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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE BIOLOGIA

Problema bioético em experimentação animal

BIOB66 – Bioética

Laryssa Cardoso Calmon


Mila Oliveira Nascimento
Tatiely Souza dos Santos
Thalia Dos Santos Silva

Salvador, BA - 2023
`PARTE A

O projeto de lei proíbe o uso de animais vertebrados vivos em experimentos de


ciência básica. A justificativa para esta medida, segundo o deputado que propôs o
projeto, é que animais vertebrados podem sentir dor e sofrer e que, por isso, eles não
devem ser submetidos a experimentos, a menos que estes sejam realizados com
objetivo de aplicação na saúde humana.

Para que seja defendida uma posição sobre esse projeto de lei é preciso
compreender alguns conceitos, como “valores bioéticos” e “evidências científicas”. Segundo
o livro Bioética e legislação profissional, a bioética une conceitos da “Ética” e “Biologia”,
sendo regida por 5 valores, sendo eles: beneficência (estudo de pontos positivos e
negativos sobre o tema analisado), prudência (atenção e cuidado durante a procura pelo
saber para evitar prejuízos), autonomia, justiça (que as conquistas alcançadas sejam
liberadas para todos) e responsabilidade (consciência das consequência positivas e
negativas que as ações de sua autoria podem ter). É preciso ter em mente que a evidência
científica consiste em elementos que foram testados e usados como argumento para uma
teoria ou hipótese.
É importante que a aprovação do projeto de lei não desconsidere esses valores e
que opiniões não sejam utilizadas como evidências para justificar a aprovação ou
desaprovação do projeto. Levando em conta principalmente a “prudência” e a
“responsabilidade”, é preciso questionar a real necessidade de submeter os animais a esse
tipo de estresse com fins científicos. De acordo com Rivera (2020), é complicado definir de
fato quando um animal está sentindo dor durante um experimento, pois a forma como esse
sentimento é expresso difere muito entre os indivíduos. Entretanto, segundo o autor, é um
consenso que o processo gera estresse no animal e algum nível de desconforto; esses
sentimentos podem ser ocasionados até por situações que para os humanos parecem
simples, como exposição a uma luminosidade diferente ou estar em um espaço de maior ou
menor amplitude.
Diante das variáveis analisadas, este parecer é favorável ao projeto de lei;
atualmente existem técnicas alternativas que permitem a realização de testes de forma
precisa. De acordo com Henrique e Sampaio, 2020, o sistema in vitro de cultura de células
e tecidos já atua satisfatoriamente como um método alternativo, sendo usado na fase de
testes de algumas vacinas, por exemplo. Segundo os autores, uma outra área que esse
método tem auxiliado é a cosmética, com um teste chamado Draize, utilizado para verificar
o potencial irritante de determinado produto na região dos olhos. A utilização do sistema in
vitro em cultura de tecidos serve como um pré-teste, evitando o uso excessivo em animais.
Outra área que teve um bom desenvolvimento em alternativas para o não uso de animais foi
a farmacológica, que obteve grande sucesso na utilização de meios de cultura de células
tumorais para testar a eficácia de medicamentos quimioterápicos (Henrique e Sampaio,
2002).
Diante dos fatos apresentados, fica evidente que o projeto de Lei que proíbe a
utilização de animais vertebrados em experimentos de ciência básica possui bom
embasamento para ser aprovado. Nesse viés, é necessário que haja investimento no
campo das tecnologias alternativas para experimentação, a fim de substituir as técnicas que
utilizam animais.

`PARTE B

O voto se baseia no princípio bioético da “prudência” e “responsabilidade”. Faz-se


necessário levar em consideração o sofrimento causado pelas pesquisas científicas aos
animais sencientes, sujeitos ao sofrimento, contrabalanceando este aspecto com as
promissoras novas técnicas de cultura de células que oferecem alternativas aos cientistas e
pesquisadores.
Os princípios e valores bioéticos não estão desassociados das evidências científicas.
Alguns estudos já comprovam que até mesmo animais invertebrados, que possuem o
sistema nervoso mais complexo, são capazes de sentir dor, como os polvos (CNN, 2021).
Assim,podemos entender que a experimentação animal quando não regulamentada fere o
princípio ético da “beneficência”, dado o grau de sofrimento infligido aos animais. Vale
ressaltar que o voto a favor não representa uma tentativa de proibir a ciência de continuar
produzindo e avançando. Mesmo que o argumento da “responsabilidade” aponte para a
necessidade de se manter as pesquisas em vertebrados, dado a sua importância e difusão,
é oportuno pensar em técnicas alternativas que são similarmente eficientes e que podem
tornar a experimentação segura e mais ética.
Desta forma, a ciência precisa ser eticamente justificada; é necessário proteger a
integridade do produto científico final e da comunidade a qual esse produto chega. A ciência
não regulamentada pode se tornar uma arma com base em conflitos de interesses. No livro
“Mengele”, de Gerald Posner, sobre o médico nazista que conduziu diversos estudos e
experimentos com prisioneiros em Auschwitz seguindo os códigos presentes na “ciência
alemã” da época, fica claro o uso difundido da teoria racial nazista para assegurar as suas
práticas experimentais. No período, descobertas foram feitas, e avanços científicos
resultaram desses métodos; mas a base moral da ciência nazista estava completamente
corrompida. Os valores bioéticos qualificam o fazer científico; não podem se resumir a
aspirações superficiais, mas devem guiar atitudes concretas.
Referências

Lagostas e caranguejos sentem dor e não deveriam ser cozidos vivos, diz estudo.
CNN. 2021.

HENRIQUES, M. G. O e SAMPAIO, A. L. F... Animais de Laboratório: criação e


experimentação. Alternativas para animais de laboratório – do animal ao
computador. Capítulo 39. Editora FIOCRUZ, RJ 2002.

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