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Neste ensaio filosófico irei explorar e debater o uso dos animais em experiências

científicas e terei como principal foco o sofrimento dos animais usados em tais
experiências. A minha questão filosófica é: será que as experiências em animais são
moralmente corretas? Na minha opinião, as experiências em animais são moralmente
incorretas, independentemente do seu objectivo ou fim. No entanto, estas experiências
são fundamentais em áreas como a medicina e a saúde, o que as torna uma preciosa
ajuda para a humanidade mesmo sendo moralmente condenáveis e incorretas.
No meu ensaio, começarei por avaliar a questão moral relativa à experimentação
animal. Sabemos que os animais sujeitos a experimentações sofrem e na maioria dos
casos até morrem, mas será que todo o sofrimento animal preocupa os humanos?
Segundo alguns autores como Peter Singer, todos os seres sencientes têm interesses
morais e consequentemente direitos: “A dor e o sofrimento são maus e devem de ser
evitados ou minimizados, independentemente da raça, sexo ou espécie do ser que
sofre.”(Ética Prática de Peter Singer, 1993). Os animais irracionais têm a capacidade, tal
como os racionais, de sentir dor e prazer, frio e calor, medo, fome, sede. A diferença
entre eles e nós, os racionais, é que não o verbalizam. Jeremy Bentham afirma que “ A
questão não está em saber se eles podem falar ou pensar, mas sim se podem sofrer”
(Jeremy Bentham, Introdução aos Princípios da Moral da Legislação,1789). Assim,
considerando que os animais são seres sencientes, pois têm a capacidade de sofrer, de
uma perspetiva moral e de acordo com o critério da senciência, são seres morais, logo o
seu sofrimento não pode ser ignorado e a provocação deste não é moralmente correta.
Logo, como os testes em animais envolvem a provocação de sofrimento pelo ser
humano em seres saudáveis, para o benefício do ser humano, estas práticas são
moralmente incorretas.
“Cientistas adoram vender a ideia de que respeitam as leis. Mas e a moralidade onde
fica? Que princípio filosófico é esse usado para justificar a exploração de animais em
nome da ciência?” questiona Frank Alarcón, biólogo e representante da Cruelty Free
International no Brasil.
Contudo, apesar de incluirmos os animais não racionais na esfera moral, não se pode
afirmar que os seus interesses são valorizados de igual forma que os interesses dos
seres humanos. Tom Regan, filósofo que reprova o uso dos animais na ciência, foca-se
inteiramente nos direitos dos animais. Em relação ao uso dos animais para benefício
humano, Regan afirma o seguinte sobre a experimentação animal : "Dia após dia, eles
são forçados a correr riscos por nós (e pelos outros), e assim são institucionalmente
tratados como se existissem como meros recursos, cujo lugar no esquema moral das
coisas é servir aos interesses de outros indivíduos" ( Tom Regan, 1985). Referindo-se
aos animais como "eles", Regan afirma assim que estes são forçados a participar em
experimentações científicas contra a sua vontade e a correr riscos para benefício do ser
humano, sendo que o ser humano tira partido da vulnerabilidade dos animais.
Pessoalmente, concordo com Regan uma vez que os animais envolvidos correm riscos
involuntariamente e, por muito que o resultado seja positivo, os seus direitos não estão
a ser respeitados. Assim, na minha opinião, estes testes são moralmente incorrectos. O
seu sofrimento e os seus interesses são dignos de serem considerados e respeitados.
Como afirma Peter Singer: “A dor e o sofriemento são maus e devem de ser evitados ou
minimizados, independentemente da raça, sexo ou espécie do ser que sofre.”(Ética
Prática de Peter Singer, 1993). Concordo com esta afirmação uma vez que o sofrimento
dos animais tem tanta importância como o sofrimento dos seres humanos e se esse
sofrimento for provocado, é tão mau fazer sofrer um ser, seja ele humano ou animal.
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Salvaguarda-se obviamente a questão do instinto em caso de sobrevivência, situação


essa na qual a espécie humana será sempre prioritária. Porém, acredito que como
seres racionais, temos o poder e o dever, pelo menos moral, de fazê-lo tendo sempre
em consideração os interesses e o sofrimento dos restantes animais. É possível
encontrar o equilíbrio, a natureza é perfeita nisso.
Relativamente às experiências ligadas à cosmética e afins, estas tratam-se de
interesses humanos secundários ou até supérfluos e para os quais já existem soluções
alternativas, sendo por isso moralmente condenáveis a prática de tais experiências.
Por outro lado, os testes em animais são extremamente necessários para a
humanidade, pois são a única estratégia de experimentação suficientemente satisfatória
e eficaz que assegura a melhor credibilidade, como também a única reconhecida
mundialmente pela comunidade científica. Apesar de existirem possíveis alternativas à
experimentação animal, estas não estão suficientemente desenvolvidas para que seja
possível eliminar totalmente o uso dos animais na experimentação científica, para não
falar da questão do financiamento desses avanços que teria que ser astronómico.
Assim, como os testes em animais são, para já, a única alternativa/opção para permitir o
avanço da ciência através do desenvolvimento de novos medicamentos, procedimentos
cirúrgicos, entre outros, muitos defendem que o uso de animais na experimentação
científica é aceitável, pois é visto como um mal necessário, já que a vida como a
conhecemos não seria a mesma se não se realizassem testes em animais. A
provocação de sofrimento em animais saudáveis continua a existir, logo estas práticas
são moralmente incorretas, mas necessárias e inevitáveis.
Segundo o utilitarismo, uma teoria ética que defende que devemos agir de forma a
trazer a maior felicidade para o maior número possível, o uso de animais não humanos
poderia ser aceitável apenas se a felicidade que a sua exploração causa, seja maior do
que o sofrimento. Mas, é muito difícil pensar em alguma maneira na qual isso possa ser
o caso. Os animais não humanos são muitas vezes explorados e privados das suas
vidas para que a humanidade possa evoluir e prevalecer. É um facto que a
experimentação animal traz inúmeras vantagens para a humanidade, como por exemplo
na produção de uma nova vacina ou medicamento, mas será correto todo este
sofrimento? Será que os fins justificam os meios? O utilitarismo defende que, como o
uso dos animais em investigações científicas provoca a maior felicidade para o maior
número, estas experiências são moralmente aceitáveis. Na minha opinião, esta visão
utilitarista tem mais em conta o bem estar dos seres humanos envolvidos do que a dos
animais, o que revela uma perspetiva extremamente especista e, como tal, considero
que o uso de testes em animais é moralmente incorrecto; apesar dos benefícios ou bem
maior que os resultados destas práticas possam trazer, a provocação do sofrimento nos
animais envolvidos continua a existir.
Posto isto, considero que para outras finalidades para além da medicina, como por
exemplo a cosmética, a moda ou até mesmo o divertimento como é o caso das
touradas, o sofrimento animal é impossível de ser justificado.
Para concluir, e tendo em conta todos os argumentos que apresentei, os animais como
seres sencientes e portadores de direitos merecem a nossa consideração e respeito.
Como existe provocação de sofrimento em animais previamente saudáveis e
desrespeito pelos seus direitos para benefício do ser humano, considero estas práticas
eticamente incorretas. Contudo, reconheço que, enquanto não existirem outras
alternativas, estas práticas são inevitáveis e necessárias para a humanidade.

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