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Os  autores são responsáveis pela escolha e apresentação das imagens contidas neste livro e 
pelas  opiniões  nele  expressas,  as  quais não são, necessariamente, as mesmas da UNESCO e 
não comprometem a organização. 
 
Ficha Catalográfica.

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I CONGRESSO ONLINE DE  
RESISTÊNCIA LGBTI+ 
 
 
 
 
 

RESISTÊNCIA LGBTI+:  
CADERNO DE TRABALHOS 
 
 
 
 

 
 
 
COR.LGBTI 

2020 

4
ORGANIZAÇÃO 
Isabel Ceccon Iantas 
Kenji Theodoro Karazawa Takashima 
Kleire Anny Pires de Souza 
Marina de Fátima da Silva 
COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO 
Hadassa Freire da Silva Gonçalves Santos 
Isabel Ceccon Iantas 
Kenji Theodoro Karazawa Takashima 
Kleire Anny Pires de Souza 
Marcos Rodrigues Ferreira 
Marina de Fátima da Silva 
Morena Pérez da Silva Mendes Ribeiro 
Nahomi Helena de Santana 
COORDENADOR CIENTÍFICO 
Clarindo Epaminondas de Sá Neto 
 
AVALIADORAS E AVALIADORES DOS RESUMOS 
Adriana Aparecida Pinto 
Anabella Pavão da Silva 
Arthur Rogoski Gomes 
Claudia Regina Nichnig 
Denison Melo de Aguiar 
Elder Luan Dos Santos Silva 
Fernanda Schier de Fraga 
Guilherme Moraes da Costa 
Heloísa Helena Silva Pancotti 
Isabel Cortes da Silva Ferreira 
Janaina Sodré Bortolato 
Leandro Franklin Gorsdorf 
Péricles de Souza Macedo 
Roberto Cezar Maia de Souza 
Rodrigo Alessandro Sartoti 

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SUMÁRIO 
 
 
APRESENTAÇÃO 8

A COMPREENSÃO DAS LESBIANIDADES A PARTIR DO GOOGLE 10

MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO E RESISTÊNCIA DAS MULHERES LÉSBICAS NAS


DÉCADAS DE 70 E 80 21

“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL”: CONSIDERAÇÕES NETNOGRÁFICAS SOBRE


CORPO E GÊNERO EM MATO GROSSO DO SUL 33

O DIREITO AO PRÓPRIO SER: A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ÀS


MODIFICAÇÕES CORPORAIS 44
SAÚDE MENTAL DA MULHER LÉSBICA: A LESBOFOBIA COMO ASPECTO DE
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA NO BRASIL 53
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS TRANSEXUAIS: EM BUSCA DO
RECONHECIMENTO DESTE DIREITO NO STF 63
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR HOMENS HOMOSSEXUAIS: A ADI 5543
E A NECESSIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS 75
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA LGBTQIA+ 87

DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL NO BRASIL: A HOMOFOBIA COMO


INSTRUMENTO DE SUA PRÓPRIA MANUTENÇÃO SOCIAL 91
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO CASEIRA: A CONSTRUÇÃO DAS
RELAÇÕES DE CONFIANÇA ENTRE TENTANTES E DOADORES 102
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO: OS DIREITOS
HUMANOS E A ATUAÇÃO DA ESCOLA 113
RESUMOS APRESENTADOS 126
CINEMA E REPRESENTATIVIDADE LÉSBICA: 126
MEMÓRIA E RESISTÊNCIA LGBTI+: 128
MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO E RESISTÊNCIA DAS MULHERES LÉSBICAS NAS
DÉCADAS DE 70 E 80 130
DE CHANANACOMCHANA A UM OUTRO OLHAR: 132
MUSEUS: 134
A IDENTIDADE LÉSBICA: 135
INSTAGRAM COMO REGISTRO DA MEMÓRIA SOCIAL E RESISTÊNCIA: 136
HISTÓRIA DO MOVIMENTO LGBTI+ NA CIDADE DE IPATINGA/MG 137
REPRESENTAÇÃO DA MULHER LÉSBICA EM OBRAS AUDIOVISUAIS 138
REPRESENTAÇÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NA IMPRENSA GAY NO BRASIL: 139
A COMPREENSÃO DAS LESBIANIDADES A PARTIR DO GOOGLE 141
“MARQUES DA SILVA É SHOW”: 142

6
DEFENDENDO O LAMPIÃO DA ESQUINA: 143
“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL” 144
CONSEQUÊNCIAS DA RACIALIDADE PARA A COMUNIDADE LGBTI+: 146
BRASIL: UM PAÍS DE TODOS? 148
A TRANSEXUALIDADE EM ÊXODO: 150
O DIREITO AO PRÓPRIO SER: 151
SAÚDE MENTAL DAS MULHERES LÉSBICAS 153
O “CUIDADO DE SI” FOUCAULTIANO NA SOCIABILIDADE TRANS EM CAMPO
GRANDE (MS) 155
NOTAS PARA CONCEPÇÕES TRANSVIADAS DE SAÚDE 157
SAÚDE DA MULHER LÉSBICA E BISSEXUAL 158
MULHERES DESVIANTES: 160
POLÍTICAS PÚBLICAS E A COMUNIDADE LGBT+ 162
A NECESSIDADE DE SE PENSAR LIMITES ÉTICOS E JURÍDICOS DA ATUAÇÃO
MÉDICA SOBRE CORPOS INTERSEXO NO BRASIL 164
REPRESENTATIVIDADE TRANS NA POLÍTICA: 165
O ACESSO A POPULAÇÃO TRANSGÊNERO E TRAVESTIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE: 167
A JUDICIALIZAÇÃO DOS DIREITOS DA COMUNIDADE LGBT: 170
GAYS E HSH: 172
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS TRANSEXUAIS: 174
SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBTI+ NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: 176
SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRANSGÊNEROS: 177
A SITUAÇÃO DA MULHER TRANSSEXUAL NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
BRASILEIRO 179
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE E DIREITO DA POPULAÇÃO LGBTQIA+: 180
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR HOMENS HOMOSSEXUAIS: 182
HÁ DIREITOS PARA QUEM NÃO IMPORTA? 184
A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO EM PSICOLOGIA PARA A PREVENÇÃO DO
SUICÍDIO ENTRE LGBTQIA+ 186
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A PROTEÇÃO
INTERNACIONAL DE PESSOAS LGBTQIA+: 187
A PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA FÍSICA NA COMUNIDADE LBGTQIA+ DE
ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE NO PARÁ 189
EXPERIÊNCIAS DE LESBOPARENTALIDADE E MILITÂNCIA FEMINISTA LÉSBICA NO
NORDESTE DO BRASIL 191
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA LGBTQIA+ 193
DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL NO BRASIL: 195
OS 30 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) COMO
MARCO DE REFLEXÃO À RESISTÊNCIA LGBTI+ NO DIREITO DAS FAMÍLIAS
BRASILEIRO 197
ALTERNATIVAS À ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 199
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO CASEIRA: 200
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO: 202
DESAFIO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL
204

7
APRESENTAÇÃO 
Na  semana  do  dia  03  ao  08  de  Agosto  de  2020,  ocorreu  a  primeira  edição  do 
Congresso  Online  de  Resistência  LGBTI+.  Essa  obra  é  resultado das exposições, conversas e 
debates que ocorreram ao longo do evento.  
A  ideia  de  realizar  um  congresso  pautando  a  resistência  LGBTI+  surgiu  de  um 
contexto  de  retirada  de  direitos  e  de  uma sensação geral de desmobilização do movimento. 
Apesar  do  contexto  triste  de  pandemia,  que  causou  o  distanciamento  presencial  entre  nós, 
bem  como  crises  sociais,  econômicas  e  políticas, foi possível reunir, de forma virtual, vozes 
do  Brasil  inteiro  para  debater  questões  urgentes  do nosso movimento. Como a comunidade 
LGBTI+  vive  em  meio  às  adversidades  mesmo  em  situações  tidas  como  “normais”,  e  as 
superamos  diariamente,  para  nós,  tirar o melhor de um obstáculo é a regra e não a exceção. 
Por  isso,  agradecemos  todos,  todas  e  todes  que  contribuíram  e  ajudaram  na construção de 
um evento dessa proporção. 
Fomos  capazes de reunir, em um só ato, militantes e ativistas de todas as regiões do 
país,  que  carregaram  em  suas  falas  as  experiências  de  uma  vida  inteira  de  lutas,  nos  mais 
variados contextos étnicos, sociais e culturais.  
Essa  troca  de  vivências,  estudos  e  opiniões  é,  mais  do  que  nunca,  essencial  para  a 
construção  de  um  movimento  LGBTI+  capaz  de  fazer  frente  aos  retrocessos  e  às  violências 
que perpassam a nossa realidade. 
Portanto,  esse  livro  é  um  símbolo  de  uma  iniciativa  que  não  se  encerra  na  semana 
de  palestras  de  Agosto  de  2020,  mas que inicia uma jornada coletiva em prol da articulação 
do  movimento  LGBTI+  brasileiro.  É  o  marco  inicial  de  um  movimento  que  pretende  fazer 
ecoar nossas vozes e ocupar os espaços que nos são de direito. 
Deixamos,  também,  aberto  o  convite  para  quem  quer  continuar  construindo  lado  a 
lado  essa  militância  ativa  LGBTI+,  seja  por  meio  da  formação  política,  da  publicização  de 
nossas pautas ou da pesquisa acadêmica.  
Os  painéis do evento estão disponíveis no canal do Youtube para assistir, reassistir e 
divulgar o conhecimento: 
 

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Vídeos no Youtube​: 
03/08/2020 - ​Memória e Resistência 
04/08/2020 - ​LGBTI+ e a Questão Étnico-racial  
05/08/2020 - ​LGBTI+ e o Sistema Educacional  
06/08/2020 - ​Família LBT  
07/08/2020 - ​Políticas públicas e saúde  
08/08/2020 - ​Qual movimento nós queremos?  
 
Por  fim,  deixamos  nossos  agradecimentos  especiais  à  Comissão  Organizadora  do 
evento  e  aos  intérpretes  de  libras,  que  ajudaram  a  dar  mais acessibilidade ao evento, Thays 
Ribeiro  de  Lima  Santana,  Elizama  Kate  da  Silva  Pereira  e  Felipe  de  Jesus  Sampaio,  bem 
como  àqueles  e  àquelas  que  ajudaram  na  construção  e  no  apoio  para  a  realização  do  I 
Congresso  Online  de  Resistência  LGBTI+:  Federação  Nacional  de  Estudantes  de  Direito 
(FENED);  Grupo  Dignidade;  Liga  Brasileira  de  Lésbicas;  Rede  LésBi  Brasil;  Coletivo  Cássia; 
Resistência  Rosely  Roth;  Núcleo  de  Estudos  em  Direito  e  Diversidades  da  UFSC  (NEDD); 
Centro  Acadêmico  de  Direito  da  UCSal;  Movimento  Popular  da  Juventude  em  Disparada; 
Centro  acadêmico  de  Direito  João  Messias  (CADJOM);  Centro  Acadêmico  Luiz  Carpenter  - 
UERJ  (CALC);  Centro  Acadêmico  Hugo  Simas  -  UFPR  (CAHS);  Direito  a  igualdade  e 
Valorização  das  sexualidades  (DIVaS);  Cátedra  UNESCO  -  UFGD;  Aliança  Nacional  LGBTI+; 
Núcleo de Estudos de Diversidade de Gênero e Sexual (NEDGS). 
 
(R)existiremos! 
 
 
​ ​ ​   
 

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A COMPREENSÃO DAS LESBIANIDADES A 
PARTIR DO GOOGLE 
Julianna Paz Japiassu Motter​1

1. INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem como ponto de partida a mudança dos algoritmos de resposta
do buscador da Google para o termo “lésbica”, realizada em agosto de 2019, após a
campanha intitulada #SEOlesbienne na plataforma Twitter. A campanha foi iniciada por
Fanchon Mayaudon-Nehlig, uma ativista lésbica francesa, e ganhou forte adesão das usuárias
lésbicas no país. SEO é a sigla para Search Engine Optimization, um mecanismo para
otimização e/ou aperfeiçoamento dos resultados mais aparentes nas buscas. A ação conseguiu
que o buscador da Google, o maior buscador de conteúdo da internet, mudasse o algoritmo de
resultados de pesquisas para o termo lesbienne (lésbica, em francês), os termos relacionados e
sua tradução para outros idiomas.
A principal motivação da campanha era alertar e cobrar a plataforma sobre o viés
apresentado nos resultados, que fazia com que a busca pelo termo e correlatos resultasse
predominantemente em conteúdos pornográficos. O argumento do trabalho é de que isso se
deve ao fato de que plataformas digitais, como o buscador da Google e tantas outras
utilizadas, não são construções neutras, mas sim estruturas com normas e valores morais,
sociais e políticos previamente inseridos (VAN DJICK, POELL & WAAL, 2018)⁠. Mas
plataformas são, também, estruturas passíveis a mudanças e reparos, que suscitam diferentes
ações e respostas nos usuários, tal como a campanha citada anteriormente e que pressionou a
Google a fazer algum tipo de mudança.
O objetivo deste ensaio é, portanto, a partir do caso mencionado, refletir sobre as
problemáticas envoltas na mudança algorítmica e tentar trazer pistas teóricas que nos ajudem
não apenas a compreender o funcionamento dos buscadores, mas principalmente a
importância dos buscadores na (re)produção de regimes de (in)visibilidades desde o exemplo
das lesbianidades e de suas múltiplas interpretações algorítmicas.

1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/UFBA).
Pesquisadora do grupo de pesquisa Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura (GIG@/UFBA). Salvador – Bahia.
E-mail: juliannamotter@gmail.com.
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2. GOOGLE, MAS O QUE SÃO AS LÉSBICAS?
Antes da resposta à campanha #SEOlesbienne, ao digitar o termo lésbica ou correlatos
no buscador da Google, o cenário expressado pela plataforma era completamente diferente e
tendencioso – enviesado. A começar pelas expressões sugeridas para completar a pesquisa,
um recurso da ferramenta onde um usuário digita o termo e a plataforma faz sugestões para
completar a palavra, frase ou expressão, de acordo com as associações mais frequentes. Para
o termo “lésbica” eram frequentemente sugeridas palavras e/ou expressões de teor sexual e
pornográfico.
Quando acionado o "Estou com Sorte" do Google, um outro recurso da plataforma,
que relaciona o termo, ou expressão, pesquisado fazendo sugestões a partir daqueles
conteúdos mais acessados ou relacionados ao tema, a página para o qual o usuário era
direcionado era do portal de conteúdo pornográfico XVídeos (MOTTER, 2018), um dos
maiores sites de pornografia do mundo, conhecido principalmente pela oferta de conteúdos
gratuitos.
Mas a questão fundamental, e que motivou o início da campanha, tinha a ver com a
principal função da plataforma: os resultados apresentados quando a pesquisa era de fato
efetuada e o encadeamento de páginas indexadas sobre o termo lesbienne – em qualquer que
fosse o idioma. Quando acionada a busca, fosse a partir do próprio termo ou de termos e
expressões relacionados, os resultados gerados eram predominantemente de conteúdos
pornográficos, ao invés de conteúdos de teores mais informativos, históricos ou mesmo de
notícias ou atualidades. Esse tipo de resultado se destacava não somente em relação às
pesquisas sobre sujeitos ou assuntos em geral, mas também em relação aos resultados
apresentados quando realizadas buscas sobre os demais indivíduos da comunidade LGBT –
exceto quando estes eram mulheres transexuais e/ou travestis, que também tendem a gerar na
plataforma resultados enviesados para pornografia e/ou hiperssexualização.
É válido ressaltar que, em geral, não há como ter acesso à formulação dos algoritmos
das plataformas, especialmente de grandes empresas como a Google. Mas essa opacidade
possibilita a construção de uma série de reflexões teóricas sobre a relevância dos algoritmos
na sociedade contemporânea, com ênfase nos resultados apresentados pelos algoritmos dos
buscadores, que são hoje de extrema relevância na aquisição de conhecimento e informações
(GILLESPIE, 2018)⁠. Algoritmos são elementos constitutivos das plataformas que, diante dos
processos de plataformização da vida (LUPTON, 2014; VAN DJICK, POELL & WAAL,
2018) ⁠ nas mais diversas esferas – trabalho, socialização, economia –, tornaram-se, também,
elementos constitutivos da própria sociedade.
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A mudança de cenário, nos resultados para esse caso específico, foi fruto de uma
pressão coletiva que fez com o que a Google finalmente revisasse o tipo de conteúdo gerado
(output) a partir do termo acionado (input). Cabe ao Google, nesse sentido, decidir o que vai
ser visto sobre um determinado fenômeno ou objeto. Tem sido possível afirmar, portanto, que
algoritmos geram, alimentam ou (re)produzem regimes de (in)visibilidades nas mais diversas
esferas. E que algoritmos servem não somente para a fabricação de mundos, mas para
reforçar estruturas já vigentes, principalmente aquelas que perpetuam discursos de
discriminação, violência e opressão (BUCHER, 2012; NOBLE, 2018; SILVA, 2019), visto
que os discursos sobre as lesbianidades apresentados nas plataformas estão comumente
relacionados à pornografia, fetichização e hiperssexualização.

a. Google, e o que são os algoritmos?


A importância de refletir sobre os resultados dos algoritmos reside no fato de que
embora os algoritmos não sejam necessariamente palpáveis ou acessíveis, eles também não
são apenas meras abstrações matemáticas. Primeiro, porque existe um fator humano que
promove sua elaboração e aperfeiçoamento e, segundo, porque algoritmos têm implicações
cada vez mais visíveis na vida social, reforçando-se ainda enquanto verdadeiras máquinas de
subjetivação (PASQUINELLI, 2011)⁠.
Quando pesquisamos algoritmos no Google, ele apresenta um trecho em destaque,
que pretende demonstrar o que os algoritmos fazem, e que a plataforma mesmo define
enquanto uma caixa especial que apresenta um trecho, resumo ou resposta rápida sobre o que
foi buscado e que é escolhida de acordo com sua relevância nas listas de pesquisa na Web
(GOOGLE, 2020). Segundo a plataforma, ainda, seus sistemas automatizados (ou seja,
algoritmos), decidem se o conteúdo apresentado merece ser realçado em uma pesquisa.
Para o Google, portanto, o que é válido destacar sobre os algoritmos é que são
“simplesmente uma ‘receita’ para executarmos uma tarefa ou resolver algum problema. E
como toda receita, um algoritmo também deve ser finito” (GOOGLE, 2020). No entanto, é
necessário ter em mente que os algoritmos são estruturas, fórmulas ou procedimentos
mutáveis e provisórios (D’ANDRÉA & JURNO, 2018), suscetíveis a alterações a partir do
seu próprio funcionamento, visto que eles não sofrem alterações apenas dos desenvolvedores
ou sujeitos envolvidos na sua concepção, mas que também são alimentados e aperfeiçoados a
partir dos seus usos e usuários – é um dos aspectos que define a ideia de machine learning.
Buscadores de internet são programas com uma arquitetura de códigos e estruturas
que têm a função de varrer a internet pelas palavras chaves no comando de pesquisa, são
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símbolos importantes da internet como conhecemos hoje e se desenvolveram ao longo dos
anos para aprimorar a capacidade de busca e pesquisa podendo, em segundos, reunir milhões
de sites contendo a palavra ou expressão buscada. Os buscadores são, hoje, a fonte de
conhecimento para qual recorrem os indivíduos atrás de conteúdos e informações sobre os
assuntos desejados (GILLESPIE, 2018).
Buscadores normalmente têm uma série de algoritmos para diversas funções e são
estruturados por esses algoritmos, um ou mais bancos de dados – nesse caso, sites da World
Wide Web – e para receber e se comportar a partir das respostas dos usuários. Há muito mais
coisas em sua estrutura, mas como todo funcionamento algorítmico, funciona com base na
lógica de entrada e resposta – input e output. Além disso, são estruturados por – e estruturam
– um modelo econômico que estipula, por exemplo, quais sites terão maior destaque em um
quadro de resultados de acordo com os investimentos feitos pelos proprietários e/ou
desenvolvedores dos sites.
Os usuários, em geral, têm a sensação de que encontram exatamente os resultados
para o que buscavam – como se não houvessem outras respostas e informações possíveis ao
que está colocado ali – e, normalmente, não passam das primeiras páginas (SILVA, 2019),
isto porque sabemos que poucas habilidades são necessárias para encontrar arquivos imensos
sobre e com a palavra que se deseja. Mas a verdade é que muitos outros recursos são
necessários para que os sites se mantenham na primeira página dos resultados ou seja, isso
não significa, necessariamente, que o site apresenta maior precisão do que pode ser
respondido e/ou informado sobre o que foi pesquisado.
Essa ideia de exatidão na resposta apresentada também é alimentada pelos buscadores
que falsificam, por meio do discurso da imparcialidade tecnológica, uma neutralidade
algorítmica. Mas a verdade é que sites de busca e outras plataformas, como as de redes
sociais, definem seus programas através de sistemas de algoritmos de relevância
(GILLESPIE, 2018)⁠ ou patrocínio – é o caso de empresas que querem estar no topo das
buscas e pagam para isso, escolhendo palavras e termos relacionados à marca ou tema que
facilitam seu alcance. Sendo assim, é importante ressaltar que “a ordem dos resultados –
definida algoritmicamente – tem papel relevante na reprodução de representações e acesso a
informações consoantes ou dissonantes de olhares hegemônicos ou contra-hegemônicos”
(SILVA, 2019, p.132).
O estabelecimento de sistemas de relevância se dá pelos algoritmos em escolhas que
entrelaçam o conhecimento humano e as habilidades maquínicas de responder aos estímulos
de acordo com o que foi programado. O acesso à formulação dos algoritmos de busca, como
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já dito anteriormente, ainda consiste em uma opacidade, mas vale destacar que eles não
apenas emitem informações para os usuários, mas também são acrescidos e aperfeiçoados,
feitos e refeitos, porque cada escolha e solicitação do usuário incrementa a ferramenta
(GILLESPIE, 2018)⁠, numa lógica de captação dos dados e metadados que são fornecidos a
partir dos usos.

3. GOOGLE, MAS QUAL A IMPORTÂNCIA DISSO TUDO?


Algoritmos são entidades ontogênicas, estão sempre em processo de fabricação, de
tornarem-se algo (KITCHIN, 2017). Assim, podemos pensar em um devir algorítmico
(ANDRÉA & JURNO, 2018), que responde ou tenta estimular os demais devires na
sociedade, mas sobretudo que algoritmos criam movimentos que são internos, mas também
externos às máquinas.
Entende-se, portanto, que os algoritmos têm agência na produção de sentidos sobre as
coisas, sendo os algoritmos e os buscadores, também, agentes produtores de saberes
(GILLESPIE, 2018)⁠, capazes de fazerem-fazer a respeito dos conhecimentos sobre o tema
que se decide pesquisar. Esse faz-fazer dos algoritmos e essa sensibilidade que faz com que
eles se alterem a partir de ações dos usuários, capacidade que tem sido chamada de
performatividade algorítmica (LEMOS & BITENCOURT, 2018)⁠.
Assim, plataformas não são apenas um reflexo do social, mas (re)produtoras de
estruturas (COULDRY & HEPP, 2016). ⁠Elas produzem estruturas de funcionamento internas,
mas também outras formas de interação e relação com as demais plataformas e nos demais
espaços. Elas são alimentadas por dados dos usuários, mas também são programadas de
acordo com o que os desenvolvedores pretendem e com os diversos interesses envolvidos –
econômicos, políticos, culturais, morais. Isso porque algoritmos, uma das bases da concepção
de plataformas, são criados por motivos outros que não a neutralidade mas para, por exemplo,
para incentivar comportamentos – como o consumo –, além de identificar e classificar
sujeitos (KITCHIN, 2017).
Plataformas são parte importante da sociedade e das relações porque se tornaram
componentes centrais do tempo e energia – inclusive, dessa gestão entre tempo X energia –
dos sujeitos contemporâneos e, assim, podem ser consideradas enquanto protagonistas de
uma das principais e mais constantes interações presentes no cotidiano. Considerando que
interações pressupõem reciprocidade, e que isto significa ação e resposta, e que plataformas
alimentam e são alimentadas pelas ações dos usuários – num processo quase simbiótico, onde

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plataformas são evocadas para basicamente todas as esferas da vida: alimentação,
relacionamentos, trabalho, gestão de tarefas, lazer.
Para Deborah Lupton (2014)⁠, a internet é um arquivo das coisas e um arquivo de si.
Para além da quantidade de informações geradas e armazenadas, há também a questão sobre
o conhecimento dessas informações, porque em uma lógica da economia da informação,
muitas coisas são tensionadas a partir desses arquivos, tanto em termos de conteúdo, quanto
sobre sua própria acessibilidade.
Por fim, ao responderem às lógicas econômicas e, sobretudo, políticas, algoritmos dão
visibilidade àqueles que já têm visibilidade e essa relação é difícil de mudar. Os algoritmos
constroem e implementam regimes de poder e conhecimento, e o seu uso tem implicações
normativas (KITCHIN, 2017). Algoritmos criam movimentos e também são criados a partir
dos movimentos. Atendem aos seus desenvolvedores e seus primeiros pressupostos, mas
também são constituídos a partir de seus usos e demandas.
Um exemplo das opressões perpetuadas por algoritmos de plataformas é o caso dos
resultados hiperssexualizadores apresentados a respeito de mulheres negras e latinas
(NOBLE, 2018). E se é verdade que algoritmos são capazes de moldar a vida social em
vários níveis (BUCHER, 2012)⁠ e que eles podem ser capazes não apenas de disciplinar,
regular e controlar, mas também de guiar e reformular a maneira como pessoas interagem
com as coisas (KITCHIN, 2017), é possível afirmar que a ótica pornográfica não responde e
nem pode responder ao que são lésbicas e que essa tentativa de resposta encontra diversas
ressonâncias nas violências lesbofóbicas as quais lésbicas estão frequentemente submetidas.
A mudança algorítmica representa, portanto, uma porta de entrada para mudança nesse
paradigma da violência e da objetificação de mulheres lésbicas.

a. Por que conteúdos pornográficos não podem ser a resposta para o que são
as lésbicas?
A pornografia, da maneira como era apresentada pelo buscador, é entendida aqui
enquanto uma forma de perpetuação de discursos de violência e colonização dos corpos.
Embora já existam debates em torno de outras formas de produção pornográfica, feitas por e
para mulheres, sujeitos LGBTQIA+ e outros grupos cuja autonomia sexual tenha sido
historicamente sequestrada pelos interesses e desejos hegemônicos, o conteúdo pornográfico
levantado – e o conceito de pornografia trazido à discussão – ainda está submetido às lógicas
de dominação e objetificação próprias de uma indústria violenta e violentadora, que

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representa e reproduz desigualdades (D’ABREU, 2013)⁠. O que reflete na produção, na
circulação e no próprio consumo desses produtos.
A pornografia hegemônica é aquela de maior circulação, que responde a uma
indústria pornográfica, e que passou por diversas mudanças na distribuição e no formato –
antes, haviam locadoras ou áreas específicas de locadoras para esse tipo de conteúdo, em
seguida, canais pagos na televisão fechada. Hoje, os conteúdos pornográficos representam
uma grande parte da diversidade de conteúdos disponibilizados, procurados e acessados na
World Wide Web. Ainda submetida à indústria pornográfica, que movimenta milhões por
anos, a pornografia, hoje, pode ser facilmente acessada em portais como o Xvídeos e o
PornHub, que oferecem conteúdo gratuito, mas também reúnem conteúdos exclusivos para
usuários assinantes. Em seus catálogos, existem desde produções maiores, quanto criações
mais independentes e caseiras, além de conteúdos disponibilizados ao vivo, para interação
entre os usuários e produtores daquele conteúdo.
Embora a distribuição desse tipo de pornografia tenha se diversificado ao longo dos
anos, o que persiste é o caráter violador da pornografia hegemônica e sua relevância na
produção e consolidação de sentidos sobre o que devem ser as práticas sexuais – voltadas
somente para realização dos desejos e prazeres masculinos (DINES, 2010)⁠, cisgêneros,
brancos e heterossexuais. Potencialmente alinhada à naturalização de estupros
(MALAMUTH & CHECK, 1985) e, no que diz respeito ao recorte proposto, com o estupro
corretivo de mulheres lésbicas. Estupro corretivo é aquele motivado pela própria orientação
sexual da vítima, ampliando a concepção do estupro “conceitualizado como um crime contra
a autonomia sexual de um indivíduo" (VITO, GILL, & SHORT, 2009)⁠ e tendo como
finalidade a correção de uma sexualidade entendida enquanto anormal e/ou incorreta.
Não existem análises aprofundadas sobre a violência lesbofóbica no Brasil, porque a
maior parte dos dados sobre sujeitos LGBTQIA+ ainda é proveniente de informações
divulgadas pela mídia e pesquisas promovidas por meios alternativos – como, por exemplo, o
LesboCenso do Distrito Federal e Entorno, organizado pela Coletiva Coturno de Vênus. Essa
constatação é bastante reforçada tanto pelos levantamentos do Grupo Gay da Bahia (GGB),
existentes há 30 anos, quanto o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil, publicado em 2018 e que
reúne dados de 2014 a 2017 sobre violência contra lésbicas, ambos frutos de dados não
oficiais.
Segundo levantamento da revista Gênero e Número, a partir de dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em média seis lésbicas sofreram estupro
corretivo por dia durante o ano de 2017. Trazer a questão dos estupros corretivos é
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importante para reforçar a forma como a pornografia hegemônica atua na construção de
sentidos sobre lesbianidades e sobre as vivências sexuais lesbianas enquanto objetos do
prazer sexual masculino. Para além disso, corroboram a ideia de que cabe aos homens a
determinação dos meios e finalidades da sexualidade das mulheres em geral.

O ódio às lésbicas existe como parte integrante do patriarcado uma vez que elas
são consideradas mulheres que não se submetem às normas heterossexuais que
recorrentemente possibilitam a dominação masculina sobre as mulheres
heterossexuais (CARNEIRO PERES, FELIPPE SOARES, & DIAS, 2018, p.20)⁠.

Na lógica patriarcal, a mulher é objetificada ao olhar do homem, e sua sexualidade é


ressignificada por um duplo caráter que torna os corpos de mulheres objetos para os homens
e, simultaneamente, tenta regular por discursos médicos, morais e religiosos, o acesso das
mulheres a seus próprios corpos (SEGATO, 2012).

O poder masculino, com isso, assume uma posição na qual é o detentor do olhar
moral que objetifica os corpos e, ao mesmo tempo, delibera e administra esses
corpos. Dessa forma, são construídos padrões e normas que ditam as
subjetividades, as corporeidades e, inclusive, os espaços autorizados para mulheres
– sejam eles na geografia do mundo ou de seus próprios corpos (MOTTER, 2018, p.
10).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao assumir lesbianidades no plural, entende-se que, se não há uma categoria universal
de mulher e, dessa forma, também não há uma categoria universal de lésbica, porque as
estruturas de poder e opressão atuam de formas diversas, mesmo em corpos que
compartilham de uma mesma identificação sexual. Entendendo essa pluralidade, sabemos que
certos corpos estão mais suscetíveis à violência do que outros e que existe uma infinidade de
violências possíveis.
Com isso, parece haver, no tempo presente, um tensionamento sobre a representação e
os sentidos dos corpos lésbicos nos ambientes digitais, que se apresentam sempre a partir do
viés de direito ao corpo e à sexualidade, que são componentes fundamentais, afinal, para o
vir-a-ser lésbica. Esse tensionamento se expressa pela resposta primeira dos buscadores, a da
pornografia, que ainda persiste em outros buscadores como o Bing e o Yahoo e, em
contrapartida, da mobilização coletiva para que a campanha #SeoLesbienne se tornasse
visível e tivesse sua demanda cumprida, ou seja, da presença e permanência de usuárias
lésbicas nas diversas redes sociais e plataformas. Central é, portanto, a disputa de sentidos
sobre os corpos lésbicos. Hoje, com um grande número de páginas e perfis nas redes sociais

17
produzindo conteúdos e fomentando saberes sobre mulheres lésbicas, há cada vez mais uma
vigilância sobre os conteúdos que perpetuam violência e discriminações.
E por que tudo isso importa? Porque algoritmos não apenas criam movimentos e
devires, mas principalmente quando em buscadores ou em outras fontes de conhecimento,
ajudam ou acabam por estabilizar sentidos e/ou informações sobre determinados sujeitos ou
assuntos. A perpetuação de discursos de violência a partir da pornografia, que costumava ser
o resultado principal do buscador da Google e, em contrapartida, uma movimentação social,
como a campanha #SeoLesbienne, para a mudança nesse tipo de resposta algorítmica,
demonstram não só a falsa neutralidade tecnológica que blinda ainda as plataformas, mas
também a importância dos usuários na reformulação, no aperfeiçoamento e na constante
vigilância desses algoritmos, cada vez mais presentes.
A pornografia não responde e nem pode responder ao que são lésbicas. Primeiro,
porque a violência e a objetificação não podem ser o meio de definição para essas sujeitas.
Segundo, porque não há uma resposta universal para quem são as lésbicas. Ainda há muito o
que acompanhar nas respostas geradas das diversas plataformas sobre as lesbianidades:
tiraram a pornografia, mas o que virá depois? Estaremos atentas. Em um mundo
plataformizado, essa mudança algorítmica representa uma possibilidade de mudança nesse
paradigma da violência e da objetificação de mulheres lésbicas.

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20
MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO E 
RESISTÊNCIA DAS MULHERES LÉSBICAS NAS 
DÉCADAS DE 70 E 80 
Isabel Ceccon Iantas​2
Marina de Fátima da Silva​3

1. INTRODUÇÃO
O movimento auto-organizado de mulheres lésbicas surgiu no país em decorrência de
diversos fatores e fortaleceu-se também em decorrência da adoção de mecanismos de
resistência significativos para a época. Em uma época caracterizada pelo conservadorismo,
pela repressão aos movimento sociais, característica da ditadura civil-militar, do preconceito
e do mote pela moral, família e bons costumes, as mulheres lésbicas eram duplamente
perseguidas: por serem mulheres desviantes e por amarem outras mulheres também
desviantes.
O início da organização do movimento LGBTI+ no Brasil, inicia-se, principalmente,
pela união de homens gays em grupos que, inicialmente, não visavam a organização política.
Todavia, o movimento por muito tempo foi encarado como um movimento homossexual,
mesmo em grupos mistos. No presente artigo será utilizada a sigla para facilitar a
compreensão, porém, tendo em mente que o termo LGBTI+ é contemporâneo e foi cunhado
após muitos anos de debates e lutas que fogem do tema aqui proposto.
Nas décadas de 70 e 80, o movimento lésbico começa a criar forma, com espaços
auto-organizados, com a criação de revistas e folhetins e a disseminação das pautas e ideias
específicas das mulheres que amam outras mulheres. Dessa forma, quando falamos em uma
organização da resistência lésbica, estamos falando da construção de um movimento próprio,
que extrapola os limites do movimento homossexual e do movimento feminista.
O movimento LGBTI+ nessa época era encabeçado e estruturado estritamente no G,
deixando as mulheres nos bastidores e com as tarefas manuais. Além disso, os homens gays
reproduziam a misoginia e reproduziam uma ideia de feminilidade extremamente tóxica para
as lésbicas. Por outro lado, o movimento feminista também as afastava, uma vez que pautava
2
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, isabel.iantas9@gmail.com.
3
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, fsmah22@gmail.com.
21
uma ideia de direito sexual restrito à heterosexualidade, sem dar abertura para a realidade
daquelas mulheres que se relacionavam com outras mulheres.
O silenciamento e a invisibilidade das lésbicas dentro dos movimentos sociais era
uma realidade difícil, vez que a própria expressão da lesbianidade nas cidades tinha que se
dar clandestinamente, em bares e pontos de encontro afastados do centro. Assim, para resistir
tanto à repressão da ditadura civil-militar quanto da exclusão dos grupos de esquerda, as
mulheres lésbicas passaram a se organizar e construir ferramentas para serem vistas, ouvidas
e respeitadas.
Ainda hoje se fala em um apagamento da história e da luta lésbica, estando elas ainda
em uma posição de extrema vulnerabilidade social, com a negligência das políticas públicas e
demais ambientes da sociedade civil. Assim, resgata-se alguns dos mecanismos de resistência
utilizados por essas mulheres dentro da intersecção do movimento LGBTI+ e do feminista,
para sobreviver à opressão, para lutar pela redemocratização, para disseminar suas ideia e
pautas e para abraçar as demais mulheres que, assim como elas, estavam clandestinas - mas
não mais.

2. AUTO-ORGANIZAÇÃO LÉSBICA
Quando tratamos do início da organização LGBTI+ no Brasil, é importante frisar que,
em um primeiro momento, os encontros de grupos “homossexuais” não visavam qualquer
envolvimento político, sendo apenas um grupo para marcar festas e conhecer pessoas
(AGUIAR, 2018: 133). Segundo GREEN (2014), os homossexuais possuíam grande receio
de se envolver em movimentos sociais, tendo em vista que mesmo em grupos de esquerda
ainda havia muita homofobia (GREEN, 2014, p. 62).
No Brasil, mais especificamente em São Paulo, a primeira organização homossexual a
assumir um posicionamento político e efetivamente militar em prol dos direitos sociais foi o
grupo “SOMOS” - Grupo de afirmação Homossexual. Todavia, inicialmente era formado
majoritariamente por homens, conforme narra GREEN (2014): “​não mais do que duas dúzias
de homens e, às vezes, amigas lésbicas de alguns dos integrantes compareciam a encontros
regulares (...). Enquanto em 1978 não mais do que quatro mulheres participaram durante
algum tempo na organização​” (GREEN, 2014, p. 68). Esse grupo pautava não apenas os
direitos da população LGBTI+, mas também demais pautas políticas de esquerda: contra a
ditadura, a favor da redemocratização, a favor dos direitos da classe trabalhadora, contra os
abusos da polícia, contra o racismo e o machismo.

22
Em 1979, a presença de mulheres lésbicas passou a aumentar progressivamente,
trazendo para dentro do SOMOS debates sobre a misoginia dentro do próprio movimento
gay. Por ocuparem posições inferiores e subalternas até dentro da militâncias, as mulheres
começaram a pautar a necessidade de criação de um grupo auto-organizado, para debater
questões específicas do movimento lésbico - invisibilizadas nos grupos de caráter misto.
Ainda segundo GREEN (2014), dentro do grupo foi criada uma setorial dentro do
próprio SOMOS destinada ao debate lésbico, porém, em abril de 1980, houve o racha
definitivo com a criação de um grupo propriamente dito “lésbico-feminista”. Algumas
mulheres saíram em definitivo, para se focar na construção do novo grupo e outras mulheres
permaneceram no SOMOS, por verem a importância de um grupo misto homossexual
(GREEN, 2014: 69).
Em outubro de 1981, o Grupo Lésbico-Feminista é rebatizado de Grupo de Ação
Lésbico-Feminista (GALF) por militantes remanescentes, com a intenção de reviver o
movimento (OLIVEIRA, 2017, p. 11). Com o seu enfraquecimento, em 1989, surge a Rede
de Informação Um outro Olhar, que também perde força rapidamente (SOARES; COSTA,
2011: 38). No Rio de Janeiro, por sua vez, cria-se o grupo Lamuricumá, que, da mesma
forma, tem dificuldades em se manter ativo (LINO, 2019, p. 16).
As dificuldades de manutenção do movimento lésbico ativo são as mais diversas,
desde a dificuldade de se encontrar um ponto de encontro no qual não haja ataques policiais e
opressão da sociedade, conforme falaremos mais adiante; as dificuldades financeiras; a dura
repressão às mulheres que se autodeclararam lésbicas - inclusive a luta até hoje pelo uso deste
termo, em vez de termos como “entendida”; entre outras questões.
Ao longo dos anos 1990, o movimento lésbico passa a focar sua militância nas
instituições públicas e políticas, ocupando espaços dentro de partidos políticos e,
principalmente organizações não governamentais. Dessa forma, fortalece-se a ligação com o
Estado, tendo em vista que, assim, era possível construir campos para uma atuação efetiva de
mudanças, podendo realmente fazer e pensar em projetos conjuntos (ALMEIDA;
HEILBORN, 2008, p. 227-229).
Em 1996, há a criação do Seminário Nacional de Lésbicas - SENALE, que visa reunir
as militantes e construir um espaço propício para discutir gênero e sexualidade, pautando
ações futuras (LINO, 2019: 17). Dessa forma, na primeira edição do encontro, 100 lésbicas
compareceram para construir esse espaço auto-organizado de militância nacional. Foi aí,
também, que se decidiu que o dia 29 de Agosto - data que ocorreu a primeira manifestação
lésbica no Brasil, que será tratada adianta - seria considerado o Dia Nacional pela
23
Visibilidade Lésbica (SOARES; COSTA, 2011: 39). Já em 2003, durante o III Fórum Social
Mundial, houve a criação do grupo Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), que atua até os dias de
hoje, como uma organização autônoma de mulheres lésbicas e bissexuais (SOARES;
COSTA, 2011: 39).
Hoje, o movimento lésbico está muito mais estruturado e presente nos movimentos
sociais e dentro da política brasileira. Todavia, é inegável a persistência da invisibilidade e do
silenciamento de suas pautas. Ainda hoje, o relacionamento lésbico é retratado como fetiche,
a saúde lésbica é menosprezada e suas relações sociais ainda são permeadas pela lesbofobia e
pela misoginia, não apenas por grupos conservadores, mas também pelos movimentos sociais
de esquerda, movimentos LGBTI+ e movimentos feministas.

3. A EXCLUSÃO LÉSBICA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS


A dificuldade em pautar suas demandas nos demais grupos de resistência, tanto no
movimento feminista quanto no movimento LGBTI+, acaba por representar de maneira
explícita a dupla opressão sofrida pelas mulheres lésbicas. Em outras palavras, por não se
considerarem os debates lésbicos como ponto central do movimento ou, mesmo, como um
ponto minimamente relevante na agenda, essas mulheres representavam personagens
secundários na luta (LINO, 2019: 15).
O movimento feminista temia a sua associação à lesbianidade, fato que tornou as
lésbicas um “esteriótipo” a ser evitado (SOARES; COSTA, 2011: 13). Não só pela lesbofobia
internalizadas nas mulheres heterosexuais, mas também porque pretendiam fugir da ideia de
que toda mulher feminista seria “lesbica”, ou seja “não seria mulher de verdade”. Ademais,
até hoje que o feminismo lésbico sofre acusações de tratar-se de um movimento de ódio inato
aos homens.
Ainda que o movimento lésbico seja pioneiro em diversas conquistas, isso não foi
suficiente para apagar a opressão misógina que transita pelos movimentos sociais
progressistas. A luta das mulheres lésbicas foi fundamental para a conquista de espaços tanto
na luta contra o patriarcado como no combate à opressão sexual. Apesar disso, infelizmente,
ainda se vê o descaso pela pauta, principalmente no que diz respeito ao movimento LGBTI+,
agora consolidado.
Para entender esse fenômeno, é fundamental estudar as mutações no ativismo
LGBTI+ entre as décadas de 1960 e 1980, que foram cruciais para definir o futuro do
movimento lésbico. No centro desse debate está o privilégio masculino em estabelecer pautas
de libertação e combate aos estereótipos de gênero, quando conveniente, mas utilizá-los
24
quando convém. Essa foi a realidade presenciada por mulheres lésbicas dentro do contexto do
movimento de libertação gay, que no decorrer de sua construção, passou a ressaltar a
adoração ao falo e ao masculino e tratar o feminino de maneira jocosa e caricata.
Assim, mais uma vez lésbicas foram relegadas ao papel de subumanas, como um
segredo sujo do movimento. Com a exaltação de práticas de submissão e dominação e o
reforço da hierarquia nos conceitos de ativo/passivo, o movimento LGBTI+ passou a se
construir dentro das opressões as quais inicialmente rejeitaram, em um desejo de emular uma
sociedade igual àquela que os rejeitou. Dessa maneira, o movimento lésbico foi forçado ao
separatismo, tendo em vista que apenas mulheres lésbicas são capazes de entender por
completo o impacto dessa dupla, e às vezes tripla, opressão. A teórica feminista Marilyn Frye
retrata a maneira com que homens gays reagem à opressão patriarcal e misógina, de forma a
rejeitar o feminino:

Uma pessoa poderia esperar que, desde que homens gays podem ser, de certa
forma, vítimas de ódio às mulheres, eles poderiam ter chegado a uma incomum
identificação com as mulheres e, por tanto,ter firmado alianças políticas com elas.
Está é uma possibilidade política que está em algum grau atualizada por alguns
homens gays, mas, para a maioria, tal identificação é realmente impossível. Eles
sabem, mesmo que não articuladamente, que sua classificação com as mulheres é
baseada em um profundo mal-entendido. Como a maioria dos outros homens que
por uma razão ou outra chegaram a sentir um gostinho de como é ser uma mulher
em uma cultura misógina, eles estão inclinados a protestar, não a injustiça de
qualquer pessoa ser tratada de forma tão mesquinha, mas a injustiça deles serem
tratados assim quando não são mulheres​ (FRYE, 1983: 3).

Ao se depararem com a realidade do patriarcado, homens gays que sofreram com essa
condição, chocaram-se não por entender finalmente a luta das mulheres lésbicas, mas sim por
serem retirados de seus privilégios. Esse fato fez com que o feminino fosse uma subversão
usada para chocar os padrões, porém respeitando os limites impostos pelo próprio
patriarcado, pois os homens não abriram mão da hierarquia socialmente construída.
No mesmo sentido, o movimento feminista heterosexual também não viu a
necessidade de pautar o lesbianismo em sua luta, vez que não eram atingidas pela mesma
opressão, bem como não as viam como “iguais”. Pelo contrário, a “ameaça lavanda”
amedrontava as feministas, que temiam ser classificadas na mesma categoria do movimento
lésbico, fato que poderia descredibilizar suas próprias demandas perante a sociedade. De
acordo com AGUIAR (2018), “o que implica o lesbo-ódio por parte das feministas
heterossexuais é justamente o fato de tratar lésbicas como algo que não pertence a sua
realidade, portanto que não pertence a este mundo, reforçando o estigma de clandestinidade
do lesbianismo” (AGUIAR, 2018: 143).
25
Assim, a incompatibilidade nos três movimentos foi um dos pilares que definiu o
caminho do movimento lésbico. O silenciamento em todos os debates progressistas vigentes
fez com que a independência fosse não só um desejo, mas uma necessidade. Caso contrário,
seriam relegadas ao esquecimento, vivendo suas demandas em segredo e sendo postas sempre
em segundo lugar na agenda de lutas sociais. Dessa forma, apesar de uma superficial
existência de um movimento LGBTI+ coeso, tanto quando pautamos o início da organização
quanto nos dias atuais, com a sigla completa, as mulheres lésbicas ocupavam e ainda ocupam
um imaginário subalterno, que impõe o silêncio e a exclusão. Esse fenômeno é marcante na
construção de um movimento lésbico autônomo concebido atualmente, seja nas pautas da
diversidade sexual ou nas pautas feministas.

4. JORNAL E BOLETIM CHANACOMCHANA


Outro mecanismo que colaborou com a resistência das mulheres lésbicas foi a criação
do jornal ChanaComChana, primeiramente pelo Grupo Lésbico-Feminista e, posteriormente,
foi revivido pelo GALF.
Apesar do contexto de censura e repressão da ditadura civil-militar, nesse período
houve uma grande proliferação de meios de informações alternativos, que pautavam o
movimento social e disseminavam conteúdo contra hegemônico. Enquanto o movimento
feminista disseminava suas pautas e questões em revistas como o Brasil Mulher, Nós
Mulheres e Mulherio (WOITOWICZ, 2014: 108), o movimento homossexual popularizou o
jornal Lampião da Esquina, que apesar de propor debater as mais diversas pautas sociais,
focava-se muito mais na questão do homem gay.
Dessa forma, o ChanaComChana foi um grande exemplo de jornal que rompia com a
hegemonia do controle da informação dentro do regime autoritário militar da época. Assim, a
mídia alternativa foi também um mecanismo de resistência, sendo um instrumento que não
apenas ajudou a construir uma identidade do movimento lésbico no Brasil - mais
especificamente, em São Paulo -, mas foi o meio utilizado para dar maior visibilidade para as
pautas sociais (WOITOWICZ, 2014: 116).
Um ano após o início das publicações do Lampião da Esquina, no mês de maio de
1979, um grupo de mulheres lésbicas auto organizadas foi convidado para publicar suas
pautas e fazer uma edição sobre seu movimento (OLIVEIRA, 2017: 10). Diante dessa
oportunidade, utilizam o meio para denunciar a sua invisibilidade dentro dos movimentos
sociais como um todo, publicando a matéria “Nós também estamos aí”, explicando o porquê
das lésbicas estarem “atrasadas”:
26
Nós estamos atrasadas porque existimos, mas sempre abdicamos de existir.
Existimos nos cochichos, nos bochichos, em algum barzinho, em algumas boates,
n'alguma cama com algum corpo, nas fantasias e sonhações que, na maioria das
vezes, arquivamos desde sempre. Nós estamos atrasadas porque temos medo,
receio, cagaço mesmo de viver o que somos. Porque não construímos o espaço do
nosso viver. Porque vivemos na clandestinidade (JORNAL LAMPIÃO DA
ESQUINA, 1970: 7).

Dentre as demais 41 edições lançadas, apenas essa e outras duas capas tiveram temas
relacionados à pauta lésbica, mesmo que de forma indireta. Não havia a presença efetiva de
mulheres lésbicas dentro do jornal e, muitas delas não compunham o grupo justamente por
não verem suas pautas e mesmo suas existências representadas ali dentro. Dessa forma, após
participar dessa edição, surgiu a ideia de criar um jornal específico para as questões das
mulheres lésbicas. Assim, a primeira publicação de efetivamente ativismo lésbico no Brasil
surgiu em 1981 o Grupo Lésbico-Feminista - LF inicia a produção do Jornal
ChanacomChana (CCC) que, posteriormente, foi revivido e transformado em Boletim pelo
Grupo de Ação Lésbico-Feminista - GALF, tendo em vista as dificuldades de financiamento
de manter a produção (OLIVEIRA, 2017:12).
Para além da disseminação de informações relevantes, o jornal tinha como propósito
maior reunir e acolher mais mulheres, de todos os cantos, para compor o movimento. Em
carta inicial do jornal, conversando com o grupo do Rio de Janeiro Lamuricumá, de janeiro
de 1981, escreve-se:

Basta você assumir o compromisso de fazer 5 (cinco) cópias deste exemplar, seja
como xerox? com carbono ou memo [sic] à mão. Cinco não é muito !! E será fácil
encontrar outras 5 mulheres para passá-las adiante. Se elas aceitarem por sua vez
o compromisso cada mês você fará o mesmo, entregando-lhe um novo exemplar.
Não entregue a quem não quizer [sic] se comprometer a copiá-lo, pois isso
romperia a corrente​ (CHANACOMCHANA, 1981, p. 2).

Para corroborar com a união das mulheres lésbicas de todos os cantos e somar com a
luta e o movimento, o ChanaComChana tinha duas sessões, uma de informes e uma em que
publicava cartas enviadas pelas leitoras, que interagiam entre si. No segundo boletim lançado
pelo GALF, em 1982, lê-se na página 10: “​O Boletim CHANACOMCHANA também é seu.
Ele está aberto a sua opinião, suas críticas, suas poesias, sugestões, correspondência,
etc…​”. Já na página 12, depois da publicação das cartas, há uma sessão “Para quem gosta de
escrever e quer conhecer pessoas novas”, com o nome e o endereço de mulheres para a troca
de correspondências (CHANACOMCHANA, 1982, p.10-12). Portanto, a busca pela

27
aproximação das mulheres, criando vínculos afetivos foi algo muito importante para o
movimento da época.
Diversos foram os temas tratados nas edições publicadas pelo jornal/boletim, trazendo
entrevistas, tirinhas, denúncias, reportagens, divulgação de eventos e encontros, informes
políticos e sociais e textos teóricos sobre o movimento lésbico e o movimento lesbofeminista.
Esse jornal, portanto, tinha como proposta ir além da mera militância, mas também, como foi
dita, acolher e unir as mulheres lésbicas, para não só agregar pernas ao movimento, mas
principalmente apoiar e incluir essas mulheres, que se encontravam muitas vezes vivendo sua
sexualidade na clandestinidade.
Muitas foram as dificuldades enfrentadas para a manutenção do jornal e do boletim,
desde os problemas financeiros até agressões que as militantes sofriam ao tentar vendê-lo em
seus pontos de encontro, com o desgaste das próprias militantes (OLIVEIRA, 2017: 12-13).
Assim, em 1987 o Boletim publica sua última edição. Apesar dessa experiência específica do
estado de São Paulo, atualmente o movimento lésbico possui diversas ferramentas de difusão
de informação, seja nas redes sociais, seja em grupos de apoio e contato das militantes.

5. MANIFESTAÇÕES E RESISTÊNCIAS
O caráter repressivo do governo autoritário da ditadura civil-militar não era
direcionado apenas aos grupos de esquerda, que conspiravam contra o regime, mas também a
qualquer ato ou grupo que fugisse da ideia de “moral e bons costumes” difundida pelos
grupos reacionários da época. Logo, as pessoas LGBTI+ eram alvos de ataques,
perseguições, provocações e ameaças por parte, principalmente, da política.
Como resposta aos abusos policiais no estado de São Paulo, em 13 de junho de 1980,
as mulheres lésbicas e outros movimentos sociais realizaram um ato público. Todavia, como
resposta, em 13 de novembro do mesmo ano, o delegado José Wilson Richett comandou uma
operação que foi intitulada “Operação Sapatão” - mais uma entre as várias ferramentas de
opressão e perseguição das lésbicas no estado (OLIVEIRA, 2017: 16). Essa operação prendeu
diversas mulheres que só foram liberadas com o pagamento de fiança.
Se o movimento homossexual já era visto como extremamente marginalizado e
pertence ao “gueto” das cidades, as lésbicas encontravam-se em total clandestinidade.
Conforme já dito, era muito difícil manter ativo o movimento, tendo em vista as dificuldades
de encontrar um ponto de encontro, as dificuldades de viver abertamente a sua sexualidade,
bem como as dificuldades familiares, que dificultavam encontros dentro das casas das
militantes.
28
Em 1983 é o registro da primeira manifestação própria do movimento lésbica no
Brasil. Essa manifestação ficou conhecido como “O Levante do Ferro’s Bar”, tendo em vista
que ocorreu nesse bar de São Paulo, que costumava ser o ponto de encontro do Grupo de
Ação Lésbico-Feminista (GALF). Esse lugar era considerado o ​point de encontro das lésbicas
em SP, não só para encontros do grupo de militância, mas para festas e demais socializações,
bem como o local onde vendiam os boletins do ChanaComChana.
Apesar de sustentarem financeiramente o bar, representando a maioria de sua
clientela, o início da venda do CCC foi o estopim para o dono do bar começar a reprimir e
afastar a presença das mulheres lésbicas do local. Em julho de 1983, elas foram oficialmente
expulsas do ambiente. Diante disso, as lésbicas se organizam e, acompanhadas de diversas
frentes dos movimentos sociais, em 19 de agosto do mesmo ano, reocuparam o bar e
realizaram um ato político, exigindo respeito, permissão para manterem a venda do Boletim,
bem como continuarem seus encontros e sociais no local. Posteriormente essa data veio a se
tornar oficialmente o Dia Nacional do Orgulho Lésbico (OLIVEIRA, 2017: 13-14).
A construção da resistência, como mecanismo para garantir o direito de ocupar os
ambientes da cidade, principalmente o Ferro’s Bar, que sempre foi um local de encontro,
demonstra as duas grandes fragilidades do movimento lésbico da época: a ausência de lugares
que “permitissem” sua existência e o sentimento de não pertencerem a nenhum espaço -
colocando a lesbianidade em um espaço de clandestinidade, invisibilidade e exclusão. Isso é
descrito muito bem na seguinte passagem:

Só nesses bares a gente encontra gente como nós, só lá somos aceitas, estamos em
casa. Até na Universidade de São Paulo, onde as pessoas se consideram
avançadas, os homossexuais não são aceitos. Principalmente as lésbicas. No
trabalho, quando descobrem, somos mandadas embora. Lá em casa minha mãe não
consegue entender por que eu sou assim, por mais que eu tente mostrar a ela que
estou bem assim, não tenho nada de anormal​ (OLIVEIRA, 2017: 17).

O movimento lésbico também foi alvo de repressão por parte de uma parcela de
mulheres do movimento feminista, tendo que resistir a ataques inclusive em espaços que
deveriam ser, por si só, “seguros” e abertos para a militância. O grupo de mulheres lésbicas
foi convidado a participar do painel de abertura do II Congresso da Mulher Paulista, que
ocorreu em abril de 1979, tendo sido intitulado “Amor entre mulheres”. Todavia, antes dele
ocorrer, as fotos e os cartazes que foram colocados no evento foram rasgados e destruídos por
algumas das mulheres que participavam do Congresso (OLIVEIRA, 2017: 14).

29
A apresentação teve que ser movida para outro espaço, desta vez auto organizado, em
forma de roda de conversa. Apesar de traumático, o evento ainda pode ser visto com olhares
positivos, tendo em vista que foi capaz de angariar novas membras lésbicas para o grupo,
além de definir bem quais grupos estavam lado a lado na luta lesbofeminista e quais não
(AGUIAR, 2018: 143).
As formas encontradas para resistir e construir manifestações e levantes lésbicos
foram muito relevantes para fortalecer o movimento das mulheres que amam mulheres.
Apesar das diversas formas de opressão e repressão, tanto da ditadura civil-militar, quanto do
conservadorismo da sociedade, essas movimentações caracterizaram o germe da estruturação
do movimento lésbico que hoje vemos atuante em diversas camadas sociais. Assim, a
persistência é símbolo central da letra L, da sigla LGBTI+, que mantém firme a luta e a
união, mesmo frente ao silenciamento e a invisibilidade que, infelizmente, existe até hoje.
Portanto, o movimento lésbico é um grande exemplo de resistência, que constrói laços fortes
e afetivos entre mulheres dissidentes, que ousam quebrar se não todas, quase todas as normas
impostas pelo patriarcado.

6. CONCLUSÃO
A história do movimento lésbico é até hoje negligenciada e, muitas vezes, ignorada.
Dessa forma, sua luta ao longo dos tempos é repleta de mecanismos que foram capazes de
organizar a resistência ativa dessas mulheres que desviam dos padrões impostos.
Por serem mulheres e, ainda, lésbicas, a repressão e a opressão enfrentada pelo
sistema, tanto da ditadura civil-militar, quanto da sociedade conservadora como um todo,
somam-se também à exclusão por parte dos próprios grupos dos movimentos sociais de
esquerda. Em outras palavras, as lésbicas eram silenciadas e até excluídas da organização de
movimentos feministas e de movimentos homossexuais, sendo relegadas a tarefas subalternas
e aos bastidores e, inclusive, discriminadas.
Diante dessa conjuntura, a saída teve que se dar por meio da auto-organização, como
forma de finalmente pautar propriamente as demandas específicas das mulheres se
relacionam com outras mulheres, seja em termos de opressão específica, ou a saúde, as
políticas públicas, a discriminação dentro da sociedade e até mesmo sua posição de
clandestinidade. Assim, o primeiro mecanismo de resistência foi a criação de grupos
formados unicamente por mulheres lésbicas.
Outra forma encontrada para organizar o movimento lésbico se deu por meio de
jornais, revistas e boletins que difundiam as suas ideias. Mais especificamente, por meio do
30
Jornal ChanaComChana (CCC), o grupo lésbico-feminista e, posteriormente o GALF,
espalharam demandas, pautas, entrevistas, poesias, encontros, conversas, conhecimento e
reportagens que tratavam exclusivamente das questões lésbicas. A criação dessa revista muito
importante também para aproximar as mulheres umas das outras, criando laços e reunindo
mulheres que, antes, estavam excluídas e sozinhas.
Por fim, a resistência sapatão se deu também por meio de levantes e manifestações,
resistência ativa contra atos arbitrários e abusivos da polícia e de particulares. Reivindicando
seu local de direito nas ruas e nos bares, marcando presença dentro dos movimentos sociais,
as mulheres lésbicas insurgiram contra a opressão e o silenciamento.
Apesar da marginalização, principalmente quando se fala em políticas públicas e
visibilidade, as mulheres lésbicas construíram um movimento forte, mostrando-se capazes de
(r)existir em meio a qualquer adversidade. Logo, essa organização encontrou diversos
mecanismos para sobreviver e, principalmente, romper as barreiras construídas de todos os
lados, da esquerda e da direita.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Aline do Nascimento. Facção lésbico feminista e o surgimento do lesbofeminismo
no Brasil. ​Revista Ensaios de História​, v. XIX, n. 1/1, p. 130-147, 2018.

ALMEIDA, Gláucia; HEILBORN, Maria Luiza. Não somos mulheres gays: identidade
lésbica na visão de ativistas brasileiras. ​Gênero​, Niterói, v. 9, n. 1, p. 225-249, 2. sem. 2008.

CHANACOMCHANA, ed. 0, 1981.

FRYE, Marilyn. Feminismo lésbico e o movimento de direitos dos gays: outra visão da
supremacia masculina,outro separatismo. In: ​Políticas da Realidade​: Ensaios sobre Teoria
Feminista, 1983.

GREEN, James N. Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão: uma memória sobre a
ditadura e o movimento de gays e lésbicas de São Paulo na época da abertura. ​Acervo​, v. 27,
n. 1, p. 53-82, 25 abr. 2014. Disponível em:
<​http://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/460​>. Acesso em:
20 de ago. de 2020.

JORNAL LAMPIÃO DA ESQUINA, ed. 12, 1970.

LINO, Tayane Rogeria. Nas fissuras da história: o movimento lésbico no Brasil. ​Revista
Movimentação​, Dourados, MS, v.5, n.10, jan./jun. 2019, p. 10-21.

OLIVEIRA, Luana Farias. Quem tem medo de sapatão? Resistência lésbica à Ditadura
Militar (1964-1985). ​Revista Periódicus​, v. 1, n. 7, maio-out. 2017, p. 06-19. Disponível em:
<​https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/21694​>.
Acesso em: 30 de jul. de 2020.
31
SOARES, Gilberta Santos; COSTA, Jussara Carneiro. Movimento lésbico e movimento
feminista no Brasil: recuperando encontros e desencontros. ​Estudos Feministas​,
julho/dezembro 2011 - janeiro/junho 2012. Disponível em:
<​https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/direitos-humanos/direitos-da-populac
ao-lgbt/artigos_teses_dissertacoes/movimento_lesbico_e_movimento_feminista_no_brasil_re
cuperando_encontros_e_desencontros_1.pdf​>. Acesso em: 15 de jul. de 2020.

WOITOWICZ, Karina Janz. A resistência das mulheres na ditadura militar brasileira:


imprensa feminista e práticas de ativismo. ​Estudos em Jornalismo e Mídia​, vol. 11, nº 1, p.
104-117, janeiro a junho de 2014.

32
“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL”: 
CONSIDERAÇÕES NETNOGRÁFICAS SOBRE 
CORPO E GÊNERO EM MATO GROSSO DO 
SUL 
Joalisson Oliveira Araujo​4
Esmael Alves de Oliveira​5

1. INTRODUÇÃO
“O segredo de Lourival” nos foi apresentado na noite de 3 de fevereiro de 2019,
quando o ​Fantástico​, programa da Rede Globo de Televisão, se propõe a revelar a todo o país
que “Lourival escondeu seu segredo de todos, até da própria família com quem conviveu por
quase quarenta anos". Uma matéria chegou a ser publicada no Portal G1, em 3 de fevereiro
de 2019, às 23h04’ sob a manchete: “Sem documentos reais, corpo de idosa que se passava
por homem está há mais de 4 meses no Imol em MS”, sendo modificada em 7 de fevereiro de
2019 para “Justiça investiga origens de homem que não pode ser enterrado”. Atualmente a
notícia não se encontra mais disponível naquele sítio eletrônico.
A narrativa dá conta de que a 5 de outubro de 2018, Lourival Bezerra de Sá, à época
com 78 anos, sofreu um enfarto fulminante em sua casa, na cidade de Campo Grande, Mato
Grosso do Sul e, ao ser encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito, seu corpo foi lido
como do sexo feminino, por conta de seus caracteres sexuais.
Essa aparentemente simples divergência entre a morfologia esperada e a que Lourival
Sá trazia marcada em seu corpo fez desencadear uma série de atos do aparato estatal para
investigar a “verdade oculta”, que pudesse ter feito com que aquela mulher tivesse “se
passado por homem” há, pelo menos, quarenta anos.

4
Bela. em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista de mestrado (DS/CAPES) no
Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGAnt/UFGD),
Dourados/MS. araujojow@outlook.com
5
Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Professor do
curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt) da Faculdade de
Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD), e do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS).
Dourados, MS. esmael_oliveira@live.com
33
O corpo já estava retido no Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL)
quando da veiculação da matéria e lá ficou até, pelo menos, 16 de março de 2019, quando
finalmente escapou das ameaças de ser enterrado como indigente caso nenhuma informação
sobre sua “verdadeira identidade” fosse oferecida: uma determinação judicial vinda da 1ª
Vara do Júri da Comarca de Campo Grande, onde se está processando o inquérito policial,
proporcionou que Lourival fosse enterrado com respeito à sua dignidade e à identidade de
gênero que carregava consigo: a masculina.
Não obstante, isso não significa que a busca pela verdade de seu corpo, sexo e gênero
tenham chegado ao fim, pelo contrário: a mesma decisão judicial impôs ao IMOL a obrigação
de manter registros papiloscópicos, fotografias e material genético para que novas buscas
sejam eventualmente realizadas.
Me incomodou não só a atividade persecutória do Estado, mas também as práticas
discursivas dos veículos de mídia ao tratarem do caso. Relatavam como se estivessem diante
de uma falsária, uma frustrada, uma mulher que tenha feito algum mal irremediável e
quisesse se afastar de seu passado.
Assim, neste momento, interessa-me saber ​como as pessoas receberam essa
construção midiática e como se posicionaram frente a ela. Por conseguinte, adotei como fonte
privilegiada de análise a caixa de comentários das notícias vinculadas a Lourival Bezerra de
Sá, coletados entre 14 de junho e 17 de julho, por meio da ​netnografia​.
Na próxima seção, discuto o método netnográfico e descrevo o caminho metodológico
que trilhei; em seguida, apresento considerações sobre jogos de verdade e sexo como
dispositivos normativos e teço considerações sobre a compulsória coerência de dualismos que
duelam para formar um sujeito assujeitado a uma existência inteligível.
Adiante, após a exposição dos resultados que obtive, pude dar conta então de como
tais produções discursivas orbitam em torno de três perspectivas: a de patologização de
Lourival em sua descontinuidade de sexo-gênero; as que vinculavam sua existência ao
pecado, anormalidade e fraude, clamando por uma pretensa “salvação” ou o condenando ao
Inferno; e, por fim, os que advogam por respeito à sua memória e buscam reconhecer, por sua
trajetória, dignidade.

2. (IN/CON)FORMAÇÕES
Nesta seção, reuni as nuances estruturais e estruturantes do trabalho, que são as
relativas à metodologia e a reflexões teóricas. À primeira subseção, situo o surgimento da

34
etnografia em ambientes virtuais e, na segunda, anoto principalmente os escritos
foucaultianos relacionados ao discurso tomado como verdadeiro e à verdade do sexo.

a. Noções metodológicas
Modificações tecnológicas trouxeram à Antropologia novos paradigmas com que se
ocupar. É assim que surge, no fim da década de 1990, um conceito frequentemente atribuído
a Robert Kozinets: a ​netnografia​, ou “etnografia em ambientes virtuais”. Esta forma
especializada de etnografia se ocupa de comunicações mediadas por equipamentos
telemáticos para chegar à compreensão – e posterior representação etnográfica – de um
fenômeno cultural por suas repercussões na Internet, isto é, “a netnografia é pesquisa
observacional participante baseada em trabalho de campo online” (KOZINETS, 2014, p.
61-62), que “volta-se para a descrição de realidades sociais virtualizadas, ou seja, de
compreensão das novas formas de sociabilidade no ciberespaço” (REBS, 2011, p. 81).
As produções discursivas, provenientes de sujeitos identificáveis ou não, constituem
também um dos produtos que fiam a teia de significados, trama do tecido cultural. E, ainda
que haja diferenças significativas quanto à linguagem e formas de interagir entre sujeito
pesquisador e sujeito pesquisado em ambientes online, “tal relação – [que é] mediada mesmo
off-line – se dá em ambientes virtuais que não podem mais ser tratados como ‘não-lugares’ e
menos ainda de forma dicotômica, opondo-se o virtual ao ‘real’” (POLIVANOV, 2013, p.
69), pois os sujeitos têm mesclado suas existências ​online e ​offline a tal ponto que sua
separação se torna cada vez mais tênue.
Logo, por conta de a narrativa ter sido primeiro contada no programa ​Fantástico​, da
Rede Globo, e uma matéria ter sido veiculada no mesmo dia no ​Portal G1​, me pareceu
adequado que este fosse o ambiente para buscar notícias relacionadas ao caso. Realizei o
levantamento das matérias nos dias 14 de junho e 17 de julho através de seu mecanismo
nativo de busca. Inseri os termos de indexação “Lourival Bezerra de Sá”, “Lourival Bezerra”
e “Lourival AND Bezerra”. Me vali tanto como filtro de busca quanto como critério inclusivo
o marcador temporal de ter sido a notícia publicada a partir de 3 de fevereiro de 2019.
Então, obtive como resultados que se conformam nos critérios inclusivos, 4 (quatro)
matérias disponíveis, publicadas entre 4 de fevereiro e 16 de março. Contudo, como o que me
interessa neste momento são os comentários – e as interações a eles relacionadas – nas
matérias em questão, os contei e obtive 31 (trinta e um) comentários no total.
Deste universo de trinta e um comentários, elegi dezessete deles que falavam mais
diretamente sobre o caso, seja por reificar a noção de “natureza” no corpo de Lourival
35
Bezerra de Sá, seja por torcer esta naturalização biologicizante atribuída àquele mesmo
corpo. Os reproduzi sem fazer alterações de qualquer caráter; os outros dezesseis foram
dispensados porque tangenciavam muito da temática da matéria.
Registrei também as interações entre usuários e comentários já feitos, que incluem
“concordar” e “discordar”, representadas na caixa de comentários do ​Portal G1​,
respectivamente, por polegares apontando para cima, em verde, ou para baixo, em vermelho.
Contabilizei 704 (setecentas e quatro) interações que “concordavam” com
comentários e 553 (quinhentas e cinquenta e três) que “discordavam”, totalizando, assim,
1257 (um mil, duzentos e cinquenta e sete). Curiosamente, todas as interações​6 se encontram
na matéria de 4 de fevereiro; já com relação à matéria publicada em 13 de março, intitulada
Justiça determina enterro de mulher que se identificava como homem; corpo está há 158 dias
no Imol em MS​, não pude coletar dados pois a caixa de comentários não se encontra
disponível.

b. Qual é a verdadeira verdade?


A perquirição pela “verdade do sexo” de Lourival, embebida no campo de
saber-poder a que Michel Foucault nomeia ​sciencia sexuallis​, acaba por evidenciar o corpo
em seu caráter simbólico, não sendo ele, pois, uma realidade apriorística e pré-discursiva,
ligada à natureza. Podemos conceber o corpo, então, “como um sistema que,
simultaneamente, produz significados sociais e é produzido por eles” (FAUSTO-STERLING,
2002, p. 64).
Por conta de que “o corpo é uma realidade bio-política” (FOUCAULT, 2000, p. 80)
incidem sobre ele dispositivos disciplinadores, em que “a instituição judiciária se integra cada
vez mais num contínuo de aparelhos (médicos, administrativos etc.) cujas funções são
sobretudo reguladoras” (FOUCAULT, 2013, p. 157): assujeitam o corpo a/como uma
superfície apta a receber tais normativas.
Entretanto, as políticas de ingerência sobre o corpo nem sempre se deram do mesmo
modo; mecanismos de controle do discurso trataram de criar oposições entre verdadeiro-falso
dentro de disciplinas de saber-poder, que, ainda segundo Michel Foucault (2014), desde o
século VII, no Ocidente, se afere pelo conteúdo dos discursos que são proferidos.
Tais práticas discursivas que, desde o século XVIII, determinam que no
corpo-organismo “teria de haver uma coisa fora, dentro e por todo o corpo que definisse o

6
Importante evidenciar que não é possível identificar os usuários autores das interações em nenhuma das caixas
de comentário.
36
homem em oposição à mulher e que apresentasse o fundamento de uma atração dos opostos,
é inteiramente ausente na medicina clássica ou renascentista.” (LAQUEUR, 2001, p. 33). O
campo científico passa, então, a não mais buscar a verdade, mas construir as suas próprias
(FOUCAULT, 2014).
Esta “vontade de verdade” apoia-se em suportes institucionais como práticas
pedagógicas, ritos jurídicos, sistemas de edição etc., mas também pelo modo como o saber é
aplicado em sociedade, como é distribuído, valorizado, compartilhado, enfim, o que acaba
por construir uma “narrativa maior”: esta se torna então a baliza para determinar o real e o
irreal, guardando, de modo ainda não lapidado, “algo como um segredo ou uma riqueza”
(FOUCAULT, 2014, p. 21).
O autor supõe então, nesta mesma obra, que em toda sociedade existe um desnível
entre dois tipos de textos: as narrativas maiores e os outros, secundários (a que chama de
"comentários"), que não fazem outra coisa senão repetir e fazer referência ao que se diz nas
narrativas primárias, com a finalidade de desvelar uma verdade originária que permaneceu
oculta. E estes, continua ainda, são produtos de nosso sistema de cultura: os textos religiosos,
jurídicos, literários e, em certa medida, também os científicos.
A especulação sobre a “verdade do sexo” – principalmente feita nos “comentários” –
é útil pois tal dispositivo encerra em si parâmetros de inteligibilidade de uma existência
corpórea; Judith Butler aponta como inteligibilidade os agenciamentos de gênero que

em certo sentido, instituem e mantêm relações de coerência e continuidade entre


sexo, gênero, prática sexual e desejo. Em outras palavras, espectros de
descontinuidade e incoerência, eles próprios concebíveis em relação a normas
existentes de continuidade e coerência, são constantemente proibidos e produzidos
pelas próprias leis que buscam estabelecer linhas causais ou expressivas de ligação
entre o sexo biológico, o gênero culturalmente constituído e a ‘expressão’ ou efeito
de ambos na manifestação do desejo sexual por meio da prática sexual (BUTLER,
2017, p. 43-4).

Inclusive, “a noção de que pode haver uma ‘verdade’ do sexo, como Foucault a
denomina ironicamente, é produzida precisamente pelas práticas reguladoras que geram
identidades correntes por via de uma matriz de normas de gênero” (BUTLER, 2017, p. 44).
Então, a “gramática substantiva do sexo impõe uma relação binária artificial entre os
sexos, bem como uma coerência interna artificial em cada termo deste sistema binário”, quais
sejam a vinculação ​sexo-gênero-desejo-práticas sexuais​, onde “a regulação binária da
sexualidade suprime a multiplicidade subversiva de uma sexualidade que rompe as

37
hegemonias heterossexual, reprodutiva e médico-jurídica" (BUTLER, 2017, p. 46 et seq.),
que não são estáveis e, por isso mesmo, se tornam campo e arena de disputas.

3. SIMPLES ASSIM(?)
Os comentários da matéria publicada em ​4 de fevereiro de 2019 às 19h50’ – e
atualizada às 21h52'33" –, intitulada ​“Muito esquisito”, diz ex-vizinha de idosa que se
passava por homem em Ituverava, SP, foi a que me permitiu perceber que os comentários
caminham em, basicamente, três trajetos: o primeira, vincula a existência de Lourival a uma
condição de adoecimento; a segunda, liga-o ao pecado e ao crime; uma terceira, por fim,
pede respeito à identidade masculina de Lourival e tenta ponderar considerações sobre sua
vida.
Também é uma característica marcante de alguns destes discursos uma solução
aparentemente muito óbvia do impasse, pois trazem locuções como “simples assim”, ou são
grafados contendo apenas uma pergunta seguida de uma resposta direta, como se todo este
“alarde” proporcionado pela reportagem fosse desnecessário e sensacionalista.
Vejamos. No primeiro enfoque, temos comentários como os publicados em ​5 fev.,
12h06’55”​, “Uma doente mental simples assim.”; em ​5 fev., 12h33’02”​: “Homem trans =
Mulher doente mental que se fantasia e pensa que é homem.”, e ainda ​5 fev., 07h39’22”​,
“Qual o objetivo de se passar por homem? Resp: Doença.”. 36 pessoas concordaram com
estes três comentários, dos quais só deste último, foram 17 interações positivas. Ao mesmo
tempo, há 92 discordâncias totais nestes.
Ainda se faz muito presente o nexo causal entre transgressão de gênero e patologia,
tributário dos processos de governo da vida que relegaram, ao longo da história, essas
existências à doença e à anormalidade. Só muito recentemente a Organização Mundial da
Saúde (OMS) se propôs a revisitar esse ​standard​: na 72ª Assembleia Mundial da Saúde
quando, ao reformular a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde (CID), agora em sua décima primeira edição, retirou da listagem o
termo ​transexualismo​.
Entretanto, manteve ainda um dispositivo que descreve uma descontinuidade entre
sexo e gênero. A despeito disso, sua nomenclatura agora é ​incongruencia de gênero​, e está
alocado num capítulo sobre condições relativas à saúde sexual, não sendo mais classificada
como um transtorno.
No segundo aspecto, destaca-se o comentário ​5 fev., 05h59’54”​, que diz: “como
satanás destrói a vida daqueles que se deixam levar pelo mundo E VIVEM UMA VIDA
38
COMPLETAMENTE AFASTADA DO DEUS VIVO SOBERANO......QUE ESSA
MULHER TENHA SE ARREPENDIDO E SE ENTREGADO A CRISTO ANTES DA SUA
MORTE.”, com o qual concordaram 29 pessoas e discordaram 69, tendo desencadeado uma
série de comentários, que, em resposta a este, discutiam a existência ou não de um deus e um
diabo.
Esta segunda nuance não caminha muito distante da primeira, posto que, como nos
aponta Jorge Leite Jr, antes da primazia das ciências da psique sobre as cisões cisnormativas,
um caráter de pecado e monstruosidade era atribuído a tais corpos e, consequentemente, os
vinculava muitas vezes à figura do próprio diabo, já que "isto seria uma completa inversão
espiritual, verdadeira desordem cósmica e, consequentemente, o temido reino do diabo, o
'inverso' de Deus." (LEITE, 2008, p. 44).
Por fim, nesta matéria, temos comentários como ​5 fev., 10h46’49”​, “Nem na morte
não deixam o cidadão em paz. Bando de bisbilhoteiro.”, do qual concordam 30 pessoas, 8
discordaram; ou ​5 fev., 13h25’33”​, que diz: “Ela nao assumiu por vergonha de ter nascido no
mundo errado, simples assim.” (concordaram 16, discordaram 3).
O comentário de ​5 fev., 15h03’13” teoriza que “O senhor Lourival fez isso pq
antigamente o preconceito era bem diferente do que é hoje. Os pais jamais aceitariam uma
filha virar ‘ homem ‘ . Ctz a família Nem sabia mais da existência dele. Deve ter sumido do
mapa. Feito documentos falsos e seguiu a vida em outros lugares. Tudo por causa do
preconceito. Eu n sou obrigada a concordar mas sou obrigada a respeitar. Descanse em paz.
Senhor Lourival.”, angariando 18 interações positivas, 4 negativas.
Já ​5 fev., 11h01’37”​, foi mais enfático ao dizer: “Globo, passou da hora de vocês
respeitarem a sua pessoas trans. Lourival era um homem trans, simples assim. Quem se passa
por alguém é o artista quando está no palco ou no PROJAC se passando por personagem.
Lourival apenas era Lourival.”, ideia com a qual concordaram 67 pessoas. 31 discordaram.
Foi a primeira vez que o termo “homem trans” foi usado num comentário,
especialmente como forma de reafirmação de uma identidade. O segundo e último neste
sentido é ​5 fev, 15h02’31”​, que aponta: “Que falta de respeito! Ele não se passou por mulher,
ele é um homem trans. Deixem o homem em paz.”.
As outras menções ou tratam da questão com desdém – como ​5 fev, 15h38’13”​: “que
papo furado esse de homem trans” – ou voltam ao ideário de doença/fraude. Como resposta a
este comentário, um outro buscou refletir qual era o verdadeiro caráter da reportagem que, a ​5
fev., 15h53’12”​, sentenciou: “a reportagem não discute se era trans ou não. O que se tenta
descobrir é ​quem era de fato a pessoa que se ocultava atrás do nome Lourival​, entendeu?”
39
(grifo meu), ainda vinculando tanto o esforço das entidades do sistema de justiça quanto do
veículo de mídia a descobrir qual a “verdade oculta” que se fazia no discurso-corpo de
Lourival. 30 pessoas concordaram, somente 2 discordaram.
Ao ordenar os comentários por “Mais relevantes”, aparecem ​5 fev., 08h08’19” que
determina: “Essa matéria é puro preconceito. É lamentável que se perca tanto tempo e espaço
para um assunto dessa natureza.”, com o qual concordaram 61 pessoas, 20 discordam, e ​5
fev., 00h30’32”​, que faz um apelo: “Enterrem o Sr. Lourival, que descanse em paz. As
investigações têm todo tempo do mundo para serem feitas.”: 68 interações positivas contra 6
negativas.
Nas outras matérias, os comentários trilham construções semelhantes. Na matéria
publicada em ​26 de fevereiro de 2019, às 10h24’ – ​atualizada no mesmo dia, às 14h12'35" –
de título ​Polícia Civil de MS pede prorrogação de prazo para investigar caso de idosa que
vivia como homem, diz delegada​, vemos, entretanto, uma sequência de comentários que
pregam a desvalorização da vida: o ​27 fev., 07h05’35” brada: “Este ou esta infeliz até depois
de morto dá trabalho” e obtém como resposta, em ​27 fev., 08h24’58”​, que “O diabo é o pai
da mentira!ALÉM SE REGISTRO FALSO SER CRIME!”.
Essas afirmações procedem a um julgamento moral fincado em caracteres físicos,
numa lastimável herança lombrosiana​7 que trata de desconsiderar ou rebaixar o humano
contido nos sujeitos que, mesmo assujeitados, causam desarranjos nas “normalidades”
sociais. Enquadres como estes acabam por tornar tanto sua vida menos digna de ser vivida
quanto sua morte menos digna de luto (BUTLER, 2015). O comentário de ​27 fev., 15h43’20”
lamenta tamanho desrespeito: “Uma história muito triste, que mostra o imenso sofrimento das
pessoas transexuais em busca de uma identidade de gênero”.
Por último, a matéria publicada em ​16 de março de 2019, às 18h10’ – ​atualizada às
21h12’05” do mesmo dia – sob o título ​Um dia após nova coleta de digitais para futuros
exames, mulher que se identificava como homem é velada​, tem um único comentário, sem
interações, a ​16 mar., 18h22’18”​, que pede: “Deixem este ser humano em PAZ !!!”, numa
tentativa de relembrar às pessoas comprometidas a escarafunchar a vida de Lourival Bezerra
de Sá que este era, ao fim e ao cabo, um ser humano e deste modo deve ser lembrado e
respeitado em sua dignidade.

7
cf. ​O homem delinquente ​(​L’uomo delinquente​, 1876). Cesare Lombroso foi um antropólogo e criminólogo
italiano, vinculado à Escola Positivista Penal. Esta é sua obra mais célebre, em que cuida de mensurar
características anatômicas e, posteriormente, de manifestações de traços psicológicos comuns e predominantes
aos que delinquem.
40
4. CONSIDERAÇÕES SEM FIM
Isto posto, me cabe fazer alguns apontamentos a título de considerações: Lourival
Bezerra de Sá cindiu com a coerência compulsória e artificial entre sexo e gênero e, por isto,
seu corpo e sua vida vivida foram alvo de processos que buscam encontrar e constituir
verdade em diversas frentes, em especial nas instituições do sistema de justiça e nos veículos
midiáticos.
Apesar desse esforço jurídico-midiático, as pessoas percebem este fenômeno de
diferentes formas: seja vinculando-o à doença, ao pecado e à criminalidade, seja o
concebendo como parte da normalidade ou como traço de sua identidade, parte das facetas do
humano.
Tal imaginário fica expresso em locuções como “uma doente mental”, “homem trans
= doença”, que “até depois de morto dá trabalho”, ou como “satanás destrói a vida dos que se
deixam levar pelo mundo” e ainda que “o diabo é pai da mentira”. Também pelos que pedem
que “deixem o homem em paz”, classificam os comentários da matéria ou das outras pessoas
como “falta de respeito”, desejam “que descanse em paz”, “uma história muito triste”.
Não se deve, portanto, negligenciar o caráter simbólico do corpo, já que as condições
objetivas de existência do humano são mediadas por esta mesma existência corpórea, que
produz e é produzida social e culturalmente em suas práticas discursivas cotidianas. No fim
das contas, Lourival ajuda a desestabilizar o que parece “intocável”: ao ser questionado em
sua (r)existência humana, é a própria existência do sistema ontologizante que se está
ameaçado e precisasse ser reiterado, ratificado, reafirmado.
O jogo estabelecido nas interações positivas e negativas na caixa de comentários na
matéria de 4 de fevereiro se tornou numa arena fecunda para este impasse, pois, ainda que a
maioria dos comentários estivessem fincados num ideário de patologia e inadequação, estes
foram expressivamente demarcados como negativos; em contrapartida, aqueles que pediam
respeito à vida e memória de Lourival tinham mais interações positivas, ainda que
recebessem contestações como resposta.
Mais ainda, alguns dos produtos discursivos das caixas de comentários se
comprometeram a solucionar, “simples assim”, o impasse em que se encontravam tanto as
instituições do sistema de justiça quanto os veículos de mídia, ainda que tenham, estas
mesmas instituições, proferido seus próprios comentários – que não constituem meu foco de
análise neste momento mas que, certamente, carecem ser interpelados.
Tais pessoas duelaram com base e contra os dualismos, assim, tendo se investido do
poder foucaultiano de comentar e trazer à luz as verdades, decodificaram os acontecimentos:
41
para ​5 fev., 11h01’37”​, a verdade é de que se trata de um homem trans, enquanto para ​5 fev.,
12h06’55”​, a questão é claramente de distúrbio mental; ao mesmo tempo, ​5 fev., 13h25’33”
advoga que teria Lourival, por óbvio, nascido no que chamou de “mundo errado”: sua
existência corpórea estaria deslocada deste plano, que é binário, cartesiano, biologizante.
Por fim, objetivamente, é preciso evidenciar que Lourival Bezerra de Sá agiu nas
censuras das prescrições que tomam os caracteres anatômicos como naturais e, por
consequência, imodificáveis e opostos à cultura, que é construída pelo humano. Seu estilo de
vida, seu devir-corpo, sua metamorfose corporal, são reveladores de que nossos corpos e
identidades são construídos, mas não só isso. O que sua vida vivida – e a divulgação e de sua
morte – evidencia, com essa onda de “incômodos”, “maus estares” e “suspeições”, que o
sistema de inteligibilidade heterocisnormativo mesmo está longe de ser estável, imutável e
inquestionável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Renato Aguiar. Revisão técnica de Joel Hirman. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização
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42
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jan./jun, 2011, p. 74-102.

43
O DIREITO AO PRÓPRIO SER: A PROTEÇÃO 
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ÀS 
MODIFICAÇÕES CORPORAIS
João Ricardo dos Santos​8
Ana Carolina D’avanso de Oliveira Cândido​9

1. INTRODUÇÃO
A estrutura organizacional e, especialmente as interações sociais se constituem em um
conjunto de normas comportamentais, alicerçada a partir da dicotomia feminina e masculina,
ao passo que os preceitos refletem, em seu imo, papéis históricos e culturalmente construído
que, exclui, marginaliza e silencia àqueles que se contrapõem ao padrão heteronormativo.
Fato é, as particularidades fundamentadas no sexo biológico são marcadores desde a
infância, em que se dedicam a instituir e fortalecer estereótipos, através de brincadeiras,
cores, vestimentas, ações reprováveis e aceitáveis, à luz do mecanismo de opressão patriarcal,
machista e misógino.
A luta emancipatória dos movimentos sociais das minorias e diversidade sexual,
almejam, além de voz, isonomia, representatividade, reconhecimento e segurança, premissas
substanciais em uma democracia. Assim, a pluralidade sexual se manifesta como assunto
essencial no âmbito jurídico e social.
Porquanto, os reflexos e representações dos padrões de comportamentos
heteronormativos, sustentados no órgão sexual, influenciam cotidianamente na
(sobre)vivência da população LGBTQI+ que, além de buscarem afirmação social em um
complexo insidioso e patriarcal, subsistem às violências institucionais, crimes de ódio,
abandono familiar; competindo as múltiplas ramificações do ordenamento jurídico vigente
resguardar e proteger as garantias fundamentais, sobretudo o direito do indivíduo ser quem
quiser/é, sem interferência de natureza moral, religioso ou pessoal.
Por intermédio do método dedutivo, discorrer-se-á sobre a indispensabilidade de
salvaguardar os direitos da personalidade da população LGBTQI+, garantindo o direito ao

8
Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Advogado. E-mail:
jricardosantos@outlook.com.
9
Advogada. Graduada em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO) –
SP. E-mail: carolinadavanso.ad@gmail.com.
44
esquecimento, a defesa da privacidade, identidade pessoal, e, mormente, o direito à saúde e as
modificações corporais, integralmente embasado na dignidade da pessoa e o livre
desenvolvimento da personalidade.
Não obstante, estruturando a construção que se cobiça alcançar, evidencia-se que a
concepção de estereótipos são firmados e ratificados até mesmo no sistema de justiça,
manifestando o silenciamento e invisibilidade de uma população historicamente
marginalizada e segregada no seio social. Para tanto, utilizou-se obras próprias e correlatas a
temática, com a finalidade de amparar a imprescindibilidade do debate acadêmico e jurídico
acerca das proteções dos direitos e prerrogativas da população LGBTQI+ no âmbito dos
direitos da personalidade, primeiro substrato do reconhecimento dessa minoria.

2. RESSIGNIFICANDO O CORPO À LUZ DOS DIREITOS DA


PERSONALIDADE
Notadamente as controvérsias e debates por liberdade, segurança, direitos igualitários
e representativos dos movimentos sociais de minorias, sobretudo quanto à diversidade sexual,
ambicionam, além do lugar de fala, reconhecimento e igualdade, premissas basilares em uma
democracia.
A elaboração e consequente implementação de políticas públicas direcionada as
transexuais permanecem vinculadas a estrutura patriarcal e machista de retrocessos às
questões de gênero e, ainda que eventualmente aparente progressos, a discriminação e
opressão são marcadores sociais da população LGBTQI+. Em outras palavras,
inquestionavelmente, têm-se a necessidade de considerar o cenário de vulnerabilidade que as
transexuais são inseridas, sem excluí-las e marginalizá-las, competindo ao direito servir como
aliado na luta e não propulsor de estigmatizações e discriminações.
Inobstante, os direitos da personalidade decorrem substancialmente do Estado
Democrático de Direito (FACHIN, 2014, p. 39), instituído pela Constituição Federal de 1988,
objetivando garantir o respeito aos direitos fundamentais, por intermédio de proteção jurídica.
Logo, a proteção às prerrogativas e liberdades das transexuais perpassam as múltiplas faces
do direito da personalidade, ​verbi gratia, ​a defesa da privacidade, identidade pessoal, direito
ao esquecimento, e, especialmente, o direito à saúde e as modificações corporais,
integralmente alicerçados na dignidade da pessoa e no livre desenvolvimento da
personalidade (MOREIRA; ALVES, 2015, p. 82).
Concerne, ao âmbito dos direitos da personalidade, impedir que os indivíduos, ao
exercerem o livre arbítrio sobre seu próprio corpo, sejam sujeitados a interferências ou
45
manifestações do Estado e da sociedade, pois, a incapacidade estatal, resultam na ausência de
apartados suficientes e eficazes, que auxiliem os LGBTQI+ na busca de reconhecimento da
diversidade sexual e de gênero.
Para Luiz Edson Fachin, o direito ao corpo constitui a esfera da personalidade, ao
passo que exterioriza a essência humana, refletindo suas características e atributos (FACHIN,
2014, p. 38-39). Então, a personalidade humana não são particularidades predefinidas, mas
algo que se constrói, se autodetermina singularmente em cada indivíduo (MOREIRA;
ALVES, 2015, p. 84).
A busca por silenciamento das minorias, especialmente sexuais, nas relações sociais,
através da estrutura patriarcal e opressora, perpassa o reconhecimento da identidade de
gênero e observância das necessidades, a fim de legitimar os direitos e prerrogativas no
âmbito da personalidade.
Para tanto, compete aos direitos da personalidade, articular os interesses pessoais do
indivíduo com os da família e da comunidade, sobretudo aqueles que incidem na estrutura
social (BITTAR, 2015, p. 129), respeitando as especificidades e vivências dos sujeitos.
Inquestionavelmente, a intervenção estatal não pode, de qualquer maneira, se sobrepor aos
desígnios individuais, com a finalidade de satisfazer interesses coletivos, sociais e morais.
Porquanto, a responsabilidade consiste em garantir e proporcionar possibilidades
concretas para, se assim desejar, se submeta a intervenções de forma segura, resguardando os
direitos fundamentais e, especialmente, assegurar que as transexuais não se submetam a
tratamentos para modificações corporais sem auxílio ou acompanhamento clínico adequado.
Conduzindo a construção que se cobiça alcançar, se faz substancial trazer à baila que
não compete ao Estado ou a sociedade interferir na possibilidade de alteração do nome
constante nos documentos oficiais ou ainda, na realização de cirurgia de redesignação, mas
proporcionar que sejam realizadas de forma segura, com profissionais capacitados e sem
qualquer violência institucional.
Sabe-se que a heteronormatividade compulsória imbricam as narrativas e corpos,
condicionando as relações sociais, contudo, não se pode olvidar que tais circunstâncias
corroboram com o apagamento de uma população cotidianamente invisibilizada.
O panorama de exclusão e opressão se evidenciam na existência das transexuais desde
o instante em que se contrapõem ao padrão social e culturalmente intrínseco na sociedade, o
patriarcado ambiciona deslegitimar falas e ocultar a voz dessa minoria, com amparo estatal,
religioso e moral.

46
No âmbito dos direitos da personalidade, a proteção jurídica destinadas ao corpo
devem objetivar o direito à autodeterminação e autonomia para realização de modificações
corporais, sendo inconcebível a restrição arbitrária e ilegítima da liberdade do indivíduo de
decidir sobre o próprio corpo (FACHIN, 2014, p. 43). De fato, não compete ao ordenamento
jurídico vigente proporcionar obstáculos para realização de cirurgias de adequação ou
mudança de sexo (BITTAR, 2015, p. 136).
Indubitavelmente, paralelamente à proteção legal sobre o corpo, têm-se a autonomia
privada dos indivíduos, devendo ser respeitado e assegurado o direito a modificações
corporais, sobretudo, nos casos de modificações ou redesignações de sexo. Não obstante, a
dignidade da pessoa humana, um dos pilares do Estado Democrático e Social de Direito,
garante que todas as pessoas possuam a liberdade de controlar e modificar livremente sua
personalidade, mormente, a física.
Os reflexos da dicotomia feminina e masculina, determinada pelo órgão sexual,
influencia reiteradamente na vivência da população LGBTQI+ que, além de subsistirem a
violências e abusos físicos, diante da ausência de amparo, por vezes, submetem-se a
procedimentos de riscos, como a ingestão de hormônios sem acompanhamento médico, a fim
de atingir a modificação do corpo, sem a devida assistência estatal.
Lado outro, a existência e realidade da população LGBTQI+ luta, cotidianamente,
contra as barreiras para o reconhecimento e aceitação, seja no âmbito familiar, social e
judiciário. Berenice Bento, ao abordar os obstáculos suportados por essa minoria, esclarece
que além do abandono em todos as esferas e a supressão dos direitos de vivência, ao passo
que são submetidos a necessidade de se tornarem (in)visíveis, enfrentam ainda a não
identificação com os próprios corpos (BENTO, 2008, p. 13).
A ausência de amparo social e familiar obsta que as transexuais se submetam a
processos de adequação de sexo de maneira segura e respeitosa com o próprio corpo. Não
obstante, a violência institucional e despreparo, dos órgãos públicos e privados de saúde,
corrobora com o afastamento dessa minoria do exercício pleno do direito à saúde.
Cediço que os direitos da personalidade devem representar, fundamentalmente, o
reconhecimento dos bens jurídicos consagrados no Estado Democrático e Social de Direito,
na prerrogativa plena e incondicional de exercer sua vontade, privacidade, saúde e
integridade, oportunizando a realização de cirurgias de redesignação de sexo (MOREIRA;
ALVES, 2015, p. 82). Notadamente se mostra indispensável o reconhecimento dos direitos da
personalidade, respeitando, auxiliando e amparando essa minoria sexual (LISBOA; SOUZA,
2016, p. 106), diante da estrutura hierárquica e ideológica que condiciona as relações sociais.
47
A propósito, nas múltiplas vertentes dos direitos da personalidade, se faz primordial o
direito de esquecer seu passado e recomeçar, compreendendo a alteração do nome e sexo no
registro civil, ainda nas hipóteses de não realização de cirurgia (MOREIRA; ALVES, 2015,
p. 83).
As representações de relacionamentos e vivências são heterossexuais, instituídos na
estrutura social patriarcal, que oprime e silencia minorias, especialmente sexuais. Assim, as
relações são determinadas no nascimento, a partir do sexo biológico, estabelecendo condutas
e comportamentos aceitáveis e reprováveis perante a sociedade, ao passo que as vivências e
experiências LGBTQI+ são silenciadas e “trancadas no armário”, tornando-se estatísticas
suprimidas no recorte social e institucional.
Os direitos da personalidade, em suas distintas proteções, garantem o direito à
privacidade, identidade, esquecimento e, especialmente, o direito à saúde e modificações.
Todavia, não se pode olvidar que o preconceito e discriminação obsta o reconhecimento e
amparo de uma população que constantemente é abandona. Além do mais, proporcionar e
resguardar direitos das transexuais devem ser acompanhadas de políticas públicas efetivas,
representativas, agentes estatais capacitados e, essencialmente que não pratiquem violências
institucionais, contra uma minoria já marginalizada e excluída.

3. O SEXO QUE ESTIGMATIZA: A (IN)VISIBILIDADE A PARTIR DA


DIVERSIDADE SEXUAL
Os papéis sociais são histórico e culturalmente construídos, estabelecendo padrões de
comportamentos considerados normais e legítimos, a partir do sexo biológico, resultando na
imposição de condutas alicerçados na dicotomia feminina e masculina, sob o prisma
patriarcal.
As distinções comportamentais são marcadores desde a infância, em que dedicam a
corroborar com estereótipos heteronormativos. A saber, Berenice Bento reconhece que o
mundo infantil se constrói a partir de proibições e afirmações com o objetivo de prepará-los
para heterossexualidade (BENTO, 2008, p. 39). Portanto, crianças são ensinadas e preparadas
para um convívio social em que o sexo biológico é fundamental para determinar, inclusive, o
espaço a ser ocupado no ambiente público/privado.
Não obstante, aqueles que possuem comportamentos segundo o gênero que se
identificam e se contrapõem ao padrão tradicional imposto, são discriminados e excluídos,
frequentemente, dentro do próprio ambiente familiar e no seio da sociedade. Porquanto, para
Márcia Tiburi os ideais patriarcais legitimam a existência dos sexos biológicos e, a partir
48
disso, os comportamentos são programados para desenvolver condutas específicas (TIBURI,
2018, p. 63-64).
O patriarcado é um dos pilares do corpo social, sendo uma estrutura hierárquica e
ideológica que condiciona as relações sociais. Assim, o desenvolvimento é fragmentado e
construído através do binarismo. Ao homem, as liberdades e prerrogativas que atravessam
uma infância sendo ensinados da necessidade de comportamentos masculinizados, viris,
naturalmente dominante. Criados e educados para vida sexual livre e instintivos, a dominação
sobre o corpo, comportamento das esposas e filhas. Às mulheres, por sua vez, limitadas pela
forma de sentar, falar e se comportar, criadas e ensinadas para vida familiar e fraterna.
Salo de Carvalho relata que a heteronormatividade se mantem como preceito
hegemônico, que regula e estipula os privilégios, promovendo a desigualdade e legitimando
as violências e opressões (CARVALHO; DUARTE, 2017, p. 202). Portanto, estabelece de
maneira especifica como os indivíduos devem ser, viver e exercer sua sexualidade, a partir do
sexo biológico e, aqueles que não correspondem à supremacia, serão submetidos a produção
e reprodução de ações discriminatórias (AGUINSKY; et al., 2013, p. 49).
Fato é, o patriarcado é uma estrutura que alicerça as relações sociais e, sustentação
primordial para conservação e manutenção do capitalismo, funcionando como mecanismo de
opressão e exploração das minorias. Então, se faz indispensável compreender que vínculo
entre gênero e os sistemas de opressões, incide tanto no processo de criminalização quanto no
sistema de dominação.
A naturalização de comportamentos padrões a partir da heteronormatividade, é
estipulado, automaticamente, instrumentos de saber e poder, em que a diversidade será
ostentada como desvio ou anomalia. Inobstante, ao definir condutas ou modo de ser
desviante, o controle social formal é instrumentalizado nos processos de criminalização, a
partir do direito penal, e de patologização, alicerçado na psiquiatria (CARVALHO;
DUARTE, 2017, p. 204-205). Nota-se que a homossexualidade é apontada como desejo
reprimido, uma prática rejeitada, considerada invisível, anormal e silenciada por um corpo
social que estabelece a heterossexualidade como padrão aceitável e único (SCOTT, 1998, p.
302).
Assim, segundo os sistemas de opressões, gênero e sexualidade são controlados e
vigiados através de instrumentos estatais, verificando-se no controle para o desenvolvimento
heteronormativo com a submissão, domesticação e normalização da sexualidade, à medida
que ensina e limita os comportamentos numa ordem social, e, as formas de repressão aos que
destoam do padrão socialmente imposto (AGUINSKY; et al., 2013, p. 49). Submete-se
49
aqueles que caminham na contramão dos padrões heteronormativos impostos, num constante
estado de silenciamento, opressão, segregação e exclusão, tanto no âmbito público quanto no
privado.
O olhar da sociedade patriarcal é de controle e poder, impondo comportamentos
heteronormativos e, principalmente, a supremacia e dominação masculina. É a partir deste
ponto que nasce uma complexidade que requer um pouco mais de atenção e uma abordagem
mais precisa, pois as constantes violências perpetradas contra a população LGBTQI+ marcam
a diversidade sexual e de gênero no país, as quais percorrem o abandono familiar, a
discriminação, a opressão imposta pela sociedade, a (in)visibilidade governamental e,
sobretudo, o sistema de justiça.
De fato, evidencia-se que os discursos e manifestações que permeiam a discriminação
e silenciamento da diversidade sexual, sobretudo a exclusão e opressão dos transexuais e
travestis, são construídos e alicerçados na estrutural social do patriarcado, que elenca e
determina condutas e comportamentos específicos, a partir da dicotomia feminina e
masculina.

4. CONCLUSÃO
Notadamente, a vivência social da população LGBTQI+ se manifesta por intermédio
da (in)visibilidade a que são cotidianamente submetidos, do silenciamento, na ausência de
representatividade nos diversos setores, das constantes violências, crimes de ódio e inércia
estatal em repensar estratégias efetivas que compreendam essa minoria.
Em suma, depreende-se, uma sociedade estruturalmente patriarcal, machista e sexista,
que estabelece condutas e comportamentos padrões, alicerçados no sexo biológico, que
marginalizam e segregam a parcela da população que não corresponde ao estereotipo
determinado. Assim, fazer parte dessa minoria é padecer em um cenário de invisibilidade e
necessidade de se reafirmarem diariamente.
Em que pese o patriarcado como base da estrutura social da própria organização
social, condiciona as relações sociais, evidenciando e determinando vivências
heteronormativas, à medida que exclui e discrimina minorias, especialmente com relação à
diversidade de sexual e de gênero, tornando-se estatísticas suprimidas no âmbito social e
institucional.
O preconceito e discriminação está enraizado e difundido desde brincadeiras e piadas,
até nas constantes práticas de violência institucionais de profissionais que deveriam ser

50
capacitados, legitimando, inclusive, por àqueles que deveriam resguardar prerrogativas e
liberdades de serem quem quiserem ser.
Assim, incumbe aos diversos âmbitos do ordenamento jurídico garantir direitos
constitucionais à população LGBTQI+, se fazendo indispensável a presença dos direitos da
personalidade em preservar, dentro outras liberdades, o direito a realizarem modificações
corporais de maneira segura e efetiva e, também, de resguardar os mesmos direitos aos que
não desejam o procedimento.
Lado outro, não se pode admitir que através de mecanismos estatais perpetuam
situações discriminatórias e opressoras contra uma população historicamente vulnerável e
excluída, por incapacidade de (re)pensarem estratégias e medidas de reparação das violências
praticadas contra a população LGBTQI+.

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sistema e a política de segurança no Rio Grande do Sul. ​Textos & Contextos (Porto Alegre),
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CONPEDI, P. 102-117. 2016.

MOREIRA, Rodrigo Pereira; ALVES, Rubens Valtecides. Direito ao esquecimento e o livre


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51
TIBURI, Marcia. ​Feminismo em comum​: para todas, todes e todos. 4ª ed. – Rio de Janeiro:
Rosas dos Tempos, 2018.

52
SAÚDE MENTAL DA MULHER LÉSBICA: A 
LESBOFOBIA COMO ASPECTO DE VIOLÊNCIA 
PSICOLÓGICA NO BRASIL
Valéria Carolina Armas Villegas​10
Kleire Anny Pires de Souza​11

1. INTRODUÇÃO
Esse artigo visa investigar e questionar como a lesbofobia é uma violência que se
articula através da história, construindo-se como uma doença social que interfere na saúde
mental da mulher lésbica. Utilizando em conjunto a medicina e a história e a construção de
laços de mulheres lésbicas, para produzir e aumentar a visibilidade e a produção da crítica a
esta fobia, alicerçada na sociedade que reproduz em todas as mulheres lésbicas a violência
não somente simbólica quanto física presente na lesbofobia. Dessa forma, o intuito deste
trabalho é tenta diminuir o vazio na produção de artigos dentro da temática de saúde mental
da mulher lésbica e colaborar para um aumento da produção, e problematização da temática
relevante socialmente, na qual tem impacto direto nos direitos básicos de cidadão das
mulheres lésbicas e em sua saúde mental.
Esse texto se insere no campo das reflexões do saberes políticos envolvendo a psique,
buscando analisar de maneira interdisciplinar a correlação da lesbofobia como uma forma de
violência psíquica gerada pelo social. Uma vez que ela se constituí primeiramente na esfera
do simbólico, na concepção de Pierre Bourdieu como uma violência simbólica, “violência
suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias
puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, ... do
reconhecimento ou, em última instância, do sentimento” (BOURDIEU, 2003, p. 7-8) que em
seu entendimento se trata de todas as estruturas da sociedade são formadas e condicionadas a
negar a vivência lésbica, a existência de mulheres que amam outras mulheres. Uma vez que o
determinante padrão comum da sociedade ocidental, seja a heterossexualidade, que no

10
Graduanda em Medicina pela Faculdades Pequeno Príncipe (FPP), Paraná – Curitiba,
valeria.armas.villegas@hotmail.com.
11
Graduanda em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), bolsista do Programa de
educação tutorial (PET) e estagiária Cátedra Unesco- UFGD, Mato Grosso do Sul – Dourados,
kleire@icloud.com.
53
entendimento de Adrienne Rich (2012) é compulsória, pois, toda mulher ao nascer é
concebida como heterossexual, tem sua vida planejada nos moldes impostos de gênero, que
delimitam seus afetos aos homens.
Para percorrer o desenvolvimento deste artigo buscamos analisar a produção de
artigos dentro da temática, porém o que foi mostrado é a ausência também violenta, visto que
as mulheres lésbicas se encontram como não sujeitos para a medicina que é pautada nos
saberes patriarcais onde o foco sempre é o masculino branco.
A retratação da mulher e a saúde mental, é historicamente violento, a concepção da
saúde mental da mulher é muito atrelada a processos de histeria, loucura, desequilíbrios e
vulnerabilidades. A pelo menos 25 séculos de história Del Priori (1999), a histeria
relacionada ao feminino é reconhecida pela medicina, desde a idade média onde mulheres
foram realocadas de loucas para bruxas (Tosi, 1985; Pessotti, 1994). A palavra histeria que
deriva do grego tem seu significado primal como útero, utilizando assim sua condição
imposta de gênero e revolta para categoriza-la enquanto doente mentalmente. A condição
mental da mulher muito foi atrelada ao seu sexo durante muitos anos, não permitindo assim
analises reais da sua condição vulnerável imposta pela violência criando doenças para
descaracteriza-las enquanto sujeitos “corretos” para a sociedade.
A própria condição de loucura já retira um indivíduo da sociedade, colando-o como
um não ser e até mesmo uma cobaia para processos de violência. Esse estigma imposto a
mulher em situação de fragilidade, debilidade emocional condicionou estereótipos que
ocasionalmente desclassificou a análise científica, afinal, mulheres são mais vulneráveis no
ponto de vista social. Tanto, que essa análise começou a chamar atenção de pesquisadoras,
para a condição de não estudo da mentalidade feminina, como uma fator gerado por doenças
relacionadas a sua condição imposta de gênero. Betty Friedman em seu livro que ficou muito
famoso, se tornando um dos marcos do movimento feministas americanos; A mística
feminina (2020), tentou abordar a condição de violência psicológica imposta à mulher, uma
violência simbólica que se materializa atrelada a sua condição de mulher.
Pensando essa construção histórica de violência psicológica contra a saúde mental
feminina, este artigo se propõe a ir além, pensando a condição da mulher lésbicas, que
carrega uma dupla vulnerabilidade. Borrillo (2015) pontua que a lesbofobia é diferente da
homofobia, pois, a lesbofobia vem acompanhada da violência sexista. A manifestação assim
da loucura em mulheres lésbicas é um processo ainda mais violento, visto que essas mulheres
ultrapassam sua condição imposta socialmente de “loucas” partindo para uma esfera de
insanidade ainda maior pensando sua sexualidade. Segundo Gerda Lener, os homens ocupam
54
a maioria das instituições e locais de poder, isso muito se relaciona ao déficit da saúde mental
da mulher lésbica, que uma vez que não está aberta sexualmente aos homens, ela deixa de
existir aos seus olhos, passando despercebidas pela sua ciência. Em dados, divulgados pelo
conselho federal de medicina é estipulado que os homens são maioria na questão médica
geral, e na área da psiquiatria os homens também se sobressaem sobre as mulheres.

IMAGEM 1

IMAGEM 2

55
Os dados apresentados servem como uma base para encarar o porquê a exclusão da
mulher lésbica da visão médica. Compõe a lógica patriarcal, como um projeto de violência.
Se não há memória não a história, essa lógica de política de esquecimento se faz muito
presente na questão da mulher lésbica. É a construção de um projeto de esquecimento
construído a partir da punição a sexualidade. Como forma de punição a uma sexualidade que
rejeita os donos do poder.
A lesbofobia pode ser considerada uma doença social como concebemos neste
estudo, pois, ela é resultado de um longo e duro processo de violência construído para
mulheres lésbicas se odiarem, a fazê-las reconsiderar suas escolhas sexuais até mesmo de
maneira inconsciente como método de punição por sua sexualidade. A doença do social, ela é
construída, ela não é uma doença criada pela biologia, e sim pelo social. É uma forma de
controle sobre mulheres lésbicas, construindo a ideia de auto ódio, construindo a ideia da

56
sexualidade errada para construir um imaginário de violência psíquica causada pelo social.
Segundo os autores Facchini e Barbosa (2006), no Dossiê Saúde de Mulheres Lésbicas
Promoção da Equidade e da Integralidade:

A escassa, ou quase inexistente, produção científica abordando a temática saúde e


homossexualidade feminina no Brasil; a inexistência de políticas de saúde
consistentes para o enfrentamento das dificuldades e necessidades desta
população; o precário conhecimento sobre suas demandas e a ausência de
tecnologias de cuidado à saúde adequadas, aliados à persistência de pré-noções e
preconceitos, convertem-se, no âmbito da saúde pública, por exemplo, no
desperdício de recursos, no constrangimento produzido no atrito das relações no
interior dos serviços de saúde, na assistência inadequada, e muito provavelmente
num contingente de mulheres que não obtiveram seu diagnóstico, nem seu
tratamento (Facchini & Barbosa, 2006:29).

A sociedade ocidental forjada no patriarcalismo criou um lesbo-ódio para forçar


mulheres a se ajustarem, pois, caso não se ajustem elas passam a se tornam não seres para
essa sociedade, perdendo qualquer direito à liberdade, integridade física, ou os direitos básico
constitucionais brasileiros de 1988.

2. MÉTODO E RESULTADOS
Nesse contexto, foi realizada revisão de literatura com o objetivo de reconhecer o
que é descrito na literatura científica sobre saúde mental da mulher lésbica no Brasil. A
principal base de dados utilizada foi a BVS, na qual foram aplicados os descritores “lésbica”
e “saúde mental” conectados pelo boleano AND. Nessa busca, realizada em agosto de 2020,
foram encontrados 11 artigos em português, de um total de 932, sendo 4 relacionados com
saúde ou transtornos mentais. Devido à literatura escassa, complementou-se a pesquisa com
artigos do Google Scholar e outros materiais científicos nas áreas de saúde e história. Foram
analisados, portanto, um total de 7 artigos, principalmente de psicologia e enfermagem.
A partir da literatura encontrada, é possível atribuir os seguintes tópicos à saúde da
mulher lésbica: vícios como o consumo excessivo de álcool e tabagismo; transtornos mentais
como depressão, ansiedade e ideação suicida; luto complicado; estresse de minorias; rejeição
familiar; ocultação de orientação sexual; e exclusão social ​(quadro 1)​. Tais achados vão ao
encontro a algumas das problemáticas apresentadas no Dossiê de Saúde das Mulheres
Lésbicas (2006).

57
Quadro 1​ - Artigos selecionados
Tipo do Autores,
Título Principais achados
estudo Revista e ano
Violência familiar contra Estudo BRAGA, IA et al. A violência sofrida no contexto familiar afeta
adolescentes e jovens qualitativo Revista diretamente a saúde mental e qualidade de
gays e lésbicas: um Brasileira de vida dos jovens, contribuindo com isolamento
estudo qualitativo Enfermagem​, social, depressão, ideação suicida e tentativa
2018. de suicídio, baixo autoestima, aumento da
homofobia internalizada. Em contexto de
preconceito e discriminação, pode haver
reforço da heterossexualidade compulsória.

A sintomatologia Estudo MELO, DS; Pesquisa em 2 hospitais com 76 participantes,


depressiva entre lésbicas, quantitativo SILVA, BL; aplicou o Inventário de Depressão de Beck –
gays, bissexuais e MELLO, R. II. 59% dos entrevistados relacionaram a
transexuais (LGBT): um Revista tristeza com questões familiares pelo medo de
olhar para a saúde Enfermagem represálias ao expressarem sua sexualidade –
mental. UERJ, 2019. isto resulta em dissimulação de sua
identidade. Conclui-se que a população LGBT
apresenta vulnerabilidades relativas à saúde
mental.

Lesbianidade e Revisão GONÇALVES, J; Literatura peca ao agrupar mulheres lésbicas e


Psicologia na sistemática de CARVALHO, homens gays, propiciando generalizações. É
Contemporaneidade: ARRF. dito que lésbicas são particularmente
Uma Revisão GÊNERO​, 2019. vulneráveis a sofrer discriminações no
Sistemática cuidado à saúde devido ao machismo e
invisibilidade. Todos os 14 artigos analisados
citam termos como “homofobia”,
“preconceito”, “discriminação”, ressaltando
que existência lésbica sofre violência direta e
indireta.
Indicadores de bem-estar Estudo PAVELTCHUK, Das 736 mulheres participantes, 143 eram
subjetivo e saúde mental quantitativo F DE O; BORSA, lésbicas. Maiores renda, escolaridade,
em mulheres de JC; DAMÁSIO, importância dada à religião e idade foram
diferentes orientações BF​. Psico,​ 2019. diretamente relacionadas a maiores níveis de
sexuais felicidade subjetiva e satisfação de vida e
inversamente relacionadas com depressão,
ansiedade e estresse. Análises do estudo
sugerem que mulheres lésbicas e bissexuais

58
apresentam menores níveis de bem-estar e
maiores níveis de psicopatologias que
mulheres heterossexuais.
Os cuidados do Revisão FARIAS GM, Lésbicas com suporte familiar possuem
enfermeiro às lésbicas integrativa LIMA VLA, menos risco de suicídio que as que não
SILVA AF da et possuem. Os serviços de saúde ainda reforçam
al​. Revista de a heteronormatividade, dirigindo-se a todas as
Enfermagem mulheres como heterossexuais. O importante
UFPE (online)​, papel do enfermeiro no cuidado requer que ele
2018. seja capacitado para combater o preconceito
no atendimento e violência institucional.
Homofobia Estudo PAVELTCHUK, Dos 715 participantes do estudo, 208 eram
internalizada, quantitativo FO; BORSA, JC. mulheres lésbicas. Foi encontrada correção
conectividade Avances en negativa entre conectividade comunitária e
comunitária e saúde Psicología homofobia internalizada. Houve também
mental em uma amostra Latinoamericana baixa, mas significativa relação entre
de indivíduos LGB , 2019. homofobia internalizada e desfechos
brasileiros. negativos de saúde mental.
O Luto Velado: A Estudo ARIMA, AC; O vínculo de afeto existente entre o casal e o
Experiência de Viúvas qualitativo FREITAS, JL. reconhecimento social deste enquanto casal
Lésbicas em uma Temas em legítimo são os aspectos mais relevantes no
Perspectiva Psicologia,​ 2017. que tange ao luto e viuvez de casais de
Fenomenológico-Existen mulheres. O enfrentamento social está
cial associado a maior sofrimento de viúvas
lésbicas em seu luto. Nesse sentido, é
importante considerar o impacto que a
visibilidade da relação lésbica produz no
enfrentamento do luto e sua dor.

Fonte: autores, 2020.

3. DISCUSSÃO
Com base nos estudos é possível relacionar a vivência lésbica com desfechos negativos
de saúde mental como depressão, ideação suicida, ansiedade e alcoolismo. O modelo mais
utilizado para explicar tal correlação é o estresse de minorias proposto por Meyer (2003),
caracterizado por experiências de preconceito e violência sofridas, expectativas de rejeição,
homofobia internalizada e encobrimento da identidade sexual. Importante salientar que as
influências externas podem ser similares, mas impactarão a pessoa de forma diferente, a
depender de fatores como etnia e classe social. Em estudo sobre indicadores de bem-estar e

59
saúde mental de mulheres, foi observado que maiores rendas, escolaridade, religiosidade e
idade estavam diretamente ligados a maiores níveis de felicidade subjetiva e satisfação com a
vida; sendo menores seus índices de depressão, estresse e ansiedade (​PAVELTCHUK;
BORSA; DAMÁSIO, 2019)​.
A família é também um importante componente no bem-estar emocional, especialmente
no caso das mulheres lésbicas, cuja conectividade intrafamiliar pode ser mais significativa
que a externa, na comunidade LGBT ou outra (Paveltchuk e Borsa, 2019). Estudo de Braga et
al. (2018) reforça que a família como estrutura de poder, tem a capacidade de exercer
controle sobre o indivíduo, reforçando a heterossexualidade compulsória, numa tentativa de
adequação aos padrões sociais e, inclusive, papéis sexuais. A violência intrafamiliar gerada
neste cenário torna-se o primeiro espaço em que a jovem terá contato com a lesbofobia, e,
portanto, com a repressão e controle de seu corpo e sexualidade. Os efeitos psicossociais
derivados dessas experiências podem resultar nos transtornos citados anteriormente, assim
como na não aceitação pessoal. Sendo assim, é essencial o papel da família como uma rede
de apoio, acolhimento e segurança – fator protetivo à saúde mental da mulher lésbica
(BRAGA et al. 2018; FARIAS; LIMA; SILVA, 2018).
Os serviços de saúde podem também atuar como reforçadores da lesbofobia. É apontado
que grande parte das ações em saúde são voltadas para mulheres heterossexuais, o que
fortalece a soberania da heteronormatividade na assistência, e vai de encontro à Política
Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Para
cumprir o objetivo desta, que vida proporcionar um atendimento mais integral e humanizado,
faz-se necessária a capacitação dos profissionais da saúde em temas como escuta ativa e
diversidade sexual. Previne-se assim que espaço destinado ao cuidado se torne adoecedor
(FARIAS; LIMA; SILVA, 2018).
Termo que permeia toda a discussão é a invisibilização das mulheres lésbicas. Um dos
poucos estudos que abordou especificamente esta população demonstrou que a invalidação
social de relacionamentos entre mulheres pode ser fator complicador do luto (Arima e Freitas,
2017). Fora do cenário de fim de vida, essa invalidação se mostra no reduzido número de
artigos encontrados sobre a temática e na dificuldade de encontrar textos que realizem recorte
específico de mulheres lésbicas, o que inclusive resulta em fator limitador deste estudo. Em
consonância com Gonçalves e Carvalho (2019), percebeu-se que termos guarda-chuva com
“homofobia”, “preconceito” e “discriminação” resultam em generalização da população
LGBT e por consequência apagamento das especificidades das mulheres lésbicas.

60
4. CONCLUSÃO
Percebemos através dessa análise, que a construção da lesbofobia é de caráter social e
cria os meios e os aparatos para adoecer psicologicamente mulheres lésbicas. As instituições
dominantes, ressonantes com as ideias do patriarcado, só colaboram para a opressão e
construção da crise mental que está em voga com o projeto da heterossexualidade
compulsória. As mulheres lésbicas estão adoecendo e temos que construir ferramentas para
contornar essa situação que cada vez mais se alastra, seja na ausência de acesso a meios de
saúde, seja ela de ordem mental ou não, e também a exclusão dos textos médicos e a ausência
social das discussões sobre o luto, homofobia familiar, misoginia.
A falta de literatura na área evidencia que o tema é ainda pouco abordado na área da
saúde e mais especificamente no que tange à saúde mental. Artigos sobre a população LGBT
são importantes, mas deveriam implementar os recortes de cada uma das letras, numa
tentativa de combater a invisibilização da mulher lésbica. A falta de pesquisas também torna
difícil a capacitação de profissionais do cuidado, assim recomenda-se a maior inserção da
mulher lésbica no estudo da saúde da mulher e não apenas em materiais isolados ou que
abordem a sigla como entidade uníssona.
Diante disso, este trabalho busca evidenciar a ausência das mulheres lésbicas como
protagonistas de estudos, resultando em problemas de ordens sociais, que persistem graças ao
não reconhecimento da falta de cuidados como uma realidade e um problema de saúde
pública. O abandono da mulher lésbica perante a sociedade é violento, e colabora com o
agravamento e sofrimento de sua condição perante a realidade material e imaterial que vive,
causando um sofrimento que pode ser evitado através da discussão e do combate à lesbofobia
enquanto uma doença social que atinge majoritariamente as mulheres lésbicas.

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61
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62
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS 
TRANSEXUAIS: EM BUSCA DO 
RECONHECIMENTO DESTE DIREITO NO STF  
Vanessa de Castro Rosa​12

1. INTRODUÇÃO
O assunto – uso de banheiro público por pessoas transexuais – não é novo, mas ainda
está longe de uma resolução no contexto brasileiro. Embora o tema encontre grande
resistência no Poder Legislativo, o Judiciário, salvo tristes exceções, tem se mostrado como o
Poder competente e apto a solucionar a questão diante da eloquente omissão legislativa.
Embora a Constituição da República de 1988 estabeleça como objetivo fundamental
da República Federativa do Brasil o dever de promover o bem de todos, sem preconceitos de
sexo, nem quaisquer outras discriminações, as pessoas transexuais ainda enfrentam um
quadro cotidiano de violências e abusos, tanto que o Brasil é o quarto país onde mais se mata
pessoas transexuais, perdendo apenas para Honduras, Guiana e El Salvador, conforme dados
da ONG “Transgender Europe” (CUNHA, 2017).
Mas a violência não é apenas física, é um quadro sistêmico que engloba as mais
diversas formas de dor, exclusão e sofrimento, que vão das agressões físicas- como os
homicídios, torturas e lesões – até as violências e agressões psicológicas e existenciais, como
o não reconhecimento, a não aceitação e a exclusão social.
O não reconhecimento e o não respeito à pessoa transexual configura negação da
dignidade humana enquanto condição para vida social e como princípio jurídico, gerando
conflitos sociais, ou seja, transcendem a esfera individual e se mostra como um problema de
dimensão coletiva, como bem pontua o filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth.
A negação de acesso ao banheiro público não é uma questão de somenos, pois além de
gerar problemas de saúde às pessoas que evitam ir ao banheiro público para evitar conflitos e
por medo de serem agredidas e acabam, com isso, adquirindo problemas renais e intestinais, é

12
Professora efetiva na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG-Frutal). Doutora em Direito Político e
Econômico (Mackenzie). Mestra em Direitos Humanos. Bacharela em Direito (UNESP). Minas Gerais, Frutal,
vanessa.rosa@uemg.br.
63
também uma violação de Direitos Humanos e fundamentais que coloca em risco o regime
democrático.
O presente trabalho, por intermédio do método indutivo busca analisar os julgados
existentes sobre o tema, na jurisprudência nacional, especialmente na base de dados do
Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ), a fim de identificar os
fundamentos jurídicos e políticos que têm embasado as decisões judiciais, especialmente a
decisão do STF, a fim de delinear possíveis fundamentos e suas repercussões sociais e
políticas.

2. DIREITO AO BANHEIRO NA JURISPRUDÊNCIA NACIONAL


O reconhecimento jurídico do direito ao uso de banheiro público por pessoas
transexuais está sob julgamento no STF, no Recurso Extraordinário 845.779-SC, o qual teve
Repercussão Geral reconhecida, em 2014, sob o número 778, tornando-se paradigma para
análise do tratamento social das pessoas transexuais em conformidade com sua identidade de
gênero. Vale registar a literalidade do enunciado:

778 - Possibilidade de uma pessoa, considerados os direitos da personalidade e a


dignidade da pessoa humana, ser tratada socialmente como se pertencesse a sexo
diverso do qual se identifica e se apresenta publicamente (BRASIL, 2015b).

O referido caso, em breves linhas, preservando-se a identidade da parte processual,


decorre da negação de acesso de uma mulher transexual ao banheiro público feminino
localizado em um shopping center em Santa Catarina. Esta conduta, além de negar o
reconhecimento da identidade social da pessoa transexual, acarretou a humilhação e o
vexame diante da situação de defecar nas próprias vestes pelo estresse ocasionado.
O processo em primeira instância reconheceu o dano moral decorrente da situação
humilhante e vexatória que foi imposta à autora e fixou a indenização em R$15.000,00,
contudo, em sede recursal a decisão foi reformada já que o Tribunal de Justiça de Santa
Catarina não conseguiu visualizar a responsabilidade civil, nem a discriminação do ato,
anulando a indenização por não enxergar ofensa a direito da personalidade, nem abalo
psicológico da vítima, consignando-se, ainda, que a conduta de negar acesso ao banheiro não
foi reprovável e a situação gerada sobre a vítima restaria circunscrita ao âmbito do mero
dissabor (BRASIL, 2014).
No STF, o Ministério Público Federal (MPF) ofertou parecer pelo provimento do
recurso, a fim de reconhecer o direito à indenização, diante da violação à direito da

64
personalidade e da ofensa à dignidade humana, propondo a seguinte fixação da tese com o
seguinte teor:

Não é possível que uma pessoa seja tratada socialmente como se pertencesse a sexo
diverso do qual se identifica e se apresenta publicamente, pois a identidade sexual
encontra proteção nos direitos da personalidade e na dignidade da pessoa humana,
previstos na Constituição Federal (CF) (MPF, 2015, p. 50).

A decisão sobre a possibilidade de a pessoa transexual usar o banheiro público


conforme a sua identidade de gênero é um caso tão emblemático que foi citado na
fundamentação do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4275-DF - que
reconhece o direito de se alterar os documentos sem a necessidade prévia de cirurgia de
redesignação sexual - por se inserir nos direitos de autodeterminação da pessoa, garantindo-se
a livre afirmação de sua identidade, como consequência dos direitos fundamentais à
liberdade, à privacidade, à igualdade e à proteção da dignidade da pessoa humana (BRASIL,
2018, p. 61).
Em São Paulo, o Tribunal de Justiça julgando caso semelhante ao de Santa Catarina,
em que funcionários de um shopping impediram uma mulher transexual de usar o banheiro
público feminino, houve a condenação e manutenção da sentença com indenização por dano
moral semelhante no valor de R$15.000,00, sendo que o Tribunal paulista fez questão de
frisar que a atitude do shopping ultrapassa o mero dissabor (SÃO PAULO, 2020).
Também há casos idênticos na jurisprudência paulista com condenação em dano
moral para estabelecimentos que impediram acesso de pessoa transexual a vestiário em clube,
banheiro público em academia de ginástica e em festa pública. Destacando-se ainda a
declaração de inconstitucionalidade da lei municipal de Sorocaba que pretendia impedir o
acesso de banheiro público em escolas públicas e particulares no município conforme a
identidade de gênero da pessoa.
Neste caso, o Tribunal Paulista fundou o julgamento na inconstitucionalidade formal –
por violação ao pacto federativo – consignando que a referida lei municipal fere o art. 237 da
Constituição do Estado, que se baseia “nos princípios da liberdade e solidariedade, exige a
garantia de dignidade e liberdade fundamentais, impedindo tratamentos desiguais e contendo
a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou
religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe, raça ou sexo” (SÃO PAULO, 2019).
Também frisou que há o já mencionado julgado com repercussão geral no STF e a lei
estadual Lei 10.948/2001, que impõe penalidades às práticas discriminatórias contra pessoa

65
homossexual, bissexual ou transgênero, caracterizando expressamente, no art. 2º, como ato
discriminatório a proibição de ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou
estabelecimento público ou privado, aberto ao público (SÃO PAULO, 2001).
A questão dos banheiros públicos já apareceu no STF em outras ocasiões para se
garantir acessibilidade a banheiros públicos em escolas estaduais por meio da obrigatoriedade
de se construir rampas de acesso para possibilitar o acesso às pessoas com deficiência (ARE
1.185.916), como garantia de inclusão social e de dignidade.
No âmbito do trabalho, a questão do acesso a banheiros também gera controvérsia,
havendo vários julgados na esfera trabalhista, o que mostra a importância do STF decidir e
pacificar esta questão, reconhecendo expressamente o direito ao uso de banheiro público
conforme a identidade de gênero, por ser medida de inclusão social, de respeito à dignidade
humana e princípio básico de convivência social, base do Estado Democrático de Direito.
Há várias possibilidades para possibilitar o uso do banheiro segundo a identidade de
gênero, mas sempre é importante se atentar à garantia da dignidade, da privacidade e da
igualdade, razão pela qual propostas segregatórias como a instalação de um banheiro único
para as pessoas transexuais femininas e masculinas é obviamente ofensiva à dignidade
humana e nitidamente violadora de Direitos Humanos, conforme o próprio MPF já destacou
em seu parecer.
Podem ser pensados: dois banheiros separados por gênero, com liberdade de
utilização sem discriminação por identidade de gênero; instalações de banheiros de utilização
individual, acessíveis a todos, sem distinção de sexo ou identidade de gênero; instalação de
um único banheiro, de utilização coletiva e universal, com cabines individuais internas sem
distinções (RIOS; RESADORI, 2015, p. 218).
O banheiro público é um espaço de uso comum, frequentado por todas as pessoas, e
pode ser usado como termômetro da postura e do sentimento democrático de uma
determinada comunidade, nele é possível aferir o grau de respeito ao próximo e o nível de
coesão social, por exemplo, diante da necessidade de deixar o ambiente em condições
higiênicas adequadas para o uso das demais pessoas.

3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS
O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – órgão colegiado da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, cuja finalidade é formular e propor diretrizes
de ação governamental – editou a Resolução nº 12, de 16 de janeiro de 2015 – que estabelece
66
o direito ao uso de banheiro público conforme a identidade de gênero, inclusive para
adolescentes e sem a necessidade de autorização obrigatória dos responsáveis (BRASIL,
2015a).
Contudo, tal resolução não tem força vinculativa, nem punitiva, seu aspecto é mais
ético e moral, para orientação em busca da construção valorativa e educacional de um novo
padrão social de conduta e de convívio, ou seja, são normas desprovidas de sanção, com
baixo grau de eficácia e efetividade.
Mas há no direito brasileiro uma gama de normas que proíbem a discriminação com
base em orientação sexual, tendo em vista que o direito brasileiro se constrói a partir de um
Estado Democrático de Direito, que em sua Constituição estabelece nos artigos 1º, III; 3º, IV,
5º, I, III e X, respectivamente, os princípios da dignidade, da não discriminação, da
igualdade, da proibição de tratamento desumano e degradante e o princípio da proteção à
intimidade (BRASIL, 1988), o que deveria ser suficiente para tutelar as pessoas transexuais.
No Direito Internacional, de igual modo, há uma série de tratados e declarações que
tutelam as pessoas transexuais, podem ser citados, por exemplo, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção
Americana de Direitos Humanos, a Convenção Interamericana contra Toda Forma de
Discriminação e Intolerância, entre outros.
No âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a Corte Interamericana,
em 2017, respondendo à consulta feita pela República da Costa Rica, emitiu a Opinião
Consultiva nº 24, esclarecendo que a Convenção Americana proíbe atos discriminatória
pautados em preconceito de sexo e gênero, assim, o Brasil também se torna obrigado a
proteger os direitos das pessoas transexuais. Neste sentido,

[...] levando em consideração as obrigações gerais de respeito e garantia


estabelecidas no artigo 1.1 da Convenção Americana, os critérios de interpretação
estabelecidos no artigo 29 da referida Convenção, conforme estipulado na
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, das Resoluções da Assembleia
Geral da OEA e das agências das Nações Unidas (supra, parágrafos 71 a 76), a
Corte Interamericana estabelece que orientação sexual e identidade de gênero, bem
como a expressão de gênero são categorias protegidas pela Convenção. Por esta
razão, a Convenção proíbe qualquer norma, ato ou prática discriminatória
baseada na orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero da
pessoa. Por conseguinte, nenhuma regra, decisão ou prática de direito interno, seja
por autoridades estatais ou por indivíduos, pode diminuir ou restringir, de qualquer
forma, os direitos de uma pessoa com base na sua orientação sexual, identidade de
gênero e/ou a sua expressão de gênero (CIDH, 2017, p. 38)​.

67
Desta forma, percebe-se que a decisão, ora referida, do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina e tantas outras decisões judiciais e políticas que impedem o acesso a banheiros,
censuram a liberdade artística ou que tentam impedir a educação sexual e a educação
inclusiva para o convívio na diversidade e pluralidade são claramente inconvencionais e
inconstitucionais.
Diante desta dificuldade dos operadores do direito em compreender e aplicar
corretamente os Direitos Humanos às demandas judiciais envolvendo questões transexuais e
de gênero, em 2007, a Comissão Internacional de Juristas e o Serviço Internacional de
Direitos Humanos publicaram os Princípios de Yogyakarta sobre a aplicação da legislação
internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero,
como forma de facilitar o entendimento e evidenciar as obrigações dos Estados.
A natureza destes princípios é muito discutida doutrinariamente, no Brasil, tem sido
usado na construção da fundamentação de decisões judiciais, como por exemplo na já citada
ADI 4275-DF.
Entretanto, há doutrina no sentido de se reconhecer sua aplicação normativa
vinculante, por se tratar de Princípios de Direitos Humanos, já ratificados pelos Estados,
tratando-se, portanto, de normas ​jus cogens ​(normas, em regra, inderrogáveis); outra
possibilidade seria entendê-los como costume internacional para os Estados que os
internalizaram (ALAMINO; VECCHIO, 2018, p. 663).
Os Princípios de Yogyakarta reconhecem a orientação sexual e a identidade de gênero
como parte da personalidade, de modo que toda pessoa, independentemente de sua orientação
sexual ou identidade de gênero, tem o direito de desfrutar plenamente de todos os Direitos
Humanos​13​.
Destarte, há um aparato normativo construído sobre os princípios da igualdade, da não
discriminação e do princípio democrático, apto para garantir o direito de acesso ao banheiro
público segundo a identidade de gênero, que passa pelo reconhecimento e respeito às pessoas
transexuais.
O direito ao reconhecimento “não significa conceder a todos a mesma condição por
meio da eliminação dos fatores de distinção, mas sim superar os estereótipos e reconhecer a
diferença, sem esquecer a referência à pessoa individual” (MAIA; BEZERRA, 2017, p.
1704), trata-se da célebre frase de Boaventura Sousa Santos que resume a essência
democrática:

13
Princípios de Yogyakarta: Princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em
relação à orientação sexual e identidade de gênero, Yogyakarta, 2007, p. 11.
68
[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o
direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a
necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que
não produza, alimente ou reproduza as desigualdades (SANTOS, 2003, p. 56).

Desta forma, o direito ao reconhecimento busca criar um espaço de convivência e de


inclusão, combatendo os estereótipos preconceituosos, permitindo a afirmação da diferença e
o tratamento isonômico que respeite as identidades individuais e o valor social da dignidade,
da liberdade e da solidariedade.
A negação do reconhecimento social adquire um caráter ainda mais violento e indigno
ao se considerar que indivíduo se constrói enquanto ser a partir da dinâmica de interação
social, de modo que

Conceitos negativos dessa espécie designam um comportamento que não representa


uma injustiça só porque ele estorva os sujeitos em sua liberdade de ação ou lhes
inflige danos; pelo contrário, visa-se àquele aspecto de um comportamento lesivo
pelo qual as pessoas são feriadas numa compreensão positiva de si mesmas, que
elas adquiriram de maneira intersubjetiva (HONNETH, 2009, p. 213).

Para Axel Honneth, a base dos conflitos sociais está no problema da falta de
reconhecimento, que obriga o indivíduo ofendido e humilhado a se articular e lutar pelo seu
reconhecimento. Assim, as questões de gênero e sexualidade são mais um aspecto dos
conflitos sociais decorrentes da negação do reconhecimento e das consequências negativas
que isto representa.
Assim, o reconhecimento consiste na afirmação e na valorização positiva das
identidades individuais, devendo ser tratado juridicamente como um direito e que repercuta
esforços públicos para o enfrentamento do estereótipo e suas consequências (LOPES, 2005,
p. 83).
De outro modo, criticando a redução dos conflitos sociais à luta por reconhecimento,
por desconsiderar aspectos materiais e por reduzir o conflito da distribuição de riquezas a
uma disputa moral por reconhecimento, Vladimir Safatle destaca o papel da centralidade do
político em relação ao cultural e ao jurídico e aponta a necessidade de se desconstruir as
diferenças e não politizá-las ou tolerá-las, pois

Uma política baseada na tolerância é uma política que constrói um campo de


diferenças toleráveis, o que alimenta o fantasma perpétuo da “diferença
intolerável”. Ou seja, a equação das diferenças, tão presente nas dinâmicas
multiculturais, parte da seguinte questão: até onde podemos suportar uma
diferença? Esta é, no entanto, uma péssima questão. Parte-se do pressuposto de
69
que vejo o outro primeiramente a partir da sua diferença à minha identidade. Como
se minha identidade já estivesse definida e simplesmente se comparasse à
identidade do outro (SAFATLE, 2015, p. 350)​.

Na mesma matriz teórica, é possível pensar a luta por reconhecimento não apenas
como uma identidade, ou uma questão moral, mas de forma articulada e integrada com outras
questões sociais e estruturais.
Deste modo, o debate sobre interseccionalidade contribui para pensar o direito das
pessoas transexuais a partir de questões estruturais que reproduzem um sistema de opressão,
cujo preconceito é apenas a ponta do ​iceberg​.

A interseccionalidade não é narrativa teórica de excluídos. Os letramentos


ancestrais evitam pensarmos em termos como “problema negro”, “problema da
mulher” e “questão das travestis”. Aprendamos com a pensadora Grada Kilomba
que as diferenças são sempre relacionais, todas e todos são diferentes uns em
relação aos outros. Raciocínio exato sobre a interseccionalidade, desinteressada
nas diferenças identitárias, mas nas desigualdades impostas pela matriz de
opressão (AKOTIRENE, 2019, p. 30).

São várias posições teóricas para se pensar o direito ao reconhecimento das pessoas
transexuais, por mais distintas que possam ser, todas partem da mesma premissa valorativa
que se reconhece as pessoas transexuais como merecedoras do mesmo tratamento social, sem
qualquer distinção ou discriminação, que as exclua do ambiente social ou reduza sua
dignidade, sua liberdade e sua igualdade.

4. CONCLUSÃO
O direito de acesso ao banheiro público segundo a identidade de gênero deveria ser
uma questão tão natural quanto a necessidade fisiológica de usar banheiro, contudo, a questão
deixa de ser simples ao assumir um comportamento social de segregação e discriminação por
parte da população que se recusa em reconhecer a existência, a dignidade e os direitos das
pessoas transexuais.
Os supostos argumentos em defesa da segregação e da proibição são injustificáveis,
são puramente discurso de ódio e de preconceito que não merecem guarida na sociedade, é
claro que precisam ser enfrentados como forma de se buscar uma convivência social pacífica
entre todas as pessoas independentemente da orientação sexual ou da identidade de gênero.
É preciso compreender que o Estado Democrático de Direito significa a defesa dos
Direitos Humanos e um espaço laico de convivência plural, onde todos tenham liberdade,
dignidade e igualdade, garantidos pelo direito, por esta razão espera-se que o STF venha a

70
cumprir o seu papel de guardião da Constituição e reconhecer não apenas o direito ao
banheiro público segundo a identidade de gênero, mas o dever de se respeitar as pessoas
transexuais em todo e qualquer lugar.
A questão do acesso ao banheiro público é apenas um sintoma de um problema social
maior, derivado de uma sociedade injusta e opressora, em que grupos são marginalizados e
vulnerabilizados, seja por motivo de gênero, de raça ou de classe, ou mesmo todos os fatores
de forma transversal.
A existência de uma norma ou lei não representará por si só a garantia de inclusão
social, por razões que não cabe analisar neste momento, mas é um importante passo para o
reconhecimento e valorização destas pessoas, como pessoas comuns, iguais a todas as outras,
detentoras dos mesmos direitos e da mesma dignidade.
O banheiro público é um espaço que revela o quanto uma comunidade é educada para
se pensar no respeito ao outro e o quanto se está preparada para conviver democraticamente
com o outro, tornando-se assim uma fonte de aprendizado democrático, que serve para criar e
compartilhar espaços de respeito e convivência, necessários para uma sociedade que pretende
ser civilizada e democrática.
O direito, reconhecido na jurisprudência do STF, terá o papel de repercutir e
uniformizar decisões em todo o país, contribuindo para a compreensão destes direitos dentro
do próprio Poder Judiciário, para que decisões como esta do Tribunal de Santa Catarina, que
não foi o único tribunal a negar o direito de acesso ao banheiro público segundo a identidade
de gênero, se tornem cada vez mais raras até o seu total desaparecimento dos anais da
jurisprudência.
A decisão do STF se positiva (e é o que se espera) não será o fim de um processo
histórico de luta por aceitação, reconhecimento e liberdade, mas consagrará a vitória de uma
importante batalha, na luta por uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática, pautada
nos Direitos Humanos. Mas, se negativa, representará o momento em que o direito se aparta
da justiça, abrindo espaço para a institucionalização da discriminação, da opressão e da
vulgarização da violência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKOTIRENE, Carla. ​Interseccionalidade​. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

ALAMINO, Felipe Nicolau Pimentel; VECCHIO, Victor Antonio Del. OS Princípios de


Yogyakarta e a proteção de direitos fundamentais das minorias de orientação sexual e de

71
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Paulo, v. 113, p. 645- 668, jan./dez. 2018.

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Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em:
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discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (CNCD/LGBT). Estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso e
permanência de pessoas travestis e transexuais - e todas aquelas que tenham sua identidade de
gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais - nos sistemas e instituições de ensino,
formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua
operacionalização, 2015a Disponível em:
<​http://www.sdh.gov.br/sobre/participacaosocial/cncd-lgbt/resolucoes/resolucao-012​>.
Acesso em: 18 jul. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). ​Ação Direta de Inconstitucionalidade


4.275- DF​. Ação direta de inconstitucionalidade. Direito constitucional e registral. Pessoa
transgênero. Alteração do prenome e do sexo no registro civil. Possibilidade. Direito ao
nome, ao reconhecimento da personalidade jurídica, à liberdade pessoal, à honra e à
dignidade. Inexigibilidade de cirurgia de transgenitalização ou da realização de tratamentos
hormonais ou patologizantes. Requerente: Procuradoria Geral da República. Requerido:
Presidência da República; Congresso Nacional. Relator: Min. Marco Aurélio. Brasília, 01 de
março de 2018. Disponível em:
<​http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15339649246&ext=.pdf​>. Acesso
em: 10 out. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). ​Recurso Extraordinário 845.779​.


Transexual. Proibição de uso de banheiro feminino em shopping center. Alegada violação à
dignidade da pessoa humana e a direitos da personalidade. Presença de repercussão geral.
Recorrente: André dos Santos Fialho. Recorrido: Beiramar Empresa Shopping Center Ltda.
Relator: Min. Roberto Barroso. Brasília, 22 de outubro de 2014. Disponível em:
<​http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15317399481&ext=.pdf​>. Acesso
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mudança de nome, à identidade de gênero e aos direitos derivados de um vínculo entre casais
do mesmo sexo (interpretação e alcance dos artigos 1.1, 3º, 7º, 11.2, 13, 17, 18 e 24, em
relação ao artigo 1º da convenção americana sobre direitos humanos). Costa Rica, 24 de

72
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SÃO PAULO. ​Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2137220-79.2018.8.26.0000​. Ação


Direta de Inconstitucionalidade. Lei nº 1.185, de 28 de setembro de 2015, de iniciativa
parlamentar, que veda “a utilização de banheiros, vestiários e demais espaços segregados, de
acordo com a identidade de gênero, em instituições que atendam ao ensino fundamental,
público ou privado, instaladas no âmbito do Município”. Matéria veiculada na lei que discute
questão relativa à ideologia de gênero nas instituições que atendem ao ensino fundamental.
Usurpação da competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (art. 22, XXIV, da CF). Violação do Pacto Federativo (arts. 1º, 144 e 237,
inciso VII, da CE). Patente, pois, a incompetência municipal para legislar sobre a matéria, eis
que afronta as normas constitucionais e a disciplina complementar existente, configurando
vício de inconstitucionalidade formal. Ação direta julgada procedente. Autor: Procurador
Geral de Justiça do Estado de São Paulo. Réus: Presidente da Câmara Municipal de Sorocaba

73
e Prefeito Municipal de Sorocaba. Relatora: Cristina Zucchi. São Paulo, 9 de outubro de
2019. Disponível em: <​https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do​>. Acesso em: 20
out. 2020.

__________. ​Apelação cível nº 1046019-12.2016.8.6.0576​. Indenização - danos morais


funcionários do requerido que advertiram a autora de que ela não poderia utilizar o vestiário
feminino - atitude discriminatória - autora transexual atitude dos prepostos do réu que
ultrapassou o conceito de mero dissabor - elementos necessários para caracterizar a obrigação
de indenizar danos morais configurados verba devida indenização fixada de maneira
adequada juros que incidem a partir do evento danoso súmula 54 do superior tribunal de
justiça - ação parcialmente procedente sentença mantida-recurso não provido. Apelante:
Consórcio Shopping Center Iguatemi São José do Rio Preto. Apelado: JDSS. Relator:
Erickson Gavazza Marques. São Paulo, 4 de março de 2020. Disponível em:
<​https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do​>. Acesso em: 28 out. 2020.

_________. ​Lei nº 10.948, de 05 de novembro de 2001​. Dispõe sobre as penalidades a


serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual. São Paulo:
Assembleia Legislativa, 2001. Disponível em:
<​https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2001/lei-10948-05.11.2001.html​>.
Acesso em 28 out. 2020.

74
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR 
HOMENS HOMOSSEXUAIS: A ADI 5543 E A 
NECESSIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS 
INCLUSIVAS
Natália Viana Nogueira​14
Cristiane Dantas Andrade​15
Priscila Ribeiro Jeronimo Diniz​16

1. INTRODUÇÃO
A doação de sangue por homens homossexuais ainda é vista como grande tabu na
realidade brasileira. As raízes estadunidenses de um preconceito relacionado a essa parcela
considerável da sociedade construíram uma cultura social de segregação, discriminatória e
retrógrada. Dessa forma, criou-se um cenário de marginalização desse público frente aos mais
diversos campos, incluindo o da saúde pública.
O direito de realizar o ato de transfusão sanguínea, notoriamente, constitui não só um
gesto de formação comunitária, mas também se evidencia como uma manifestação clara do
direito à dignidade humana. Esse direito compreende tanto àquele que recebe o resultado
dessa ação, como também aos que voluntariamente desenvolvem essa prática altruísta de
ajudar ao próximo sem qualquer fim lucrativo.
Entretanto, por muito anos e em muitos casos, até hoje essa questão continua, por
vezes, sendo violada e não garantida. A problemática assevera-se quando, além do
preconceito socialmente fixado de difícil enfretamento, essa manifestação segregacionista
torna-se institucionalizada pelas regulamentações, normas e legislações brasileiras, formando
um verdadeiro preconceito institucional e legalizado.
Prova dessa realidade é que, no Brasil, a Resolução da Diretoria Colegiada de nº
153/2004 e RDC nº 34/2014, ambas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA,
14
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
naatdir@hotmail.com.
15
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
cristianedantasandrade@hotmail.com.
16
Doutoranda em Ciências das Religiões e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba, Juazeiro
do Norte/CE. E-mail: priscilaribeiroj@hotmail.com.
75
estabeleceram proibição ampla quanto à doação de sangue por homens que possuem relações
sexuais com outros homens.
Nesse sentido, a Agência instituiu normativos que trazem de forma clara uma vedação
a esse público.
O Ministério da Saúde também dispôs de uma proibição legal para esse ato e
determinou de modo expresso, no art. 64 da Portaria 158/2016, que “Considerar-se-á inapto
temporário por 12 (doze) meses o candidato que tenha sido exposto a qualquer uma das
situações abaixo: [...] IV - homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as
parceiras sexuais destes” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
Nota-se que ambos os institutos reforçam e ratificam uma cultura de preconceito e
segregação para com os homens que possuem relação com outros homens, tornando o
enfrentamento ainda mais dificultoso quando essa prática é revestida pela própria figura
estatal.
Ainda que decorrente do Estado, a inconstitucionalidade de tais proibições é evidente,
e independentemente do seu momento de construção e introdução, tornam-se injustificáveis a
existência, permanência e prolongamento dessas práticas institucionalizadas de caráter
deveras primitivo.
Reconhecida essa questão, após uma longa e forte atuação das frentes sociais que
buscam e lutam pelos direitos das camadas e grupos sociais mais vulneráveis, conseguiu-se
levantar e movimentar a pauta sobre a inconstitucionalidade dessas normas existentes na
dinâmica nacional e de aplicação diária nos núcleos de doações.
A repercussão foi tamanha, que a problemática chegou ao âmbito do Supremo
Tribunal Federal – STF, para que este se posicionasse quanto à constitucionalidade ou não
dos dispositivos apontados. A partir disso, instaurou-se a Ação Direta de
Inconstitucionalidade 5543 (BRASIL, 2020), com o intuito de retirar essas normas que
institucionalizam e autorizam uma prática preconceituosa.
Em maio de 2020, a ação foi julgada de modo conclusivo, pois se encontrava suspensa
desde maio de 2017 sem que a pauta fosse devidamente abordada, permitindo que, mesmo
com o debate sobre essa questão, o público principal das proibições continuasse a sofrer
rejeições e retaliações nas tentativas de doações.
Após muita discussão, houve vitória no sentido de declarar a inconstitucionalidade das
normas, deixando claro o caráter violador de todas e como as disposições atentavam
diretamente ao princípio basilar e primordial do ordenamento brasileiro, a dignidade da

76
pessoa humana, em sua vertente mais e solidária e humanitária possível, que é a de um ato de
doação seu sangue para ajudar alguém.
Mesmo com o avanço, a problemática se perpetua ainda na realidade social, tendo em
vista que a isolada decisão que reconhece a inconstitucionalidade das previsões não é
suficiente para gerar, por si só, impactos reais na dinâmica coletiva. Nesse contexto, é
necessário visualizar e estudar quais ferramentas são capazes de mudar de forma estrutural as
construções e formações sociais para essa temática.

2. CONTEXTO HISTÓRICO DA PROIBIÇÃO NO BRASIL


O cenário proibitivo no Brasil não foi instaurado sem que antes existisse uma herança
colonial e externa que embasasse e reforçasse essa perspectiva. Assim, os primeiros
delineamentos dessa cultura segregacionista surgem a partir do estopim de contaminação pelo
vírus da AIDS nos Estados Unidos da América por volta de 1980, com outros números
acentuados de casos também na África Central e Haiti (TOMAZ, 2016).
A partir desse cenário, várias práticas preconceituosas se intensificaram por todo o
mundo e, muitas vezes, endossadas pelos próprios governos. De fato, à época, o número
considerável dos infectados consistia no público homossexual e, de forma indevida,
começaram a nomear a doença como “Imunodeficiência Gay” (ANTUNES, 2020), o que
gerou uma repercussão social e uma percepção de que a respectiva doença guardaria relação
apenas para com esse público específico.
Logo em seguida, outra expressão norte-americana rapidamente se disseminou e
formou percepções coletivas de modo eminentemente equivocado – “​Gay Blood Ban​” (em
tradução livre, “proibição do sangue gay”) (MORRISON, s.d.), o que, mais uma vez,
transpareceu e repassou a errônea ideia de que essas patologias estariam apenas relacionadas
ao sangue dos homens homossexuais.
Fruto de construções sociais como essas, as restrições institucionalizadas passam a
surgir e contam com a legitimidade estatal para tanto. O contexto segregacionista externo
passa a influir de modo direto na construção da visão brasileira sobre doenças sexualmente
transmissíveis e também da homossexualidade.
Não só as doenças passaram a ser relacionadas ao público de homens que se
relacionavam com outros homens, mas a própria homossexualidade passou a ser vista e
construída como uma doença em si mesma, ganhando tamanha repercussão que chegou até a
possuir Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – (CID

77
302.0) (LAURENTI, 1984), denunciando, flagrantemente, como a prática do preconceito
conseguiu formar suas raízes e galgar forças no próprio sistema.
A correlação com o público homossexual foi tamanha que a ocorrência da doença por
si só, ainda que não fosse decorrente da prática de relação sexual de um homem com outro
homem, era socialmente vista como uma escória, resultado dessa prática que era tida e
conhecida como a “imoralidade homossexual”.
Decorrente desse paradigma, dá-se início às primeiras retribuições internas com forte
teor ideológico e preconceituoso no Brasil. Em 1933, de modo muito mais reagente do que no
cenário estrangeiro, tem-se a introdução da Portaria nº 1.376 (BRASIL, 2016), a qual proibiu
pela primeira vez, em solo nacional, a doação de sangue por homens homossexuais.
Argumenta-se que, naquele momento, foi uma interferência inteligente de ser
realizada, no que diz respeito ao aumento exponencial do número de contaminações pelas
principais doenças sexualmente transmissíveis à época (PELÚCIO; MISKOLCI, 2020). Não
obstante, a construção de estigmas sociais também foi reforçada consideravelmente no
mesmo contexto.
Tempos depois, em 2004, tem-se a Resolução 153/2004 (BRASIL, 2004) da
ANVISA, mantendo a referida proibição, e dez anos depois, advém outra uma resolução no
mesmo sentido, inclusive contendo textos idênticos e de igual teor, a Resolução da Diretoria
Colegiada nº 34 da ANVISA, de 11 de junho de 2014 (BRASIL, 2014).
Por fim, a normativa mais contemporânea que também contemplou a mesma
proibição foi a Portaria nº 158 de 05 de fevereiro de 2016 (BRASIL, 2016) – dessa vez
através do próprio Ministério da Saúde – que em seu artigo 64 redigiu o rol de inaptos
temporários. Estabeleceu-se, assim, o prazo de 12 meses de inaptidão para doação de sangue
para aqueles que se enquadrassem em algum das hipóteses trazidas, e no inciso do IV do
artigo citado, há a “restrição aos homens que se relacionam sexualmente com outros
homens”, popularizando a sigla “HSH”​17​.
Logo, deveriam os homens homossexuais se absterem da prática de relação sexual
pelo prazo mínimo de 12 meses para que pudessem realizar a doação de sangue, o que,
claramente, viola a dignidade da pessoa humana e demais direitos fundamentais daquele
possível doador.
Um ponto curioso a se observar diante desse delineamento formador da restrição para
doação de sangue, é que, concretamente, ocorre a prática do chamado ​“bis in idem”, visto

17
Aplicada para se referenciar à prática de atividades sexuais homossexuais, sem excluir desse círculo os trans e
bissexuais.
78
que as disposições normativas já possuem outras previsões que são de fato coerentes com a
definição de “conduta de risco”​18 que não pessoalizam tais práticas a apenas um grupo
específico de pessoas.
A proibição de doação de sangue por homens homossexuais, expressamente prevista
no inciso IV do art. 64 da Portaria, constitui, portanto, norma de caráter discriminatório e
preconceituoso, posto que o fator principal a ser levado em consideração na transfusão
sanguínea é o comportamento de risco do doador e não tão somente a sua orientação sexual.
Com essas restrições impostas legalmente no país, ainda que notória a violação de
preceitos fundamentais, a proibição de doação de sangue por homens homossexuais foi
mantida por bastante tempo até que as referidas normas fossem impugnadas judicialmente
através da ADI 5543 julgada pelo STF.

3. DO JULGAMENTO DA ADI 5543 PELO STF


A Ação Direta de Inconstitucionalidade 5543 foi responsável por modificar o
paradigma de proibição de doação de sangue por homens homossexuais no Brasil. O
julgamento, que declarou inconstitucional essa vedação, realizado pelo Supremo Tribunal
Federal, tornou-se um marco histórico e um avanço para toda comunidade LGBTQI+.
A ação, proposta pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em junho de 2016, visava a
declaração de inconstitucionalidade das normas proibitivas previstas na Portaria 158/2016 do
Ministério da Saúde e da Resolução RDC 34/2014 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária.
De acordo com o PSB, “tal restrição a um grupo específico configura preconceito,
alegando que o risco em contrair uma DST advém de um comportamento sexual e não da
orientação sexual de alguém disposto a doar sangue” (STF, 2020).
O processo contou com a participação de vários ​amici curiae​, a exemplo da
Defensoria Pública da União, da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e da
Associação Brasileira de Família Homoafetivas (BRASIL, 2020).
Em outubro de 2017, foi iniciado o julgamento da ADI no qual votaram os ministros
Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux, Edson Fachin (relator da ação) e Alexandre
de Moraes. No entanto, o julgamento foi suspenso após pedido de vista do ministro Gilmar
Mendes.

18
Vide incisos do art. 64 da Portaria nº 158/2016​.
79
Com o cenário pandêmico instaurado pelo coronavírus (COVID-19), a discussão
voltou à tona, quando os Hemocentros do país sofreram com a queda significativa de doações
de sangue e baixa nos estoques de bolsas (OLIVEIRA, 2020). A ADI, então, retornou para
julgamento em 01 de maio e teve a maioria dos votos declarados pelo plenário virtual do STF
no dia 08 de maio de 2020.

4. DA ANÁLISE DOS VOTOS PROFERIDOS NO JULGAMENTO


A procedência da ADI 5543 ocorreu por 7 votos a 4, de maneira que o relator da ação,
ministro Edson Fachin, posicionou-se a favor da declaração de inconstitucionalidade, sendo
seguido por mais seis ministros.​19
O voto do relator baseou-se na dignidade da pessoa humana, afirmando que os
dispositivos impugnados ofendem a autonomia do indivíduo (pública e privada) e o
reconhecimento do grupo LGBTQI+ como sujeitos de direitos, que devem ser respeitados.
Para o ministro-relator, a proibição também ofende o direito de personalidade à liberdade
sexual e à igualdade, independentemente de gênero ou orientação sexual.
Fachin destacou, ainda, em seu voto que os critérios para doação de sangue devem ser
pautados nos comportamentos de risco do doador, pois, do contrário, criam uma limitação
desmedida com o pretexto de se garantir a segurança dos bancos de dados, sendo, portanto,
tal medida injustificável e inconstitucional (STF, 2017).
A ministra Rosa Weber, que acompanhou o relator, entendeu como inconstitucionais
tais medidas, violando-se o princípio da proporcionalidade. Segundo a ministra, as normas
proibitivas impugnadas além de promoverem a discriminação, desconsideram a utilização de
preservativo ou não, da presença de parceiro fixo e demais informações que são necessárias
para se caracterizar uma conduta de risco do doador (STF, 2017b).
Também seguiu o relator o Ministro Luiz Fux, que considera a restrição baseada em
um grupo de risco, ao invés de condutas de risco para considerar o doador inapto. Além
disso, considerou desproporcionais as normas de proibição ao imporem o prazo de 12 meses
de abstinência sexual do doador, visto que a janela imunológica compreende um tempo
menor, com cerca de 10 a 15 dias (STF, 2017b).

19
O acórdão na íntegra, com os votos de cada ministro está disponível no site do STF, e para este tópico serão
somente abordados os argumentos principais que levaram aos integrantes do Supremo votarem pela procedência
ou improcedência da ADI 5543.
80
O ministro Luís Roberto Barroso também concordou com o ministro-relator,
considerando as normas desproporcionais e que a janela imunológica imposta peca pelo
excesso (STF, 2017b).
Os ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Carmen Lúcia seguiram o voto do
relator.
A divergência iniciou ainda em 2017, quando o ministro Alexandre de Moraes
proferiu seu voto afirmando que a proibição de doação de sangue por homens homossexuais
baseia-se em dados técnicos e não na orientação sexual do doador. Para o ministro, deve-se
garantir também a segurança do receptor e do profissional e que a leitura dos artigos
impugnados da Portaria do Ministério da Saúde e da Resolução da Anvisa, fora do contexto
da Política Nacional de Sangue, Componentes e Derivados, transparece uma discriminação
contra homossexuais masculinos, sendo, portanto, necessário separar fatos técnicos de
preconceitos (STF, 2017b).
A continuar com a divergência, posicionou-se o ministro Ricardo Lewandowski
entendendo que o STF há de adotar uma compostura autocontida quando as determinações de
autoridade sanitárias estiverem embasadas em dados técnicos e científicos demonstrados,
além de que deve guiar-se considerando as consequências práticas da decisão, conforme o art.
20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, evitando-se interferência nas
políticas públicas cientificamente comprovadas, “especialmente quando forem adotadas em
outras democracias desenvolvidas ou quando estejam produzindo resultados positivos” (STF,
2020). O ministro Celso de Mello posicionou-se da mesma maneira e acompanhou o voto do
ministro Lewandowski.
Por fim, também divergiu do relator o ministro Marco Aurélio de Melo (STF, 2020),
afirmando que, ainda que considere-se como severa a restrição, deve-se resguardar um bem
jurídico maior – a saúde pública. Além disso, relata o ministro que a inaptidão temporal não
cabe exclusivamente aos homens homossexuais, mas também para outros grupos, a exemplo
dos cidadãos que se envolvem com prostituição ou aqueles que tenho feito tatuagens ou
piercings pelo mesmo período de doze meses.

5. DAS POLÍTICAS PÚBLICAS COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DA


DECISÃO
Apesar de se considerar inconstitucional a proibição de doação de sangue por homens
homossexuais que tenham se relacionado sexualmente com outros homens pelo período de

81
doze meses e a decisão ser vista como um avanço, ela não possui efeitos imediatos na
sociedade.
O rompimento da ordem jurídica anterior não causa a quebra automática dos estigmas
sociais, costumes e práticas anteriores. Fato é que, mesmo após o Supremo declarar como
inconstitucionais as normas de proibição de doação de sangue por homens homossexuais,
alguns lugares ainda mantiveram o comportamento proibitivo, impedindo que as doações
acontecessem.
Alguns jovens doadores chegaram a ir aos Hemocentros, sabendo da decisão, e ao
responderem o questionário feito pelo profissional da saúde, afirmando serem homossexuais,
foram impedidos de praticar a doação (REIS, 2020). Além disso, relataram os jovens que
chegaram a sofrer constrangimentos diante da situação de proibição (VASCONCELLOS,
2020).
Dessa maneira, é preciso que se crie maneiras de promover a efetivação dessa decisão,
que concedeu a ampliação de um direito fundamental à dignidade da pessoa humana, e as
políticas públicas mostram-se como instrumentos importantíssimos para isso.
Tem-se a partir da definição de política pública que ela é:

[...] uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público. Vejamos essa
definição em detalhe: uma política é uma orientação à atividade ou à passividade
de alguém [...]. Uma política pública possui dois elementos fundamentais:
intencionalidade pública e resposta a um problema público; em outras palavras, a
razão para o estabelecimento de uma política pública é o tratamento ou a
resolução de um problema entendido como coletivamente relevante (SECCHI,
2011, p. 2 e 11).

Trazer esse conceito auxilia na compreensão das políticas públicas como formas de se
superar problemas que correspondem à realidade de uma coletividade ou grupo.
Como visto no início deste estudo, o contexto em que se inseriram os homens
homossexuais como responsáveis pela transmissão do vírus da HIV iniciado na década de 80
perpetuou um estigma preconceituoso e que perdura até hoje em sociedade. O público
LGBTQI+, infelizmente, sofre de inúmeras maneiras, de modo que a presença de políticas
públicas de inclusão e proteção​20 se tornam (mais que) necessárias, e com questões de saúde
não seria diferente.
A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (PNSI LGBT) (BRASIL, 2011) vem sendo desenvolvida desde 2011 e é um
20
Sobre o histórico de políticas públicas para o público LGBTQI+, recomenda-se a leitura do artigo: “​Notas
sobre a trajetória das políticas públicas de direitos humanos LGBT no Brasil”​ , de Cleyton Feitosa Pereira,
disponível em: https://www3.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/article/viewFile/307/168.
82
exemplo claro de como as políticas públicas são fundamentais para promoção da igualdade e
dos direitos humanos nesse aspecto. Assim,

a Política Nacional de Saúde LGBT é um divisor de águas para as políticas


públicas de saúde no Brasil e um marco histórico de reconhecimento das demandas
desta população em condição de vulnerabilidade. É também um documento
norteador e legitimador das suas necessidades e especificidades, em conformidade
aos postulados de equidade previstos na Constituição Federal e na Carta dos
Usuários do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2011, p. 8).

Essa política pública, então, fixou bases norteadoras, diretrizes e objetivos a serem
seguidos por todos para promover o acesso à saúde de forma integral e ampla à população
LGBTQI+ em todos os espaços do Sistema Único de Saúde no Brasil.
No entanto, embora determinante a criação dessa Política Nacional, nada ela traz
acerca da doação de sangue a ser realizada pelo público LGBTQI+, carecendo de atualização
neste sentido para que se possam pautar ações e estratégias de visibilidade desse avanço
social.
A despeito da grande importância que a declaração de inconstitucionalidade das
normas proibitivas teve na sociedade, a falta de meios que promovam sua concretização a
torna sua eficácia quase que inexistente.
A doação de sangue no Brasil por homens homossexuais necessita de atenção no que
concerne à efetivação desse ato, não só pelos próprios doadores, que agora o podem fazer,
mas também pelos profissionais da área para garantir o devido estímulo a essa prática.
É necessária uma participação ativa dos órgãos estatais na promoção de políticas
públicas (além da própria sociedade) para que façam acontecer a mudança na prática.
Alguns exemplos de formas de promoção dessas políticas são: a criação de um
Programa de Incentivo específico para doação de sangue pelo público LGBTQI+, em especial
pelos homens homossexuais, de modo que se promovam campanhas para uma maior
receptividade e inserção da comunidade nesses espaços; a realização de ampla divulgação em
mídias dessas campanhas; incentivos à iniciativa privada que promovam essa doação, além
da inclusão de profissionais LGBTQI+ dentro dos Hemocentros e Hemonúcleos do país, sem
prejuízo de outras demais formas de promoção dessa política pública.
Embora tenham sido exemplificados algumas formas de se promover mudanças nesse
cenário, o intuito deste estudo não é criar mecanismos próprios de efetivação para doação de
sangue por homens homossexuais, mas ressaltar a importância que as políticas públicas têm
em assegurar a promoção de direitos que devem ser iguais para todos.

83
6. CONCLUSÃO
O histórico brasileiro de construção social sobre a homossexualidade é fixado em
bases eminentemente preconceituosas e esse fator refletiu e reflete diretamente na formação,
criação e modificação das normativas que regem a vida em coletividade. A partir disso, por
muito tempo se mantiveram existentes e em aplicação direta várias normativas
institucionalizadas que permitiram uma segregação e perpetuação do preconceito.
Por serem decorrentes da criação do próprio Estado e refletirem a percepção
retrograda da sociedade, a prática de exclusão e discriminação do público homossexual foi
sendo transformada em rotina nos mais diversos cenários, sobretudo nos Hemocentros e
Hemonúcleos, os quais não possuem aparato receptivo para acolher pessoas que querem
apenas ajudar outras pessoas.
Após vivenciada essa realidade por anos, a declaração da inconstitucionalidade das
normas que possuíam cunho restritivo seletivo é inegavelmente um marco na luta contra
práticas segregatícias e homofobias. Não obstante, essa alteração de cunho meramente formal
não é capaz de sozinha reformar as estruturas sociais que foram formadas a partir de visões
discriminatórias.
Em razão disso, é preciso que ocorra a implementação de políticas públicas
específicas para essa situação, de modo que essa luta não esteja somente pautada em mero
formalismo jurídico e que as mudanças ocorram, de fato, em sociedade. As políticas públicas,
portanto, mostram-se como instrumentos viáveis para concretização e efetivação de direitos
que devem ser garantidos a todos os indivíduos.

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ys-relatam-impedimento-para-doar-sangue-no-pais.html​>. Acesso em: 24 out. 2020.

86
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA 
LGBTQIA+
Luiza Ferro Marques Moraes​21
Letícia Romeira Belchior​22
Ricelly Pires Vieira​3
Luiz Henrique Fernandes Musmanno​4

1. INTRODUÇÃO
A literatura médica e acadêmica estabelece uma conexão entre o apoio social e a
saúde física e mental em populações idosas. Sendo que, o apoio social e o cuidado informal
para lésbicas e gays idosos, possuem grande impacto ao longo da vida, tendo papel mitigador
do estigma e discriminação social, político, econômico e do preconceito histórico (BARKER,
J.; DE VRIES, B.; HERDT, G.,2006). Diante disso, faz-se necessário o estudo da expressão
sexual de adultos mais velhos, a qual é influenciada por diversos determinantes psicossociais
e biológicos, principalmente em populações LGBTQIA+, nos quais esse estigma contra a
expressão sexual pode causar ocultação da orientação sexual devido ao medo de rejeição e
esse comprometimento cognitivo afeta a satisfação e consequentemente o nível de bem estar
do indivíduo (SRINIVASAN, S. et al., 2019). Assim, ser minoria, atualmente, é sinônimo de
luta e força. Fazer parte de duas minorias é, portanto, sinônimo de luta, força e perseverança.
Nesse sentido, a população idosa LGBTQIA+ tem um lugar de fala significativo para
desmistificar tabus e preconceitos, haja vista que a sexualidade do idoso é um assunto que
gera dúvidas e inquietações, em especial, relacionado a parcela LGBTQIA+.
Em nossa realidade sociocultural, somos condicionados desde a infância a valorizar e
exaltar a juventude com características estereotipadas relacionadas a beleza, vigor, disposição
e capacidade exacerbada de produção. A imagem da velhice, no entanto, é rotulada como um

21
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. luiza.ferromoraes@gmail.com.
22
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. ​leticiaromeira15@gmail.com
3​
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. ​ricelly.pires@hotmail.com
4 ​
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS.Médico da SMS
Goiânia. Membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Goiânia, Goiás. musmanno@gmail.com
87
processo de perda de habilidades, de abandono, de exclusão social e de incapacidade física e
mental. Com isso, o processo de envelhecimento tende a ser um desafio na sociedade,
principalmente por seu caráter social e pela desvalorização dessa fase da vida. No caso de
pessoas LGBTQIA+, essa sensação e incômodo com a velhice pode ser ainda maior,
considerando que, para esse segmento, o corpo tem uma dimensão social e simbólica forte e
mutável, que é extremamente reprimida em pessoas idosas (PEREIRA; AYROSA, 2012).
Nesse sentido, a invisibilidade dos idosos LGBTQIA+ é inegável e possui algumas
possíveis justificativas, que é a tendência da sociedade em estereotipar os idosos como
“assexuados”, a concepção de que os idosos são heterossexuais e, também, o preconceito que
a população tem, em geral, com o público LGBTQIA+. Nesse sentido, há muitas
consequências para estudar essa população, haja vista que, muitas vezes, eles evitam
exposição social por medo de serem vítimas de preconceito e violência. Além do mais, na
área da saúde, essa população também se priva de ter um acompanhamento e os cuidados
necessários na velhice por terem medo do julgamento no ambiente médico, que deveria ser
um local indispensável para a população idosa ter uma melhor qualidade de vida. Dessa
forma, as necessidades e a existência dos idosos LGBTQIA+ permanecem desconhecidas
pela população em geral e acabam sendo ignoradas pela maioria das instituições. (KIMMEL;
HINRICHS; FISHER, 2015; OREL, 2014)
No que se diz à sexualidade, discutir esse assunto durante a velhice, seja pelas
alterações fisiológicas do corpo, seja pelos preconceitos relacionados a essa parcela, é mais
complexo, pois envolve mais criatividade e interesse para a busca da satisfação. Apesar da
afetividade sexual não estar relacionada com a idade, o envelhecimento pode favorecer uma
atividade sexual mais satisfatória, pois os idosos acabam oferecendo aos seus companheiros
algo que o agrada e o satisfaz, não se preocupando com um bom desempenho físico e
virilidade. Para que essa realidade ocorra, faz-se necessário um processo chamado de
“desgenitalização sexual”, no qual os indivíduos reconhecem novos pontos e formas de
prazer em si próprios e em seus parceiros para terem relações mais prazerosas (BARKER, J.;
DE VRIES, B.; HERDT, G., 2006). Toda essa discussão deve ser reforçado nas políticas
públicas de impacto direto na velhice, justificando a necessidade de se problematizar e
repensar como está sendo lidado os fatores como identidade de gênero, erotismo, desejo e
práticas sexuais dos velhos contemporâneos (HENNING, 2017).
O ajustamento entre os idosos é confirmado pela literatura como um preditor do
funcionamento físico e fisiológico, saúde mental (JANG; POON; MARTIN, 2004),
fisiológico e autonômico (OZAKI et al., 2007). O ajustamento ao envelhecimento (AaE)
88
integra todas essas variáveis que emergem da auto-regulação adaptativa de desafios comuns
relacionados à idade (WROSCH et al., 2003).
O AaE de idosos LGBTQIA+ pode ter influências por diversos fatores, e podendo ser
de forma negativa. No geral, os idosos LGBTQIA+ sofrem discriminação e preconceito
sexual e, como consequência, a orientação sexual ou de identificação de gênero fica oculta
nessa comunidade (KIMMEL, 2014).
O estigma maior ocorre para com o idoso homoafetivo gay, já que a sexualidade está
muito mais voltada para a necessidade da ereção masculina, a qual, naturalmente diminui
com o avanço da idade. Porém, sexualidade pode ser exercitada de forma mais ampla. Mas,
por ser uma sexualidade imersa em preconceito, não há uma abertura do idoso homoafetivo
em falar com as pessoas ao seu redor, e até mesmo com profissionais da saúde, sobre as
dificuldades que encontram ao tentar realizar o ato sexual e, assim, não obtém orientações
sobre a redescoberta de novos pontos de prazer em seus corpos (ARAÚJO et al., 2020).

2. CONCLUSÃO
Dessa forma, conclui-se que os preconceitos frente a velhice LGBTQIA+ ainda se
fazem presentes de uma forma bastante peculiar, podendo, portanto, comprometer a
qualidade da vida sexual e a diversidade sexual do idoso, fato decorrente da falta de
informações agregado ao preconceito da sociedade. Infere-se, portanto, q​ ue a sexualidade
continua sendo parte integrante da qualidade de vida de muitos idosos e há a necessidade
exponencial de prestação de cuidados de saúde e o planejamento de serviços institucionais, o
que só será possível a partir de uma compreensão abrangente da sexualidade desses
indivíduos, objetivando a melhoria da educação, da pesquisa, das políticas e do atendimento
clínico para essa população.

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90
DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL 
NO BRASIL: A HOMOFOBIA COMO 
INSTRUMENTO DE SUA PRÓPRIA 
MANUTENÇÃO SOCIAL 
Gabriela Cristina Camara da Silva​23

1. INTRODUÇÃO
Desde o primeiro Código Civil Brasileiro, em 1916, até o atualmente vigente (de
2002), passaram-se 86 anos e, por toda a história, direitos e vivências LGBTs foram
esquecidas ou negligenciadas. Tratando-se do casamento ou união estável homoafetiva –
mesmo na criação do Código mais atual – nenhuma lei abordou especificamente o assunto,
ficando a cargo da jurisprudência seu reconhecimento.
Entretanto, mesmo com a união estável entre pessoas do mesmo sexo reconhecida
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011 e com resolução do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) permitindo o registro de casamento entre pessoas do mesmo sexo nos cartórios
– sendo, assim, um núcleo familiar legal como qualquer outro – casais homossexuais ainda
enfrentam diversos impasses na adoção de crianças e/ou adolescentes, tendo seu ânimo de
constituição familiar barrado pelo preconceito.
Dessa forma, ao manifestarem interesse na adoção homoparental, os casais se
deparam com argumentos contrários que, simultaneamente ao fato de serem produtos da
homofobia, atuam para a manutenção dela.
Tendo em vista tal impasse enfrentado, o presente trabalho se justifica pela resistência
– ainda forte e cientificamente infundada – à essa adoção, mesmo após o reconhecimento
jurisprudencial do direito há quase uma década.
A motivação parte, assim, da observação da restrição de direitos provocada pelo
preconceito e seus efeitos negativos na vida de LGBTs, examinando o impacto negativo da
homofobia numa democracia e a perpetuação de um tratamento não igualitário num processo
de adoção.
23
Discente de Direito da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Londrina – PR. Email:
gabrielaccamara13@gmail.com​.
91
Assim, espera-se contribuir para o reconhecimento social do impacto estrutural da
homofobia e, especificamente, como ela atua no processo de adoção homoparental e a
importância da quebra do ciclo existente entre sua manifestação e consequente manutenção.
Considerando a abrangência de contextos em que a homofobia se apresenta na
sociedade brasileira e os diversos modos que pode atuar, pode-se delimitar sua atuação e
impacto, analisando somente como ela se apresenta e influencia num processo de adoção
homoparental.
Nessa perspectiva, busca-se responder a seguinte questão de pesquisa: Como a
homofobia dificulta a adoção homoparental e estabelece uma relação cíclica entre sua atuação
nesse processo e a sua própria manutenção social?
Objetiva-se, portanto, mostrar a influência do preconceito em determinados impasses
que casais homoafetivos enfrentam num processo de adoção no Brasil. E, mais
especificamente, expor como a homofobia – internalizada em estigmas socialmente
estabelecidos – obsta o exercício de direitos já adquiridos, utilizando-se de si para reforçar e
propagar sua própria existência e manutenção, constituindo uma relação cíclica.
Neste projeto foi inserida uma proposta metodológica qualitativa de pesquisa
descritivo-explicativa, do tipo documental-bibliográfica, com viés dedutivo, que baseou-se
em publicações científicas das áreas do Direito, da Sociologia e da Psicologia,
especificamente no que tange à vivência LGBT num processo de adoção homoparental.
Começará, portanto, tratando do conceito de família mais inclusivo e próximo do
assunto tratado e como a legislação brasileira é heteronormativa e omissa quanto aos direitos
LGBTs no processo de adoção. Assim, será exposto como a jurisprudência agiu para
minimizar a negligência, reconhecendo a união homoafetiva como entidade familiar e a
significância de tal ato, com uma ressalva para o ainda existente distanciamento entre casais
homoafetivos e a oficialização da união estável ou casamento civil.
Logo em seguida, contará com uma análise dos mitos que contrariam a adoção
homoparental, objetivando, por fim, expor a ligação direta com a homofobia e como esta
realiza uma ação cíclica entre sua propagação e sua manutenção social e porquê o ciclo deve
ser quebrado para que LGBTs possam exercer plenamente seus direitos.

2. FAMÍLIA E O DIREITO DE ADOÇÃO HOMOPARENTAL


a. Família no ordenamento jurídico brasileiro vigente

92
Partindo de uma conceituação de família na doutrina, Venosa (2011, p. 2) traz uma
importante ao considerar não apenas laços consanguíneos, mas também aspectos morais e
éticos, dizendo que

[...] importa considerar a família em conceito amplo, como parentesco, ou seja, o


conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Nesse
sentido, compreendem os ascendentes, descendentes e colaterais de uma linhagem,
incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se
denominam parentes por afinidade ou afins. Nessa compreensão, inclui-se o
cônjuge, que não é considerada parente. Em conceito restrito, família compreende
somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder ou poder
familiar. Pode ainda ser considerada a família sob o conceito sociológico,
integrado pelas pessoas que vivem sob o mesmo teto, sob a autoridade de um
titular.

Considerando a legislação atualmente vigente no Brasil, não há nenhuma


conceituação de família que abranja explicitamente casais homoafetivos. A Constituição
Federal de 1988, inclusive, mesmo reconhecidamente a mais democrática da história do país,
afirma, em seu artigo 226 – que trata da família – que o Estado reconhece como entidade
familiar “a união estável entre o homem e a mulher [..], devendo a lei facilitar sua conversão
em casamento” e também “a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes” – em seus parágrafos 3º e 4º, respectivamente – negligenciando os direitos
LGBTs.
O Código Civil de 2002, vigente atualmente, não trouxe nenhuma novidade no
quesito. Bem como a Carta Magna, afirma em seu artigo 1723 que “é reconhecida como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher [..]”.
Dessa forma, a interpretação do ordenamento jurídico foi – por anos – realizada de
forma literal, ignorando as mudanças sociais evidentes – que deve refletir na justiça – e
excluindo outros direitos constitucionais, como o da igualdade.
Somente em 2011, 23 anos após a Constituição e 9 anos após o Código Civil, a união
estável homoafetiva foi reconhecida pela jurisprudência.
Quanto ao direito previdenciário, regrado pela Lei nº. 8.213/91, é importante tratar
especificamente dos benefícios de salário-maternidade (arts. 71 a 73); pensão por morte
(arts.74 a 78); e auxílio reclusão (art.80) e a incidência destes na relação homoafetiva – que
não possui legislação específica e fica dependente da jurisprudência para seu reconhecimento.
O salário-maternidade, primeiramente, não possui – exceto quanto à ocorrência do
parto – nenhuma especificidade quanto ao gênero, nem mesmo no artigo 71-A, que trata da
adoção especificamente, quando redige “segurado ou segurada” ao ditar sobre o acesso ao

93
direito previsto. A redação, porém, peca em usar apenas termos femininos em determinados
artigos – “segurada empregada ou trabalhadora avulsa”; “empregada do
microempreendedor”; e “demais seguradas”, do caput e § 3​o​, do art. 72 e caput do art.73,
respectivamente, negligenciando o direito a casais homossexuais formados por homens.
A pensão por morte, por sua vez, também não possui especificações de gênero ao
expandir o direito “ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer”, como versa o
caput do art.74.
O auxílio-reclusão, por fim, segue a linha de redação da pensão por morte descrita
acima, uma vez que a única especificação é feita pelo caput do art.80 ao ditar que são
beneficiários os “dependentes do segurado [...]”.
O problema principal, porém, referente a todos os benefícios citados, é que o inciso I
do art.16 a Lei 8.213/91 traz, dentre os requisitos para caracterizar o beneficiário do Regime
Geral da Previdência Social, as palavras “cônjuge”; “companheiro” ou “companheira”.​24
Assim, essas denominações restringem o direito apenas aos casais que constituem uma união
estável ou um casamento civil – o que, até 2011, era negado aos casais homoafetivos. Dessa
forma, por muitos anos, o Direito marginalizou aqueles que não se encontravam numa
relação heteroafetiva, cabendo à jurisprudência aplicar a isonomia e a dignidade humana
como direitos constitucionais e prover o direito a todos, uma vez que a orientação sexual não
deve ser motivo norteador de qualquer decisão jurídica, como fica explícito no entendimento
do Supremo Tribunal Federal:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. BENEFÍCIO DE


PENSÃO POR MORTE. UNIÃO HOMOAFETIVA. LEGITIMIDADE
CONSTITUCIONAL DO RECONHECIMENTO E QUALIFICAÇÃO DA UNIÃO
CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO COMO ENTIDADE FAMILIAR.
POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DAS REGRAS E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS
VÁLIDAS PARA A UNIÃO ESTÁVEL HETEROAFETIVA. DESPROVIMENTO DO
RECURSO. 1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4.277
e da ADPF 132, ambas da Relatoria do Ministro Ayres Britto, Sessão de
05/05/2011, consolidou o entendimento segundo o qual ​a união entre pessoas do
mesmo sexo merece ter a aplicação das mesmas regras e consequências válidas
para a união heteroafetiva​. 2. Esse entendimento foi formado utilizando-se a
técnica de interpretação conforme a Constituição para excluir qualquer significado
que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre
pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo
perfeito de família. Reconhecimento que deve ser feito segundo as mesmas regras e
com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. 3. O direito do
companheiro, na união estável homoafetiva, à percepção do benefício da pensão
por morte de seu parceiro restou decidida. No julgamento do RE nº 477.554/AgR,
da Relatoria do Ministro Celso de Mello, DJe de 26/08/2011, a Segunda Turma
24
De forma específica, quanto ao salário-maternidade, a expressão encontra-se nos § 2º do art.71-A e caput do
art. 71-B; na pensão por morte, está no §2º do art. 74 – todos da Lei 8213/91; e no auxílio-reclusão, na Lei
8112/90, em seu §3º do art.229, que diz ser devido esse benefício nas mesmas condições da pensão por morte.
94
desta Corte, enfatizou que ​ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado de
direitos nem sofrer quaisquer restrições de ordem jurídica por motivo de sua
orientação sexual. Os homossexuais, por tal razão, têm direito de receber a igual
proteção tanto das leis quanto do sistema político-jurídico instituído pela
Constituição da República, mostrando-se arbitrário e inaceitável qualquer
estatuto que puna, que exclua, que discrimine, que fomente a intolerância, que
estimule o desrespeito e que desiguale as pessoas em razão de sua orientação
sexual. () A família resultante da união homoafetiva não pode sofrer
discriminação, cabendo-lhe os mesmos direitos, prerrogativas, benefícios e
obrigações que se mostrem acessíveis a parceiros de sexo distinto que integrem
uniões heteroafetivas.​ (Precedentes: RE n. 552.802, Relator o Ministro Dias
Toffoli, DJe de 24.10.11; RE n. 643.229, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de
08.09.11; RE n. 607.182, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de
15.08.11; RE n. 590.989, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 24.06.11; RE
n. 437.100, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 26.05.11, entre outros). 4.
Agravo regimental a que se nega provimento.

b. Introdução do direito de adoção homoparental


Com debates por meio da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 4.277 e da
ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 132, o Supremo Tribunal
Federal (STF) reconheceu a união estável homoafetiva como entidade familiar e, em 2013, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da Resolução n. 175/2013, obrigou os
cartórios a realizarem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Carlos Ayres Britto, na época ministro do STF e relator da ADI, ao justificar seu voto
favorável ao reconhecimento, trouxe a importância do combate ao preconceito e apoio à
isonomia pelos defensores do Direito, dizendo que

[...] Assim interpretando por forma não-reducionista o conceito de família,


penso que este STF fará o que lhe compete: manter a Constituição na
posse do seu fundamental atributo da coerência, pois o conceito contrário
implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em discurso
indisfarçavelmente preconceituoso ou homofóbico. Quando o certo − data
vênia de opinião divergente - é extrair do sistema de comandos da
Constituição os encadeados juízos que precedentemente verbalizamos,
agora arrematados com a proposição de que a isonomia entre casais
heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de sentido
se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada
família. Entendida esta, no âmbito das duas tipologias de sujeitos jurídicos,
como um núcleo doméstico independente de qualquer outro e constituído,
em regra, com as mesmas notas factuais da visibilidade, continuidade e
durabilidade.

O reconhecimento da união estável ou casamento homoafetivos como entidade


familiar foi o passo mais importante no que tange à adoção homoparental. Segundo o ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente), “[..] para adoção conjunta, é indispensável que os
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade

95
da família” (art. 42, parágrafo 2º). Houve, assim, uma harmonia entre as legislações quanto
aos direitos LGBTs de constituição familiar, equiparando casais homoafetivos aos
heteroafetivos, eliminando quaisquer impedimentos legais que casais LGBTs poderiam
enfrentar num processo de adoção.

c. Distanciamento do acesso ao direito da união estável e casamento civil


A equiparação entre casais hetero e homoafetivos pela jurisprudência, entretanto, não
impediu que preconceitos ainda rodeiem as tentativas de registro de união estável ou
realização de casamento civil entre LGBTs e, consequentemente, futuras tentativas de
adoções homoparentais.
A falta de políticas públicas por parte do poder público acarreta receio e
desinformação aos casais homoafetivos quanto à oficialização de seus relacionamentos, que
ou não sabem de seus direitos ou têm medo de sofrerem homofobia institucional, como deixa
explícito o representante da organização Volta Redonda sem Homofobia, Natã Teixeira
Amorim: “O processo de União homoafetiva se tornou mais visível e acessível para mais
casais que desejam oficializá-la, mas ainda enfrentando muito mal olhado em alguns órgãos
públicos” (Jornal Beira-Rio, 2019).
O preconceito na oficialização da relação precede o preconceito na tentativa de
adoção, uma vez que casais homoafetivos, ao exporem suas vontades de entrar num processo
de adoção, se deparam com argumentos da sociedade – que, na verdade, mais são mitos
universalmente propagados que ocultam o preconceito e impedem a liberdade de LGBTs.

3. ANÁLISE DOS MITOS E SEUS EQUÍVOCOS


a. Orientação sexual
A argumentação mais presente é a de que pais homossexuais tendem a influenciar na
orientação sexual dos filhos, criando um receio de que o adotado desenvolva a orientação
homossexual e fique fadado aos estigmas e preconceitos por toda a vida. Há, aqui, duas
problemáticas a serem contestadas: o receio pela homossexualidade e a existência efetiva da
influência.
Dessa forma, a possível homossexualidade do filho tratada, por si só, como um
problema, já explicita o preconceito mascarado. Ao enxergar a homossexualidade como algo
errado que deva ser evitado e combatido, evidencia-se o problema principal: a homofobia,
que ocasiona todos os outros argumentos.
A influência, por sua vez, não tem a efetividade testada. Como diz Figueira,
96
[...] a orientação sexual, como já exaustivamente demonstrado pela comunidade
científica, não é algo passível de ser influenciado pela convivência com pessoas de
uma determinada orientação sexual. Convém relembrar que a maioria dos
homossexuais teve pais heterossexuais, o que desde logo, de per si, descredibiliza a
ideia de possível contágio ou influência. ​(FIGUEIRA, 2013, p. 9)

E, ainda, nas palavras de Enézio de Deus Silva Júnior,

Não há pesquisas científicas atestando que a orientação sexual dos pais faz
diferença significativa na educação de crianças e adolescentes. Ao contrário, os
estudos que existem nesta esteira apontam, além da negativa a tal hipótese
(interferência da orientação sexual dos pais na dos filhos), a relevância do afeto e
da sólida estrutura emocional, como os elementos indispensáveis e preponderantes
ao pleno ou saudável desenvolvimento da prole ​(JÚNIOR, 2011, p.128).

b. Abuso sexual
Um dos mitos é a maior probabilidade de um casal homossexual abusar de seu filho.
O argumento tem relação intrínseca com o modelo patologizador religioso e médico que
resistiu cientificamente até 1973, quando a Associação de Psiquiatria Americana alterou a
lista de doenças mentais, retirando a homossexualidade. Os efeitos sociais, porém, não se
alteraram: homossexuais ainda enfrentam o estereótipo de pervertidos e sexualmente
descontrolados.
Como afirma a psicóloga Mariana Farias (2007), não há registros que comprovem a
relação entre a orientação sexual do adulto e a maior incidência de abuso sexual – sendo,
dessa forma, comprovada a homofobia como única fonte do argumento em questão e os
efeitos da utilização desta como argumento para ferir os direitos LGBT mais uma vez.

c. Influência de ambos os sexos no papel de pais


A falta de influência de um papel masculino ou feminino na criação do adotado é
muito utilizado como argumento contrário à adoção por casais homoafetivos, tendo intrínseca
a ideia de superioridade da família heteronormativa e, mais uma vez, perpetuação da
homofobia estrutural.
Não há, porém, nenhuma comprovação científica de que a falta de influência de um
dos sexos na figura paternal ou maternal gere diretamente algum efeito negativo, uma vez
que essas figuras masculinas e femininas podem ser representadas por outras pessoas do
vínculo social – e não somente os pais. Ademais, existe aqui a questão do “papel de gênero” e
a cultura estereotipada de uma figura masculina e paternal em um papel de mais autoridade e

97
a figura feminina e maternal em um papel de mais subordinação dentro do relacionamento –
o que é quebrado numa relação homoafetiva.
Além do mais, não são apenas filhos de pais homoafetivos que experienciam essa
“ausência”, uma vez que existem diversas composições familiares que não possuem ambos os
sexos no papel de pais: como crianças criadas por avós e mães ou pais solos, que não são
alvos do mesmo argumento na mesma frequência.

d. Desenvolvimento social
Há uma grande perpetuação da ideia de que filhos de pais homossexuais enfrentariam
problemas em seu desenvolvimento social, com uma maior probabilidade em serem infelizes
fruto da composição familiar em que estão inseridos. Interligado à esta, há a ideia de que o
adotado sofrerá preconceitos por ter pais homoafetivos – preconceitos que são propagados
pelos próprios que alegam seu malefício.
Tais ideias, porém, não são cientificamente comprovadas – muito pelo contrário.
Segundo Patterson, responsável pela pesquisa “How Children Raised by Gay/Lesbian Parents
Fare?”, não há qualquer diferença em questões como sociabilidade e autoestima entre filhos
de pais heteroafetivos e filhos de pais homoafetivos – sendo assim, não é possível afirmar que
o desenvolvimento social será afetado pela composição familiar vivenciada.
A respeito do prejuízo no desenvolvimento social do adotado e interligando com a
patologização e promiscuidade da homossexualidade, a jurista Maria Berenice Dias (2011),
num livro chamado “UNIÃO HOMOSSEXUAL – O PRECONCEITO E A JUSTIÇA”,
argumenta que

[...] não há como prevalecer o mito de que a homossexualidade dos genitores é


geradora de patologias, eis não ter sido constatado qualquer efeito danoso para o
desenvolvimento moral ou a estabilidade emocional da criança conviver com pais
do mesmo sexo. Muito menos se sustenta o temor de que o pai irá praticar sua
sexualidade na frente ou com os filhos. Assim, nada justifica a visão estereotipada
de que o menor que vive em um lar homossexual será socialmente estigmatizado e
terá prejudicado seu desenvolvimento, ou que a falta de modelo heterossexual
acarretará perda de referenciais ou tornará confusa a identidade de gênero

A questão crucial de tal argumento, porém, é a observação da sua proveniência


intimamente relacionada com a homofobia e a dupla violência. Ao mesmo tempo em que
propagam a homofobia visando o combate à existência de LGBTs, utilizam do próprio
preconceito propagado para ferir novamente os direitos dessas minorias.

98
4. A RELAÇÃO CÍCLICA ENTRE OS MITOS E A HOMOFOBIA
É evidente que, com a inexistência de embasamento científico, a principal figura por
trás de todos os argumentos contrários à adoção homoparental é o preconceito. Dessa forma,
é possível observar a relação cíclica existente entre cada um dos mitos e a homofobia.
De início, o mito de que a orientação sexual dos pais resultaria num filho
homossexual, traz, por si só, a homofobia em sua pura definição: “medo patológico em
relação à homossexualidade e aos homossexuais”​25​. Somente a ideia de ter que suportar a
existência de mais um homossexual causa receio e é, de imediato, repudiada e vista como
algo a ser combatido. A homofobia, causa maior da alimentação desse receio é, ao mesmo
tempo, a consequência de si própria: ela origina o dito “medo patológico” e é originada dele.
A ideia de que filhos de pais homossexuais estão mais propensos a sofrer abusos
sexuais destes, por sua vez, origina da ideia patologizadora da homossexualidade, ao mesmo
tempo em que visa propagar essa ideia, ambos com uma origem inicial em comum: o
preconceito com o diferente. Aquele que difere do tradicional – aqui, qualquer afastamento
da heteronormatividade – é visto como doentio e profano e, mesmo com a comprovação de
que a homossexualidade nada tem a ver com a incidência de abusos sexuais, a crítica –
originada, também, pela homofobia – continua a ser amplamente difundida, de forma a evitar
a adoção e causar repúdio social aos homossexuais. Assim, originando do preconceito,
também acaba atuando para com a sua permanência desse repúdio na estrutura social,
ultrapassando gerações com opiniões comprovadamente equivocadas, utilizando dos efeitos
da homofobia para violar os direitos mais uma vez.
A falta de influência de um dos sexos é a ideia mais facilmente combatida, uma vez
que pode ser comprovada com exemplos de outras constituições familiares alheias à
homossexualidade. Essa facilidade, porém, também expõe a forte atuação da homofobia no
tópico: a necessidade da influência de ambos os sexos no papel de pais não é tão argumentada
em outras realidades quanto é em uma que envolve a homoparentalidade, explicitando que a
preocupação não é nada mais do que fruto da homofobia, que atua para com a criação de um
obstáculo na adoção de casais homoafetivos e propaga a falsa ideia de que essa família não
possuirá o essencial, enraizando-a na estrutura social.
O prejuízo ao desenvolvimento social do adotado é o quarto e último mito debatido.
Este, ao afirmar que a homofobia atuará de forma perversa e impedirá que a criança ou
adolescente de desenvolva da maneira adequada, expõe, por si só, como a aversão à

25
Significado de Homofobia. ​Dicionário Online de Português. Disponível em:
<​https://www.dicio.com.br/homofobia/​>. Acesso em: 30/10/20.
99
homossexualidade é maléfica em tantos níveis, e ainda utiliza-se da narrativa somente no que
a beneficia. É notório que essa possibilidade sequer existiria se a homofobia fosse erradicada,
e não ciclicamente difundida – especificamente pelos que aqui reconhecem seu malefício
para com a sociedade – ignorando, assim, a raiz do problema e perpetuando-a para sua
conveniência e, consequentemente, maior violação de direitos.

5. CONCLUSÕES
Mostra-se, assim, comprovada a existência da relação cíclica entre a homofobia e os
mitos contra adoção homoparental e esse preconceito utiliza-se de si próprio como
instrumento para se manter numa estrutura social. Partindo e retornando em si, a homofobia é
a fonte e a consequência dos males que atuam na obstaculização num processo de adoção
homoparental.
A adoção aqui, diferente de quando feita por casal heteroafetivo, enfrenta não só o
tradicional processo jurídico mas, também, o social, que está constantemente objetivado em
barrar a livre vivência de LGBTs com falsas acusações e enraizamento destas.
Fica explícito a perversidade que o preconceito atua, violando repetidas vezes os
direitos LGBTs: por existir, se perpetuar e ainda argumentar-se de si para manter viva tal
violação – por décadas e em diferentes esferas – sempre posicionando a culpa do lado da
minoria, e não em si. Nada mudará, portanto, se a existência e perpetuação do ciclo não for
reconhecida e devidamente combatida.

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101
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO 
CASEIRA: A CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES DE 
CONFIANÇA ENTRE TENTANTES E DOADORES
Mariana G. Felipe​26
Marlene Tamanini​27

1. INTRODUÇÃO
A inseminação caseira (IC) é uma prática até então não regulamentada de reprodução.
Ou seja, feita fora do que normatiza as resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM)
no Brasil. Esta é uma técnica que consiste na sucção com uma seringa de 10 ou 5 ml do
sêmen de um doador para que ele seja, posteriormente, inserido próximo ao colo do útero da
pessoa receptora. Sendo assim, uma forma de reprodução sem o contato sexual por parte dos
envolvidos. Essas práticas são amplamente difundidas contemporaneamente, entre mulheres
em relacionamento lésbico, que buscam maternidade com doação de sêmen de forma caseira
e entre doadores do gameta. Elas se visibilizam em meios digitais nas trocas realizadas em
grupos específicos do ​Facebook​, mas também podem ser encontradas em outros grupos de
mensagens como no ​WhatsApp ​e no ​Telegram​. Esses espaços digitais são responsáveis não
apenas pelas trocas de informação a respeito das técnicas de IC em si, mas facilitam o contato
e a circulação de doadores e também de tentantes.
Apresento aqui discussões que estão em andamento para o trabalho de dissertação que
se encontra na fase de aproximação e interpretação deste material ​online e das entrevistas. As
fontes aqui apresentadas são publicações de tentantes e doadores em dois grupos do
Facebook analisadas de forma qualitativa como orientado por Gill (2002), entre novembro de
2017 e abril de 2018, e a análise preliminar de entrevistas, nos moldes propostos por Alberti
(2018) e Rosenthal (2002; 2014) realizadas no início de 2020. Esses dois materiais permitem
identificar os processo de construção da confiança que permeiam as relações entre tentantes e
doadores e assim possibilita também construir reflexões acerca das formas de realização dos
projetos parentais de mulheres lésbicas no Brasil. Em específico, da dupla maternidade com o

26
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba - PR. Contato: marianagfelipe@gmail.com.
27
Orientadora. Doutora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Curitiba - PR. Contato: tamaniniufpr@gmail.com.
102
uso de técnicas de inseminação caseira (IC), práticas que até o momento não são
regulamentadas no país. A compreensão de tais relações é fundamental para que se observe,
também, as formas de contenção de riscos acionadas e de que forma se articulam outros
elementos, tais como a confiança nesses contextos.
Existem nestas práticas uma série de riscos que precisam ser gerenciados, em
especial, pelas mulheres envolvidas com essas relações de busca de materiais genéticos, que
em parte se dá na relação privada, mas é também controlada pela rede de tentantes nos meios
digitais. Afinal, trata-se de manipulação de material genético de forma caseira, em projetos de
maternidade lésbica, decididos pelas mulheres e envolvendo os doadores de material
genético. Elas precisam construir todos os parâmetros para elementos que elas consideram
suficientemente fortes em função da segurança do procedimento e do controle do processo
posterior a doação.
Sendo assim, existem medidas que devem ser estabelecidas entre estas mulheres e os
doadores que praticam a IC. Essas medidas são delimitadas de acordo com os que ambos
buscam nessa relação, pela proximidade e, acima de tudo, pelo estabelecimento de uma
relação de confiança. O objetivo deste trabalho é refletir acerca da construção de confiança
nas relações entre doadores e tentantes que praticam inseminação caseira.

2. RESOLUÇÕES, CATEGORIAS NATIVAS E PROCESSOS DE


INSEMINAÇÃO CASEIRA
Quando pensamos nos planejamentos parentais de mulheres lésbicas no Brasil,
falamos de diversas possibilidades: filiação socioafetiva, formas de adoção, reprodução
heteróloga e homóloga​28​, reprodução assistida, entre outros. Muitas dessas alternativas se
tornaram possíveis legalmente desde a regulamentação do Supremo Tribunal Federal (STF),
em 2011, pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, no qual se reconhece as uniões
estáveis para casais do mesmo sexo como entidades familiares. Tal regulamentação
possibilitou, em 2013, o primeiro aparecimento dessas pessoas na resolução do Conselho
Federal de Medicina (CFM) 2.013/2013, que regulamenta os processos de reprodução
assistida no Brasil, acolhendo pela primeira vez a elegibilidade dos casais do homoafetivos
para os procedimentos. Ao longo dos anos, essas resoluções foram sendo elaboradas,
chegando até sua última publicação: a resolução CFM 2.168/2017, que segue assegurando o
acesso a conjugalidades homoafetivas às técnicas de reprodução assistida no Brasil.
28
Tendo em vista as possibilidades de arranjos trans.
103
Entretanto, devemos levar em consideração as ainda presentes limitações de acesso a essas
tecnologias e como as mulheres acionam conteúdos fora dos prescritos para sua tomada de
decisão. Por isso, o foco deste trabalho é realizar uma reflexão sobre outra forma de se fazer
parentalidade: a inseminação caseira.
Essa prática é diferente das já citadas anteriormente, em específico porque todo
controle das decisões e o modo de fazer estão sob responsabilidade do casal de mulheres.
Tendo em vista que a inseminação caseira é parte da construção de um projeto de
maternidade lésbica e que consiste na busca de um doador de sêmen. Em geral, em grupos
voltados para IC nas redes sociais, como o ​Facebook​, e em aplicativos de conversa como o
WhatsApp ​e ​Telegram​, para especificamente realizar a doação, ou seja, não tendo
necessariamente o contato posterior ao ato. Esses doadores são, ao contrário do orientado
pela mais recente resolução do CFM, não-anônimos. Sabe-se, portanto, seu nome, seu rosto e
informações diversas que são trocadas. Aqui, saber essas informações do doador é diferente
de conhecê-lo.
Nos grupos, quando se fala sobre conhecer um doador, é no sentido de que ele é um
amigo ou vizinho, no sentido dele pertencer aos ciclos sociais ou familiares de alguma delas,
de fazer parte da vida das tentantes anteriormente a doação e permanecer ali posteriormente.
Um doador conhecido, nestes termos, não é indicado justamente pela insegurança que isso
traz para o casal de mulheres no que diz respeito aos direitos ao reconhecimento da
paternidade que, com a inseminação caseira, podem ser assegurados caso o doador exija esta
função, por exemplo, com um exame de DNA. Esse doador, por participar do convívio das
tentantes, faria parte, também, do convívio da criança no futuro e esse é um modelo que a
maioria dos casais de mulheres não busca e também não incentiva nos grupos. Devido a esses
pontos, os grupos indicam fortemente não escolher um doador conhecido caso as tentantes
não tenham um planejamento onde ele caiba nesses termos.
Um doador conhecido não é muito confiável, mas um doador desconhecido tem que
construir uma boa reputação para que seja indicado pelas outras tentantes e possa circular no
grupo entre elas. Sobre a construção da confiança dos doadores desconhecidos e sua
centralidade nessa discussão, explicarei mais a fundo nas próximas seções deste trabalho.
Outrossim, é necessário pensarmos nos grupos como fundamentais para que os doadores
sejam encontrados por quem precisa, mas, além disso, eles são essenciais para a troca de
informações sobre as formas de se fazer IC, e também sobre os cuidados e o controle dos
riscos que envolvem as práticas. Os grupos são, portanto, um ​lócus fundamental para que a
IC ocorra com maior segurança possível.
104
a. Tentantes e Doadores nos grupos
Nesses ambientes, podemos encontrar três categorias nativas fundamentais para a
compreensão das reflexões aqui postas: Tentantes, Doadores e Administradores. Tentantes,
neste campo, diz respeito a pessoas que buscam - ou melhor: tentam - engravidar. Essas
tentativas são o que as nomeiam. Em geral, mulheres, e aqui utilizo-me do recorte de
pesquisa, tendo em vista que estou tratando de mulheres cisgênero​29 que se identificam como
lésbicas. Em geral, todas as mulheres dos grupos são nomeadas como tentantes. Minha
própria presença nos grupos, por exemplo, é constantemente confundida com a presença de
uma tentante, mesmo que eu já tenha me apresentado inúmeras vezes como pesquisadora ali.
Novos doadores entram e, não me conhecendo ainda, me chamam em conversas privadas e
questionam se já encontrei um doador, onde moro atualmente, e me enviam fotografias para
que eu verifique se ele corresponde ao perfil que eu, supostamente, procuro. Nunca me
apresentei como tentante em nenhum grupo que estou, entretanto sou facilmente identificável
como mulher e, por isso, neste contexto, pensada também como tentante por esses homens.
A segunda categoria que circula nos grupos é justamente a de Doadores. Aqui,
também me refiro a homens cisgênero que anunciam seu material genético para tentantes, se
colocando à disposição para fazer as doações. Da mesma forma como ocorre com as
tentantes, as pessoas que se identificam como homens e estão inseridos nos grupos são
identificados também como doadores, e devem ter as condutas esperadas para circular nos
grupos. Por fim, os Administradores são, também, doadores e tentantes, ativos ou não nessas
funções, que assumem a responsabilidade de manter a organização dos grupos de IC.

b. Lesbianidades e projetos de dupla maternidade


Como demonstrado anteriormente, existem diversas maneiras de se construir arranjos
de maternidades entre mulheres lésbicas, entretanto, é necessário apontar uma característica
que para esta análise é fundamental: a intencionalidade. Como apontado por Amorim (2018),
quando pesquisou mulheres lésbicas em relacionamentos com outras mulheres que buscavam
técnicas de reprodução assistida, a busca pela filiação lesboparental é sempre intencional.
Essa intencionalidade é responsável por diversas reflexividades dentro deste relacionamento,
que passam desde a decisão pelas técnicas que melhor se enquadram na situação das duas

29
Insiro aqui que mulheres lésbicas transgênero também podem recorrer aos processos de inseminação caseira
em diversos tipos de arranjo. Entretanto, nos grupos em que estou inserida nenhuma mulher se apresentou como
trans até o momento de escrita deste trabalho. As maternidades lésbicas trans provavelmente fazem uso de
grupos específicos, o mesmo vale para homens trans que buscam paternidade com o uso de IC.
105
mães, quanto pela escolha de quem irá gestar, e, nos casos de inseminação caseira, pela busca
e escolha do doador. Amorim (2018) cita em diversos momentos de sua tese os discursos de
mulheres lésbicas que “se percebem” capazes de biologicamente ter um filho através das
técnicas de reprodução assistida. Isso se dá porque existe um relacionamento onde elas se
encontram inseridas que é campo para pensar possibilidades que antes não faziam sentido. Ou
seja, existe uma estrutura social heteronormativa que associa maternidade a feminilidade e a
heterossexualidade que se desconstrói quando essas mulheres se vêem em um relacionamento
estável, e donas de um aparelho biológico em perfeitas condições para se buscar uma
gravidez e, também, tecnologias disponíveis para que isso ocorra. Durante as entrevistas, a
autora relata que as mulheres, tendo se reconhecido como lésbicas desde cedo, se viam
excluídas do campo da reprodução e do parentesco. Amorim afirma que é comum “que a um
primeiro olhar a lesbianidade apareça como impossibilitador da maternidade”, como “a
negação da família e do parentesco” (AMORIM, 2018, p. 69-70).
De acordo com as falas do campo, o desejo por ser mãe é expresso quase sempre
primeiro por uma das mulheres do casal, que acaba por incentivar a outra a construir junto
esse projeto. Até agora, pelas entrevistas que realizei, a mulher que afirma ter o desejo inicial
de ser mãe é a que costuma gestar primeiro (aqui levando em consideração alguns casais que
buscam mais de um filho), esse desejo é embasado muitas vezes pela vontade de estar grávida
em algum momento da vida, viver a experiência da gravidez, do parto, da amamentação.
Podemos também encontrar discursos que se referem ao “sonho” de ter um filho, algo muito
comum no discurso das tentantes em geral (não apenas as lésbicas). Falas também fazem
referência a experiências de serem filhas adotadas e, por isso, o desejo de criar um filho
biológico.
Elas partem, então, para a analisar as possibilidades frente a diversas escolhas
(coparentalidade, reprodução assistida, inseminação caseira, entre outros). Em geral, as
mulheres dos grupos buscam uma maternidade fechada no casal, sendo assim, não optam pela
coparentalidade, mesmo que compreendam esta possibilidade. Pelas narrativas, o casal de
mulheres costuma relatar a possibilidade de coparentalidade com amigos gays também em
relacionamentos com outros homens. Existe aqui uma intersecção entre coparentalidade e
inseminação caseira também. Tendo em vista que a execução da inseminação seria de forma
caseira com esses amigos. Essa é uma possibilidade para casais de mulheres que não
encontram doadores confiáveis. Para os que não desejam coparentalidade, fazer com um
doador conhecido (aqui, conhecido diz respeito a proximidade afetiva) é desaconselhada nos
grupos. Em específico, os casais de mulheres que colaboraram com a pesquisa até agora
106
demonstram uma forte intencionalidade de construir sua “família com duas mães”. Sendo
assim, é também importante pontuarmos aqui que essa maternidade é construída por ambas as
tentantes, e que o laço biológico e genético, compartilhado com o bebê por apenas uma delas,
é apenas um elemento que vem como resultado do processo escolhido (a inseminação
caseira) já que elas se vêem como mães a partir do momento em que constroem os
planejamentos juntas.
A antropóloga inglesa Janet Carsten (2014) ao discutir sobre os elementos que
compõem o parentesco, partilha da elaboração do conceito do também antropólogo Marshall
Shalins (2013), que o define como “mutualidade de ser”. Ou seja, parentes participam de
forma intrínseca da vida uns dos outros, eles existem juntos, são “membros uns dos outros”
(SAHLINS, 2013). O parentesco não é feito apenas de forma biológica, porque até mesmo
este fazer, que aqui podemos entender como o encontro dos gametas, por exemplo, perpassa
os caminhos sociais estabelecidos através de uma cultura compartilhada. A construção do
filho, as dinâmicas entre parentes, é anterior ao nascimento e, posterior a ele, se faz através da
participação nas vidas uns dos outros. Desta forma, compartilhar do planejamento, do desejo,
da busca por modos de fazer, da escolha pelos doadores, da participação do próprio processo
de inseminação caseira, essas duas mulheres se constroem enquanto tentantes e mães.
Quando falamos sobre inseminação caseira e tendo em vista a desigualdade social
como um dos fatores de limitação do acesso de grande parte da população à clínicas
especializadas de reprodução, pode-se pensar que tais práticas são feitas apenas por pessoas
que não poderiam custear os tratamentos em clínicas​30​. Não há como negar que este é um
fator de relevância para a escolha pela IC tendo em vista os relatos diários nos grupos,
entretanto, diversos casais de mulheres que atualmente fazem IC já passaram por tratamentos
em clínicas de reprodução assistida no Brasil e no exterior. Outras relatam em suas narrativas
que atualmente poderiam custear um tratamento inteiro em clínicas, mas que preferem a IC
por se sentirem no controle de todo processo. Esse controle está também relacionado com
outras reflexões acerca de confiança. Nas narrativas dos casais, elas me relatavam
experiências traumáticas nas clínicas, onde, como resultado, acabavam perdendo a confiança
na honestidade da equipes. No entanto é necessário reforçar que diversos casais de mulheres

30
É importante pontuar que tratamentos de reprodução são ofertados pelo sistema único de saúde (SUS) no
Brasil. Esses tratamentos visam atender as demandas de homens e mulheres diagnosticados com infertilidade.
Tendo em vista que atualmente a infertilidade é tratada como doença, o SUS faz o atendimento, mesmo que este
demore devido a alta demanda. Como o caso da maior parte dos casais de mulheres que buscam tais tratamentos
não por infertilidade, mas pela ausência dos gametas, existem hospitais que fazem atendimentos através de
campanhas que visam baratear os custos. O tempo de espera para esses dois casos pode ser fundamental para o
êxito ou não dos tratamentos, tendo em vista que no caso das mulheres, a fertilidade está associada com a idade.
107
acabam por procurar a IC como única opção para a realização do projeto parental.
Independente do caminho que esse casal percorra, a partir do momento em que elas decidem
pela IC, é necessário que se construam formas de contingência dos riscos que tal escolha
oferece, tendo em vista que elas passam a ser as responsáveis por grande parte do processo
(coisa que não aconteceria nos espaços das clínicas).
A todo modo, proponho pensarmos a inseminação caseira como uma tecnologia
reprodutiva lésbica, instituída através de um posicionamento intencional da construção de si
enquanto mulheres, lésbicas e mães. Essa construção intencional da maternidade lésbica é
perpassada pela compreensão de si, dos corpos e, especialmente, da necessidade de se buscar
um doador. O doador, então, é também peça central para pensarmos nesses riscos. Ao mesmo
tempo que ele é necessário para que a prática ocorra, ele é também o maior elemento de risco
neste contexto. Para a contenção desses riscos, acionam-se redes de apoio de outras tentantes,
de outros doadores, e em especial essas informações são encontradas e tratadas nos grupos de
inseminação caseira.

3. CONFIANÇA E LIMITES
Tendo em vista que os grupos são essenciais para o processo de IC ocorrer, os
Administradores (que também são tentantes e doadores) têm responsabilidades diversas para
que esses sejam espaços seguros de troca. Essas responsabilidades dizem respeito a aceitar
novos membros, manter todos cientes das regras do grupo, monitorar os materiais enviados,
promover discussões de estudos sobre a IC, e, principalmente, moderar os conflitos que
podem ocorrer.
Esses conflitos são essenciais para compreendermos as dinâmicas entre os sujeitos,
tendo em vista que os grupos são lugares de primeiro contato entre tentantes e doadores. Lá
existem listas com os doadores disponíveis, separados por região do país, indicações sobre os
doadores confiáveis, entre outros. Ou seja, nesses grupos, tentantes também circulam
doadores e criam redes de contingência de riscos. Nos relatos que recebo, as mulheres dizem
se sentir mais seguras quando estão com um doador que já atendeu um casal de amigas delas.
Essa segurança dobra quando esse casal já tem um positivo​31 deste mesmo doador. Ou seja,
existe uma tranquilidade maior em saber de uma experiência positiva anterior com um

31
Aqui positivo diz respeito ao teste de gravidez. Os doadores tendem a anunciar que são doadores nos grupos
falando “quantos positivos” eles já tiveram. Essa quantidade de positivos além de demonstrar que ele já fez
doações anteriores, também denota a qualidade do material que será doado. Essa qualidade vem sempre
assegurada por exames que ele se dispõe a fazer (como espermograma, por exemplo, quando as tentantes estão
dispostas a pagar). Em geral, os doadores também disponibilizam o contato de casais de tentantes que ele já
atendeu anteriormente.
108
doador. Outro ponto importante de se notar é que as tentantes sabem onde estão outras
tentantes que tiveram seus filhos com o mesmo doador que elas estão utilizando, sendo assim,
como me relatam, elas ficam seguras em saber onde encontrar um “irmão biológico” de seus
futuros filhos, caso um dia este precise por motivos de saúde.
A conduta do doador é muito importante para que ele seja julgado como confiável e
“trocado” entre as tentantes. Em geral, elas solicitam uma série de exames, e, nos grupos,
orienta-se que as tentantes os acompanhem quando forem fazer os exames ou solicite
diretamente em um laboratório de confiança para ter a certeza de que os resultados são
verdadeiros. Várias publicações de mulheres denunciam alguns doadores nos grupos. Exames
com resultados adulterados, comportamento inadequado como, por exemplo, solicitação de
fotos das tentantes ou informações muito pessoais, nomes diferentes quando comparados os
perfis do ​Facebook ​com a identificação de ​WhatsApp​, entre outros, são pontos considerados
negativos para um doador.
Se não existe um espaço como uma clínica, coordenada por profissionais que tem
conhecimento técnico das práticas de reprodução assistida, se não há controle biomédico, a
contingência dos riscos se faz através das relações entre as pessoas envolvidas. Essas relações
são permeadas por muitas interfaces nas quais se estabelecem, ou não, confiança. Em certa
medida, todos os doadores se relacionam com as tentantes nos grupos e este relacionamento,
em geral, começa com a publicação de um anúncio de busca. Através deste anúncio a tentante
se insere em elementos de contingência e riscos que são pensados reflexivamente, como, por
exemplo, as condições para a doação e o que esta forma de decisão pode produzir para o
presente e para o futuro. O doador deve aceitar fazer o método seringa, deve apresentar os
exames listados na publicação e topar assinar o contrato redigido pela tentante em cartório​32​.
Agir reflexivamente é parte de uma escolha entendida nos moldes giddianos, como base o
processo reflexivo da ação de um agente que se coloca frente a decisões de confiança e risco
em relação a sua vida e ao exercício de decisões complexas constitutivas da modernidade
(GIDDENS, 1991, p.30). Estas mulheres estão inseridas em outra perspectiva que não a
tradicional e heterossexual da única família possível. Elas estão reflexivamente em relações
com as mudanças de tempo e espaço e dos elementos de encaixe e desencaixe produzidos por
sistemas complexos. A reflexividade por parte das mulheres como agentes busca a confiança
nos sistemas abstratos (nos conhecimentos técnicos, na palavra do doador e em seus diversos

32
Mesmo que ambos tenham consciência que este documento não possui validade jurídica. Em geral as
tentantes que fazem a IC e recebem aconselhamento de advogados, costumam orientar as outras afirmando que é
necessário qualquer tipo de documento que indique as intenções do doador, desde imagens de conversas até esse
tipo de “contrato”.
109
elementos constituintes). Existe também nesses contextos uma coerência biográfica por parte
da reflexividade tentante: elas reivindicam um tipo de família que condiz com o que são e
com uma sequência de fatos e acontecimentos que conversem com um projeto reflexivo da
construção de sua individualidade.

4. CONCLUSÃO
Compreende-se que as práticas de inseminação caseira nesses moldes sempre
estiveram presentes nas vidas de mulheres lésbicas que buscam concretizar seus
planejamentos de maternidade. Atualmente, por vivermos em uma sociedade digital, ou
melhor, em um contínuo ​on-offline (MISKOLCI, 2016), o acesso a informações sobre as
práticas de inseminação caseira, seus sucessos, seus perigos e seus tutoriais, estão ao alcance
dessas mulheres. Outrossim, o acesso aos doadores e seus perfis digitais também facilitam
esse contato.
Em geral, a primeira reação de uma pessoa que descobre sobre a possibilidade de se
fazer filhos através da inseminação caseira é espanto e preocupação. Os argumentos que
embasam esse espanto são diversos, a ausência da clínica, o risco da transmissão de doenças,
as diversas violências, a falta de amparo legal, entre outros. No entanto, ao refletir sobre tais
bases argumentativas, é possível indicar que partem do mesmo cerne: o risco em diversos
níveis. Por isso, é necessário se perguntar ao olhar para o campo: se o perigo está posto, por
que essas mulheres ainda enxergam a inseminação caseira como possibilidade?
Ao mesmo tempo em que os riscos são conhecidos, também são compartilhados nos
grupos diariamente relatos de positivos, fotos dos “bebês de IC”, entre outras informações
que tendem a construir uma confiança também nas técnicas utilizadas, nos chás, suplementos,
dietas e doadores dispostos a “ajudar” as tentantes sem receber nenhuma troca financeira para
isso. Muitas enxergam esse gesto como altruísta e reforçam a identidade daquela pessoa
como de um “doador confiável”, o indicando para outras mulheres que procuram.
Neste trabalho, busquei apresentar brevemente o campo em que estou inserida, seus
sujeitos principais e as reflexões iniciais que tenho tratado juntamente com essas pessoas.
Essas reflexões, até o momento, se apresentam muito mais na forma de questionamentos para
os leitores, do que como respostas, tendo em vista que esta é uma pesquisa em andamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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110
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112
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE 
GÊNERO NA EDUCAÇÃO: OS DIREITOS 
HUMANOS E A ATUAÇÃO DA ESCOLA 
Wezelley Campos França​33

1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema a diversidade sexual e a identidade de gênero na
escola a partir de um olhar sobre a abordagem dos direitos humanos na escola, analisando
diferentes estereótipos presentes nas práticas pedagógicas, profundamente arraigadas no
cotidiano escolar.
Enfrentando a temática do preconceito e da discriminação, as questões de investigação
tomam, como ponto de partida das análises, diferentes aspectos da pesquisa em educação, a
saber: diversidade sexual e identidade de gênero no âmbito educacional, a escola e os direitos
humanos acerca do combate às praticas discriminatórias, e os novos rumos a se pensar sobre
as temáticas de gênero, sexo e sexualidade no chão da escola: perdas, ganhos e desafios
futuros.
Salientamos que a diversidade sexual e a identidade de gênero precisam ser
compreendidas como uma noção em expansão, que enfrenta muitos desafios, por abarcar
realidades complexas e diferentes dimensões, pois as formas de expressão da sexualidade e a
variedade das práticas sexuais são construções sociais e históricas, que, no âmbito escolar,
devem estar pautadas na promoção da educação em direitos humanos, apostando, assim, na
contribuição da educação para os processos de democratização das nossas sociedades.
Muitos autores conceituam a reflexão sobre os laços profundos entre educação e
normalização social, entre a escola e os interesses biopolíticos, que devem questionar e
propor algo distinto, não normalizador ou compulsório, a partir de um educar fincado não em
modelos e conteúdos que o precedem, mas, em um novo olhar para a escola e para a
educação, onde a ilusão da neutralidade quanto à construção ideológica de uma hegemonia
identitária deve ser vinculada a alguns interesses – e não a outros, a fim de analisarmos o

33
Especialista em Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Questões Étnico-Sociais ou Raciais, e Gestão
Escolar: Administração, Supervisão e Orientação, Licenciatura em Pedagogia. São Fidélis – RJ. E-mail:
wezelleyfranca@gmail.com
113
preconceito, a desigualdade entre os sexos, a construção de identidade de gênero e as
discriminações referentes à orientação sexual na educação, especificamente nas escolas.
As argumentações aqui registradas têm por objetivo primordial multiplicar as
possibilidades de reflexão sobre diversidade sexual e a identidade de gênero e a
conscientização para o aprendizado como algo que se constrói incessantemente em um
diálogo com o que nos causa estranheza, ou seja, no contato com as diferenças e as relações
entre processos de ensino-aprendizagem e os silenciamentos impostos àqueles/as que são
social e culturalmente diferentes em nossa sociedade e o seu reconhecimento na educação.
Nesse contexto, a intenção dessa pesquisa é identificar e analisar a produção
bibliográfica realizada a partir da análise pormenorizada de materiais já publicados sobre as
temáticas de sexualidade e gênero e a aceitação de comportamentos antes considerados
ultrajantes dentro dos muros da escola.
A metodologia utilizada neste estudo é a qualitativa, com levantamento bibliográfico,
fundamentado nas ideias e concepções de diversos autores como: Andrade (2015), Bortolini
(2008), Candau (2003, 2018), Foucault (2018), Junqueira (2009), Louro (2004, 2014, 2016),
Santos (2019) e Torres (2013) e outros.

2. DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO NA ESCOLA


A escola é um ambiente no qual entramos em contato, desde a primeira infância, com
a diversidade humana e abordar as relações de sexualidade e o gênero neste espaço é de
suma importância para que o entendimento acerca da amplitude da Orientação Sexual tenha
um vínculo direto entre escola e a questão da sexualidade, para que não seja discutida apenas
como reprodução humana e sistemas genitais femininos e masculinos, pois, embora a
sociedade imponha determinados padrões de identificação e comportamento, a sexualidade é
muito mais do que isso, ela refere-se às relações interpessoais que são manifestados no
interior do indivíduo e na construção da sua própria identidade de gênero.

Basta entrar em uma sala de aula do ensino fundamental com um olhar sensível às
diferenças para que se evidencia a inadequação desta perspectiva. As crianças e
adolescentes “explodem” este modo de encará-los. Apresentam formas de
expressar-se, comportar-se, situar-se diante de distintas situações que questionam
nossas formas habituais, socialmente construídas, de lidar com elas. Diferenças de
gênero, físico-sensoriais, étnicas, religiosas, de contextos sociais de referência, de
orientação sexual, entre outras, se visibilizam e se expressam nos cenários
escolares. (CANDAU, 2018, p19).

Louro (2014) afirma ainda que:

114
As questões referentes a sexualidade estão, queira-se ou não, na escola. Elas fazem
parte das conversas dos/as estudantes, elas estão nos grafites dos banheiros, nas
piadas e brincadeiras, nas aproximações afetivas, nos namoros; e não apenas aí,
elas estão também de fato nas salas de aula – assumidamente ou não – nas falas e
atitudes das professoras, dos professores e estudantes. (LOURO, 2014, p135).

Para Louro e Torres (2014 e 2013), é importante compreender a sexualidade como


uma construção social, como fenômeno relacionado aos diversos contextos sócio-históricos
dos processos educacionais e que está na escola porque ela faz parte dos sujeitos em todos os
indivíduos presentes e desempenhando alguma atividade no âmbito escolar e que a orientação
sexual é um campo disciplinar pelo qual devemos discutir dentro da escola, mostrando que a
diversidade sexual não se reduz às diferenças sexuais.

Sujeitos masculinos ou femininos podem ser heterossexuais, homossexuais,


bissexuais (e, ao mesmo tempo, eles também podem ser negros, brancos ou índios,
ricos ou pobres etc.). O que importa aqui é considerar é que – tanto na dinâmica do
gênero como na dinâmica da sexualidade – as identidades são sempre construídas,
elas não são dadas ou acabadas num determinado momento. (LOURO, 2014, p.31).

A educação em sexualidade seria um dos pilares para uma mudança de atitude em


relação às práticas sexuais e às dinâmicas de gênero, uma vez que, quando essas práticas são
direcionadas a orientação sexual e abordam as relações interpessoais dos alunos é possível
perceber que os modelos e normas comportamentais traçados em função do sexo não são
naturais, mas construídos culturalmente, embora nos façam acreditar.
Existe um amplo campo de estudos e análises de legislações e reformas federais e
“diferentes correntes vêm produzindo teorias e categorização que nos ajudam a pensar essas
relações que envolvem igualdade, desigualdade e diferença.” (BORTOLINI, 2008, p.26) que
precisam ir além das perguntas ingênuas e dicotomizadas no âmbito educacional. Entretanto,
quando se quer uma análise mais específica, como por exemplo, sobre os conteúdos que
compõem a formação docente, o currículo dos cursos de pedagogia e licenciaturas, no que se
refere aos temas como educação sexual, sexualidade e relações de gênero, o campo de
estudos se restringe significativamente.
A década de 1990 e posterior são repletas de políticas de igualdade de gênero, e duas
importantes conferências internacionais (a Conferência do Cairo​34 em 1994 e Conferência de
Beijing​35 em 1995) ajudaram o Brasil na abordagem sistematizada sobre igualdade e
diversidade de gênero e sexualidades no espaço escolar. Quando estes temas interligados à
34
A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), que ocorreu no Cairo em 1994 é
reconhecida internacionalmente como um marco histórico para os direitos das mulheres.
35
A Conferência de Beijing (1995) ou IV Conferência Mundial sobre as Mulheres, reuniu mais de 180
delegações governamentais e mais de 2500 Organizações não Governamentais (ONG) no intuito de remover os
obstáculos ao empoderamento da mulher até o ano 2000, independente de suas especificidades étnicas, políticas,
sociais, econômicas, religiosas.
115
educação em sexualidade e gênero são abordados e incluídos na pauta educacional a
problemática dos Temas Transversais como, por exemplo, o debate sobre a gravidez na
adolescência, o aborto, a vulnerabilidade ao HIV/AIDS e a doenças sexualmente
transmissíveis, atravessa os diferentes campos do conhecimento e as ações de conscientização
teria um foco maior na prevenção do trabalho em sala de aula, indo de encontro ao exercício
da cidadania e integrados às distintas áreas curriculares.

Será a partir da situação presente, existencia, concreta, refletindo o conjunto de


aspirações do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da
situação ou da política, acrescentemos. O que temos de fazer, na verdade, é propor
ao povo,através de certas contradições básicas, sua situação existencial, concreta,
presente, como problema que, por sua vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta,
não só no risível intelectual, mas no nível da ação. (FREIRE, 1987, p.49)

Embora estejam ganhando maior densidade nos últimos anos, o tema da educação em
sexualidade e gênero ainda apresentam baixa visibilidade no âmbito da educação, pois “nos
discursos atuais, o apelo à diferença está se tornando quase lugar-comum (o que já nos leva a
sermos cautelosos, desconfiando de seu uso irrestrito.)” (LOURO, 2014, p.48).

A realidade de hoje guarda várias contradições. Ao mesmo tempo em que vemos e


convivemos cada dia mais com uma diversidade sexual cada vez mais rica e menos
rotulada, se mantêm e até se reforçam atitudes preconceituosas, discriminátorias e
violentas de diferentes pessoas, grupos e intituiçoes. (BORTOLINI, 2008, p. 28).

Portanto, se faz necessário que haja na escola a reflexão acerca da diversidade sexual
e de identidade de gênero, para que, talvez possamos compreender melhor como ela vem se
transformando, no que diz respeito a essas questões e entendendo como indissociável dos
debates mais amplos sobre diversidade, igualdade e diferença, para que esse conhecimento
permita subsidiar a reflexão da prática docente, de metodologias de aprendizagem aplicáveis
e condizentes aos conteúdos a serem trabalhados dentro das disciplinas que abordem
conteúdos relativos à sexualidade humana, diversidade sexual e de gênero, de maneira mais
eficaz e eficiente para a inserção de uma educação para a sexualidade e gênero no cotidiano
escolar.
Dessa forma, romper com os paradigmas dominantes dando visibilidade aos
movimentos sociais negros, feministas, LGBT​36​, de pessoas com necessidades educacionais

36
​São muitas as representações envolvidas, além das várias mudanças na sigla representativa desse movimento
no Brasil. A mais comum, GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) foi substituída por GLBT (com inclusão de
Bissexuais e Transgêneros e exclusão dos Simpatizantes). A sigla aqui adotada, LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), segue deliberação da I Conferência Nacional LGBT,
realizada em 2008. Há controvérsias quanto à nomeação de todos os T’s, a inclusão de um Q (para queers) ou
um A (para assexuais), um I (para intersexos), um P (para pansexuais) um + (por vezes adicionado ao final para
representar qualquer outra pessoa que não seja coberta pelas outras oitos iniciais), mas há um consenso na busca
116
especiais, entre outros, que tem cooperado para a ressignificação destes grupos que
historicamente foram silenciados e subjugados por não estarem enquadrados dentro dos
limites estabelecidos por grupos hegemônicos.

Escola, currículos, educadoras e educadores não conseguem se situar fora dessa


história. Mostram-se, quase sempre, perplexos, desafiados por questões para as
quais pareciam ter até pouco tempo atrás, respostas seguras e estáveis. Agora, as
certezas escapam, os modelos mostram-se inúteis, as fórmulas são inoperantes.
Mas é impossível estancar as questões. Não há como ignorar as “novas” práticas,
os “novos” sujeitos, suas contestações ao estabelecido. A vocação normalizadora
da Educação vê-se ameaçada. O anseio pelo cânone e pelas metas confiáveis é
abalado. A tradição imediatista e prática leva a perguntar: o que fazer? A aparente
urgência das questões não permite que se antecipe qualquer resposta; antes é
preciso conhecer as condições que possibilitaram a emergência desses sujeitos e
dessas práticas. (LOURO, 2004, p.28-29)

Há ainda que se acrescentar que a busca por uma educação que contemple a
diversidade e comporte as diferenças de gênero parte da formulação de uma concepção de
ensino menos conservadora e uma proposta educacional que apliquem princípios e
metodologias que atendam todos os tipos de alunos acerca das novas realidades, por meio de
processos pedagógicos inclusivos. A escola foi, durante muito tempo, um local de
normalização, por isso, abordar a identidade de gênero é fugir das armadilhas da
padronização da sexualidade, que ajusta todos ao modelo heterossexual, concebendo todos os
sujeitos com um desejo único (o sexo oposto), tida como a única e natural possibilidade de
expressão de gênero e sexualidade.

3. A ESCOLA, OS DIREITOS HUMANOS E O COMBATE ÀS PRÁTICAS


DISCRIMINATÓRIAS
A sexualidade, em seus múltiplos arranjos de gênero e formas de expressão, no lócus
educacional, é estabelecida como as descobertas, escolhas, práticas, fantasias e experiências
relacionadas ao ato sexual que ao longo da vida é construído pelas pessoas, como algo natural
e ínsito ao ser humano em todas as interações de sua vida social.
Com a intenção de se institucionalizar um padrão heterossexual as manifestações das
demais sexualidades são condenadas e as atitudes acerca da homogeneização dos
comportamentos sexuais dos alunos não apenas transmitem e reproduzem a discriminação,
mas muitas vezes são produzidas e cultivadas e esses estudantes, que amiudadamente,
sentindo-se anormais, destoantes, se afastam dos demais, convivendo entre si em grupos
quase fechados, como tentativa de fuga das humilhações constantes, gerando desinteresse

por inclusão das mais variadas dimensões da construção das desigualdades trazendo à tona pertencimentos
sexuais e de gênero.
117
pelo estudo convencional, uma vez que, não enxergam o sentido em estar em um local pelo
qual se vêm hostilizados.

Ora se a identidade heterossexual fosse, efetivamente, natural (e, em contrapartida,


a identidade homossexual fosse ilegítima, artificial, não natural), por que haveria a
necessidade de tanto empenho para garanti-la? Por que vigiar para que os alunos e
alunas não resvalem para uma identidade desviante? Por outro lado, se admitimos
que todas as formas de sexualidade são construídas, que todas são legítimas mas
também frágeis, talvez possamos compreender melhor o fato de que diferentes
sujeitos, homens e mulheres, vivam de vários modos os seus prazeres e desejos.
(LOURO, 2014, p. 85).

“A transversalidade pressupõe, portanto, um tratamento integrado das áreas e uma


vivência no âmbito da organização da escola e dos valores trabalhados em sala de aula.”
(LIBÂNEO, 2013, p.165). No entanto, quando o assunto é a homossexualidade, a escola
absolutamente camufla diferentes discursos enviesados por meio de tentativas mal
disfarçadas de normalidade distante, com uma tolerância compulsória, e atitudes
discriminatória e preconceituosa, recorrência da mais completa ignorância e de posturas
desrespeitosas, discriminatórias, sendo notória a necessidade de se analisar como os
homossexuais são incluídos (ou não) no ambiente escolar.
A escola sempre se mostrou como a instituição por excelência de reprodução dos
valores da sociedade moderna e formação humana, com isso, inevitavelmente, ainda
associamos a massificação da homofobia na escola a postura da gestão escolar e de alguns
professores, que não desconstroem estas práticas homofóbicas, acreditando em práticas ainda
arraigadas em princípios fundamentalistas, elitistas, racistas e sexistas, as quais despertam as
indiferenças e o ódio, preconceito e violência no âmago das relações de nossa sociedade.
Junqueira (2009) aponta que:

Essa invisibilidade a que estão submetidas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e


transexuais comporta a sua exclusão enquanto tais do espaço público e, por isso,
configura-se como uma das mais esmagadoras formas de opressão. É inquietante
notar que alguém que não pode existir, ser visto, ouvido, conhecido, reconhecido,
considerado, respeitado e tampouco amado pode ser odiado. (JUNQUEIRA, 2009,
p. 30).

Para superar essa realidade, o Governo Federal, articulado com o movimento social
LGBT, criou no Brasil, no ano de 2004, o programa Brasil sem Homofobia, com o objetivo
de promover a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis
transgêneros e transexuais (LGBT), a partir da equiparação de direitos e do combate à
violência e à discriminação, banindo a indiferença e reconhecer a diversidade sexual, ademais
da pluralidade de identidade de gênero, por intermédio das práticas de ensino que
contemplem a abordagem da diversidade sexual em ações voltadas ao respeito, à superação
118
da homofobia e à não-discriminação por orientação sexual e identidade de gênero,
estimulando a pesquisa e a disseminação de conhecimentos que contribuam para o combate
da violência e da discriminação de LGBTs.

Fomentar e apoiar cursos de formação inicial e continuada de professores sobre


sexualidade; formar equipes para avaliar livros didáticos e eliminar aspectos
discriminatórios por orientação sexual e identidade de gênero; estimular a
produção de materiais educativos sobre orientação sexual e identidade de gênero e
superação da homofobia; apoiar e divulgar a produção de materiais específicos
para a formação de professores; divulgar informações científicas sobre
sexualidade; estimular a pesquisa e a difusão de conhecimentos que contribuam
para o enfrentamento da violência e da discriminação de LGBT; instituir um
subcomitê, com participação do movimento LGBT, para acompanhar e avaliar a
implementação do BSH - Programa Brasil Sem Homofobia. (JUNQUEIRA, 2009,
0016-8)

O fato é que não se fala abertamente e conscienciosamente a respeito do tema da


sexualidade, apesar de todos/as saberem que ela está presente nas relações sociais dentro da
escola, abrindo espaço para a exacerbação das criminosas e desumanas práticas homofóbicas,
que em muitas das vezes, se iniciam com piadinhas, apelidos vexatórios, com “inofensivos”
bullyings dando margem para agravantes como o abandono e exclusão e culminam em
agressões mais graves e mesmo em violências brutais e terminam até em homicídios, as quais
temos assistido diuturnamente em expressões ainda bastante comuns de violência e de
agressividade em nossa sociedade. Isto posto, não é mais possível que a escola continue
muda e praticamente, cúmplice de um perfil de educação que não cumpre o seu papel.
O papel da escola juntamente com os educadores, também é identificar as reais causas
desses agravantes, tornando possível traçar estratégias e modos de acolhimento, para a
tentativa de dissuasão de preconceitos e de práticas discriminatórias e mesmo criminosas,
levantando informações, discussões e propor reflexões, atentos ao que os estudantes anseiam
para si e não somente determinar como eles irão se portar, quando e sobre o que poderão
falar, de que forma irão se vestir, com quem irão manter relacionamentos sexuais ou afetivos.
Porém, é preciso, também, tornar claro o fato de que:

Possivelmente, as marcas permanentes que atribuímos às escolas não se refletem


nos conteúdos programáticos que elas possam nos ter apresentado, mas sim se
referem a situações do dia-a-dia, a experiências comuns ou extraordinárias que
vivemos no seu interior, com colegas, com professoras e professores. As marcas
que nos fazem lembrar, ainda hoje, dessas instituições têm a ver com as formas
como construímos nossas identidades sociais, especialmente nossa identidade de
gênero e sexual. (LOURO, 2016, p. 18)

Concomitantemente,

119
A escola configura-se um lugar de opressão, discriminação e preconceitos, no qual
e em torno do qual existe um preocupante quadro de violência a que estão
submetidos milhões de jovens e adultos LGBT – muitos/as dos/as quais vivem, de
maneiras distintas, situações delicadas e vulneradoras de internalização da
homofobia, negação, autoculpabilização, auto-aversão. E isso se faz com a
participação ou a omissão da família, da comunidade escolar, da sociedade e do
Estado. (JUNQUEIRA, 2009, p.15)

Portanto, é preciso estarmos atento a necessidade de uma formação continuada no


que toca a temática da homossexualidade dentro do campo educacional, para melhor
compreensão das práticas docentes no contexto escolar e termos de fato uma escola inclusiva,
democrática, igualitária e não homofóbica, pois a partir do momento que a homofobia passa a
ser vista como natural, ela é impregnada na escola, através das manifestações de desrespeito e
de intolerância, as quais desembocam, muitas vezes, em violências físicas, simbólicas ou
verbais.
Para Canário (2013):

A escola que temos hoje e que cresceu de uma maneira exponencial na segunda
metade do século XX em todo o mundo, que é a escola herdada do século XIX, é
uma escola que perdeu o prazo de validade, é obsoleta e não tem futuro. Não sou
adivinho, não faço profecias, portanto não posso dizer como vai ser a educação
daqui a cinquenta anos. Agora, o de que estou convicto é que a escola já está
sofrendo uma mutação profunda e passando por uma situação que não tem volta,
quer dizer, a escola não tem retorno, é uma suposta idade de ouro do passado em
que funcionava bem, os atuais problemas que a escola tem, e que são muito graves,
são inultrapassáveis com base na própria lógica da escola. (CANÁRIO. 2013,
p.326, apud CANDAU. 2018, p.28 ).

Dessa forma o nosso olhar não pode favorecer uma visão homogeneizadora, de modo
uniforme, senão os objetivos das escolas, um dos considerados básicos, constitutivos da
própria configuração da instituição escolar, que é a formação para a cidadania, estará
silenciando-se, uma vez que, se a ausência de valores como a igualdade, o respeito ao
próximo e às diferenças e o combate ao preconceito e a violência, forem presentes nos
discursos da escola, outros mecanismos que revelam que bulllying, desrespeito, preconceitos
e estereótipos também vão integrar o cotidiano escolar.

4. NOVOS RUMOS A SE PENSAR SOBRE TEMÁTICAS DE GÊNERO, SEXO E


SEXUALIDADE NO CHÃO DA ESCOLA: PERDAS, GANHOS E DESAFIOS
FUTUROS
O debate sobre as temáticas de gênero, sexo e sexualidade no “chão da escola”
torna-se cada vez mais necessário, por ser terreno fértil para as discussões acerca da educação
que se propõe a estabelecer metas de desenvolvimento e crescimento na perspectiva que traz
consigo a garantia da inclusão da discussão da sexualidade como um direito social de
120
crianças e adolescentes. Decerto que, o presente e o futuro dependem desta inclusão a pensar
novos rumos à gestão escolar não pode ficar atada a conteúdos sem que estes nos levem à
reflexão e à aplicação no cotidiano. Ela, “ao cumprir sua função social de mediação, influi
significativamente na formação da personalidade humana e, por essa razão, não é possível
estruturá-la sem levar em consideração objetivos políticos e pedagógicos.” (LIBÂNEO, 2013,
p.117). para então, realizar um trabalho em que o ser humano seja o centro do processo
educacional, tendo um olhar amplo, voltado para o ser humano como um todo.
A sociedade brasileira precisa avançar na compreensão do papel da escola na
construção da cidadania e na formação de sujeitos críticos e comprometidos com os Direitos
Humanos e se quisermos uma sociedade mais justa e segura, os temas sexualidade e gênero
devem ser tratados de forma que contemplem a dimensão dos direitos sexuais, da diversidade
sexual e da igualdade entre os gêneros e repensar a educação atual do país, seria reescrevê-la,
baseando seus princípios no envolvimento de todos. Portanto, a discussão de gênero e as
relações de poder entre os sexos, que desencadeiam e justificam desigualdades e
discriminações, é dever da escola, das famílias e demais instituições.
As questões que envolvem a diversidade sexual e identidade de gênero são complexas
e não devem ser encaradas “como um ímpeto rebelde, estranha por natureza e indócil por
necessidade a um poder que, por sua vez, esgota-se na tentativa de sujeitá-la e muitas vezes
fracassa." (FOUCAULT, 2018. p.112), pois exigem estudo por parte da gestão escolar para
estabelecer cuidados e se ressignificar no firme própósito de fazer uma abordagem segura e a
fim de descentralizar essa guerra silenciosa, onde os alvos são salientados sem marcas
externas, fator que intensifica a sujeição e perdas.
Não é o gênero e a sexualidade que afeta a educação, mas a sua não aceitação num
mundo onde se quer classificar todas as coisas. Por que insistir em classificar algo “sui
generis”​37​? Candau (2003, p.29) aponta que “a escola não está preparada para lidar com um
aluno diferente do idealizado e as manifestações das diferenças são ainda bastante
desestabilizadoras” e neste sentido, romper com os preconceitos é um dos percalços a ser
enfrentado, devido à própria vulnerabilidade às ausências nitidamente marcadas no contexto
escolar pelo silenciamento e invisibilidade do uso do conceito de diversidade, por conta de
um despreparo que é latente na formação dos professores para lidarem com a questão,
trazendo à tona uma fragilidade no conflito gerado pela falta debate dessas temáticas, o
espetáculo perverso da perseguição e humilhação ao “outro” principalmente aquele que sente

37
Termo de origem latina ​Sui generis​ significa, literalmente, "de seu próprio gênero", ou seja, "único em seu
gênero”.
121
na pele a discriminação e intolerância e que não cabe mais ser visto como diferente, o
bullying, o bloqueio, o preconceito e a negação do reconhecimento reservados à diversidade
sexual e identidade de gênero, excluindo sujeitos, saberes e possibilidades distintas de
experiência, levando ao fracasso e abandono escolar.
O problema é que sexualidade ainda é um tabu em nossa sociedade e a escola não fica
fora disso, no entanto, os ganhos na educação só acontecerão quando a escola for vista como
um espaço não só para ensinar letras e números, mas também para promover cidadania. Para
isso, ela precisa se tornar um ambiente democrático e inclusivo, de defesa da equidade como
um dos pontos principais para a consolidação dos preceitos de uma sociedade justa,
igualitária e aberta à diversidade, onde estudantes poderão aprender que é possível o convívio
com a diferença longe da violência, opressão, segregação e nenhum tipo de discurso de ódio
no âmbito escolar, levando essas questões para a sala de aula com material didático
apropriado, sem preconceito, estereótipos e questões morais e religiosas, difundindo-se a
ideia da oportunidade de acesso como via para a promoção da equidade social, pressupondo
igualdade de oportunidades.

“É necessário repensar o modelo de educação e propor formas de ensino e de


aprendizagem que possam, ao mesmo tempo, respeitar as diferenças e promover o
desenvolvimento dos indivíduos e dos coletivos sociais, rompendo silenciamentos
impostos e construindo práticas pedagógicas mais dialógicas.” (ANDRADE, 2015,
p.157)

Repensar significa ressignificar, e isto é importante para uma gestão educacional


enxergar que o modelo piramidal das relações mudou e “por isso, devemos ficar atentos ao
modo como a escola pode contribuir para alterar e combater os argumentos que excluem a
população LGBT.” (TORRES, 2013, p.57), investindo na formação de um corpo docente
qualificado e competente, revisando o currículo, possibilitando que a abordagem do assunto,
formação e atualização valorize todos os tipos de identidade, para que os estudantes que
sofrem preconceito e violência se sintam acolhidos por uma escola que promova igualdade de
gênero para todos e todas e, quem sabe em um futuro bonito, terá a potência de formar uma
sociedade livre do ódio, violência ou perseguição.
As “formas de saberes articulando-se em afirmações morais que não valorizam a
diversidade sexual e, por vezes, inferiorizam a comunidade LGBT” (TORRES, 2013, p.56),
são ideias preconcebidas que trazem fruto do desconhecimento, que condenam sem pelo
menos pesquisar e conhecer melhor o assunto. Isto posto, os desafios futuros estão nos
olhares sobre as temáticas de gênero, sexo e sexualidade, de modo que o trabalho com esses

122
temas não reproduzam confusões conceituais ou má interpretação das teorias que discutidas
em torno das questões de gênero e sexualidade.

5. CONCLUSÃO
Diante do exposto, é possível refletir de que em uma sociedade marcada pela
heteronormatividade, as discussões acerca das temáticas de gênero, sexo, sexualidade e
direitos humanos permeiam todos os âmbitos sociais. A escola, por sua vez, como uma das
esferas sociais também apresenta várias problemáticas relacionadas aqui, dado que hoje ao
abordar estas temáticas a escola ainda se omite, apresentando-se como local de ignorância a
esse respeito, uma vez que, reproduz as imposições advindas da sociedade tradicional.
Considera-se que a escola tem um papel fundamental no combate às práticas
discriminatórias e a violência, no entanto, comumente preferem não discutir o tema ou negam
a sua existência, pois o olhar do aluno heterossexual a respeito do aluno homossexual ainda é
embasado em certo preconceito. Dessa forma a escola, enquanto um ambiente fundamental
para romper com as arraigadas concepções sociais e excludentes e gerenciador dos processos
de aprendizagem, propostas curriculares e ações pedagógicas que valorizem as diferenças e
respeitem a diversidade, não pode se silenciar, mas sim corroborar a uma educação que se
volte para os direitos humanos.
Nesse ínterim, a escola, que deveria abraçar as diferenças, pode ser o ambiente mais
opressivo que existe e para combater o silenciamento das temáticas de gênero, sexo,
sexualidade dentro dos muros da escola é pertinente torná-las um objetivo para escola
alcançá-lo. Precisamos pensar e implantar ações que promovam mudanças, a fim de integrar
essas temáticas às práticas pedagógicas, no intuito de minimizar ou sanar posturas
preconceituosas, permitindo as manifestações de suas peculiaridades, sem descaracterizá-las.
As questões de gênero acabam por adentrar os portões das escolas, e cotidianamente,
novos rumos a se pensar sobre as temáticas de gênero, sexo e sexualidade no chão da escola
ganham novos e constantes espaços. Torna-se necessário uma reestruturação do olhar da
escola, indo de encontro às mudanças em suas relações com o outro, as transformações de
ideias, de atitudes e da prática das relações sociais acerca da diversidade sexual e identidade
de gênero na escola.
Dado o exposto, é imprescindível que a educação, a escola e todos os seus atores não
se silenciem, mas sim, através de estudo, saiam da zona de conforto dos ditos homem e
mulher “padrão”, dispostos a ampliar o caminho trilhado com alternativas que despertem
realizar um trabalho com ganhos e desafios futuros e até mesmo às perdas, oriundas do
123
enfrentamento de situações complexas, pela qual, muitas das vezes não sabemos como
trabalhá-las e por isso deixamos os questionamentos em aberto por medo de não agir
“corretamente”.

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2013. Disponível em: <​http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002213/221314por.pdf​>.
Acesso em: 26 mai. 2020.

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Disponível em:
<​http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/FIELD/Brasilia/pdf/Orientacoes_ed
ucacao_sexualidade_Brasil_preliminar_pt_2013.pdf​>. Acesso em: 26 mai. 2020.

125
RESUMOS APRESENTADOS
CINEMA E REPRESENTATIVIDADE LÉSBICA:
da subjetivação à resistência

Déborah Juliana de Albuquerque Teles​38


Emilly Aiany de Araújo Brito​39
Isabela Amblard​40

Resumo​: O cinema, reconhecido enquanto grande máquina produtiva pela capacidade de


elaborar e difundir modos de percepção de mundo, surgiu no século XX. Desde então, as
produções audiovisuais são pautadas no conceito de endereçamento, ou seja, baseiam-se no
argumento de que um filme atinge determinado público quando o espectador entra “em uma
relação particular com a história”. A representatividade, a partir do modo de endereçamento,
se faz necessária devido ao apagamento histórico, político e social de mulheres lésbicas e
bissexuais (LB) viabilizado por uma sociedade sexista e LGBTIfóbica. Comumente, as
películas invisibilizam a população LGBTI ou expressam uma visibilidade ceifada pelo
preconceito velado na trama, assim, os filmes que abordam essa temática de maneira não
heteronormativa tendem a causar grande efeito em mulheres que estão se descobrindo
lésbicas/bissexuais, ou que, após tal descoberta, se sentem identificadas com a história
apresentada. Essa pesquisa, de cunho qualitativo, se constitui a partir da análise de filmes e
bibliografias que discutem os processos de subjetivação e a cinematografia lésbica. O
aumento de películas nesta temática nos últimos dez anos é representativo e interpretado por
um viés de reconhecimento de mulheres LB nessas histórias. A identificação ocorre a partir
do processamento das imagens assistidas e incorporadas à subjetividade, num processo social
ininterrupto no qual os componentes de subjetivação são apropriados de modo individual.
Diante desta possibilidade, o cinema produz subjetividades, a partir de enredos e personagens
que, por sua vez, viabilizam processos de singularização e constroem resistência. A
identificação pode constituir o orgulho de ser quem é e, portanto, reconhecer-se na luta
LGBTIQA+. O cinema enquanto produção audiovisual não pretende produzir subjetividades,
entretanto, as dinâmicas das películas revelam ao espectador seus próprios desejos,
convicções, modos de sentir/pensar e, portanto, a apropriação seletiva destes fragmentos se
dá de modo que o cinema contribui à constituição subjetiva.
Palavras-chave​: lesbianidades; subjetivação; cinema; visibilidade; resistência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUMONT, J. ​A Estética do Filme​. Campinas: Papirus Editora, 2012.

BIANCHI, N. S. Em busca de um cinema lésbico nacional. ​Revista Periódicus​, 2017. v. 1, n.


7, p. 236.

CARVALHO, P. R. DE; PASSINI, P. M.; BADUY, R. S. Cinema e psicologia: dos

38
Graduanda do curso de Psicologia na Universidade de Pernambuco – campus Garanhuns. E-mail:
deborahj.albuquerque@gmail.com
39
Graduanda do curso de Psicologia na Universidade de Pernambuco – campus Garanhuns. E-mail:
emilly.aiany@hotmail.com
40
Professora Adjunta da Universidade de Pernambuco, Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de
Pernambuco. E-mail: isabela.amblard@upe.br
126
processos de subjetivação na contemporaneidade. ​Psicologia em Estudo​, 2015. v. 20, n. 3, p.
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ELLSWORTH, Elizabeth. Modos de endereçamento: uma coisa de cinema; uma coisa de


educação também. In: SILVA, Tomas Tadeu da (org.). ​Nunca fomos humanos​: nos rastros
do sujeito. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 7-76.

GUATTARI, F. O Divã do Pobre. In C. Metz, J. Kristeva, F. E. Guattari, & R. Barthes


(Orgs.), ​Psicanálise e Cinema​. São Paulo: Global Editora, 1980.

GUATTARI, F. & ROLNIK, S. Micropolítica: Cartografias do Desejo. Petrópolis: Editora


Vozes, 2005.

127
MEMÓRIA E RESISTÊNCIA LGBTI+:
presença nos museus em busca de uma consciência histórica

Ana Beatriz Ferro de Melo​41


Ana Beatriz Campos de Oliveira​42
Beatriz Saad Sabino de Campos Faria​43
Luiz Henrique Fernandes Musmanno​44

Resumo​: ​Memória e Patrimônio são intrínsecos à consciência histórica e social. A exclusão


da cultura LGBTI+ de museus e patrimônios configura o silenciamento e o fortalecimento da
vulnerabilidade social desse grupo. Essa exclusão está enraizada em pilares patriarcais da
cultura nacional que fomentam a fobia à diversidade sexual. O objetivo do estudo foi
observar no contexto histórico a relação entre a memória LGBTI+ com museus e o
patrimônio cultural. Trata-se de uma revisão da literatura que analisou artigos 6 publicados
em revistas e livros no período de 2013 a 2020. Estudos apontam que mesmo com sua função
de preservar a história e memória de povos, os museus ainda falham para retratar a cultura da
população LGBTI+, de modo que a diversidade cultural ainda é um assunto pouco recorrente
nesses ambientes. No entanto, vale lembrar o caso do índio Tibira, mais conhecido como o
primeiro caso de homofobia no Brasil, em que o índio foi amarrado à boca de um canhão e
morto por identificar-se como homoafetivo. Nesse caso, é um fato muito marcante, tendo em
vista que há um patrimônio histórico escrito por um missionário francês que relata o caso,
permitindo que possamos perceber, de fato, a presença da memória e da resistência LGBTI+
desde o início da colonização brasileira e sua necessidade para a consciência histórica. Além
desse caso, atualmente temos alguns exemplos de museus que ressaltam a resistência
LGBTI+ por meio da exaltação de artistas pertencentes ao grupo e de obras que relatam a
vivência e a experiência enfrentada por eles que são, ainda, negligenciados, como o Fun
Museu em Balneário Camboriú que homenageia a comunidade LGBTQI+ e o Museu de
Sexualidade da Bahia em Salvador que aborda temas sobre a conscientização contra a
homofobia e a trajetória e luta do Grupo Gay da Bahia. Portanto, conclui-se que, apesar de
termos exemplos positivos, a memória ainda é seletiva e construída com base em uma
história que valoriza a prevalência da heteronormatividade, fazendo com que parte da
população LGBTI+ continue a ser negligenciada na seleção das artes e dos artistas. Muitos
tabus ainda são construídos em torno dessa seletividade, como, por exemplo, a associação
inverídica de que temas que envolvam a sexualidade e estão relacionados com algo erótico e
sexual. Logo, considerando essa marginalização, estudos apontam que a inclusão da cultura
LGBTI+ em museus e locais de patrimônio histórico é de extrema importância para a
integração dessa população, de modo que seu trabalho será, enfim, reconhecido e sua
memória coletiva, perpetuada, já que um retalho solto é extremamente frágil, mas uma colcha
é surpreendentemente protetiva e todos precisamos dessa proteção.
Palavras-chave: ​Educação; LGBT; Memória; Museal; Museus; Patrimônio; Resistência.

41
Ensino Superior Incompleto. Graduanda na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia- GO. anabiaferrodemelo@gmail.com.
42
Ensino Superior Incompleto. Graduanda na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia- GO. abcoliveira.med@gmail.com.
43
Ensino Superior Incompleto. Graduanda na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia – GO. beatrizsaadsabino@gmail.com.
44
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS. Médico da SMS
Goiânia. Goiânia- GO. musmanno@gmail.com
128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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memória no Brasil​. p. 108–119, 2017.

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nos Museus LGBT​: entre muros, vergonhas nacionais e sonhos de um novo país 252. 2018.

BOITA, Tony. ​Revista Memórias LGBTIQ+​. 11, 2020.

BOITA, Tony Willian. ​Memória LGBT​: Mapeamento e Musealização em Revista. p. 62,


2014. Disponível em:
<​http://www.cienciassociais.ufg.br/up/106/o/TCC_Tony_Museologia_UFG_2014.pdf​>.
Acesso em: 12 de set. de 2020.

BRAZ, Camilo e colab. ​Saindo de caixas, gavetas e pastas​: uma experiência de articulação
entre militância, arquivologia e ciências sociais na produção de memórias LGBT em Goiás.
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PINTO, Renato. Museus e diversidade sexual: reflexões sobre mostras LGBT e QUEER.
Revista Arqueologia Pública​, v. 5, n. 1, p. 44, 2015.

129
MECANISMOS DE ORGANIZAÇÃO E RESISTÊNCIA DAS MULHERES
LÉSBICAS NAS DÉCADAS DE 70 E 80

Isabel Ceccon Iantas​45


Marina de Fátima da Silva​46

Resumo​: O presente artigo analisa as maneiras de organização da resistência política das


mulheres lésbicas, durante as décadas de 70 e 80, no contexto da ditadura civil-militar no
Brasil. A partir do protagonismo das organizações lésbico-feministas, dentro do ativismo
político do período, ocorreram manifestações importantes na história do movimento lésbico e
do movimento LGBTI+ como um todo. Dessa forma, a construção da resistência à ditadura
também deu início à formação e solidificação de uma militância lesbofeminista ativa. Foi por
meio de levantes, como o Levante do Ferro’s Bar, a organização em coletivos, como o Grupo
de Ação Lésbico Feminista (GALF), e a publicização de revistas, como o ChanacomChana,
que mulheres lésbicas quebraram a hegemonia masculina dentro da luta LGBTI+. Assim, a
partir da análise desses mecanismos encontrados para resistir às perseguições características
tanto da ditadura civil-militar brasileira, quanto da própria sociedade, demonstra-se a
importância da construção de grupos de militância lésbica, bem como da propagação de
informações e pautas, por meio da mídia contra hegemônica, como ferramenta da resistência
e conquista de espaços. Por fim, ressalta-se a essencialidade do movimento lésbico na
construção de um movimento LGBTI+ autenticamente nacional.
Palavras-chave​: movimento lésbico; resistência lésbica; ditadura civil-militar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Aline do Nascimento. Facção lésbico feminista e o surgimento do lesbofeminismo
no Brasil. ​Revista Ensaios de História​, v. XIX, n. 1/1, p. 130-147, 2018.

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ditadura e o movimento de gays e lésbicas de São Paulo na época da abertura. ​Acervo​, v. 27,
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SOARES, Gilberta Santos; COSTA, Jussara Carneiro. Movimento lésbico e movimento


feminista no Brasil: recuperando encontros e desencontros. ​Estudos Feministas​,
julho/dezembro 2011 - janeiro/junho 2012. Disponível em:
<​https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/direitos-humanos/direitos-da-populac
45
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, isabel.iantas9@gmail.com.
46
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, fsmah22@gmail.com.
130
ao-lgbt/artigos_teses_dissertacoes/movimento_lesbico_e_movimento_feminista_no_brasil_re
cuperando_encontros_e_desencontros_1.pdf​>. Acesso em: 15 de jul. de 2020.

WOITOWICZ, Karina Janz. A resistência das mulheres na ditadura militar brasileira:


imprensa feminista e práticas de ativismo. ​Estudos em Jornalismo e Mídia​, vol. 11, nº 1, p.
104-117, janeiro a junho de 2014.

131
DE ​CHANANACOMCHANA​ A ​UM OUTRO OLHAR​:
as transformações na imprensa lésbico-feminista brasileira (1981-1997)

Júlia Glaciela da Silva Oliveira​47

Resumo​: Entre os anos de 1980 e 1990, diversos países latino-americanos, a exemplo da


Argentina, do Brasil e do Chile, retornaram à via democrática. No Brasil, bem como em
outros países, este período foi marcado pela adoção ou fortalecimento de projetos neoliberais.
Essa profunda mudança política, marcada pela diminuição do papel do Estado, foi
acompanhada por uma rápida expansão das Organizações Não Governamentais (ONGs) e
pela incorporação de alguns pontos da agenda dos movimentos sociais pelo Estado. Este
contexto político favoreceu o processo de “onguização”, isto é, alterações estruturais que
passaram a modelar as ONGs, as quais passaram a desenvolver projetos, financiados por
agências de cooperação internacional, contendo, na maioria das vezes, equipes especializadas
e remuneradas. Muitos movimentos sociais se institucionalizaram, entre eles, coletivos
feministas e lésbico-feministas latino-americanos. A imprensa lésbica-feminista brasileira
não passou ilesa a este processo. Em 1981, emergiu no cenário político brasileiro o Grupo de
Ação Lésbico Feminista (GALF) com o intuito de dar visibilidade às demandas específicas
das mulheres lésbicas. Em seu primeiro ano, o GALF publicou o boletim ​Chanacomchana.
Com uma linguagem radical e irônica, a publicação trouxe a público discussões sobre amor
entre duas mulheres, sexualidade e “enrustimento”, temas que, até então, eram considerados
tabus. Em 1987, o periódico saiu de circulação e, no ano seguinte, o grupo passou a editar o
boletim “Um Outro Olhar” (UOO). A drástica mudança do nome veio acompanhada de uma
maior periodicidade, de alterações no corpo editorial, da adesão à Rede de Lésbicas
Latino-Americanas e aos projetos de cooperação internacional. Em decorrência deste
processo, em 1989, o GALF deixaria de existir para dar vida à Rede Um Outro Olhar, uma
organização sem fins lucrativos. Assim, abordaremos os impactos de tais mudanças na
linguagem e no engajamento no periódico que, naquele período, era uma das vozes do
movimento lésbico brasileiro.
Palavras-chave​: imprensa; movimento lésbico; onguização; Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ALVAREZ, Sonia. Beyond NGO-ization? Reflections from Latin America. ​Development​, n.
52, Vol. 2, 2009.

____. “A ‘globalização’ dos feminismos latino-americanos: tendências dos anos 90 e desafios


para o novo milênio”. In: ALVAREZ, Sonia; DAGNINO, Evelina, ESCOBAR, Arturo.
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Horizonte: Editora UFMG, 2000 .

FERNANDES, Marisa. “Ações Lésbicas”. In: GREEN, James; QUINALHA, Renan;


CAETANO, Marcio; FERNANDES, Marisa (Org.). ​História do Movimento LGBT no
Brasil. ​São Paulo: Alameda, 2018.

47
Doutora em História Social (FFLCH/USP), mestre em História Cultural (IFCH/UNICAMP) e graduada e
licenciada em História (UEL). Atualmente, é professora EBTT do Instituto Federal do Paraná, onde desenvolve
e orienta pesquisas sobre Relações de Gênero e História da América Latina, especialmente relacionadas à
imprensa feminista e LGBTQI+. É integrante do Grupo de Pesquisa e Gênero em História (GRUPEG-Hist) do
Departamento de História da USP e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IFPR/Campo Largo.
E-mail: julia.gsoliveira@gmail.com
132
MOGROVEJO, Norma. ​Un amor que se atrevió a decir su nombre​: la lucha lesbiana y su
relación con los movimientos homosexual y feminista en América Latina. México, DF: Plaza
y Valdés, 2000.

OLIVEIRA, Júlia G. S. ​Militância ou profissionalização de gênero? ​Um estudo


comparativo na imprensa feminista do Brasil, da Argentina e do Chile (1981-1997). 331 fls.
Tese de Doutorado. Departamento de História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

____. ​Iconografias sarcásticas na imprensa feminista brasileira: Mulherio e Chanacomchana


(1981-1985). ​Domínios da Imagem​, v. 11, p. 67-91, 2017.

RICH, Adrienne. Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence. ​Signs​: Journal of


Women in Culture and Society, Vol. 5, no. 4, Summer, 1980.

133
MUSEUS:
ferramentas de combate a LGBTfobia

Carolina Paiva Zanesi Gomes​48

Resumo​: A proposta do texto é levar ao reconhecimento da potência dos museus como


aparato de combate a LGBTfobia. O trabalho é desenvolvido a partir de dados dos impactos
de duas iniciativas de musealização da história da comunidade LGBT: o Centro de Memória
e Formação LGBTI+, no Rio de Janeiro, e a Casamor, em Aracajú. A análise teórica é
baseada em reflexões sobre os conceitos de Performance Museal e Imaginação Museal,
atreladas às considerações dos teóricos Michel Foucault e Judith Butler acerca de gênero,
sexualidade e sociedade. É possível sinalizar que as questões abordadas no texto podem ser
aproveitadas como ferramentas positivas para tratar questões relativas à comunidade LGBT,
pois, entre outras consequências, criam condições para que este segmento se torne
protagonista da sua história, contribuindo, assim, para o combate a LGBTfobia.
Palavras-chave: ​Museologia; Musealização; Memória LGBT; LGBTfobia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRULON, Bruno. Entre um mundo e o dos Outros: magia e descolonização na performance
museal. ​MODOS​, Campinas, v. 3, n. 3, 2019. DOI
<​https://doi.org/10.24978/mod.v3i3.4302​>. Disponível em:
<​https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/mod/article/view/4302​>. Acesso em: 8
jul. 2020.

CHAGAS, Mario de Souza. ​Imaginação museal​: Museu, memória e poder em Gustavo


Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Orientador: Myrian Sepúlveda dos Santos. 2003.
307 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2003.

48
Graduanda em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
cpgzanesi@gmail.com
134
A IDENTIDADE LÉSBICA:
direitos fundamentais e reconstrução de memórias

Laura Marconi Bastos​49

Resumo​: A história da humanidade sempre foi, evidentemente, edificada por memórias.


Ainda que, atualmente, a pluralidade de histórias se faça presente nos mais diversos espaços,
os grupos marginalizados ao longo das décadas continuam batalhando para o enobrecimento
de suas memórias, majoritariamente distorcidas e roubadas. Mulheres lésbicas, nesse
contexto, buscam cada vez mais por uma conexão identitária entre suas narrativas,
desbravando diferentes meios de expressão e canalizando sentimentos, ocasionalmente
indefinidos, em obras literárias e demais modalidades artísticas e científicas. Entretanto, os
empecilhos para a concepção de uma existência única e sustentada pela reconstrução de
memórias ─ contando, impreterivelmente, com sua intrínseca multiplicidade socioeconômica
e racial ─ persistem em evidenciar quão distante se encontra uma possível e almejada
emancipação social coletiva. Sob esse panorama, é indispensável trazer à tona o papel dos
direitos fundamentais e da luta contra o patriarcado enquanto instrumentos básicos de
exercício, respectivamente, da liberdade e de emancipação. Os direitos fundamentais, devido
à universalidade, descrita por Paulo Bonavides, possibilitam articulações políticas em face do
Estado, conectando as mais diversas experiências e vertentes teóricas em prol da reconstrução
de memórias. Em consonância, a luta contra o patriarcado permite, como uma de suas
consequências, o enfrentamento à heterossexualidade compulsória e o estabelecimento da
mais profunda e pura conexão identitária (retratada por Adrienne Rich como ​continuum
lésbico​). Dessa forma, à luz dos conceitos apresentados e de sua retroalimentação mútua, a
convergência entre os campos político e pessoal, à que faz alusão Audre Lorde em sua
vivência enquanto mulher lésbica, traz em si todo o potencial fático de retomada das
memórias, construção de identidade e resistência diante de um sistema simultaneamente
heteronormativo e patriarcal, elencando em si a importância de direitos básicos para que,
minimamente, todas se aproximem da igualdade enquanto cidadãs livres e peças
fundamentais de articulações de movimentos sociais.
Palavras-chave: ​Identidade Lésbica; Direito Constitucional; Memórias; Patriarcado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONAVIDES, Paulo. ​Curso de Direito Constitucional​. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

LINDEN, Robin Ruth. ​Sadomasochism in the Lesbian Community: ​A Radical Feminist


Analysis. The Frog in The Well Press, 1982.

RICH, Adrienne. ​Compulsory Heterosexuality and Lesbian Existence​. In: GELP, Barbara
C. & GELP, Albert. Adrienne Rich’s Poetry and Prose. New York/London: W.W. Norton &
Company, 1993.

49
Acadêmica do 3° ano do curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina; e-mail:
lauramarconibastos@gmail.com
135
INSTAGRAM COMO REGISTRO DA MEMÓRIA SOCIAL E RESISTÊNCIA:
Coletiva Favela LGBTQ+

Thayllany Mattos dos Santos​50


Conrado Neves Sathler​51

Resumo​: A Coletiva Favela LGBTQ+ promove ações sociais, políticas e culturais, em Ibura,
Recife-PE. É formada por artistas negras, travestis, transexuais e produtoras culturais sendo
acessada pela página do Instagram @favelalgbtq. Esse estudo foca o processo identificatório
(semelhança e diferenciações) cuja fonte é a memória coletiva. A construção da identidade de
@favelalgbtq tem diversas formas de manifestação, entre elas: rememorar marcos históricos
de resistência grupal pela luta de direitos civis da população negra, periférica e LGBTQ+.
Somos uma sociedade marcada pela cultura da memória e entre as novas características se
encontra a conexão midiática. O medo de esquecer e de ser esquecido nos move aos registros
(HALBWACHS, 1990). Essa tendência de armazenamento como auxiliar de memória pode
ser observada tanto em processos culturais coletivos como em processos individuais
arquivados em álbuns fotográficos vinculados às mídias sociais ou não (RATTS, 2017).
Comunidades LGBTQ+, movimentos feministas e negros são representações históricas que
eclodem em defesas de direitos como atos de resistência em plena ditadura militar e adotam
estratégias políticas que possibilitam uma visibilidade de um passado grupal entulhado de
conflitos, assassinatos, invisibilidades, silenciamentos e traumas, sobretudo, pela epidemia de
HIV/Aids nos anos 80 e pelas políticas públicas dessa época deterministas em relação às
pessoas negras LGBTQ+ e de identidade fluídas e interseccionais (FERREIRA e
SACRAMENTO, 2019). Com isso, se considera que a defesa dos direitos políticos, sociais e
civis só se tornam legítimos quando perpassados pelo direito à comunicação, na qual a
sociedade brasileira se debruça e é através das mídias que populações periféricas promovem
ações sociais e permitem que sejam descobertas por grupos interessados na sua continuidade.
Assim, o direito civil deve garantir a liberdade individual de expressão, o acesso à
informação e a produção validada de autoconhecimento mediado tecnologicamente como
fator de humanização identitárias e territorial.
Palavras-chave​: Gênero; Memória Coletiva; Mídia Social; Movimentos Sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Vinícius; SACRAMENTO Igor. ​Movimento LGBT NO Brasil: violências,
memórias e lutas.​ Reciis – Rev Eletron Comum Inf Inov Saúde. 2019.

HALBWACHS, Maurice. ​A Memória Coletiva​. Tradução de Laurent Léon Schaffter. 2ª ed.


São Paulo: Vertice, 1990.

RATTS, Júnior. ​O pênis fala coisas que eu não sei dizer: para pensar em uma nova
história do masculino​. Periódicus, Salvador, n. 6, v. 1, 2017. Disponível em:
<​http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus​>. Acesso em: 14 de set. de 2020.

50
Psicóloga, Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – E-mail:
mattosdossantos11@gmail.com
51
Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – E-mail:
conradosathler@ufgd.edu.br
136
HISTÓRIA DO MOVIMENTO LGBTI+ NA CIDADE DE IPATINGA/MG

Camila Rodrigues Silva Mendonça​52

Resumo​: Com seus 56 anos de existência, a cidade de Ipatinga, localizada no Estado de


Minas Gerais, além de ter passado por um massacre durante a ditadura militar, manteve
também um silêncio simbólico sobre sua própria história social. Portanto, para essa pesquisa
que se expandirá a outras possibilidades de registros, as vozes LGBTI+ tomam as ruas da
cidade e seus corpos coloridos se tornam falantes, trazendo suas vivências, cores e histórias.
O presente trabalho tem como objetivo ressaltar a história do Movimento LGBTI+ na cidade
de Ipatinga/MG. Trabalhando com a hipótese dos movimentos como rede de apoio às pessoas
LGBTI+ e através do resgate histórico até os dias atuais, apontar possibilidades de resistência
aos anos próximos. O método aplicado será fazer uma busca documental de registros dos
movimentos, ações do Movimento LGBTI+ na cidade de Ipatinga, como fotografias, textos,
publicações e uma entrevista com os movimentos e coletivos da cidade por meio de uma
plataforma virtual de vídeo chamada.
Palavras-chave​: Resistência; História; Movimento LGBTI+; Vale do Aço; Ipatinga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
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Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

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da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

GREEN, James; QUINALHA, Renan; CAETANO, Márcio; FERNANDES, Marisa (orgs.).


História do movimento LGBT no Brasil​. São Paulo: Alameda, 2018.

TREVISAN, ​João S.. ​Devassos no paraíso​: a homossexualidade no Brasil da colônia à


atualidade (4ª ed. revisada e ampliada). Rio de Janeiro: Record, 2000.

52
Psicóloga. Psicanalista. Especialização em Psicanálise e os Desafios da Contemporaneidade. Pós-graduanda
de Gestão em Saúde Mental. Membra do GT Gênero e Diversidade do Vale do Aço. Membra do CEPP – Centro
de Estudos e Pesquisa em Psicanálise. E-mail: camilamendoncapsi91@gmail.com.
137
REPRESENTAÇÃO DA MULHER LÉSBICA EM OBRAS AUDIOVISUAIS

Camila Sailer Kletemberg​53

Resumo​: A história das mulheres lésbicas em obras audiovisuais muitas vezes foi construída
de uma forma negativa, como monstros ou pessoas que pudessem ser “consertadas”. Para
além das telas, as imagens refletiram em como elas eram vistas pela sociedade. Prova disso é
que, ainda hoje, é possível encontrar problemáticas dentro dessas representações, como
estereótipos e reprodução de outras formas de opressão. Como objetivo, busca-se
compreender não apenas as histórias que estão sendo contadas, mas também quem são as
pessoas que estão por trás delas, escrevendo roteiros e produzindo tais obras. Para tanto, por
meio de pesquisa de cunho qualitativa, foi realizada uma busca dando um panorama histórico
desde as primeiras representações dessas personagens até obras atuais que vem ganhando
grande visibilidade, e como elas interferem em uma visão generalizada do que é uma mulher
lésbica. Como resultado, trago também a análise do filme brasileiro de 1984 “Amor Maldito”
da diretora Adélia Sampaio e as duas obras atuais, seus contextos históricos e importância
junto aos movimentos de visibilidade lésbica, bem como do filme “Rafiki” dirigido pela
queniana Wanuri Kahiu e “Retrato de Uma Jovem em Chamas” dirigido pela premiada
cineasta francesa Céline Sciamma.
Palavras Chave:​ Representatividade; Mulheres; Lésbica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMOR Maldito. Direção: Adélia Sampaio. Brasil: Adélia Sampaio, Francisco Damásio, João
Elias, 1985.

MURARI, Lucas; NAGIME, Mateus (orgs). ​New Queer Cinema – cinema, sexualidade e
política. São Paulo: Caixa Econômica Federal, 2015.

O Outro Lado de Hollywood. Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman. Estados Unidos: Rob
Epstein, Jeffrey Friedman, 1995.

RAFIKI. Direção: Wanuri Kahiu. Quênia: Steven Markovitz, 2018.

RETRATO de uma Jovem em Chamas. Direção: Céline Sciamma. França: Véronique Cayla,
Bénédicte Couvreur, 2019.

53
Bacharela em Cinema e Vídeo pela UNESPAR - Faculdade de Artes do Paraná e integrante do Coletivo
Cássia. Curitiba/PR. Email: camilasailer@hotmail.com.
138
REPRESENTAÇÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NA IMPRENSA GAY NO
BRASIL:
uma análise de ​Lampião da Esquina​ (1978-1981) e ​Spartacus​ (1987-1990)

Victor Melo Pereira​54


Stella Maris Scatena Franco​55
Júlia Glaciela da Silva Oliveira​56

Resumo​: O período de 1978 a 1990 foi marcado pelo processo de redemocratização na


política brasileira, além de mudanças econômicas e sociais que levaram ao surgimento de
diversos movimentos. Entre eles, o então chamado Movimento Homossexual Brasileiro, que,
desde a década de 1970 e ao longo dos anos 1980, cresceu, mas também foi impactado pela
epidemia da Aids. Em meio a esse contexto, surgiram jornais e revistas com foco em
questões e interesses especificamente deste público. Assim, a pesquisa objetiva analisar como
a imprensa gay inserida neste âmbito representou a homossexualidade em meio a esse
período de transições. Portanto, são estudadas as matérias de destaque de Lampião da
Esquina (1978-1981) e Spartacus (1987-1990), compreendendo ambas como representantes
tanto para o público gay, ou, mais amplamente, homossexual, quanto como referências para o
restante da sociedade. A escolha pelas fontes ocorre devido ao fato de circularem nos
primeiros anos de dois marcos cruciais para o país durante esse contexto, ou seja, a abertura
política e a consolidação da Constituição de 1988. Parte-se do pressuposto de que esses
processos de redemocratização, mudanças econômicas e preocupações sanitárias em
decorrência da Aids teriam levado a diferenças também no modo como essa parte da
imprensa representou a homossexualidade. Visa-se entender de que forma os elementos,
sejam textuais, sejam visuais, participam na produção de determinadas percepções a respeito
das vivências gays ou homossexuais dentro desses períodos e como se relacionam às
questões da época. Para isso, são utilizados como referenciais teórico-metodológicos os
pressupostos tanto da História do Tempo Presente, quanto da História das Representações e
dos Estudos de Gênero e Sexualidade. Busca-se, assim, estabelecer diálogos entre as
diferentes áreas do conhecimento para que se possa contribuir na compreensão do modo
como as vivências gays são significadas e visibilizadas em meios de comunicação voltados a
este público.
Palavras-chave​: Imprensa Gay; História do Tempo Presente; Estudos de Gênero e
Sexualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORTOLOZZI, Remom Matheus. O câncer na língua deles: memória pornográfica LGBT na
epidemia de HIV/Aids. ​Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades​, V. 1, 2017,
ISSN 2238-9008. Disponível em:
<​https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/anais.php​>. Acesso em 12 abr. 2020.

54
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História Social na Universidade de São Paulo (PPGHS-USP)
e bacharel em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/2018), em São Paulo (SP). Email:
victormelopereira_@hotmail.com​.
55
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), onde atua como professora livre docente e
é vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História Social (PPGHS-USP). Coordena o Grupo de Pesquisa
em História e Gênero, no Departamento de História da USP e o Laboratório de Estudos de História das
Américas (LEHA-USP). Email: s​ tellafv@usp.br​.
56
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), com tese premiada pela Associação
Nacional de Professores e Pesquisadores de História das Américas (ANPHLAC) e professora de História no
Instituto Federal do Paraná (IFPR). Email: ​julia.gsoliveira@gmail.com​.
139
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. ​Estudos Avançados​, São Paulo , v. 5,
n. 11, p. 186, Apr. 1991. Disponível em:
<​http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141991000100010&lng=
en&nrm=iso​>. Acesso em 12 abr. 2020.

GREEN, James N. ​Além do Carnaval​: a homossexualidade masculina no Brasil do século


XX. São Paulo (SP): Editora da Universidade Estadual Paulista, 2000.

GREEN, James Naylor; QUINALHA, Renan; CAETANO, Marcio; FERNANDES, Marisa


(orgs.). ​História do Movimento LGBT no Brasil​. São Paulo: Alameda, 2018.

GREEN, James; QUINALHA, Renan. ​Ditadura e Homossexualidades​: repressão,


resistência e a busca da verdade. São Paulo (SP): Editora da Universidade Federal de São
Carlos, 2014.

140
A COMPREENSÃO DAS LESBIANIDADES A PARTIR DO GOOGLE

Julianna Paz Japiassu Motter​57

Resumo​: O presente trabalho tem como partida a mudança dos algoritmos de resposta do
buscador da Google para o termo “lésbica”, realizada em agosto de 2019, após a campanha
intitulada #​SEOlesbienne na plataforma Twitter. SEO é a sigla para ​Search Engine
Optimization​, um mecanismo para otimização dos resultados mais aparentes nas buscas. A
ação conseguiu que o maior buscador de conteúdo da internet mudasse o algoritmo de
resultados de pesquisas para o termo lésbica, os termos relacionados e sua tradução para
outros idiomas. A campanha tinha como intuito alertar a plataforma sobre o viés apresentado
nos resultados, que era majoritariamente de conteúdos pornográficos. Isso porque plataformas
digitais, como o buscador da Google e tantas outras utilizadas, não são construções neutras,
mas sim estruturas com normas e valores morais e/ou sociais previamente inseridos (Van
Djick, Poell e Waal, 2013)⁠, mas também passíveis a mudanças e reparos, que suscitam
diferentes ações e respostas nos usuários. O objetivo deste ensaio é, portanto, a partir do caso
mencionado, refletir sobre as problemáticas envoltas na mudança algorítmica e tentar trazer
pistas teóricas que nos ajudem a compreender a importância dos buscadores na (re)produção
de (in)visibilidades.
Palavras-chave:​ plataformização; lesbianidades; pornografia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VAN DIJCK, J.; POELL, T.; WAAL, M. ​The platform society​: public values in a connected
world. Nova Iorque: Oxford University Press, 2018.

PERES, M.; SOARES, S.; MARQUES, M. ​Dossiê sobre lesbocídio no Brasil:​ de 2014 até
2017. Rio de Janeiro: Livros Ilimitados, 2018. 114 p.p.

57
Mestre em Direitos Humanos e Cidadania (PPGDH/UnB) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/UFBA). Pesquisadora vinculada ao grupo de pesquisa
Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura (GIG@/UFBA), juliannamotter@gmail.com.
141
“MARQUES DA SILVA É SHOW”:
fechação entre balistas em Belém-AL

Silas Pita Pereira​58

Resumo​: Esta comunicação apresenta resultados ainda provisórios cuja pesquisa decorre de
um trabalho de conclusão de curso. Neste, serão discutidas e problematizadas performances
de gênero desenvolvidas por balistas da Banda Fanfarra Profª. Ethelda Amorim na Escola
Estadual Marques da Silva. Para tanto, recorremos à metodologia de trabalho de campo de
natureza etnográfica no qual são observados os ensaios e as apresentações da banda para
comemorar a emancipação política do município de Belém-AL, além disso, lançamos mão de
entrevista a personagens considerados centrais nesta pesquisa. Do ponto de vista teórico,
dialogamos com os conceitos de performatividade de gênero e fechatividade de gênero
desenvolvidos por Butler 2019 e Arruda 2017 respectivamente. Tal perspectiva ajuda a
compreender os gêneros como processos contínuos, criados e recriados no interior das
normas e da heteronormatividade.
Palavras-chave:​ Fanfarra; Fechação; Gênero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, Murilo Souza. ​O corpo e o gênero fechativo pelas ruas de Salvador – Salvador,
2017. 229 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas. Doutorado em Ciências Sociais.

BUTLER, Judith​. Problemas de gênero​: feminismo e subversão da identidade. 17° Ed.


Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2019.

LOURO, Guacira Lopes. ​Um corpo estranho​: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 3°
rev. Amp. Ed. Autêntica, Belo Horizonte, 2018.

HACK, Rafael Fernando. ​Foucault​: a epistémê e o poder na modernidade. V seminário de


Pós – graduação em Filosofia da UFSCar 19 a 23 de outubro de 2009.

58
Graduando do curso de História pela Universidade Estadual de Alagoas - Campus III. Email:
silaspita244@gmail.com​.
142
DEFENDENDO O ​LAMPIÃO DA ESQUINA​:
resistência global e local

Henrique Cintra Santos​59

Resumo​: O movimento LGBTI+ tem recebido crescente interesse acadêmico nos últimos
anos. Porém, devido sua pluralidade, os escopos nos quais tais resistências são observadas
também devem ser diversificados. Assim, a perspectiva de História Global, ainda pouco
empreendida nos estudos de gênero e sexualidade, se mostra profícua para se pensar as
resistências desses corpos dissidentes. Pretende-se aqui tomar a perspectiva de História
Global a fim de observar os jogos de escala entre o global e o local que marcam os
movimentos LGBTI+ no país. Destaca-se analisar no trabalho o processo judicial ao jornal
Lampião da Esquina durante o período de abertura da ditadura militar brasileira. No decorrer
da vigilância e dos inquéritos policiais, os quais duraram cerca de 12 meses, houve uma
campanha internacional, engajada especialmente por João Antônio Mascarenhas, um dos
pioneiros do ativismo LGBTI+ no Brasil. Mascarenhas angariou o apoio de outros grupos
homossexuais estrangeiros, os quais passaram a pressionar entidades governamentais
brasileiras no que concerne à perseguição ao ​Lampião​. Tal cooperação é indício de um
processo complexo não apenas de trocas de apoio entre entidades locais e globais, mas
também das transformações que o movimento LGBTI+ brasileiro foi tomando, respeitando
suas especificidades locais, mas cada vez mais integrado à uma rede global de resistência.
Para o trabalho, destaca-se o arquivo de Mascarenhas, em especial as correspondências
trocadas com outros líderes estrangeiros do movimento, disponível no Arquivo Edgard
Leuenroth.
Palavras-chave​: História Global; Resistência; Sexualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONRAD, Sebastian. ​What is Global History?​ Princeton: Princeton University Press, 2016.

RODRIGUES, Jorge Caê. Um Lampião Iluminando Esquinas Escuras da Ditadura. In:


GREEN, James; QUINALHA, Renan. ​Ditaduras e homossexualiddes: repressão,
resistência e a busca da verdade​. São Carlos: EdUFSCar, 2014.

59
Doutorando em História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis (SC),
henriquecintra@outlook.com​.
143
“LOURIVAL APENAS ERA LOURIVAL”
considerações netnográficas sobre corpo e gênero em Mato Grosso do Sul

Joalisson Oliveira Araujo​60


Esmael Alves de Oliveira​61

Resumo​: neste trabalho reflito sobre os jogos de verdade que teceram e tramaram alegações
sobre corpo e gênero de Lourival Bezerra de Sá. Para tanto, parto de comentários feitos num
portal de notícias, em matérias relacionadas ao caso em tela, e os examinei com base em
netnografia – ou etnografia em ambientes virtuais –, que utilizo para analisar como se deram
tensionamentos, incômodos e disputas de narrativas à vista da vida vivida de Lourival e(m)
sua existência corpórea. Realizados os levantamentos, categorizo as produções discursivas
nas caixas de comentários em três vertentes principais, que o próprio campo me apresenta: a
primeira o vincula ao adoecimento; a segunda, o relaciona ao pecado, anormalidade e fraude;
e, por fim, também havia quem (con)clamasse por respeito à sua memória e demandasse
representações dignas, de acordo com sua expressão de gênero ligada ao masculino.
Palavras-chave​: Lourival Bezerra de Sá; verdade; Antropologia do corpo; etnografia em
ambientes virtuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUTLER, Judith. ​Problemas de gênero​: feminismo e subversão da identidade. Tradução de
Renato Aguiar. Revisão técnica de Joel Hirman. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2017. (Coleção Sujeito e História).

______. ​Quadros de guerra​: quando a vida é passível de luto?. Tradução de Sérgio Tadeu
de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2015.

FAUSTO-STERLING, Anne. Dualismos em duelo. ​Cadernos Pagu​, Campinas, SP, n.


17-18, p. 9-79, 2002. Disponível em: <​http://www.scielo.br/pdf/cpa/n17-18/n17a02.pdf​>.
Acesso em: 27 ago. 2019. DOI: <​http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332002000100002​>.
(Tradução de Plínio Dentzien; revisão de Valter Arcanjo da Ponte).

FOUCAULT, Michel. ​A ordem do discurso​: aula inaugural no Collège de France,


pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 24.
ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014. (Leituras Filosóficas).

______. História da sexualidade​: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa


Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 23. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2013. (v.
1).

60
Bacharelado em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista de mestrado
(DS/CAPES) no Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Grande Dourados
(PPGAnt/UFGD). Dourados, MS. araujojow@outlook.com
61
Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Professor
do curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt) da Faculdade de
Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD), e do Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS).
Dourados, MS. esmael_oliveira@live.com
144
______. O nascimento da medicina social. In: ______. ​Microfísica do poder​. Organização e
tradução de Roberto Machado. 15. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2000. (Biblioteca de
filosofia e história das ciências, v. 7). Cap. 5, p. 79-99.

KOZINETS, Robert. V. ​Netnografia​: realizando pesquisa etnográfica online. Tradução de


Daniel Bueno, revisão técnica de Tatiana Melani Tosi e Raúl Ranuaro Jalaves Júnior. Porto
Alegre: Penso, 2014.

LAQUEUR, Thomas. Da linguagem e da carne. In: ______. ​Inventando o sexo​: corpo e


gênero dos gregos a Freud. Tradução de Vera Whately. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
2001. Cap. 1, p. 13-40.

LEITE JR, Jorge. ​"Nossos corpos também mudam"​: sexo, gênero e a invenção das
categorias "travesti" e "transexual" no discurso científico. 2008. 230 f. Tese (Doutorado em
Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

POLIVANOV, Beatriz B. Etnografia virtual, netnografia ou apenas etnografia? Implicações


dos conceitos. ​Esferas​, Brasília, DF, a. 2, n. 3, jul./dez. 2013, p. 61-71. Disponível em:
<​https://portalrevistas.ucb.br/index.php/esf/article/view/4621/3243​>. Acesso em: 13 jul.
2019. DOI: <​http://dx.doi.org/10.19174/esf.v1i3.4621​>.

REBS, Rebeca R. Reflexão epistemológica da pesquisa netnográfica. ​Revista de


Comunicação e Epistemologia da Universidade Católica de Brasília​, Brasília, DF, n. 8,
jan./jun, 2011, p. 74-102.

145
CONSEQUÊNCIAS DA RACIALIDADE PARA A COMUNIDADE LGBTI+:
raça enquanto conceito social de desdobramentos estruturais

Nahomi Helena de Santana​62

Resumo​: O presente trabalho explora, com a devida atenção à hermenêutica interseccional,


as consequências conceituais trazidas pelo entendimento social da comunidade LGBTI+
enquanto raça. A questão foi trazida no debate judicial da criminalização da LGBTIfobia em
ações de controle de constitucionalidade julgadas pelo Supremo Tribunal Federal em junho
de 2019, que compreendeu estar a homotransfobia inclusa na Lei de Racismo. A tese fixada
partiu das premissas postas pela literatura negra, após a rejeição da concepção biológica de
raça na construção de processos identitários e de opressão e concebendo essa comunidade
conforme sua concepção social. O objetivo não é fazer uma análise valorativa da decisão ou
explorar suas problemáticas e fundamentos; trata-se de evidenciar fenômenos raciais
teorizados por autores como Kimberlé Crenshaw e Silvio Almeida que atingem diretamente o
entendimento racializado de identidade e a relação com pessoas, instituições e sistema como
um todo. Parte-se de uma metodologia bibliográfica que concebe os saberes como
transversais e vinculados, levando a reconhecer a possibilidade de aplicação de fenômenos
como o racismo estrutural à realidade de pessoas que não se enquadram na
heteronormatividade hegemônica, seja por orientação sexual, identidade ou expressão de
gênero. Somente com um aprofundado conhecimento das estratégias de sobrevivência e
enfrentamento é que se pode desenvolver políticas sociais adequadas e efetivas. Há de se
traduzir, portanto, análises racializadas para a leitura das vivências de opressões, violências,
desrespeitos e ameaça a direitos.
Palavras Chave:​ Raça; LGBTI+; Interseccionalidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKOTIRENE, Carla.​ Interseccionalidade​. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. ​Racismo estrutural​. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ​Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão


no 26/DF – Distrito Federal. Relator: Ministro Celso de Mello. Disponível em:
<​http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4515053​>. Acesso em: 13/09/2019.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ​Mandado de Injunção no 4.733/DF – Distrito Federal.


Relator: Ministro Edson Fachin. Disponível em: <
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4239576​>. Acesso em: 13/09/2019.

CRENSHAW, Kimberlé. ​Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black


Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics.
University of Chicago Legal Forum: Vol. 1989: Iss. 1, Article 8.

DAVIS, Angela. ​Mulheres, cultura e política​. São Paulo: Boitempo, 2017.

D724 ​Dossiê LGBT+: 2018 / orgs. Victor Chagas Matos e Erick Batista Amaral de Lara. Rio
de Janeiro: RioSegurança, 2018.

62
Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Paraná, pesquisadora de Direitos Humanos e Democracia
do Centro de Estudos Constitucionais (CCONS). É voluntária do Grupo Dignidade e diretora social do Coletivo
Cássia. Curitiba/PR. Email: nahomihelena.s@gmail.com.
146
GONZALES, Lélia. ​Lugar do Negro​. Rio de Janeiro: Marco Zero. 1982.

Grupo Gay da Bahia – GGB. ​Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil​. Relatório 2018.
Disponível em:
<​https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relat%C3%B3rio-de-crimes-contra-lg
bt-brasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf​>. Acessado em: 10/09/2019.

IOTTI, Paulo Roberto. ​Supremo não legislou nem fez analogia ao considerar homofobia
como racismo. Disponível em:
<​https://www.conjur.com.br/2019-ago-19/paulo-iotti-stf-nao-legislou-equipararhomofobia-ra
cismo​>. Acessado em: 08/09/2019.

MOREIRA, Adilson. ​Racismo recreativo​. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

MUNANGA, Kabengele. ​Negritude: usos e sentidos. 3ª ed, Editora Autêntica. Belo


Horizonte, 2009.

147
BRASIL: UM PAÍS DE TODOS?
a liquidez das relações frente a morte de pessoas trans

Matheus Filipe de Queiroz​63

Resumo​: No ranking mundial que constam os números de assassinatos dos transexuais, o


Brasil se encontra em primeiro lugar, e a cada nova pesquisa lançada pelos órgãos
responsáveis, os números de mortes só aumentam. Logo, questiona-se o que o Estado tem
feito a respeito dessa quebra dos direitos humanos, no que tange a essas pessoas trans, que
evitam sair de suas casas pelo medo constante de não voltar mais. Percebe-se, portanto, que o
Brasil não possui legislações específicas a proteção da comunidade LGBTI+, as deixando à
mercê do caos discriminatório que ultrapassa limites no país, levantando a dúvida se, de fato,
o Brasil é um país de todos. Ainda, a modernização que avança em nossa sociedade, fez com
que as pessoas não tenham mais o cuidado recíproco que possuíam antigamente, desfazendo
laços de convivência e tornando as relações interpessoais cada mais líquidas, importando-se
cada vez menos com outrem. Assim, busca-se entender, sob a ótica de Bauman, a liquidez
das relações trazidas pela modernidade: qual a razão do descaso das pessoas com o elevado
número de mortes trans, ninguém se importa? Neste diapasão, o escopo do artigo que se
refere este resumo consiste em apontar a mudança social e o paradoxo entre a aceitação
LGBTI+ frente a inexistência de proteção legal que as ampare, deixando os casos de morte
trans cair em esquecimento, analisando ainda a (des)importância para a sociedade da
contemplação legislativa desta população. Desta forma, para concluir o objetivo, faz-se uso
do método de pesquisa qualitativa, por meio de um estudo bibliográfico, apresentando dados
e utilizando da visão de pesquisadores sobre o assunto para entender a sua complexidade,
bem como salientar a necessidade de maior proteção legislativa à população homoafetiva,
buscando ainda a união interpessoais pela causa, utilizando a modernidade para o bem social
e a não perpetuação de preconceitos.
Palavras-chave​: Trans; Direito LGBTI+; Direitos Humanos; Liquidez das Relações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BAUMAN, Zygmunt. ​Modernidade líquida / Zygmunt Bauman​; tradução, Plínio
Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. Disponível em:
<​https://farofafilosofica.files.wordpress.com/2016/10/modernidade-liquida-zygmunt-bauman.
pdf​> Acesso em 14 jul. 2020.

Associação Nacional de Travestis e Transexuais​. Boletim nº 03/2020 – Assassinatos contra


Travestis e Transexuais em 2020. Disponível em:
<​https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/06/boletim-3-2020-assassinatos-antra.pdf​>
Acesso em 15 jul. 2020.

SANTOS, Juliana Oliveira; KRAWCZAK, Kaoanne Wolf. Brasil, o país que mais mata: uma
análise crítica acerca da violência contra travestis e transexuais. ​Ciências Criminais &
Direitos Humanos​, v. II, 1ª ed.. Bento Gonçalves-RS: Editora Refletindo o Direito, 2017, p.
94 - 106. Disponível em:
<​https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/54265233/Ciencias_Criminais___Direitos_Humanos_

63
Graduando em Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Pesquisador vinculado à Cátedra Jean
Monnet FECAP – Grupo de Estudos Defensores dos Direitos Humanos; Pesquisador do projeto de pesquisa “Do
acesso à justiça no Direito de Família” cadastrado sob o n. 11742 na PROPPG da UEL; Pesquisador no projeto
de pesquisa “Transgeneridades e o direito ao nome” cadastrado sob o n. 11883 na PROPPG da UEL. E-mail:
queiirozmatheuss@gmail.com.
148
-_Volume_II_-_Editora_Refletindo_o_Direito.pdf?1503921813=&response-content-dispositi
on=inline%3B+filename%3DCIENCIAS_CRIMINAIS_and_DIREITOS_HUMANOS.pdf&
Expires=1595175249&Signature=FL7kWkV136PjlFQaiXlcKzWkQWuO98LJLHj2RY3JJjtx
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8ptf-ToqT6I4EjzMmoFdH8A__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA#page=95​>
Acesso em: 15 jul. 2020.

149
A TRANSEXUALIDADE EM ÊXODO:
dos resistentes aos invisíveis

Gabriel Lohan de Paula e Silva​64

Resumo: ​A latência e as multivisões do público LGBTQI+ se tornaram recorrentes no


âmbito científico. Estas vêm por meio de denúncias, manifestos emancipatórios e afins.
Contudo, a quebra de paradigma, como uma própria revolução científica que se atente à
realidade, necessita caminhar, progredir e evoluir. Por isso, o debate ocorrerá com foco na
questão dos transexuais e como que a sua localização geográfica remodela as barreiras
enfrentadas, perpassando pelos vieses sociais e jurídicos. Isto significa, desde já, que se as
problemáticas têm diferenças, a metodologia também deve ter. Por isso, neste serão aplicados
os métodos analíticos com base em entrevista​65 realizada no âmbito urbano, mais
precisamente na instituição Casa Nem, localizada na capital do Rio de Janeiro. Já no âmbito
rural, a análise será feita a partir da escassa produção científica, sendo relevante o estudo de
Paulo Rogers em “Os Afectos Mal-Ditos: O indizível das sociedades camponesas” e das
teorias gerais mais aclamadas, como a de Butler, Preciado, Luhmann, entre outros. Todos
estes são implementados na tentativa de diferenciar (mas não dividir) as pautas. Logo, o
resultado é que enquanto para este público, no meio urbano, trata-se de uma questão de
resistência, no meio rural a questão é de pura existência e (des)invisibilidade, ou seja,
histórias que serão apresentadas posteriormente devem ser tratadas de acordo com as suas
especificidades. Afinal, o público trans é e deve ser reconhecido, não apenas tolerado, como
um corpo sujeito-falante (PRECIADO, 2014), digno e portadores de direitos, e não como
Daniele Santos e Ana Cláudia relatam: “O preconceito nunca acaba, vai melhorando,
evoluindo um pouquinho, mas o preconceito não acaba nunca” e “Acaba nada, sempre vai ter
um ali, uma piadinha aqui. Se o preconceito não vier verbal, será no olhar”.
Palavras-chave​: Transexual; Diversidade rural; Contrassexualidade; Diversidade urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Paulo Rogers. ​Os Afectos Mal-Ditos​: o indizível das sociedades camponesas.
2006. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social, Universidade de Brasília, Brasília.

PRECIADO, Beatriz. ​Manifesto Contrassexual-Práticas Subversivas de Identidade


Sexual​. Tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: nº 1 edições, 2014.

64
Estudante de Direito na Universidade do Estado de Minas Gerais de Diamantina. Participante PIBIC/Fapemig
pelo Grupo de Pesquisa, CNPQ: “Gênero e Efetivação dos Direitos da Pessoa” com linha de pesquisa em “Os
Efeitos da Despatologização da Transexualidade: entre Reconhecimento e Tolerância dos Direitos da Pessoa”
durante o período de 2018 a 2019. E-mail: biellohan@hotmail.com.
65
Entrevista realizada presencialmente pelo autor do artigo presente na instituição “Casa Nem” - que abriga a
comunidade trans em situações de vulnerabilidade - no dia 10 de outubro de 2018. Disponível em:
https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1y2pOL2q_zhFEeH8OlBO0itwcYGOUNKlU
150
O DIREITO AO PRÓPRIO SER:
a proteção dos direitos da personalidade às modificações corporais

João Ricardo dos Santos​66


Ana Carolina D’avanso de Oliveira Cândido​67

Resumo​: ​Cediço que a organização do corpo social se alicerça em complexo de normas


comportamentais, fundamentados na dicotomia, feminilidade e masculinidade, à luz do
mecanismo de opressão patriarcal, machista e misógino que exclui, marginaliza e silencia
àqueles que se contrapõem ao padrão estabelecido. Não obstante, os reflexos da
heteronormatividade compulsória influencia e afeta cotidianamente na (sobre)vivência da
população LGBTI+ que, subsistem a violências institucionais, crimes de ódio, abandono
familiar. Porquanto, o presente estudo almejou evidenciar que compete as múltiplas vertentes
do ordenamento jurídico intervir como correligionário na tentativa de minimizar os impactos
de uma estrutura opressora e homofóbica, e, não como propulsor de estigmas e
discriminações. Logo, incumbe ao direito, a elaboração e implementação de políticas públicas
representativas e, sobretudo, resguardar e proteger as garantias fundamentais do indivíduo ser
quem quiser ser, sem interferência de ordem moral, religiosa ou estatal. Destaca-se assim,
que o amparo às prerrogativas especialmente das transexuais, perpassam as ramificações dos
direitos da personalidade, ​verbi gratia, ​a defesa da privacidade, identidade pessoal, direito ao
esquecimento, e, mormente, o direito à saúde e modificações corporais, integralmente
consolidados na dignidade da pessoa e no livre desenvolvimento da personalidade. Como
resultado, percebeu-se a necessidade e urgência de “dar voz” a essa população (in)visível,
protegendo os direitos constitucionalmente inerentes aos indivíduos, desvinculando-os da
estrutura social do patriarcalismo. Nos materiais de base, evidencia-se que, além das
violências e abusos físicos recorrente por parte dessa minoria, diante da ausência de
assistência, corriqueiramente, a população trans se submetem a procedimentos de risco como
a ingestão de hormônios sem a devida regulação médica além de enfrentarem obstáculos para
realização de cirurgias de adequação ou mudança de sexo.
Palavras-chaves: ​Patriarcado; Heteronormatividade; Direitos da Personalidade; Cirurgias de
adequação ou mudança de sexo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
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Brasileiro de Direito Civil, v. 1, p. 36-60, Julh. 2014.

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travestis​: identidade de gênero e a regulamentação ​da UFOPP. Direito Civil Contemporâneo.
Organização CONPEDI/UFMG/FUMEC/ Dom Helder Câmara; coordenadores Chistian Sabb
Batista Lopes, José Sebastião de Oliveira, Maria Goretti Dal Bosco – Florianópolis,

66
Mestrando em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Advogado. E-mail:
jricardosantos@outlook.com.
67
Advogada. Graduada em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO)
– SP. E-mail: carolinadavanso.ad@gmail.com.
151
CONPEDI, P. 102-117. 2016.

MOREIRA, Rodrigo Pereira; ALVES, Rubens Valtecides. Direito ao esquecimento e o livre


desenvolvimento da personalidade da pessoa transexual. ​Revista de Direito Privado​. Vol.
64, ano 16. P. 81-102. São Paulo: Ed. RT, out. dez. 2015.

SCOTT, Joan W. ​A invisibilidade da experiência​. Tradução Lúcia Haddad. Projeto história,


São Paulo. Fev. 1998.

152
SAÚDE MENTAL DAS MULHERES LÉSBICAS
a lesbofobia como aspecto de violência psicológica no Brasil

Valéria Carolina Armas Villegas​68


Kleire Anny Pires de Souza​69

Resumo​: A exclusão começa antes de tudo na invisibilidade, ao excluir e ocultar, não há


estudos, não há visibilidade, logo há a ausência. A ausência é um marcador muito comum
dentro da questão lésbica desde os primórdios da história, caracterizando a violência que
antecede todas as outras; a violência simbólica cooptando com o apagamento histórico. A
partir dessa violência o imaginário coletivo a reproduz nas vivências cotidianas, por meio da
não aceitação, homofobia familiar e variados outros tipos de violência nos múltiplos campos
do social e do âmbito privado. Nesse cenário, a saúde mental da mulher lésbica é um fator
definidor de seu bem-estar, relacionada a um estado no qual o indivíduo é capaz de alcançar
suas potencialidades no campo pessoal, social e espiritual. No presente estudo, objetiva-se o
entendimento da saúde mental da mulher lésbica brasileira a partir da literatura científica.
Foram coletados artigos das bases de dados BVS e Google Scholar, complementados com
estudos nas áreas de saúde e história. É descrito que a população LGB possui mais tendência
a apresentar depressão, ansiedade, ideação suicida, consumo excessivo de álcool, tabagismo.
Com foco na mulher lésbica, há o reforço dos transtornos citados, com acréscimo de possível
luto complicado por viuvez invalidada socialmente. Essas condições foram relacionadas à
vulnerabilidade dessa comunidade, assim como à própria lesbofobia, rejeição familiar,
ocultação de orientação sexual, levando a exclusão social. Pautado nesses apontamentos,
ressalta-se a necessidade de discussão do tema que este trabalho propõe e melhoramento na
implementação da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transsexuais. Visto que a produção de pesquisas sobre saúde mental da mulher
lésbica é totalmente deficitária, aponta-se o descaso e marginalização social, que levam à
desinformação e à invisibilização tanto em políticas públicas como no acesso à saúde integral
e equitativa dessa população.
Palavras-chave​: saúde mental; lesbofobia; invisibilização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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transtornos mentais​ [recurso eletrônico]: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

AMORIM GONÇALVES, J; ROSA, A; FERREIRA DE CARVALHO, R. Lesbianidade e


Psicologia na Contemporaneidade: uma revisão sistemática. ​Gênero​, v. 20, n. 1, p. 135–156,
2019.

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perspectiva fenomenológico-existencial. ​Temas em Psicologia​, v. 25, n. 4, p. 1467–1482,
2017.

BORSA, FOP; CALLEGARO, J. Homofobia internalizada, conectividade comunitária e


saúde mental em uma amostra de indivíduos LGB brasileiros. ​Avances En Psicología

68
Graduanda em Medicina pela Faculdades Pequeno Príncipe (FPP), Paraná – Curitiba,
valeria.armas.villegas@hotmail.com.
69
Graduanda em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), bolsista do Programa de
educação tutorial (PET) e estagiária Cátedra Unesco- UFGD, Mato Grosso do Sul – Dourados,
kleire@icloud.com.
153
Latinoamericana​, v. 37, n. 1, p. 47–61, 2019.

BOURDIEU, Pierre, 1930-2002. ​A dominação masculina​. /Pierre Bourdieu; tradução Maria


Helena. Kühner. - 2a ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

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estudo qualitativo. ​Revista brasileira de enfermagem​, v. 71, n. suppl 3, p. 1220–1227,
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gays, bissexuais, travestis e transsexuais​. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

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Spirituality, Religion and Mental Health Among Youth Who Identify as LGBT+​: A
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gays, bissexuais e transexuais: um olhar para a saúde mental. ​Revista Enfermagem UERJ​,
v. 27, p. 8, 2019.

154
O “CUIDADO DE SI” FOUCAULTIANO NA SOCIABILIDADE TRANS EM
CAMPO GRANDE (MS)

Ariel Dorneles dos Santos​70


Esmael Alves de Oliveira​71

Resumo​: Este trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul –
PPGAS/UFMS. O objetivo é investigar a relação do cuidado de si foucaultiano a partir da
sociabilidade de pessoas travestis e transexuais da/na cidade de Campo Grande (MS). Assim,
a partir da perspectiva antropológica, busca-se compreender quais os elementos acionados
por pessoas trans para uma constituição ética e estética e que estão para além das questões
relacionadas a sua inserção político-social (ou que a ela não se reduzem). Nesse processo
analítico-refletivo, a agência é tomada como um conceito central, pois nos oportuniza
compreender as nuances que cercam as condições sociais sem perder de vista a capacidade de
mobilização e negociação dos sujeitos bem como os afetos e desejos que os atravessam.
Deste modo, o “cuidado de si” é assumido aqui enquanto potência polissêmica e
desestabilizadora que nos auxilia no entendimento dos modos de ser e estar das pessoas trans
no mundo.
Palavras chave: ​pessoas trans; teoria queer; cuidado de si; agência; Mato Grosso do Sul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEDETTI, Marcos Renato. ​Toda feita​: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro:
Garamond, 2005.

BENTO, Berenice. ​A reinvenção do corpo​: sexualidade e gênero na experiência transexual.


Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

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Janeiro: Forense Universitária, 2014.

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emergência queering. ​Estudos Feministas​. Florianópolis, 20(2), p. 539-547,
maio-agosto/2012.

SWAIN, Tania Navarro. Para além do binário: os queers e o heterogênero. ​Gênero, núcleo
transdisciplinar de estudos de gênero (nuteg)​, v. 2, n. 1, p. 87-98, 2. sem. 2001.

VERGUEIRO, Viviane. ​Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero


inconformes​: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. 244 f.

70
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (PPGAS/UFMS). E-mail: arieldorneless@gmail.com
71
Doutor em Antropologia Social, Docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS). E-mail: esmael_oliveira@live.com
155
Dissertação (Mestrado em cultura e sociedade). Universidade Federal da Bahia, programa
multidisciplinar de pós-graduação em cultura e sociedade, Salvador, 2016.

156
NOTAS PARA CONCEPÇÕES TRANSVIADAS DE SAÚDE

Daniella Chagas Mesquita​72


Esmael Alves de Oliveira​73

Resumo​: Neste trabalho, de viés etnográfico, buscamos concepções transviadas de saúde, ou


seja, os sentidos que as próprias travestis e mulheres trans atribuem para sua saúde,
especificamente no contexto de Campo-Grande (MS). A escolha pelo uso do termo
“transviadas” evidencia as experiências e narrativas trans, bem como os usos
campo-grandeses dos termos viada e viado, ademais, há no uso do termo uma inversão do
sentido: transviado também remete àquilo que se transviou, foi extraviado, perdido, ou que
não obedece aos padrões comportamentais vigentes, portanto, questões que escapam,
transbordam, e se extraviam de uma inteligibilidade biomédica, questões que nos interessam
muito mais do que pensar e reiterar uma hegemonia médica sobre as discussões da saúde da
população trans. Para tal, partiremos de entrevistas realizadas com três travestis e mulheres
trans campo-grandenses: Ully (pseudônimo) de aproximadamente 40 anos e dona de uma
casa de prostituição; Samantha de 29 anos, cozinheira; e Kim (sobrinha de Samantha) de 18
anos e estudante no Ensino Médio. Fugindo de uma inteligibilidade (bio)médica e
hospitalocêntrica, as concepções de saúde das entrevistadas convergem para questões de
alimentação e trabalho, bem como para um resgate da memória, das redes de afeto e do “estar
bem comigo mesma”, e a partir de suas concepções de saúde, denunciam, tensionam e
questionam a hegemonia dos discursos patologizantes. Em cena, concepções de corpo e de
saúde que extrapolam os padrões normativos e transbordam desejos e afetos dissidentes.
Palavras-chave​: Transexualidade(s); Saúde; Dissidências; Campo Grande.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEDETTI, Marcos Renato. ​Toda feita​: o corpo e o gênero das travestis. Rio de janeiro:
garamond, 2005.

BENTO, Berenice. ​A reinvenção do corpo​: sexualidade e gênero na experiência transexual.


Rio de janeiro: garamond, 2006.

PELÚCIO, Larissa. Marcadores sociais da diferença nas experiências travestis de


enfrentamento à aids. ​Saúde e sociedade​, são paulo, v. 20, n. 1, p. 76-85, mar. 2011.

PELÚCIO, Larissa. “Toda quebrada na plástica” – corporalidade e construção de gênero


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ROCON, Pablo Cardozo ​et al​. (Trans)formações corporais: reflexões sobre saúde e beleza.
Saúde soc.​ São paulo, v.26, n.2, 521-532, 2017.

SCOTT, Joan W. A invisibilidade da experiência. ​Proj. História​, Revista do Programa de


Estudos pós-graduados de História, São Paulo, (16), 297-325, 1998.

72
Psicóloga, mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS), e-mail: daniellacmesquitaf@hotmail.com.
73
Doutor em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), professor na Faculdade de Ciências Humanas da
Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD) e no Programa de Pós-graduação em Antropologia da
Universidade Federal da Grande Dourados (PPGANT/UFGD), e-mail: esmael_oliveira@live.com.
157
SAÚDE DA MULHER LÉSBICA E BISSEXUAL
uma análise das cartilhas e campanhas institucionais do Ministério da Saúde de 2006 a
2015

Emilia Miranda Senapeschi​74

Resumo​: A carência de informação e educação em saúde da mulher lésbica e bissexual


advém dos valores histórico-culturais e sociais sexistas, machistas, patriarcais, lesbofóbicos,
bifóbicos e da heteronormatividade compulsória. Para as mulheres lésbicas e bissexuais o
medo de sofrer a violência institucional é o fator determinante para a sub-procura dos
serviços de saúde, interferindo na prática do autocuidado, prevenção e promoção da saúde
sexual e reprodutiva. O objetivo do estudo aqui apresentado foi fazer um levantamento dos
principais avanços e desafios para o acesso universal, integral e equânime à saúde da mulher
lésbica e bissexual a partir da análise dos materiais institucionais do Ministério da Saúde no
período entre 2006 e 2015. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo e documental.
Foram analisadas a cartilha "Chegou a Hora de Cuidar da Saúde: Um Livreto Especial para
Lésbicas e Mulheres Bissexuais" (2006), a cartilha "Mulheres Lésbicas e Bissexuais:
Direitos, Saúde e Participação Social" (2013) e a campanha "Equidades: Mulheres Lésbicas e
Bissexuais" (2015). Os resultados apontam que a prevenção das Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST's), câncer de mama e colo do útero, além da promoção de saúde no
climatério, menopausa e na maternidade configuram como os principais desafios para a saúde
sexual e reprodutiva das mulheres lésbicas e bissexuais. Conclui-se que no período de 2006 a
2015 houve um esforço considerável, ainda que insuficiente, por parte do Ministério da
Saúde para garantir o acesso à saúde integral das lésbicas e bissexuais. Nos materiais
pesquisados é acentuada a necessidade de investir em conhecimento técnico-científico e na
formação continuada de gestores e profissionais da saúde na Atenção Integral à Saúde da
Mulher pela perspectiva dos Direitos Humanos, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
para o atendimento humanizado e qualificado no âmbito do SUS.
Palavras-chave​: Saúde Sexual e Reprodutiva; Mulheres Lésbicas e Bissexuais; Ministério da
Saúde; SUS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. ​Chegou a hora de cuidar da saúde: um livreto especial para
lésbicas e bissexuais​. Brasília, 2006. Disponível em:
<​https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/chegou_hora_cuidar_saude.pdf​>. Acesso em:
17 jul. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. ​Política Nacional De Atenção Integral à Saúde da Mulher:
Princípios e Diretrizes​. Brasília, 2004. Disponível em:
<​https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_atencao_mulher.pdf​>. Acesso em:
17 jul. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.


Departamento de Apoio à Gestão Participativa. ​Mulheres lésbicas e bissexuais: direitos,
saúde e participação social​. Brasília, 2013. Disponível em:
<​https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mulheres_lesbicas_bisexuais_direitos_saude.pd
74
Graduação em Psicologia, Especialização em andamento em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade
(ENSP/FIOCRUZ). Paraná-curitiba. senapeschiemilia@gmail.com.
158
f​>. Acesso em: 17 jul. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.


Departamento de Apoio à Gestão Participativa. ​Política Nacional de Saúde Integral de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais​. Brasília, 2013. Disponível em:
<​https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf​>.
Acesso em: 17 jul. 2020.

REDE FEMINISTA DE SAÚDE. ​Dossiê saúde das mulheres lésbicas​: promoção da


equidade e da integralidade. Belo Horizonte, 2006. Disponível em:
<​https://updoc.tips/download/free-pdf-ebook-dossie-saude-das-mulheres-lesbicas-rede-femini
sta-de-saude​>. Acesso em: 13 jul. 2020.

159
MULHERES DESVIANTES:
a exclusão das mulheres lésbicas nos programas de políticas públicas

Marina de Fátima da Silva​75


Isabel Ceccon Iantas​76

Resumo​: O presente artigo analisa as dificuldades enfrentadas por mulheres lésbicas com
relação à obtenção de direitos mínimos e a sua inclusão dentro das políticas públicas. Tendo
em vista a estrutura patriarcal, na qual se impõem comportamentos determinados às
mulheres, as ações oriundas do Estado pautam-se por ideologias sexistas e heteronormativas,
consequentemente excluindo aquelas que fogem à regra. Dessa forma, quando mulheres
desviam desse padrão comportamental, em qualquer uma de suas características, são
rechaçadas por parcela da sociedade, que as deixa à mercê de direitos básicos e de uma vida
digna. Portanto, a construção social de uma figura submissa e dócil da mulher, impondo a
passividade e o papel de esposa de um homem, que a possui como sua propriedade, constrói o
caminho para políticas públicas excludentes, afetando diretamente a obtenção de direitos e
garantias das mulheres lésbicas, que ousam desafiar o núcleo de uma sociedade machista e
falocêntrica. A partir da análise de políticas públicas, como por exemplo o atendimento à
saúde pública, o atendimento a grupos familiares, o combate às violências e discriminações,
objetiva-se identificar as lacunas que circundam a polêmica fabricada em torno da expressão
sexual feminina. Por fim, busca-se debater os resultados conquistados pelas pressões dos
movimentos lésbicos, de forma a garantir a luta contra a lesbofobia dentro do Plano Nacional
de Políticas para Mulheres.
Palavras-chave​: políticas públicas; exclusão; mulheres lésbicas; desviância.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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75
Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, fsmah22@gmail.com.
76
​Graduanda de Direito da Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba-PR, isabel.iantas9@gmail.com.
160
PAIVA, Antonio Cristian Saraiva; MELLO, Luiz. Políticas de gênero e sexualidade:
pensando a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
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Disponível em:
<​http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312006000200004&lng=
en&nrm=iso​>. Acesso em: 20 de ago. de 2020.

161
POLÍTICAS PÚBLICAS E A COMUNIDADE LGBT+

Ricelly Pires Vieira​77


Ana Beatriz Ferro de Melo​78
Eduardo Chaves Ferreira Coelho​79
Luiz Henrique Fernandes Musmanno​80

Resumo​: Em 2001, com a criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação


(CNCD), as ações dos grupos de ativismo de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
(LGBT+) no Brasil, deram início às reivindicações de políticas públicas voltadas à cidadania
e direitos humanos. Nessa perspectiva, em todo o país cresceu e cresce o número de políticas
afirmativas voltadas às pautas de Direitos Humanos, em especial os direitos da população
LGBT+. Este avanço se deve ao conjunto de fatores e de trajetórias políticas do próprio
movimento ativista, que há muito tempo tem atuado no campo dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário Brasileiro, provocando assim, o que se chama de políticas públicas
LGBT+. O objetivo do estudo foi avaliar a evolução dos direitos para a comunidade LGBT+.
Trata-se de uma revisão da literatura que analisou artigos publicados em base de dados
PubMed, Scielo e Google Scholar usando os descritores “LGBT”, “Políticas Públicas” e
“Direitos”. Os resultados apontaram como o Brasil tem assistido na sua história recente a
elaboração e a implementação de políticas públicas afirmativas voltadas para a população
LGBT+. Ao longo dos anos 2000, é possível identificar quatro marcos principais no âmbito
das ações do Poder Executivo voltadas para a população LGBT+, como em 2004 com a
criação do "Brasil Sem Homofobia”, no qual objetivou o combate à violência e à
discriminação, e de promoção da cidadania homossexual. Como decorrência do programa,
em 2008 foi realizada a I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, no qual deu origem em 2019 ao "Plano Nacional de Promoção da Cidadania e
Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais”. Em 2011, após o
diálogo entre os movimentos, academia e Estado houve a promulgação da Portaria GM/MS
nº 2.836, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral LGBT+. Já em 2013 é lançada a
Portaria GM/MS nº 2.803 de 19 de agosto, que dispõe sobre o processo transexualizador. A
história do movimento LGBT+ no Brasil apresenta uma relação de influência mútua com o
Estado, o que tem produzido ganhos e perdas. Grande foi a luta que o movimento social
travou em busca da efetivação dos seus direitos civis, porém quando levado à prática ainda
apresenta negligenciação. Dessa forma, as conquistas de reconhecimento social e
governamental dos direitos da população LGBTI+ são ignorados frente a um cenário de
segregação, ofensas e intolerância que ainda assombra o cotidiano social dessa comunidade,
tendo em vista que, mesmo em um cenário de maior liberdade de escolha, a homofobia ainda
é um persistente evento que marca a realidade brasileira. Portanto, para a construção da
cidadania e da solidificação dos direitos do grupo LGBTI+, faz-se necessário incluir esferas
culturais na sociedade que passem a considerar a importância do respeito à liberdade sexual
individual, relacionada à experiência afetiva de cada indivíduo. Dessa forma, será possível

77
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia, Goiás. ​ricelly.pires@hotmail.com
78
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. ​anabiaferrodemelo@gmail.com
79
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. Goiânia, Goiás. eduardoccoe@gmail.com
80
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS.Médico da SMS
Goiânia. Membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Goiânia, Goiás. musmanno@gmail.com
162
minimizar a opressão normativa enfrentada por essa minoria e alcançar, de fato, o acesso ao
direito civil assegurado em consonância às melhorias dos direitos já conquistados por essa
população específica.
Palavras-chave​: LGBT; Políticas públicas; Direitos humanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria GM/MS Nº 2.836, de 01 de Dezembro de 2011.
Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral
LGBT)​. Diário Oficial da República Federativa do Brasil​. v. 0, n. 0, p. 35, 02 dez 2011.
Disponível em:
<​https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2836_01_12_2011.html​>. Acesso
em: 31 ago. 2020.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria GM/MS Nº 2.803, de 19 de Novembro de 2013.


Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). ​Diário
Oficial da República Federativa do Brasil​. v. 0, n. 0, p. 25, 21 nov 2013. Disponível em:
<​http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2803_19_11_2013.html​>. Acesso em:
31 ago. 2020.

CARRARA, S. Discrimination, policies, and sexual rights in Brazil. ​Cadernos de Saúde


Pública​, v. 28, n. 1, p. 184–189, jan. 2012.

CORRÊA, S.; PARKER, R.; (ORGS). ​Sexualidade e Política na América Latina:


histórias, interseções e paradoxos.​ Rio de Janeiro: [s.n.].

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<​http://especiais.correiobraziliense.com.br/brasil-lidera-ranking-mundial-de-assassinatos-de-t
ransexuais​>. Acesso em 31 ago. 2020.

FARAH, M. F. S. Gênero e políticas públicas. ​Revista Estudos Feministas​, v. 12, n. 1, p.


47–71, abr. 2004.

SILVA, F. R.; NARDI, H. C. A construção social e política pela não-discriminação por


orientação sexual. ​Physis: Revista de Saúde Coletiva​, v. 21, n. 1, p. 251–265, 2011.

163
A NECESSIDADE DE SE PENSAR LIMITES ÉTICOS E JURÍDICOS DA
ATUAÇÃO MÉDICA SOBRE CORPOS INTERSEXO NO BRASIL

Ana Beatriz Fonseca dos Santos​81

Resumo​: O presente trabalho tem como escopo investigar os limites éticos e jurídicos da
atuação médica sobre os corpos de pessoas intersexo que nascem com genitália ambígua no
Brasil, país no qual a regulação sobre o tema é escassa. Assim, busca-se promover a reflexão
acerca da necessidade de uma delimitação precisa da conduta médica, a fim de se evitarem
mutilações e tratamentos hormonais invasivos. Por meio de pesquisa exploratória, com base
em comparação bibliográfica e análise de dados, serão abordados a definição de intersexo; o
tratamento dispensado a tais pessoas à luz do Conselho Federal de Medicina, da legislação
brasileira e de tratados internacionais; e, ainda, o que as legislações e regulações estrangeiras
tem a ensinar em relação à conduta médica perante corpos intersexo. Pretende-se, dessa
forma, afastar a ideia de patologização e urgência de normatização de corpos dissidentes à
lógica binária, convocando a necessidade de se pensar limites éticos e jurídicos que tutelem a
dignidade e autonomia do indivíduo intersexo.
Palavras-chave:​ Intersexualidade; Direito; Regulação; Saúde; Despatologização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBAN, Carlos Eduardo de Oliveira. ​A reificação nos discursos e práticas biomédicas em
intersexos: a violação de direitos e a luta pela despatologização​. Dissertação de mestrado.
defesa em 26.02.2018. Unisinos. Disponível em:
<​http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/7632​>. Acesso em 10 jul. 2020.

GUIMARÃES JR.. Anibal Ribeiro. ​Identidade cirúrgica: o melhor interesse da criança


intersexo portadora de genitália ambígua. Uma perspectiva bioética​. / Anibal Ribeiro
Guimarães Jr.. -- 2014. 149 f. Orientador: Schramm, Fermin Roland Barboza, Heloísa Helena
Gomes Tese (Doutorado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro,
2014.

GUIMARAES, Anibal; BARBOZA, Heloísa Helena. ​Designação sexual em crianças


intersexo: uma breve análise dos casos de "genitália ambígua"​. Cad. Saúde Pública, Rio
de Janeiro, v. 30, n. 10, p. 2177-2186, Oct. 2014. Disponível em:
<​http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2014001002177&lng=
en&nrm=iso​>. access on 27 June 2020. Acesso em 10 jul. 2020.

81
Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Membra do Grupo de Estudos e
Pesquisas Direito e Ficção (UFES), ​Bioethik (UFES) e Trabalho, Seguridade Social e Processo (UFES). CV
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8438402633494419. E-mail: anabeatriz.fonsecas@gmail.com.
164
REPRESENTATIVIDADE TRANS NA POLÍTICA:
estudo de caso do projeto de lei do senado (PLS) 191 de 2017 para alteração da Lei
Maria da Penha

Bruna Melo da Silva​82

Resumo​: O presente estudo busca analisar a representação política enquanto um instrumento


eficaz na produção legislativa sobre violência contra pessoas trans, no contexto do projeto de
lei do senado (PLS) 191 de 2017 para alteração da Lei Maria da Penha em seu Art. 2º, de
modo que esta contemple às mulheres trans, a mesma proteção jurídica e direitos que são
assegurados às mulheres cisgênero. Para tanto, decidiu-se, em primeiro lugar, entender as
vivências trans, em especial quanto às dinâmicas de exclusão social e violência que permeiam
sua existência. Em seguida, buscou-se compreender o conceito de “representação política” e
sua influência no processo de elaboração legislativa. Em terceiro lugar, investigou-se em que
medida a representação política de pessoas trans influencia na proposta de alteração
legislativa da Lei Maria da Penha, visto que no Brasil, que é um país caracterizado pela
pluralidade social, determinados grupos de pessoas não são devidamente representados nas
instituições políticas, acarretando em demandas específicas não contempladas de forma
adequada. Para tanto, optou-se enquanto ferramentas metodológicas a revisão bibliográfica,
realizada mediante análise de publicações científicas, como artigos científicos, monografias,
dissertações, teses e livros. Utilizou-se ainda a revisão documental de diversas peças
informativas e normativas, como projetos de lei que versam sobre as alterações da Lei Maria
da Penha (Lei 11.340/2006) e legislação aplicável ao caso. Ao final, concluiu-se que se não
existem representantes políticos trans no processo de elaboração e deliberação política,
dificilmente suas perspectivas sociais serão levadas em consideração no processo de
elaboração e deliberação de um documento legal, portanto, a representação específica das
pessoas trans é um instrumento de extrema importância para a elaboração legislativa de um
dispositivo legal que busque a efetividade.
Palavras-chave:​ Lei Maria da Penha; PLS 191; Pessoas Trans; Representatividade política.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AREIA, Ari; VIEIRA, Helena. LGBTs e a política partidária: Sobre disputa e democracia.
São Paulo: Revista Cult, 2016.

ALVAREZ, Adela Duare. Elaboração legislativa: ​aspectos gerais. Revista do Parlamento


Paulista, Volume 2, Número 3, 2012.

PEDRA, Caio Benevides. ​Direitos LGBT: as LGBTfobia estrutural na arena jurídica.


(Dissertação de Mestrado). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2018.

PEDRA, Caio Benevives. ​Travestis e transexuais na política: a busca por participação e


representação num país LGBTfóbico. Anais do III Encontro Internacional Participação,
Democracia e Políticas Públicas. 2017.

PITKIN, Hanna. ​Representação: palavras instituições e ideias. Revista Lua Nova, Número
67, 2006.

82
Graduanda em Direito pela Instituição de Ensino Superior Faci Wyden, em Belém do Pará, atualmente no 4º
Semestre, obtendo o endereço eletrônico brunamelo.silva02@gmail.com.
165
PRADO, Marco Aurélio Máximo. ​Transexuais e travestis nas eleições 2016. ​Sexuality
Policy Watch. 2016.

SANTOS, Gustavo Gomes da Costa. ​Diversidade sexual e política eleitoral: ​Analisando as


candidaturas de travestis e transexuais no Brasil contemporâneo. Revista Sexualidade, saúde
e sociedade, número 23, 2016.

YOUNG, Iris Marion. ​Representação política, identidade e minorias. Revista Lua Nova,
Número 67, 2006.

166
O ACESSO A POPULAÇÃO TRANSGÊNERO E TRAVESTIS À ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE:
uma revisão

Maria Eduarda Lessa Guerra​83


Maria Osana da Silva Antônio Filho​84
Gabriel Gouveia Coelho de Moraes​85

Resumo​: O Brasil é o país que mais mata transgêneros e travestis no mundo, identificando,
tornando-os vulneráveis e sofrendo efeitos da discriminação e exclusão em todas as esferas,
inclusive no processo saúde-doença. Dentro da população LBGT, são as maiores vítimas de
estigmatização, discriminação e violência, fazendo a necessidade de estudos e políticas que
abordem essa temática no âmbito da saúde. Compreender sobre o acesso dos transgêneros e
travestis à Atenção Primária à Saúde (APS) e suas dificuldades. Este trabalho é uma revisão
de literatura sistemática, onde os bancos de dados eletrônicos consultados foram: SciElo,
PubMed e Google Scholar, de 2013 a 2020. Como critérios de inclusão foram preferíveis,
revisões integrativas, relatos de caso e estudos de coorte. Foram avaliados 13 artigos, sendo
que 54% afirmam que o acesso da população trans à APS é baixo e ocorre devido ao
enfrentamento de diversas barreiras. Dentre elas, citam-se a discriminação, violência, a
construção de gênero estigmatizada e patologizada pelos profissionais, além de dificuldades
na utilização de pronomes de tratamento. Ademais, 100% dos trabalhos indicam o despreparo
dos profissionais para com o acolhimento da população LGBT, sobretudo a população trans e
travestis. As principais estratégias para o combate, incluem o investimento na formação e
educação permanente dos profissionais de saúde, citado em 30% dos artigos, a
implementação de ações e políticas de atenção em saúde, em 46% dos artigos, além do
conhecimento sobre a política nacional de atenção integral à população LGBT e da
importância da notificação em casos de violência. Foi notado que o acesso da população trans
e travestis é inferior às demais, sendo as principais dificuldades a discriminação e o
despreparo dos profissionais. Dessa forma, é necessário o aprimoramento no acolhimento
dessa população na atenção primária, melhor formação dos profissionais e implementação de
políticas governamentais.
Palavras-chave​: Acesso à saúde; População transgênero e travestis; Atenção primária à
saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
DE CARVALHO PEREIRA, L. B.; CHAZAN, A. C. S. O acesso das pessoas transexuais e
travestis à atenção primária à saúde: uma revisão integrativa. ​Revista Brasileira de
Medicina de Família e Comunidade​, Rio de Janeiro, v. 14, n. 41, p. 1795, 2019. Disponível
em: <​https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1795​>. Acesso em: 17 jul. 2020.

SILVA, Ariadne Soares Moraes. ​Reflexões sobre a Política Nacional de Saúde Integral de
LGBT​: percepção de enfermeiros que atuam na atenção primária à saúde. Monografia
(Graduação em Enfermagem) - Escola Superior de Ciências da Saúde, Brasília, 2019.

83
Acadêmica de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia – Goianésia (GO), Brasil.
mariaeduarda.15@hotmail.com​.
84
Acadêmica de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia – Goianésia (GO), Brasil.
maria.osana1@gmail.com​.
85
Acadêmico de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia – Goianésia (GO), Brasil.
gabrielgouveia_@hotmail.com​.
167
AMORIN, Juliana de Freitas ​et al​. Atendimento das necessidades em saúde das travestis na
atenção primária. ​Revista Baiana de Saúde Pública​, Salvador, v. 44, n. 03, p. 759-773, 17
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<​https://pdfs.semanticscholar.org/854a/a46e38d0f4e981efd1ac50b8de6ec3917dfa.pdf​>.
Acesso em: 17 jul. 2020.

RAMOS, L. S.; ALMEIDA, M. G.; RAMOS, M. V. S.; MACHADO, E. M. C.; DOS


SANTOS, V. DE O.; CONTARINI, M. R. F.; RAMOS, G. B. F.; MANTIOLHE, T. DA S.
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brasileira no atendimento de travestis e transsexuais: uma revisão narrativa. ​Revista
Eletrônica Acervo Saúde​, n. 44, p. e2770, 26 mar. 2020.

SALUM, Maria Eduarda Grams. ​Repositório Institucional da UFSC​. 2018. Gestão do


cuidado à pessoa trans na atenção primária à saúde (Décimo - Enfermagem) - UFSC, Santa
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Disponível em:
<​http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1384173144_ARQUI
VO_CamilaGuaranha.pdf​>. Acesso em: 17 jul. 2020.

ARAÚJO, E. T.; SOUSA, G.; CARVALHO JÚNIOR, J. A.; PESSÔA, F. G. DE; MOURA,
L. K. Acolhimento à população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros na atenção
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GUIMARÃES, Nilo Plantiko ​et al​. Avaliação da implementação da Política Nacional de


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17 jul. 2020

AMARAL, Daniela Murta ​et al​. ​Orientações para o atendimento profissional e


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PINTO, Isabella Vitral ​et al​. Perfil das notificações de violências em lésbicas, gays,
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FERREIRA, Breno de Oliveira ​et al​. Abrindo os armários do acesso e da qualidade: uma
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169
A JUDICIALIZAÇÃO DOS DIREITOS DA COMUNIDADE LGBT:
uma questão a ser refletida


Jackson de Jesus Sousa Leite 86

Resumo​: O advento da Constituição Federal de 1988 representou a redemocratização do país.


A nova ordem democrática que recepcionou os direitos sociais, civis, políticos, é alcunhada
de Constituição Social. Esse título consagrou-se, dentre outros motivos, pelo fato de a nova
Carta Magna eleger a cidadania e a dignidade humana como fundamento, além de ter se
comprometido com a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. (CUNHA
JÚNIOR, 2020). Esse novo diploma, portanto, provocou um sentimento de esperança em toda
à sociedade, haja vista que o território brasileiro por séculos positivou atos violentos,
opressivos e discriminatórios. No entanto, mesmo após o processo de redemocratização
alguns seguimentos permaneceram invisibilizados, dentre eles a comunidade LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Grupo que cotidianamente é vítima de
múltiplas violências, resultando na ampliação da sua condição de vulnerabilidade. Conforme
(FRANÇA; FACCHINE, 2009), o primeiro grupo a discutir temáticas voltadas a diversidade
sexual no Brasil foi o “Somos”, em 1978. De lá para cá, o movimento foi sendo ampliado e
ressignificado, passando a empreender lutas destinadas à promoção dos direitos da
comunidade LGBT, principalmente no âmbito legislativo. Porém, o Congresso Nacional não
tem respondido às demandas deste grupo. De acordo com (CALVI, 2019), há mais de trinta
anos o Congresso não aprova leis que visem à proteção da população LGBT. Todos os
direitos alcançados por este seguimento vieram por meio de decisões judiciais e atos do
executivo. O que é uma questão problemática, porque além de não terem força de lei, estes
mecanismos podem sofrer alterações. Assim, este trabalho tem como objetivo descortinar os
motivos que mantêm o processo de omissão legislativa frente às demandas da comunidade
LGBT, bem como elucidar os impasses das decisões judiciais que têm reconhecido os direitos
fundamentais deste grupo. Para tanto, o presente estudo terá caráter dedutivo, alicerçado em
estudos científicos que trabalhem a temática em discussão, além da análise de legislações e
julgados. Atendendo ao pluralismo de ideias e crenças garantido constitucionalmente, a
participação de pessoas vinculadas a grupos religiosos na política representativa vem
crescendo cada vez mais nos últimos anos. Em 2018, um levantamento realizado pelo G1
Notícias, revelou que, dos 512 deputados federais que ingressariam no parlamento em 2019,
mais de 370 pertenciam a alguma religião. (G1, 2018). Porém, historicamente esses
parlamentares impedem o progresso das demandas da comunidade LGBT no Congresso
Nacional. Considerados ameaça à ordem social e moral da sociedade e rotulados como
pecaminosos, os LGBTs são alvos de preconceito e estigmatização. Para as pessoas
religiosas, os avanços dos direitos civis dos homossexuais são violações a seus direitos ou
mesmo uma espécie de perseguição ou intolerância religiosa cristã (CARDINALI, 2017). E
diante dessa negativa legiferante, o público LGBT busca os tribunais, a fim de que estes
atendam suas agendas. Dessa forma, fica nítido que a omissão legislativa reflete os valores
religiosos, morais e culturais da sociedade, tornando necessário compreender as estruturas
sociais que consubstanciam práticas desrespeitosas e violentas contra os LGBTS, impedindo,
inclusive, que este segmento tenha seus direitos reconhecidos.
Palavras-chave​: Direitos LGBTs; Judicialização; Omissão Legislativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALVI, Pedro. Muito além do arco-íris: Congresso não aprova leis pró-LGBTIs desde 1988.
86
Graduando em Direito pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus XIX. E-mail:
jahcksonleyte@gmail.com
170
Portal Câmara dos Deputados​, 2019. Disponível em:
<​https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/n
oticias/muito-alem-do-arco-iris-congresso-nao-aprova-leis-pro-lgbtis-desde-1988​>. Acesso
em: 30 jun. 2020.

CARDINALI, Daniel Carvalho. ​A judicialização dos direitos LGBT no STF​: limites,


possibilidades e consequências. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 257, 2017.

CUNHA JÚNIOR, Dirley da. ​Curso de Direito Constitucional​. 14 ed. Salvador: Juspodivm,
2020.

FRANÇA, Isadora Lins; FACCHINI, Regina. De cores e matizes: sujeitos, conexões e


desafios no Movimento LGBT brasileiro. ​Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista
Latinoamericana​, núm. 3, 2009, pp. 54-81.

Maioria na Câmara se declara católica; número de evangélicos cresce. ​G1 Notícias​, 27 nov.
2018. Disponível em:
<​https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/11/27/maioria-na-camara-se-declara-catolica-nu
mero-de-evangelicos-cresce.ghtml​>. Acesso em: 11 set. 2020.

171
GAYS E HSH:
ruídos e escolhas lexicais no protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção
integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis (IST)​ ​do Ministério da
Saúde

Daniel Carvalho Nunes da Silva​87


Conrado Neves Sathler​88

Resumo​: Este resumo apresenta uma parte da Pesquisa de Iniciação Científica​89 com o título:
Análise discursiva de uma abordagem LGBT+ do Manual do Ministério da Saúde sobre
Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e objetiva analisar alguns achados no
documento do Ministério da Saúde de orientação a profissionais da Assistência (BRASIL,
2015). O manual elenca como grupos de risco: ​gays ​e HSH, que seriam homens que fazem
sexo com homens. Porém não menciona em nenhuma parte as lésbicas e as que poderíamos
também chamar, a partir de um paralelo com primeira sigla, de MSM, mulheres que fazem
sexo com mulheres (BRASIL, 2015). Já, em relação à esfera masculina, têm-se dois termos
que chamam a atenção pela sua identificação de forma distinta: ​HSH e ​gays (BRASIL, 2015).
Os autores não delimitam quais indivíduos pertencem a quais grupos, não justificam o uso
desses termos nem a exclusão de outros como, por exemplo, o termo homossexual. Logo, é
possível inferir alguma inabilidade em delimitar grupos e, também, a vinculação do termo
gay aos riscos de ISTs, embora o termo designe mais que corpos, mas uma cultura e permita
o questionamento do não uso de expressões como práticas sexuais ou sujeito homossexual
(PEREIRA, 2004). Além da Inabilidade, é possível inferir a manutenção de um discurso
patologizante e moralizador além de um espelhamento de estruturas binárias maquiavélicas
de bem e mal, saúde e doença, heteronormativo e não heteronormativo, o que está associado à
segurança ou não segurança (DUNKER; KYRILLOS NETO, 2010). Por fim, a presença
dessas estruturas lexicais e a ausência de outras tendem a agravar os indicadores de Saúde
dessa população e acentuarem ainda mais suas categorias de populações vulneráveis (LÚCIO,
et al. ​2019).
Palavras-chave​: HSH; Gays; ISTs; Saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST,
Aids e Hepatites Virais. ​Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção
Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis​. Brasília: Ministério da
Saúde, 2015.

DUNKER, Christian Ingo Lenz; KYRILLOS NETO, Fuad. Curar a Homossexualidade?: a


psicopatologia prática do DSM no Brasil. Rev. Mal-Estar Subj.​, Fortaleza , v. 10, n. 2, p.
425-446, jun. 2010. Disponível em:
<​http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482010000200004&l
ng=pt&nrm=iso​>. Acessos em 28 jun. 2020.
LÚCIO, Firley Poliana da Silva ​et al​. Saúde sexual da mulher lésbica e/ou bissexual:
especificidades para o cuidado à saúde e educação sexual. ​Revista Ibero-Americana de
Estudos em Educação​, [S.l.], p. 1465-1479, june 2019.

87
Graduando em Medicina da Universidade federal da Grande Dourados (UFGD). Bolsista PIBIC UFGD.
E-mail: ​daniel.carvalho.nunes@gmail.com​.
88
Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail: c​ onradosathler@ufgd.edu.br​.
89
Pesquisa com financiamento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC UFGD.
172
PEREIRA, C. A. M. O impacto da AIDS, a afirmação da ‘cultura gay’ e a emergência do
debate em torno do ‘masculino’ – fim da homossexualidade? ​In​: RIOS, L. F; ALMEIDA, V.;
PARKER, R.; PIMENTA C.; TERTO JUNIOR, V. (Org.). ​H​omossexualidade: produção
cultural, cidadania e saúde​. Rio de Janeiro: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS,
2004.

173
USO DE BANHEIRO PÚBLICO POR PESSOAS TRANSEXUAIS:
em busca do reconhecimento deste direito no STF

Vanessa de Castro Rosa​90

Resumo​: o uso de banheiro público por pessoas transexuais tem causado uma série de
constrangimentos e violações a direitos fundamentais, gerando ações judiciais que discutem
sobre a existência ou não deste direito. Em Sorocaba-SP, uma lei municipal que proibia o uso
de banheiros públicos segundo a identificação da pessoa em escolas do município foi
declarada inconstitucional, contudo, o argumento foi por inconstitucionalidade formal por
violação de competência da União para legislar sobre educação. No âmbito do trabalho, a
questão também gera controvérsia, havendo uma proliferação de julgados para se solucionar
os conflitos caso a caso. O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e promoção dos
direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais por meio da Resolução nº 12, de
16 de janeiro de 2015, estabeleceu o direito ao uso de banheiro público conforme a identidade
de gênero. A questão está sob julgamento no Supremo Tribunal Federal, no Recurso
Extraordinário 845.779, que já reconheceu em sede de repercussão geral o direito ao uso de
banheiro público por pessoas transexuais. ​O Ministério Público Federal já se manifestou de
forma favorável ao uso do banheiro público com base nos Tratados Internacionais de
Direitos Humanos, na doutrina do reconhecimento como dignidade e inclusão social de Axel
Honneth, destacando a inconstitucionalidade de um chamado “terceiro banheiro” exclusivo
para pessoas transexuais, por configurar medida discriminatória de segregação. Identificar os
fundamentos jurídicos e políticos que têm embasado as decisões judiciais, especialmente a
decisão do STF, a fim de delinear possíveis fundamentos e suas repercussões. A questão será
decidida com base em inconstitucionalidade formal por algum vício de iniciativa,
competência ou procedimento ou a questão será decidida com base em inconstitucionalidade
material por violação a direitos fundamentais das pessoas transexuais, reconhecendo-se
expressamente o direito ao uso do banheiro público segundo a identidade de gênero. ​Trata-se
de estudo jurisprudencial, desenvolvido sob o método indutivo, para verificação dos julgados
existentes sobre o tema, na jurisprudência nacional, especialmente na base de dados do
Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. A pesquisa é qualitativa de cunho
teórico realizada por meio de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial.
Palavras-chave​: banheiro público; pessoas transexuais; direito ao banheiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. ​Resolução n° 12, de janeiro de 2015, do Conselho Nacional de Combate à
discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (CNCD/LGBT)​. Estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso
e permanência de pessoas travestis e transexuais - e todas aquelas que tenham sua identidade
de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais - nos sistemas e instituições de
ensino, formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de
gênero e sua operacionalização. Disponível em:
<​http://www.sdh.gov.br/sobre/participacaosocial/cncd-lgbt/resolucoes/resolucao-012​>.
Acesso em: 18 jul. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Plenário). ​Recurso Extraordinário 845.779.


Transexual. Proibição de uso de banheiro feminino em shopping center. Alegada violação à
dignidade da pessoa humana e a direitos da personalidade. Presença de repercussão geral.
90
Doutorado em Direito (Mackenzie). Mestrado em Direitos Humanos. Bacharela em Direito e em Filosofia.
Professora da Universidade do Estado de Minas Gerais. vanessa.rosa@uemg.br.
174
Recorrente: André dos Santos Fialho. Recorrido: Beiramar Empresa Shopping Center Ltda.
Relator: Min. Roberto Barroso, 22 de outubro de 2014. Disponível em:
<​http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15317399481&ext=.pdf​>. Acesso
em: 18 jul. 2020.

RIOS, Roger Raupp; RESADORI, Alice Hertzog. Direitos humanos, transexualidade e


“direito dos banheiros”. ​Direito & Práxis,​ Rio de Janeiro, v. 06, n. 12, p. 196-2272, 2015.

175
SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBTI+ NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:
entrelinhas da revisão da literatura

Caroline Silva de Araujo Lima​91


Gabriela Ferreira da Silva​92
Márcia Farsura de Oliveira​93

Resumo​: Desde a 12ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2003, o tema acesso dos
cidadãos LGBTI+ vem sendo pautado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2011, foi
promulgada a Política Nacional de Saúde LGBT, que foi um marco histórico de
reconhecimento, tendo como fundamento a implementação de ações para diminuir a
discriminação, afirmando o compromisso ético-político de todas as instâncias do SUS.
Ressalta-se que nesse cenário, são necessários protocolos clínicos específicos voltados a essa
população, evitando desigualdade e negligência entre os serviços em saúde. Analisar na
literatura se a existência de protocolos clínicos específicos à população LGBTI+, na atenção
primária à saúde é uma constante. Trata-se de uma revisão da literatura, realizada através de
um levantamento bibliográfico de artigos de 2004 a janeiro de 2020, utilizando as bases
dados Nescon, PubMed e Biblioteca Virtual da Saúde, realizada em julho de 2020, com os
descritores: “atenção à saúde”, “minorias sexuais e de gênero”, “equidade em saúde”e
“atenção primária”, os quais foram cruzados com o auxílio do operador boleano “and”.
Critérios de inclusão: publicações dos últimos dez anos, nos idiomas português, inglês e
espanhol, disponíveis na íntegra e em concordância à temática do estudo. A pesquisa
identificou que, embora existam iniciativas brasileiras como a Política Nacional de Saúde
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,. Travestis e Transexuais (LGBT), a relevância da
temática no âmbito da saúde e da educação, o tema permanece excluído de grandes
discussões e da elaboração de protocolos na atenção básica, onde o usuário tem intervenções
precoces na história natural das doenças, potencializando essa abordagem ou mesmo evitando
sua necessidade. Assim, conclui-se que estratégias de aplicação de protocolos voltados para a
população LGBTI+ na Atenção Básicanão são valorizadas em âmbito nacional, o que
possibilita a desigualdade do acesso aos serviços de saúde pública.
Palavras-chave​: atenção à saúde; minorias sexuais e de gênero; equidade em saúde; atenção
primária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aran, M., Murta, D.; Lionço, T.. ​Transexualidade e saúde pública no Brasil​. Ciência &
Saúde Coletiva, 14(4), 1141-1149, 2009.

Brasil. Ministério da Saúde. ​Brasil sem Homofobia: Programa de Combate a Violência e


à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual​. Brasília, DF,
2004.

Lionço, T. ​Atenção integral à saúde e a diversidade sexual no processo transexualizador


do SUS​: avanços, impasses, desafios. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, 19(1), 43-63, 2009.

91
Graduanda de Medicina – Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP).
92
Graduanda de Medicina – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
93
Médica- Professora da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP). Orientadora.
176
SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRANSGÊNEROS:
uma revisão sistemática

Leticia Teixeira de Siqueira Valadares​94


Isabela Cristina Ribeiro​95
Raíssa Tiradentes Ribeiro​96
Isis de Freitas Espeschit​97

Resumo: ​Transgênero é o termo designatório para aqueles que possuem identidade de gênero
distinta do sexo biológico. Há escassos dados acerca do número de crianças e adolescentes
transgêneros no Brasil e no mundo, apesar de sua vulnerabilidade social. Estudos acerca da
saúde mental desses indivíduos apontam elevadas taxas de depressão, ansiedade e suicídio,
consequências do estigma enfrentado por essa minoria e perpetuado por uma sociedade
heteronormativa. Considerando esse cenário, o presente artigo objetivou avaliar dados de
saúde mental em crianças e adolescentes transgêneros, bem como suas variáveis relacionadas.
Para isso, foi conduzida uma revisão descritiva de artigos indexados nas bases de dados
PubMed e BVS, com os descritores “mental health”, “transgender persons” e “children”, com
o auxílio do operador booleano AND. O referencial teórico apontou que crianças e
adolescentes transgêneros possuem taxas de sintomas de depressão, tentativa de suicídio e
automutilação maiores que a de cisgêneros. Além disso, jovens transgêneros cujos pais não
aceitam sua identidade de gênero possuem treze vezes mais chances de tentar suicídio que
jovens trans apoiados pelos pais. Também foi demonstrado que crianças que passaram pela
transição social tiveram escores de depressão iguais a de seus pares cisgênero e de ansiedade
menores que o de crianças transgêneros que não passaram pelo processo. Em suma, crianças
e adolescentes transgêneros lidam com rejeição familiar, discriminação e agressões físicas,
que contribuem para a morbidade psiquiátrica dessa população. Nesse caso, é fundamental
que eles possuam suporte em seu círculo familiar e durante a transição social, processo
significativamente afirmativo para a criança. Conclui-se que crianças e adolescentes
transgêneros estão mais vulneráveis a transtornos mentais, contudo, por meio da identificação
precoce, do apoio familiar e do suporte à transição social, é possível reduzir o risco desses
transtornos e de suas sequelas.
Palavras-chave: ​identidade de gênero; infância; saúde mental; psicopatologia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONNOLLY, Maureen D ​et al​. The Mental Health of Transgender Youth: Advances in
Understanding. ​The Journal of adolescent health : official publication of the Society for
Adolescent Medicine​, New York, v. 59, n. 5, p. 489-495, nov. 2016. Disponível em:
˂​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27544457/​˃. Acesso em: 3 jul. 2020.

FONTANARI, Anna Martha Vaitses ​et al​. Childhood Maltreatment Linked with a
Deterioration of Psychosocial Outcomes in Adult Life for Southern Brazilian Transgender
Women. ​Journal of immigrant and minority health​, ​New York, v. 20, n. 1, p. 33-43, fev.
2018. Disponível em: ˂​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27838863/​˃. Acesso em: 9 jul. 2020.
94
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares
(UFJF-GV); Governador Valadares - MG; leticiateixeirav@gmail.com.
95
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares
(UFJF-GV); Governador Valadares - MG; isabelacapitolio16@gmail.com.
96
Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares
(UFJF-GV); Governador Valadares – MG; raissa.tiradentes@hotmail.com.
97
Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa; Governador Valadares – MG;
isisdefreitasespeschit@gmail.com.
177
OLSON, Kristina R ​et al​. Mental Health of Transgender Children Who Are Supported in
Their Identities. ​Pediatrics, Springfield, v. 137, n. 3, mar. 2016. Disponível em:
˂​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26921285/​˃. Acesso em: 3 jul. 2020.

PRIEST, Maura. Transgender Children and the Right to Transition: Medical Ethics When
Parents Mean Well but Cause Harm. ​The American journal of bioethics: AJOB,
Cambridge, v. 19, n. 2, p. 45-59, fev. 2019. Disponível em:
˂​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30784385/​˃. Acesso em: 5 jul. 2020.

SHERER, Ilana. Social Transition: Supporting Our Youngest Transgender Children.


Pediatrics, Springfield, v. 137, n. 3, mar. 2016. Disponível em:
˂​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26921284/​˃. Acesso em: 13 jul. 2020.

TELFER, Michelle ​et al​. Transgender adolescents and legal reform: How improved access to
healthcare was achieved through medical, legal and community collaboration. ​Journal of
paediatrics and child health, ​Melbourne, v. 54, n. 10, p. 1096-1099, out. 2018. Disponível
em: ˂​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30294980/​˃. Acesso em: 5 jul. 2020.

178
A SITUAÇÃO DA MULHER TRANSSEXUAL NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
BRASILEIRO

João Lucas Camargo​98

Resumo​: o artigo quinto da constituição federal brasileira diz “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza (...)” com isso, entende-se que todos os cidadãos dessa
nação gozem dos mesmos direitos e são atingidos pelo os mesmos ônus. Entretanto, essa
norma constitucional, muitas vezes, não se aplica a todos na sociedade. Um dos grupos
sociais em que essa norma não se aplica, é no grupo LGBT+. Esse grupo é composto por
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, entre outros. Pode se considerar como o
marco histórico para o movimento, o dia 28 de junho de 1969, quando lésbicas, gays,
travestis e drag queens enfrentaram policiais que constantemente promoviam revistas
humilhantes e violentas em bares gays de Nova Iorque. Apesar de tantas lutas e
reivindicações, muitos direitos ainda não foram reconhecidos. E um deles é o de mulheres
trans cumprirem penas em instituições prisionais femininas. No Brasil, não existe nenhuma
lei que regulamenta essa situação, e com isso, muitas mulheres trans cumprem suas penas em
instituições carcerárias masculinas, onde são submetidas a constantes violências, como:
sexuais, físicas e emocionais. Esses casos de violências ocorrem diariamente, mas essas
situações não são explanadas para a sociedade, pois não é algo que preocupe e comova as
pessoas, não “vende” em programas sensacionalistas. Quando isso ocorre, há um rompimento
com o direito à integridade física e psíquica, e o da dignidade da pessoa humana. A partir do
momento em que essas pessoas tiveram o direito de reconhecimento de sua identidade de
gênero, devem usufruírem de todos os direitos e acessibilidades que tal gênero possui. Logo,
ao cumprirem uma pena, devem ser encaminhadas para instituições onde estão os seus
semelhantes. Por tanto, é necessário a criação de normas que concretize tal direito, dá
acessibilidade judicial, para que esses indivíduos possam recorrer caso tal norma não seja
respeitada, e por fim, instruir e treinar os profissionais que lidam diretamente com essas
pessoas.
Palavras-chave​: Mulheres transexuais; Penitenciárias brasileiras; Vulnerabilidade; Direito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
LENZA, Pedro. ​Direito constitucional esquematizado​. 20ª edição São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.

BITENCOURT, Cezar Roberto. ​Tratado de direito penal​. 17ª edição. São Paulo: Saraiva,
2012.

Costa, Willian David Arruda. ​A mulher transgênero e o sistema prisional​.


<​https://willdavid.jusbrasil.com.br/artigos/558113742/a-mulher-transgenero-e-o-sistema-prisi
onal​>. Acesso em: 06 de Jul. 2020.

MODELLI, Lais. ​Estupro e tortura​: relatório inédito do governo federal aponta o drama de
trans encarceradas em presídios masculinos. G1, 2020. Disponível em:
<​https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/02/06/estupro-e-tortura-relatorio-inedito-
do-governo-federal-aponta-o-drama-de-trans-encarceradas-em-presidios-masculinos.ghtml​>.
Acesso em: 08 de Jul. 2020.

98
Graduação, Universidade estadual de Londrina (UEL), Paraná-Londrina, Lucasbatista16@live.com.
179
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE E DIREITO DA POPULAÇÃO LGBTQIA+:
uma análise crítica sobre o panorama das minorias nas diferentes instâncias sociais

Valéria Gomes Marques​99


Shesllen Mikaelly Cruz Correa​100

Resumo​: Tratar de temas que envolvem diversidade sexual e de gênero é considerado um


tabu que perpassa os núcleos familiares; é um impasse em quaisquer das instâncias, inclusive,
dentro do sistema de saúde. Isso ocorre, pois, historicamente, a comunidade LGBTQIA+
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros​, transexuais e travestis, queer, intersexo,
assexuais e outros) sempre foi alvo das mais diferentes formas de discriminação e violência.
Nesse sentido, foram necessárias diversas lutas sociais na tentativa de ganhar, dentre tantas
questões, maior visibilidade, consolidação de políticas públicas em saúde e conquista dos
direitos humanos fundamentais. Essa pesquisa busca evidenciar os desafios na garantia dos
direitos e a promoção de políticas públicas em saúde da população LGBTQIA+. No presente
estudo, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, de série temporal compreendida
entre 2016 a 2020, retrospectiva, de caráter descritivo com abordagem qualitativa, com
auxílio das seguintes bases de dados: PubMed, Scielo e Lilacs. Pode-se inferir que, apesar da
crescente adesão ao movimento “Orgulho LGBTQIA+”, a cultura da negação de direitos e
políticas públicas em saúde ainda é marcante, o que indica a necessidade da ampliação do
debate político e rearranjo cultural sobre esse aspecto. No entanto, a Política Nacional de
Saúde Integral de LGBT, o Programa Brasil sem Homofobia, como tantas outras ferramentas
foram e ainda são cruciais para resistir e, sobretudo, alcançar mais um patamar nesse quesito.
Portanto, ao longo das décadas, a rede de assistência à saúde vem tentando construir ações
que visem os princípios da Universalidade e da Integralidade pautados pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), e por meio de Políticas e Programas sociais voltados a atender as demandas
dessa minoria, no intuito de consolidar os seus direitos mais intrínsecos, apesar de ainda se
encontrar lacunas que precisam ser preenchidas em pró do bem comum.
Palavras-chave​: Políticas Públicas; LGBTQIA+; Direito; Diversidade Sexual e de Gênero.

Referências Bibliografia​:
LIMA, M. D. A et al. Os desafios a garantia de direitos da população lgbt no sistema único de
saúde (sus). ​Revista Interfaces​, Vol. 3(11), pp. 119-125, 29 de Julho, 2016.

LIMA, T. N. B et al. Atenção à Saúde da População LGBT numa capital nordestina. ​Revista
Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health​, Vol.Sup.34, outubro de
2019.

MORAESA, N; BERNARDELLIA, M. Promoção da saúde da população lgbt: uma


intervenção psicoeducativa para profissionais da saúde. ​VII Congresso de Pesquisa e
Extensão da FSG &V Salão de Extensão, ​Caxias do Sul ​– ​RS, de 30 de Setembro a 03 de
Outubro de 2019.

SILVA, R. C. Diversidade sexual e política nacional de saúde integral lgbt: pelo direito à
cidadania das pessoas lgbt e desafios aos assistentes sociais. ​Anais do 16º Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais​, Brasília (DF, Brasil), 30 de outubro a 3 de novembro de
2019.
99
Acadêmica do curso de Medicina das Faculdades Santo Agostinho, ​valeriamarques2812@gmail.com
100
Técnica de enfermagem, Acadêmica do curso de Medicina das Faculdades Santo Agostinho,
Shesllenmikaelly@gmail.co​m.
180
GOMES, S. M et al. O SUS fora do armário: concepções de gestores de saúde municipais de
saúde sobre a população LGBT. ​Saúde e Sociedade​, v.27, n.4, p.1120-1133, 2018.

181
A PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE SANGUE POR HOMENS HOMOSSEXUAIS:
a ADI 5543 e a necessidade de políticas públicas inclusivas

Natália Viana Nogueira​101


Cristiane Dantas Andrade​102
Priscila Ribeiro Jeronimo Diniz​103

Resumo​: O contexto estadunidense de contaminação por AIDS, decorrente de transfusão


sanguínea em 1980, refletiu de maneira direta no comportamento do Brasil perante os casos
de HIV e das doações de sangue, instaurando-se uma restrição de que “homens que se
relacionam sexualmente com outros homens” não poderiam doar, arguindo uma conduta
“preventiva” e “protetiva”. A partir da RDC nº 153/2004 e da RDC nº 34/2014, ambas da
ANVISA, junto a Portaria nº 158/2016 do Ministério da Saúde ficou determinada essa
limitação. A ADI 5543 que tratava de analisar a constitucionalidade dessas normas
proibitivas à doação de sangue por homens homossexuais, suspensa desde outubro de 2017,
foi julgada em maio de 2020, depois do cenário de epidemia do novo coronavírus aumentar
consideravelmente no Brasil e haver uma crise nos hemocentros com a redução das doações
de sangue. Apesar da inconstitucionalidade declarada no julgamento, uma análise dos votos
proferidos pelos ministros é de suma importância, pois a decisão foi palco de diversas
discussões sobre o teor discriminatório que as normas de proibição carregavam. Ainda que
extremamente significativa, a declaração de inconstitucionalidade não gera efeitos
automáticos na dinâmica social, principalmente em situações que dependem de uma
transformação cultural mais complexa e estrutural. Trata-se de uma pesquisa de natureza
qualitativa e de revisão bibliográfica e jurisprudencial que visa procurar maneiras de
assegurar de modo efetivo o direito e a dignidade humana dessa considerável parcela
populacional. Para isso, a implementação de políticas públicas específicas e inclusivas
fazem-se necessárias e indispensáveis, em perspectivas tanto nacionais quanto regionais, de
introdução à novas práticas não segregacionistas no dia a dia dos hemonúcleos e da sociedade
de forma geral, o que se traduz como um grande desafio a ser enfrentado, quando diante de
um governo que desconsidera fortemente “minorias”.
Palavras-chave​: ADI 5543; doação de sangue; homens homossexuais; políticas públicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Eduardo. ​(In)constitucionalidade da doação de sangue por homossexual
masculino: direito individual ​versus interesse coletivo​. 2018. 73 f. TCC (Graduação) -
Curso de Direito, Universidade Veiga de Almeida, Cabo Frio, 2018. Disponível em:
<​https://www.academia.edu/37211723/_in_constitucionalidade_da_doacao_de_sangue_por_
homossexual_masculino_direito_individual_versus_interesse_coletivo​>. Acesso em: 19 jun.
2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.543/2016.


Plenário. Relator: Edson Fachin. Brasília, DF, 21 de maio de 2020. ​Diário da Justiça
Eletrônico​, 2020. Disponível em:
<​http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4996495​>. Acesso em: 22 jun. 2020.

101
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
naatdir@hotmail.com.
102
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNIFAP/CE, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
cristianedantasandrade@hotmail.com.
103
Doutoranda e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba, Juazeiro do Norte/CE. E-mail:
priscilaribeiroj@hotmail.com.
182
________. ​Resolução da Diretoria Colegiada nº 153, de 14 de junho de 2004​. Disponível
em: <​http://www.sbpc.org.br/upload/noticias_gerais/320100416113458.pdf​>. Acesso em: 15
jun. 2020.

________. ​Resolução da Diretoria Colegiada nº 34, de 11 de junho de 2014​. Disponível


em:
<​http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2867975/RDC_34_2014_COMP.pdf/283a192e
-eee8-42cc-8f06-b5e5597b16bd?version=1.0​>. Acesso em: 15 jun. 2020.

________. Portaria n° 158, de 4 de fevereiro de 2016 – ​Ministério da Saúde​. Disponível


em: <​http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0158_04_02_2016.html​>.. Acess
o em: 22 jun. 2020.

CARDINALI, Daniel. A proibição de doação de sangue por homens homossexuais: uma


análise sob as teorias do reconhecimento de Fraser e Honneth. ​Revista Constituição e
Garantia de Direitos​, Natal, v. 9, n. 2, p. 110-136, jun. 2017. Disponível em:
<​https://periodicos.ufrn.br/constituicaoegarantiadedireitos/article/view/12256/8485​>. Acesso
em: 22 jun. 2020.

183
HÁ DIREITOS PARA QUEM NÃO IMPORTA?
racismo de estado e necropolítica diante da comunidade LGBTQIA+

Andrei Domingos Fonseca​104

Resumo​: o Brasil é um dos países que mais extermina vidas LGBTQIA+ no mundo. Logo, é
indispensável trazer à tona que nossas relações sociais são regidas pela institucionalização do
Racismo de Estado. É ela quem determina quem vive e quem morre, sobretudo, delimita seus
alvos de aniquilação. As minorias que compõem a comunidade LGBTQIA+ (em especial,
mulheres transexuais, travestis, transgêneros e homossexuais - afeminados) fogem dos
estereótipos sociais heteronormativos e são estigmatizadas e podem receber ao longo de suas
existências sentenças prematuras de morte. Vale destacar que não é necessário que um corpo
esteja sem vida para que ele transborde sofrimento, uma vez que apenas os corpos que
emanam vida podem ser ceifados. Além disso, essa realidade segue permeada pela biopolítica
junto da necropolítica que vai torturando essa comunidade, pouco a pouco, negando-a o
mínimo como Direitos Fundamentais que são garantidos pela Constituição Federal Brasileira.
Um Estado teoricamente laico hesita em pleno século XXI e não abandona o manto da fé para
garantir aquilo que é de direito dessa comunidade. As vítimas desse sistema seguem
suspirando todos os dias em meio a muita resistência. Todas as perspectivas de um futuro
palpável podem desaparecer repentinamente ou nunca existirem de fato, restando apenas
rotas de fuga que irão marginalizá-las ainda mais. Nesse contexto, junto à metodologia de
análise de revisão bibliográfica e documental busco com esta pesquisa - ainda em processo de
desenvolvimento - demonstrar através de uma breve análise que o intitulado Estado
Democrático de Direito segue omisso e consequentemente contribuindo (veladamente ou
não) junto aos extermínios que vitimizam a comunidade LGBTQIA+.
Palavras-chave​: Racismo de Estado; Biopolítica; Necropolítica; Minorias; LGBTQIA+.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Graduando em Direito pela Faculdade de Direito e Relações Internacionais (FADIR) da Universidade Federal
104

da Grande Dourados (UFGD), Pesquisador (PIVIC/CNPq-UFGD), Mato Grosso do Sul-Dourados. E-mail:


andreifonseca40@gmail.com.
184
FGV – Fundação Getúlio Vargas. Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação
Getúlio Vargas. ​Dados públicos sobre violência homofóbica no Brasil​: 29 anos de combate
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2020.

185
A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO EM PSICOLOGIA PARA A PREVENÇÃO DO
SUICÍDIO ENTRE LGBTQIA+

Juliana de Souza Bonardi​105


Marcos Antonio Hoffmann Nunes​106

Resumo​: A questão da saúde mental da população LGBTQIA+ no Brasil é um tema


premente e carece de um olhar cuidadoso e comprometido politicamente a fim de atender um
grupo violentado e excluído social e historicamente. A partir desse incômodo essa pesquisa
foi desenvolvida no sentido de investigar o fenômeno do suicídio entre pessoas LGBTQIA+ e
suas possíveis relações com a ausência de políticas públicas de saúde específicas para esse
grupo, além de uma falta de interesse político para essa questão. O trabalho aponta ainda para
o trabalho da Psicologia como solo fecundo para o desenvolvimento de práticas não
normativas que contribuam para o fortalecimento psíquico e prevenção do suicídio. Para
tanto, a pesquisa se deu por meio de um levantamento bibliográfico a partir do que se tem
produzido até o momento. Conclui-se que a partir de um trabalho pautado na ética e
comprometido com os direitos humanos é possível acolher e acompanhar os sujeitos em suas
diferenças promovendo práticas mais potentes e humanizadoras para a promoção de saúde e
bem estar dessa população.
Palavras-chave​:​ ​Suicídio; LGBTQIA+; Prevenção; Psicologia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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=en&nrm=iso&tlng=pt​>. Acesso em 14 Julio 2020.

105
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos/ Jacarezinho-PR/
jsouzabonardi@gmail.com.
106
Mestre em Psicologia e Sociedade pela UNESP (Campus de Assis-SP)/ Jacarezinho-PR/
marcos.nunes@ifpr.edu.br.
186
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A PROTEÇÃO
INTERNACIONAL DE PESSOAS LGBTQIA+:
uma análise sobre a proteção da comunidade LGBTQIA+ no contexto internacional

Bruna de Nazaré Pinheiro Corrêa​107


Lucas Fagundes Maués​108

Resumo: ​o Direito Internacional dos Direitos Humanos pode ser definido como aquele que
visa proteger a vida, a saúde e a dignidade das pessoas, (independente da nacionalidade). Os
Direitos Humanos foram internacionalizados pós 2ª Guerra Mundial, quando, em 1948, a
Organização das Nações Unidas, à época, com 51 países-membros, redigiu a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, a qual objetiva-se em promover respeito à direitos citados
na declaração e à liberdade; não obstante, hodiernamente, a comunidade LGBTQIA+ ainda
não é efetivamente atendida pela proteção internacional, haja vista os altos índices de
violência (em suas mais variadas formas) contra pessoas LGBTQIA+. O objetivo do trabalho
trata-se da análise de casos onde o Direito Internacional dos Direitos Humanos tenha sido
omisso em relação à população LGBTQIA+ e de como podemos garantir esses direitos de
forma justa à comunidade. Utilizou-se da cartilha “Livres & Iguais Nações Unidas pela
Igualdade LGBT”, “Estudos sobre diversidade sexual e de gênero: atualidades, temas,
objetos” para uma pesquisa qualitativa e documental sobre o assunto. Os resultados da
pesquisa salientam para violações dos direitos de pessoas LGBTQIA+ ao redor do mundo;
aponta, também, para a premência da discussão acerca da ação do direito internacional dos
direitos humanos sobre o tema supracitado, fazendo com que a dignidade e a vida da
comunidade LGBTQIA+ seja efetivamente assegurada. Em virtude do que foi mencionado,
conclui-se que a problemática da proteção dos LGBTQIA+ pelo Direito Internacional dos
Direitos Humanos, apesar de já ter alcançado grandes feitos, ainda precisa ser mais constante
e obstinada para alcançar a igualdade que a comunidade almeja e precisa.
Palavras-chave: ​Direito Internacional; LGBTQIA+; Direitos Humanos; Garantias; violações
aos direitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOVO, Benigno. ​O Direito Internacional dos Direitos Humanos​. Disponível em:

107
Graduanda em Direito pela Universidade da Amazônia (UNAMA) - Belém (PA) - Brasil.
correabruna49@gmail.com.
108
Graduando em Direito pelo Centro Universitário do Pará (CESUPA) - Belém (PA) - Brasil.
fagundeslucas008@gmail.com.
187
<​https://jus.com.br/artigos/63381/o-direito-internacional-dos-direitos-humanos​>. Acesso em:
03 jul. 2020.

188
A PREVALÊNCIA DA VIOLÊNCIA FÍSICA NA COMUNIDADE LBGTQIA+ DE
ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE NO PARÁ

Gabriela Paracampo de Albuquerque​109


Beatriz Neder Mattar​110
Sérgio Beltrão de Andrade Lima​111

Resumo​: Ainda em 2020, a comunidade LGBTQIA+ se mantém passível a sofrer violência


física; fruto de preconceitos estruturais e, inclusive, institucionais. Sobre esta, o Brasil possui
infelizes dados relativos à violações de direitos humanos que se aliam a demais formas de
opressão vinculadas a aspectos como cor e situação socioeconômica, gerando uma
superposição de vitimizações. Segundo o Grupo Gay da Bahia, em 2018, 420 pessoas
LGBTQIA+ foram assassinados ou cometeram suicídio no Brasil. Além disso, o último
relatório governamental sobre violência homofóbica é de 2012, isto revela um descaso atual
com a temática. Diante disso, objetivou-se verificar a ocorrência de violência física entre os
estudantes da área da saúde identitários à comunidade LGBTQIA+ da Universidade do
Estado do Pará (UEPA). O estudo é quantitativo, transversal, bibliográfico e documental,
realizado com alunos da saúde matriculados na UEPA; os dados foram obtidos, em 2019, a
partir de um questionário online anônimo. Cabe ressaltar que o trabalho foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da UEPA Campus II. Participaram 194 indivíduos LGBTQIA+,
destes 89 sofreram violência física (45,9%). Dentre estes, 24 foram vítimas somente uma vez,
enquanto 29 enfrentaram poucas vezes e 25 algumas vezes, além de 11 pessoas terem sofrido
muitas vezes. Os não-bináries foram os que mais sofreram violência somente uma vez
(18,8%), ao passo que as mulheres são maioria dos que sofreram poucas e algumas vezes
(respectivamente 18,9% e 15,6%). Já os homens representam os entrevistados que mais
foram vítimas muitas vezes (11,4%). Cabe ressaltar que 100% das pessoas trans vivenciaram
violências físicas com muita frequência, assim como 75,9% dos homossexuais enfrentaram a
mesma situação, ao menos uma vez. Conclui-se, portanto, que pessoas LGBTQIA+ possuem
importante e ocorrente vulnerabilidade à violência física, sendo esta motivada por sua
condição de gênero, identidade ou orientação sexual.
Palavras-chave:​ Violência física; Pessoas LGBTQIA+; Estudantes de ciências da saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GÊNERO E NÚMERO. Mapa da violência de gênero. Disponível em:


<​https://mapadaviolenciadegenero.com.br/sobre/​>. Acesso em: 19 jul 2020.

109
Acadêmica de Medicina na Universidade do Estado do Pará (UEPA) - ​gabrielaparacampo@gmail.com​.
110
Acadêmica de Direito na Universidade Federal do Pará (UFPA) - ​beatriznmattar@gmail.com​.
111
Mestre em saúde coletiva, docente da Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (UNIFAMAZ) e
pesquisador da Universidade do Estado do Pará (UEPA) - sergio.lima@outlook.com.
189
GRUPO GAY DA BAHIA. Morte violentas de LGBT+ no Brasil relatório 2018. Bahia,
2018. Disponível em:
<​https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relat%C3%B3rio-de-crimes-contra-lg
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Acesso em: 19 jul 2020.

190
EXPERIÊNCIAS DE LESBOPARENTALIDADE E MILITÂNCIA FEMINISTA
LÉSBICA NO NORDESTE DO BRASIL

Claudia Regina Nichnig​112

Resumo​: Este artigo trata das narrativas sobre as experiências de uma mulher negra, militante
feminista e lésbica, que atua em um coletivo de mulheres lésbica em uma capital do nordeste
brasileiro. Escrevo inspirada em leituras de feministas negras, como Bell hooks (2019),
Grada Kilomba (2019), Sueli Carneiro (2016), Angela Figueiredo (2020) e Ana Maria Veiga
(2020). Três temáticas norteiam a escrita a partir das narrativas desta mulher que se
reconhece como lésbica na juventude e militante feminista na fase adulta: conjugalidade
lésbica, lesboparentalidade e militância feminista. Procuro então refletir sobre algumas
questões da trajetória de vida de uma militante negra, que se reconhecem como lésbica ainda
na juventude e feminista na vida adulta. Inicialmente apresento como eu, pesquisadora, e ela
militante se conheceram em um espaço de militância feminista. Desejo que a narrativa de
Antônia transformada em texto pode ser tão cativante e envolvente como foi o nosso encontro
em uma conferência estadual de mulheres no nordeste brasileiro.
Palavras-chave​: Lesboparentalidade, Família lésbica; Feminismos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
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2019.

112
Doutora em Ciências Humanas/UFSC. claudianichnig@gmail.com

191
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em: 11 maio 2020.

192
A SEXUALIDADE NA POPULAÇÃO IDOSA LGBTQIA+

Luiza Ferro Marques Moraes​113


Letícia Romeira Belchior​114
Ricelly Pires Vieira​115
Luiz Henrique Fernandes Musmanno​116

Resumo​: Ser minoria, atualmente, é sinônimo de luta e força. Fazer parte de duas minorias é,
portanto, sinônimo de luta, força e perseverança. Nesse sentido, a população idosa
LGBTQIA+ tem um lugar de fala significativo para desmistificar tabus e preconceitos
presentes na sociedade, haja vista que a sexualidade do idoso é um assunto que gera dúvidas
e inquietações, em especial, relacionado a parcela LGBTQIA+. O objetivo deste estudo é
discutir sobre a sexualidade na velhice de pessoas LGBTQIA+, com o propósito de
compreender essa construção na sociedade. Foi utilizada a plataforma PUBMED, com os
termos ''sexuality'' AND ''ealderly'' e com os filtros “free full text”, “humanos’’, “1year’’ e
foram encontrados 11 artigos de 2019 para análise . Os resultados apontam que, durante a
velhice, seja pelas alterações fisiológicas do corpo, seja pelos preconceitos relacionados a
essa parcela, discutir sobre a sexualidade é mais complexo, pois envolve mais criatividade e
interesse para a busca da satisfação. Muitos dos paradigmas com relação ao idoso, é que o
mesmo, não tem mais a sua sexualidade, como se o envelhecimento significasse
‘’desinteresse’’ e o sexo fosse algo para jovens. Em contrapartida, apesar da afetividade
sexual não estar relacionada com a idade, o envelhecimento pode favorecer uma atividade
sexual mais satisfatória, pois os idosos acabam oferecendo aos seus companheiros algo que o
agrada e o satisfaz, não se preocupando com um bom desempenho físico e virilidade. Para
que essa realidade ocorra, faz-se necessário um processo chamado de “desgenitalização
sexual”, no qual os indivíduos reconhecem novos pontos e formas de prazer. Nessa
perspectiva, publicações acadêmicas têm afirmado que o momento atual contemporâneo verá
pela primeira vez uma geração de idosos com mais “liberdade” de expressar sua diversidade
sexual sem uma perseguição, controle ou estigmatização. Dessa forma, conclui-se que os
preconceitos frente a velhice LGBTQIA+ ainda se fazem presentes de uma forma bastante
peculiar, podendo, portanto, comprometer a qualidade da vida sexual e a diversidade sexual
do idoso, fato decorrente da falta de informações agregado ao preconceito da sociedade.
Palavras-chave:​ LGBT; idoso; sexualidade.

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113
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GO.
Goiânia, Goiás. luiza.ferromoraes@gmail.com
114
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GO. Goiânia, Goiás. ​leticiaromeira15@gmail.com
115
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciência Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GO. Goiânia, Goiás. ricelly.pires@hotmail.com.
116
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS.Médico da SMS
Goiânia. Membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Goiânia, Goiás. musmanno@gmail.com.
193
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194
DIFICULDADE NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL NO BRASIL:
a homofobia como instrumento de sua própria manutenção social

Gabriela Cristina Camara da Silva​117

Resumo​: Por décadas, a legislação brasileira mostrou-se omissa quanto aos direitos LGBTs
de constituição familiar. Somente após 95 anos – do primeiro Código Civil até o
reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar – o assunto foi abordado pela
jurisprudência, sendo este o passo fundamental para que LGBTs fossem inseridos na
isonomia democrática e pudessem exercer o direito de adoção. Partindo da definição ampla
de família – que abrange aspectos morais e éticos – do doutrinador Venosa, tem-se a
exposição das lacunas do ordenamento jurídico brasileiro quanto ao direito de adoção
homoparental – e, ainda, a heteronormatividade presente. A introdução do reconhecimento da
união homoafetiva como entidade familiar pela jurisprudência, assim, mostra-se como ponto
crucial ao preencher essas lacunas e reparar uma negligência propagada por tantos anos, uma
vez que gerou consequências diretas nos direitos de adoção. O reconhecimento legal, porém,
não anulou o distanciamento desse grupo marginalizado do acesso ao direito já legalmente
garantido, por falta de conhecimento ou oportunidade, e nem mesmo os isentou da homofobia
socialmente enraizada, transformando o processo de adoção em mais uma esfera para a
manifestação do preconceito. Com uma metodologia qualitativa de pesquisa
descritiva-explicativa, do tipo documental-bibliográfica, com viés dedutivo, baseando-se em
publicações científicas das áreas do Direito, da Sociologia e da Psicologia, a presente
pesquisa expõe a existência de mitos que rodeiam essa esfera, e objetiva apontar os equívocos
de cada um e sua origem direta com a homofobia – e consequente perpetuação desta.
Destacando, assim, primeiramente a influência de pais homossexuais na orientação dos filhos
e as problemáticas do receio pela homossexualidade e a existência efetiva da influência; na
sequência tem-se a maior probabilidade de abuso sexual por um casal homossexual e o
estigma da perversidade; seguido pela necessidade de influência de ambos os sexos no papel
de pais e os papéis de gênero culturalmente estereotipados; e, por fim, o prejuízo no
desenvolvimento social do adotado como argumentos ampla e socialmente difundidos e
cientificamente desmistificados, mas que possuem uma relação cíclica com o preconceito.
Assim, verifica-se que a homofobia parte de si e retorna em si ao criar e sustentar os mitos,
perpetuando sua própria existência e manutenção social ao ser o principal instrumento desse
processo, com um ciclo vicioso de repetidas violações de direitos que deve ter sua existência
reconhecida para, assim, ser combatido.
Palavras-chave​: família; adoção; homoparentalidade; homofobia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Código Civil (2002). ​Código civil brasileiro e legislação correlata – 2 es. –
Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ​Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277​. Relator:


ministro Ayres Britto. Distrito Federal, 05/05/2011. Disponível em:
<​http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635​>. Acesso
em: 10 de julho de 2020

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ​Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277​. Relator:


ministro Ayres Britto. Distrito Federal, 05/05/2011. Disponível em:
117
Discente de Direito da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Londrina – Paraná. Email:
gabrielaccamara13@gmail.com​.
195
<​http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635​>. Acesso
em: 10 de julho de 2020.

FIGUEIRA, Diogo Caldas. ​A adoção no âmbito da parentalidade homoafetiva​.


E-cadernos CES [Online], 20. 2013. Disponível em:
<​http://journals.openedition.org/eces/1658​>. Acesso em: 13 de julho de 2020.

VENOSA, Sílvio de Salvo. ​Direito civil​. São Paulo: Editora Atlas. Ed.11. 2011, v.4.

196
OS 30 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) COMO
MARCO DE REFLEXÃO À RESISTÊNCIA LGBTI+ NO DIREITO DAS FAMÍLIAS
BRASILEIRO

Estefani de Araujo Franco​118

Resumo​: Os 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) acaloram os debates


sobre a eficácia do seu escopo nuclear – a proteção dos menores – no panorama jurídico
nacional. Outrossim, como se examinará no presente trabalho, também possibilitam uma
reflexão sobre a estabilidade de Direitos consagrados à população LGBTI+ no Direito das
Famílias brasileiro nos últimos anos, pois a reconstrução interpretativa dos comandos que, até
então, inviabilizavam o reconhecimento da união estável para casais composto por pessoas do
mesmo sexo, muito esteve, no caso concreto, entrelaçado aos pleitos de adoção, e, por
conseguinte, à defesa do melhor interesse da criança. Desse modo, é de máxima valia a
abordagem dos direitos garantidos à comunidade LGBTI+ na seara familiar, vindo a servir
tanto de demonstração da sua resistência nos últimos anos, quanto a título de esboço do
imenso preconceito ainda fomentado que objetivam a desconstituição desses direitos, como
muito se observa na própria esfera legislativa com o Projeto de Lei nº 6.583/2013, por
exemplo, o qual visa instituir o Estatuto da Família sem abranger seus efeitos às famílias
formadas por homossexuais. Assim, o presente trabalho possui o escopo de promover, em um
primeiro momento, a memória dos preceitos jurídicos reconhecedores da união estável
homossexual, bem como demonstrar que a resistência se faz também a partir do combate às
dificuldades evidenciadas pelas famílias homoafetivas que buscam a adoção, fornecendo
exemplos políticos recentes que objetivaram destruir a representação e os direitos dessas. Por
fim, também se explicitará as possíveis razões e consequências da referida instabilidade dos
Direitos LGBTI+ no Brasil.
Palavras-chaves: ​ECA; Homoafetividade; Judiciário; Direitos LGBTI+; Instabilidade dos
direitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARANSKI, Maria Cristina Rauch. ​A adoção em relações homoafetivas​. – 2ª ed. rev. ampl.
Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei – PL nº 6.583/2013​. Dispõe sobre o


Estatuto da Família e dá outras providências. Disponível em:
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_______. Código Civil. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Brasília, DF: Senado Federal,
2002.

_______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal, 1988.

______. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990​. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
118
Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisadora de iniciação científica na
seara do Direito das Famílias (CNPQ/PIBIC AF) 2019-2020. Paraná-Curitiba. E-mail:
estefaniaraujo19@gmail.com.
197
<​http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm​>. Acesso em: 14 de jul. de 2020.

______. Superior Tribunal de Justiça. ​Recurso Especial nº 889.852 – RS. Voto do Min.
Relator Luis Felipe Salomão. Data do Julgamento: 27 de abr. de 2010.

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nos processos de adoção. ​Revista Estudos Feministas​. Florianópolis, 2017, v.25, n.2,
p.495-518. Disponível em:
<​https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2017000200495​>.
Acesso em: 10/07/2020.

MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Direito das Famílias e Proibição de Retrocesso Social. In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (Org.). ​Tratado de Direito das Famílias​. 3ed.Belo
Horizonte: IBDFAM, 2019, v. 1, p. 137-154.

PEREIRA, Amanda Barros Seabra. ​Família e gênero no Congresso Nacional​: uma análise
da atuação dos parlamentares religiosos na tramitação do Estatuto da Família. 2015. 105 f., il.
Monografia (Bacharelado em Ciência Política) — Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

198
ALTERNATIVAS À ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Fernanda Lemes de Oliveira Cardoso​119


Alana Emanuelle Plucinski Vicente​120

Resumo​: As relações familiares no Brasil têm se transformado ao longo dos anos, passando a
ressignificar conceitos outrora tidos como ideais, de modo que ocorreram diversas
transformações e atualmente inúmeras podem ser as configurações de famílias, por exemplo,
todas prezando pela felicidade de seus membros e não mais por apenas questões econômicas.
Estas mudanças se deram, principalmente, após o processo de redemocratização com a
Constituição de 1988 e o reconhecimento de união estável homoafetiva pelo Supremo
Tribunal Federal em 2011. O presente artigo busca problematizar as dificuldades para se
adotar hodiernamente no Brasil, mormente se o(s) indivíduo(s) que irá(ão) adotar não fizer
parte do que se considerava “normal”, primeiramente fazendo breves considerações históricas
sobre o conceito de família junto ao ordenamento jurídico brasileiro, assim como elencando
dados estatísticos e suas respectivas referências, com o fim de evidenciar quais são as
dificuldades encontradas quando se irá adotar e não se é homem cis branco (no entendimento
atual) no Brasil. Ademais, como objeto principal de estudo, busca-se elencar, com fins
instrutivos, a reprodução humana assistida e um de seus métodos: a técnica de barriga
solidária, ou culturalmente conhecida como “barriga de aluguel”, ambos como alternativas à
adoção diante dos problemas trazidos, tais como as longas filas, números relacionados e
organizados pelo Conselho Nacional de Justiça em seu endereço eletrônico. Tal análise será
realizada por meio de revisão bibliográfica e estudo da legislação vigente aplicável às
hipóteses levantadas.
Palavras-chave: ​Casais homoafetivos; alternativas; adoção; reprodução humana assistida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÔBO, Paulo. ​A repersonalização das relações de família. Revista Jus Navigandi, ISSN
1518-4862, Teresina, ano 9, n. 307, 10 maio 2004. Disponível em:
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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.​Notícias STF: Supremo reconhece união


homoafetiva​, publicada em 5 de maio de 2011. Disponível em:
<​http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931​>. Acesso em:
14/07/2020.

TREVIZAN, Karina. Número total de casamentos cai 2,3% em 2017, mas entre pessoas do
mesmo sexo sobe 10%, diz IBGE. Economia G1​. Disponível em:
<​https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/10/31/numero-total-de-casamentos-cai-23-em-
2017-mas-entre-pessoas-do-mesmo-sexo-sobe-10-diz-ibge.ghtml​>. Acesso em: 25/03/2019.

119
Pós-graduanda em benefícios e prática previdenciária - Verbo Jurídico; Bacharel em direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná - PUC-PR; Advogada; Curitiba-PR; adv.fernandalemesdeoliveira@gmail.com;
120
Graduanda em direito na Universidade Federal do Paraná - UFPR; Curitiba-PR;
alanaemanuelle@gmail.com.
199
MATERNIDADE LÉSBICA E INSEMINAÇÃO CASEIRA:
a construção das relações de confiança entre tentantes e doadores

Mariana G. Felipe​121
Marlene Tamanini​122

Resumo​: O presente trabalho propõe reflexões acerca das formas de realização dos projetos
parentais de mulheres lésbicas no Brasil. Em específico, da dupla maternidade com o uso de
técnicas de inseminação caseira (IC), práticas que até o momento não são regulamentadas no
país. Essa ausência de regulamentação jurídica e também das normativas biomédicas, faz
com que os indivíduos envolvidos nas práticas estabeleçam os protocolos e controlem os
riscos de forma autônoma. Esses indivíduos, em geral, podem ser identificados de dois
modos: como Tentantes, mulheres ou pessoas que estão “tentando engravidar”; e como
Doadores, pessoas que buscam doar sêmen. Por não haver o controle médico especializado
ou regulamentação jurídica, a existência dos riscos envolvidos é conhecida por ambas as
partes e controlada pelas relações de confiança estabelecidas entre elas. Por isso, o objetivo
principal deste trabalho é refletir acerca dos processos da construção de confiança entre
Tentantes e Doadores, levando em consideração que essa compreensão é de extrema
importância para que se possamos entender as práticas de IC em sua diversidade. Para isso,
utilizam-se duas fontes: publicações feitas no período de novembro de 2017 à abril de 2018
em dois grupos da rede social ​Facebook ​voltados às práticas de IC para mulheres lésbicas.
Também utiliza-se a análise inicial de entrevistas realizadas em 2020 com casais de mulheres
que fizeram pelo menos uma tentativa de IC. As reflexões apontam para especificidades das
práticas, principalmente quando se trata da construção da confiança e também da identidade
do doador nesses arranjos. A confiança caminha no sentido da contenção dos riscos que são
presentes para todos os indivíduos envolvidos e na solução dos problemas que aparecem pelo
caminho e que dependem da rede de confiança e saberes formadas nos grupos.
Palavras-chave​: maternidade; lesbianidade; inseminação caseira; confiança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Anna. ​Novas tecnologias reprodutivas e maternidades lésbicas no Brasil e na
França: conexões entre parentesco, tecnologia e política. Tese (Doutorado em
Antropologia) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa
Catarina. Santa Catarina: Florianópolis, 2018.
______. Óvulos, sêmens e certidões: maternidades lésbicas e tecnologias reprodutivas no
Brasil. In: STRAW, Cecilia; VARGAS, Eliane; CHERRO, Mariana; TAMANINI, Marlene.
Reprodução Assistida e Relações de Gênero na América Latina​. Editora CRV, 171 - 190,
2016.

BEAUD, Stéphane; WEBER, Florence. Guia para a pesquisa de campo: produzir e


analisar dados etnográficos​. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 118-150, 2007.
BUTLER, Judith. O parentesco é sempre tido como heterossexual?. ​cadernos pagu​, n. 21,
p.219-260, 2003.

121
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba - Paraná. Contato: marianagfelipe@gmail.com
122
Orientadora. Doutora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Curitiba - PR. Contato: tamaniniufpr@gmail.com
200
GIDDENS, ANTHONY. ​As Consequências da Modernidade. São Paulo: Ed. UNESP,
1991.

GROSSI, Miriam Pillar. Gênero e parentesco: famílias gays e lésbicas no Brasil. ​cadernos
pagu​, n. 21, p. 261-280, 2003.

201
DIVERSIDADE SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO:
os direitos humanos e a atuação da escola

Wezelley Campos França​123

Resumo​: A proposta básica deste estudo é ressignificar a diversidade sexual e a identidade de


gênero na escola a partir de um olhar sobre a abordagem dos direitos humanos na escola,
olhar este que se faz imprescindível para a defesa da equidade e compreensão dessas
representações no espaço escolar, como um dos pontos principais a reconhecer as diferenças
e a consolidação dos preceitos de uma sociedade justa, igualitária e aberta à diversidade. Este
artigo tem como objetivo abordar as diferentes vivências de gênero e sexualidade na escola,
os embates provocados e os diferentes posicionamentos da educação focalizando e
difundindo a ideia da oportunidade de acesso como via para a promoção da equidade social,
pressupondo igualdade de oportunidades. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica
considerando as contribuições de autores como BORTOLINI (2008), JUNQUEIRA (2009),
LOURO (2004, 2014, 2016) e SANTOS (2019), entre outros, procurando enfatizar como a
prática pedagógica pode promover ações voltadas às questões de gênero e sexualidade na
escola, com quebras de paradigmas de normalidade impostos pela sociedade, a partir de
discussões sobre gênero, diferença, diversidade e direitos humanos no espaço escolar.
Palavras-chave​: Diversidade sexual; Identidade de gênero; Educação; LGBT; Direitos
Humanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M. ​Diferenças silenciadas​: pesquisas em educação, preconceitos e
discriminações. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: 7 Letras, 2015.

BORTOLINI, A. et al. (Org.). ​Diversidade sexual e de gênero na escola​: educação, cultura,


violência e ética. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ, 2008.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. ​Parâmetros Curriculares Nacionais​:


orientação sexual. Brasília: MECSEF, 1998.

BRASIL. ​Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Brasil Sem Homofobia​:


Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de Promoção da
Cidadania Homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

CANDAU, V. M. ​Somos Tod@s iguais? Escola, discriminação e educação em direitos


humanos. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 2003.

CANDAU, V. M. ​Didática​: tecendo/ reinventando saberes e práticas. 1. ed. Rio de Janeiro,


RJ: 7 Letras, 2018.

CANDAU, V. M. ​Educação e Direitos Humanos, Currículo e Estratégias Pedagógicas​.


Disponível em:
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dagogicas.pdf​>. Acesso em: 26 mai. 2020.

123
Especialista em Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Questões Étnico-Sociais ou Raciais, e Gestão
Escolar: Administração, Supervisão e Orientação, Licenciatura em Pedagogia. São Fidélis – RJ. E-mail:
wezelleyfranca@gmail.com
202
FOUCAULT, M. ​História da sexualidade 1​: a vontade de saber. 7. ed. Rio de Janeiro /São
Paulo: Paz e Terra, 2018.

FREIRE, P. ​Pedagogia do oprimido​. 17. ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1987.

JUNQUEIRA, R. D. et al. (Org.). ​Diversidade Sexual na Educação​: Problematizações sobre


a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. Coleção Educação para todos.

LIBÂNEO, J. C. ​Organização e gestão escolar​: teoria e prática. 6. ed. São Paulo, SP:
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LOURO, G. L. ​Um corpo estranho - ensaios sobre a teoria queer. Belo Horizonte, MG:
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LOURO, G. L. ​Gênero, sexualidade e educação​: uma perspectiva pós-estruturalista. 16. ed.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

LOURO, G. L. et al. (Org.). ​O corpo educado​: pedagogias da sexualidade. 3. ed. Belo


Horizonte, MG: Autêntica, 2016.

SANTOS, É. S. ​Lgbtfobia na educação e a atuação da gestão escolar​. 1. ed. Curitiba, PR:


Appris, 2019.

TORRES, M. A. ​A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na


escola​. 2. ed. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2013.

203
DESAFIO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE GÊNERO E DIVERSIDADE
SEXUAL

Eduardo Chaves Ferreira Coelho​124


Breno Bueno Junqueira​125
Luiza Ferro Marques Mores​126
Luiz Henrique Fernandes Musmanno​127

Resumo​: ​Em 1990, foram colocadas em pauta no Brasil as chamadas “políticas de


identidade”, provenientes de diversos movimentos sociais LGBTI+ e feministas, em busca de
maior visibilidade e respeito. A partir dessa política, houve um significativo aumento na
produção intelectual relacionada à diversidade e à identidade com o intuito de maior inclusão
e reconhecimento acerca das minorias dentro do ambiente escolar tanto do ensino
fundamental quanto do superior. Este estudo tem como objetivo evidenciar e analisar o
progresso nas políticas de educação de gênero e diversidade sexual. Trata-se de uma revisão
literária baseada em artigos das plataformas: Scielo, LILACS e Google Scholar com uso dos
descritores “Educação” e “LGBTI+”. Foram incluídos artigos dos últimos 10 anos e
excluídos os artigos que não apresentaram concordância com os objetivos propostos. Os
resultados apontam como as políticas de educação relacionadas ao gênero e à diversidade
sexual são essenciais para o maior reconhecimento, inclusão e respeito às minorias na
sociedade brasileira, não somente no meio escolar, como também fora dele. Além disso, a
educação é uma área que engloba toda a sociedade e que não se limita à escola. Por esse
motivo, é notória a necessidade de mais cursos de capacitação para gestores e profissionais
em educação tanto no ensino infantil quando no superior, o que é falho no Brasil, segundo
MELLO et al,2002. Com a equipe escolar mais qualificada visando promover um ambiente
com mais respeito e menos discriminação, é possível minimizar, portanto, a perpetuação da
LGBTfobia que atinge estudantes que não se adequam. aos padrões da heterossexualidade
compulsória presentes em todas as esferas da educação.
Palavras-chave: ​Saúde; Educação; Identidade de Gênero; LGBTI+; Diversidade sexual.

Referências bibliográficas:
PACHECO, Eduardo Felipe Hennerich; FILIPAK, Sirley Teresinha. ​Relações de gênero e
diversidade sexual na educação​. Psicol Argum, p. 63-81, 2017.

MELLO, Luiz ​et al​. Para além de um kit anti-homofobia: políticas públicas de educação para
a população LGBT no Brasil. ​Bagoas-estudos Gays: Gêneros e Sexualidades​, v.6, n.7,
2012.

DANILIAUSKAS, Marcelo. ​Relações de gênero, diversidade sexual e políticas públicas


de educação​: uma análise do programa Brasil Sem Homofobia. Universidade de São Paulo,
2011.

124
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. eduardoccoe@gmail.com
125
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. brenobj@outlook.com.
126
Ensino Superior Incompleto. Discente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC
GOIÁS. luiza.ferromoraes@gmail.com.
127
Graduação em Medicina e Enfermagem. Pós Graduação em Ginecologia, Obstetrícia, Cirurgia Geral,
Sexualidade Humana e Medicina de Família e Comunidade. Médico Acupunturiatra. Mestrado em Saúde
Coletiva. Docente na Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, PUC GOIÁS. Médico da SMS
Goiânia. Goiânia- GO. musmanno@gmail.com
204
GROSSI, Miriam Pillar; ALENCAR, Alexandra Eliza Vieira. Direitos humanos, antropologia
e educação: revisitando o passado e avançando na caminhada por uma educação
antidiscriminatória. ​Cadernos de Gêneros e Diversidade​, v. 6, n.1, p. 148-153, 2020.

205

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