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A este segundo capítulo do sermão,corresponde quanto à estrutura

interna a exposição, na qual se refere o assunto a desenvolver e se


apresenta a sua divisão em partes. Posteriormente, ainda nesre capítulo,
inicia-se a confirmação, que inclui louvores aos peixes; de uma forma
geral ,apresentando exemplos, retomando e amplificando analogias
anteriormente apresentadas.
capítulo II
 O primeiro parágrafo é irónico, pois parte do que é
dito significa o seu contrário.
Podemos destacar duas frases :
Nunca pior auditório. (l. 1) – Na verdade , o
pregador já teve mesmo pior auditório; por essa
razão, aliás, deixou os homens para falar aos peixes.
Mas esta dor é tão ordinária que já pelo costume
quase se não sente. (l. 4) – Não é verdade que o
pregador quase não sinta a dor [de haver pessoas
que não se convertem]
capítulo II

 2-No 2º parágrafo é retomado o


conceito predicável e são apontadas as
duas propriedades do sal. Quais são?
capítulo II

 O sal preserva o que é são


 e impede que se corrompa
capítulo II

 2.1- Por analogia, apontam-se as duas


propriedades da pregação de santo
António. Quais são?
capítulo II

 Por analogia com as duas propriedades


do sal, a pregação de santo António,
que é o «sal da terra», tem duas
propriedades: louvar o bem e
repreender o mal.
capítulo II

 2.2 A partir daqui anunciam-se duas


grandes partes do sermão. Quais são?
(ll. 18 , 19) p. 32
capítulo II

 Tal como santo António louva o bem e


repreende o mal, o sermão do Padre
António Vieira vai louvar o bem que os
peixes fazem – as virtudes – e
repreender o mal que também fazem –
os vícios.
capítulo II

 3- «Começando pelos vossos louvores».


Quais as qualidades que, neste capítulo,
são apontadas aos peixes?
capítulo II

São várias as qualidades:


 foram as primeiras criaturas a ser criadas
por Deus;
 são as criaturas mais numerosas e
maiores
 são bons ouvintes e obedientes
 são melhores que os homens
 não se domam nem domesticam(vivem
livres e puros longe dos homens)
capítulo II

 4- Louvando os peixes, criticam-se os


homens. Que criticas lhes são feitas ?
capítulo II

 Por detrás dos louvores aos peixes estão as


críticas aos homens. Assim os homens são
acusados de:
 se deixarem levar pelas vaidades
 de serem piores que os peixes (ex: o caso
de Santo António e o de Jonas)
 sendo inteligentes, actuam irracionalmente
como feras
 corrompem quem viver perto deles
capítulo II

 5- No sermão barroco a argumentação


é sustentada pela exemplificação e
pela citação bíblica. Exemplos de um e
de outro:
capítulo II

 Exemplificação: A lenda de Santo


António e os peixes, o episódio bíblico
de Jonas ou o do Dilúvio.
 Citação: « Assi o diz o grande doutor da
Igreja…também que imitar e louvar»
Características formais presentes neste excerto do
sermão e mais associadas à intenção de agradar

 Quiasmo ( repetição simétrica; Consiste em dispor quatro


elementos numa frase de forma cruzada) – "…os homens
tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão"
 Paralelismo de construção sintática – "…o
papagaio nos fala, o rouxinol nos canta, o açor nos ajuda… "
 Interrogações retóricas – "É possível que os peixes
ajudam à salvação dos homens, e os homens lançam ao
mar os ministros da salvação? "
 Exclamações – "Oh, grande louvor verdadeiramente
para os peixes, e grande afronta e confusão para os
homens!" (ll.25,26. p.32)
Características formais presentes neste excerto do
sermão e mais associadas ao objectivo de ensinar

 Uso de citações bíblicas

 Exemplos da História Natural

 Uso de saberes ou expressões populares com as quais o auditório


se possa sentir familiarizado–" Deus vos livre! "
Características formais presentes neste excerto do
sermão e mais associadas ao objetivo de
persuadir

Embora o grande objetivo do sermão, como texto argumentativo,


seja convencer, e portanto, todos os artifícios da linguagem
concorram para esse fim, podemos destacar como mais ligados à
persuasão os seguintes:
 Uso do imperativo
 Uso do vocativo – “irmãos peixes,"…(l. 10,p. 32)
 Interrogações retóricas
 Exemplos bíblicos que funcionam como uma prova de autoridade
Conetores ligados à própria construção do
sermão como texto argumentativo

 “Suposto isto"…(l.17, p. 32) ; "E desta maneira "…(ll.19,20, p. 32) –


inferência

 “Vindo”…(l.21, p. 32)

 "Não condeno, antes louvo" ; "Os peixes,pelo contrário"…-


contraste, oposição
Análise do “Sermão de Santo
António aos Peixes” (III parte)
Incluem-se neste excerto as virtudes ou qualidades de alguns peixes
em particular, de que o pregador se serve para estabelecer
comparações com o poder da palavra de Santo António e para
criticar os homens por não possuirem as mesmas qualidades.

1 – Refere o primeiro peixe destacado e


enumera as suas virtudes.
O peixe de Tobias

 O fel era bom para curar a cegueira


 O coração servia para lançar fora os demónios

Tal como Tobias se assustara ao ver o gande peixe que parecia


querer atacá-lo, também os homens não compreendiam a palavra
de Santo António nem percebiam que ele os queria “tirar da
cegueira” e livrar dos demónios.
O peixe de Tobias simboliza o poder purificador da palavra de Deus.
A rémora (Cap. III)

 Peixe de pequena dimensão que se fixa em navios ou em peixes


grandes

 Peixe forte e poderoso capaz de imobilizar grandes barcos

Tal como a rémora podia travar uma nau e conduzi-la , também


SantoAntónio com a sua língua (palavra) combateu muitos vícios
humanos.(a Nau Soberba, a nau Vingança, a nau Cobiça, a nau
Sensualidade)
A rémora simboliza ao poder da palavra do pregador, guia das
almas.
O torpedo (Cap. III)

 Peixe que produz descargas elétricas capazes de fazer tremer o


braço do pescador que o pesca.

Tal como o torpedo tem um grande poder sobre os pescadores,


também a palavra de Deus deveria poder fazer tremer os
pe(s)cadores que pescam na terra tudo o que encontram.(ver ll.
15 e 16, p. 36 - ironia e comparação com Santo António)
O quatro-olhos (Cap. III)

 - dois olhos voltados para cima para se vigiarem das aves;

 - dois olhos voltados para baixo para se vigiarem dos peixes

Esta característica não têm os homens, por isso se dispersam olhando


à volta e não direccionando o olhar de modo a distinguir
claramente o Céu e o Inferno.
Louvores em geral para concluir (Cap. III)

 Os peixes são o sustento de muitas pessoas

 A ingestão de peixe contribui para alcançar o Céu pois está ligada


a contextos religiosos (é alimento nos conventos, pode comer-se na
Quaresma..)

 Os peixes que existem em maior número são aqueles que


alimentam os pobres , por exemplo, as sardinhas.
Conetores que asseguram a construção do texto

 “Esta é a pregação… (l.32 p. 36) – deítico que remete para o


discurso anterior

 "Mas ainda que o Céu e o Inferno se não fez para vós "..– de
contraste

 "…acabo e dou fim"… / “ Quero acabar este discurso dos


louvores” (l. 17, p. 36)- de conclusão ( que inclui um pleonasmo, no
primeiro exemplo)
Recursos semânticos e formais presentes neste excerto:

 Referência a textos bíblicos (citaões e exemplos,


alusões à autoridade do sagrado)
 Conhecimentos da história natural
 Apóstrofes – Ah! Moradores do Maranhão,..( l.29,
p. 33)
 Anástrofes – "Abria Santo António a boca"…
 Uso do imperativo e da repetição – " Abri, abri
essas entranhas, vede, vede este coração. "(l.30 p.
33)
 Ironia- "Eu não vos prego a vós, prego aos peixes."
(ll. 30,31, p. 33)
Recursos semânticos e formais presentes neste excerto:
(cont.) PROCURAR

 paralelismo de construção sintáctica

 Exemplos de polissemia

 Interrogações retóricas

 Marcas de oralidade

 Mudanças de ritmo
Análise do “Sermão de Santo
António aos Peixes” (Cap. IV)

Neste capitulo inicia-se o segundo momento da divisão em duas


partes que padre António Vieira enunciara no segundo capítulo: as
repreensões aos peixes. Aqui, tal como em relação aos louvores,
encontramos as repreensões em geral.

Identifica o primeiro defeito dos peixes (até à linha 3, p. 40).


A ignorância ou cegueira/ a vaidade (l25 a
35 ) (Cap. IV)

 Observa que o pregador expõe a repreensão e


depois comprova-a como fez com a primeira
repreensão:
 os peixes caem facilmente no engodo da isca
(ll.27 a 31, p. 40)

 Há homens que enganam outros homens (ll.31 a


32, p.40)
 Os homens enganam facilmente os indígenas e
estes deixam-se enganar. (ll 32 a 35, p. 40)
 A crítica à exploração dos negros é aqui
cerrada e implacável.
Conclusão do IV capítulo

. Respondendo à interrogação retórica


 Não é isso, meus peixes, grande loucura
dos homens com que vos excusais? -
afirma que os peixes são muito cegos e
ignorantes.
 Apresenta, em contraste, o exemplo de
Santo António, que nunca se deixou
enganar pela vaidade do mundo,
fazendo-se pobre e simples, e assim
pescou muitos para salvação.
Recursos formais mais evidentes (Cap. IV)

 Uso do imperativo – "Olhai"…(l.9, p. 40) / "Ouvi "… (l.1 p. 40)


 Exemplo de polissemia - Comer significa alimentar-se, mas
também usurpar dinheiro, explorar, roubar
 Paralelismo de construção sintáctica – Comem-no os herdeiros ,
comem-no os testamenteiros…(ll. 13,14, p. 40))
 Marcas de oralidade – "Claro está que sim“ / “ Não , não é isso o
que vos digo. “
 Enumeração – “ Não o levam os coches, nem as liteiras, nem os
cavalos“ …
 Mudança de ritmo provocada pelo uso de frases de tipo e
dimensão diferentes (ll. 30 a 35 . P. 40)– alternância de frases de
tipos e dimensões diferentes)
 Jogos de palavras- "O triste que foi à forca não o comem os corvos
senão depois de executado e morto, e o que anda em juízo, ainda
não está executado nem sentenciado e já está comido."
A voracidade (Cap. IV)

 Os peixes comem-se uns aos outros


. Os maiores comem os mais pequenos

 O mesmo acontece com os homens e ainda de uma forma mais


violenta
. Comem-se não só os mortos, mas também os vivos (ll. 17 a 29, p. 40)
. Os maiores comem os mais pequenos (o povo e a plebe)
. Comem como pão (o pão é comer de todos os dias)
.Comem, devoram, engolem

Vejamos o segundo defeito:


Recursos formais mais evidentes
(Cap. IV)

 Anástrofe - "Toma um homem do mar…"(l. 32, p. 40)

 Gradação – "…comam, traguem, devorem. "


 Elipse – "Um homem do mar com uns retalhos de pano”.

 Alternância de modalidades de discurso – narrativo, descritivo,


paráfrase, citação, diálogo
Os roncadores

 Peixes pequenos no tamanho , mas que produzem um som


semelhante ao do porco (até à linha 5, p. 41)

 São uma alegoria da arrogância e da vaidade

 Também os homens padecem do mesmo vício (exemplos das


escrituras : São Pedro, Caifás e Pilatos) e podem mostrar
arrogância quer a nível do saber, quer do poder. (ll.10 a 40 p. 41)

 Santo António, pelo contrário, apesar do seu muito saber e poder


nunca se vangloriou disso. (ll. 40 a 44, p. 41)
Os pegadores

 Pequenos peixes que vivem presos a outros maiores e à custa


deles,à semelhança do que se passa com animais terrestres (ll.30a
53, p. 42)

 São uma alegoria do parasitismo, do oportunismo.


 Provavelmente os peixes terão aprendido este comportamento
com os homens, nomeadamente com os navegadores
portugueses , já que qualquer governador que partisse para as
descobertas era sempre rodeado por um grupo de “pegadores”.


Os voadores

 Peixes de grandes barbatanas que, voando, saem do seu elemen-


to, natural e ultrapassam a sua própria natureza de peixes ,
sofrendoas consequências dessa ousadia (ll. 1 a 34, p.44))

 Representam a ambição e a vaidade desmedidas.

 O orador apela aos voadores para que cada um se contente com


o seu elemento, numa referência indireta ao que também os
homens devem fazer
O polvo
um dos excertos mais conhecidos da oratória de
Padre António Vieira

 Animal marinho também merecedor de reprensões. (ll. 1 a 11, pp.


46

 A descrição do polvo mostra que debaixo da sua aparência de


monge (com o capelo na cabeça), de estrela (com os raios
estendidos) , de mansidão por não ter osso nem espinha , ele é, na
verdade , “ o maior traidor do mar”. Ele é ,portanto, a alegoria da
dissimulação, da hipocrisia, da traição.
 A capacidade de camuflagem do polvo é mais grave do que a
do camaleão e a de Proteu e a sua traição maior do que a de
Judas . (ll. 11 a 25, p. 46)
Recursos formais mais evidentes neste excerto

 Paralelismo de construção sintática – Se estás nos limos(…)pedra


(ll.76 a 79, p. 97)
 Frases feitas , quase provérbios …Quem tem muita espada tem
pouca língua. (l. 7, p. 96)
 Anástrofes – Pegadores se chamam… (ll.1,22, p. 96)
 Uso do imperativo e do verbo relativo à visão - Mas vede, peixes, o
castigo da ambição
 Uso predominante dos verbos no presente do indicativo,
produzindo um efeito de atualidade e veracidade aos factos ou
ideias apresentadas; uso de algumas formas perifrásticas – vai o
navio navegando (l.48, p. 97) – significando a realização
progressiva da acção.
 Alternância da coordenação e da subordinação.
Análise do “Sermão de Santo António aos
Peixes” (VI parte- Peroração)
utilização de um desfecho marcante para
inpressioanr o auditório
 Comparação dos peixes com outros animais e exclusão dos
peixes dos sacrifícios consagrados a Deus (ll. 1 a 14, p. 99)
 A condição dos peixes é superior à do pregador (ll. 15 a 21, p.99)

 Há, portanto, um louvor final aos peixes e a Deus. (ll . 22 a 33, p. 99)
Análise do “Sermão de Santo
António aos Peixes” (V parte)

Neste capítulo, continuam as críticas (reprensões) aos peixes e


aos homens, desta vez direccionadas para alguns grupos em
particular.

Assinala o grupo de peixes visado até à linha 9.

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