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Debate

Bianca Fernandes
A problemática sobre o teste em animais
Quando falamos sobre os testes in vivo, é inevitável haver a separação entre as
experimentações que objetivam o desenvolvimento biomedicinal e avanços
farmacêuticos, que salvarão milhões de vidas, humanas ou não, e os testes para
cosméticos e produtos variados. Para este último, já há alternativas suficientemente
viáveis e práticas, mas estas não se aplicam à área de desenvolvimento da saúde.
Os métodos substitutivos principais são os testes in sílico (softwares
computacionais capazes de predizer os potenciais riscos do produto), as informações pré-
existentes (experimentações anteriores que tiveram o mesmo resultado) e os testes in vitro
(cultivo de células e tecidos fora do organismo), sendo este o mais viável.
A popularidade dessas alternativas se dá pelo fato de serem mais rápidas, com
resultados quantificáveis e mais barato. A realidade é que custear um projeto desse vai
muito além do esperado, a não ser que a instituição já possua um laboratório devidamente
equipado. Um analisador bioquímico, do mais barato e menor, chega a custar
R$14.000,00, não suprindo a necessidade industrial. Uma limitação crucial que é
evidenciada nesses métodos é a incapacidade da cultura de células de abranger as reações
complexas que um organismo consegue desenvolver. Como o crescimento dessas células
deixa de ser tridimensional, a migração e proliferação de células não especializadas que
expressam diferentes funções é favorecida, não englobando o trabalho em conjunto que
um organismo apresenta. Ademais, vale ressaltar que um animal consegue apresentar
diferentes variações, como a presença de mais de um patógeno e suas consequências nos
diferentes sistemas do corpo.
Em segundo plano, é possível analisar que a maior parte dos métodos
alternativos substituem o procedimento ou etapa da pesquisa e não a metodologia como
um todo. O número de animais é diminuído, mas não consegue ser eliminado, segundo a
FioCruz, em uma declaração de esclarecimento de dúvidas sobre a temática. O processo
experimental funciona em níveis, como uma triagem. Em primeiro, os testes são
introduzidos a uma cultura de células (in vitro), nessa etapa, as substâncias tóxicas e os
agravantes de risco são anulados. A partir dessa eliminação, os testes passam para animais
de laboratório de pequeno porte para que, depois de comprovada a eficácia nesses, os
animais de grande porte possam ser também utilizados. Quando todo esse esquema é
concluído, o produto está apto para passar para o uso humano.
Observa-se que não é qualquer animal que pode ser utilizado. Cada animal
envolvido é desenvolvido em biotérios, sem isso, não há credibilidade no resultado da
pesquisa. É necessário haver controle sobre a alimentação, climatização ambiente e da
água e sobre a saúde do animal para ele estar apto para a experimentação. De mesmo
modo, não é qualquer pessoa que cuida deles. Os bioteristas técnicos são responsáveis
por cada etapa desse desenvolvimento, garantindo o bem-estar de cada animal.
Para que haja experimentação, também é necessário a aprovação e o
licenciamento da Comissão Ética do Uso de Animais (CEUA) para a determinada
instituição. A partir dessa permissão, a experimentação é iniciada, tendo de seguir todas
as determinações dadas pelo Decreto Nº 6899/2009, a Resolução CONCEA Nº12/2013 e
pela Lei Arouca (Nº11794/2008). Esta última implica que, caso haja possibilidade de
algum método alternativo, este deve ser posto em prática obrigatoriamente e que para a
realização de qualquer ensaio que provoque dor, o animal deve ser sedado ou passar pela
analgesia ou anestesia. Desse modo, a vivissecção (qualquer procedimento invasivo,
como cirurgias ou coleta de tecido) ocorrerá de maneira menos incômoda, sendo efetuada
por profissionais especializados, da mesma maneira que é realizada em humanos, quando
há necessidade de passar por estas cirurgias. Assim, é possível promover uma diminuição
considerável no uso de animais, mas não extingui-la, como proposto por William Russel
e Rex Burch na teoria do 3 Rs, que visa reduzir a quantidade de animais, refinar/ aliviar
o máximo de dor sofrido e substituir o método sempre que possível.
Uma possibilidade viável para o controle da garantia do bem-estar desses
animais é a criação de um órgão público responsável pela supervisão de instituições, já
que os comitês e comissões atuais são responsáveis apenas pela regulamentação, abrindo
brechas para a violação das mesmas por conta da ausência de acompanhamento. Ademais,
diante do que foi anteriormente exposto, o uso de animais é comprovado como sendo de
difícil extinção, por englobar uma série de possibilidades que apenas um ser vivo poder
apresentar, porém, a diminuição, tanto da quantidade de animais quanto do dano para a
sua qualidade de vida, é mais que possível, trazendo benefícios para a aprimoração dos
cuidados com a saúde, incluindo a veterinária.

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