativo o movimento, tendo em vista as dificuldades
de encontrar um ponto de encontro, as dificuldades de viver abertamente a sua sexualidade,
bem como as dificuldades familiares, que dificultavam encontros dentro das casas das
militantes.
28
Em 1983 é o registro da primeira manifestação própria do movimento lésbica no
Brasil. Essa manifestação ficou conhecido como “O Levante do Ferro’s Bar”, tendo em vista
que ocorreu nesse bar de São Paulo, que costumava ser o ponto de encontro do Grupo de
Ação Lésbico-Feminista (GALF). Esse lugar era considerado o point de encontro das lésbicas
em SP, não só para encontros do grupo de militância, mas para festas e demais socializações,
bem como o local onde vendiam os boletins do ChanaComChana.
Apesar de sustentarem financeiramente o bar, representando a maioria de sua
clientela, o início da venda do CCC foi o estopim para o dono do bar começar a reprimir e
afastar a presença das mulheres lésbicas do local. Em julho de 1983, elas foram oficialmente
expulsas do ambiente. Diante disso, as lésbicas se organizam e, acompanhadas de diversas
frentes dos movimentos sociais, em 19 de agosto do mesmo ano, reocuparam o bar e
realizaram um ato político, exigindo respeito, permissão para manterem a venda do Boletim,
bem como continuarem seus encontros e sociais no local. Posteriormente essa data veio a se
tornar oficialmente o Dia Nacional do Orgulho Lésbico (OLIVEIRA, 2017: 13-14).
A construção da resistência, como mecanismo para garantir o direito de ocupar os
ambientes da cidade, principalmente o Ferro’s Bar, que sempre foi um local de encontro,
demonstra as duas grandes fragilidades do movimento lésbico da época: a ausência de lugares
que “permitissem” sua existência e o sentimento de não pertencerem a nenhum espaço -
colocando a lesbianidade em um espaço de clandestinidade, invisibilidade e exclusão. Isso é
descrito muito bem na seguinte passagem:
Só nesses bares a gente encontra gente como nós, só lá somos aceitas, estamos em
casa. Até na Universidade de São Paulo, onde as pessoas se consideram
avançadas, os homossexuais não são aceitos. Principalmente as lésbicas. No
trabalho, quando descobrem, somos mandadas embora. Lá em casa minha mãe não
consegue entender por que eu sou assim, por mais que eu tente mostrar a ela que
estou bem assim, não tenho nada de anormal (OLIVEIRA, 2017: 17).
O movimento lésbico também foi alvo de repressão por parte de uma parcela de
mulheres do movimento feminista, tendo que resistir a ataques inclusive em espaços que
deveriam ser, por si só, “seguros” e abertos para a militância. O grupo de mulheres lésbicas
foi convidado a participar do painel de abertura do II Congresso da Mulher Paulista, que
ocorreu em abril de 1979, tendo sido intitulado “Amor entre mulheres”. Todavia, antes dele
ocorrer, as fotos e os cartazes que foram colocados no evento foram rasgados e destruídos por
algumas das mulheres que participavam do Congresso (OLIVEIRA, 2017: 14).
29
A apresentação teve que ser movida para outro espaço, desta vez auto organizado, em
forma de roda de conversa. Apesar de traumático, o evento ainda pode ser visto com olhares
positivos, tendo em vista que foi capaz de angariar novas membras lésbicas para o grupo,
além de definir bem quais grupos estavam lado a lado na luta lesbofeminista e quais não
(AGUIAR, 2018: 143).
As formas encontradas para resistir e construir manifestações e levantes lésbicos
foram muito relevantes para fortalecer o movimento das mulheres que amam mulheres.
Apesar das diversas formas de opressão e repressão, tanto da ditadura civil-militar, quanto do
conservadorismo da sociedade, essas movimentações caracterizaram o germe da estruturação
do movimento lésbico que hoje vemos atuante em diversas camadas sociais. Assim, a
persistência é símbolo central da letra L, da sigla LGBTI+, que mantém firme a luta e a
união, mesmo frente ao silenciamento e a invisibilidade que, infelizmente, existe até hoje.
Portanto, o movimento lésbico é um grande exemplo de resistência, que constrói laços fortes
e afetivos entre mulheres dissidentes, que ousam quebrar se não todas, quase todas as normas
impostas pelo patriarcado.
6. CONCLUSÃO
A história do movimento lésbico é até hoje negligenciada e, muitas vezes, ignorada.
Dessa forma, sua luta ao longo dos tempos é repleta de mecanismos que foram capazes de
organizar a resistência ativa dessas mulheres que desviam dos padrões impostos.
Por serem mulheres e, ainda, lésbicas, a repressão e a opressão enfrentada pelo
sistema, tanto da ditadura civil-militar, quanto da sociedade conservadora como um todo,
somam-se também à exclusão por parte dos próprios grupos dos movimentos sociais de
esquerda. Em outras palavras, as lésbicas eram silenciadas e até excluídas da organização de
movimentos feministas e de movimentos homossexuais, sendo relegadas a tarefas subalternas
e aos bastidores e, inclusive, discriminadas.
Diante dessa conjuntura, a saída teve que se dar por meio da auto-organização, como
forma de finalmente pautar propriamente as demandas específicas das mulheres se
relacionam com outras mulheres, seja em termos de opressão específica, ou a saúde, as
políticas públicas, a discriminação dentro da sociedade e até mesmo sua posição de
clandestinidade. Assim, o primeiro mecanismo de resistência foi a criação de grupos
formados unicamente por mulheres lésbicas.
Outra forma encontrada para organizar o movimento lésbico se deu por meio de
jornais, revistas e boletins que difundiam as suas ideias. Mais especificamente, por meio do
30
Jornal ChanaComChana (CCC), o grupo lésbico-feminista e, posteriormente o GALF,
espalharam demandas, pautas, entrevistas, poesias, encontros, conversas, conhecimento e
reportagens que tratavam exclusivamente das questões lésbicas. A criação dessa revista muito
importante também para aproximar as mulheres umas das outras, criando laços e reunindo
mulheres que, antes, estavam excluídas e sozinhas.
Por fim, a resistência sapatão se deu também por meio de levantes e manifestações,
resistência ativa contra atos arbitrários e abusivos da polícia e de particulares. Reivindicando
seu local de direito nas ruas e nos bares, marcando presença dentro dos movimentos sociais,
as mulheres lésbicas insurgiram contra a opressão e o silenciamento.
Apesar da marginalização, principalmente quando se fala em políticas públicas e
visibilidade, as mulheres lésbicas construíram um movimento forte, mostrando-se capazes de
(r)existir em meio a qualquer adversidade. Logo, essa organização encontrou diversos
mecanismos para sobreviver e, principalmente, romper as barreiras construídas de todos os
lados, da esquerda e da direita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Aline do Nascimento. Facção lésbico feminista e o surgimento do lesbofeminismo
no Brasil. Revista Ensaios de História, v. XIX, n. 1/1, p. 130-147, 2018.
ALMEIDA, Gláucia; HEILBORN, Maria Luiza. Não somos mulheres gays: identidade
lésbica na visão de ativistas brasileiras. Gênero, Niterói, v. 9, n. 1, p. 225-249, 2. sem. 2008.
FRYE, Marilyn. Feminismo lésbico e o movimento de direitos dos gays: outra visão da
supremacia masculina,outro separatismo. In: Políticas da Realidade: Ensaios sobre Teoria
Feminista, 1983.
GREEN, James N. Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão: uma memória sobre a
ditadura e o movimento de gays e lésbicas de São Paulo na época da abertura. Acervo, v. 27,
n. 1, p. 53-82, 25 abr. 2014. Disponível em:
<http://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/460>. Acesso em:
20 de ago. de 2020.
LINO, Tayane Rogeria. Nas fissuras da história: o movimento lésbico no Brasil. Revista
Movimentação, Dourados, MS, v.5, n.10, jan./jun. 2019, p. 10-21.
OLIVEIRA, Luana Farias. Quem tem medo de sapatão? Resistência lésbica à Ditadura
Militar (1964-1985). Revista Periódicus, v. 1, n. 7, maio-out. 2017, p. 06-19. Disponível em:
<https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/21694>.
Acesso em: 30 de jul. de 2020.
31
SOARES, Gilberta Santos; COSTA, Jussara Carneiro. Movimento lésbico e movimento
feminista no Brasil: recuperando encontros e desencontros. Estudos Feministas,
julho/dezembro 2011 - janeiro/junho 2012. Disponível em:
<https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/direitos-humanos/direitos-da-populac
ao-lgbt/artigos_teses_dissertacoes/movimento_lesbico_e_movimento_feminista_no_brasil_re
cuperando_encontros_e_desencontros_1.pdf>. Acesso em: 15 de jul. de 2020.
32
“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL”:
CONSIDERAÇÕES NETNOGRÁFICAS SOBRE
CORPO E GÊNERO EM MATO GROSSO DO
SUL
Joalisson Oliveira Araujo4
Esmael Alves de Oliveira5
1. INTRODUÇÃO
“O segredo de Lourival” nos foi apresentado na noite de 3 de fevereiro de 2019,
quando o Fantástico, programa da Rede Globo de Televisão, se propõe a revelar a todo o país
que “Lourival escondeu seu segredo de todos, até da própria família com quem conviveu por
quase quarenta anos". Uma matéria chegou a ser publicada no Portal G1, em 3 de fevereiro
de 2019, às 23h04’ sob a manchete: “Sem documentos reais, corpo de idosa que se passava
por homem está há mais de 4 meses no Imol em MS”, sendo modificada em 7 de fevereiro de
2019 para “Justiça investiga origens de homem que não pode ser enterrado”. Atualmente a
notícia não se encontra mais disponível naquele sítio eletrônico.
A narrativa dá conta de que a 5 de outubro de 2018, Lourival Bezerra de Sá, à época
com 78 anos, sofreu um enfarto fulminante em sua casa, na cidade de Campo Grande, Mato
Grosso do Sul e, ao ser encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito, seu corpo foi lido
como do sexo feminino, por conta de seus caracteres sexuais.
Essa aparentemente simples divergência entre a morfologia esperada e a que Lourival
Sá trazia marcada em seu corpo fez desencadear uma série de atos do aparato estatal para
investigar a “verdade oculta”, que pudesse ter feito com que aquela mulher tivesse “se
passado por homem” há, pelo menos, quarenta anos.
4
Bela. em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista de mestrado (DS/CAPES) no
Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD),
Dourados/MS. araujojow@outlook.com
5
Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Professor do
curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt) da Faculdade de
Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD), e do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS).
Dourados, MS. esmael_oliveira@live.com
33
O corpo já estava retido no Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL)
quando da veiculação da matéria e lá ficou até, pelo menos, 16 de março de 2019, quando
finalmente escapou das ameaças de ser enterrado como indigente caso nenhuma informação
sobre sua “verdadeira identidade” fosse oferecida: uma determinação judicial vinda da 1ª
Vara do Júri da Comarca de Campo Grande, onde se está processando o inquérito policial,
proporcionou que Lourival fosse enterrado com respeito à sua dignidade e à identidade de
gênero que carregava consigo: a masculina.
Não obstante, isso não significa que a busca pela verdade de seu corpo, sexo e gênero
tenham chegado ao fim, pelo contrário: a mesma decisão judicial impôs ao IMOL a obrigação
de manter registros papiloscópicos, fotografias e material genético para que novas buscas
sejam eventualmente realizadas.
Me incomodou não só a atividade persecutória do Estado, mas também as práticas
discursivas dos veículos de mídia ao tratarem do caso. Relatavam como se estivessem diante
de uma falsária, uma frustrada, uma mulher que tenha feito algum mal irremediável e
quisesse se afastar de seu passado.
Assim, neste momento, interessa-me saber como as pessoas receberam essa
construção midiática e como se posicionaram frente a ela. Por conseguinte, adotei como fonte
privilegiada de análise a caixa de comentários das notícias vinculadas a Lourival Bezerra de
Sá, coletados entre 14 de junho e 17 de julho, por meio da netnografia.
Na próxima seção, discuto o método netnográfico e descrevo o caminho metodológico
que trilhei; em seguida, apresento considerações sobre jogos de verdade e sexo como
dispositivos normativos e teço considerações sobre a compulsória coerência de dualismos que
duelam para formar um sujeito assujeitado a uma existência inteligível.
Adiante, após a exposição dos resultados que obtive, pude dar conta então de como
tais produções discursivas orbitam em torno de três perspectivas: a de patologização de
Lourival em sua descontinuidade de sexo-gênero; as que vinculavam sua existência ao
pecado, anormalidade e fraude, clamando por uma pretensa “salvação” ou o condenando ao
Inferno; e, por fim, os que advogam por respeito à sua memória e buscam reconhecer, por sua
trajetória, dignidade.
2. (IN/CON)FORMAÇÕES
Nesta seção, reuni as nuances estruturais e estruturantes do trabalho, que são as
relativas à metodologia e a reflexões teóricas. À primeira subseção, situo o surgimento da
34
etnografia em ambientes virtuais e, na segunda, anoto principalmente os escritos
foucaultianos relacionados ao discurso tomado como verdadeiro e à verdade do sexo.
a. Noções metodológicas
Modificações tecnológicas trouxeram à Antropologia novos paradigmas com que se
ocupar. É assim que surge, no fim da década de 1990, um conceito frequentemente atribuído
a Robert Kozinets: a netnografia, ou “etnografia em ambientes virtuais”. Esta forma
especializada de etnografia se ocupa de comunicações mediadas por equipamentos
telemáticos para chegar à compreensão – e posterior representação etnográfica – de um
fenômeno cultural por suas repercussões na Internet, isto é, “a netnografia é pesquisa
observacional participante baseada em trabalho de campo online” (KOZINETS, 2014, p.
61-62), que “volta-se para a descrição de realidades sociais virtualizadas, ou seja, de
compreensão das novas formas de sociabilidade no ciberespaço” (REBS, 2011, p. 81).
As produções discursivas, provenientes de sujeitos identificáveis ou não, constituem
também um dos produtos que fiam a teia de significados, trama do tecido cultural. E, ainda
que haja diferenças significativas quanto à linguagem e formas de interagir entre sujeito
pesquisador e sujeito pesquisado em ambientes online, “tal relação – [que é] mediada mesmo
off-line – se dá em ambientes virtuais que não podem mais ser tratados como ‘não-lugares’ e
menos ainda de forma dicotômica, opondo-se o virtual ao ‘real’” (POLIVANOV, 2013, p.
69), pois os sujeitos têm mesclado suas existências online e offline a tal ponto que sua
separação se torna cada vez mais tênue.
Logo, por conta de a narrativa ter sido primeiro contada no programa Fantástico, da
Rede Globo, e uma matéria ter sido veiculada no mesmo dia no Portal G1, me pareceu
adequado que este fosse o ambiente para buscar notícias relacionadas ao caso. Realizei o
levantamento das matérias nos dias 14 de junho e 17 de julho através de seu mecanismo
nativo de busca. Inseri os termos de indexação “Lourival Bezerra de Sá”, “Lourival Bezerra”
e “Lourival AND Bezerra”. Me vali tanto como filtro de busca quanto como critério inclusivo
o marcador temporal de ter sido a notícia publicada a partir de 3 de fevereiro de 2019.
Então, obtive como resultados que se conformam nos critérios inclusivos, 4 (quatro)
matérias disponíveis, publicadas entre 4 de fevereiro e 16 de março. Contudo, como o que me
interessa neste momento são os comentários – e as interações a eles relacionadas – nas
matérias em questão, os contei e obtive 31 (trinta e um) comentários no total.
Deste universo de trinta e um comentários, elegi dezessete deles que falavam mais
diretamente sobre o caso, seja por reificar a noção de “natureza” no corpo de Lourival
35
Bezerra de Sá, seja por torcer esta naturalização biologicizante atribuída àquele mesmo
corpo. Os reproduzi sem fazer alterações de qualquer caráter; os outros dezesseis foram
dispensados porque tangenciavam muito da temática da matéria.
Registrei também as interações entre usuários e comentários já feitos, que incluem
“concordar” e “discordar”, representadas na caixa de comentários do Portal G1,
respectivamente, por polegares apontando para cima, em verde, ou para baixo, em vermelho.
Contabilizei 704 (setecentas e quatro) interações que “concordavam” com
comentários e 553 (quinhentas e cinquenta e três) que “discordavam”, totalizando, assim,
1257 (um mil, duzentos e cinquenta e sete). Curiosamente, todas as interações6 se encontram
na matéria de 4 de fevereiro; já com relação à matéria publicada em 13 de março, intitulada
Justiça determina enterro de mulher que se identificava como homem; corpo está há 158 dias
no Imol em MS, não pude coletar dados pois a caixa de comentários não se encontra
disponível.
6
Importante evidenciar que não é possível identificar os usuários autores das interações em nenhuma das caixas
de comentário.
36
homem em oposição à mulher e que apresentasse o fundamento de uma atração dos opostos,
é inteiramente ausente na medicina clássica ou renascentista.” (LAQUEUR, 2001, p. 33). O
campo científico passa, então, a não mais buscar a verdade, mas construir as suas próprias
(FOUCAULT, 2014).
Esta “vontade de verdade” apoia-se em suportes institucionais como práticas
pedagógicas, ritos jurídicos, sistemas de edição etc., mas também pelo modo como o saber é
aplicado em sociedade, como é distribuído, valorizado, compartilhado, enfim, o que acaba
por construir uma “narrativa maior”: esta se torna então a baliza para determinar o real e o
irreal, guardando, de modo ainda não lapidado, “algo como um segredo ou uma riqueza”
(FOUCAULT, 2014, p. 21).
O autor supõe então, nesta mesma obra, que em toda sociedade existe um desnível
entre dois tipos de textos: as narrativas maiores e os outros, secundários (a que chama de
"comentários"), que não fazem outra coisa senão repetir e fazer referência ao que se diz nas
narrativas primárias, com a finalidade de desvelar uma verdade originária que permaneceu
oculta. E estes, continua ainda, são produtos de nosso sistema de cultura: os textos religiosos,
jurídicos, literários e, em certa medida, também os científicos.
A especulação sobre a “verdade do sexo” – principalmente feita nos “comentários” –
é útil pois tal dispositivo encerra em si parâmetros de inteligibilidade de uma existência
corpórea; Judith Butler aponta como inteligibilidade os agenciamentos de gênero que
Inclusive, “a noção de que pode haver uma ‘verdade’ do sexo, como Foucault a
denomina ironicamente, é produzida precisamente pelas práticas reguladoras que geram
identidades correntes por via de uma matriz de normas de gênero” (BUTLER, 2017, p. 44).
Então, a “gramática substantiva do sexo impõe uma relação binária artificial entre os
sexos, bem como uma coerência interna artificial em cada termo deste sistema binário”, quais
sejam a vinculação sexo-gênero-desejo-práticas sexuais, onde “a regulação binária da
sexualidade suprime a multiplicidade subversiva de uma sexualidade que rompe as
37
hegemonias heterossexual, reprodutiva e médico-jurídica" (BUTLER, 2017, p. 46 et seq.),
que não são estáveis e, por isso mesmo, se tornam campo e arena de disputas.
3. SIMPLES ASSIM(?)
Os comentários da matéria publicada em 4 de fevereiro de 2019 às 19h50’ – e
atualizada às 21h52'33" –, intitulada “Muito esquisito”, diz ex-vizinha de idosa que se
passava por homem em Ituverava, SP, foi a que me permitiu perceber que os comentários
caminham em, basicamente, três trajetos: o primeira, vincula a existência de Lourival a uma
condição de adoecimento; a segunda, liga-o ao pecado e ao crime; uma terceira, por fim,
pede respeito à identidade masculina de Lourival e tenta ponderar considerações sobre sua
vida.
Também é uma característica marcante de alguns destes discursos uma solução
aparentemente muito óbvia do impasse, pois trazem locuções como “simples assim”, ou são
grafados contendo apenas uma pergunta seguida de uma resposta direta, como se todo este
“alarde” proporcionado pela reportagem fosse desnecessário e sensacionalista.
Vejamos. No primeiro enfoque, temos comentários como os publicados em 5 fev.,
12h06’55”, “Uma doente mental simples assim.”; em 5 fev., 12h33’02”: “Homem trans =
Mulher doente mental que se fantasia e pensa que é homem.”, e ainda 5 fev., 07h39’22”,
“Qual o objetivo de se passar por homem? Resp: Doença.”. 36 pessoas concordaram com
estes três comentários, dos quais só deste último, foram 17 interações positivas. Ao mesmo
tempo, há 92 discordâncias totais nestes.
Ainda se faz muito presente o nexo causal entre transgressão de gênero e patologia,
tributário dos processos de governo da vida que relegaram, ao longo da história, essas
existências à doença e à anormalidade. Só muito recentemente a Organização Mundial da
Saúde (OMS) se propôs a revisitar esse standard: na 72ª Assembleia Mundial da Saúde
quando, ao reformular a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde (CID), agora em sua décima primeira edição, retirou da listagem o
termo transexualismo.
Entretanto, manteve ainda um dispositivo que descreve uma descontinuidade entre
sexo e gênero. A despeito disso, sua nomenclatura agora é incongruencia de gênero, e está
alocado num capítulo sobre condições relativas à saúde sexual, não sendo mais classificada
como um transtorno.
No segundo aspecto, destaca-se o comentário 5 fev., 05h59’54”, que diz: “como
satanás destrói a vida daqueles que se deixam levar pelo mundo E VIVEM UMA VIDA
38
COMPLETAMENTE AFASTADA DO DEUS VIVO SOBERANO......QUE ESSA
MULHER TENHA SE ARREPENDIDO E SE ENTREGADO A CRISTO ANTES DA SUA
MORTE.”, com o qual concordaram 29 pessoas e discordaram 69, tendo desencadeado uma
série de comentários, que, em resposta a este, discutiam a existência ou não de um deus e um
diabo.
Esta segunda nuance não caminha muito distante da primeira, posto que, como nos
aponta Jorge Leite Jr, antes da primazia das ciências da psique sobre as cisões cisnormativas,
um caráter de pecado e monstruosidade era atribuído a tais corpos e, consequentemente, os
vinculava muitas vezes à figura do próprio diabo, já que "isto seria uma completa inversão
espiritual, verdadeira desordem cósmica e, consequentemente, o temido reino do diabo, o
'inverso' de Deus." (LEITE, 2008, p. 44).
Por fim, nesta matéria, temos comentários como 5 fev., 10h46’49”, “Nem na morte
não deixam o cidadão em paz. Bando de bisbilhoteiro.”, do qual concordam 30 pessoas, 8
discordaram; ou 5 fev., 13h25’33”, que diz: “Ela nao assumiu por vergonha de ter nascido no
mundo errado, simples assim.” (concordaram 16, discordaram 3).
O comentário de 5 fev., 15h03’13” teoriza que “O senhor Lourival fez isso pq
antigamente o preconceito era bem diferente do que é hoje. Os pais jamais aceitariam uma
filha virar ‘ homem ‘ . Ctz a família Nem sabia mais da existência dele. Deve ter sumido do
mapa. Feito documentos falsos e seguiu a vida em outros lugares. Tudo por causa do
preconceito. Eu n sou obrigada a concordar mas sou obrigada a respeitar. Descanse em paz.
Senhor Lourival.”, angariando 18 interações positivas, 4 negativas.
Já 5 fev., 11h01’37”, foi mais enfático ao dizer: “Globo, passou da hora de vocês
respeitarem a sua pessoas trans. Lourival era um homem trans, simples assim. Quem se passa
por alguém é o artista quando está no palco ou no PROJAC se passando por personagem.
Lourival apenas era Lourival.”, ideia com a qual concordaram 67 pessoas. 31 discordaram.
Foi a primeira vez que o termo “homem trans” foi usado num comentário,
especialmente como forma de reafirmação de uma identidade. O segundo e último neste
sentido é 5 fev, 15h02’31”, que aponta: “Que falta de respeito! Ele não se passou por mulher,
ele é um homem trans. Deixem o homem em paz.”.
As outras menções ou tratam da questão com desdém – como 5 fev, 15h38’13”: “que
papo furado esse de homem trans” – ou voltam ao ideário de doença/fraude. Como resposta a
este comentário, um outro buscou refletir qual era o verdadeiro caráter da reportagem que, a 5
fev., 15h53’12”, sentenciou: “a reportagem não discute se era trans ou não. O que se tenta
descobrir é quem era de fato a pessoa que se ocultava atrás do nome Lourival, entendeu?”
39
(grifo meu), ainda vinculando tanto o esforço das entidades do sistema de justiça quanto do
veículo de mídia a descobrir qual a “verdade oculta” que se fazia no discurso-corpo de
Lourival. 30 pessoas concordaram, somente 2 discordaram.
Ao ordenar os comentários por “Mais relevantes”, aparecem 5 fev., 08h08’19” que
determina: “Essa matéria é puro preconceito. É lamentável que se perca tanto tempo e espaço
para um assunto dessa natureza.”, com o qual concordaram 61 pessoas, 20 discordam, e 5
fev., 00h30’32”, que faz um apelo: “Enterrem o Sr. Lourival, que descanse em paz. As
investigações têm todo tempo do mundo para serem feitas.”: 68 interações positivas contra 6
negativas.
Nas outras matérias, os comentários trilham construções semelhantes. Na matéria
publicada em 26 de fevereiro de 2019, às 10h24’ – atualizada no mesmo dia, às 14h12'35" –
de título Polícia Civil de MS pede prorrogação de prazo para investigar caso de idosa que
vivia como homem, diz delegada, vemos, entretanto, uma sequência de comentários que
pregam a desvalorização da vida: o 27 fev., 07h05’35” brada: “Este ou esta infeliz até depois
de morto dá trabalho” e obtém como resposta, em 27 fev., 08h24’58”, que “O diabo é o pai
da mentira!ALÉM SE REGISTRO FALSO SER CRIME!”.
Essas afirmações procedem a um julgamento moral fincado em caracteres físicos,
numa lastimável herança lombrosiana7 que trata de desconsiderar ou rebaixar o humano
contido nos sujeitos que, mesmo assujeitados, causam desarranjos nas “normalidades”
sociais. Enquadres como estes acabam por tornar tanto sua vida menos digna de ser vivida
quanto sua morte menos digna de luto (BUTLER, 2015). O comentário de 27 fev., 15h43’20”
lamenta tamanho desrespeito: “Uma história muito triste, que mostra o imenso sofrimento das
pessoas transexuais em busca de uma identidade de gênero”.
Por último, a matéria publicada em 16 de março de 2019, às 18h10’ – atualizada às
21h12’05” do mesmo dia – sob o título Um dia após nova coleta de digitais para futuros
exames, mulher que se identificava como homem é velada, tem um único comentário, sem
interações, a 16 mar., 18h22’18”, que pede: “Deixem este ser humano em PAZ !!!”, numa
tentativa de relembrar às pessoas comprometidas a escarafunchar a vida de Lourival Bezerra
de Sá que este era, ao fim e ao cabo, um ser humano e deste modo deve ser lembrado e
respeitado em sua dignidade.
7
cf. O homem delinquente (L’uomo delinquente, 1876). Cesare Lombroso foi um antropólogo e criminólogo
italiano, vinculado à Escola Positivista Penal. Esta é sua obra mais célebre, em que cuida de mensurar
características anatômicas e, posteriormente, de manifestações de traços psicológicos comuns e predominantes
aos que delinquem.
40
4. CONSIDERAÇÕES SEM FIM
Isto posto, me cabe fazer alguns apontamentos a título de considerações: Lourival
Bezerra de Sá cindiu com a coerência compulsória e artificial entre sexo e gênero e, por isto,
seu corpo e sua vida vivida foram alvo de processos que buscam encontrar e constituir
verdade em diversas frentes, em especial nas instituições do sistema de justiça e nos veículos
midiáticos.
Apesar desse esforço jurídico-midiático, as pessoas percebem este fenômeno de
diferentes formas: seja vinculando-o à doença, ao pecado e à criminalidade, seja o
concebendo como parte da normalidade ou como traço de sua identidade, parte das facetas do
humano.
Tal imaginário fica expresso em locuções como “uma doente mental”, “homem trans
= doença”, que “até depois de morto dá trabalho”, ou como “satanás destrói a vida dos que se
deixam levar pelo mundo” e ainda que “o diabo é pai da mentira”. Também pelos que pedem
que “deixem o homem em paz”, classificam os comentários da matéria ou das outras pessoas
como “falta de respeito”, desejam “que descanse em paz”, “uma história muito triste”.
Não se deve, portanto, negligenciar o caráter simbólico do corpo, já que as condições
objetivas de existência do humano são mediadas por esta mesma existência corpórea, que
produz e é produzida social e culturalmente em suas práticas discursivas cotidianas. No fim
das contas, Lourival ajuda a desestabilizar o que parece “intocável”: ao ser questionado em
sua (r)existência humana, é a própria existência do sistema ontologizante que se está
ameaçado e precisasse ser reiterado, ratificado, reafirmado.
O jogo estabelecido nas interações positivas e negativas na caixa de comentários na
matéria de 4 de fevereiro se tornou numa arena fecunda para este impasse, pois, ainda que a
maioria dos comentários estivessem fincados num ideário de patologia e inadequação, estes
foram expressivamente demarcados como negativos; em contrapartida, aqueles que pediam
respeito à vida e memória de Lourival tinham mais interações positivas, ainda que
recebessem contestações como resposta.
Mais ainda, alguns dos produtos discursivos das caixas de comentários se
comprometeram a solucionar, “simples assim”, o impasse em que se encontravam tanto as
instituições do sistema de justiça quanto os veículos de mídia, ainda que tenham, estas
mesmas instituições, proferido seus próprios comentários – que não constituem meu foco de
análise neste momento mas que, certamente, carecem ser interpelados.
Tais pessoas duelaram com base e contra os dualismos, assim, tendo se investido do
poder foucaultiano de comentar e trazer à luz as verdades, decodificaram os acontecimentos:
41
para 5 fev., 11h01’37”, a verdade é de que se trata de um homem trans, enquanto para 5 fev.,
12h06’55”, a questão é claramente de distúrbio mental; ao mesmo tempo, 5 fev., 13h25’33”
advoga que teria Lourival, por óbvio, nascido no que chamou de “mundo errado”: sua
existência corpórea estaria deslocada deste plano, que é binário, cartesiano, biologizante.
Por fim, objetivamente, é preciso evidenciar que Lourival Bezerra de Sá agiu nas
censuras das prescrições que tomam os caracteres anatômicos como naturais e, por
consequência, imodificáveis e opostos à cultura, que é construída pelo humano. Seu estilo de
vida, seu devir-corpo, sua metamorfose corporal, são reveladores de que nossos corpos e
identidades são construídos, mas não só isso. O que sua vida vivida – e a divulgação e de sua
morte – evidencia, com essa onda de “incômodos”, “maus estares” e “suspeições”, que o
sistema de inteligibilidade heterocisnormativo mesmo está longe de ser estável, imutável e
inquestionável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de
Renato Aguiar. Revisão técnica de Joel Hirman. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2017. (Coleção Sujeito e História).
______. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?. Tradução de Sérgio Tadeu
de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2015.
42
LAQUEUR, Thomas. Da linguagem e da carne. In: ______. Inventando o sexo: corpo e
gênero dos gregos a Freud. Tradução de Vera Whately. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
2001. Cap. 1, p. 13-40.
LEITE JR, Jorge. "Nossos corpos também mudam": sexo, gênero e a invenção das
categorias "travesti" e "transexual" no discurso científico. 2008. 230 f. Tese (Doutorado em
Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
43
O DIREITO AO PRÓPRIO SER: A PROTEÇÃO
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ÀS
MODIFICAÇÕES CORPORAIS
João Ricardo dos Santos8
Ana Carolina D’avanso de Oliveira Cândido9
1. INTRODUÇÃO
A estrutura organizacional e, especialmente as interações sociais se constituem em um
conjunto de normas comportamentais, alicerçada a partir da dicotomia feminina e masculina,
ao passo que os preceitos refletem, em seu imo, papéis históricos e culturalmente construído
que, exclui, marginaliza e silencia àqueles que se contrapõem ao padrão heteronormativo.
Fato é, as particularidades fundamentadas no sexo biológico são marcadores desde a
infância, em que se dedicam a instituir e fortalecer estereótipos, através de brincadeiras,
cores, vestimentas, ações reprováveis e aceitáveis, à luz do mecanismo de opressão patriarcal,
machista e misógino.
A luta emancipatória dos movimentos sociais das minorias e diversidade sexual,
almejam, além de voz, isonomia, representatividade, reconhecimento e segurança, premissas
substanciais em uma democracia. Assim, a pluralidade sexual se manifesta como assunto
essencial no âmbito jurídico e social.
Porquanto, os reflexos e representações dos padrões de comportamentos
heteronormativos, sustentados no órgão sexual, influenciam cotidianamente na
(sobre)vivência da população LGBTQI+ que, além de buscarem afirmação social em um
complexo insidioso e patriarcal, subsistem às violências institucionais, crimes de ódio,
abandono familiar; competindo as múltiplas ramificações do ordenamento jurídico vigente
resguardar e proteger as garantias fundamentais, sobretudo o direito do indivíduo ser quem
quiser/é, sem interferência de natureza moral, religioso ou pessoal.
Por intermédio do método dedutivo, discorrer-se-á sobre a indispensabilidade de
salvaguardar os direitos da personalidade da população LGBTQI+, garantindo o direito ao
8
Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Advogado. E-mail:
jricardosantos@outlook.com.
9
Advogada. Graduada em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO) –
SP. E-mail: carolinadavanso.ad@gmail.com.
44
esquecimento, a defesa da privacidade, identidade pessoal, e, mormente, o direito à saúde e as
modificações corporais, integralmente embasado na dignidade da pessoa e o livre
desenvolvimento da personalidade.
Não obstante, estruturando a construção que se cobiça alcançar, evidencia-se que a
concepção de estereótipos são firmados e ratificados até mesmo no sistema de justiça,
manifestando o silenciamento e invisibilidade de uma população historicamente
marginalizada e segregada no seio social. Para tanto, utilizou-se obras próprias e correlatas a
temática, com a finalidade de amparar a imprescindibilidade do debate acadêmico e jurídico
acerca das proteções dos direitos e prerrogativas da população LGBTQI+ no âmbito dos
direitos da personalidade, primeiro substrato do reconhecimento dessa minoria.
46
No âmbito dos direitos da personalidade, a proteção jurídica destinadas ao corpo
devem objetivar o direito à autodeterminação e autonomia para realização de modificações
corporais, sendo inconcebível a restrição arbitrária e ilegítima da liberdade do indivíduo de
decidir sobre o próprio corpo (FACHIN, 2014, p. 43). De fato, não compete ao ordenamento
jurídico vigente proporcionar obstáculos para realização de cirurgias de adequação ou
mudança de sexo (BITTAR, 2015, p. 136).
Indubitavelmente, paralelamente à proteção legal sobre o corpo, têm-se a autonomia
privada dos indivíduos, devendo ser respeitado e assegurado o direito a modificações
corporais, sobretudo, nos casos de modificações ou redesignações de sexo. Não obstante, a
dignidade da pessoa humana, um dos pilares do Estado Democrático e Social de Direito,
garante que todas as pessoas possuam a liberdade de controlar e modificar livremente sua
personalidade, mormente, a física.
Os reflexos da dicotomia feminina e masculina, determinada pelo órgão sexual,
influencia reiteradamente na vivência da população LGBTQI+ que, além de subsistirem a
violências e abusos físicos, diante da ausência de amparo, por vezes, submetem-se a
procedimentos de riscos, como a ingestão de hormônios sem acompanhamento médico, a fim
de atingir a modificação do corpo, sem a devida assistência estatal.
Lado outro, a existência e realidade da população LGBTQI+ luta, cotidianamente,
contra as barreiras para o reconhecimento e aceitação, seja no âmbito familiar, social e
judiciário. Berenice Bento, ao abordar os obstáculos suportados por essa minoria, esclarece
que além do abandono em todos as esferas e a supressão dos direitos de vivência, ao passo
que são submetidos a necessidade de se tornarem (in)visíveis, enfrentam ainda a não
identificação com os próprios corpos (BENTO, 2008, p. 13).
A ausência de amparo social e familiar obsta que as transexuais se submetam a
processos de adequação de sexo de maneira segura e respeitosa com o próprio corpo. Não
obstante, a violência institucional e despreparo, dos órgãos públicos e privados de saúde,
corrobora com o afastamento dessa minoria do exercício pleno do direito à saúde.
Cediço que os direitos da personalidade devem representar, fundamentalmente, o
reconhecimento dos bens jurídicos consagrados no Estado Democrático e Social de Direito,
na prerrogativa plena e incondicional de exercer sua vontade, privacidade, saúde e
integridade, oportunizando a realização de cirurgias de redesignação de sexo (MOREIRA;
ALVES, 2015, p. 82). Notadamente se mostra indispensável o reconhecimento dos direitos da
personalidade, respeitando, auxiliando e amparando essa minoria sexual (LISBOA; SOUZA,
2016, p. 106), diante da estrutura hierárquica e ideológica que condiciona as relações sociais.
47
A propósito, nas múltiplas vertentes dos direitos da personalidade, se faz primordial o
direito de esquecer seu passado e recomeçar, compreendendo a alteração do nome e sexo no
registro civil, ainda nas hipóteses de não realização de cirurgia (MOREIRA; ALVES, 2015,
p. 83).
As representações de relacionamentos e vivências são heterossexuais, instituídos na
estrutura social patriarcal, que oprime e silencia minorias, especialmente sexuais. Assim, as
relações são determinadas no nascimento, a partir do sexo biológico, estabelecendo condutas
e comportamentos aceitáveis e reprováveis perante a sociedade, ao passo que as vivências e
experiências LGBTQI+ são silenciadas e “trancadas no armário”, tornando-se estatísticas
suprimidas no recorte social e institucional.
Os direitos da personalidade, em suas distintas proteções, garantem o direito à
privacidade, identidade, esquecimento e, especialmente, o direito à saúde e modificações.
Todavia, não se pode olvidar que o preconceito e discriminação obsta o reconhecimento e
amparo de uma população que constantemente é abandona. Além do mais, proporcionar e
resguardar direitos das transexuais devem ser acompanhadas de políticas públicas efetivas,
representativas, agentes estatais capacitados e, essencialmente que não pratiquem violências
institucionais, contra uma minoria já marginalizada e excluída.
4. CONCLUSÃO
Notadamente, a vivência social da população LGBTQI+ se manifesta por intermédio
da (in)visibilidade a que são cotidianamente submetidos, do silenciamento, na ausência de
representatividade nos diversos setores, das constantes violências, crimes de ódio e inércia
estatal em repensar estratégias efetivas que compreendam essa minoria.
Em suma, depreende-se, uma sociedade estruturalmente patriarcal, machista e sexista,
que estabelece condutas e comportamentos padrões, alicerçados no sexo biológico, que
marginalizam e segregam a parcela da população que não corresponde ao estereotipo
determinado. Assim, fazer parte dessa minoria é padecer em um cenário de invisibilidade e
necessidade de se reafirmarem diariamente.
Em que pese o patriarcado como base da estrutura social da própria organização
social, condiciona as relações sociais, evidenciando e determinando vivências
heteronormativas, à medida que exclui e discrimina minorias, especialmente com relação à
diversidade de sexual e de gênero, tornando-se estatísticas suprimidas no âmbito social e
institucional.
O preconceito e discriminação está enraizado e difundido desde brincadeiras e piadas,
até nas constantes práticas de violência institucionais de profissionais que deveriam ser
50
capacitados, legitimando, inclusive, por àqueles que deveriam resguardar prerrogativas e
liberdades de serem quem quiserem ser.
Assim, incumbe aos diversos âmbitos do ordenamento jurídico garantir direitos
constitucionais à população LGBTQI+, se fazendo indispensável a presença dos direitos da
personalidade em preservar, dentro outras liberdades, o direito a realizarem modificações
corporais de maneira segura e efetiva e, também, de resguardar os mesmos direitos aos que
não desejam o procedimento.
Lado outro, não se pode admitir que através de mecanismos estatais perpetuam
situações discriminatórias e opressoras contra uma população historicamente vulnerável e
excluída, por incapacidade de (re)pensarem estratégias e medidas de reparação das violências
praticadas contra a população LGBTQI+.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUINSKY, Beatriz Gershenson; FERREIRA, Gomes Guilherme; RODRIGUES, Marcelli
Cipriani. Travestis e segurança pública: as performances de gênero como experiências com o
sistema e a política de segurança no Rio Grande do Sul. Textos & Contextos (Porto Alegre),
v. 12, n. 1, p. 47 - 54, jan./jun. 2013.
BENTO, Berenice Alves de Melo. O que é transexualidade. São Paulo: Brasiliense, 2008.
BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 8. ed. rev., aum. e mod. por
Eduardo C. B. Bittar. São Paulo: Saraiva, 2015.
FACHIN, Luiz Edson. O corpo do registro no registro do corpo: mudanças de nome e sexo
sem cirurgia de redesignação. Revista Brasileira de Direito Civil: IBDCivil Instituto
Brasileiro de Direito Civil, v. 1, p. 36-60, Julh. 2014.
LISBOA, Natalia de Souza; SOUZA, Iara Antunes de. Nome social dos transexuais e
travestis: identidade de gênero e a regulamentação da UFOPP. Direito Civil Contemporâneo.
Organização CONPEDI/UFMG/FUMEC/ Dom Helder Câmara; coordenadores Chistian Sabb
Batista Lopes, José Sebastião de Oliveira, Maria Goretti Dal Bosco – Florianópolis,
CONPEDI, P. 102-117. 2016.
51
TIBURI, Marcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. 4ª ed. – Rio de Janeiro:
Rosas dos Tempos, 2018.
52
SAÚDE MENTAL DA MULHER LÉSBICA: A
LESBOFOBIA COMO ASPECTO DE VIOLÊNCIA
PSICOLÓGICA NO BRASIL
Valéria Carolina Armas Villegas10
Kleire Anny Pires de Souza11
1. INTRODUÇÃO
Esse artigo visa investigar e questionar como a lesbofobia é uma violência que se
articula através da história, construindo-se como uma doença social que interfere na saúde
mental da mulher lésbica. Utilizando em conjunto a medicina e a história e a construção de
laços de mulheres lésbicas, para produzir e aumentar a visibilidade e a produção da crítica a
esta fobia, alicerçada na sociedade que reproduz em todas as mulheres lésbicas a violência
não somente simbólica quanto física presente na lesbofobia. Dessa forma, o intuito deste
trabalho é tenta diminuir o vazio na produção de artigos dentro da temática de saúde mental
da mulher lésbica e colaborar para um aumento da produção, e problematização da temática
relevante socialmente, na qual tem impacto direto nos direitos básicos de cidadão das
mulheres lésbicas e em sua saúde mental.
Esse texto se insere no campo das reflexões do saberes políticos envolvendo a psique,
buscando analisar de maneira interdisciplinar a correlação da lesbofobia como uma forma de
violência psíquica gerada pelo social. Uma vez que ela se constituí primeiramente na esfera
do simbólico, na concepção de Pierre Bourdieu como uma violência simbólica, “violência
suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias
puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, ... do
reconhecimento ou, em última instância, do sentimento” (BOURDIEU, 2003, p. 7-8) que em
seu entendimento se trata de todas as estruturas da sociedade são formadas e condicionadas a
negar a vivência lésbica, a existência de mulheres que amam outras mulheres. Uma vez que o
determinante padrão comum da sociedade ocidental, seja a heterossexualidade, que no
10
Graduanda em Medicina pela Faculdades Pequeno Príncipe (FPP), Paraná – Curitiba,
valeria.armas.villegas@hotmail.com.
11
Graduanda em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), bolsista do Programa de
educação tutorial (PET) e estagiária Cátedra Unesco- UFGD, Mato Grosso do Sul – Dourados,
kleire@icloud.com.
53
entendimento de Adrienne Rich (2012) é compulsória, pois, toda mulher ao nascer é
concebida como heterossexual, tem sua vida planejada nos moldes impostos de gênero, que
delimitam seus afetos aos homens.
Para percorrer o desenvolvimento deste artigo buscamos analisar a produção de
artigos dentro da temática, porém o que foi mostrado é a ausência também violenta, visto que
as mulheres lésbicas se encontram como não sujeitos para a medicina que é pautada nos
saberes patriarcais onde o foco sempre é o masculino branco.
A retratação da mulher e a saúde mental, é historicamente violento, a concepção da
saúde mental da mulher é muito atrelada a processos de histeria, loucura, desequilíbrios e
vulnerabilidades. A pelo menos 25 séculos de história Del Priori (1999), a histeria
relacionada ao feminino é reconhecida pela medicina, desde a idade média onde mulheres
foram realocadas de loucas para bruxas (Tosi, 1985; Pessotti, 1994). A palavra histeria que
deriva do grego tem seu significado primal como útero, utilizando assim sua condição
imposta de gênero e revolta para categoriza-la enquanto doente mentalmente. A condição
mental da mulher muito foi atrelada ao seu sexo durante muitos anos, não permitindo assim
analises reais da sua condição vulnerável imposta pela violência criando doenças para
descaracteriza-las enquanto sujeitos “corretos” para a sociedade.
A própria condição de loucura já retira um indivíduo da sociedade, colando-o como
um não ser e até mesmo uma cobaia para processos de violência. Esse estigma imposto a
mulher em situação de fragilidade, debilidade emocional condicionou estereótipos que
ocasionalmente desclassificou a análise científica, afinal, mulheres são mais vulneráveis no
ponto de vista social. Tanto, que essa análise começou a chamar atenção de pesquisadoras,
para a condição de não estudo da mentalidade feminina, como uma fator gerado por doenças
relacionadas a sua condição imposta de gênero. Betty Friedman em seu livro que ficou muito
famoso, se tornando um dos marcos do movimento feministas americanos; A mística
feminina (2020), tentou abordar a condição de violência psicológica imposta à mulher, uma
violência simbólica que se materializa atrelada a sua condição de mulher.
Pensando essa construção histórica de violência psicológica contra a saúde mental
feminina, este artigo se propõe a ir além, pensando a condição da mulher lésbicas, que
carrega uma dupla vulnerabilidade. Borrillo (2015) pontua que a lesbofobia é diferente da
homofobia, pois, a lesbofobia vem acompanhada da violência sexista. A manifestação assim
da loucura em mulheres lésbicas é um processo ainda mais violento, visto que essas mulheres
ultrapassam sua condição imposta socialmente de “loucas” partindo para uma esfera de
insanidade ainda maior pensando sua sexualidade. Segundo Gerda Lener, os homens ocupam
54
a maioria das instituições e locais de poder, isso muito se relaciona ao déficit da saúde mental
da mulher lésbica, que uma vez que não está aberta sexualmente aos homens, ela deixa de
existir aos seus olhos, passando despercebidas pela sua ciência. Em dados, divulgados pelo
conselho federal de medicina é estipulado que os homens são maioria na questão médica
geral, e na área da psiquiatria os homens também se sobressaem sobre as mulheres.
IMAGEM 1
IMAGEM 2
55
Os dados apresentados servem como uma base para encarar o porquê a exclusão da
mulher lésbica da visão médica. Compõe a lógica patriarcal, como um projeto de violência.
Se não há memória não a história, essa lógica de política de esquecimento se faz muito
presente na questão da mulher lésbica. É a construção de um projeto de esquecimento
construído a partir da punição a sexualidade. Como forma de punição a uma sexualidade que
rejeita os donos do poder.
A lesbofobia pode ser considerada uma doença social como concebemos neste
estudo, pois, ela é resultado de um longo e duro processo de violência construído para
mulheres lésbicas se odiarem, a fazê-las reconsiderar suas escolhas sexuais até mesmo de
maneira inconsciente como método de punição por sua sexualidade. A doença do social, ela é
construída, ela não é uma doença criada pela biologia, e sim pelo social. É uma forma de
controle sobre mulheres lésbicas, construindo a ideia de auto ódio, construindo a ideia da
56
sexualidade errada para construir um imaginário de violência psíquica causada pelo social.
Segundo os autores Facchini e Barbosa (2006), no Dossiê Saúde de Mulheres Lésbicas
Promoção da Equidade e da Integralidade:
2. MÉTODO E RESULTADOS
Nesse contexto, foi realizada revisão de literatura com o objetivo de reconhecer o
que é descrito na literatura científica sobre saúde mental da mulher lésbica no Brasil. A
principal base de dados utilizada foi a BVS, na qual foram aplicados os descritores “lésbica”
e “saúde mental” conectados pelo boleano AND. Nessa busca, realizada em agosto de 2020,
foram encontrados 11 artigos em português, de um total de 932, sendo 4 relacionados com
saúde ou transtornos mentais. Devido à literatura escassa, complementou-se a pesquisa com
artigos do Google Scholar e outros materiais científicos nas áreas de saúde e história. Foram
analisados, portanto, um total de 7 artigos, principalmente de psicologia e enfermagem.
A partir da literatura encontrada, é possível atribuir os seguintes tópicos à saúde da
mulher lésbica: vícios como o consumo excessivo de álcool e tabagismo; transtornos mentais
como depressão, ansiedade e ideação suicida; luto complicado; estresse de minorias; rejeição
familiar; ocultação de orientação sexual; e exclusão social (quadro 1). Tais achados vão ao
encontro a algumas das problemáticas apresentadas no Dossiê de Saúde das Mulheres
Lésbicas (2006).
57
Quadro 1 - Artigos selecionados
Tipo do Autores,
Título Principais achados
estudo Revista e ano
Violência familiar contra Estudo BRAGA, IA et al. A violência sofrida no contexto familiar afeta
adolescentes e jovens qualitativo Revista diretamente a saúde mental e qualidade de
gays e lésbicas: um Brasileira de vida dos jovens, contribuindo com isolamento
estudo qualitativo Enfermagem, social, depressão, ideação suicida e tentativa
2018. de suicídio, baixo autoestima, aumento da
homofobia internalizada. Em contexto de
preconceito e discriminação, pode haver
reforço da heterossexualidade compulsória.
58
apresentam menores níveis de bem-estar e
maiores níveis de psicopatologias que
mulheres heterossexuais.
Os cuidados do Revisão FARIAS GM, Lésbicas com suporte familiar possuem
enfermeiro às lésbicas integrativa LIMA VLA, menos risco de suicídio que as que não
SILVA AF da et possuem. Os serviços de saúde ainda reforçam
al. Revista de a heteronormatividade, dirigindo-se a todas as
Enfermagem mulheres como heterossexuais. O importante
UFPE (online), papel do enfermeiro no cuidado requer que ele
2018. seja capacitado para combater o preconceito
no atendimento e violência institucional.
Homofobia Estudo PAVELTCHUK, Dos 715 participantes do estudo, 208 eram
internalizada, quantitativo FO; BORSA, JC. mulheres lésbicas. Foi encontrada correção
conectividade Avances en negativa entre conectividade comunitária e
comunitária e saúde Psicología homofobia internalizada. Houve também
mental em uma amostra Latinoamericana baixa, mas significativa relação entre
de indivíduos LGB , 2019. homofobia internalizada e desfechos
brasileiros. negativos de saúde mental.
O Luto Velado: A Estudo ARIMA, AC; O vínculo de afeto existente entre o casal e o
Experiência de Viúvas qualitativo FREITAS, JL. reconhecimento social deste enquanto casal
Lésbicas em uma Temas em legítimo são os aspectos mais relevantes no
Perspectiva Psicologia, 2017. que tange ao luto e viuvez de casais de
Fenomenológico-Existen mulheres. O enfrentamento social está
cial associado a maior sofrimento de viúvas
lésbicas em seu luto. Nesse sentido, é
importante considerar o impacto que a
visibilidade da relação lésbica produz no
enfrentamento do luto e sua dor.
3. DISCUSSÃO
Com base nos estudos é possível relacionar a vivência lésbica com desfechos negativos
de saúde mental como depressão, ideação suicida, ansiedade e alcoolismo. O modelo mais
utilizado para explicar tal correlação é o estresse de minorias proposto por Meyer (2003),
caracterizado por experiências de preconceito e violência sofridas, expectativas de rejeição,
homofobia internalizada e encobrimento da identidade sexual. Importante salientar que as
influências externas podem ser similares, mas impactarão a pessoa de forma diferente, a
depender de fatores como etnia e classe social. Em estudo sobre indicadores de bem-estar e
59
saúde mental de mulheres, foi observado que maiores rendas, escolaridade, religiosidade e
idade estavam diretamente ligados a maiores níveis de felicidade subjetiva e satisfação com a
vida; sendo menores seus índices de depressão, estresse e ansiedade (PAVELTCHUK;
BORSA; DAMÁSIO, 2019).
A família é também um importante componente no bem-estar emocional, especialmente
no caso das mulheres lésbicas, cuja conectividade intrafamiliar pode ser mais significativa
que a externa, na comunidade LGBT ou outra (Paveltchuk e Borsa, 2019). Estudo de Braga et
al. (2018) reforça que a família como estrutura de poder, tem a capacidade de exercer
controle sobre o indivíduo, reforçando a heterossexualidade compulsória, numa tentativa de
adequação aos padrões sociais e, inclusive, papéis sexuais. A violência intrafamiliar gerada
neste cenário torna-se o primeiro espaço em que a jovem terá contato com a lesbofobia, e,
portanto, com a repressão e controle de seu corpo e sexualidade. Os efeitos psicossociais
derivados dessas experiências podem resultar nos transtornos citados anteriormente, assim
como na não aceitação pessoal. Sendo assim, é essencial o papel da família como uma rede
de apoio, acolhimento e segurança – fator protetivo à saúde mental da mulher lésbica
(BRAGA et al. 2018; FARIAS; LIMA; SILVA, 2018).
Os serviços de saúde podem também atuar como reforçadores da lesbofobia. É apontado
que grande parte das ações em saúde são voltadas para mulheres heterossexuais, o que
fortalece a soberania da heteronormatividade na assistência, e vai de encontro à Política
Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Para
cumprir o objetivo desta, que vida proporcionar um atendimento mais integral e humanizado,
faz-se necessária a capacitação dos profissionais da saúde em temas como escuta ativa e
diversidade sexual. Previne-se assim que espaço destinado ao cuidado se torne adoecedor
(FARIAS; LIMA; SILVA, 2018).
Termo que permeia toda a discussão é a invisibilização das mulheres lésbicas. Um dos
poucos estudos que abordou especificamente esta população demonstrou que a invalidação
social de relacionamentos entre mulheres pode ser fator complicador do luto (Arima e Freitas,
2017). Fora do cenário de fim de vida, essa invalidação se mostra no reduzido número de
artigos encontrados sobre a temática e na dificuldade de encontrar textos que realizem recorte
específico de mulheres lésbicas, o que inclusive resulta em fator limitador deste estudo. Em
consonância com Gonçalves e Carvalho (2019), percebeu-se que termos guarda-chuva com
“homofobia”, “preconceito” e “discriminação” resultam em generalização da população
LGBT e por consequência apagamento das especificidades das mulheres lésbicas.
60
4. CONCLUSÃO
Percebemos através dessa análise, que a construção da lesbofobia é de caráter social e
cria os meios e os aparatos para adoecer psicologicamente mulheres lésbicas. As instituições
dominantes, ressonantes com as ideias do patriarcado, só colaboram para a opressão e
construção da crise mental que está em voga com o projeto da heterossexualidade
compulsória. As mulheres lésbicas estão adoecendo e temos que construir ferramentas para
contornar essa situação que cada vez mais se alastra, seja na ausência de acesso a meios de
saúde, seja ela de ordem mental ou não, e também a exclusão dos textos médicos e a ausência
social das discussões sobre o luto, homofobia familiar, misoginia.
A falta de literatura na área evidencia que o tema é ainda pouco abordado na área da
saúde e mais especificamente no que tange à saúde mental. Artigos sobre a população LGBT
são importantes, mas deveriam implementar os recortes de cada uma das letras, numa
tentativa de combater a invisibilização da mulher lésbica. A falta de pesquisas também torna
difícil a capacitação de profissionais do cuidado, assim recomenda-se a maior inserção da
mulher lésbica no estudo da saúde da mulher e não apenas em materiais isolados ou que
abordem a sigla como entidade uníssona.
Diante disso, este trabalho busca evidenciar a ausência das mulheres lésbicas como
protagonistas de estudos, resultando em problemas de ordens sociais, que persistem graças ao
não reconhecimento da falta de cuidados como uma realidade e um problema de saúde
pública. O abandono da mulher lésbica perante a sociedade é violento, e colabora com o
agravamento e sofrimento de sua condição perante a realidade material e imaterial que vive,
causando um sofrimento que pode ser evitado através da discussão e do combate à lesbofobia
enquanto uma doença social que atinge majoritariamente as mulheres lésbicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIMA, AC; FREITAS, JL. O Luto velado: a experiência de viúvas lésbicas em uma
perspectiva fenomenológico-existencial. Temas em Psicologia, v. 25, n. 4, p. 1467–1482,
2017.
61
BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Autêntica Editora,
São Paulo. 2010.
BRAGA, IF [et al]. Violência familiar contra adolescentes e jovens gays e lésbicas: um
estudo qualitativo. Revista brasileira de enfermagem, v. 71, n. suppl 3, p. 1220–1227,
2018.
FACCHINI, R [et a]l. Dossiê Saúde das Mulheres Lésbicas: Promoção da Eqüidade e da
Integralidade. [s.l: s.n.]. Disponível em: <www.neps.org.br/quereres/intro.html>.
FACCHINI, Regina; BARBOSA, Regina M. (2006). Dossiê: Saúde das Mulheres Lésbicas
promoção da equidade e da integralidade. Belo Horizonte: Rede Feminista de Saúde.
TOSI, L. Caça às bruxas: o saber das mulheres como obra do diabo. Ciência Hoje, Rio de
Janeiro, v. 4. n. 20, p. 35-42, 1985.
62
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS
TRANSEXUAIS: EM BUSCA DO
RECONHECIMENTO DESTE DIREITO NO STF
Vanessa de Castro Rosa12
1. INTRODUÇÃO
O assunto – uso de banheiro público por pessoas transexuais – não é novo, mas ainda
está longe de uma resolução no contexto brasileiro. Embora o tema encontre grande
resistência no Poder Legislativo, o Judiciário, salvo tristes exceções, tem se mostrado como o
Poder competente e apto a solucionar a questão diante da eloquente omissão legislativa.
Embora a Constituição da República de 1988 estabeleça como objetivo fundamental
da República Federativa do Brasil o dever de promover o bem de todos, sem preconceitos de
sexo, nem quaisquer outras discriminações, as pessoas transexuais ainda enfrentam um
quadro cotidiano de violências e abusos, tanto que o Brasil é o quarto país onde mais se mata
pessoas transexuais, perdendo apenas para Honduras, Guiana e El Salvador, conforme dados
da ONG “Transgender Europe” (CUNHA, 2017).
Mas a violência não é apenas física, é um quadro sistêmico que engloba as mais
diversas formas de dor, exclusão e sofrimento, que vão das agressões físicas- como os
homicídios, torturas e lesões – até as violências e agressões psicológicas e existenciais, como
o não reconhecimento, a não aceitação e a exclusão social.
O não reconhecimento e o não respeito à pessoa transexual configura negação da
dignidade humana enquanto condição para vida social e como princípio jurídico, gerando
conflitos sociais, ou seja, transcendem a esfera individual e se mostra como um problema de
dimensão coletiva, como bem pontua o filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth.
A negação de acesso ao banheiro público não é uma questão de somenos, pois além de
gerar problemas de saúde às pessoas que evitam ir ao banheiro público para evitar conflitos e
por medo de serem agredidas e acabam, com isso, adquirindo problemas renais e intestinais, é
12
Professora efetiva na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG-Frutal). Doutora em Direito Político e
Econômico (Mackenzie). Mestra em Direitos Humanos. Bacharela em Direito (UNESP). Minas Gerais, Frutal,
vanessa.rosa@uemg.br.
63
também uma violação de Direitos Humanos e fundamentais que coloca em risco o regime
democrático.
O presente trabalho, por intermédio do método indutivo busca analisar os julgados
existentes sobre o tema, na jurisprudência nacional, especialmente na base de dados do
Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ), a fim de identificar os
fundamentos jurídicos e políticos que têm embasado as decisões judiciais, especialmente a
decisão do STF, a fim de delinear possíveis fundamentos e suas repercussões sociais e
políticas.
64
personalidade e da ofensa à dignidade humana, propondo a seguinte fixação da tese com o
seguinte teor:
Não é possível que uma pessoa seja tratada socialmente como se pertencesse a sexo
diverso do qual se identifica e se apresenta publicamente, pois a identidade sexual
encontra proteção nos direitos da personalidade e na dignidade da pessoa humana,
previstos na Constituição Federal (CF) (MPF, 2015, p. 50).
65
homossexual, bissexual ou transgênero, caracterizando expressamente, no art. 2º, como ato
discriminatório a proibição de ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou
estabelecimento público ou privado, aberto ao público (SÃO PAULO, 2001).
A questão dos banheiros públicos já apareceu no STF em outras ocasiões para se
garantir acessibilidade a banheiros públicos em escolas estaduais por meio da obrigatoriedade
de se construir rampas de acesso para possibilitar o acesso às pessoas com deficiência (ARE
1.185.916), como garantia de inclusão social e de dignidade.
No âmbito do trabalho, a questão do acesso a banheiros também gera controvérsia,
havendo vários julgados na esfera trabalhista, o que mostra a importância do STF decidir e
pacificar esta questão, reconhecendo expressamente o direito ao uso de banheiro público
conforme a identidade de gênero, por ser medida de inclusão social, de respeito à dignidade
humana e princípio básico de convivência social, base do Estado Democrático de Direito.
Há várias possibilidades para possibilitar o uso do banheiro segundo a identidade de
gênero, mas sempre é importante se atentar à garantia da dignidade, da privacidade e da
igualdade, razão pela qual propostas segregatórias como a instalação de um banheiro único
para as pessoas transexuais femininas e masculinas é obviamente ofensiva à dignidade
humana e nitidamente violadora de Direitos Humanos, conforme o próprio MPF já destacou
em seu parecer.
Podem ser pensados: dois banheiros separados por gênero, com liberdade de
utilização sem discriminação por identidade de gênero; instalações de banheiros de utilização
individual, acessíveis a todos, sem distinção de sexo ou identidade de gênero; instalação de
um único banheiro, de utilização coletiva e universal, com cabines individuais internas sem
distinções (RIOS; RESADORI, 2015, p. 218).
O banheiro público é um espaço de uso comum, frequentado por todas as pessoas, e
pode ser usado como termômetro da postura e do sentimento democrático de uma
determinada comunidade, nele é possível aferir o grau de respeito ao próximo e o nível de
coesão social, por exemplo, diante da necessidade de deixar o ambiente em condições
higiênicas adequadas para o uso das demais pessoas.
3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS
O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – órgão colegiado da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, cuja finalidade é formular e propor diretrizes
de ação governamental – editou a Resolução nº 12, de 16 de janeiro de 2015 – que estabelece
66
o direito ao uso de banheiro público conforme a identidade de gênero, inclusive para
adolescentes e sem a necessidade de autorização obrigatória dos responsáveis (BRASIL,
2015a).
Contudo, tal resolução não tem força vinculativa, nem punitiva, seu aspecto é mais
ético e moral, para orientação em busca da construção valorativa e educacional de um novo
padrão social de conduta e de convívio, ou seja, são normas desprovidas de sanção, com
baixo grau de eficácia e efetividade.
Mas há no direito brasileiro uma gama de normas que proíbem a discriminação com
base em orientação sexual, tendo em vista que o direito brasileiro se constrói a partir de um
Estado Democrático de Direito, que em sua Constituição estabelece nos artigos 1º, III; 3º, IV,
5º, I, III e X, respectivamente, os princípios da dignidade, da não discriminação, da
igualdade, da proibição de tratamento desumano e degradante e o princípio da proteção à
intimidade (BRASIL, 1988), o que deveria ser suficiente para tutelar as pessoas transexuais.
No Direito Internacional, de igual modo, há uma série de tratados e declarações que
tutelam as pessoas transexuais, podem ser citados, por exemplo, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção
Americana de Direitos Humanos, a Convenção Interamericana contra Toda Forma de
Discriminação e Intolerância, entre outros.
No âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a Corte Interamericana,
em 2017, respondendo à consulta feita pela República da Costa Rica, emitiu a Opinião
Consultiva nº 24, esclarecendo que a Convenção Americana proíbe atos discriminatória
pautados em preconceito de sexo e gênero, assim, o Brasil também se torna obrigado a
proteger os direitos das pessoas transexuais. Neste sentido,
67
Desta forma, percebe-se que a decisão, ora referida, do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina e tantas outras decisões judiciais e políticas que impedem o acesso a banheiros,
censuram a liberdade artística ou que tentam impedir a educação sexual e a educação
inclusiva para o convívio na diversidade e pluralidade são claramente inconvencionais e
inconstitucionais.
Diante desta dificuldade dos operadores do direito em compreender e aplicar
corretamente os Direitos Humanos às demandas judiciais envolvendo questões transexuais e
de gênero, em 2007, a Comissão Internacional de Juristas e o Serviço Internacional de
Direitos Humanos publicaram os Princípios de Yogyakarta sobre a aplicação da legislação
internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero,
como forma de facilitar o entendimento e evidenciar as obrigações dos Estados.
A natureza destes princípios é muito discutida doutrinariamente, no Brasil, tem sido
usado na construção da fundamentação de decisões judiciais, como por exemplo na já citada
ADI 4275-DF.
Entretanto, há doutrina no sentido de se reconhecer sua aplicação normativa
vinculante, por se tratar de Princípios de Direitos Humanos, já ratificados pelos Estados,
tratando-se, portanto, de normas jus cogens (normas, em regra, inderrogáveis); outra
possibilidade seria entendê-los como costume internacional para os Estados que os
internalizaram (ALAMINO; VECCHIO, 2018, p. 663).
Os Princípios de Yogyakarta reconhecem a orientação sexual e a identidade de gênero
como parte da personalidade, de modo que toda pessoa, independentemente de sua orientação
sexual ou identidade de gênero, tem o direito de desfrutar plenamente de todos os Direitos
Humanos13.
Destarte, há um aparato normativo construído sobre os princípios da igualdade, da não
discriminação e do princípio democrático, apto para garantir o direito de acesso ao banheiro
público segundo a identidade de gênero, que passa pelo reconhecimento e respeito às pessoas
transexuais.
O direito ao reconhecimento “não significa conceder a todos a mesma condição por
meio da eliminação dos fatores de distinção, mas sim superar os estereótipos e reconhecer a
diferença, sem esquecer a referência à pessoa individual” (MAIA; BEZERRA, 2017, p.
1704), trata-se da célebre frase de Boaventura Sousa Santos que resume a essência
democrática:
13
Princípios de Yogyakarta: Princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em
relação à orientação sexual e identidade de gênero, Yogyakarta, 2007, p. 11.
68
[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o
direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a
necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que
não produza, alimente ou reproduza as desigualdades (SANTOS, 2003, p. 56).
Para Axel Honneth, a base dos conflitos sociais está no problema da falta de
reconhecimento, que obriga o indivíduo ofendido e humilhado a se articular e lutar pelo seu
reconhecimento. Assim, as questões de gênero e sexualidade são mais um aspecto dos
conflitos sociais decorrentes da negação do reconhecimento e das consequências negativas
que isto representa.
Assim, o reconhecimento consiste na afirmação e na valorização positiva das
identidades individuais, devendo ser tratado juridicamente como um direito e que repercuta
esforços públicos para o enfrentamento do estereótipo e suas consequências (LOPES, 2005,
p. 83).
De outro modo, criticando a redução dos conflitos sociais à luta por reconhecimento,
por desconsiderar aspectos materiais e por reduzir o conflito da distribuição de riquezas a
uma disputa moral por reconhecimento, Vladimir Safatle destaca o papel da centralidade do
político em relação ao cultural e ao jurídico e aponta a necessidade de se desconstruir as
diferenças e não politizá-las ou tolerá-las, pois
Na mesma matriz teórica, é possível pensar a luta por reconhecimento não apenas
como uma identidade, ou uma questão moral, mas de forma articulada e integrada com outras
questões sociais e estruturais.
Deste modo, o debate sobre interseccionalidade contribui para pensar o direito das
pessoas transexuais a partir de questões estruturais que reproduzem um sistema de opressão,
cujo preconceito é apenas a ponta do iceberg.
São várias posições teóricas para se pensar o direito ao reconhecimento das pessoas
transexuais, por mais distintas que possam ser, todas partem da mesma premissa valorativa
que se reconhece as pessoas transexuais como merecedoras do mesmo tratamento social, sem
qualquer distinção ou discriminação, que as exclua do ambiente social ou reduza sua
dignidade, sua liberdade e sua igualdade.
4. CONCLUSÃO
O direito de acesso ao banheiro público segundo a identidade de gênero deveria ser
uma questão tão natural quanto a necessidade fisiológica de usar banheiro, contudo, a questão
deixa de ser simples ao assumir um comportamento social de segregação e discriminação por
parte da população que se recusa em reconhecer a existência, a dignidade e os direitos das
pessoas transexuais.
Os supostos argumentos em defesa da segregação e da proibição são injustificáveis,
são puramente discurso de ódio e de preconceito que não merecem guarida na sociedade, é
claro que precisam ser enfrentados como forma de se buscar uma convivência social pacífica
entre todas as pessoas independentemente da orientação sexual ou da identidade de gênero.
É preciso compreender que o Estado Democrático de Direito significa a defesa dos
Direitos Humanos e um espaço laico de convivência plural, onde todos tenham liberdade,
dignidade e igualdade, garantidos pelo direito, por esta razão espera-se que o STF venha a
70
cumprir o seu papel de guardião da Constituição e reconhecer não apenas o direito ao
banheiro público segundo a identidade de gênero, mas o dever de se respeitar as pessoas
transexuais em todo e qualquer lugar.
A questão do acesso ao banheiro público é apenas um sintoma de um problema social
maior, derivado de uma sociedade injusta e opressora, em que grupos são marginalizados e
vulnerabilizados, seja por motivo de gênero, de raça ou de classe, ou mesmo todos os fatores
de forma transversal.
A existência de uma norma ou lei não representará por si só a garantia de inclusão
social, por razões que não cabe analisar neste momento, mas é um importante passo para o
reconhecimento e valorização destas pessoas, como pessoas comuns, iguais a todas as outras,
detentoras dos mesmos direitos e da mesma dignidade.
O banheiro público é um espaço que revela o quanto uma comunidade é educada para
se pensar no respeito ao outro e o quanto se está preparada para conviver democraticamente
com o outro, tornando-se assim uma fonte de aprendizado democrático, que serve para criar e
compartilhar espaços de respeito e convivência, necessários para uma sociedade que pretende
ser civilizada e democrática.
O direito, reconhecido na jurisprudência do STF, terá o papel de repercutir e
uniformizar decisões em todo o país, contribuindo para a compreensão destes direitos dentro
do próprio Poder Judiciário, para que decisões como esta do Tribunal de Santa Catarina, que
não foi o único tribunal a negar o direito de acesso ao banheiro público segundo a identidade
de gênero, se tornem cada vez mais raras até o seu total desaparecimento dos anais da
jurisprudência.
A decisão do STF se positiva (e é o que se espera) não será o fim de um processo
histórico de luta por aceitação, reconhecimento e liberdade, mas consagrará a vitória de uma
importante batalha, na luta por uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática, pautada
nos Direitos Humanos. Mas, se negativa, representará o momento em que o direito se aparta
da justiça, abrindo espaço para a institucionalização da discriminação, da opressão e da
vulgarização da violência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
71
identidade de gênero. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São
Paulo, v. 113, p. 645- 668, jan./dez. 2018.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário Virtual). Tese 778-RG. Relator: Min. Roberto
Barroso. Brasília, 10 de março de 2015b. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incident
e=4657292&numeroProcesso=845779&classeProcesso=RE&numeroTema=778>. Acesso
em: 01 out. 2020.
72
novembro de 2017. Disponível em:
<https://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_24_por.pdf>. Acesso em: 20 out. 2020.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2. ed.
São Paulo: 34, 2009.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito ao reconhecimento para gays e lésbicas. Revista
SUR, São Paulo, ano 2, n. 2, p. 64-95, 2005.
73
e Prefeito Municipal de Sorocaba. Relatora: Cristina Zucchi. São Paulo, 9 de outubro de
2019. Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do>. Acesso em: 20
out. 2020.
74
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR
HOMENS HOMOSSEXUAIS: A ADI 5543 E A
NECESSIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
INCLUSIVAS
Natália Viana Nogueira14
Cristiane Dantas Andrade15
Priscila Ribeiro Jeronimo Diniz16
1. INTRODUÇÃO
A doação de sangue por homens homossexuais ainda é vista como grande tabu na
realidade brasileira. As raízes estadunidenses de um preconceito relacionado a essa parcela
considerável da sociedade construíram uma cultura social de segregação, discriminatória e
retrógrada. Dessa forma, criou-se um cenário de marginalização desse público frente aos mais
diversos campos, incluindo o da saúde pública.
O direito de realizar o ato de transfusão sanguínea, notoriamente, constitui não só um
gesto de formação comunitária, mas também se evidencia como uma manifestação clara do
direito à dignidade humana. Esse direito compreende tanto àquele que recebe o resultado
dessa ação, como também aos que voluntariamente desenvolvem essa prática altruísta de
ajudar ao próximo sem qualquer fim lucrativo.
Entretanto, por muito anos e em muitos casos, até hoje essa questão continua, por
vezes, sendo violada e não garantida. A problemática assevera-se quando, além do
preconceito socialmente fixado de difícil enfretamento, essa manifestação segregacionista
torna-se institucionalizada pelas regulamentações, normas e legislações brasileiras, formando
um verdadeiro preconceito institucional e legalizado.
Prova dessa realidade é que, no Brasil, a Resolução da Diretoria Colegiada de nº
153/2004 e RDC nº 34/2014, ambas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA,
14
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
naatdir@hotmail.com.
15
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
cristianedantasandrade@hotmail.com.
16
Doutoranda em Ciências das Religiões e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba, Juazeiro
do Norte/CE. E-mail: priscilaribeiroj@hotmail.com.
75
estabeleceram proibição ampla quanto à doação de sangue por homens que possuem relações
sexuais com outros homens.
Nesse sentido, a Agência instituiu normativos que trazem de forma clara uma vedação
a esse público.
O Ministério da Saúde também dispôs de uma proibição legal para esse ato e
determinou de modo expresso, no art. 64 da Portaria 158/2016, que “Considerar-se-á inapto
temporário por 12 (doze) meses o candidato que tenha sido exposto a qualquer uma das
situações abaixo: [...] IV - homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as
parceiras sexuais destes” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Nota-se que ambos os institutos reforçam e ratificam uma cultura de preconceito e
segregação para com os homens que possuem relação com outros homens, tornando o
enfrentamento ainda mais dificultoso quando essa prática é revestida pela própria figura
estatal.
Ainda que decorrente do Estado, a inconstitucionalidade de tais proibições é evidente,
e independentemente do seu momento de construção e introdução, tornam-se injustificáveis a
existência, permanência e prolongamento dessas práticas institucionalizadas de caráter
deveras primitivo.
Reconhecida essa questão, após uma longa e forte atuação das frentes sociais que
buscam e lutam pelos direitos das camadas e grupos sociais mais vulneráveis, conseguiu-se
levantar e movimentar a pauta sobre a inconstitucionalidade dessas normas existentes na
dinâmica nacional e de aplicação diária nos núcleos de doações.
A repercussão foi tamanha, que a problemática chegou ao âmbito do Supremo
Tribunal Federal – STF, para que este se posicionasse quanto à constitucionalidade ou não
dos dispositivos apontados. A partir disso, instaurou-se a Ação Direta de
Inconstitucionalidade 5543 (BRASIL, 2020), com o intuito de retirar essas normas que
institucionalizam e autorizam uma prática preconceituosa.
Em maio de 2020, a ação foi julgada de modo conclusivo, pois se encontrava suspensa
desde maio de 2017 sem que a pauta fosse devidamente abordada, permitindo que, mesmo
com o debate sobre essa questão, o público principal das proibições continuasse a sofrer
rejeições e retaliações nas tentativas de doações.
Após muita discussão, houve vitória no sentido de declarar a inconstitucionalidade das
normas, deixando claro o caráter violador de todas e como as disposições atentavam
diretamente ao princípio basilar e primordial do ordenamento brasileiro, a dignidade da
76
pessoa humana, em sua vertente mais e solidária e humanitária possível, que é a de um ato de
doação seu sangue para ajudar alguém.
Mesmo com o avanço, a problemática se perpetua ainda na realidade social, tendo em
vista que a isolada decisão que reconhece a inconstitucionalidade das previsões não é
suficiente para gerar, por si só, impactos reais na dinâmica coletiva. Nesse contexto, é
necessário visualizar e estudar quais ferramentas são capazes de mudar de forma estrutural as
construções e formações sociais para essa temática.
77
302.0) (LAURENTI, 1984), denunciando, flagrantemente, como a prática do preconceito
conseguiu formar suas raízes e galgar forças no próprio sistema.
A correlação com o público homossexual foi tamanha que a ocorrência da doença por
si só, ainda que não fosse decorrente da prática de relação sexual de um homem com outro
homem, era socialmente vista como uma escória, resultado dessa prática que era tida e
conhecida como a “imoralidade homossexual”.
Decorrente desse paradigma, dá-se início às primeiras retribuições internas com forte
teor ideológico e preconceituoso no Brasil. Em 1933, de modo muito mais reagente do que no
cenário estrangeiro, tem-se a introdução da Portaria nº 1.376 (BRASIL, 2016), a qual proibiu
pela primeira vez, em solo nacional, a doação de sangue por homens homossexuais.
Argumenta-se que, naquele momento, foi uma interferência inteligente de ser
realizada, no que diz respeito ao aumento exponencial do número de contaminações pelas
principais doenças sexualmente transmissíveis à época (PELÚCIO; MISKOLCI, 2020). Não
obstante, a construção de estigmas sociais também foi reforçada consideravelmente no
mesmo contexto.
Tempos depois, em 2004, tem-se a Resolução 153/2004 (BRASIL, 2004) da
ANVISA, mantendo a referida proibição, e dez anos depois, advém outra uma resolução no
mesmo sentido, inclusive contendo textos idênticos e de igual teor, a Resolução da Diretoria
Colegiada nº 34 da ANVISA, de 11 de junho de 2014 (BRASIL, 2014).
Por fim, a normativa mais contemporânea que também contemplou a mesma
proibição foi a Portaria nº 158 de 05 de fevereiro de 2016 (BRASIL, 2016) – dessa vez
através do próprio Ministério da Saúde – que em seu artigo 64 redigiu o rol de inaptos
temporários. Estabeleceu-se, assim, o prazo de 12 meses de inaptidão para doação de sangue
para aqueles que se enquadrassem em algum das hipóteses trazidas, e no inciso do IV do
artigo citado, há a “restrição aos homens que se relacionam sexualmente com outros
homens”, popularizando a sigla “HSH”17.
Logo, deveriam os homens homossexuais se absterem da prática de relação sexual
pelo prazo mínimo de 12 meses para que pudessem realizar a doação de sangue, o que,
claramente, viola a dignidade da pessoa humana e demais direitos fundamentais daquele
possível doador.
Um ponto curioso a se observar diante desse delineamento formador da restrição para
doação de sangue, é que, concretamente, ocorre a prática do chamado “bis in idem”, visto
17
Aplicada para se referenciar à prática de atividades sexuais homossexuais, sem excluir desse círculo os trans e
bissexuais.
78
que as disposições normativas já possuem outras previsões que são de fato coerentes com a
definição de “conduta de risco”18 que não pessoalizam tais práticas a apenas um grupo
específico de pessoas.
A proibição de doação de sangue por homens homossexuais, expressamente prevista
no inciso IV do art. 64 da Portaria, constitui, portanto, norma de caráter discriminatório e
preconceituoso, posto que o fator principal a ser levado em consideração na transfusão
sanguínea é o comportamento de risco do doador e não tão somente a sua orientação sexual.
Com essas restrições impostas legalmente no país, ainda que notória a violação de
preceitos fundamentais, a proibição de doação de sangue por homens homossexuais foi
mantida por bastante tempo até que as referidas normas fossem impugnadas judicialmente
através da ADI 5543 julgada pelo STF.
18
Vide incisos do art. 64 da Portaria nº 158/2016.
79
Com o cenário pandêmico instaurado pelo coronavírus (COVID-19), a discussão
voltou à tona, quando os Hemocentros do país sofreram com a queda significativa de doações
de sangue e baixa nos estoques de bolsas (OLIVEIRA, 2020). A ADI, então, retornou para
julgamento em 01 de maio e teve a maioria dos votos declarados pelo plenário virtual do STF
no dia 08 de maio de 2020.
19
O acórdão na íntegra, com os votos de cada ministro está disponível no site do STF, e para este tópico serão
somente abordados os argumentos principais que levaram aos integrantes do Supremo votarem pela procedência
ou improcedência da ADI 5543.
80
O ministro Luís Roberto Barroso também concordou com o ministro-relator,
considerando as normas desproporcionais e que a janela imunológica imposta peca pelo
excesso (STF, 2017b).
Os ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Carmen Lúcia seguiram o voto do
relator.
A divergência iniciou ainda em 2017, quando o ministro Alexandre de Moraes
proferiu seu voto afirmando que a proibição de doação de sangue por homens homossexuais
baseia-se em dados técnicos e não na orientação sexual do doador. Para o ministro, deve-se
garantir também a segurança do receptor e do profissional e que a leitura dos artigos
impugnados da Portaria do Ministério da Saúde e da Resolução da Anvisa, fora do contexto
da Política Nacional de Sangue, Componentes e Derivados, transparece uma discriminação
contra homossexuais masculinos, sendo, portanto, necessário separar fatos técnicos de
preconceitos (STF, 2017b).
A continuar com a divergência, posicionou-se o ministro Ricardo Lewandowski
entendendo que o STF há de adotar uma compostura autocontida quando as determinações de
autoridade sanitárias estiverem embasadas em dados técnicos e científicos demonstrados,
além de que deve guiar-se considerando as consequências práticas da decisão, conforme o art.
20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, evitando-se interferência nas
políticas públicas cientificamente comprovadas, “especialmente quando forem adotadas em
outras democracias desenvolvidas ou quando estejam produzindo resultados positivos” (STF,
2020). O ministro Celso de Mello posicionou-se da mesma maneira e acompanhou o voto do
ministro Lewandowski.
Por fim, também divergiu do relator o ministro Marco Aurélio de Melo (STF, 2020),
afirmando que, ainda que considere-se como severa a restrição, deve-se resguardar um bem
jurídico maior – a saúde pública. Além disso, relata o ministro que a inaptidão temporal não
cabe exclusivamente aos homens homossexuais, mas também para outros grupos, a exemplo
dos cidadãos que se envolvem com prostituição ou aqueles que tenho feito tatuagens ou
piercings pelo mesmo período de doze meses.
81
doze meses e a decisão ser vista como um avanço, ela não possui efeitos imediatos na
sociedade.
O rompimento da ordem jurídica anterior não causa a quebra automática dos estigmas
sociais, costumes e práticas anteriores. Fato é que, mesmo após o Supremo declarar como
inconstitucionais as normas de proibição de doação de sangue por homens homossexuais,
alguns lugares ainda mantiveram o comportamento proibitivo, impedindo que as doações
acontecessem.
Alguns jovens doadores chegaram a ir aos Hemocentros, sabendo da decisão, e ao
responderem o questionário feito pelo profissional da saúde, afirmando serem homossexuais,
foram impedidos de praticar a doação (REIS, 2020). Além disso, relataram os jovens que
chegaram a sofrer constrangimentos diante da situação de proibição (VASCONCELLOS,
2020).
Dessa maneira, é preciso que se crie maneiras de promover a efetivação dessa decisão,
que concedeu a ampliação de um direito fundamental à dignidade da pessoa humana, e as
políticas públicas mostram-se como instrumentos importantíssimos para isso.
Tem-se a partir da definição de política pública que ela é:
[...] uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público. Vejamos essa
definição em detalhe: uma política é uma orientação à atividade ou à passividade
de alguém [...]. Uma política pública possui dois elementos fundamentais:
intencionalidade pública e resposta a um problema público; em outras palavras, a
razão para o estabelecimento de uma política pública é o tratamento ou a
resolução de um problema entendido como coletivamente relevante (SECCHI,
2011, p. 2 e 11).
Trazer esse conceito auxilia na compreensão das políticas públicas como formas de se
superar problemas que correspondem à realidade de uma coletividade ou grupo.
Como visto no início deste estudo, o contexto em que se inseriram os homens
homossexuais como responsáveis pela transmissão do vírus da HIV iniciado na década de 80
perpetuou um estigma preconceituoso e que perdura até hoje em sociedade. O público
LGBTQI+, infelizmente, sofre de inúmeras maneiras, de modo que a presença de políticas
públicas de inclusão e proteção20 se tornam (mais que) necessárias, e com questões de saúde
não seria diferente.
A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (PNSI LGBT) (BRASIL, 2011) vem sendo desenvolvida desde 2011 e é um
20
Sobre o histórico de políticas públicas para o público LGBTQI+, recomenda-se a leitura do artigo: “Notas
sobre a trajetória das políticas públicas de direitos humanos LGBT no Brasil” , de Cleyton Feitosa Pereira,
disponível em: https://www3.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/article/viewFile/307/168.
82
exemplo claro de como as políticas públicas são fundamentais para promoção da igualdade e
dos direitos humanos nesse aspecto. Assim,
Essa política pública, então, fixou bases norteadoras, diretrizes e objetivos a serem
seguidos por todos para promover o acesso à saúde de forma integral e ampla à população
LGBTQI+ em todos os espaços do Sistema Único de Saúde no Brasil.
No entanto, embora determinante a criação dessa Política Nacional, nada ela traz
acerca da doação de sangue a ser realizada pelo público LGBTQI+, carecendo de atualização
neste sentido para que se possam pautar ações e estratégias de visibilidade desse avanço
social.
A despeito da grande importância que a declaração de inconstitucionalidade das
normas proibitivas teve na sociedade, a falta de meios que promovam sua concretização a
torna sua eficácia quase que inexistente.
A doação de sangue no Brasil por homens homossexuais necessita de atenção no que
concerne à efetivação desse ato, não só pelos próprios doadores, que agora o podem fazer,
mas também pelos profissionais da área para garantir o devido estímulo a essa prática.
É necessária uma participação ativa dos órgãos estatais na promoção de políticas
públicas (além da própria sociedade) para que façam acontecer a mudança na prática.
Alguns exemplos de formas de promoção dessas políticas são: a criação de um
Programa de Incentivo específico para doação de sangue pelo público LGBTQI+, em especial
pelos homens homossexuais, de modo que se promovam campanhas para uma maior
receptividade e inserção da comunidade nesses espaços; a realização de ampla divulgação em
mídias dessas campanhas; incentivos à iniciativa privada que promovam essa doação, além
da inclusão de profissionais LGBTQI+ dentro dos Hemocentros e Hemonúcleos do país, sem
prejuízo de outras demais formas de promoção dessa política pública.
Embora tenham sido exemplificados algumas formas de se promover mudanças nesse
cenário, o intuito deste estudo não é criar mecanismos próprios de efetivação para doação de
sangue por homens homossexuais, mas ressaltar a importância que as políticas públicas têm
em assegurar a promoção de direitos que devem ser iguais para todos.
83
6. CONCLUSÃO
O histórico brasileiro de construção social sobre a homossexualidade é fixado em
bases eminentemente preconceituosas e esse fator refletiu e reflete diretamente na formação,
criação e modificação das normativas que regem a vida em coletividade. A partir disso, por
muito tempo se mantiveram existentes e em aplicação direta várias normativas
institucionalizadas que permitiram uma segregação e perpetuação do preconceito.
Por serem decorrentes da criação do próprio Estado e refletirem a percepção
retrograda da sociedade, a prática de exclusão e discriminação do público homossexual foi
sendo transformada em rotina nos mais diversos cenários, sobretudo nos Hemocentros e
Hemonúcleos, os quais não possuem aparato receptivo para acolher pessoas que querem
apenas ajudar outras pessoas.
Após vivenciada essa realidade por anos, a declaração da inconstitucionalidade das
normas que possuíam cunho restritivo seletivo é inegavelmente um marco na luta contra
práticas segregatícias e homofobias. Não obstante, essa alteração de cunho meramente formal
não é capaz de sozinha reformar as estruturas sociais que foram formadas a partir de visões
discriminatórias.
Em razão disso, é preciso que ocorra a implementação de políticas públicas
específicas para essa situação, de modo que essa luta não esteja somente pautada em mero
formalismo jurídico e que as mudanças ocorram, de fato, em sociedade. As políticas públicas,
portanto, mostram-se como instrumentos viáveis para concretização e efetivação de direitos
que devem ser garantidos a todos os indivíduos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Eduardo. (In)constitucionalidade da doação de sangue por homossexual
masculino: direito individual versus interesse coletivo. Disponível em:
<https://www.academia.edu/37211723/_in_constitucionalidade_da_doacao_de_sangue_por_
homossexual_masculino_direito_individual_versus_interesse_coletivo>. Acesso em: 21 out.
2020.
OLIVEIRA, Joana. Em decisão histórica, STF derruba restrição de doação de sangue
por homossexuais. 2020. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2020-05-08/em-decisao-historica-stf-derruba-restricao-de-do
acao-de-sangue-por-homossexuais.html>. Acesso em: 26 out. 2020.
PEREIRA, Cleyton Feitosa. Notas sobre a trajetória das políticas públicas de direitos
humanos LGBT no Brasil. Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, Bauru, Sp, v. 4,
n. 1, p. 115-137, jun. 2016. Disponível em:
<https://www3.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/article/viewFile/307/168>. Acesso em: 17
out. 2020.
REIS, Vivian. Jovem processa hemocentro em SP que recusou doação de sangue por ele
ser gay. G1 SP. 2020. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/25/jovem-gay-processa-hemocentro-em-
sp-que-recusou-doacao-de-sangue.ghtml>. Acesso em: 20 out. 2020.
85
STF (Imprensa). Proibição de doação de sangue por homens homossexuais é
inconstitucional, decide STF. 2020. Disponível em:
<http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=443015&ori=1>. Acesso
em: 27 out. 2020.
86
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA
LGBTQIA+
Luiza Ferro Marques Moraes21
Letícia Romeira Belchior22
Ricelly Pires Vieira3
Luiz Henrique Fernandes Musmanno4
1. INTRODUÇÃO
A literatura médica e acadêmica estabelece uma conexão entre o apoio social e a
saúde física e mental em populações idosas. Sendo que, o apoio social e o cuidado informal
para lésbicas e gays idosos, possuem grande impacto ao longo da vida, tendo papel mitigador
do estigma e discriminação social, político, econômico e do preconceito histórico (BARKER,
J.; DE VRIES, B.; HERDT, G.,2006). Diante disso, faz-se necessário o estudo da expressão
sexual de adultos mais velhos, a qual é influenciada por diversos determinantes psicossociais
e biológicos, principalmente em populações LGBTQIA+, nos quais esse estigma contra a
expressão sexual pode causar ocultação da orientação sexual devido ao medo de rejeição e
esse comprometimento cognitivo afeta a satisfação e consequentemente o nível de bem estar
do indivíduo (SRINIVASAN, S. et al., 2019). Assim, ser minoria, atualmente, é sinônimo de
luta e força. Fazer parte de duas minorias é, portanto, sinônimo de luta, força e perseverança.
Nesse sentido, a população idosa LGBTQIA+ tem um lugar de fala significativo para
desmistificar tabus e preconceitos, haja vista que a sexualidade do idoso é um assunto que
gera dúvidas e inquietações, em especial, relacionado a parcela LGBTQIA+.
Em nossa realidade sociocultural, somos condicionados desde a infância a valorizar e
exaltar a juventude com características estereotipadas relacionadas a beleza, vigor, disposição
e capacidade exacerbada de produção. A imagem da velhice, no entanto, é rotulada como um
21
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. luiza.ferromoraes@gmail.com.
22
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. leticiaromeira15@gmail.com
3
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. ricelly.pires@hotmail.com
4
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS.Médico da SMS
Goiânia. Membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Goiânia, Goiás. musmanno@gmail.com
87
processo de perda de habilidades, de abandono, de exclusão social e de incapacidade física e
mental. Com isso, o processo de envelhecimento tende a ser um desafio na sociedade,
principalmente por seu caráter social e pela desvalorização dessa fase da vida. No caso de
pessoas LGBTQIA+, essa sensação e incômodo com a velhice pode ser ainda maior,
considerando que, para esse segmento, o corpo tem uma dimensão social e simbólica forte e
mutável, que é extremamente reprimida em pessoas idosas (PEREIRA; AYROSA, 2012).
Nesse sentido, a invisibilidade dos idosos LGBTQIA+ é inegável e possui algumas
possíveis justificativas, que é a tendência da sociedade em estereotipar os idosos como
“assexuados”, a concepção de que os idosos são heterossexuais e, também, o preconceito que
a população tem, em geral, com o público LGBTQIA+. Nesse sentido, há muitas
consequências para estudar essa população, haja vista que, muitas vezes, eles evitam
exposição social por medo de serem vítimas de preconceito e violência. Além do mais, na
área da saúde, essa população também se priva de ter um acompanhamento e os cuidados
necessários na velhice por terem medo do julgamento no ambiente médico, que deveria ser
um local indispensável para a população idosa ter uma melhor qualidade de vida. Dessa
forma, as necessidades e a existência dos idosos LGBTQIA+ permanecem desconhecidas
pela população em geral e acabam sendo ignoradas pela maioria das instituições. (KIMMEL;
HINRICHS; FISHER, 2015; OREL, 2014)
No que se diz à sexualidade, discutir esse assunto durante a velhice, seja pelas
alterações fisiológicas do corpo, seja pelos preconceitos relacionados a essa parcela, é mais
complexo, pois envolve mais criatividade e interesse para a busca da satisfação. Apesar da
afetividade sexual não estar relacionada com a idade, o envelhecimento pode favorecer uma
atividade sexual mais satisfatória, pois os idosos acabam oferecendo aos seus companheiros
algo que o agrada e o satisfaz, não se preocupando com um bom desempenho físico e
virilidade. Para que essa realidade ocorra, faz-se necessário um processo chamado de
“desgenitalização sexual”, no qual os indivíduos reconhecem novos pontos e formas de
prazer em si próprios e em seus parceiros para terem relações mais prazerosas (BARKER, J.;
DE VRIES, B.; HERDT, G., 2006). Toda essa discussão deve ser reforçado nas políticas
públicas de impacto direto na velhice, justificando a necessidade de se problematizar e
repensar como está sendo lidado os fatores como identidade de gênero, erotismo, desejo e
práticas sexuais dos velhos contemporâneos (HENNING, 2017).
O ajustamento entre os idosos é confirmado pela literatura como um preditor do
funcionamento físico e fisiológico, saúde mental (JANG; POON; MARTIN, 2004),
fisiológico e autonômico (OZAKI et al., 2007). O ajustamento ao envelhecimento (AaE)
88
integra todas essas variáveis que emergem da auto-regulação adaptativa de desafios comuns
relacionados à idade (WROSCH et al., 2003).
O AaE de idosos LGBTQIA+ pode ter influências por diversos fatores, e podendo ser
de forma negativa. No geral, os idosos LGBTQIA+ sofrem discriminação e preconceito
sexual e, como consequência, a orientação sexual ou de identificação de gênero fica oculta
nessa comunidade (KIMMEL, 2014).
O estigma maior ocorre para com o idoso homoafetivo gay, já que a sexualidade está
muito mais voltada para a necessidade da ereção masculina, a qual, naturalmente diminui
com o avanço da idade. Porém, sexualidade pode ser exercitada de forma mais ampla. Mas,
por ser uma sexualidade imersa em preconceito, não há uma abertura do idoso homoafetivo
em falar com as pessoas ao seu redor, e até mesmo com profissionais da saúde, sobre as
dificuldades que encontram ao tentar realizar o ato sexual e, assim, não obtém orientações
sobre a redescoberta de novos pontos de prazer em seus corpos (ARAÚJO et al., 2020).
2. CONCLUSÃO
Dessa forma, conclui-se que os preconceitos frente a velhice LGBTQIA+ ainda se
fazem presentes de uma forma bastante peculiar, podendo, portanto, comprometer a
qualidade da vida sexual e a diversidade sexual do idoso, fato decorrente da falta de
informações agregado ao preconceito da sociedade. Infere-se, portanto, q ue a sexualidade
continua sendo parte integrante da qualidade de vida de muitos idosos e há a necessidade
exponencial de prestação de cuidados de saúde e o planejamento de serviços institucionais, o
que só será possível a partir de uma compreensão abrangente da sexualidade desses
indivíduos, objetivando a melhoria da educação, da pesquisa, das políticas e do atendimento
clínico para essa população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, C. M. DE et al. A (in) visibilidade do envelhecimento LGBT. Revista
Longeviver, p. 107–110, 2020.
BARKER, J.; DE VRIES, B.; HERDT, G. Social support in the lives of lesbian and gay men
at midlife and later. Sexuality Research & Social Policy, San Francisco, v. 3, n. 2, p. 1-23,
2006.
JANG, Y.; POON, L. W.; MARTIN, P. Individual Differences in the Effects of Disease and
89
Disability on Depressive Symptoms: The Role of Age and Subjective Health. The
International Journal of Aging and Human Development, v. 59, n. 2, p. 125–137, 22 set.
2004.
OREL, N. A. Investigating the Needs and Concerns of Lesbian, Gay, Bisexual, and
Transgender Older Adults: The Use of Qualitative and Quantitative Methodology. Journal of
Homosexuality, v. 61, n. 1, p. 53–78, 2 jan. 2014.
OZAKI, A. et al. The Japanese Centenarian Study: Autonomy Was Associated with Health
Practices as Well as Physical Status. Journal of the American Geriatrics Society, v. 55, n.
1, p. 95–101, jan. 2007.
SRINIVASAN, S. et al. Sexuality and the Older Adult. Current psychiatry reports, v. 21,
n. 10, p. 97, 14 out. 2019.
90
DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL
NO BRASIL: A HOMOFOBIA COMO
INSTRUMENTO DE SUA PRÓPRIA
MANUTENÇÃO SOCIAL
Gabriela Cristina Camara da Silva23
1. INTRODUÇÃO
Desde o primeiro Código Civil Brasileiro, em 1916, até o atualmente vigente (de
2002), passaram-se 86 anos e, por toda a história, direitos e vivências LGBTs foram
esquecidas ou negligenciadas. Tratando-se do casamento ou união estável homoafetiva –
mesmo na criação do Código mais atual – nenhuma lei abordou especificamente o assunto,
ficando a cargo da jurisprudência seu reconhecimento.
Entretanto, mesmo com a união estável entre pessoas do mesmo sexo reconhecida
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011 e com resolução do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) permitindo o registro de casamento entre pessoas do mesmo sexo nos cartórios
– sendo, assim, um núcleo familiar legal como qualquer outro – casais homossexuais ainda
enfrentam diversos impasses na adoção de crianças e/ou adolescentes, tendo seu ânimo de
constituição familiar barrado pelo preconceito.
Dessa forma, ao manifestarem interesse na adoção homoparental, os casais se
deparam com argumentos contrários que, simultaneamente ao fato de serem produtos da
homofobia, atuam para a manutenção dela.
Tendo em vista tal impasse enfrentado, o presente trabalho se justifica pela resistência
– ainda forte e cientificamente infundada – à essa adoção, mesmo após o reconhecimento
jurisprudencial do direito há quase uma década.
A motivação parte, assim, da observação da restrição de direitos provocada pelo
preconceito e seus efeitos negativos na vida de LGBTs, examinando o impacto negativo da
homofobia numa democracia e a perpetuação de um tratamento não igualitário num processo
de adoção.
23
Discente de Direito da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Londrina – PR. Email:
gabrielaccamara13@gmail.com.
91
Assim, espera-se contribuir para o reconhecimento social do impacto estrutural da
homofobia e, especificamente, como ela atua no processo de adoção homoparental e a
importância da quebra do ciclo existente entre sua manifestação e consequente manutenção.
Considerando a abrangência de contextos em que a homofobia se apresenta na
sociedade brasileira e os diversos modos que pode atuar, pode-se delimitar sua atuação e
impacto, analisando somente como ela se apresenta e influencia num processo de adoção
homoparental.
Nessa perspectiva, busca-se responder a seguinte questão de pesquisa: Como a
homofobia dificulta a adoção homoparental e estabelece uma relação cíclica entre sua atuação
nesse processo e a sua própria manutenção social?
Objetiva-se, portanto, mostrar a influência do preconceito em determinados impasses
que casais homoafetivos enfrentam num processo de adoção no Brasil. E, mais
especificamente, expor como a homofobia – internalizada em estigmas socialmente
estabelecidos – obsta o exercício de direitos já adquiridos, utilizando-se de si para reforçar e
propagar sua própria existência e manutenção, constituindo uma relação cíclica.
Neste projeto foi inserida uma proposta metodológica qualitativa de pesquisa
descritivo-explicativa, do tipo documental-bibliográfica, com viés dedutivo, que baseou-se
em publicações científicas das áreas do Direito, da Sociologia e da Psicologia,
especificamente no que tange à vivência LGBT num processo de adoção homoparental.
Começará, portanto, tratando do conceito de família mais inclusivo e próximo do
assunto tratado e como a legislação brasileira é heteronormativa e omissa quanto aos direitos
LGBTs no processo de adoção. Assim, será exposto como a jurisprudência agiu para
minimizar a negligência, reconhecendo a união homoafetiva como entidade familiar e a
significância de tal ato, com uma ressalva para o ainda existente distanciamento entre casais
homoafetivos e a oficialização da união estável ou casamento civil.
Logo em seguida, contará com uma análise dos mitos que contrariam a adoção
homoparental, objetivando, por fim, expor a ligação direta com a homofobia e como esta
realiza uma ação cíclica entre sua propagação e sua manutenção social e porquê o ciclo deve
ser quebrado para que LGBTs possam exercer plenamente seus direitos.
92
Partindo de uma conceituação de família na doutrina, Venosa (2011, p. 2) traz uma
importante ao considerar não apenas laços consanguíneos, mas também aspectos morais e
éticos, dizendo que
93
direito previsto. A redação, porém, peca em usar apenas termos femininos em determinados
artigos – “segurada empregada ou trabalhadora avulsa”; “empregada do
microempreendedor”; e “demais seguradas”, do caput e § 3o, do art. 72 e caput do art.73,
respectivamente, negligenciando o direito a casais homossexuais formados por homens.
A pensão por morte, por sua vez, também não possui especificações de gênero ao
expandir o direito “ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer”, como versa o
caput do art.74.
O auxílio-reclusão, por fim, segue a linha de redação da pensão por morte descrita
acima, uma vez que a única especificação é feita pelo caput do art.80 ao ditar que são
beneficiários os “dependentes do segurado [...]”.
O problema principal, porém, referente a todos os benefícios citados, é que o inciso I
do art.16 a Lei 8.213/91 traz, dentre os requisitos para caracterizar o beneficiário do Regime
Geral da Previdência Social, as palavras “cônjuge”; “companheiro” ou “companheira”.24
Assim, essas denominações restringem o direito apenas aos casais que constituem uma união
estável ou um casamento civil – o que, até 2011, era negado aos casais homoafetivos. Dessa
forma, por muitos anos, o Direito marginalizou aqueles que não se encontravam numa
relação heteroafetiva, cabendo à jurisprudência aplicar a isonomia e a dignidade humana
como direitos constitucionais e prover o direito a todos, uma vez que a orientação sexual não
deve ser motivo norteador de qualquer decisão jurídica, como fica explícito no entendimento
do Supremo Tribunal Federal:
95
da família” (art. 42, parágrafo 2º). Houve, assim, uma harmonia entre as legislações quanto
aos direitos LGBTs de constituição familiar, equiparando casais homoafetivos aos
heteroafetivos, eliminando quaisquer impedimentos legais que casais LGBTs poderiam
enfrentar num processo de adoção.
Não há pesquisas científicas atestando que a orientação sexual dos pais faz
diferença significativa na educação de crianças e adolescentes. Ao contrário, os
estudos que existem nesta esteira apontam, além da negativa a tal hipótese
(interferência da orientação sexual dos pais na dos filhos), a relevância do afeto e
da sólida estrutura emocional, como os elementos indispensáveis e preponderantes
ao pleno ou saudável desenvolvimento da prole (JÚNIOR, 2011, p.128).
b. Abuso sexual
Um dos mitos é a maior probabilidade de um casal homossexual abusar de seu filho.
O argumento tem relação intrínseca com o modelo patologizador religioso e médico que
resistiu cientificamente até 1973, quando a Associação de Psiquiatria Americana alterou a
lista de doenças mentais, retirando a homossexualidade. Os efeitos sociais, porém, não se
alteraram: homossexuais ainda enfrentam o estereótipo de pervertidos e sexualmente
descontrolados.
Como afirma a psicóloga Mariana Farias (2007), não há registros que comprovem a
relação entre a orientação sexual do adulto e a maior incidência de abuso sexual – sendo,
dessa forma, comprovada a homofobia como única fonte do argumento em questão e os
efeitos da utilização desta como argumento para ferir os direitos LGBT mais uma vez.
97
a figura feminina e maternal em um papel de mais subordinação dentro do relacionamento –
o que é quebrado numa relação homoafetiva.
Além do mais, não são apenas filhos de pais homoafetivos que experienciam essa
“ausência”, uma vez que existem diversas composições familiares que não possuem ambos os
sexos no papel de pais: como crianças criadas por avós e mães ou pais solos, que não são
alvos do mesmo argumento na mesma frequência.
d. Desenvolvimento social
Há uma grande perpetuação da ideia de que filhos de pais homossexuais enfrentariam
problemas em seu desenvolvimento social, com uma maior probabilidade em serem infelizes
fruto da composição familiar em que estão inseridos. Interligado à esta, há a ideia de que o
adotado sofrerá preconceitos por ter pais homoafetivos – preconceitos que são propagados
pelos próprios que alegam seu malefício.
Tais ideias, porém, não são cientificamente comprovadas – muito pelo contrário.
Segundo Patterson, responsável pela pesquisa “How Children Raised by Gay/Lesbian Parents
Fare?”, não há qualquer diferença em questões como sociabilidade e autoestima entre filhos
de pais heteroafetivos e filhos de pais homoafetivos – sendo assim, não é possível afirmar que
o desenvolvimento social será afetado pela composição familiar vivenciada.
A respeito do prejuízo no desenvolvimento social do adotado e interligando com a
patologização e promiscuidade da homossexualidade, a jurista Maria Berenice Dias (2011),
num livro chamado “UNIÃO HOMOSSEXUAL – O PRECONCEITO E A JUSTIÇA”,
argumenta que
98
4. A RELAÇÃO CÍCLICA ENTRE OS MITOS E A HOMOFOBIA
É evidente que, com a inexistência de embasamento científico, a principal figura por
trás de todos os argumentos contrários à adoção homoparental é o preconceito. Dessa forma,
é possível observar a relação cíclica existente entre cada um dos mitos e a homofobia.
De início, o mito de que a orientação sexual dos pais resultaria num filho
homossexual, traz, por si só, a homofobia em sua pura definição: “medo patológico em
relação à homossexualidade e aos homossexuais”25. Somente a ideia de ter que suportar a
existência de mais um homossexual causa receio e é, de imediato, repudiada e vista como
algo a ser combatido. A homofobia, causa maior da alimentação desse receio é, ao mesmo
tempo, a consequência de si própria: ela origina o dito “medo patológico” e é originada dele.
A ideia de que filhos de pais homossexuais estão mais propensos a sofrer abusos
sexuais destes, por sua vez, origina da ideia patologizadora da homossexualidade, ao mesmo
tempo em que visa propagar essa ideia, ambos com uma origem inicial em comum: o
preconceito com o diferente. Aquele que difere do tradicional – aqui, qualquer afastamento
da heteronormatividade – é visto como doentio e profano e, mesmo com a comprovação de
que a homossexualidade nada tem a ver com a incidência de abusos sexuais, a crítica –
originada, também, pela homofobia – continua a ser amplamente difundida, de forma a evitar
a adoção e causar repúdio social aos homossexuais. Assim, originando do preconceito,
também acaba atuando para com a sua permanência desse repúdio na estrutura social,
ultrapassando gerações com opiniões comprovadamente equivocadas, utilizando dos efeitos
da homofobia para violar os direitos mais uma vez.
A falta de influência de um dos sexos é a ideia mais facilmente combatida, uma vez
que pode ser comprovada com exemplos de outras constituições familiares alheias à
homossexualidade. Essa facilidade, porém, também expõe a forte atuação da homofobia no
tópico: a necessidade da influência de ambos os sexos no papel de pais não é tão argumentada
em outras realidades quanto é em uma que envolve a homoparentalidade, explicitando que a
preocupação não é nada mais do que fruto da homofobia, que atua para com a criação de um
obstáculo na adoção de casais homoafetivos e propaga a falsa ideia de que essa família não
possuirá o essencial, enraizando-a na estrutura social.
O prejuízo ao desenvolvimento social do adotado é o quarto e último mito debatido.
Este, ao afirmar que a homofobia atuará de forma perversa e impedirá que a criança ou
adolescente de desenvolva da maneira adequada, expõe, por si só, como a aversão à
25
Significado de Homofobia. Dicionário Online de Português. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/homofobia/>. Acesso em: 30/10/20.
99
homossexualidade é maléfica em tantos níveis, e ainda utiliza-se da narrativa somente no que
a beneficia. É notório que essa possibilidade sequer existiria se a homofobia fosse erradicada,
e não ciclicamente difundida – especificamente pelos que aqui reconhecem seu malefício
para com a sociedade – ignorando, assim, a raiz do problema e perpetuando-a para sua
conveniência e, consequentemente, maior violação de direitos.
5. CONCLUSÕES
Mostra-se, assim, comprovada a existência da relação cíclica entre a homofobia e os
mitos contra adoção homoparental e esse preconceito utiliza-se de si próprio como
instrumento para se manter numa estrutura social. Partindo e retornando em si, a homofobia é
a fonte e a consequência dos males que atuam na obstaculização num processo de adoção
homoparental.
A adoção aqui, diferente de quando feita por casal heteroafetivo, enfrenta não só o
tradicional processo jurídico mas, também, o social, que está constantemente objetivado em
barrar a livre vivência de LGBTs com falsas acusações e enraizamento destas.
Fica explícito a perversidade que o preconceito atua, violando repetidas vezes os
direitos LGBTs: por existir, se perpetuar e ainda argumentar-se de si para manter viva tal
violação – por décadas e em diferentes esferas – sempre posicionando a culpa do lado da
minoria, e não em si. Nada mudará, portanto, se a existência e perpetuação do ciclo não for
reconhecida e devidamente combatida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Código Civil (2002). Código Civil Brasileiro E Legislação Correlata. – 2 es. –
Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008.
DIAS, Maria Berenice. União Homossexual – O Preconceito E A Justiça. 5ª ed. São Paulo.
RT. 2011. p.100.
100
FARIAS, Mariana de Oliveira. Adoção por homossexuais: concepções de psicólogos
judiciários. 2007. 2012f. Dissertação (Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e
Aprendizagem) – UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru, 2007.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. São Paulo: Editora Atlas. Ed.11. 2011, v.4.
101
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO
CASEIRA: A CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES DE
CONFIANÇA ENTRE TENTANTES E DOADORES
Mariana G. Felipe26
Marlene Tamanini27
1. INTRODUÇÃO
A inseminação caseira (IC) é uma prática até então não regulamentada de reprodução.
Ou seja, feita fora do que normatiza as resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM)
no Brasil. Esta é uma técnica que consiste na sucção com uma seringa de 10 ou 5 ml do
sêmen de um doador para que ele seja, posteriormente, inserido próximo ao colo do útero da
pessoa receptora. Sendo assim, uma forma de reprodução sem o contato sexual por parte dos
envolvidos. Essas práticas são amplamente difundidas contemporaneamente, entre mulheres
em relacionamento lésbico, que buscam maternidade com doação de sêmen de forma caseira
e entre doadores do gameta. Elas se visibilizam em meios digitais nas trocas realizadas em
grupos específicos do Facebook, mas também podem ser encontradas em outros grupos de
mensagens como no WhatsApp e no Telegram. Esses espaços digitais são responsáveis não
apenas pelas trocas de informação a respeito das técnicas de IC em si, mas facilitam o contato
e a circulação de doadores e também de tentantes.
Apresento aqui discussões que estão em andamento para o trabalho de dissertação que
se encontra na fase de aproximação e interpretação deste material online e das entrevistas. As
fontes aqui apresentadas são publicações de tentantes e doadores em dois grupos do
Facebook analisadas de forma qualitativa como orientado por Gill (2002), entre novembro de
2017 e abril de 2018, e a análise preliminar de entrevistas, nos moldes propostos por Alberti
(2018) e Rosenthal (2002; 2014) realizadas no início de 2020. Esses dois materiais permitem
identificar os processo de construção da confiança que permeiam as relações entre tentantes e
doadores e assim possibilita também construir reflexões acerca das formas de realização dos
projetos parentais de mulheres lésbicas no Brasil. Em específico, da dupla maternidade com o
26
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba - PR. Contato: marianagfelipe@gmail.com.
27
Orientadora. Doutora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Curitiba - PR. Contato: tamaniniufpr@gmail.com.
102
uso de técnicas de inseminação caseira (IC), práticas que até o momento não são
regulamentadas no país. A compreensão de tais relações é fundamental para que se observe,
também, as formas de contenção de riscos acionadas e de que forma se articulam outros
elementos, tais como a confiança nesses contextos.
Existem nestas práticas uma série de riscos que precisam ser gerenciados, em
especial, pelas mulheres envolvidas com essas relações de busca de materiais genéticos, que
em parte se dá na relação privada, mas é também controlada pela rede de tentantes nos meios
digitais. Afinal, trata-se de manipulação de material genético de forma caseira, em projetos de
maternidade lésbica, decididos pelas mulheres e envolvendo os doadores de material
genético. Elas precisam construir todos os parâmetros para elementos que elas consideram
suficientemente fortes em função da segurança do procedimento e do controle do processo
posterior a doação.
Sendo assim, existem medidas que devem ser estabelecidas entre estas mulheres e os
doadores que praticam a IC. Essas medidas são delimitadas de acordo com os que ambos
buscam nessa relação, pela proximidade e, acima de tudo, pelo estabelecimento de uma
relação de confiança. O objetivo deste trabalho é refletir acerca da construção de confiança
nas relações entre doadores e tentantes que praticam inseminação caseira.
29
Insiro aqui que mulheres lésbicas transgênero também podem recorrer aos processos de inseminação caseira
em diversos tipos de arranjo. Entretanto, nos grupos em que estou inserida nenhuma mulher se apresentou como
trans até o momento de escrita deste trabalho. As maternidades lésbicas trans provavelmente fazem uso de
grupos específicos, o mesmo vale para homens trans que buscam paternidade com o uso de IC.
105
mães, quanto pela escolha de quem irá gestar, e, nos casos de inseminação caseira, pela busca
e escolha do doador. Amorim (2018) cita em diversos momentos de sua tese os discursos de
mulheres lésbicas que “se percebem” capazes de biologicamente ter um filho através das
técnicas de reprodução assistida. Isso se dá porque existe um relacionamento onde elas se
encontram inseridas que é campo para pensar possibilidades que antes não faziam sentido. Ou
seja, existe uma estrutura social heteronormativa que associa maternidade a feminilidade e a
heterossexualidade que se desconstrói quando essas mulheres se vêem em um relacionamento
estável, e donas de um aparelho biológico em perfeitas condições para se buscar uma
gravidez e, também, tecnologias disponíveis para que isso ocorra. Durante as entrevistas, a
autora relata que as mulheres, tendo se reconhecido como lésbicas desde cedo, se viam
excluídas do campo da reprodução e do parentesco. Amorim afirma que é comum “que a um
primeiro olhar a lesbianidade apareça como impossibilitador da maternidade”, como “a
negação da família e do parentesco” (AMORIM, 2018, p. 69-70).
De acordo com as falas do campo, o desejo por ser mãe é expresso quase sempre
primeiro por uma das mulheres do casal, que acaba por incentivar a outra a construir junto
esse projeto. Até agora, pelas entrevistas que realizei, a mulher que afirma ter o desejo inicial
de ser mãe é a que costuma gestar primeiro (aqui levando em consideração alguns casais que
buscam mais de um filho), esse desejo é embasado muitas vezes pela vontade de estar grávida
em algum momento da vida, viver a experiência da gravidez, do parto, da amamentação.
Podemos também encontrar discursos que se referem ao “sonho” de ter um filho, algo muito
comum no discurso das tentantes em geral (não apenas as lésbicas). Falas também fazem
referência a experiências de serem filhas adotadas e, por isso, o desejo de criar um filho
biológico.
Elas partem, então, para a analisar as possibilidades frente a diversas escolhas
(coparentalidade, reprodução assistida, inseminação caseira, entre outros). Em geral, as
mulheres dos grupos buscam uma maternidade fechada no casal, sendo assim, não optam pela
coparentalidade, mesmo que compreendam esta possibilidade. Pelas narrativas, o casal de
mulheres costuma relatar a possibilidade de coparentalidade com amigos gays também em
relacionamentos com outros homens. Existe aqui uma intersecção entre coparentalidade e
inseminação caseira também. Tendo em vista que a execução da inseminação seria de forma
caseira com esses amigos. Essa é uma possibilidade para casais de mulheres que não
encontram doadores confiáveis. Para os que não desejam coparentalidade, fazer com um
doador conhecido (aqui, conhecido diz respeito a proximidade afetiva) é desaconselhada nos
grupos. Em específico, os casais de mulheres que colaboraram com a pesquisa até agora
106
demonstram uma forte intencionalidade de construir sua “família com duas mães”. Sendo
assim, é também importante pontuarmos aqui que essa maternidade é construída por ambas as
tentantes, e que o laço biológico e genético, compartilhado com o bebê por apenas uma delas,
é apenas um elemento que vem como resultado do processo escolhido (a inseminação
caseira) já que elas se vêem como mães a partir do momento em que constroem os
planejamentos juntas.
A antropóloga inglesa Janet Carsten (2014) ao discutir sobre os elementos que
compõem o parentesco, partilha da elaboração do conceito do também antropólogo Marshall
Shalins (2013), que o define como “mutualidade de ser”. Ou seja, parentes participam de
forma intrínseca da vida uns dos outros, eles existem juntos, são “membros uns dos outros”
(SAHLINS, 2013). O parentesco não é feito apenas de forma biológica, porque até mesmo
este fazer, que aqui podemos entender como o encontro dos gametas, por exemplo, perpassa
os caminhos sociais estabelecidos através de uma cultura compartilhada. A construção do
filho, as dinâmicas entre parentes, é anterior ao nascimento e, posterior a ele, se faz através da
participação nas vidas uns dos outros. Desta forma, compartilhar do planejamento, do desejo,
da busca por modos de fazer, da escolha pelos doadores, da participação do próprio processo
de inseminação caseira, essas duas mulheres se constroem enquanto tentantes e mães.
Quando falamos sobre inseminação caseira e tendo em vista a desigualdade social
como um dos fatores de limitação do acesso de grande parte da população à clínicas
especializadas de reprodução, pode-se pensar que tais práticas são feitas apenas por pessoas
que não poderiam custear os tratamentos em clínicas30. Não há como negar que este é um
fator de relevância para a escolha pela IC tendo em vista os relatos diários nos grupos,
entretanto, diversos casais de mulheres que atualmente fazem IC já passaram por tratamentos
em clínicas de reprodução assistida no Brasil e no exterior. Outras relatam em suas narrativas
que atualmente poderiam custear um tratamento inteiro em clínicas, mas que preferem a IC
por se sentirem no controle de todo processo. Esse controle está também relacionado com
outras reflexões acerca de confiança. Nas narrativas dos casais, elas me relatavam
experiências traumáticas nas clínicas, onde, como resultado, acabavam perdendo a confiança
na honestidade da equipes. No entanto é necessário reforçar que diversos casais de mulheres
30
É importante pontuar que tratamentos de reprodução são ofertados pelo sistema único de saúde (SUS) no
Brasil. Esses tratamentos visam atender as demandas de homens e mulheres diagnosticados com infertilidade.
Tendo em vista que atualmente a infertilidade é tratada como doença, o SUS faz o atendimento, mesmo que este
demore devido a alta demanda. Como o caso da maior parte dos casais de mulheres que buscam tais tratamentos
não por infertilidade, mas pela ausência dos gametas, existem hospitais que fazem atendimentos através de
campanhas que visam baratear os custos. O tempo de espera para esses dois casos pode ser fundamental para o
êxito ou não dos tratamentos, tendo em vista que no caso das mulheres, a fertilidade está associada com a idade.
107
acabam por procurar a IC como única opção para a realização do projeto parental.
Independente do caminho que esse casal percorra, a partir do momento em que elas decidem
pela IC, é necessário que se construam formas de contingência dos riscos que tal escolha
oferece, tendo em vista que elas passam a ser as responsáveis por grande parte do processo
(coisa que não aconteceria nos espaços das clínicas).
A todo modo, proponho pensarmos a inseminação caseira como uma tecnologia
reprodutiva lésbica, instituída através de um posicionamento intencional da construção de si
enquanto mulheres, lésbicas e mães. Essa construção intencional da maternidade lésbica é
perpassada pela compreensão de si, dos corpos e, especialmente, da necessidade de se buscar
um doador. O doador, então, é também peça central para pensarmos nesses riscos. Ao mesmo
tempo que ele é necessário para que a prática ocorra, ele é também o maior elemento de risco
neste contexto. Para a contenção desses riscos, acionam-se redes de apoio de outras tentantes,
de outros doadores, e em especial essas informações são encontradas e tratadas nos grupos de
inseminação caseira.
3. CONFIANÇA E LIMITES
Tendo em vista que os grupos são essenciais para o processo de IC ocorrer, os
Administradores (que também são tentantes e doadores) têm responsabilidades diversas para
que esses sejam espaços seguros de troca. Essas responsabilidades dizem respeito a aceitar
novos membros, manter todos cientes das regras do grupo, monitorar os materiais enviados,
promover discussões de estudos sobre a IC, e, principalmente, moderar os conflitos que
podem ocorrer.
Esses conflitos são essenciais para compreendermos as dinâmicas entre os sujeitos,
tendo em vista que os grupos são lugares de primeiro contato entre tentantes e doadores. Lá
existem listas com os doadores disponíveis, separados por região do país, indicações sobre os
doadores confiáveis, entre outros. Ou seja, nesses grupos, tentantes também circulam
doadores e criam redes de contingência de riscos. Nos relatos que recebo, as mulheres dizem
se sentir mais seguras quando estão com um doador que já atendeu um casal de amigas delas.
Essa segurança dobra quando esse casal já tem um positivo31 deste mesmo doador. Ou seja,
existe uma tranquilidade maior em saber de uma experiência positiva anterior com um
31
Aqui positivo diz respeito ao teste de gravidez. Os doadores tendem a anunciar que são doadores nos grupos
falando “quantos positivos” eles já tiveram. Essa quantidade de positivos além de demonstrar que ele já fez
doações anteriores, também denota a qualidade do material que será doado. Essa qualidade vem sempre
assegurada por exames que ele se dispõe a fazer (como espermograma, por exemplo, quando as tentantes estão
dispostas a pagar). Em geral, os doadores também disponibilizam o contato de casais de tentantes que ele já
atendeu anteriormente.
108
doador. Outro ponto importante de se notar é que as tentantes sabem onde estão outras
tentantes que tiveram seus filhos com o mesmo doador que elas estão utilizando, sendo assim,
como me relatam, elas ficam seguras em saber onde encontrar um “irmão biológico” de seus
futuros filhos, caso um dia este precise por motivos de saúde.
A conduta do doador é muito importante para que ele seja julgado como confiável e
“trocado” entre as tentantes. Em geral, elas solicitam uma série de exames, e, nos grupos,
orienta-se que as tentantes os acompanhem quando forem fazer os exames ou solicite
diretamente em um laboratório de confiança para ter a certeza de que os resultados são
verdadeiros. Várias publicações de mulheres denunciam alguns doadores nos grupos. Exames
com resultados adulterados, comportamento inadequado como, por exemplo, solicitação de
fotos das tentantes ou informações muito pessoais, nomes diferentes quando comparados os
perfis do Facebook com a identificação de WhatsApp, entre outros, são pontos considerados
negativos para um doador.
Se não existe um espaço como uma clínica, coordenada por profissionais que tem
conhecimento técnico das práticas de reprodução assistida, se não há controle biomédico, a
contingência dos riscos se faz através das relações entre as pessoas envolvidas. Essas relações
são permeadas por muitas interfaces nas quais se estabelecem, ou não, confiança. Em certa
medida, todos os doadores se relacionam com as tentantes nos grupos e este relacionamento,
em geral, começa com a publicação de um anúncio de busca. Através deste anúncio a tentante
se insere em elementos de contingência e riscos que são pensados reflexivamente, como, por
exemplo, as condições para a doação e o que esta forma de decisão pode produzir para o
presente e para o futuro. O doador deve aceitar fazer o método seringa, deve apresentar os
exames listados na publicação e topar assinar o contrato redigido pela tentante em cartório32.
Agir reflexivamente é parte de uma escolha entendida nos moldes giddianos, como base o
processo reflexivo da ação de um agente que se coloca frente a decisões de confiança e risco
em relação a sua vida e ao exercício de decisões complexas constitutivas da modernidade
(GIDDENS, 1991, p.30). Estas mulheres estão inseridas em outra perspectiva que não a
tradicional e heterossexual da única família possível. Elas estão reflexivamente em relações
com as mudanças de tempo e espaço e dos elementos de encaixe e desencaixe produzidos por
sistemas complexos. A reflexividade por parte das mulheres como agentes busca a confiança
nos sistemas abstratos (nos conhecimentos técnicos, na palavra do doador e em seus diversos
32
Mesmo que ambos tenham consciência que este documento não possui validade jurídica. Em geral as
tentantes que fazem a IC e recebem aconselhamento de advogados, costumam orientar as outras afirmando que é
necessário qualquer tipo de documento que indique as intenções do doador, desde imagens de conversas até esse
tipo de “contrato”.
109
elementos constituintes). Existe também nesses contextos uma coerência biográfica por parte
da reflexividade tentante: elas reivindicam um tipo de família que condiz com o que são e
com uma sequência de fatos e acontecimentos que conversem com um projeto reflexivo da
construção de sua individualidade.
4. CONCLUSÃO
Compreende-se que as práticas de inseminação caseira nesses moldes sempre
estiveram presentes nas vidas de mulheres lésbicas que buscam concretizar seus
planejamentos de maternidade. Atualmente, por vivermos em uma sociedade digital, ou
melhor, em um contínuo on-offline (MISKOLCI, 2016), o acesso a informações sobre as
práticas de inseminação caseira, seus sucessos, seus perigos e seus tutoriais, estão ao alcance
dessas mulheres. Outrossim, o acesso aos doadores e seus perfis digitais também facilitam
esse contato.
Em geral, a primeira reação de uma pessoa que descobre sobre a possibilidade de se
fazer filhos através da inseminação caseira é espanto e preocupação. Os argumentos que
embasam esse espanto são diversos, a ausência da clínica, o risco da transmissão de doenças,
as diversas violências, a falta de amparo legal, entre outros. No entanto, ao refletir sobre tais
bases argumentativas, é possível indicar que partem do mesmo cerne: o risco em diversos
níveis. Por isso, é necessário se perguntar ao olhar para o campo: se o perigo está posto, por
que essas mulheres ainda enxergam a inseminação caseira como possibilidade?
Ao mesmo tempo em que os riscos são conhecidos, também são compartilhados nos
grupos diariamente relatos de positivos, fotos dos “bebês de IC”, entre outras informações
que tendem a construir uma confiança também nas técnicas utilizadas, nos chás, suplementos,
dietas e doadores dispostos a “ajudar” as tentantes sem receber nenhuma troca financeira para
isso. Muitas enxergam esse gesto como altruísta e reforçam a identidade daquela pessoa
como de um “doador confiável”, o indicando para outras mulheres que procuram.
Neste trabalho, busquei apresentar brevemente o campo em que estou inserida, seus
sujeitos principais e as reflexões iniciais que tenho tratado juntamente com essas pessoas.
Essas reflexões, até o momento, se apresentam muito mais na forma de questionamentos para
os leitores, do que como respostas, tendo em vista que esta é uma pesquisa em andamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Anna. Novas tecnologias reprodutivas e maternidades lésbicas no Brasil e na
França: conexões entre parentesco, tecnologia e política. Tese (Doutorado em Antropologia)
110
- Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina. Santa
Catarina: Florianópolis, 2018.
CRUZ, Edgar Gómez. Etnografía celular: una propuesta emergente de etnografía digital.
Virtualis, v. 8, n. 16, p. 77-98, 2018.
DEBERT, Guita G. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: A
aventura antropológica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 141-156, 1986.
______. Decisão STF ADI 4.277 e ADPF 132, de 5 de maio de 2011. Supremo Tribunal
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Qualitativa com Texto, Imagem e Som: Um manual. 2 ed. Petrópolis: Ed. Vozes, p. 244 -
270, 2002.
111
MISKOLCI, Richard. Sociologia Digital: notas sobre pesquisa na era da conectividade.
Contemporânea-Revista de Sociologia da UFSCar, v. 6, n. 2, p. 275, 2016.
______. Family history: Life stories. The history of the family, v. 7, n. 2, p. 175-182, 2002.
SAHLINS, Marshall. What kinship is-and is not. Chicago: University of Chicago Press,
2013.
112
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE
GÊNERO NA EDUCAÇÃO: OS DIREITOS
HUMANOS E A ATUAÇÃO DA ESCOLA
Wezelley Campos França33
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema a diversidade sexual e a identidade de gênero na
escola a partir de um olhar sobre a abordagem dos direitos humanos na escola, analisando
diferentes estereótipos presentes nas práticas pedagógicas, profundamente arraigadas no
cotidiano escolar.
Enfrentando a temática do preconceito e da discriminação, as questões de investigação
tomam, como ponto de partida das análises, diferentes aspectos da pesquisa em educação, a
saber: diversidade sexual e identidade de gênero no âmbito educacional, a escola e os direitos
humanos acerca do combate às praticas discriminatórias, e os novos rumos a se pensar sobre
as temáticas de gênero, sexo e sexualidade no chão da escola: perdas, ganhos e desafios
futuros.
Salientamos que a diversidade sexual e a identidade de gênero precisam ser
compreendidas como uma noção em expansão, que enfrenta muitos desafios, por abarcar
realidades complexas e diferentes dimensões, pois as formas de expressão da sexualidade e a
variedade das práticas sexuais são construções sociais e históricas, que, no âmbito escolar,
devem estar pautadas na promoção da educação em direitos humanos, apostando, assim, na
contribuição da educação para os processos de democratização das nossas sociedades.
Muitos autores conceituam a reflexão sobre os laços profundos entre educação e
normalização social, entre a escola e os interesses biopolíticos, que devem questionar e
propor algo distinto, não normalizador ou compulsório, a partir de um educar fincado não em
modelos e conteúdos que o precedem, mas, em um novo olhar para a escola e para a
educação, onde a ilusão da neutralidade quanto à construção ideológica de uma hegemonia
identitária deve ser vinculada a alguns interesses – e não a outros, a fim de analisarmos o
33
Especialista em Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Questões Étnico-Sociais ou Raciais, e Gestão
Escolar: Administração, Supervisão e Orientação, Licenciatura em Pedagogia. São Fidélis – RJ. E-mail:
wezelleyfranca@gmail.com
113
preconceito, a desigualdade entre os sexos, a construção de identidade de gênero e as
discriminações referentes à orientação sexual na educação, especificamente nas escolas.
As argumentações aqui registradas têm por objetivo primordial multiplicar as
possibilidades de reflexão sobre diversidade sexual e a identidade de gênero e a
conscientização para o aprendizado como algo que se constrói incessantemente em um
diálogo com o que nos causa estranheza, ou seja, no contato com as diferenças e as relações
entre processos de ensino-aprendizagem e os silenciamentos impostos àqueles/as que são
social e culturalmente diferentes em nossa sociedade e o seu reconhecimento na educação.
Nesse contexto, a intenção dessa pesquisa é identificar e analisar a produção
bibliográfica realizada a partir da análise pormenorizada de materiais já publicados sobre as
temáticas de sexualidade e gênero e a aceitação de comportamentos antes considerados
ultrajantes dentro dos muros da escola.
A metodologia utilizada neste estudo é a qualitativa, com levantamento bibliográfico,
fundamentado nas ideias e concepções de diversos autores como: Andrade (2015), Bortolini
(2008), Candau (2003, 2018), Foucault (2018), Junqueira (2009), Louro (2004, 2014, 2016),
Santos (2019) e Torres (2013) e outros.
Basta entrar em uma sala de aula do ensino fundamental com um olhar sensível às
diferenças para que se evidencia a inadequação desta perspectiva. As crianças e
adolescentes “explodem” este modo de encará-los. Apresentam formas de
expressar-se, comportar-se, situar-se diante de distintas situações que questionam
nossas formas habituais, socialmente construídas, de lidar com elas. Diferenças de
gênero, físico-sensoriais, étnicas, religiosas, de contextos sociais de referência, de
orientação sexual, entre outras, se visibilizam e se expressam nos cenários
escolares. (CANDAU, 2018, p19).
114
As questões referentes a sexualidade estão, queira-se ou não, na escola. Elas fazem
parte das conversas dos/as estudantes, elas estão nos grafites dos banheiros, nas
piadas e brincadeiras, nas aproximações afetivas, nos namoros; e não apenas aí,
elas estão também de fato nas salas de aula – assumidamente ou não – nas falas e
atitudes das professoras, dos professores e estudantes. (LOURO, 2014, p135).
Embora estejam ganhando maior densidade nos últimos anos, o tema da educação em
sexualidade e gênero ainda apresentam baixa visibilidade no âmbito da educação, pois “nos
discursos atuais, o apelo à diferença está se tornando quase lugar-comum (o que já nos leva a
sermos cautelosos, desconfiando de seu uso irrestrito.)” (LOURO, 2014, p.48).
Portanto, se faz necessário que haja na escola a reflexão acerca da diversidade sexual
e de identidade de gênero, para que, talvez possamos compreender melhor como ela vem se
transformando, no que diz respeito a essas questões e entendendo como indissociável dos
debates mais amplos sobre diversidade, igualdade e diferença, para que esse conhecimento
permita subsidiar a reflexão da prática docente, de metodologias de aprendizagem aplicáveis
e condizentes aos conteúdos a serem trabalhados dentro das disciplinas que abordem
conteúdos relativos à sexualidade humana, diversidade sexual e de gênero, de maneira mais
eficaz e eficiente para a inserção de uma educação para a sexualidade e gênero no cotidiano
escolar.
Dessa forma, romper com os paradigmas dominantes dando visibilidade aos
movimentos sociais negros, feministas, LGBT36, de pessoas com necessidades educacionais
36
São muitas as representações envolvidas, além das várias mudanças na sigla representativa desse movimento
no Brasil. A mais comum, GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) foi substituída por GLBT (com inclusão de
Bissexuais e Transgêneros e exclusão dos Simpatizantes). A sigla aqui adotada, LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), segue deliberação da I Conferência Nacional LGBT,
realizada em 2008. Há controvérsias quanto à nomeação de todos os T’s, a inclusão de um Q (para queers) ou
um A (para assexuais), um I (para intersexos), um P (para pansexuais) um + (por vezes adicionado ao final para
representar qualquer outra pessoa que não seja coberta pelas outras oitos iniciais), mas há um consenso na busca
116
especiais, entre outros, que tem cooperado para a ressignificação destes grupos que
historicamente foram silenciados e subjugados por não estarem enquadrados dentro dos
limites estabelecidos por grupos hegemônicos.
Há ainda que se acrescentar que a busca por uma educação que contemple a
diversidade e comporte as diferenças de gênero parte da formulação de uma concepção de
ensino menos conservadora e uma proposta educacional que apliquem princípios e
metodologias que atendam todos os tipos de alunos acerca das novas realidades, por meio de
processos pedagógicos inclusivos. A escola foi, durante muito tempo, um local de
normalização, por isso, abordar a identidade de gênero é fugir das armadilhas da
padronização da sexualidade, que ajusta todos ao modelo heterossexual, concebendo todos os
sujeitos com um desejo único (o sexo oposto), tida como a única e natural possibilidade de
expressão de gênero e sexualidade.
por inclusão das mais variadas dimensões da construção das desigualdades trazendo à tona pertencimentos
sexuais e de gênero.
117
pelo estudo convencional, uma vez que, não enxergam o sentido em estar em um local pelo
qual se vêm hostilizados.
Para superar essa realidade, o Governo Federal, articulado com o movimento social
LGBT, criou no Brasil, no ano de 2004, o programa Brasil sem Homofobia, com o objetivo
de promover a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis
transgêneros e transexuais (LGBT), a partir da equiparação de direitos e do combate à
violência e à discriminação, banindo a indiferença e reconhecer a diversidade sexual, ademais
da pluralidade de identidade de gênero, por intermédio das práticas de ensino que
contemplem a abordagem da diversidade sexual em ações voltadas ao respeito, à superação
118
da homofobia e à não-discriminação por orientação sexual e identidade de gênero,
estimulando a pesquisa e a disseminação de conhecimentos que contribuam para o combate
da violência e da discriminação de LGBTs.
Concomitantemente,
119
A escola configura-se um lugar de opressão, discriminação e preconceitos, no qual
e em torno do qual existe um preocupante quadro de violência a que estão
submetidos milhões de jovens e adultos LGBT – muitos/as dos/as quais vivem, de
maneiras distintas, situações delicadas e vulneradoras de internalização da
homofobia, negação, autoculpabilização, auto-aversão. E isso se faz com a
participação ou a omissão da família, da comunidade escolar, da sociedade e do
Estado. (JUNQUEIRA, 2009, p.15)
A escola que temos hoje e que cresceu de uma maneira exponencial na segunda
metade do século XX em todo o mundo, que é a escola herdada do século XIX, é
uma escola que perdeu o prazo de validade, é obsoleta e não tem futuro. Não sou
adivinho, não faço profecias, portanto não posso dizer como vai ser a educação
daqui a cinquenta anos. Agora, o de que estou convicto é que a escola já está
sofrendo uma mutação profunda e passando por uma situação que não tem volta,
quer dizer, a escola não tem retorno, é uma suposta idade de ouro do passado em
que funcionava bem, os atuais problemas que a escola tem, e que são muito graves,
são inultrapassáveis com base na própria lógica da escola. (CANÁRIO. 2013,
p.326, apud CANDAU. 2018, p.28 ).
Dessa forma o nosso olhar não pode favorecer uma visão homogeneizadora, de modo
uniforme, senão os objetivos das escolas, um dos considerados básicos, constitutivos da
própria configuração da instituição escolar, que é a formação para a cidadania, estará
silenciando-se, uma vez que, se a ausência de valores como a igualdade, o respeito ao
próximo e às diferenças e o combate ao preconceito e a violência, forem presentes nos
discursos da escola, outros mecanismos que revelam que bulllying, desrespeito, preconceitos
e estereótipos também vão integrar o cotidiano escolar.
37
Termo de origem latina Sui generis significa, literalmente, "de seu próprio gênero", ou seja, "único em seu
gênero”.
121
na pele a discriminação e intolerância e que não cabe mais ser visto como diferente, o
bullying, o bloqueio, o preconceito e a negação do reconhecimento reservados à diversidade
sexual e identidade de gênero, excluindo sujeitos, saberes e possibilidades distintas de
experiência, levando ao fracasso e abandono escolar.
O problema é que sexualidade ainda é um tabu em nossa sociedade e a escola não fica
fora disso, no entanto, os ganhos na educação só acontecerão quando a escola for vista como
um espaço não só para ensinar letras e números, mas também para promover cidadania. Para
isso, ela precisa se tornar um ambiente democrático e inclusivo, de defesa da equidade como
um dos pontos principais para a consolidação dos preceitos de uma sociedade justa,
igualitária e aberta à diversidade, onde estudantes poderão aprender que é possível o convívio
com a diferença longe da violência, opressão, segregação e nenhum tipo de discurso de ódio
no âmbito escolar, levando essas questões para a sala de aula com material didático
apropriado, sem preconceito, estereótipos e questões morais e religiosas, difundindo-se a
ideia da oportunidade de acesso como via para a promoção da equidade social, pressupondo
igualdade de oportunidades.
122
temas não reproduzam confusões conceituais ou má interpretação das teorias que discutidas
em torno das questões de gênero e sexualidade.
5. CONCLUSÃO
Diante do exposto, é possível refletir de que em uma sociedade marcada pela
heteronormatividade, as discussões acerca das temáticas de gênero, sexo, sexualidade e
direitos humanos permeiam todos os âmbitos sociais. A escola, por sua vez, como uma das
esferas sociais também apresenta várias problemáticas relacionadas aqui, dado que hoje ao
abordar estas temáticas a escola ainda se omite, apresentando-se como local de ignorância a
esse respeito, uma vez que, reproduz as imposições advindas da sociedade tradicional.
Considera-se que a escola tem um papel fundamental no combate às práticas
discriminatórias e a violência, no entanto, comumente preferem não discutir o tema ou negam
a sua existência, pois o olhar do aluno heterossexual a respeito do aluno homossexual ainda é
embasado em certo preconceito. Dessa forma a escola, enquanto um ambiente fundamental
para romper com as arraigadas concepções sociais e excludentes e gerenciador dos processos
de aprendizagem, propostas curriculares e ações pedagógicas que valorizem as diferenças e
respeitem a diversidade, não pode se silenciar, mas sim corroborar a uma educação que se
volte para os direitos humanos.
Nesse ínterim, a escola, que deveria abraçar as diferenças, pode ser o ambiente mais
opressivo que existe e para combater o silenciamento das temáticas de gênero, sexo,
sexualidade dentro dos muros da escola é pertinente torná-las um objetivo para escola
alcançá-lo. Precisamos pensar e implantar ações que promovam mudanças, a fim de integrar
essas temáticas às práticas pedagógicas, no intuito de minimizar ou sanar posturas
preconceituosas, permitindo as manifestações de suas peculiaridades, sem descaracterizá-las.
As questões de gênero acabam por adentrar os portões das escolas, e cotidianamente,
novos rumos a se pensar sobre as temáticas de gênero, sexo e sexualidade no chão da escola
ganham novos e constantes espaços. Torna-se necessário uma reestruturação do olhar da
escola, indo de encontro às mudanças em suas relações com o outro, as transformações de
ideias, de atitudes e da prática das relações sociais acerca da diversidade sexual e identidade
de gênero na escola.
Dado o exposto, é imprescindível que a educação, a escola e todos os seus atores não
se silenciem, mas sim, através de estudo, saiam da zona de conforto dos ditos homem e
mulher “padrão”, dispostos a ampliar o caminho trilhado com alternativas que despertem
realizar um trabalho com ganhos e desafios futuros e até mesmo às perdas, oriundas do
123
enfrentamento de situações complexas, pela qual, muitas das vezes não sabemos como
trabalhá-las e por isso deixamos os questionamentos em aberto por medo de não agir
“corretamente”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M. Diferenças silenciadas: pesquisas em educação, preconceitos e
discriminações. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: 7 Letras, 2015.
________. Didática: tecendo/ reinventando saberes e práticas. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: 7
Letras, 2018.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1987.
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 6. ed. São Paulo, SP:
Heccus, 2013.
LOURO, G. L. Um corpo estranho - ensaios sobre a teoria queer. Belo Horizonte, MG:
Autêntica, 2004.
124
________. et al. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 3. ed. Belo
Horizonte, MG: Autêntica, 2016.
125
RESUMOS APRESENTADOS
CINEMA E REPRESENTATIVIDADE LÉSBICA:
da subjetivação à resistência
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUMONT, J. A Estética do Filme. Campinas: Papirus Editora, 2012.
38
Graduanda do curso de Psicologia na Universidade de Pernambuco – campus Garanhuns. E-mail:
deborahj.albuquerque@gmail.com
39
Graduanda do curso de Psicologia na Universidade de Pernambuco – campus Garanhuns. E-mail:
emilly.aiany@hotmail.com
40
Professora Adjunta da Universidade de Pernambuco, Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de
Pernambuco. E-mail: isabela.amblard@upe.br
126
processos de subjetivação na contemporaneidade. Psicologia em Estudo, 2015. v. 20, n. 3, p.
389–398.
127
MEMÓRIA E RESISTÊNCIA LGBTI+:
presença nos museus em busca de uma consciência histórica
41
Ensino Superior Incompleto. Graduanda na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia- GO. anabiaferrodemelo@gmail.com.
42
Ensino Superior Incompleto. Graduanda na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia- GO. abcoliveira.med@gmail.com.
43
Ensino Superior Incompleto. Graduanda na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia – GO. beatrizsaadsabino@gmail.com.
44
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS. Médico da SMS
Goiânia. Goiânia- GO. musmanno@gmail.com
128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAPTISTA, Jean. Memória e esquecimento LGBT nos museus, patrimônios e espaços de
memória no Brasil. p. 108–119, 2017.
BRAZ, Camilo e colab. Saindo de caixas, gavetas e pastas: uma experiência de articulação
entre militância, arquivologia e ciências sociais na produção de memórias LGBT em Goiás.
v. 26, p. 4–29, 2013.
PINTO, Renato. Museus e diversidade sexual: reflexões sobre mostras LGBT e QUEER.
Revista Arqueologia Pública, v. 5, n. 1, p. 44, 2015.
129
MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO E RESISTÊNCIA DAS MULHERES
LÉSBICAS NAS DÉCADAS DE 70 E 80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Aline do Nascimento. Facção lésbico feminista e o surgimento do lesbofeminismo
no Brasil. Revista Ensaios de História, v. XIX, n. 1/1, p. 130-147, 2018.
ALMEIDA, Gláucia; HEILBORN, Maria Luiza. Não somos mulheres gays: identidade
lésbica na visão de ativistas brasileiras. Gênero, Niterói, v. 9, n. 1, p. 225-249, 2. sem. 2008.
GREEN, James N. Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão: uma memória sobre a
ditadura e o movimento de gays e lésbicas de São Paulo na época da abertura. Acervo, v. 27,
n. 1, p. 53-82, 25 abr. 2014. Disponível em:
<http://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/460>. Acesso em:
20 de ago. de 2020.
LINO, Tayane Rogeria. Nas fissuras da história: o movimento lésbico no Brasil. Revista
Movimentação, Dourados, MS, v.5, n.10, jan./jun. 2019, p. 10-21.
OLIVEIRA, Luana Farias. Quem tem medo de sapatão? Resistência lésbica à Ditadura
Militar (1964-1985). Revista Periódicus, v. 1, n. 7, maio-out. 2017, p. 06-19. Disponível em:
<https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/21694>.
Acesso em: 30 de jul. de 2020.
131
DE CHANANACOMCHANA A UM OUTRO OLHAR:
as transformações na imprensa lésbico-feminista brasileira (1981-1997)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ALVAREZ, Sonia. Beyond NGO-ization? Reflections from Latin America. Development, n.
52, Vol. 2, 2009.
47
Doutora em História Social (FFLCH/USP), mestre em História Cultural (IFCH/UNICAMP) e graduada e
licenciada em História (UEL). Atualmente, é professora EBTT do Instituto Federal do Paraná, onde desenvolve
e orienta pesquisas sobre Relações de Gênero e História da América Latina, especialmente relacionadas à
imprensa feminista e LGBTQI+. É integrante do Grupo de Pesquisa e Gênero em História (GRUPEG-Hist) do
Departamento de História da USP e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IFPR/Campo Largo.
E-mail: julia.gsoliveira@gmail.com
132
MOGROVEJO, Norma. Un amor que se atrevió a decir su nombre: la lucha lesbiana y su
relación con los movimientos homosexual y feminista en América Latina. México, DF: Plaza
y Valdés, 2000.
133
MUSEUS:
ferramentas de combate a LGBTfobia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRULON, Bruno. Entre um mundo e o dos Outros: magia e descolonização na performance
museal. MODOS, Campinas, v. 3, n. 3, 2019. DOI
<https://doi.org/10.24978/mod.v3i3.4302>. Disponível em:
<https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/mod/article/view/4302>. Acesso em: 8
jul. 2020.
48
Graduanda em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
cpgzanesi@gmail.com
134
A IDENTIDADE LÉSBICA:
direitos fundamentais e reconstrução de memórias
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
RICH, Adrienne. Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence. In: GELP, Barbara
C. & GELP, Albert. Adrienne Rich’s Poetry and Prose. New York/London: W.W. Norton &
Company, 1993.
49
Acadêmica do 3° ano do curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina; e-mail:
lauramarconibastos@gmail.com
135
INSTAGRAM COMO REGISTRO DA MEMÓRIA SOCIAL E RESISTÊNCIA:
Coletiva Favela LGBTQ+
Resumo: A Coletiva Favela LGBTQ+ promove ações sociais, políticas e culturais, em Ibura,
Recife-PE. É formada por artistas negras, travestis, transexuais e produtoras culturais sendo
acessada pela página do Instagram @favelalgbtq. Esse estudo foca o processo identificatório
(semelhança e diferenciações) cuja fonte é a memória coletiva. A construção da identidade de
@favelalgbtq tem diversas formas de manifestação, entre elas: rememorar marcos históricos
de resistência grupal pela luta de direitos civis da população negra, periférica e LGBTQ+.
Somos uma sociedade marcada pela cultura da memória e entre as novas características se
encontra a conexão midiática. O medo de esquecer e de ser esquecido nos move aos registros
(HALBWACHS, 1990). Essa tendência de armazenamento como auxiliar de memória pode
ser observada tanto em processos culturais coletivos como em processos individuais
arquivados em álbuns fotográficos vinculados às mídias sociais ou não (RATTS, 2017).
Comunidades LGBTQ+, movimentos feministas e negros são representações históricas que
eclodem em defesas de direitos como atos de resistência em plena ditadura militar e adotam
estratégias políticas que possibilitam uma visibilidade de um passado grupal entulhado de
conflitos, assassinatos, invisibilidades, silenciamentos e traumas, sobretudo, pela epidemia de
HIV/Aids nos anos 80 e pelas políticas públicas dessa época deterministas em relação às
pessoas negras LGBTQ+ e de identidade fluídas e interseccionais (FERREIRA e
SACRAMENTO, 2019). Com isso, se considera que a defesa dos direitos políticos, sociais e
civis só se tornam legítimos quando perpassados pelo direito à comunicação, na qual a
sociedade brasileira se debruça e é através das mídias que populações periféricas promovem
ações sociais e permitem que sejam descobertas por grupos interessados na sua continuidade.
Assim, o direito civil deve garantir a liberdade individual de expressão, o acesso à
informação e a produção validada de autoconhecimento mediado tecnologicamente como
fator de humanização identitárias e territorial.
Palavras-chave: Gênero; Memória Coletiva; Mídia Social; Movimentos Sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Vinícius; SACRAMENTO Igor. Movimento LGBT NO Brasil: violências,
memórias e lutas. Reciis – Rev Eletron Comum Inf Inov Saúde. 2019.
RATTS, Júnior. O pênis fala coisas que eu não sei dizer: para pensar em uma nova
história do masculino. Periódicus, Salvador, n. 6, v. 1, 2017. Disponível em:
<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus>. Acesso em: 14 de set. de 2020.
50
Psicóloga, Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – E-mail:
mattosdossantos11@gmail.com
51
Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – E-mail:
conradosathler@ufgd.edu.br
136
HISTÓRIA DO MOVIMENTO LGBTI+ NA CIDADE DE IPATINGA/MG
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de
Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
52
Psicóloga. Psicanalista. Especialização em Psicanálise e os Desafios da Contemporaneidade. Pós-graduanda
de Gestão em Saúde Mental. Membra do GT Gênero e Diversidade do Vale do Aço. Membra do CEPP – Centro
de Estudos e Pesquisa em Psicanálise. E-mail: camilamendoncapsi91@gmail.com.
137
REPRESENTAÇÃO DA MULHER LÉSBICA EM OBRAS AUDIOVISUAIS
Resumo: A história das mulheres lésbicas em obras audiovisuais muitas vezes foi construída
de uma forma negativa, como monstros ou pessoas que pudessem ser “consertadas”. Para
além das telas, as imagens refletiram em como elas eram vistas pela sociedade. Prova disso é
que, ainda hoje, é possível encontrar problemáticas dentro dessas representações, como
estereótipos e reprodução de outras formas de opressão. Como objetivo, busca-se
compreender não apenas as histórias que estão sendo contadas, mas também quem são as
pessoas que estão por trás delas, escrevendo roteiros e produzindo tais obras. Para tanto, por
meio de pesquisa de cunho qualitativa, foi realizada uma busca dando um panorama histórico
desde as primeiras representações dessas personagens até obras atuais que vem ganhando
grande visibilidade, e como elas interferem em uma visão generalizada do que é uma mulher
lésbica. Como resultado, trago também a análise do filme brasileiro de 1984 “Amor Maldito”
da diretora Adélia Sampaio e as duas obras atuais, seus contextos históricos e importância
junto aos movimentos de visibilidade lésbica, bem como do filme “Rafiki” dirigido pela
queniana Wanuri Kahiu e “Retrato de Uma Jovem em Chamas” dirigido pela premiada
cineasta francesa Céline Sciamma.
Palavras Chave: Representatividade; Mulheres; Lésbica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMOR Maldito. Direção: Adélia Sampaio. Brasil: Adélia Sampaio, Francisco Damásio, João
Elias, 1985.
MURARI, Lucas; NAGIME, Mateus (orgs). New Queer Cinema – cinema, sexualidade e
política. São Paulo: Caixa Econômica Federal, 2015.
O Outro Lado de Hollywood. Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman. Estados Unidos: Rob
Epstein, Jeffrey Friedman, 1995.
RETRATO de uma Jovem em Chamas. Direção: Céline Sciamma. França: Véronique Cayla,
Bénédicte Couvreur, 2019.
53
Bacharela em Cinema e Vídeo pela UNESPAR - Faculdade de Artes do Paraná e integrante do Coletivo
Cássia. Curitiba/PR. Email: camilasailer@hotmail.com.
138
REPRESENTAÇÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NA IMPRENSA GAY NO
BRASIL:
uma análise de Lampião da Esquina (1978-1981) e Spartacus (1987-1990)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORTOLOZZI, Remom Matheus. O câncer na língua deles: memória pornográfica LGBT na
epidemia de HIV/Aids. Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades, V. 1, 2017,
ISSN 2238-9008. Disponível em:
<https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/anais.php>. Acesso em 12 abr. 2020.
54
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História Social na Universidade de São Paulo (PPGHS-USP)
e bacharel em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/2018), em São Paulo (SP). Email:
victormelopereira_@hotmail.com.
55
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), onde atua como professora livre docente e
é vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História Social (PPGHS-USP). Coordena o Grupo de Pesquisa
em História e Gênero, no Departamento de História da USP e o Laboratório de Estudos de História das
Américas (LEHA-USP). Email: s tellafv@usp.br.
56
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), com tese premiada pela Associação
Nacional de Professores e Pesquisadores de História das Américas (ANPHLAC) e professora de História no
Instituto Federal do Paraná (IFPR). Email: julia.gsoliveira@gmail.com.
139
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados, São Paulo , v. 5,
n. 11, p. 186, Apr. 1991. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141991000100010&lng=
en&nrm=iso>. Acesso em 12 abr. 2020.
140
A COMPREENSÃO DAS LESBIANIDADES A PARTIR DO GOOGLE
Resumo: O presente trabalho tem como partida a mudança dos algoritmos de resposta do
buscador da Google para o termo “lésbica”, realizada em agosto de 2019, após a campanha
intitulada #SEOlesbienne na plataforma Twitter. SEO é a sigla para Search Engine
Optimization, um mecanismo para otimização dos resultados mais aparentes nas buscas. A
ação conseguiu que o maior buscador de conteúdo da internet mudasse o algoritmo de
resultados de pesquisas para o termo lésbica, os termos relacionados e sua tradução para
outros idiomas. A campanha tinha como intuito alertar a plataforma sobre o viés apresentado
nos resultados, que era majoritariamente de conteúdos pornográficos. Isso porque plataformas
digitais, como o buscador da Google e tantas outras utilizadas, não são construções neutras,
mas sim estruturas com normas e valores morais e/ou sociais previamente inseridos (Van
Djick, Poell e Waal, 2013), mas também passíveis a mudanças e reparos, que suscitam
diferentes ações e respostas nos usuários. O objetivo deste ensaio é, portanto, a partir do caso
mencionado, refletir sobre as problemáticas envoltas na mudança algorítmica e tentar trazer
pistas teóricas que nos ajudem a compreender a importância dos buscadores na (re)produção
de (in)visibilidades.
Palavras-chave: plataformização; lesbianidades; pornografia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VAN DIJCK, J.; POELL, T.; WAAL, M. The platform society: public values in a connected
world. Nova Iorque: Oxford University Press, 2018.
PERES, M.; SOARES, S.; MARQUES, M. Dossiê sobre lesbocídio no Brasil: de 2014 até
2017. Rio de Janeiro: Livros Ilimitados, 2018. 114 p.p.
57
Mestre em Direitos Humanos e Cidadania (PPGDH/UnB) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/UFBA). Pesquisadora vinculada ao grupo de pesquisa
Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura (GIG@/UFBA), juliannamotter@gmail.com.
141
“MARQUES DA SILVA É SHOW”:
fechação entre balistas em Belém-AL
Resumo: Esta comunicação apresenta resultados ainda provisórios cuja pesquisa decorre de
um trabalho de conclusão de curso. Neste, serão discutidas e problematizadas performances
de gênero desenvolvidas por balistas da Banda Fanfarra Profª. Ethelda Amorim na Escola
Estadual Marques da Silva. Para tanto, recorremos à metodologia de trabalho de campo de
natureza etnográfica no qual são observados os ensaios e as apresentações da banda para
comemorar a emancipação política do município de Belém-AL, além disso, lançamos mão de
entrevista a personagens considerados centrais nesta pesquisa. Do ponto de vista teórico,
dialogamos com os conceitos de performatividade de gênero e fechatividade de gênero
desenvolvidos por Butler 2019 e Arruda 2017 respectivamente. Tal perspectiva ajuda a
compreender os gêneros como processos contínuos, criados e recriados no interior das
normas e da heteronormatividade.
Palavras-chave: Fanfarra; Fechação; Gênero.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, Murilo Souza. O corpo e o gênero fechativo pelas ruas de Salvador – Salvador,
2017. 229 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas. Doutorado em Ciências Sociais.
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 3°
rev. Amp. Ed. Autêntica, Belo Horizonte, 2018.
58
Graduando do curso de História pela Universidade Estadual de Alagoas - Campus III. Email:
silaspita244@gmail.com.
142
DEFENDENDO O LAMPIÃO DA ESQUINA:
resistência global e local
Resumo: O movimento LGBTI+ tem recebido crescente interesse acadêmico nos últimos
anos. Porém, devido sua pluralidade, os escopos nos quais tais resistências são observadas
também devem ser diversificados. Assim, a perspectiva de História Global, ainda pouco
empreendida nos estudos de gênero e sexualidade, se mostra profícua para se pensar as
resistências desses corpos dissidentes. Pretende-se aqui tomar a perspectiva de História
Global a fim de observar os jogos de escala entre o global e o local que marcam os
movimentos LGBTI+ no país. Destaca-se analisar no trabalho o processo judicial ao jornal
Lampião da Esquina durante o período de abertura da ditadura militar brasileira. No decorrer
da vigilância e dos inquéritos policiais, os quais duraram cerca de 12 meses, houve uma
campanha internacional, engajada especialmente por João Antônio Mascarenhas, um dos
pioneiros do ativismo LGBTI+ no Brasil. Mascarenhas angariou o apoio de outros grupos
homossexuais estrangeiros, os quais passaram a pressionar entidades governamentais
brasileiras no que concerne à perseguição ao Lampião. Tal cooperação é indício de um
processo complexo não apenas de trocas de apoio entre entidades locais e globais, mas
também das transformações que o movimento LGBTI+ brasileiro foi tomando, respeitando
suas especificidades locais, mas cada vez mais integrado à uma rede global de resistência.
Para o trabalho, destaca-se o arquivo de Mascarenhas, em especial as correspondências
trocadas com outros líderes estrangeiros do movimento, disponível no Arquivo Edgard
Leuenroth.
Palavras-chave: História Global; Resistência; Sexualidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONRAD, Sebastian. What is Global History? Princeton: Princeton University Press, 2016.
59
Doutorando em História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis (SC),
henriquecintra@outlook.com.
143
“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL”
considerações netnográficas sobre corpo e gênero em Mato Grosso do Sul
Resumo: neste trabalho reflito sobre os jogos de verdade que teceram e tramaram alegações
sobre corpo e gênero de Lourival Bezerra de Sá. Para tanto, parto de comentários feitos num
portal de notícias, em matérias relacionadas ao caso em tela, e os examinei com base em
netnografia – ou etnografia em ambientes virtuais –, que utilizo para analisar como se deram
tensionamentos, incômodos e disputas de narrativas à vista da vida vivida de Lourival e(m)
sua existência corpórea. Realizados os levantamentos, categorizo as produções discursivas
nas caixas de comentários em três vertentes principais, que o próprio campo me apresenta: a
primeira o vincula ao adoecimento; a segunda, o relaciona ao pecado, anormalidade e fraude;
e, por fim, também havia quem (con)clamasse por respeito à sua memória e demandasse
representações dignas, de acordo com sua expressão de gênero ligada ao masculino.
Palavras-chave: Lourival Bezerra de Sá; verdade; Antropologia do corpo; etnografia em
ambientes virtuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de
Renato Aguiar. Revisão técnica de Joel Hirman. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2017. (Coleção Sujeito e História).
______. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?. Tradução de Sérgio Tadeu
de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2015.
60
Bacharelado em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista de mestrado
(DS/CAPES) no Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Grande Dourados
(PPGAnt/UFGD). Dourados, MS. araujojow@outlook.com
61
Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Professor
do curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt) da Faculdade de
Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD), e do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS).
Dourados, MS. esmael_oliveira@live.com
144
______. O nascimento da medicina social. In: ______. Microfísica do poder. Organização e
tradução de Roberto Machado. 15. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2000. (Biblioteca de
filosofia e história das ciências, v. 7). Cap. 5, p. 79-99.
LEITE JR, Jorge. "Nossos corpos também mudam": sexo, gênero e a invenção das
categorias "travesti" e "transexual" no discurso científico. 2008. 230 f. Tese (Doutorado em
Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
145
CONSEQUÊNCIAS DA RACIALIDADE PARA A COMUNIDADE LGBTI+:
raça enquanto conceito social de desdobramentos estruturais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
D724 Dossiê LGBT+: 2018 / orgs. Victor Chagas Matos e Erick Batista Amaral de Lara. Rio
de Janeiro: RioSegurança, 2018.
62
Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Paraná, pesquisadora de Direitos Humanos e Democracia
do Centro de Estudos Constitucionais (CCONS). É voluntária do Grupo Dignidade e diretora social do Coletivo
Cássia. Curitiba/PR. Email: nahomihelena.s@gmail.com.
146
GONZALES, Lélia. Lugar do Negro. Rio de Janeiro: Marco Zero. 1982.
Grupo Gay da Bahia – GGB. Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil. Relatório 2018.
Disponível em:
<https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relat%C3%B3rio-de-crimes-contra-lg
bt-brasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf>. Acessado em: 10/09/2019.
IOTTI, Paulo Roberto. Supremo não legislou nem fez analogia ao considerar homofobia
como racismo. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2019-ago-19/paulo-iotti-stf-nao-legislou-equipararhomofobia-ra
cismo>. Acessado em: 08/09/2019.
MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
147
BRASIL: UM PAÍS DE TODOS?
a liquidez das relações frente a morte de pessoas trans
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida / Zygmunt Bauman; tradução, Plínio
Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. Disponível em:
<https://farofafilosofica.files.wordpress.com/2016/10/modernidade-liquida-zygmunt-bauman.
pdf> Acesso em 14 jul. 2020.
SANTOS, Juliana Oliveira; KRAWCZAK, Kaoanne Wolf. Brasil, o país que mais mata: uma
análise crítica acerca da violência contra travestis e transexuais. Ciências Criminais &
Direitos Humanos, v. II, 1ª ed.. Bento Gonçalves-RS: Editora Refletindo o Direito, 2017, p.
94 - 106. Disponível em:
<https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/54265233/Ciencias_Criminais___Direitos_Humanos_
63
Graduando em Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Pesquisador vinculado à Cátedra Jean
Monnet FECAP – Grupo de Estudos Defensores dos Direitos Humanos; Pesquisador do projeto de pesquisa “Do
acesso à justiça no Direito de Família” cadastrado sob o n. 11742 na PROPPG da UEL; Pesquisador no projeto
de pesquisa “Transgeneridades e o direito ao nome” cadastrado sob o n. 11883 na PROPPG da UEL. E-mail:
queiirozmatheuss@gmail.com.
148
-_Volume_II_-_Editora_Refletindo_o_Direito.pdf?1503921813=&response-content-dispositi
on=inline%3B+filename%3DCIENCIAS_CRIMINAIS_and_DIREITOS_HUMANOS.pdf&
Expires=1595175249&Signature=FL7kWkV136PjlFQaiXlcKzWkQWuO98LJLHj2RY3JJjtx
DeMjbqiAyQxhJB-Y~qRYYkPZKOrqCERf2jXM8YUwwfac-ZaXxYjaV1cLvld9-i~mtiKB3
~-yP8Cq4jWkGuVXfEubPWbr9bcKKb1pFFi30uaXazkC2N7DMIFC82BPU09TRMTNiYg
F3GSeFAK8D5VEm0390aYRpO79sgbqhoZ3JE-xKZWii~bjD39RmsjJ8~sXagZgr8PMY-2a
f1mockHAQPl-xf223o9iXtWvaJX3sEx-7YrrpmbK4h2oHxsQGqCLfKMtNtvBuvIASLst7bn
8ptf-ToqT6I4EjzMmoFdH8A__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA#page=95>
Acesso em: 15 jul. 2020.
149
A TRANSEXUALIDADE EM ÊXODO:
dos resistentes aos invisíveis
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Paulo Rogers. Os Afectos Mal-Ditos: o indizível das sociedades camponesas.
2006. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social, Universidade de Brasília, Brasília.
64
Estudante de Direito na Universidade do Estado de Minas Gerais de Diamantina. Participante PIBIC/Fapemig
pelo Grupo de Pesquisa, CNPQ: “Gênero e Efetivação dos Direitos da Pessoa” com linha de pesquisa em “Os
Efeitos da Despatologização da Transexualidade: entre Reconhecimento e Tolerância dos Direitos da Pessoa”
durante o período de 2018 a 2019. E-mail: biellohan@hotmail.com.
65
Entrevista realizada presencialmente pelo autor do artigo presente na instituição “Casa Nem” - que abriga a
comunidade trans em situações de vulnerabilidade - no dia 10 de outubro de 2018. Disponível em:
https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1y2pOL2q_zhFEeH8OlBO0itwcYGOUNKlU
150
O DIREITO AO PRÓPRIO SER:
a proteção dos direitos da personalidade às modificações corporais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BENTO, Berenice Alves de Melo. O que é transexualidade. São Paulo: Brasiliense, 2008.
BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 8. ed. rev., aum. e mod. por
Eduardo C. B. Bittar. São Paulo: Saraiva, 2015.
FACHIN, Luiz Edson. O corpo do registro no registro do corpo: mudanças de nome e sexo
sem cirurgia de redesignação. Revista Brasileira de Direito Civil: IBDCivil Instituto
Brasileiro de Direito Civil, v. 1, p. 36-60, Julh. 2014.
LISBOA, Natalia de Souza; SOUZA, Iara Antunes de. Nome social dos transexuais e
travestis: identidade de gênero e a regulamentação da UFOPP. Direito Civil Contemporâneo.
Organização CONPEDI/UFMG/FUMEC/ Dom Helder Câmara; coordenadores Chistian Sabb
Batista Lopes, José Sebastião de Oliveira, Maria Goretti Dal Bosco – Florianópolis,
66
Mestrando em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Advogado. E-mail:
jricardosantos@outlook.com.
67
Advogada. Graduada em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO)
– SP. E-mail: carolinadavanso.ad@gmail.com.
151
CONPEDI, P. 102-117. 2016.
152
SAÚDE MENTAL DAS MULHERES LÉSBICAS
a lesbofobia como aspecto de violência psicológica no Brasil
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais [recurso eletrônico]: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ARIMA, AC; FREITAS, JL. O Luto velado: a experiência de viúvas lésbicas em uma
perspectiva fenomenológico-existencial. Temas em Psicologia, v. 25, n. 4, p. 1467–1482,
2017.
68
Graduanda em Medicina pela Faculdades Pequeno Príncipe (FPP), Paraná – Curitiba,
valeria.armas.villegas@hotmail.com.
69
Graduanda em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), bolsista do Programa de
educação tutorial (PET) e estagiária Cátedra Unesco- UFGD, Mato Grosso do Sul – Dourados,
kleire@icloud.com.
153
Latinoamericana, v. 37, n. 1, p. 47–61, 2019.
BRAGA, IF [et al]. Violência familiar contra adolescentes e jovens gays e lésbicas: um
estudo qualitativo. Revista brasileira de enfermagem, v. 71, n. suppl 3, p. 1220–1227,
2018.
FACCHINI, R [et al]. Dossiê Saúde das Mulheres Lésbicas: Promoção da Eqüidade e da
Integralidade. Disponível em: <www.neps.org.br/quereres/intro.html>. Acesso em: 13 de set.
de 2020.
154
O “CUIDADO DE SI” FOUCAULTIANO NA SOCIABILIDADE TRANS EM
CAMPO GRANDE (MS)
Resumo: Este trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul –
PPGAS/UFMS. O objetivo é investigar a relação do cuidado de si foucaultiano a partir da
sociabilidade de pessoas travestis e transexuais da/na cidade de Campo Grande (MS). Assim,
a partir da perspectiva antropológica, busca-se compreender quais os elementos acionados
por pessoas trans para uma constituição ética e estética e que estão para além das questões
relacionadas a sua inserção político-social (ou que a ela não se reduzem). Nesse processo
analítico-refletivo, a agência é tomada como um conceito central, pois nos oportuniza
compreender as nuances que cercam as condições sociais sem perder de vista a capacidade de
mobilização e negociação dos sujeitos bem como os afetos e desejos que os atravessam.
Deste modo, o “cuidado de si” é assumido aqui enquanto potência polissêmica e
desestabilizadora que nos auxilia no entendimento dos modos de ser e estar das pessoas trans
no mundo.
Palavras chave: pessoas trans; teoria queer; cuidado de si; agência; Mato Grosso do Sul.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEDETTI, Marcos Renato. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro:
Garamond, 2005.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade II: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: ed.
graal, 1984.
SWAIN, Tania Navarro. Para além do binário: os queers e o heterogênero. Gênero, núcleo
transdisciplinar de estudos de gênero (nuteg), v. 2, n. 1, p. 87-98, 2. sem. 2001.
70
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (PPGAS/UFMS). E-mail: arieldorneless@gmail.com
71
Doutor em Antropologia Social, Docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS). E-mail: esmael_oliveira@live.com
155
Dissertação (Mestrado em cultura e sociedade). Universidade Federal da Bahia, programa
multidisciplinar de pós-graduação em cultura e sociedade, Salvador, 2016.
156
NOTAS PARA CONCEPÇÕES TRANSVIADAS DE SAÚDE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEDETTI, Marcos Renato. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de janeiro:
garamond, 2005.
ROCON, Pablo Cardozo et al. (Trans)formações corporais: reflexões sobre saúde e beleza.
Saúde soc. São paulo, v.26, n.2, 521-532, 2017.
72
Psicóloga, mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS), e-mail: daniellacmesquitaf@hotmail.com.
73
Doutor em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), professor na Faculdade de Ciências Humanas da
Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD) e no Programa de Pós-graduação em Antropologia da
Universidade Federal da Grande Dourados (PPGANT/UFGD), e-mail: esmael_oliveira@live.com.
157
SAÚDE DA MULHER LÉSBICA E BISSEXUAL
uma análise das cartilhas e campanhas institucionais do Ministério da Saúde de 2006 a
2015
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Chegou a hora de cuidar da saúde: um livreto especial para
lésbicas e bissexuais. Brasília, 2006. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/chegou_hora_cuidar_saude.pdf>. Acesso em:
17 jul. 2020.
159
MULHERES DESVIANTES:
a exclusão das mulheres lésbicas nos programas de políticas públicas
Resumo: O presente artigo analisa as dificuldades enfrentadas por mulheres lésbicas com
relação à obtenção de direitos mínimos e a sua inclusão dentro das políticas públicas. Tendo
em vista a estrutura patriarcal, na qual se impõem comportamentos determinados às
mulheres, as ações oriundas do Estado pautam-se por ideologias sexistas e heteronormativas,
consequentemente excluindo aquelas que fogem à regra. Dessa forma, quando mulheres
desviam desse padrão comportamental, em qualquer uma de suas características, são
rechaçadas por parcela da sociedade, que as deixa à mercê de direitos básicos e de uma vida
digna. Portanto, a construção social de uma figura submissa e dócil da mulher, impondo a
passividade e o papel de esposa de um homem, que a possui como sua propriedade, constrói o
caminho para políticas públicas excludentes, afetando diretamente a obtenção de direitos e
garantias das mulheres lésbicas, que ousam desafiar o núcleo de uma sociedade machista e
falocêntrica. A partir da análise de políticas públicas, como por exemplo o atendimento à
saúde pública, o atendimento a grupos familiares, o combate às violências e discriminações,
objetiva-se identificar as lacunas que circundam a polêmica fabricada em torno da expressão
sexual feminina. Por fim, busca-se debater os resultados conquistados pelas pressões dos
movimentos lésbicos, de forma a garantir a luta contra a lesbofobia dentro do Plano Nacional
de Políticas para Mulheres.
Palavras-chave: políticas públicas; exclusão; mulheres lésbicas; desviância.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Laudenize Souza Carvalho; PHILIPPI, Miriam May. Percepção de lésbicas,
gays e bissexuais em relação aos serviços de saúde. Universitas: Ciências da Saúde,
Brasília, v. 11, n. 2, p. 83-92, jul./dez. 2013.
MELLO, Luiz; AVELAR, Rezende Bruno de; MAROJA, Daniela. Por onde andam as
políticas públicas para a população LGBT no Brasil. Sociedade estado, Brasília, v. 27, n. 2,
p. 289-312, Aug. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922012000200005&lng=
en&nrm=iso>. Acesso em: 20 de ago. de 2020.
MELLO, Luiz; BRITO, Walderes; MAROJA, Daniela. Políticas públicas para a população
LGBT no Brasil: notas sobre alcances e possibilidades. Cadernos Pagu, Campinas, n. 39, p.
403-429, Dec. 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332012000200014&lng=
en&nrm=iso>. Acesso em: 20 de ago. de 2020.
MELLO, Luiz; AVELAR, Rezende Bruno de; BRITO, Walderes. Políticas públicas de
segurança para a população LGBT no Brasil. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis,
v. 22, n. 1, p. 297-320, Apr. 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2014000100016&lng=
en&nrm=iso>. Acesso em: 20 de ago. de 2020.
75
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, fsmah22@gmail.com.
76
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, isabel.iantas9@gmail.com.
160
PAIVA, Antonio Cristian Saraiva; MELLO, Luiz. Políticas de gênero e sexualidade:
pensando a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 44, n. 1, 2013, p. 7-9. Disponível em:
<http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/9114>. Acesso em: 20 de ago. de 2020.
PIASON, Aline da Silva; STREY, Marlene Neves. A política pública para mulheres em
sua diversidade e os espaços de visibilidade das lésbicas. Seminário Internacional
Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. Disponível em:
<http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1373331085_ARQUI
VO_AlinePiason.pdf>. Acesso em: 15 de jul. de 2020.
161
POLÍTICAS PÚBLICAS E A COMUNIDADE LGBT+
77
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia, Goiás. ricelly.pires@hotmail.com
78
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. anabiaferrodemelo@gmail.com
79
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia, Goiás. eduardoccoe@gmail.com
80
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS.Médico da SMS
Goiânia. Membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Goiânia, Goiás. musmanno@gmail.com
162
minimizar a opressão normativa enfrentada por essa minoria e alcançar, de fato, o acesso ao
direito civil assegurado em consonância às melhorias dos direitos já conquistados por essa
população específica.
Palavras-chave: LGBT; Políticas públicas; Direitos humanos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria GM/MS Nº 2.836, de 01 de Dezembro de 2011.
Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral
LGBT). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. v. 0, n. 0, p. 35, 02 dez 2011.
Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2836_01_12_2011.html>. Acesso
em: 31 ago. 2020.
163
A NECESSIDADE DE SE PENSAR LIMITES ÉTICOS E JURÍDICOS DA
ATUAÇÃO MÉDICA SOBRE CORPOS INTERSEXO NO BRASIL
Resumo: O presente trabalho tem como escopo investigar os limites éticos e jurídicos da
atuação médica sobre os corpos de pessoas intersexo que nascem com genitália ambígua no
Brasil, país no qual a regulação sobre o tema é escassa. Assim, busca-se promover a reflexão
acerca da necessidade de uma delimitação precisa da conduta médica, a fim de se evitarem
mutilações e tratamentos hormonais invasivos. Por meio de pesquisa exploratória, com base
em comparação bibliográfica e análise de dados, serão abordados a definição de intersexo; o
tratamento dispensado a tais pessoas à luz do Conselho Federal de Medicina, da legislação
brasileira e de tratados internacionais; e, ainda, o que as legislações e regulações estrangeiras
tem a ensinar em relação à conduta médica perante corpos intersexo. Pretende-se, dessa
forma, afastar a ideia de patologização e urgência de normatização de corpos dissidentes à
lógica binária, convocando a necessidade de se pensar limites éticos e jurídicos que tutelem a
dignidade e autonomia do indivíduo intersexo.
Palavras-chave: Intersexualidade; Direito; Regulação; Saúde; Despatologização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBAN, Carlos Eduardo de Oliveira. A reificação nos discursos e práticas biomédicas em
intersexos: a violação de direitos e a luta pela despatologização. Dissertação de mestrado.
defesa em 26.02.2018. Unisinos. Disponível em:
<http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/7632>. Acesso em 10 jul. 2020.
81
Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Membra do Grupo de Estudos e
Pesquisas Direito e Ficção (UFES), Bioethik (UFES) e Trabalho, Seguridade Social e Processo (UFES). CV
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8438402633494419. E-mail: anabeatriz.fonsecas@gmail.com.
164
REPRESENTATIVIDADE TRANS NA POLÍTICA:
estudo de caso do projeto de lei do senado (PLS) 191 de 2017 para alteração da Lei
Maria da Penha
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AREIA, Ari; VIEIRA, Helena. LGBTs e a política partidária: Sobre disputa e democracia.
São Paulo: Revista Cult, 2016.
PITKIN, Hanna. Representação: palavras instituições e ideias. Revista Lua Nova, Número
67, 2006.
82
Graduanda em Direito pela Instituição de Ensino Superior Faci Wyden, em Belém do Pará, atualmente no 4º
Semestre, obtendo o endereço eletrônico brunamelo.silva02@gmail.com.
165
PRADO, Marco Aurélio Máximo. Transexuais e travestis nas eleições 2016. Sexuality
Policy Watch. 2016.
YOUNG, Iris Marion. Representação política, identidade e minorias. Revista Lua Nova,
Número 67, 2006.
166
O ACESSO A POPULAÇÃO TRANSGÊNERO E TRAVESTIS À ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE:
uma revisão
Resumo: O Brasil é o país que mais mata transgêneros e travestis no mundo, identificando,
tornando-os vulneráveis e sofrendo efeitos da discriminação e exclusão em todas as esferas,
inclusive no processo saúde-doença. Dentro da população LBGT, são as maiores vítimas de
estigmatização, discriminação e violência, fazendo a necessidade de estudos e políticas que
abordem essa temática no âmbito da saúde. Compreender sobre o acesso dos transgêneros e
travestis à Atenção Primária à Saúde (APS) e suas dificuldades. Este trabalho é uma revisão
de literatura sistemática, onde os bancos de dados eletrônicos consultados foram: SciElo,
PubMed e Google Scholar, de 2013 a 2020. Como critérios de inclusão foram preferíveis,
revisões integrativas, relatos de caso e estudos de coorte. Foram avaliados 13 artigos, sendo
que 54% afirmam que o acesso da população trans à APS é baixo e ocorre devido ao
enfrentamento de diversas barreiras. Dentre elas, citam-se a discriminação, violência, a
construção de gênero estigmatizada e patologizada pelos profissionais, além de dificuldades
na utilização de pronomes de tratamento. Ademais, 100% dos trabalhos indicam o despreparo
dos profissionais para com o acolhimento da população LGBT, sobretudo a população trans e
travestis. As principais estratégias para o combate, incluem o investimento na formação e
educação permanente dos profissionais de saúde, citado em 30% dos artigos, a
implementação de ações e políticas de atenção em saúde, em 46% dos artigos, além do
conhecimento sobre a política nacional de atenção integral à população LGBT e da
importância da notificação em casos de violência. Foi notado que o acesso da população trans
e travestis é inferior às demais, sendo as principais dificuldades a discriminação e o
despreparo dos profissionais. Dessa forma, é necessário o aprimoramento no acolhimento
dessa população na atenção primária, melhor formação dos profissionais e implementação de
políticas governamentais.
Palavras-chave: Acesso à saúde; População transgênero e travestis; Atenção primária à
saúde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
DE CARVALHO PEREIRA, L. B.; CHAZAN, A. C. S. O acesso das pessoas transexuais e
travestis à atenção primária à saúde: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de
Medicina de Família e Comunidade, Rio de Janeiro, v. 14, n. 41, p. 1795, 2019. Disponível
em: <https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1795>. Acesso em: 17 jul. 2020.
SILVA, Ariadne Soares Moraes. Reflexões sobre a Política Nacional de Saúde Integral de
LGBT: percepção de enfermeiros que atuam na atenção primária à saúde. Monografia
(Graduação em Enfermagem) - Escola Superior de Ciências da Saúde, Brasília, 2019.
83
Acadêmica de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia – Goianésia (GO), Brasil.
mariaeduarda.15@hotmail.com.
84
Acadêmica de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia – Goianésia (GO), Brasil.
maria.osana1@gmail.com.
85
Acadêmico de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia – Goianésia (GO), Brasil.
gabrielgouveia_@hotmail.com.
167
AMORIN, Juliana de Freitas et al. Atendimento das necessidades em saúde das travestis na
atenção primária. Revista Baiana de Saúde Pública, Salvador, v. 44, n. 03, p. 759-773, 17
jul. 2020. Disponível em:
<https://pdfs.semanticscholar.org/854a/a46e38d0f4e981efd1ac50b8de6ec3917dfa.pdf>.
Acesso em: 17 jul. 2020.
ARAÚJO, E. T.; SOUSA, G.; CARVALHO JÚNIOR, J. A.; PESSÔA, F. G. DE; MOURA,
L. K. Acolhimento à população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros na atenção
básica. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 92, n. 30, 30 jun. 2020.
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à saúde sobre pessoas LGBT. Trab. educ. saúde, Florianópolis, v. 17, ed. 02, 2019.
Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/brasil/resource/pt/biblio-986164>. Acesso em:
17 jul. 2020
PINTO, Isabella Vitral et al. Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais registradas no Sistema de Informação de Agravos de
Notificação, Brasil, 2015 a 2017. Revista Brasileira de Epidemiologia, Rio de Janeiro, v.
23, p. 1-13, 3 jul. 2020. Disponível em:
<https://www.scielosp.org/article/rbepid/2020.v23suppl1/e200006.SUPL.1/>. Acesso em: 17
jul. 2020.
168
SILVA, Amanda de Cassia Azevedo da et al. Implementação da Política Nacional de Saúde
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNSI LGBT) no Paraná,
Brasil. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 24, p. 1-15, 29 abr. 2020.
Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832020000100239&lang
=pt>. Acesso em: 17 jul. 2020.
FERREIRA, Breno de Oliveira et al. Abrindo os armários do acesso e da qualidade: uma
revisão integrativa sobre assistência à saúde das populações LGBTT. Ciência & Saúde
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<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232020000501765&lang
=pt>. Acesso em: 17 jul. 2020.
169
A JUDICIALIZAÇÃO DOS DIREITOS DA COMUNIDADE LGBT:
uma questão a ser refletida
Jackson de Jesus Sousa Leite 86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALVI, Pedro. Muito além do arco-íris: Congresso não aprova leis pró-LGBTIs desde 1988.
86
Graduando em Direito pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus XIX. E-mail:
jahcksonleyte@gmail.com
170
Portal Câmara dos Deputados, 2019. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/n
oticias/muito-alem-do-arco-iris-congresso-nao-aprova-leis-pro-lgbtis-desde-1988>. Acesso
em: 30 jun. 2020.
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 14 ed. Salvador: Juspodivm,
2020.
Maioria na Câmara se declara católica; número de evangélicos cresce. G1 Notícias, 27 nov.
2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/11/27/maioria-na-camara-se-declara-catolica-nu
mero-de-evangelicos-cresce.ghtml>. Acesso em: 11 set. 2020.
171
GAYS E HSH:
ruídos e escolhas lexicais no protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção
integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis (IST) do Ministério da
Saúde
Resumo: Este resumo apresenta uma parte da Pesquisa de Iniciação Científica89 com o título:
Análise discursiva de uma abordagem LGBT+ do Manual do Ministério da Saúde sobre
Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e objetiva analisar alguns achados no
documento do Ministério da Saúde de orientação a profissionais da Assistência (BRASIL,
2015). O manual elenca como grupos de risco: gays e HSH, que seriam homens que fazem
sexo com homens. Porém não menciona em nenhuma parte as lésbicas e as que poderíamos
também chamar, a partir de um paralelo com primeira sigla, de MSM, mulheres que fazem
sexo com mulheres (BRASIL, 2015). Já, em relação à esfera masculina, têm-se dois termos
que chamam a atenção pela sua identificação de forma distinta: HSH e gays (BRASIL, 2015).
Os autores não delimitam quais indivíduos pertencem a quais grupos, não justificam o uso
desses termos nem a exclusão de outros como, por exemplo, o termo homossexual. Logo, é
possível inferir alguma inabilidade em delimitar grupos e, também, a vinculação do termo
gay aos riscos de ISTs, embora o termo designe mais que corpos, mas uma cultura e permita
o questionamento do não uso de expressões como práticas sexuais ou sujeito homossexual
(PEREIRA, 2004). Além da Inabilidade, é possível inferir a manutenção de um discurso
patologizante e moralizador além de um espelhamento de estruturas binárias maquiavélicas
de bem e mal, saúde e doença, heteronormativo e não heteronormativo, o que está associado à
segurança ou não segurança (DUNKER; KYRILLOS NETO, 2010). Por fim, a presença
dessas estruturas lexicais e a ausência de outras tendem a agravar os indicadores de Saúde
dessa população e acentuarem ainda mais suas categorias de populações vulneráveis (LÚCIO,
et al. 2019).
Palavras-chave: HSH; Gays; ISTs; Saúde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST,
Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção
Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília: Ministério da
Saúde, 2015.
87
Graduando em Medicina da Universidade federal da Grande Dourados (UFGD). Bolsista PIBIC UFGD.
E-mail: daniel.carvalho.nunes@gmail.com.
88
Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail: c onradosathler@ufgd.edu.br.
89
Pesquisa com financiamento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC UFGD.
172
PEREIRA, C. A. M. O impacto da AIDS, a afirmação da ‘cultura gay’ e a emergência do
debate em torno do ‘masculino’ – fim da homossexualidade? In: RIOS, L. F; ALMEIDA, V.;
PARKER, R.; PIMENTA C.; TERTO JUNIOR, V. (Org.). Homossexualidade: produção
cultural, cidadania e saúde. Rio de Janeiro: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS,
2004.
173
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS TRANSEXUAIS:
em busca do reconhecimento deste direito no STF
Resumo: o uso de banheiro público por pessoas transexuais tem causado uma série de
constrangimentos e violações a direitos fundamentais, gerando ações judiciais que discutem
sobre a existência ou não deste direito. Em Sorocaba-SP, uma lei municipal que proibia o uso
de banheiros públicos segundo a identificação da pessoa em escolas do município foi
declarada inconstitucional, contudo, o argumento foi por inconstitucionalidade formal por
violação de competência da União para legislar sobre educação. No âmbito do trabalho, a
questão também gera controvérsia, havendo uma proliferação de julgados para se solucionar
os conflitos caso a caso. O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e promoção dos
direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais por meio da Resolução nº 12, de
16 de janeiro de 2015, estabeleceu o direito ao uso de banheiro público conforme a identidade
de gênero. A questão está sob julgamento no Supremo Tribunal Federal, no Recurso
Extraordinário 845.779, que já reconheceu em sede de repercussão geral o direito ao uso de
banheiro público por pessoas transexuais. O Ministério Público Federal já se manifestou de
forma favorável ao uso do banheiro público com base nos Tratados Internacionais de
Direitos Humanos, na doutrina do reconhecimento como dignidade e inclusão social de Axel
Honneth, destacando a inconstitucionalidade de um chamado “terceiro banheiro” exclusivo
para pessoas transexuais, por configurar medida discriminatória de segregação. Identificar os
fundamentos jurídicos e políticos que têm embasado as decisões judiciais, especialmente a
decisão do STF, a fim de delinear possíveis fundamentos e suas repercussões. A questão será
decidida com base em inconstitucionalidade formal por algum vício de iniciativa,
competência ou procedimento ou a questão será decidida com base em inconstitucionalidade
material por violação a direitos fundamentais das pessoas transexuais, reconhecendo-se
expressamente o direito ao uso do banheiro público segundo a identidade de gênero. Trata-se
de estudo jurisprudencial, desenvolvido sob o método indutivo, para verificação dos julgados
existentes sobre o tema, na jurisprudência nacional, especialmente na base de dados do
Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. A pesquisa é qualitativa de cunho
teórico realizada por meio de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial.
Palavras-chave: banheiro público; pessoas transexuais; direito ao banheiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Resolução n° 12, de janeiro de 2015, do Conselho Nacional de Combate à
discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (CNCD/LGBT). Estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso
e permanência de pessoas travestis e transexuais - e todas aquelas que tenham sua identidade
de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais - nos sistemas e instituições de
ensino, formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de
gênero e sua operacionalização. Disponível em:
<http://www.sdh.gov.br/sobre/participacaosocial/cncd-lgbt/resolucoes/resolucao-012>.
Acesso em: 18 jul. 2020.
175
SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBTI+ NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:
entrelinhas da revisão da literatura
Resumo: Desde a 12ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2003, o tema acesso dos
cidadãos LGBTI+ vem sendo pautado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2011, foi
promulgada a Política Nacional de Saúde LGBT, que foi um marco histórico de
reconhecimento, tendo como fundamento a implementação de ações para diminuir a
discriminação, afirmando o compromisso ético-político de todas as instâncias do SUS.
Ressalta-se que nesse cenário, são necessários protocolos clínicos específicos voltados a essa
população, evitando desigualdade e negligência entre os serviços em saúde. Analisar na
literatura se a existência de protocolos clínicos específicos à população LGBTI+, na atenção
primária à saúde é uma constante. Trata-se de uma revisão da literatura, realizada através de
um levantamento bibliográfico de artigos de 2004 a janeiro de 2020, utilizando as bases
dados Nescon, PubMed e Biblioteca Virtual da Saúde, realizada em julho de 2020, com os
descritores: “atenção à saúde”, “minorias sexuais e de gênero”, “equidade em saúde”e
“atenção primária”, os quais foram cruzados com o auxílio do operador boleano “and”.
Critérios de inclusão: publicações dos últimos dez anos, nos idiomas português, inglês e
espanhol, disponíveis na íntegra e em concordância à temática do estudo. A pesquisa
identificou que, embora existam iniciativas brasileiras como a Política Nacional de Saúde
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,. Travestis e Transexuais (LGBT), a relevância da
temática no âmbito da saúde e da educação, o tema permanece excluído de grandes
discussões e da elaboração de protocolos na atenção básica, onde o usuário tem intervenções
precoces na história natural das doenças, potencializando essa abordagem ou mesmo evitando
sua necessidade. Assim, conclui-se que estratégias de aplicação de protocolos voltados para a
população LGBTI+ na Atenção Básicanão são valorizadas em âmbito nacional, o que
possibilita a desigualdade do acesso aos serviços de saúde pública.
Palavras-chave: atenção à saúde; minorias sexuais e de gênero; equidade em saúde; atenção
primária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aran, M., Murta, D.; Lionço, T.. Transexualidade e saúde pública no Brasil. Ciência &
Saúde Coletiva, 14(4), 1141-1149, 2009.
91
Graduanda de Medicina – Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP).
92
Graduanda de Medicina – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
93
Médica- Professora da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP). Orientadora.
176
SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRANSGÊNEROS:
uma revisão sistemática
Resumo: Transgênero é o termo designatório para aqueles que possuem identidade de gênero
distinta do sexo biológico. Há escassos dados acerca do número de crianças e adolescentes
transgêneros no Brasil e no mundo, apesar de sua vulnerabilidade social. Estudos acerca da
saúde mental desses indivíduos apontam elevadas taxas de depressão, ansiedade e suicídio,
consequências do estigma enfrentado por essa minoria e perpetuado por uma sociedade
heteronormativa. Considerando esse cenário, o presente artigo objetivou avaliar dados de
saúde mental em crianças e adolescentes transgêneros, bem como suas variáveis relacionadas.
Para isso, foi conduzida uma revisão descritiva de artigos indexados nas bases de dados
PubMed e BVS, com os descritores “mental health”, “transgender persons” e “children”, com
o auxílio do operador booleano AND. O referencial teórico apontou que crianças e
adolescentes transgêneros possuem taxas de sintomas de depressão, tentativa de suicídio e
automutilação maiores que a de cisgêneros. Além disso, jovens transgêneros cujos pais não
aceitam sua identidade de gênero possuem treze vezes mais chances de tentar suicídio que
jovens trans apoiados pelos pais. Também foi demonstrado que crianças que passaram pela
transição social tiveram escores de depressão iguais a de seus pares cisgênero e de ansiedade
menores que o de crianças transgêneros que não passaram pelo processo. Em suma, crianças
e adolescentes transgêneros lidam com rejeição familiar, discriminação e agressões físicas,
que contribuem para a morbidade psiquiátrica dessa população. Nesse caso, é fundamental
que eles possuam suporte em seu círculo familiar e durante a transição social, processo
significativamente afirmativo para a criança. Conclui-se que crianças e adolescentes
transgêneros estão mais vulneráveis a transtornos mentais, contudo, por meio da identificação
precoce, do apoio familiar e do suporte à transição social, é possível reduzir o risco desses
transtornos e de suas sequelas.
Palavras-chave: identidade de gênero; infância; saúde mental; psicopatologia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONNOLLY, Maureen D et al. The Mental Health of Transgender Youth: Advances in
Understanding. The Journal of adolescent health : official publication of the Society for
Adolescent Medicine, New York, v. 59, n. 5, p. 489-495, nov. 2016. Disponível em:
˂https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27544457/˃. Acesso em: 3 jul. 2020.
FONTANARI, Anna Martha Vaitses et al. Childhood Maltreatment Linked with a
Deterioration of Psychosocial Outcomes in Adult Life for Southern Brazilian Transgender
Women. Journal of immigrant and minority health, New York, v. 20, n. 1, p. 33-43, fev.
2018. Disponível em: ˂https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27838863/˃. Acesso em: 9 jul. 2020.
94
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares
(UFJF-GV); Governador Valadares - MG; leticiateixeirav@gmail.com.
95
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares
(UFJF-GV); Governador Valadares - MG; isabelacapitolio16@gmail.com.
96
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares
(UFJF-GV); Governador Valadares – MG; raissa.tiradentes@hotmail.com.
97
Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa; Governador Valadares – MG;
isisdefreitasespeschit@gmail.com.
177
OLSON, Kristina R et al. Mental Health of Transgender Children Who Are Supported in
Their Identities. Pediatrics, Springfield, v. 137, n. 3, mar. 2016. Disponível em:
˂https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26921285/˃. Acesso em: 3 jul. 2020.
PRIEST, Maura. Transgender Children and the Right to Transition: Medical Ethics When
Parents Mean Well but Cause Harm. The American journal of bioethics: AJOB,
Cambridge, v. 19, n. 2, p. 45-59, fev. 2019. Disponível em:
˂https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30784385/˃. Acesso em: 5 jul. 2020.
TELFER, Michelle et al. Transgender adolescents and legal reform: How improved access to
healthcare was achieved through medical, legal and community collaboration. Journal of
paediatrics and child health, Melbourne, v. 54, n. 10, p. 1096-1099, out. 2018. Disponível
em: ˂https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30294980/˃. Acesso em: 5 jul. 2020.
178
A SITUAÇÃO DA MULHER TRANSSEXUAL NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
BRASILEIRO
Resumo: o artigo quinto da constituição federal brasileira diz “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza (...)” com isso, entende-se que todos os cidadãos dessa
nação gozem dos mesmos direitos e são atingidos pelo os mesmos ônus. Entretanto, essa
norma constitucional, muitas vezes, não se aplica a todos na sociedade. Um dos grupos
sociais em que essa norma não se aplica, é no grupo LGBT+. Esse grupo é composto por
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, entre outros. Pode se considerar como o
marco histórico para o movimento, o dia 28 de junho de 1969, quando lésbicas, gays,
travestis e drag queens enfrentaram policiais que constantemente promoviam revistas
humilhantes e violentas em bares gays de Nova Iorque. Apesar de tantas lutas e
reivindicações, muitos direitos ainda não foram reconhecidos. E um deles é o de mulheres
trans cumprirem penas em instituições prisionais femininas. No Brasil, não existe nenhuma
lei que regulamenta essa situação, e com isso, muitas mulheres trans cumprem suas penas em
instituições carcerárias masculinas, onde são submetidas a constantes violências, como:
sexuais, físicas e emocionais. Esses casos de violências ocorrem diariamente, mas essas
situações não são explanadas para a sociedade, pois não é algo que preocupe e comova as
pessoas, não “vende” em programas sensacionalistas. Quando isso ocorre, há um rompimento
com o direito à integridade física e psíquica, e o da dignidade da pessoa humana. A partir do
momento em que essas pessoas tiveram o direito de reconhecimento de sua identidade de
gênero, devem usufruírem de todos os direitos e acessibilidades que tal gênero possui. Logo,
ao cumprirem uma pena, devem ser encaminhadas para instituições onde estão os seus
semelhantes. Por tanto, é necessário a criação de normas que concretize tal direito, dá
acessibilidade judicial, para que esses indivíduos possam recorrer caso tal norma não seja
respeitada, e por fim, instruir e treinar os profissionais que lidam diretamente com essas
pessoas.
Palavras-chave: Mulheres transexuais; Penitenciárias brasileiras; Vulnerabilidade; Direito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20ª edição São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 17ª edição. São Paulo: Saraiva,
2012.
MODELLI, Lais. Estupro e tortura: relatório inédito do governo federal aponta o drama de
trans encarceradas em presídios masculinos. G1, 2020. Disponível em:
<https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/02/06/estupro-e-tortura-relatorio-inedito-
do-governo-federal-aponta-o-drama-de-trans-encarceradas-em-presidios-masculinos.ghtml>.
Acesso em: 08 de Jul. 2020.
98
Graduação, Universidade estadual de Londrina (UEL), Paraná-Londrina, Lucasbatista16@live.com.
179
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE E DIREITO DA POPULAÇÃO LGBTQIA+:
uma análise crítica sobre o panorama das minorias nas diferentes instâncias sociais
Referências Bibliografia:
LIMA, M. D. A et al. Os desafios a garantia de direitos da população lgbt no sistema único de
saúde (sus). Revista Interfaces, Vol. 3(11), pp. 119-125, 29 de Julho, 2016.
LIMA, T. N. B et al. Atenção à Saúde da População LGBT numa capital nordestina. Revista
Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health, Vol.Sup.34, outubro de
2019.
SILVA, R. C. Diversidade sexual e política nacional de saúde integral lgbt: pelo direito à
cidadania das pessoas lgbt e desafios aos assistentes sociais. Anais do 16º Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais, Brasília (DF, Brasil), 30 de outubro a 3 de novembro de
2019.
99
Acadêmica do curso de Medicina das Faculdades Santo Agostinho, valeriamarques2812@gmail.com
100
Técnica de enfermagem, Acadêmica do curso de Medicina das Faculdades Santo Agostinho,
Shesllenmikaelly@gmail.com.
180
GOMES, S. M et al. O SUS fora do armário: concepções de gestores de saúde municipais de
saúde sobre a população LGBT. Saúde e Sociedade, v.27, n.4, p.1120-1133, 2018.
181
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR HOMENS HOMOSSEXUAIS:
a ADI 5543 e a necessidade de políticas públicas inclusivas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Eduardo. (In)constitucionalidade da doação de sangue por homossexual
masculino: direito individual versus interesse coletivo. 2018. 73 f. TCC (Graduação) -
Curso de Direito, Universidade Veiga de Almeida, Cabo Frio, 2018. Disponível em:
<https://www.academia.edu/37211723/_in_constitucionalidade_da_doacao_de_sangue_por_
homossexual_masculino_direito_individual_versus_interesse_coletivo>. Acesso em: 19 jun.
2020.
101
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
naatdir@hotmail.com.
102
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
cristianedantasandrade@hotmail.com.
103
Doutoranda e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
priscilaribeiroj@hotmail.com.
182
________. Resolução da Diretoria Colegiada nº 153, de 14 de junho de 2004. Disponível
em: <http://www.sbpc.org.br/upload/noticias_gerais/320100416113458.pdf>. Acesso em: 15
jun. 2020.
183
HÁ DIREITOS PARA QUEM NÃO IMPORTA?
racismo de estado e necropolítica diante da comunidade LGBTQIA+
Resumo: o Brasil é um dos países que mais extermina vidas LGBTQIA+ no mundo. Logo, é
indispensável trazer à tona que nossas relações sociais são regidas pela institucionalização do
Racismo de Estado. É ela quem determina quem vive e quem morre, sobretudo, delimita seus
alvos de aniquilação. As minorias que compõem a comunidade LGBTQIA+ (em especial,
mulheres transexuais, travestis, transgêneros e homossexuais - afeminados) fogem dos
estereótipos sociais heteronormativos e são estigmatizadas e podem receber ao longo de suas
existências sentenças prematuras de morte. Vale destacar que não é necessário que um corpo
esteja sem vida para que ele transborde sofrimento, uma vez que apenas os corpos que
emanam vida podem ser ceifados. Além disso, essa realidade segue permeada pela biopolítica
junto da necropolítica que vai torturando essa comunidade, pouco a pouco, negando-a o
mínimo como Direitos Fundamentais que são garantidos pela Constituição Federal Brasileira.
Um Estado teoricamente laico hesita em pleno século XXI e não abandona o manto da fé para
garantir aquilo que é de direito dessa comunidade. As vítimas desse sistema seguem
suspirando todos os dias em meio a muita resistência. Todas as perspectivas de um futuro
palpável podem desaparecer repentinamente ou nunca existirem de fato, restando apenas
rotas de fuga que irão marginalizá-las ainda mais. Nesse contexto, junto à metodologia de
análise de revisão bibliográfica e documental busco com esta pesquisa - ainda em processo de
desenvolvimento - demonstrar através de uma breve análise que o intitulado Estado
Democrático de Direito segue omisso e consequentemente contribuindo (veladamente ou
não) junto aos extermínios que vitimizam a comunidade LGBTQIA+.
Palavras-chave: Racismo de Estado; Biopolítica; Necropolítica; Minorias; LGBTQIA+.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECKER, Simone; OLIVEIRA, Esmael Alves de. Educação e direitos para (in)humanos?
Alguns dilemas de LGBT´s perante o discurso jurídico brasileiro. Revista Tempos e
Espaços em Educação, v. 9, n. 19, p. 163-180, mai./ago. 2016. Disponível em:
<https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/5603>. Acesso em: 02 fev. 2019.
BENEVIDES, Bruna G.; NOGUEIRA, Sauonara Naieder Bonfim (Orgs.). Dossiê dos
assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019. São Paulo:
Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2020. Disponível em:
<https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/01/dossic3aa-dos-assassinatos-e-da-violc3aanci
a-contra-pessoas-trans-em-2019.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2020.
Graduando em Direito pela Faculdade de Direito e Relações Internacionais (FADIR) da Universidade Federal
104
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
185
A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO EM PSICOLOGIA PARA A PREVENÇÃO DO
SUICÍDIO ENTRE LGBTQIA+
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOARES, A. F. B; MASSARO, A. C; CAMPARINI, K. S. M. O papel do psicólogo junto ao
movimento LGBTTT. In: Simpósio Sobre Gênero E Políticas Públicas, 1, 2010, Londrina.
Anais... Londrina: UEL, 2010. p. 36-50. Disponível em
<http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/4.KarluzeCia.pdf>. Acesso em 14 Julio 2020.
105
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos/ Jacarezinho-PR/
jsouzabonardi@gmail.com.
106
Mestre em Psicologia e Sociedade pela UNESP (Campus de Assis-SP)/ Jacarezinho-PR/
marcos.nunes@ifpr.edu.br.
186
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A PROTEÇÃO
INTERNACIONAL DE PESSOAS LGBTQIA+:
uma análise sobre a proteção da comunidade LGBTQIA+ no contexto internacional
Resumo: o Direito Internacional dos Direitos Humanos pode ser definido como aquele que
visa proteger a vida, a saúde e a dignidade das pessoas, (independente da nacionalidade). Os
Direitos Humanos foram internacionalizados pós 2ª Guerra Mundial, quando, em 1948, a
Organização das Nações Unidas, à época, com 51 países-membros, redigiu a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, a qual objetiva-se em promover respeito à direitos citados
na declaração e à liberdade; não obstante, hodiernamente, a comunidade LGBTQIA+ ainda
não é efetivamente atendida pela proteção internacional, haja vista os altos índices de
violência (em suas mais variadas formas) contra pessoas LGBTQIA+. O objetivo do trabalho
trata-se da análise de casos onde o Direito Internacional dos Direitos Humanos tenha sido
omisso em relação à população LGBTQIA+ e de como podemos garantir esses direitos de
forma justa à comunidade. Utilizou-se da cartilha “Livres & Iguais Nações Unidas pela
Igualdade LGBT”, “Estudos sobre diversidade sexual e de gênero: atualidades, temas,
objetos” para uma pesquisa qualitativa e documental sobre o assunto. Os resultados da
pesquisa salientam para violações dos direitos de pessoas LGBTQIA+ ao redor do mundo;
aponta, também, para a premência da discussão acerca da ação do direito internacional dos
direitos humanos sobre o tema supracitado, fazendo com que a dignidade e a vida da
comunidade LGBTQIA+ seja efetivamente assegurada. Em virtude do que foi mencionado,
conclui-se que a problemática da proteção dos LGBTQIA+ pelo Direito Internacional dos
Direitos Humanos, apesar de já ter alcançado grandes feitos, ainda precisa ser mais constante
e obstinada para alcançar a igualdade que a comunidade almeja e precisa.
Palavras-chave: Direito Internacional; LGBTQIA+; Direitos Humanos; Garantias; violações
aos direitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOUZA, Humberto; JUNQUEIRA, Sérgio; REIS, Toni (orgs.). Estudos sobre a diversidade
sexual e de gênero: atualidades, temas, objetos. Curitiba: IBDSEX, 2020.
ORGANIZATION, United Nations. United Nations Human Rights: United Nations Free &
Equal. ONU, 2014.
107
Graduanda em Direito pela Universidade da Amazônia (UNAMA) - Belém (PA) - Brasil.
correabruna49@gmail.com.
108
Graduando em Direito pelo Centro Universitário do Pará (CESUPA) - Belém (PA) - Brasil.
fagundeslucas008@gmail.com.
187
<https://jus.com.br/artigos/63381/o-direito-internacional-dos-direitos-humanos>. Acesso em:
03 jul. 2020.
188
A PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA FÍSICA NA COMUNIDADE LBGTQIA+ DE
ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE NO PARÁ
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOTELLHO-PEÑALOZA, Héctor Alberto; GUERRERO-RINCÓN, Isaac. Incidencia de la
violencia física en la población LGBT en Ecuador. Civilizar: Ciencias Sociales y Humanas,
Ecuador vol. 18. n. 35. p. 129-138, jul.-dez./2018. Disponível em:
<https://revistas.usergioarboleda.edu.co/index.php/ccsh/article/view/v18n2a10/921>. Acesso
em: 19 jul 2020.
109
Acadêmica de Medicina na Universidade do Estado do Pará (UEPA) - gabrielaparacampo@gmail.com.
110
Acadêmica de Direito na Universidade Federal do Pará (UFPA) - beatriznmattar@gmail.com.
111
Mestre em saúde coletiva, docente da Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (UNIFAMAZ) e
pesquisador da Universidade do Estado do Pará (UEPA) - sergio.lima@outlook.com.
189
GRUPO GAY DA BAHIA. Morte violentas de LGBT+ no Brasil relatório 2018. Bahia,
2018. Disponível em:
<https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relat%C3%B3rio-de-crimes-contra-lg
bt-brasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf>. Acesso em: 19 jul 2020.
SILVA, Vitória Régia. Banalização do discurso de ódio leva ⅓ dos LGBTs+ entrevistados a
afirmar que foi ameaçado, perseguido ou agredido em redes sociais. Violência contra
LGBTs+ nos contextos eleitoral e pós-eleitoral. Disponível em:
<http://violencialgbt.com.br/banalizacao-do-discurso-de-odio-leva-%e2%85%93-dos-lgbt-ent
revistados-a-afirmar-que-foram-ameacados-perseguidos-ou-agredidos-em-redes-sociais/>.
Acesso em: 19 jul 2020.
190
EXPERIÊNCIAS DE LESBOPARENTALIDADE E MILITÂNCIA FEMINISTA
LÉSBICA NO NORDESTE DO BRASIL
Resumo: Este artigo trata das narrativas sobre as experiências de uma mulher negra, militante
feminista e lésbica, que atua em um coletivo de mulheres lésbica em uma capital do nordeste
brasileiro. Escrevo inspirada em leituras de feministas negras, como Bell hooks (2019),
Grada Kilomba (2019), Sueli Carneiro (2016), Angela Figueiredo (2020) e Ana Maria Veiga
(2020). Três temáticas norteiam a escrita a partir das narrativas desta mulher que se
reconhece como lésbica na juventude e militante feminista na fase adulta: conjugalidade
lésbica, lesboparentalidade e militância feminista. Procuro então refletir sobre algumas
questões da trajetória de vida de uma militante negra, que se reconhecem como lésbica ainda
na juventude e feminista na vida adulta. Inicialmente apresento como eu, pesquisadora, e ela
militante se conheceram em um espaço de militância feminista. Desejo que a narrativa de
Antônia transformada em texto pode ser tão cativante e envolvente como foi o nosso encontro
em uma conferência estadual de mulheres no nordeste brasileiro.
Palavras-chave: Lesboparentalidade, Família lésbica; Feminismos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
AMORIM, Anna Carolina Horstmann. Novas tecnologias reprodutivas e maternidades
lésbicas no Brasil e na França: conexões entre parentesco, tecnologia e política. Tese
(Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2018.
GROSSI, Miriam Pillar. Gênero e parentesco: famílias gays e lésbicas no Brasil. Cadernos
Pagu, Campinas, n. 21, p. 261-280, 2003.
GUZZO, Morgani. Corpos e campos plurais: os feminismos das marchas das vadias no
Brasil. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e
Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas,
2019.
112
Doutora em Ciências Humanas/UFSC. claudianichnig@gmail.com
191
HOOKS, Bell. 1984. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. São Paulo:
Elefante, 2019.
LISBOA, Teresa Kleba. Violência de gênero, políticas públicas para o seu enfrentamento e o
papel do Serviço Social. Temporalis, Brasília (DF), ano 14, n. 27, jan./jun. 2014, p. 33-56.
SILVA, Kessila Maria da. Discursos que importam: um olhar sobre as trajetórias escolares
de pessoas trans* na UFSC. 2017. 72f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Ciências Sociais). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2017.
SILVA, Cristina L. C. da. Triângulo Rosa: a busca pela cidadania dos homossexuais.
Dissertação (Mestrado em Sociologia), Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 1993.
VEIGA, Ana Maria. Uma virada epistêmica feminista (negra): conceitos e debates. Tempo e
Argumento, [S.l.], v. 12, n. 29, p. e0101, abr. 2020. ISSN 2175-1803. Disponível em:
<http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180312292020e0101>. Acesso
em: 11 maio 2020.
192
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA LGBTQIA+
Resumo: Ser minoria, atualmente, é sinônimo de luta e força. Fazer parte de duas minorias é,
portanto, sinônimo de luta, força e perseverança. Nesse sentido, a população idosa
LGBTQIA+ tem um lugar de fala significativo para desmistificar tabus e preconceitos
presentes na sociedade, haja vista que a sexualidade do idoso é um assunto que gera dúvidas
e inquietações, em especial, relacionado a parcela LGBTQIA+. O objetivo deste estudo é
discutir sobre a sexualidade na velhice de pessoas LGBTQIA+, com o propósito de
compreender essa construção na sociedade. Foi utilizada a plataforma PUBMED, com os
termos ''sexuality'' AND ''ealderly'' e com os filtros “free full text”, “humanos’’, “1year’’ e
foram encontrados 11 artigos de 2019 para análise . Os resultados apontam que, durante a
velhice, seja pelas alterações fisiológicas do corpo, seja pelos preconceitos relacionados a
essa parcela, discutir sobre a sexualidade é mais complexo, pois envolve mais criatividade e
interesse para a busca da satisfação. Muitos dos paradigmas com relação ao idoso, é que o
mesmo, não tem mais a sua sexualidade, como se o envelhecimento significasse
‘’desinteresse’’ e o sexo fosse algo para jovens. Em contrapartida, apesar da afetividade
sexual não estar relacionada com a idade, o envelhecimento pode favorecer uma atividade
sexual mais satisfatória, pois os idosos acabam oferecendo aos seus companheiros algo que o
agrada e o satisfaz, não se preocupando com um bom desempenho físico e virilidade. Para
que essa realidade ocorra, faz-se necessário um processo chamado de “desgenitalização
sexual”, no qual os indivíduos reconhecem novos pontos e formas de prazer. Nessa
perspectiva, publicações acadêmicas têm afirmado que o momento atual contemporâneo verá
pela primeira vez uma geração de idosos com mais “liberdade” de expressar sua diversidade
sexual sem uma perseguição, controle ou estigmatização. Dessa forma, conclui-se que os
preconceitos frente a velhice LGBTQIA+ ainda se fazem presentes de uma forma bastante
peculiar, podendo, portanto, comprometer a qualidade da vida sexual e a diversidade sexual
do idoso, fato decorrente da falta de informações agregado ao preconceito da sociedade.
Palavras-chave: LGBT; idoso; sexualidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARKER, J.; DE VRIES, B.; HERDT, G. Social support in the lives of lesbian and gay men
at midlife and later. Sexuality Research & Social Policy, San Francisco, v. 3, n. 2, p. 1-23,
2006.
113
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. luiza.ferromoraes@gmail.com
114
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GO. Goiânia, Goiás. leticiaromeira15@gmail.com
115
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GO. Goiânia, Goiás. ricelly.pires@hotmail.com.
116
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS.Médico da SMS
Goiânia. Membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Goiânia, Goiás. musmanno@gmail.com.
193
MARCONI, M. et al. Priapism induced by use of tamsulosin: A case report and review of the
literature. Archivio italiano di urologia, andrologia : organo ufficiale [di] Societa
italiana di ecografia urologica e nefrologica, v. 91, n. 3, 2 out. 2019.
SRINIVASAN, S. et al. Sexuality and the Older Adult. Current psychiatry reports, v. 21,
n. 10, p. 97, 14 out. 2019.
TIAN, Z.; CHEN, Y.; YAN, W. Clinical features of rabies patients with abnormal sexual
behaviors as the presenting manifestations: a case report and literature review. BMC
Infectious Diseases, v. 19, n. 1, p. 679, 1 dez. 2019.
WANG, Z.-Y. et al. The Relationship between Childhood Maltreatment and Risky Sexual
Behaviors: A Meta-Analysis. International journal of environmental research and public
health, v. 16, n. 19, p. 3666, 29 set. 2019.
194
DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL NO BRASIL:
a homofobia como instrumento de sua própria manutenção social
Resumo: Por décadas, a legislação brasileira mostrou-se omissa quanto aos direitos LGBTs
de constituição familiar. Somente após 95 anos – do primeiro Código Civil até o
reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar – o assunto foi abordado pela
jurisprudência, sendo este o passo fundamental para que LGBTs fossem inseridos na
isonomia democrática e pudessem exercer o direito de adoção. Partindo da definição ampla
de família – que abrange aspectos morais e éticos – do doutrinador Venosa, tem-se a
exposição das lacunas do ordenamento jurídico brasileiro quanto ao direito de adoção
homoparental – e, ainda, a heteronormatividade presente. A introdução do reconhecimento da
união homoafetiva como entidade familiar pela jurisprudência, assim, mostra-se como ponto
crucial ao preencher essas lacunas e reparar uma negligência propagada por tantos anos, uma
vez que gerou consequências diretas nos direitos de adoção. O reconhecimento legal, porém,
não anulou o distanciamento desse grupo marginalizado do acesso ao direito já legalmente
garantido, por falta de conhecimento ou oportunidade, e nem mesmo os isentou da homofobia
socialmente enraizada, transformando o processo de adoção em mais uma esfera para a
manifestação do preconceito. Com uma metodologia qualitativa de pesquisa
descritiva-explicativa, do tipo documental-bibliográfica, com viés dedutivo, baseando-se em
publicações científicas das áreas do Direito, da Sociologia e da Psicologia, a presente
pesquisa expõe a existência de mitos que rodeiam essa esfera, e objetiva apontar os equívocos
de cada um e sua origem direta com a homofobia – e consequente perpetuação desta.
Destacando, assim, primeiramente a influência de pais homossexuais na orientação dos filhos
e as problemáticas do receio pela homossexualidade e a existência efetiva da influência; na
sequência tem-se a maior probabilidade de abuso sexual por um casal homossexual e o
estigma da perversidade; seguido pela necessidade de influência de ambos os sexos no papel
de pais e os papéis de gênero culturalmente estereotipados; e, por fim, o prejuízo no
desenvolvimento social do adotado como argumentos ampla e socialmente difundidos e
cientificamente desmistificados, mas que possuem uma relação cíclica com o preconceito.
Assim, verifica-se que a homofobia parte de si e retorna em si ao criar e sustentar os mitos,
perpetuando sua própria existência e manutenção social ao ser o principal instrumento desse
processo, com um ciclo vicioso de repetidas violações de direitos que deve ter sua existência
reconhecida para, assim, ser combatido.
Palavras-chave: família; adoção; homoparentalidade; homofobia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Código Civil (2002). Código civil brasileiro e legislação correlata – 2 es. –
Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. São Paulo: Editora Atlas. Ed.11. 2011, v.4.
196
OS 30 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) COMO
MARCO DE REFLEXÃO À RESISTÊNCIA LGBTI+ NO DIREITO DAS FAMÍLIAS
BRASILEIRO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARANSKI, Maria Cristina Rauch. A adoção em relações homoafetivas. – 2ª ed. rev. ampl.
Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.
_______. Código Civil. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Brasília, DF: Senado Federal,
2002.
______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 889.852 – RS. Voto do Min.
Relator Luis Felipe Salomão. Data do Julgamento: 27 de abr. de 2010.
MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Direito das Famílias e Proibição de Retrocesso Social. In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (Org.). Tratado de Direito das Famílias. 3ed.Belo
Horizonte: IBDFAM, 2019, v. 1, p. 137-154.
PEREIRA, Amanda Barros Seabra. Família e gênero no Congresso Nacional: uma análise
da atuação dos parlamentares religiosos na tramitação do Estatuto da Família. 2015. 105 f., il.
Monografia (Bacharelado em Ciência Política) — Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
198
ALTERNATIVAS À ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS
Resumo: As relações familiares no Brasil têm se transformado ao longo dos anos, passando a
ressignificar conceitos outrora tidos como ideais, de modo que ocorreram diversas
transformações e atualmente inúmeras podem ser as configurações de famílias, por exemplo,
todas prezando pela felicidade de seus membros e não mais por apenas questões econômicas.
Estas mudanças se deram, principalmente, após o processo de redemocratização com a
Constituição de 1988 e o reconhecimento de união estável homoafetiva pelo Supremo
Tribunal Federal em 2011. O presente artigo busca problematizar as dificuldades para se
adotar hodiernamente no Brasil, mormente se o(s) indivíduo(s) que irá(ão) adotar não fizer
parte do que se considerava “normal”, primeiramente fazendo breves considerações históricas
sobre o conceito de família junto ao ordenamento jurídico brasileiro, assim como elencando
dados estatísticos e suas respectivas referências, com o fim de evidenciar quais são as
dificuldades encontradas quando se irá adotar e não se é homem cis branco (no entendimento
atual) no Brasil. Ademais, como objeto principal de estudo, busca-se elencar, com fins
instrutivos, a reprodução humana assistida e um de seus métodos: a técnica de barriga
solidária, ou culturalmente conhecida como “barriga de aluguel”, ambos como alternativas à
adoção diante dos problemas trazidos, tais como as longas filas, números relacionados e
organizados pelo Conselho Nacional de Justiça em seu endereço eletrônico. Tal análise será
realizada por meio de revisão bibliográfica e estudo da legislação vigente aplicável às
hipóteses levantadas.
Palavras-chave: Casais homoafetivos; alternativas; adoção; reprodução humana assistida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÔBO, Paulo. A repersonalização das relações de família. Revista Jus Navigandi, ISSN
1518-4862, Teresina, ano 9, n. 307, 10 maio 2004. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/5201>. Acesso em: 18/07/2020.
TREVIZAN, Karina. Número total de casamentos cai 2,3% em 2017, mas entre pessoas do
mesmo sexo sobe 10%, diz IBGE. Economia G1. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/10/31/numero-total-de-casamentos-cai-23-em-
2017-mas-entre-pessoas-do-mesmo-sexo-sobe-10-diz-ibge.ghtml>. Acesso em: 25/03/2019.
119
Pós-graduanda em benefícios e prática previdenciária - Verbo Jurídico; Bacharel em direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná - PUC-PR; Advogada; Curitiba-PR; adv.fernandalemesdeoliveira@gmail.com;
120
Graduanda em direito na Universidade Federal do Paraná - UFPR; Curitiba-PR;
alanaemanuelle@gmail.com.
199
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO CASEIRA:
a construção das relações de confiança entre tentantes e doadores
Mariana G. Felipe121
Marlene Tamanini122
Resumo: O presente trabalho propõe reflexões acerca das formas de realização dos projetos
parentais de mulheres lésbicas no Brasil. Em específico, da dupla maternidade com o uso de
técnicas de inseminação caseira (IC), práticas que até o momento não são regulamentadas no
país. Essa ausência de regulamentação jurídica e também das normativas biomédicas, faz
com que os indivíduos envolvidos nas práticas estabeleçam os protocolos e controlem os
riscos de forma autônoma. Esses indivíduos, em geral, podem ser identificados de dois
modos: como Tentantes, mulheres ou pessoas que estão “tentando engravidar”; e como
Doadores, pessoas que buscam doar sêmen. Por não haver o controle médico especializado
ou regulamentação jurídica, a existência dos riscos envolvidos é conhecida por ambas as
partes e controlada pelas relações de confiança estabelecidas entre elas. Por isso, o objetivo
principal deste trabalho é refletir acerca dos processos da construção de confiança entre
Tentantes e Doadores, levando em consideração que essa compreensão é de extrema
importância para que se possamos entender as práticas de IC em sua diversidade. Para isso,
utilizam-se duas fontes: publicações feitas no período de novembro de 2017 à abril de 2018
em dois grupos da rede social Facebook voltados às práticas de IC para mulheres lésbicas.
Também utiliza-se a análise inicial de entrevistas realizadas em 2020 com casais de mulheres
que fizeram pelo menos uma tentativa de IC. As reflexões apontam para especificidades das
práticas, principalmente quando se trata da construção da confiança e também da identidade
do doador nesses arranjos. A confiança caminha no sentido da contenção dos riscos que são
presentes para todos os indivíduos envolvidos e na solução dos problemas que aparecem pelo
caminho e que dependem da rede de confiança e saberes formadas nos grupos.
Palavras-chave: maternidade; lesbianidade; inseminação caseira; confiança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Anna. Novas tecnologias reprodutivas e maternidades lésbicas no Brasil e na
França: conexões entre parentesco, tecnologia e política. Tese (Doutorado em
Antropologia) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa
Catarina. Santa Catarina: Florianópolis, 2018.
______. Óvulos, sêmens e certidões: maternidades lésbicas e tecnologias reprodutivas no
Brasil. In: STRAW, Cecilia; VARGAS, Eliane; CHERRO, Mariana; TAMANINI, Marlene.
Reprodução Assistida e Relações de Gênero na América Latina. Editora CRV, 171 - 190,
2016.
121
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba - Paraná. Contato: marianagfelipe@gmail.com
122
Orientadora. Doutora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Curitiba - PR. Contato: tamaniniufpr@gmail.com
200
GIDDENS, ANTHONY. As Consequências da Modernidade. São Paulo: Ed. UNESP,
1991.
GROSSI, Miriam Pillar. Gênero e parentesco: famílias gays e lésbicas no Brasil. cadernos
pagu, n. 21, p. 261-280, 2003.
201
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO:
os direitos humanos e a atuação da escola
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M. Diferenças silenciadas: pesquisas em educação, preconceitos e
discriminações. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: 7 Letras, 2015.
123
Especialista em Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Questões Étnico-Sociais ou Raciais, e Gestão
Escolar: Administração, Supervisão e Orientação, Licenciatura em Pedagogia. São Fidélis – RJ. E-mail:
wezelleyfranca@gmail.com
202
FOUCAULT, M. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 7. ed. Rio de Janeiro /São
Paulo: Paz e Terra, 2018.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1987.
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 6. ed. São Paulo, SP:
Heccus, 2013.
LOURO, G. L. Um corpo estranho - ensaios sobre a teoria queer. Belo Horizonte, MG:
Autêntica, 2004.
203
DESAFIO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE GÊNERO E DIVERSIDADE
SEXUAL
Referências bibliográficas:
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diversidade sexual na educação. Psicol Argum, p. 63-81, 2017.
MELLO, Luiz et al. Para além de um kit anti-homofobia: políticas públicas de educação para
a população LGBT no Brasil. Bagoas-estudos Gays: Gêneros e Sexualidades, v.6, n.7,
2012.
124
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. eduardoccoe@gmail.com
125
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. brenobj@outlook.com.
126
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. luiza.ferromoraes@gmail.com.
127
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS. Médico da SMS
Goiânia. Goiânia- GO. musmanno@gmail.com
204
GROSSI, Miriam Pillar; ALENCAR, Alexandra Eliza Vieira. Direitos humanos, antropologia
e educação: revisitando o passado e avançando na caminhada por uma educação
antidiscriminatória. Cadernos de Gêneros e Diversidade, v. 6, n.1, p. 148-153, 2020.
205