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Literatura Aula 23 Modernismo (1ª Fase) T
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E aí, startan@? Pront@ para estudar O Surrealismo, que explorou muito o sonho e a criação de
o movimento literário que é um dos novas realidades;
queridinhos do ENEM? Hoje, nós O Cubismo, que trabalhou com formas geométricas,
vamos finalmente estudar um fragmentação de imagens e ‘recorte” de cenas nos poemas;
movimento que já vem aparecendo O Expressionismo, que valorizou a percepção do sujeito sobre
nas nossas folhas teóricas: o famoso os objetos e sobre os indivíduos;
Modernismo! O Dadaísmo, que rompeu com os limites da lógica e
questionou o próprio objeto artístico;
E o Futurismo, que exaltou o progresso e a inovação.
E, aqui no Brasil, o nosso Modernismo costuma ser
dividido em três fases distintas, mas que possuem em comum o
Esses movimentos legitimaram o tratamento de realidades
fato de serem um processo de renovação e de refinamento não só
fragmentárias, incompletas e irracionais, que era como os
da literatura como também da própria cultura brasileira. Como um
modernistas europeus viam a realidade da própria Europa naquele
todo, podemos dizer que o Modernismo foi um momento de
contexto. Cabe dizer que os valores defendidos pelos artistas das
percepção artística sobre a nossa própria formação literária: em
vanguardas estavam associados ao histórico de destruição e caos
outras palavras, um momento em que os autores do nosso país
provocados pela Guerra, uma vez que essa destruição e esse caos
refletiram sobre as bases da nossa literatura, que se inicia na busca
deixavam claro para eles o quão irreal era o modelo artístico
por uma forma de ser moderno, de fazer arte moderna, sem
elitista da Belle Époque.
deixar de ser brasileiro.
E cada fase do Modernismo irá, com suas características
próprias, aprofundar e levar adiante tal busca. Essas fases são:
REPARE: O período de 1890 a 1914 se caracterizou
1ª Fase: também chamada de Geração de 22 ou “fase inicialmente por um otimismo entre as elites sociais, que
heroica”. buscavam ostentar seus gostos refinados através de roupas
2ª Fase: também chamada de Geração de 30 ou enfeitadas e ambientes ornamentados. Era a chamada Belle
“neorrealismo”. Époque, a “bela época”, uma cultura social nascida na Europa e
3ª Fase: também chamada de Geração de 45. trazida para o nosso país, baseada na valorização do luxo e na
ostentação do poder econômico. Essa cultura, reforçada pelos
ideais de progresso da época, só terá seu fim quando esses ideais
Ué, e por que essa primeira fase forem abalados pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
é chamada de “fase heroica”?
Na primeira metade do Século XX, num contexto de Tá, mas como é que isso
avanços tecnológicos e da I Guerra Mundial, surge a arte moderna, tem a ver com o nosso
instaurando uma série de rupturas com os fundamentos artísticos contexto aqui no Brasil?
defendidos pelos movimentos anteriores. Revoltados com a arte Pelo que eu lembro, a
acadêmica e tradicional, os artistas modernistas desejavam nossa situação aqui tava
libertar-se dos antigos modelos artísticos, usando como inspiração bem diferente da situação
os Movimentos de Vanguarda e suas propostas de renovação, que na Europa...
nós vimos na última aula, como:
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Você tem toda razão,
jovem! Por isso, vamos
dar uma olhada em qual
era o contexto aqui no
nosso país naquela
época e em como esse
contexto afetou o nosso
Modernismo:
Crescimento rápido e significativo de São Paulo: a Cartaz e catálogo atribuídos ao artista Di Cavalcanti, feitos para a divulgação da
Semana de Arte Moderna, realizada em 1922. É esse evento que dá o nome da
Primeira Guerra Mundial promoveu uma modernização e “Geração de 22”.
industrialização da cidade de São Paulo graças ao modelo
de Substituição de Importações.
E aposto que você pode
Burguesia em boas condições X camadas populares em imaginar como foi a reação do
condições difíceis: essa industrialização de São Paulo veio público diante daquelas obras
acompanhada do enriquecimento de uma burguesia inovadoras, daqueles poemas
“industrial” e da formação de uma população operária, tão diferentes do estilo
composta principalmente por imigrantes europeus. parnasiano, sem rimas e com
versos de tamanhos
Início do declínio cafeeiro, que também acelerou o diferentes! É claro que parte
processo de urbanização na época. Se a população da elite paulista reagiu de
imigrante, no final do Século XIX, havia substituído a modo cético e conservador!
população negra nas lavouras de café, essa mesma
população imigrante agora deixava o campo para
Um exemplo clássico desse tipo de reação, que ocorreu
trabalhar na cidade. Por conta do racismo e da em 1917, portanto, alguns anos antes da fatídica Semana, foram as
discriminação, a população negra continuava críticas que o autor Monteiro Lobato (1882-1948), parte da elite
marginalizada.
paulistana rural, dirigiu às obras da pintora Anita Malfatti. Com
obras de inspiração expressionista, Malfatti pintava figuras
Fortes influências vanguardistas, como o Futurismo, que distorcidas, com cores saturadas e intensas, que se diferenciavam
combatiam o academicismo e a arte erudita, representada fortemente da pintura clássica, que buscava representar com
não apenas, mas principalmente pelo Parnasianismo! perfeição a realidade.
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No manifesto acima, percebe-se o
desejo de conciliar a cultura nativa (a
floresta) com a cultura intelectual e o Tarsila do Amaral também colaborou com Oswald de
tecnicismo moderno (a escola). Além Andrade ao ilustrar alguns dos livros de poesia do marido. A capa
disso, o autor propõe o uso da língua de Pau–Brasil (foto abaixo), primeiro livro de poesia do poeta,
sem preconceitos, o resgate crítico publicado em 1925, é da autoria da pintora. Nela, Tarsila faz uma
das manifestações culturais de releitura da bandeira do nacional:
diferentes matrizes culturais, e o uso
de episódios cotidianos como
inspiração artística, representado
pela máxima: “ver com olhos livres”.
Manifesto Pau-Brasil (1924) Formado por Plínio Salgado, Menotti Del Picchia,
Manifesto Verde-Amarelo (1926) Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, o grupo lançou em 1926
Manifesto Regionalista (1926) um manifesto contra o nacionalismo “afrancesado” do Movimento
Manifesto Antropófago (1928) Pau-Brasil. Para eles, o nacionalismo defendido pelo grupo de
Oswald de Andrade era um “nacionalismo de brincadeirinha”, e,
em resposta a isso, eles defendiam um nacionalismo ufanista e
O movimento Pau-Brasil também inspirou a artista plástica primitivista, de tendências autoritárias e identificado com o
Tarsila do Amaral, esposa de Oswald na época. Durante os anos de Fascismo italiano (que na época era considerado por alguns um
1924 a 1928, a artista se dedicou a pintar paisagens brasileiras, exemplo de bom sentimento patriótico). Esse ultranacionalismo se
representando o contraste entre o país urbano e o país rural, além transformaria mais tarde no Integralismo, movimento político
de personagens do povo e elementos folclóricos, apresentando liderado pelo próprio Plínio Salgado. Rejeitando a presença de
um rico painel da nossa cultura. Além disso, a artista valorizou em qualquer elemento estrangeiro, o grupo escolheu a anta, animal
suas telas as cores primárias, que remetiam ao ideário nacional sagrado na mitologia tupi, como seu símbolo, denominando o
(como o verde, o azul e o amarelo), além das formas geométricas, grupo de Grupo da Anta. Publicam, em 1929, o Manifesto do
tendência inspirada pelo cubismo. verde-amarelismo, que defendia um estado forte e centralizador.
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MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO Manifesto Antropófago (1928)
Veja a seguir um trecho do Manifesto Antropófago, Revista de Antropofagia, Ano 1, nº 1, maio 1928.
também escrito por Oswald de Andrade e publicado em 1928, na
Revista de Antropofagia:
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Neste poema de tendência humorística,
Agora, vamos dar uma olhada é possível perceber o retorno crítico ao
em quais foram os principais passado colonial, que remonta para a
autores literários da 1ª fase do formação do povo brasileiro a partir
Modernismo: das três raças. Essa mistura resulta, na
perspectiva do poeta, no Carnaval,
Principais autores e obras festa máxima da cultura nacional.
Na poesia:
Mário de Andrade (1893-1945): considerado o “Papa” do
Pau-Brasil (1925),
Modernismo brasileiro, Mário de Andrade foi um importante autor
Primeiro caderno de aluno de poesia Oswald de Andrade
da nossa literatura. Estudioso
(1927).
do nosso folclore, viajou por
todo o país pesquisando as
Na prosa:
muitas culturas regionais.
Memórias sentimentais de João Miramar (1924),
Dentre os principais temas
Serafim Ponte Grande (1933),
abordados em suas obras,
Os condenados (1941),
estão a identidade nacional, a
Estrela de absinto (1927),
variação linguística, a
A escada (1934),
modernização de São Paulo e
Marco zero I - a revolução melancólica (1943),
a crítica à burguesia e à
Marco zero II – chão (1945).
desigualdade. Tendo sido um
importante acadêmico, Mário
No teatro:
publicou não apenas obras
O homem e o cavalo (1934),
literárias, mas também
O rei da vela (1937).
ensaios e artigos:
Veja abaixo um poema do autor no qual ele parodia o “encontro
Na poesia:
das três raças”:
Pauliceia desvairada (1922),
Losango cáqui (1926),
brasil
Clã do jabuti (1927),
Remate de males (1930),
O Zé Pereira chegou de caravela
Lira paulistana (1946).
E preguntou pro guarani de mata virgem
- Sois cristão?
Na prosa:
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da morte
Amar, verbo intransitivo (1927);
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Macunaíma (1928);
Lá de longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
Contos novos (1947).
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
Ensaios (textos acadêmicos):
- Sim pela graça de Deus
Prefácio interessantíssimo (1922),
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
A escrava que não é Isaura (1925),
E fizeram o Carnaval.
Aspectos da literatura brasileira (1943),
Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade (1927). O empalhador de passarinho (1944).
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Dessas obras, a mais importante é, com toda certeza, o livro também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos
Macunaíma. Esse romance, classificado pelo autor como rapsódia, juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as
tem como subtítulo “O herói sem nenhum caráter”, e trava uma mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaiamuns diz que
forte discussão acerca da identidade do brasileiro. Na obra, caráter habitando a água-doce por
assume dois sentidos: o sentido moral e o sentido de caracteres lá. No mucambo si alguns LIBIDO
físicos. Nesse caso, Macunaíma, assim como o brasileiro, é sem cunhatã se aproximava dele Desde pequeno, Macunaíma
caráter por ser moralmente falho, mas também por não possuir pra fazer festinha, Macunaíma tinha a sexualidade aflorada.
uma identidade definida, já que o personagem é um índio negro punha a mão nas graças dela, Ao perturbar as índias no rio
que mais tarde vira um homem branco. cunhatã se afastava. Nos ou assediar as mulheres na
machos guspia na cara. Porém tribo, o garoto já revelava um
respeitava os velhos e comportamento que o
frequentava com aplicação a caracterizará durante a vida.
REPARE: Rapsódia, em sua acepção clássica, refere-se a uma
peça musical de forma livre que utiliza melodias, improvisos e murua a poracê o torê o
efeitos instrumentais de determinadas músicas nacionais ou bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
regionais. O termo também define um tipo de narrativa épica
Macunaíma. Mário de Andrade.
que era recitada na Grécia Antiga pelo rapsodo. Mário se
apropria dessa concepção para criar a sua narrativa, uma vez que
o autor inclui nela várias lendas brasileiras somadas à mitologia Mafalda do céu, eu não
indígena e ao folclore nacional, utilizando uma linguagem entendi uma vírgula do que tá
próxima da oralidade. Além disso, o livro é uma grande sátira às escrito nesse negócio!
narrativas românticas que idealizavam e aportuguesavam os
indígenas, possuindo um tom debochado e muitas vezes ilógico.
Veja só como começa: Mas é porque não tem vírgula
mesmo! Ou, melhor dizendo,
é porque esse livro foi escrito
No fundo do mato- numa linguagem inovadora.
PARÓDIA
virgem nasceu Macunaíma, O início da obra faz uma
herói da nossa gente. Era paródia de textos indianistas
preto retinto e filho do Se você olhar bem, vai notar
(como Iracema, de José de que esse trecho está cheio de
medo da noite. Houve um Alencar). O nascimento de
momento em que silêncio foi palavras de origem indígena, de
Macunaíma ocorre na mata, palavras escritas para imitar o
tão grande escutando o no contato com elementos
murmurejo do Uraricoera, que modo como são pronunciadas
naturais. Em todo o texto, informalmente (“guspia”) e até
a índia tapanhumas pariu porém, não há a idealização
uma criança feia. Essa criança mesmo trechos em que vários
positiva do herói. elementos são enumerados
é que chamaram de
Macunaíma. sem o uso da vírgula entre eles!
Já na meninice fez
ORALIDADE E LINGUAGEM
coisas de sarapantar. De
COLOQUIAL
primeiro passou mais de E isso tudo porque um dos
Note a oralidade da escrita. A
seis anos não falando. Si o objetivos do Modernismo era
palavra “se” é grafada com o
incitavam a falar justamente ir contra a linguagem
som da fala “si” do português
exclamava: erudita da literatura da época
brasileiro. A referência à
– Ai que preguiça!... (lembra do Parnasianismo?). Os
linguagem oral é típica da
e não dizia mais nada. Ficava autores modernistas queriam que a
primeira fase modernista.
no canto da maloca, trepado linguagem da literatura estivesse
no jirau de paxiúba, próxima da verdadeira língua
JEITINHO BRASILEIRO
espiando o trabalho dos brasileira, ou seja, do modo como
No bordão de Macunaíma,
outros e principalmente os as pessoas falavam no cotidiano.
bocejando de preguiça, ocorre
dois manos que tinha,
uma inversão dos valores
Maanape já velhinho e Jiguê
habitualmente considerados Para fazer isso, como nós veremos com mais detalhes
na força do homem. O
positivos. Macunaíma é um daqui a pouco, esses autores escreviam numa linguagem informal,
divertimento dele era decepar herói preguiçoso e malandro, usavam palavras típicas de determinadas regiões ou da cultura
cabeça de saúva. Vivia
representante típico do indígena e até mesmo reescreviam as palavras para que elas
deitado mas si punha os olhos
“jeitinho” brasileiro. Ele não ficassem mais parecidas com o modo como eram pronunciadas.
em dinheiro, Macunaíma
gosta de trabalhar e não Macunaíma é um livro em que tudo isso está presente, junto com
dandava pra ganhar vintém. E
cultiva valores heroicos nem
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onomatopeias, neologismos e quebras de sintaxe (como quando o Pneumotórax
autor enumera elementos sem colocar vírgula entre eles).
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Macunaíma foi Tosse, tosse, tosse.
adaptado para o
cinema em 1969, Mandou chamar o médico:
pelo diretor
— Diga trinta e três.
Joaquim Pedro de
Andrade. Nessa — Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
foto, o ator — Respire.
Grande Otelo
interpreta o herói
...................................................................................................
sem nenhum
caráter.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
Manuel Bandeira (1886-1968): direito infiltrado.
nascido em Pernambuco, este autor — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
teve a vida marcada por problemas — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
de saúde. Tendo contraído
Manuel Bandeira, Libertinagem (1930).
tuberculose na juventude, foi
desenganado pelos médicos, que
deram a ele poucos anos de vida. No Já no poema abaixo, “Vou-me embora pra Pasárgada”, o
entanto, contrariando essa profecia mais famoso de sua obra, o poeta tematiza um tópico caro à
trágica, Manuel Bandeira conseguiu literatura: a fuga para um lugar utópico, quase um paraíso terreno,
viver até aos 82 anos. Por conta onde o eu lírico realizaria todas as suas vontades. A fuga, nesse
disso, sua poesia é marcada por um caso, faz-se necessária diante da realidade decepcionante. Leia um
trecho:
lirismo extremamente sensível e, na
maioria das vezes, pessimista. Temas
Vou-me Embora pra Pasárgada
como a felicidade da infância, a doença, as memórias, o cotidiano e
reflexões sobre a vida e a morte são comuns em suas obras, que REFÚGIO
brincam com a linguagem do dia a dia e os elementos da vida Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei Pasárgada é o país das
comum. Suas principais obras foram: delícias: lá, o poeta acredita
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei que terá tudo aquilo que
Na poesia: sonha por ser amigo do rei.
Vou-me embora pra Pasárgada
A cinza das horas (1917);
Carnaval (1919);
Ritmo dissoluto (1924); Vou-me embora pra Pasárgada
ESCAPISMO
Libertinagem (1930); Aqui eu não sou feliz
O poeta, ao anunciar a sua
Estrela da manhã (1936); Lá a existência é uma aventura
ida para Pasárgada, opõe o
Lira dos cinquent’anos (1940); De tal modo inconsequente
presente frustrado com o
Mafuá do malungo (1948); Que Joana a Louca de Espanha
futuro promissor de prazeres
Belo belo (1948); Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente infinitos.
Opus 10 (1952);
Estrela da tarde (1960). Da nora que nunca tive
FUTURO
Na prosa: E como farei ginástica
O poema é uma grande
Crônicas da província do Brasil (1937); Andarei de bicicleta
projeção de ações futuras a
Itinerário de Pasárgada (1954); Montarei em burro brabo
serem realizadas pelo eu
Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966); Subirei no pau-de-sebo
lírico (daí o uso do futuro do
Andorinha, andorinha (1965). Tomarei banhos de mar!
presente). Em Pasárgada,
E quando estiver cansado
tudo é possível e permitido,
Leia a seguir o poema “Pneumotórax”, em que Bandeira trata Deito na beira do rio
principalmente os prazeres
de sua doença de modo, ao mesmo tempo, trágico e cômico. O eu Mando chamar a mãe-d’água
que foram proibidos ao poeta
lírico, diante da impossibilidade da cura, parece rir da Pra me contar as histórias
quando criança em virtude de
inevitabilidade do destino ao sugerir, através da voz de um médico, Que no tempo de eu menino
sua doença.
Rosa vinha me contar
que se dance um tango argentino.
Vou-me embora pra Pasárgada
[...]
Manuel Bandeira, Libertinagem (1930).
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Hum, tá na cara que esse poema aí é
Tá legal, Mafalda. A gente tá uma paródia da Canção do Exílio, do
aqui falando de Modernismo Gonçalves Dias. Esses caras do
pra lá, Modernismo pra cá, Modernismo também curtiam tirar
mas até agora você não me onda com as idealizações do
disse qual o motivo desses Romantismo!
caras todos aí serem tão
diferentões. Por que a arte
deles rompe com a arte - Dessacralização dos temas tradicionais: concepções tradicionais
tradicional? a respeito do amor e da infância, por exemplo, foram revistas e
muitas vezes satirizadas pelos poetas modernistas:
Minha terra tem mais rosas 2) Incorporação de aspectos extraídos das vanguardas
E quase que mais amores europeias: a exaltação da vida moderna, da velocidade e das
Minha terra tem mais ouro tecnologias inovadoras e as quebras de sintaxe (características
Minha terra tem mais terra do Futurismo), o humor e o uso de versos curtos combinando
cenas e elementos (marcas do Cubismo); o ilogismo (traço do
Ouro terra amor e rosas Surrealismo) e a deformação na pintura (característica do
Eu quero tudo de lá Expressionismo) são elementos presentes na produção dos
Não permita Deus que eu morra primeiros modernistas. Abaixo, um exemplo de poema cubista:
Sem que volte para lá
o capoeira
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo - Qué apanhá sordado?
Sem que veja a Rua 15 - O quê?
E o progresso de São Paulo. - Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Oswald de Andrade, Pau-Brasil (1925).
Oswald de Andrade, Pau-Brasil (1925).
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3) O Brasil e sua cultura como elementos poéticos: embora não E do mulato sabido
houvesse unidade entre os autores sobre a forma como o
nosso país devesse ser representado, os escritores da primeira Mas o bom negro e o bom branco
fase modernista sentiram a necessidade de enquadrar a nova Da Nação Brasileira
arte à realidade nacional. Por isso, podemos reconhecer as Dizem todos os dias
seguintes manifestações: Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
- Nacionalismo crítico: as obras modernistas tinham em comum Oswald de Andrade, Pau-Brasil (1925).
um olhar crítico para a nossa realidade nacional e principalmente
para a forma como essa realidade não estava sendo efetivamente
representada na literatura. Resultado disso são os movimentos de O poema acima, por exemplo, é uma
que falamos anteriormente, como o Movimento Pau-Brasil e o sátira que o poeta Oswald de Andrade
Movimento Antropófago, que buscavam valorizar os elementos fez sobre uma regra gramatical. Para a
nacionais, ressignificando o descobrimento do Brasil e norma padrão, nós nunca podemos
reconhecendo as múltiplas culturas existentes dentro do nosso começar frases com o pronome
imenso país: oblíquo. Mas, como Oswald bem
demonstra, na fala comum ninguém
Descobrimento diz “Dê-me”, mas sim “Me dá”.
Abancado à escrivaninha em São Paulo - Versos brancos e versos livres: como você já deve ter notado, a
Na minha casa da rua Lopes Chaves grande maioria dos poemas modernistas possui versos de
De supetão senti um friúme por dentro. tamanhos diferentes e sem rimas. Isso mostra como esse
Fiquei trêmulo, muito comovido movimento adotou definitivamente os versos brancos (sem rimas)
Com o livro palerma olhando pra mim. e os versos livres (sem metrificação) em suas composições.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Não lembra o que é metrificação? Então vale a pena dar
Na escuridão ativa da noite que caiu um pulo lá na aula de Gêneros Literários para dar uma revisada.
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos, De modo resumido, metrificação é a contagem de sílabas
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, poéticas, que define o ritmo dos versos. Na poesia clássica e
Faz pouco se deitou, está dormindo. parnasiana, era comum os poemas terem uma metrificação
rígida, sempre com o mesmo número de sílabas poéticas.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
Virge Maria que foi isto maquinista? Acredite se quiser! E, no fim das
contas, faz todo sentido, não faz? Ou
Agora sim você nunca pensou que amar é uma
grande piada feita para os outros
Café com pão
Agora sim rirem? Essa é a magia dos modernistas, jovem startan@: dizer
Voa, fumaça Repare, nesse poema, o modo muito, usando poucas palavras, através de um jeito irreverente e
Corre, cerca como Manuel Bandeira usa a debochado. Tanto que, se você parar para pensar, muitas são as
Ai seu foguista sonoridade, a forma, das interpretações que um poema assim consegue causar: será que o
Bota fogo expressões “Café com pão” e amor é engraçado porque é uma grande piada? Será que é porque
Na fornalha “Muita força” para simular o nós ficamos todos bobos quando estamos apaixonados? Ou será
som de uma locomotiva. que todo o poema é uma cutucada no Romantismo, que usava
Que eu presciso
muitas palavras e eloquência para falar do amor (enquanto Oswald
Muita força
Muita força usou uma palavra só)? Pode ser e pode não ser.
Muita força
Manuel Bandeira, Estrela da manhã (1936). E, assim, chegamos ao fim! Se você
está preocupad@ em saber como
- Aproximação entre prosa e poesia: com a intenção de quebrar a esse conteúdo cai no Enem, pode
fronteira entre os gêneros, os modernistas tentaram aproximar a ficar tranquil@! A parada do
prosa da poesia. Para isso, fizeram uso da prosa poética, uma Modernismo é você sempre buscar
forma de prosa que se caracteriza pelo uso de expressões associar os poemas às principais
inusitadas, questões abstratas e frases aparentemente ilógicas e características do movimento:
surreais (mas que acabam fazendo sentido numa perspectiva valorização da diversidade cultural,
conotativa e poética). Veja no trecho abaixo, extraído de um da linguagem cotidiana e da
romance de Oswald de Andrade, a forte aproximação entre um inovação estética. Com elas em mente não tem questão que você
campo e outro. O escritor, valendo-se de uma linguagem poética, não resolva. Tá duvidando? Vai lá testar nas folhas de exercícios
cria uma imagem lírica para representar o momento da morte do pra você ver! Enquanto isso, eu fico por aqui, e a gente se vê na
pai do narrador do romance: próxima aula! Até!
GARE DO INFINITO