“Será legitimo tornar os animais não humanas cobaias?” é o problema
que procuraremos discutir ao longo deste ensaio. Nós consideramos que este problema filosófico é de extrema relevância, pois muitas vezes esquecemo-nos da importância dos animais, desprezando-os e utilizando-os para fins científicos. Assim, o objetivo deste ensaio é apresentar uma tese, antevendo e refutando possíveis objeções à mesma, respondendo à pergunta inicial. A nosso ver é ilegítimo e imoral utilizar meros animais não humanos, para fins de experimentação científica, devido ao facto de estes não possuírem certas capacidades básicas, cuja falta os impede de demonstrar o seu livre- arbítrio. É ilegal experimentar em seres humanos, sem consentimento, porque os seres humanos têm livre-arbítrio e por isso têm uma responsabilidade moral pelas ações que tomam sendo que os animais não têm livre-arbítrio, mas os seres humanos têm responsabilidades pelas ações que tomam em relação à vida animal, logo os animais não-humanos não devem ser cobaias de experiências científicas. Em primeiro lugar os seres humanos têm uma responsabilidade moral pelas ações que tomam conscientemente, porque as suas ações têm implicações no mundo que as rodeia e por isso todas as suas consequências são responsabilidade do seu ator. Os animais não têm livre-arbítrio porque não possuem a principal condição para o mesmo – a capacidade de tomar decisões e escolher livremente. As suas decisões são automatizadas, seguindo os seus instintos básicos, incontroláveis, que apenas respondem ao mundo que os rodeia para garantir a sua sobrevivência. Os animais não conseguem comunicar, o que os impede de recusar qualquer tipo de atividade, apesar de poderem demonstrar sinais de desagrado, como sons, uma posição defensiva, fugir de seres humanos, etc… Apesar de os animais não terem livre-arbítrio, os seres humanos possuem-no e são responsáveis pelas ações que tomam conscientemente em relação à vida animal, tal como a experimentação animal. A experimentação animal implica invadir o corpo dos animais, podendo causar-lhes problemas físicos e psicológicos, dores extremas que podem culminar inclusive na morte, ou seja, o ser humano é responsável por causar dor extrema e eventualmente uma morte, para obter os ganhos científicos que deseja. Até que ponto é que causar dor física e morte num outro ser não é tão moralmente errado como causar o mesmo efeito num ser humano? O artigo nº3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU diz que “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”, afirmando assim o direito básico à vida. Podemos assumir este direito porque se queremos ter direito à vida temos de permitir que todos o tenham visto que nenhum ser humano é superior a outro ao ponto de poder escolher acabar com a sua vida, exceto num cenário em que esse ser humano esteja a ameaçar a vida de mais seres humanos. Conseguimos colocar a hipótese de que é justificável experimentar em animais se a vida de outros animais, de outros seres humanos ou até a sobrevivência de um ecossistema depender dessa experimentação, mas tal hipótese é justificável apenas se experimentação for a única opção disponível. Os animais podem não conseguir exprimir as suas opiniões, mas conseguem criar laços, muitas vezes inconscientes, com os seres humanos, implicando que a sua morte e a sua dor vão também causar dor nos seres humanos, que vão ter de assistir à experimentação dos animais, podendo ficar até com problemas psicológicos derivados da visualização dessa experimentação. Em muitos casos a experimentação animal pode nem sequer necessária, mas ser efetuada por ter custos mais baixos. A “The Body Shop”, por exemplo, não utiliza animais para testar os seus cosméticos, ao contrário de muitas outras marcas de cosmética. Estimativas da organização Cruelty Free International, apontam que mais de 500.000 animais podem ser utilizados em testes cosméticos, em todo o mundo, a cada ano. Existem opções de teste alternativas, que permitem que os animais não sofram e de facto está provado que os testes não realizados em animais são muitas das vezes mais eficazes e fiáveis, provando assim que os testes em animais são um mal desnecessário. A The Body Shop afirma ainda que utiliza métodos de testagem exaustivos que são seguros, muito eficazes e principalmente amigos dos animais, testes estes que envolvem dados de computador e tecidos criados em laboratório e que todas as empresas podem adotar este sistema de testes, como por exemplo análise in silico (baseado em computadores; ajuda a avaliar a adequação em certos materiais por extrapolação), pele produzida em laboratório (cultivada a partir de células humanas; permite efetuar verificações seguras nas células que reagem virtualmente da mesma maneira que a pele humana), testes de adesivo ( e ensaios controlados. É justificável fazer uma averiguação sobre quais as áreas em que a experimentação animal é essencial para a sobrevivência de vidas humanas e animais e as áreas em que a experimentação animal não é essencial, podendo estar a ser realizada apenas para manter custos de produção mais baixos. Tal averiguação é complexa por isso deverá ser debatida exaustivamente e examinada com critérios objetivos.