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Contato Disciplina Aula Matéria Folha

(21) 3856-0704
Literatura Aula 23 Modernismo (1ª Fase) T
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E aí, startan@? Pront@ para estudar  O Surrealismo, que explorou muito o sonho e a criação de
o movimento literário que é um dos novas realidades;
queridinhos do ENEM? Hoje, nós  O Cubismo, que trabalhou com formas geométricas,
vamos finalmente estudar um fragmentação de imagens e ‘recorte” de cenas nos poemas;
movimento que já vem aparecendo  O Expressionismo, que valorizou a percepção do sujeito sobre
nas nossas folhas teóricas: o famoso os objetos e sobre os indivíduos;
Modernismo!  O Dadaísmo, que rompeu com os limites da lógica e
questionou o próprio objeto artístico;
 E o Futurismo, que exaltou o progresso e a inovação.
E, aqui no Brasil, o nosso Modernismo costuma ser
dividido em três fases distintas, mas que possuem em comum o
Esses movimentos legitimaram o tratamento de realidades
fato de serem um processo de renovação e de refinamento não só
fragmentárias, incompletas e irracionais, que era como os
da literatura como também da própria cultura brasileira. Como um
modernistas europeus viam a realidade da própria Europa naquele
todo, podemos dizer que o Modernismo foi um momento de
contexto. Cabe dizer que os valores defendidos pelos artistas das
percepção artística sobre a nossa própria formação literária: em
vanguardas estavam associados ao histórico de destruição e caos
outras palavras, um momento em que os autores do nosso país
provocados pela Guerra, uma vez que essa destruição e esse caos
refletiram sobre as bases da nossa literatura, que se inicia na busca
deixavam claro para eles o quão irreal era o modelo artístico
por uma forma de ser moderno, de fazer arte moderna, sem
elitista da Belle Époque.
deixar de ser brasileiro.
E cada fase do Modernismo irá, com suas características
próprias, aprofundar e levar adiante tal busca. Essas fases são:
REPARE: O período de 1890 a 1914 se caracterizou
 1ª Fase: também chamada de Geração de 22 ou “fase inicialmente por um otimismo entre as elites sociais, que
heroica”. buscavam ostentar seus gostos refinados através de roupas
 2ª Fase: também chamada de Geração de 30 ou enfeitadas e ambientes ornamentados. Era a chamada Belle
“neorrealismo”. Époque, a “bela época”, uma cultura social nascida na Europa e
 3ª Fase: também chamada de Geração de 45. trazida para o nosso país, baseada na valorização do luxo e na
ostentação do poder econômico. Essa cultura, reforçada pelos
ideais de progresso da época, só terá seu fim quando esses ideais
Ué, e por que essa primeira fase forem abalados pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
é chamada de “fase heroica”?

Portanto, os modernistas brasileiros, sobretudo os da primeira


ÓTIMA PERGUNTA! E a resposta fase, serão aqueles que colocarão a “cara a tapa” para romper
para isso tem a ver com as propostas com a arte tradicional cultivada até então. Em outras palavras,
que o Modernismo trouxe quando serão eles que mudarão os padrões estéticos do momento e irão
surgiu. Vejamos então o que foi essa expor criações que desafiaram o gosto tradicional. Daí vem o termo
1ª fase e que propostas foram essas: “heroica”, que faz referência à atitude de heroísmo dessa galera, à
coragem e à ousadia que esses modernistas tiveram em defender
Modernismo no Brasil – primeira fase (fase heroica) perante o público as grandes inovações na arte.
(1922-1930)

Na primeira metade do Século XX, num contexto de Tá, mas como é que isso
avanços tecnológicos e da I Guerra Mundial, surge a arte moderna, tem a ver com o nosso
instaurando uma série de rupturas com os fundamentos artísticos contexto aqui no Brasil?
defendidos pelos movimentos anteriores. Revoltados com a arte Pelo que eu lembro, a
acadêmica e tradicional, os artistas modernistas desejavam nossa situação aqui tava
libertar-se dos antigos modelos artísticos, usando como inspiração bem diferente da situação
os Movimentos de Vanguarda e suas propostas de renovação, que na Europa...
nós vimos na última aula, como:

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Você tem toda razão,
jovem! Por isso, vamos
dar uma olhada em qual
era o contexto aqui no
nosso país naquela
época e em como esse
contexto afetou o nosso
Modernismo:

Contexto histórico-cultural no Brasil


(Século XX – 1922 a 1930)

 Crescimento rápido e significativo de São Paulo: a Cartaz e catálogo atribuídos ao artista Di Cavalcanti, feitos para a divulgação da
Semana de Arte Moderna, realizada em 1922. É esse evento que dá o nome da
Primeira Guerra Mundial promoveu uma modernização e “Geração de 22”.
industrialização da cidade de São Paulo graças ao modelo
de Substituição de Importações.
E aposto que você pode
 Burguesia em boas condições X camadas populares em imaginar como foi a reação do
condições difíceis: essa industrialização de São Paulo veio público diante daquelas obras
acompanhada do enriquecimento de uma burguesia inovadoras, daqueles poemas
“industrial” e da formação de uma população operária, tão diferentes do estilo
composta principalmente por imigrantes europeus. parnasiano, sem rimas e com
versos de tamanhos
 Início do declínio cafeeiro, que também acelerou o diferentes! É claro que parte
processo de urbanização na época. Se a população da elite paulista reagiu de
imigrante, no final do Século XIX, havia substituído a modo cético e conservador!
população negra nas lavouras de café, essa mesma
população imigrante agora deixava o campo para
Um exemplo clássico desse tipo de reação, que ocorreu
trabalhar na cidade. Por conta do racismo e da em 1917, portanto, alguns anos antes da fatídica Semana, foram as
discriminação, a população negra continuava críticas que o autor Monteiro Lobato (1882-1948), parte da elite
marginalizada.
paulistana rural, dirigiu às obras da pintora Anita Malfatti. Com
obras de inspiração expressionista, Malfatti pintava figuras
 Fortes influências vanguardistas, como o Futurismo, que distorcidas, com cores saturadas e intensas, que se diferenciavam
combatiam o academicismo e a arte erudita, representada fortemente da pintura clássica, que buscava representar com
não apenas, mas principalmente pelo Parnasianismo! perfeição a realidade.

Aqui no Brasil, o marco inicial


do Modernismo foi a Semana de
Arte Moderna, uma exposição
artística que aconteceu nos dias
13, 15 e 17 de fevereiro de 1922,
no Teatro Municipal de São Paulo.
Foi nessa exposição que os
primeiros modernistas brasileiros
se reuniram para apresentar suas
obras ao público!

O Homem de Sete Cores


A Estudante (1921)
(1915)
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O artigo Paranoia ou Mistificação?, escrito pelo autor de com o padrão artístico da época, romper com a arte tradicional, e,
Urupês, foi publicado no jornal O Estado de São Paulo. Veja, a como sabemos, tudo aquilo que rompe com o padrão, com o que é
seguir, um trecho do artigo: tradicional, tende a receber severas críticas e demorar a ser aceito
pela sociedade. Mesmo assim, a Semana de Arte Moderna
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem contribuiu para que o Modernismo se tornasse mais difundido,
as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos concretizando a arte moderna no Brasil.
ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções
estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. (...) Além disso, outros fatos importantes, seguintes ao da famosa
A outra espécie é formada dos que veem anormalmente a exposição, ajudaram a sedimentar o movimento modernista não só
natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão em São Paulo, como em todo o Brasil, capitaneados, sobretudo,
estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da pelos escritores e artistas paulistas. É exemplo disso a publicação
cultura excessiva. (...) de revistas responsáveis pela divulgação das novas orientações
Embora se deem como novos, como precursores de uma estéticas propagadas pela arte de vanguarda, como:
arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica:
nasceu como a paranoia e a mistificação. (...)  Klaxon: revista mensal, publicada pelo grupo paulista em
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e 1922, cujo primeiro número trazia um editorial manifesto
tutti quanti não passam de outros ramos da arte caricatural. É a que destacava seus principais objetivos: a busca do atual,
extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora o culto ao progresso, a incorporação de novas formas
penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma – mas caricatura artísticas, como o cinema, e a afirmação de que a arte não
que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma ideia, mas sim é uma cópia da realidade. O título se refere ao som
desnortear, aparvalhar, atordoar a ingenuidade do espectador. (...) produzido pela buzina dos automóveis da época, principal
A pintura da sra. Malfatti não é futurista, de modo que símbolo de modernidade. Seus principais colaboradores
estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como foram Oswald e Mário de Andrade, Graça Aranha, Menotti
agregou à sua exposição uma cubice, queremos crer que tende Del Picchia, Manuel Bandeira.
para isso como para um ideal supremo. (...)
 Estética: revista trimensal, publicada pelo grupo carioca
http://www.pitoresco.com.br/brasil/anita/lobato.html em 1924, foi responsável por propagar as ideias do
modernismo paulista no Rio de Janeiro. Dirigida por
Prudente de Morais e Sérgio Buarque de Holanda, teve
Perceba que o autor divide os artistas como colaboradores os mesmos escritores que publicaram
em dois grupos: um formado pelos na Klaxon.
acadêmicos, fiéis aos modelos
clássicos de composição, e o outro
 A Revista: publicada a partir de 1925 em Minas Gerais,
pelos modernistas. Ele os
com o mesmo intuito das demais, teve como
desqualifica, usando os adjetivos
colaboradores o mineiro Carlos Drummond de Andrade e
“efêmeras”, “estrábica” e “rebeldes”.
o ícone paulista Mário de Andrade.

O texto também liga a arte moderna a um suposto


processo de decadência dos valores ocidentais. Lobato qualifica as
produções como “arte degenerada”, fruto de perturbações
mentais. E, no último parágrafo, Lobato finalmente volta-se ao alvo
de seu texto: os quadros de Malfatti. O autor se coloca como
exceção diante da receptividade com que parte dos críticos
acolheu as pinturas da artista e usa essas pinturas como pretexto
para vociferar contra os ideais estéticos do Modernismo em geral.

Nossa, mas que boy


embuste, hein... Não
bastava ser racista, ainda
tinha que falar mal das
Capas e folhas de rosto de algumas revistas da época, como Klaxon (1922), Estética
obras da moça... (1924) e A Revista (1925).

Pois é, jovem! E essa Outros acontecimentos merecem destaque, como a


crítica toda aos modernistas expedição cultural organizada pelos modernistas de São Paulo,
acontece porque o propósito em 1924, para as cidades históricas de Minas Gerais. Tomados
deles era justamente romper
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pelo espírito de desbravadores de um país até então Para apresentar tais ideias, Oswald de Andrade publica, em
“desconhecido”, os modernistas descobriram nessa viagem o 1924, o Manifesto da Poesia Pau Brasil. Os manifestos eram os
barroco mineiro, que impactou a produção de artistas como documentos responsáveis por apresentar o programa estético dos
Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, inspirando o movimento movimentos da época. Veja abaixo um trecho desse texto:
Pau-Brasil. Veja, por exemplo, um poema de Oswald de Andrade
inspirado por essa famosa expedição: A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre
nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
ouro preto O Carnaval no Rio é o
acontecimento religioso da raça. CONTRASTES
Vamos visitar São Francisco de Assis Pau-Brasil. Wagner submerge ante os O texto inicia apontando os
Igreja feita pela gente de Minas cordões de Botafogo. Bárbaro e contrastes da realidade
O sacristão que é vizinho da Maria Cana-Verde nosso. A formação étnica rica. nacional: é nela que se
Abre e mostra o abandono Riqueza vegetal. O minério. A encontram o carnaval do
Os púlpitos do Aleijadinho cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. Rio e a música clássica de
O teto do Ataíde [...] Wagner.
Mas a dramatização finalizou A nunca exportação de poesia.
Ladeiras do passado A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas
Esquartejamentos e conjurações da saudade universitária.
Sob o Itacolomi [...]
Nos poços mecânicos policiados Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio
Da Passagem rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.
E em alguns maus alexandrinos A síntese
LINGUAGEM
Só o Morro da Queimada O equilíbrio
O escritor lista
Fala do Conde de Assumar O acabamento de carrosserie
algumas das
A invenção
Oswald de Andrade, Pau Brasil (1925) características do
A surpresa
movimento, como a
Uma nova perspectiva
síntese da escrita, a
Perceba o interesse do poeta em Uma nova escala
originalidade e a
documentar, através da poesia, um Qualquer esforço natural nesse sentido
surpresa.
espaço pouco lembrado pelos será bom. Poesia Pau-Brasil.
brasileiros. A valorização das O trabalho contra o detalhe naturalista
cidades históricas mineiras atende - pela síntese; contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio
ao programa modernista que visava geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção
a recuperação crítica do passado e pela surpresa.
colonial, que fora renegado. Daí a Uma nova perspectiva.
citação de importantes artistas [...]
desse período, como Aleijadinho e Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do
Mestre Ataíde. mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola.
[...]
MOVIMENTO PAU-BRASIL: A reação contra todas as
RUPTURA
indigestões de sabedoria. O melhor
O documento também
Lançado em 1924 e tendo como líderes Oswald de Andrade, de nossa tradição lírica. O melhor de
critica o academicismo
Tarsila do Amaral e Paulo Prado, esse grupo propunha: nossa demonstração moderna.
vigente até então,
Apenas brasileiros de nossa época.
propondo a
 Uma ruptura com certo passado cultural brasileiro e com a O necessário de química, de mecânica,
valorização de
tradição literária, referenciada pelo Parnasianismo; de economia e de balística. Tudo
aspectos próprios da
 Experimentalismo poético capaz de incorporar a realidade digerido. Sem meeting cultural. Práticos.
nossa cultura.
brasileira a uma nova forma de fazer poesia; Experimentais. Poetas. Sem
 Poesia de exportação, que visava o caminho inverso feito pela reminiscências livrescas. Sem
literatura brasileira até então: ou seja, ao invés de comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.
importamos tendências, exportaríamos. O nome do Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais.
movimento, inclusive, foi inspirado por aquilo que os Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o
modernistas consideravam o nosso primeiro grande produto minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.
Oswald de Andrade
de exportação: a madeira da árvore Pau-Brasil.
Correio da Manhã, 18 de março de 1924.

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No manifesto acima, percebe-se o
desejo de conciliar a cultura nativa (a
floresta) com a cultura intelectual e o Tarsila do Amaral também colaborou com Oswald de
tecnicismo moderno (a escola). Além Andrade ao ilustrar alguns dos livros de poesia do marido. A capa
disso, o autor propõe o uso da língua de Pau–Brasil (foto abaixo), primeiro livro de poesia do poeta,
sem preconceitos, o resgate crítico publicado em 1925, é da autoria da pintora. Nela, Tarsila faz uma
das manifestações culturais de releitura da bandeira do nacional:
diferentes matrizes culturais, e o uso
de episódios cotidianos como
inspiração artística, representado
pela máxima: “ver com olhos livres”.

REPARE: Os movimentos dentro do Modernismo ficaram bem


conhecidos por expressar suas propostas através de manifestos,
assim como os artistas de vanguarda. O manifesto é um gênero
textual semelhante a uma declaração, usado justamente com
esse objetivo de divulgar publicamente um conjunto de ideias.
Dentre os manifestos lançados, temos: MOVIMENTO VERDE-AMARELO

 Manifesto Pau-Brasil (1924) Formado por Plínio Salgado, Menotti Del Picchia,
 Manifesto Verde-Amarelo (1926) Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, o grupo lançou em 1926
 Manifesto Regionalista (1926) um manifesto contra o nacionalismo “afrancesado” do Movimento
 Manifesto Antropófago (1928) Pau-Brasil. Para eles, o nacionalismo defendido pelo grupo de
Oswald de Andrade era um “nacionalismo de brincadeirinha”, e,
em resposta a isso, eles defendiam um nacionalismo ufanista e
O movimento Pau-Brasil também inspirou a artista plástica primitivista, de tendências autoritárias e identificado com o
Tarsila do Amaral, esposa de Oswald na época. Durante os anos de Fascismo italiano (que na época era considerado por alguns um
1924 a 1928, a artista se dedicou a pintar paisagens brasileiras, exemplo de bom sentimento patriótico). Esse ultranacionalismo se
representando o contraste entre o país urbano e o país rural, além transformaria mais tarde no Integralismo, movimento político
de personagens do povo e elementos folclóricos, apresentando liderado pelo próprio Plínio Salgado. Rejeitando a presença de
um rico painel da nossa cultura. Além disso, a artista valorizou em qualquer elemento estrangeiro, o grupo escolheu a anta, animal
suas telas as cores primárias, que remetiam ao ideário nacional sagrado na mitologia tupi, como seu símbolo, denominando o
(como o verde, o azul e o amarelo), além das formas geométricas, grupo de Grupo da Anta. Publicam, em 1929, o Manifesto do
tendência inspirada pelo cubismo. verde-amarelismo, que defendia um estado forte e centralizador.

Símbolo da Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento de extrema-direita durante


os anos 30.

REPARE: Os quadros acima, de Tarsila do Amaral, intitulados MOVIMENTO REGIONALISTA DE 1926


Palmeiras (à esquerda) e A Gare (à direita), ambos de 1925, são
exemplos de pinturas pertencentes ao Movimento Pau-Brasil. Realizado em Recife e liderado pelo sociólogo Gilberto
Enquanto a primeira obra representa a face rural, trazendo um Freyre, teve a intenção de mostrar a disposição de determinados
símbolo da cultura nacional já cantado pelos românticos (as artistas em adaptar o Nordeste às propostas modernistas, mas
palmeiras), o segundo tematiza a modernidade, trazendo como sem se esquecer da defesa da cultura regional, dos valores
símbolo a imagem de uma moderna estação de trem. tradicionais e autenticamente nordestinos.

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MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO Manifesto Antropófago (1928)

Em resposta ao movimento verde-amarelo, surge o Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.


Movimento Antropofágico, com a presença de Oswald de Filosoficamente.
Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Carlos Drummond Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os
de Andrade, Alcântara Machado, Raul Bopp e outros. individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De
todos os tratados de paz.
Esse movimento, através Tupi, or not tupi PARÓDIA
da publicação da Revista de that is the question. O autor parodia o verso de
Antropofagia (1928), defendia a Contra todas as Shakespeare (“To be or not to
ideia de que era possível catequeses. E contra a mãe be, that’s the question” – “Ser
“devorarmos” a cultura dos Gracos. ou não ser, eis a questão”) e
estrangeira para apreendermos Só me interessa o que “deglute” o repertório
dela o que fosse positivo e, não é meu. Lei do homem. Lei estrangeiro, adaptando-o à
depois disso, adaptá-la à nossa do antropófago. (...) cultura nacional.
realidade para torná-la brasileira Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio
(à maneira dos índios vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas
antropófagos brasileiros quando óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já
devoravam suas vítimas a fim de tínhamos o comunismo.
adquirir sua habilidade e força). Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. [...]
Contra as sublimações
IDENTIDADE NACIONAL
antagônicas. Trazidas nas
Nosso passado colonial é
caravelas.
atacado pela sátira mordaz;
Contra a verdade dos
por outro lado, os elementos
povos missionários, definida
da cultura indígena
pela sagacidade de um
ressurgem como parâmetros
antropófago, o Visconde de
definidores da nacionalidade
Cairu: – É mentira muitas vezes
e da identidade cultural.
repetida. (...)
Se Deus é a consciência do Universo Incriado, Guaraci é a
mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais. (...)
O objetivo criado
A FIGURA DO ÍNDIO reage com os Anjos da
Oswald se opõe à Queda. Depois Moisés
representação romântica divaga. Que temos nós com
idealizada dos indígenas, no isso?
molde dos cavaleiros europeus Antes dos
e impregnada de elementos portugueses descobrirem o
estrangeiros, e valoriza o Brasil, o Brasil tinha
Abaporu, pintura de óleo sobre tela de Tarsila do Amaral, 1928. indígena de antes da chegada descoberto a felicidade.
portuguesa. Contra o índio de
O Abaporu, de 1928, foi um quadro produzido dentro
do Movimento Antropofágico. Nele, Tarsila do Amaral usa cores tocheiro. O índio filho de
associadas ao Brasil e subverte as proporções convencionais. Maria, afilhado de Catarina
INTERTEXTUALIDADE de Médicis e genro de D.
Uma figura aparentemente humana é representada com os A oposição à cultura trazida
membros em tamanho deformado – algo impensável para as Antônio de Mariz. (...)
pelos europeus retoma a figura Contra Anchieta
estéticas clássicas. O pé gigante que toca o chão busca provocar da índia Iracema e estabelece cantando as onze mil virgens
uma reflexão sobre a ordem aparente do mundo real. É preciso um diálogo intertextual com o
lembrar que, no Modernismo, temas ligados ao país (como a do céu, na terra de Iracema, –
romance indianista de José de o patriarca João Ramalho
natureza tropical) recebem um olhar crítico; ou seja, não são Alencar. fundador de São Paulo.
mais idealizados, como no contexto romântico.
Oswald de Andrade

Veja a seguir um trecho do Manifesto Antropófago, Revista de Antropofagia, Ano 1, nº 1, maio 1928.
também escrito por Oswald de Andrade e publicado em 1928, na
Revista de Antropofagia:

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Neste poema de tendência humorística,
Agora, vamos dar uma olhada é possível perceber o retorno crítico ao
em quais foram os principais passado colonial, que remonta para a
autores literários da 1ª fase do formação do povo brasileiro a partir
Modernismo: das três raças. Essa mistura resulta, na
perspectiva do poeta, no Carnaval,
Principais autores e obras festa máxima da cultura nacional.

Oswald de Andrade (1890 –


1954): nascido em São Paulo e
um dos grandes representantes
do movimento modernista. Sua
produção é caracterizada
principalmente por um traço
humorístico e debochado, no
qual podemos encontrar muitas
críticas à arte e à linguagem
eruditas e ao ideário
europeizante presente no país. Recusando o modelo parnasiano,
esse autor vai se destacar por seus poemas curtos, diretos, com
versos brancos e livres. Suas principais obras foram:

 Na poesia:
Mário de Andrade (1893-1945): considerado o “Papa” do
 Pau-Brasil (1925),
Modernismo brasileiro, Mário de Andrade foi um importante autor
 Primeiro caderno de aluno de poesia Oswald de Andrade
da nossa literatura. Estudioso
(1927).
do nosso folclore, viajou por
todo o país pesquisando as
 Na prosa:
muitas culturas regionais.
 Memórias sentimentais de João Miramar (1924),
Dentre os principais temas
 Serafim Ponte Grande (1933),
abordados em suas obras,
 Os condenados (1941),
estão a identidade nacional, a
 Estrela de absinto (1927),
variação linguística, a
 A escada (1934),
modernização de São Paulo e
 Marco zero I - a revolução melancólica (1943),
a crítica à burguesia e à
 Marco zero II – chão (1945).
desigualdade. Tendo sido um
importante acadêmico, Mário
 No teatro:
publicou não apenas obras
 O homem e o cavalo (1934),
literárias, mas também
 O rei da vela (1937).
ensaios e artigos:
Veja abaixo um poema do autor no qual ele parodia o “encontro
 Na poesia:
das três raças”:
 Pauliceia desvairada (1922),
 Losango cáqui (1926),
brasil
 Clã do jabuti (1927),
 Remate de males (1930),
O Zé Pereira chegou de caravela
 Lira paulistana (1946).
E preguntou pro guarani de mata virgem
- Sois cristão?
 Na prosa:
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da morte
 Amar, verbo intransitivo (1927);
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
 Macunaíma (1928);
Lá de longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
 Contos novos (1947).
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
 Ensaios (textos acadêmicos):
- Sim pela graça de Deus
 Prefácio interessantíssimo (1922),
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
 A escrava que não é Isaura (1925),
E fizeram o Carnaval.
 Aspectos da literatura brasileira (1943),
Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade (1927).  O empalhador de passarinho (1944).
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Dessas obras, a mais importante é, com toda certeza, o livro também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos
Macunaíma. Esse romance, classificado pelo autor como rapsódia, juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as
tem como subtítulo “O herói sem nenhum caráter”, e trava uma mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaiamuns diz que
forte discussão acerca da identidade do brasileiro. Na obra, caráter habitando a água-doce por
assume dois sentidos: o sentido moral e o sentido de caracteres lá. No mucambo si alguns LIBIDO
físicos. Nesse caso, Macunaíma, assim como o brasileiro, é sem cunhatã se aproximava dele Desde pequeno, Macunaíma
caráter por ser moralmente falho, mas também por não possuir pra fazer festinha, Macunaíma tinha a sexualidade aflorada.
uma identidade definida, já que o personagem é um índio negro punha a mão nas graças dela, Ao perturbar as índias no rio
que mais tarde vira um homem branco. cunhatã se afastava. Nos ou assediar as mulheres na
machos guspia na cara. Porém tribo, o garoto já revelava um
respeitava os velhos e comportamento que o
frequentava com aplicação a caracterizará durante a vida.
REPARE: Rapsódia, em sua acepção clássica, refere-se a uma
peça musical de forma livre que utiliza melodias, improvisos e murua a poracê o torê o
efeitos instrumentais de determinadas músicas nacionais ou bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
regionais. O termo também define um tipo de narrativa épica
Macunaíma. Mário de Andrade.
que era recitada na Grécia Antiga pelo rapsodo. Mário se
apropria dessa concepção para criar a sua narrativa, uma vez que
o autor inclui nela várias lendas brasileiras somadas à mitologia Mafalda do céu, eu não
indígena e ao folclore nacional, utilizando uma linguagem entendi uma vírgula do que tá
próxima da oralidade. Além disso, o livro é uma grande sátira às escrito nesse negócio!
narrativas românticas que idealizavam e aportuguesavam os
indígenas, possuindo um tom debochado e muitas vezes ilógico.
Veja só como começa: Mas é porque não tem vírgula
mesmo! Ou, melhor dizendo,
é porque esse livro foi escrito
No fundo do mato- numa linguagem inovadora.
PARÓDIA
virgem nasceu Macunaíma, O início da obra faz uma
herói da nossa gente. Era paródia de textos indianistas
preto retinto e filho do Se você olhar bem, vai notar
(como Iracema, de José de que esse trecho está cheio de
medo da noite. Houve um Alencar). O nascimento de
momento em que silêncio foi palavras de origem indígena, de
Macunaíma ocorre na mata, palavras escritas para imitar o
tão grande escutando o no contato com elementos
murmurejo do Uraricoera, que modo como são pronunciadas
naturais. Em todo o texto, informalmente (“guspia”) e até
a índia tapanhumas pariu porém, não há a idealização
uma criança feia. Essa criança mesmo trechos em que vários
positiva do herói. elementos são enumerados
é que chamaram de
Macunaíma. sem o uso da vírgula entre eles!
Já na meninice fez
ORALIDADE E LINGUAGEM
coisas de sarapantar. De
COLOQUIAL
primeiro passou mais de E isso tudo porque um dos
Note a oralidade da escrita. A
seis anos não falando. Si o objetivos do Modernismo era
palavra “se” é grafada com o
incitavam a falar justamente ir contra a linguagem
som da fala “si” do português
exclamava: erudita da literatura da época
brasileiro. A referência à
– Ai que preguiça!... (lembra do Parnasianismo?). Os
linguagem oral é típica da
e não dizia mais nada. Ficava autores modernistas queriam que a
primeira fase modernista.
no canto da maloca, trepado linguagem da literatura estivesse
no jirau de paxiúba, próxima da verdadeira língua
JEITINHO BRASILEIRO
espiando o trabalho dos brasileira, ou seja, do modo como
No bordão de Macunaíma,
outros e principalmente os as pessoas falavam no cotidiano.
bocejando de preguiça, ocorre
dois manos que tinha,
uma inversão dos valores
Maanape já velhinho e Jiguê
habitualmente considerados Para fazer isso, como nós veremos com mais detalhes
na força do homem. O
positivos. Macunaíma é um daqui a pouco, esses autores escreviam numa linguagem informal,
divertimento dele era decepar herói preguiçoso e malandro, usavam palavras típicas de determinadas regiões ou da cultura
cabeça de saúva. Vivia
representante típico do indígena e até mesmo reescreviam as palavras para que elas
deitado mas si punha os olhos
“jeitinho” brasileiro. Ele não ficassem mais parecidas com o modo como eram pronunciadas.
em dinheiro, Macunaíma
gosta de trabalhar e não Macunaíma é um livro em que tudo isso está presente, junto com
dandava pra ganhar vintém. E
cultiva valores heroicos nem
guerreiros. startvestibular.com.br
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onomatopeias, neologismos e quebras de sintaxe (como quando o Pneumotórax
autor enumera elementos sem colocar vírgula entre eles).
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Macunaíma foi Tosse, tosse, tosse.
adaptado para o
cinema em 1969, Mandou chamar o médico:
pelo diretor
— Diga trinta e três.
Joaquim Pedro de
Andrade. Nessa — Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
foto, o ator — Respire.
Grande Otelo
interpreta o herói
...................................................................................................
sem nenhum
caráter.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
Manuel Bandeira (1886-1968): direito infiltrado.
nascido em Pernambuco, este autor — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
teve a vida marcada por problemas — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
de saúde. Tendo contraído
Manuel Bandeira, Libertinagem (1930).
tuberculose na juventude, foi
desenganado pelos médicos, que
deram a ele poucos anos de vida. No Já no poema abaixo, “Vou-me embora pra Pasárgada”, o
entanto, contrariando essa profecia mais famoso de sua obra, o poeta tematiza um tópico caro à
trágica, Manuel Bandeira conseguiu literatura: a fuga para um lugar utópico, quase um paraíso terreno,
viver até aos 82 anos. Por conta onde o eu lírico realizaria todas as suas vontades. A fuga, nesse
disso, sua poesia é marcada por um caso, faz-se necessária diante da realidade decepcionante. Leia um
trecho:
lirismo extremamente sensível e, na
maioria das vezes, pessimista. Temas
Vou-me Embora pra Pasárgada
como a felicidade da infância, a doença, as memórias, o cotidiano e
reflexões sobre a vida e a morte são comuns em suas obras, que REFÚGIO
brincam com a linguagem do dia a dia e os elementos da vida Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei Pasárgada é o país das
comum. Suas principais obras foram: delícias: lá, o poeta acredita
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei que terá tudo aquilo que
 Na poesia: sonha por ser amigo do rei.
Vou-me embora pra Pasárgada
 A cinza das horas (1917);
 Carnaval (1919);
 Ritmo dissoluto (1924); Vou-me embora pra Pasárgada
ESCAPISMO
 Libertinagem (1930); Aqui eu não sou feliz
O poeta, ao anunciar a sua
 Estrela da manhã (1936); Lá a existência é uma aventura
ida para Pasárgada, opõe o
 Lira dos cinquent’anos (1940); De tal modo inconsequente
presente frustrado com o
 Mafuá do malungo (1948); Que Joana a Louca de Espanha
futuro promissor de prazeres
 Belo belo (1948); Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente infinitos.
 Opus 10 (1952);
 Estrela da tarde (1960). Da nora que nunca tive
FUTURO
 Na prosa: E como farei ginástica
O poema é uma grande
 Crônicas da província do Brasil (1937); Andarei de bicicleta
projeção de ações futuras a
 Itinerário de Pasárgada (1954); Montarei em burro brabo
serem realizadas pelo eu
 Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966); Subirei no pau-de-sebo
lírico (daí o uso do futuro do
 Andorinha, andorinha (1965). Tomarei banhos de mar!
presente). Em Pasárgada,
E quando estiver cansado
tudo é possível e permitido,
Leia a seguir o poema “Pneumotórax”, em que Bandeira trata Deito na beira do rio
principalmente os prazeres
de sua doença de modo, ao mesmo tempo, trágico e cômico. O eu Mando chamar a mãe-d’água
que foram proibidos ao poeta
lírico, diante da impossibilidade da cura, parece rir da Pra me contar as histórias
quando criança em virtude de
inevitabilidade do destino ao sugerir, através da voz de um médico, Que no tempo de eu menino
sua doença.
Rosa vinha me contar
que se dance um tango argentino.
Vou-me embora pra Pasárgada
[...]
Manuel Bandeira, Libertinagem (1930).
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Hum, tá na cara que esse poema aí é
Tá legal, Mafalda. A gente tá uma paródia da Canção do Exílio, do
aqui falando de Modernismo Gonçalves Dias. Esses caras do
pra lá, Modernismo pra cá, Modernismo também curtiam tirar
mas até agora você não me onda com as idealizações do
disse qual o motivo desses Romantismo!
caras todos aí serem tão
diferentões. Por que a arte
deles rompe com a arte - Dessacralização dos temas tradicionais: concepções tradicionais
tradicional? a respeito do amor e da infância, por exemplo, foram revistas e
muitas vezes satirizadas pelos poetas modernistas:

ÓTIMA PERGUNTA! Pois é exata- Lembranças do Losango cáqui


mente isso que nós vamos ver agora:
as características formais e temáticas Meu Deus como ela era branca!...
do Modernismo e por que essas Como era parecida com a neve...
características representam uma Porém não sei como é a neve,
ruptura com o modo tradicional de se Eu nunca vi a neve, Eu não gosto da neve!
fazer arte e literatura. Vamos lá:
E eu não gostava dela...
Mário de Andrade, Clã do Jabuti (1927).
Características temáticas
- Poetização de elemento simples do cotidiano e de elementos
1) Ruptura com o passado: de uma maneira geral, os poetas da
apoéticos: ao contrário dos parnasianos e românticos, que falavam
primeira fase utilizaram diferentes recursos para expressar a
de temas grandiosos, os modernistas defendiam que tudo o que
sua rejeição aos modelos passados da literatura brasileira
existe no mundo pode ser tema de poesia (como uma notícia de
(principalmente o Parnasianismo). Entre esses recursos,
jornal). Nesse sentido, os elementos do cotidiano são tratados
temos:
como dotados de lirismo, de um encanto que vem da simplicidade:
- Intertextualidade: subvertendo textos consagrados através de
Poema tirado de uma notícia de jornal
paródias, os modernistas pretendiam retirar deles toda a
autoridade, promovendo uma reavaliação crítica do passado
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
cultural, satirizando-o:
[Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Canto de regresso à pátria
Bebeu
Cantou
Minha terra tem palmares
Dançou
Onde gorjeia o mar
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá Manuel Bandeira, Libertinagem (1930).

Minha terra tem mais rosas 2) Incorporação de aspectos extraídos das vanguardas
E quase que mais amores europeias: a exaltação da vida moderna, da velocidade e das
Minha terra tem mais ouro tecnologias inovadoras e as quebras de sintaxe (características
Minha terra tem mais terra do Futurismo), o humor e o uso de versos curtos combinando
cenas e elementos (marcas do Cubismo); o ilogismo (traço do
Ouro terra amor e rosas Surrealismo) e a deformação na pintura (característica do
Eu quero tudo de lá Expressionismo) são elementos presentes na produção dos
Não permita Deus que eu morra primeiros modernistas. Abaixo, um exemplo de poema cubista:
Sem que volte para lá
o capoeira
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo - Qué apanhá sordado?
Sem que veja a Rua 15 - O quê?
E o progresso de São Paulo. - Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Oswald de Andrade, Pau-Brasil (1925).
Oswald de Andrade, Pau-Brasil (1925).
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3) O Brasil e sua cultura como elementos poéticos: embora não E do mulato sabido
houvesse unidade entre os autores sobre a forma como o
nosso país devesse ser representado, os escritores da primeira Mas o bom negro e o bom branco
fase modernista sentiram a necessidade de enquadrar a nova Da Nação Brasileira
arte à realidade nacional. Por isso, podemos reconhecer as Dizem todos os dias
seguintes manifestações: Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
- Nacionalismo crítico: as obras modernistas tinham em comum Oswald de Andrade, Pau-Brasil (1925).
um olhar crítico para a nossa realidade nacional e principalmente
para a forma como essa realidade não estava sendo efetivamente
representada na literatura. Resultado disso são os movimentos de O poema acima, por exemplo, é uma
que falamos anteriormente, como o Movimento Pau-Brasil e o sátira que o poeta Oswald de Andrade
Movimento Antropófago, que buscavam valorizar os elementos fez sobre uma regra gramatical. Para a
nacionais, ressignificando o descobrimento do Brasil e norma padrão, nós nunca podemos
reconhecendo as múltiplas culturas existentes dentro do nosso começar frases com o pronome
imenso país: oblíquo. Mas, como Oswald bem
demonstra, na fala comum ninguém
Descobrimento diz “Dê-me”, mas sim “Me dá”.

Abancado à escrivaninha em São Paulo - Versos brancos e versos livres: como você já deve ter notado, a
Na minha casa da rua Lopes Chaves grande maioria dos poemas modernistas possui versos de
De supetão senti um friúme por dentro. tamanhos diferentes e sem rimas. Isso mostra como esse
Fiquei trêmulo, muito comovido movimento adotou definitivamente os versos brancos (sem rimas)
Com o livro palerma olhando pra mim. e os versos livres (sem metrificação) em suas composições.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Não lembra o que é metrificação? Então vale a pena dar
Na escuridão ativa da noite que caiu um pulo lá na aula de Gêneros Literários para dar uma revisada.
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos, De modo resumido, metrificação é a contagem de sílabas
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, poéticas, que define o ritmo dos versos. Na poesia clássica e
Faz pouco se deitou, está dormindo. parnasiana, era comum os poemas terem uma metrificação
rígida, sempre com o mesmo número de sílabas poéticas.
Esse homem é brasileiro que nem eu.

Mário de Andrade, Clã do Jabuti (1927).


- Neologismos: com o ideal de inovação, nada melhor do que
inventar palavras para brincar e explorar o lirismo da linguagem.
Características formais
Neologismo
1) Experimentação formal: já no lado da forma, isto é, da escrita
e estrutura das obras, o Modernismo se caracterizou pela
Beijo pouco, falo menos ainda.
experimentação formal, ou seja, pela busca de formas
Mas invento palavras
inovadoras de escrita. Entre os traços que demonstram essa
Que traduzem a ternura mais funda
inovação, temos:
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
- Uso da linguagem popular e oral: Como a proposta dos
Intransitivo:
modernistas era tentar diferenciar a cultura brasileira da cultura
Teadoro, Teodora.
europeia, os autores desse movimento se emprenharam em Manuel Bandeira, Belo Belo (1948).
reproduzir na escrita uma linguagem que fosse tipicamente
brasileira. Por isso, como vimos em Macunaíma, será comum
encontrar nessas obras um modo de escrever que lembra a E, como vimos em Macunaíma,
linguagem cotidiana, informal, e que desobedece às regras da outro traço relevante do
Norma Padrão da Gramática: Modernismo é o uso de palavras de
origens diversas, como da cultura
pronominais indígena e das variantes regionais
do país, e a quebra da sintaxe
Dê-me um cigarro (como no uso da pontuação), que
Diz a gramática lembra as propostas dadaístas e
Do professor e do aluno futuristas.
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- Aprofundamento da relação entre forma e conteúdo: se existe piadas, textos curtos em que um trocadilho ou jogo verbal mais
algo que todas as escolas literárias possuem em comum é a relação ligeiro desencadeia um efeito humorístico. Veja o exemplo a seguir:
entre forma e conteúdo (até porque, na literatura, o único modo
de expressar algum conteúdo é através da forma, das palavras). amor
Nesse sentido, o Modernismo será o movimento que abrirá as
portas para um uso cada vez mais inusitado e inovador da forma Humor
dos poemas. Veja esse exemplo:
Oswald de Andrade, Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade
(1927).
Trem de Ferro

Café com pão Espera aí, é sério que o poema é


Café com pão só isso?
Café com pão

Virge Maria que foi isto maquinista? Acredite se quiser! E, no fim das
contas, faz todo sentido, não faz? Ou
Agora sim você nunca pensou que amar é uma
grande piada feita para os outros
Café com pão
Agora sim rirem? Essa é a magia dos modernistas, jovem startan@: dizer
Voa, fumaça Repare, nesse poema, o modo muito, usando poucas palavras, através de um jeito irreverente e
Corre, cerca como Manuel Bandeira usa a debochado. Tanto que, se você parar para pensar, muitas são as
Ai seu foguista sonoridade, a forma, das interpretações que um poema assim consegue causar: será que o
Bota fogo expressões “Café com pão” e amor é engraçado porque é uma grande piada? Será que é porque
Na fornalha “Muita força” para simular o nós ficamos todos bobos quando estamos apaixonados? Ou será
som de uma locomotiva. que todo o poema é uma cutucada no Romantismo, que usava
Que eu presciso
muitas palavras e eloquência para falar do amor (enquanto Oswald
Muita força
Muita força usou uma palavra só)? Pode ser e pode não ser.
Muita força
Manuel Bandeira, Estrela da manhã (1936). E, assim, chegamos ao fim! Se você
está preocupad@ em saber como
- Aproximação entre prosa e poesia: com a intenção de quebrar a esse conteúdo cai no Enem, pode
fronteira entre os gêneros, os modernistas tentaram aproximar a ficar tranquil@! A parada do
prosa da poesia. Para isso, fizeram uso da prosa poética, uma Modernismo é você sempre buscar
forma de prosa que se caracteriza pelo uso de expressões associar os poemas às principais
inusitadas, questões abstratas e frases aparentemente ilógicas e características do movimento:
surreais (mas que acabam fazendo sentido numa perspectiva valorização da diversidade cultural,
conotativa e poética). Veja no trecho abaixo, extraído de um da linguagem cotidiana e da
romance de Oswald de Andrade, a forte aproximação entre um inovação estética. Com elas em mente não tem questão que você
campo e outro. O escritor, valendo-se de uma linguagem poética, não resolva. Tá duvidando? Vai lá testar nas folhas de exercícios
cria uma imagem lírica para representar o momento da morte do pra você ver! Enquanto isso, eu fico por aqui, e a gente se vê na
pai do narrador do romance: próxima aula! Até!

GARE DO INFINITO

Papai estava doente na cama e vinha um carro e um


homem e o carro ficava esperando no jardim.
Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos
mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na janela.
No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe
ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai.

Oswald de Andrade, Memórias sentimentais de João Miramar, 1924.

- Síntese: rompendo com as formas clássicas grandiloquentes, que


usavam sonetos e palavras rebuscadas, os modernistas vão preferir
poemas mais simples, normalmente pequenos e com versos curtos.
Oswald de Andrade foi o principal escritor a utilizar este tipo de
expediente, sobretudo nos chamados poemas-pílulas ou poemas-
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