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Para além do mais, usar o animal como modelo humano, pressupondo que espécies
diferentes reagem de forma idêntica ou similar quando lhe são administradas substâncias
ou quando são submetidos a diversos procedimentos é incorrer em erro. Além disso, muitas
reações provocadas por substâncias testadas não podem ser manifestadas por animais,
tais como náuseas, dores de cabeça, depressão, distúrbios psicológicos, etc… Tomemos
como exemplo a sacarina que causa cancro em ratos, mas é inofensiva a seres humanos; a
morfina que nos acalma, mas pode causar euforia, hipotensão, depressão respiratória,
prurido e estase urinária em cães; ou até a aspirina e o paracetamol que nos servem de
analgésicos, mas são capazes de matar gatos.
Ademais, a perspetiva de Peter Singer também deve ser considerada. Este filósofo baseia-
se no utilitarismo e defende que os interesses dos animais e dos seres humanos valem o
mesmo e que ao avaliar as consequências das nossas ações temos de pensar
imparcialmente no bem-estar de todos os seres. A única maneira de obter tal imparcialidade
é usar animais não humanos para a produção de benefícios suficientemente significativos.
Se nos basearmos no seu ponto de vista, conseguimos encontrar um equilíbrio em que,
apesar de utilizarmos animais em casos de necessidade extrema, como na alimentação, os
poupamos de sofrimento em momentos em que este não é estritamente necessário, como
para a produção de produtos cosméticos.
Outro argumento muitas vezes utilizado baseia-se no especismo dizendo que, mesmo que
os animais não tenham sido criados para o nosso benefício, podemos continuar a aceitar
que só nós temos realmente estatuto ou importância moral, pois pertencemos a uma
espécie distinguida das outras pela racionalidade e pelo facto de sermos seres sencientes,
dando-nos isto um estatuto moral superior.
Peter Singer compara o especismo ao racismo, o simples facto de sermos humanos não
nos concede um estatuto moral superior.
O especista pensa que pertencermos a uma certa espécie biológica – a espécie
Homosapiens – nos dá preeminência perante todas as outras. Mas pensar isto, tal como
sugere Singer, é cometer o tipo de erro subjacente ao racismo. Afinal, o racista pensa que o
simples facto de um ser humano ser de uma certa raça lhe dá um estatuto moral superior.
Todos reconhecemos que discriminar alguém por causa da sua raça é um erro moral grave.
Mas, para sermos coerentes, temos também de reconhecer que discriminar um ser por
causa da sua espécie é um erro moral igualmente grave.
"A dor e o sofrimento são maus e devem ser evitados ou minimizados, independentemente
da raça, sexo ou espécie do ser que sofre.(...)" (ética prática)
Diante do exposto, penso ter demonstrado que a utilização de animais como sujeitos em
experiências levanta diversas preocupações sobre a nossa compreensão de ética e moral.
Devemos reavaliar os nossos comportamentos de forma a que os animais não tenham de
sentir sofrimento face às necessidades irrelevantes ou até inúteis do ser humano.