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Direitos animais : filosofia contemporânea e

repercussões socioambientais.
Maria Letícia Benassi Filpi
contatos:
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gaav.animalista@gmail.com
Introdução
• https://www.youtube.com/watch?v=PZO04lrg0rs&t=591s

•  HISTORIA DA EXPLORAÇÃ O ANIMAL:

• 1. PRIMORDIOS – seres humanos passaram de coletores/caçadores a agricultores/pastores


- primeiros confinamentos de animais – homem descobre que nã o precisa caçar

• 2. ANTIGUIDADE – ROMA – á pice da violência contra os animais. Começo da objetificaçã o


( animais colocados como “res” nos ordenamentos jurídicos – se tornam moeda de troca) –
inicio dos jogos e uso dos animais como entretenimento – primó rdios dos circos, touradas,
espetá culos com animais.

• 3. IDADE MÉ DIA : “o homem é a medida de todas as coisas” escolá stica e a teologia medievais
firmaram a postura antropocêntrica com base no preceito bíblico de que a terra é o centro do
mundo criado por Deus para usufruto do homem. Principal influencia : S. Tomá s de Aquino

• 4. REVOLUÇÕ ES INDUSTRIAIS – objetificaçã o em massa de animais para alimentaçã o,


vestuá rio, medicamentos, entretenimento, pesquisas.

• 5. PÓ S GUERRAS – marketing de massa. Começo das grandes fazendas industriais,


laborató rios, entretenimento, etc. Desenvolvimentos das tecnologias de confinamento,
condicionamento e matança de animais. Desenvolvimento da industria de pets.
•  
A INDÚ STRIA DE EXPLORAÇÃ O
ANIMAL
• https://www.youtube.com/watch?v=PZO04lrg0rs&t=591s
• A crueldade é o á pice do desrespeito.

• Devemos lembrar que, antes da crueldade, a


objetificaçã o desses animais já é uma violência
por si só .

• Ainda que fossem bem tratados, tratar


indivíduos como coisa do comércio,
propriedade, maquina ou instrumento de
experimentaçã o , divertimento e trabalho, é
uma agressã o à sua dignidade.
• O que é escravidão:
•  
• escravizar
• es·cra·vi·zar
• vtd
• 1 Tornar escravo, reduzir ou submeter alguém à condição
de servo: (...)
• vtd
• 2 Impor alguma forma de domínio moral sobre alguém;
dominar, oprimir, submeter: (...)
• (http://michaelis.uol.com.br/busca?id=Z2x8)
É TICA
• diz respeito ao tratamento justo com relação ao outro.
Quando nossas condutas afetam o outro, devemos nos colocar
em seu lugar, para avaliar nossas atitudes. Preocupar-se com o
outro é a base do agir ético. Preocupar-se envolve empatia.
MORAL
• tem valor moral tudo aquilo que é um fim em si mesmo.
Animais têm existência autônoma, são um fim em si mesmos e
não instrumentos para beneficio humano, sendo, portanto,
que possuem valor moral.
• O VALOR MORAL DE UM SER
VEM DO FATO DE ELE SER
UM FIM EM SI MESMO E
FAZER ESCOLHAS PROPRIAS.
• A É TICA DEVE SER APLICADA NO
TRATAMENTO DISPENSADO A
TODO SER QUE SENTE E,
PORTANTO, CRIATURAS NÃ O
HUMANAS DEVEM SER INSERIDAS
NO CIRCULO DE MORALIDADE DAS
SOCIEDADES HUMANAS.
OS ANIMAIS – BASTA OBSERVAR PARA TER A
CERTEZA DE SUA SENCIENCIA

• Jane Goodall – Chimps:


• https://www.youtube.com/watch?v=rcL4jnGTL1U
• Jane Goodall Hug:
• - https://www.youtube.com/watch?v=bCVmfDuRpBc
• Lakadema: https://
www.youtube.com/watch?v=3pSkqwX2FlU&list=PLx-eSjzYkKO
m9f3ixjB8lXfzrpy8Ntg8p&index=2
Ma Di Tau, a leoa protagonista do documentário The Last Lions (Beverly and Derek Joubert) –
National Geographic, 2011
https://www.youtube.com/watch?v=PoAcNdeEf_Y
• “Cegos da razã o e da sensibilidade,
vivemos em um mundo repleto de
insensatez. O ciclo da existência humana
tantas vezes se limita à satisfaçã o de
vaidades pessoais, ambiçõ es econô micas
e prazeres frívolos. Nesse espaço, nã o há
lugar para a compaixã o.”
Laerte Levai – promotor de justiça em Sã o Paulo
HISTORICO DA FILOSOFIA ETICO ANIMALISTA

• OCIDENTE
ANTIGUIDADE CLÁ SSICA

• PITÁGORAS - VEGETARIANO
• não só os seres humanos possuem alma, mas também os
animais.
• matar ou explorar animais impede os humanos de alcançar
patamares mais elevados de consciência e conexão como
Divino.
• Comer carne não é saudável e deixa os seres humanos mais
violentos.
Ovidio - vegetariano
• ajudou a eternizar o filósofo grego Pitágoras como um dos
precursores do vegetarianismo no Ocidente.

• “Não podemos preencher as nossas barrigas como se


estivéssemos em um banquete canibal. Que perversidade eles
fazem, quão impiedosamente se preparam para derramar o
próprio sangue humano, aquele que rasga a garganta de um
bezerro com a faca e escuta insensível o seu balido; […] que
chora como uma criança, ou se alimenta de uma ave que eles
mesmos alimentaram. Até que ponto isso não é um
verdadeiro assassinato? Para qual caminho isso leva? […]
Deixe o boi morrer de velhice.(...)”
SENECA - vegetariano
• Discípulo de Ovídio e Pitágoras
• a crueldade e a matança contra os animais traz violência e
decadência à sociedade.
PLUTARCO - vegetariano

• Falou sobre a racionalidade dos animais e de seu valor moral.


• Foi um dos mais importantes filósofos animalistas da
Antiguidade Clássica.
• Escreveu “Do Consumo da Carne” em favor de uma dieta
vegetariana
PLOTINO - vegetariano

• todos os animais sentem dor e prazer, não apenas os


humanos.

• admitia a exploração dos animais , mas sem crueldade.


PORFIRIO

• Escreveu – Da Abstinência do Consumo do Alimento Animal”


• Admitia a racionalidade dos animais
• Defendia a criação de um direito animalista
SECULO 18

VOLTAIRE
• “Animais têm suas faculdades organizadas como nó s,
recebem a vida como nó s e a geram da mesma maneira.
Eles iniciam o movimento da mesma forma e comunicam-
no. Eles têm sentidos, sensaçõ es, ideias e memó rias.
Animais nã o sã o totalmente sem razã o. Eles possuem uma
proporcional acuidade de sentidos”, em Lettres de Memmius
à Cicéron (Cartas de Gaius Memmius a Cícero) em 1772.
• David Hume (1711-1776), “Nenhuma verdade me parece
mais evidente que a de que os animais sã o dotados de
pensamento e razã o, assim como os homens. Os
argumentos neste caso sã o tã o ó bvios que nã o escapam
nem aos mais estú pidos e ignorantes.” (in ‘Tratado sobre a
natureza humana”, p. 209
HUMPHRY PRIMATT

• Teó logo inglês, escreveu sobre o dever moral de compaixã o dos


humanos em relaçã o aos animais em “The Duty of Mercy”. (1776)

• O ensaio é uma defesa da coerência


moral humana na consideraçã o da dor e do sofrimento de
animais humanos e nã o humanos.

• Era critico da filosofia moral tradicional, por seu


antropocentrismo,
• Defendia o princípio da igualdade,

• Era contrá rio a todas as formas de discriminaçã o moral

• Sua filosofia é a base para a ética de Peter Singer, Tom Regan e


Richard D. Ryder
• JEREMY BENTHAM (1748-1832)

• “Talvez chegue o dia em que o restante da criaçã o


animal venha a adquirir os direitos dos quais jamais
poderiam ter sido privados, a nã o ser pela mã o da
tirania (...) “
• “A questã o nã o é saber se os animais sã o capazes de
raciocinar, ou se conseguem falar, mas se sã o passíveis
de sofrimento.” (in ‘The Principles of Morals and
Legislation, cap. XVII,I, nota ao par. 4).
• HENRY SALT – sec. XIX
• Utilizando-se da tese do dever moral defendida por
Primatt e Bentham, foi mais longe e escreveu o livro
“Animal Rights” (1892) em que defende a criaçã o de
um direito direcionado aos animais.

• Esse livro serviu de base para os filó sofos de Oxford


nos anos 70 e para o desenvolvimento da filosofia
animalista moderna.
• FINAL DO SÉ CULO 19 – ASCENÇÃ O E QUEDA DO
MOVIMENTO VEGETARIANO

• RUSSIA – revoluçã o vegetariana no pais interrompida na


era Stalin – vegetarianos presos ou exterminados

• As duas Guerras Mundiais interromperam a produçã o do


pensamento animalista.
• SEGUNDA METADE DO SECULO XX - RESGATE E
DESENVOLVIMENTO DA FILOSOFIA DE PRIMATT E
BENTHAM

• Anos 50

• Cesare Goretti (1886-1952), que lecionava Filosofia do


Direito na Universidade de Ferrara, Itá lia, observou que os
animais, quando domesticados, participam do
ordenamento jurídico humano, surgindo daí nosso dever
legal e moral, principalmente, de nã o tratá -los com
brutalidade: “Se nã o podemos negar a eles um princípio de
moralidade (companheirismo, gratidã o, amizade), que
razã o temos em recusar sua participaçã o em nossa ordem
jurídica, que é apenas uma esfera da moral?” (in ‘L´animale
quale soggeto di diritto”, Rivista di Filosofia, n. 19, Itá lia) 
Anos 70
RICHARD RYDER

• psicó logo britâ nico, conheceu o texto de Primatt em 1976 e resgatou


suas ideias acerca do dever moral de compaixã o dos humanos em
relaçã o aos animais. Posicionou-se contra  a experimentaçã o animal.

• Criou os termos “dorente” (aquele capaz de sentir dor) e especismo


(tese da superioridade infundada de uma especie sobre as outras .

• “dor é dor”, nã o importa quem a sinta. A natureza da dor,


inevitavelmente, para o sujeito dorente ou sofrente (dois termos
criados por Ryder), é má . Ryder reafirma, em Political Animal, a
necessidade de se estabelecer deveres morais negativos, de nã o-
maleficência, para os humanos, para contemplar os interesses de
sujeitos dorentes, nã o-humanos
TOM REGAN

• filosofo americano, escreveu livros importantes como Jaulas


Vazias e The Moral Basis of Vegetarianism.

• propô s que todos os animais sã o sujeitos-de-uma-vida,


merecem ser reconhecidos como sujeitos de valor inerente e
por essa razã o, incluídos no â mbito da consideraçã o moral. A
existência autô noma seria o fundamento para inclusã o dos
animais na esfera moral.
•  
• Segue as teses de Primatt de que a forma fisica nã o é
fundamento para o especismo.
PETER SINGER

• – filosofo australiano – utilitarista, segue Bentham –


escreveu o livro que é o grande referencial animalista
moderno –Libertaçã o animal (1976)
GARY FRANCIONE

• Jurista Americano – escreveu sobre as teorias do abolicionismo


animal, em que rejeita veementemente a ideia dos animais como
propriedade. Uma vez que sã o sencientes, nã o podem ser
tratados como coisas.

• argumenta que as regulamentaçõ es do bem-estar animal sã o


invá lidas tanto em termos teó ricos quanto prá ticos, servindo
apenas para prolongar a condiçã o dos animais como propriedade

• animais nã o-humanos requerem apenas um direito: o direito a


nã o serem considerados propriedade
conclusão
• O que faz alguém ser sujeito de direitos inatos:

• Senciência e/ou existência autônoma.

• Ainda que não tenha senciência, um ser pode ter direitos por sua
existência independente.

• Ainda que não tenha existência autônoma, um ser pode ter


direitos pela capacidade de sentir e ter consciência.

• Racionalidade, forma física, linguagem, capacidade mental,


intelectual, tecnológica e fatores religiosos não são fundamentos
aptos a consagrar a superioridade de uma espécie sobre outra.
Conceitos da filosofia animalista
• 1. ANTROPOCENTRISMO: “sistema filosó fico que pô s o homem no
centro do universo, concepçã o essa que nos atribuiu – em nome da
supremacia da razã o – o poder de dominar a natureza e os animais. O
termo, originá rio do grego (homem) e do latim (centrum), relaciona-se à
idéia religiosa da essência divina do ser humano.” (Laerte Levai - in
Crueldade consentida – Crítica à razão antropocêntrica)

• Esse sistema desconsidera a singularidade de cada individuo e justifica a


tutela da fauna conforme sua serventia. Animais , portanto, sã o
propriedade ou bem ambiental.

• 2. ESPECISMO: termo criado pelo pscó logo Richard Ryder, que consiste
na prá tica humana de discriminar a dor e o sofrimento dos animais, pelo
fato de nã o terem nascido com a configuraçã o bioló gica da espécie
humana. Humanos sã o superiores por serem humanos.
• 3. SENCIENCIA

• É a capacidade de consciê ncia e sentimento dos animais.


• Conceito desenvolvido pela ciê ncia na Declaraçã o de Cambridge
de 2012.
• "A ausência de um neocó rtex nã o parece impedir que um
organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes
indicam que animais não humanos têm os substratos
neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de
estados de consciência juntamente como a capacidade de
exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o
peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a
possuir os substratos neurológicos que geram a consciência.
Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as
aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também
possuem esses substratos neurológicos".

• http://www.ihu.unisinos.br/172-noticias/noticias-2012/511936-declaracao-de-cambridge-sobre-a-consciencia-em-ani
mais-humanos-e-nao-humanos
•  
• 4. ABOLICIONISMO
• Teoria desenvolvida principalmente por Gary
Francione, defende a libertaçã o total dos animais com
base no principio da igual consideraçã o de interesses
e na senciencia.
• Os animais têm interesses de nã o serem mortos,
escravizados, agredidos ou presos. Dessa forma, nada
nos permite a apropriaçã o deles.

• 5. BEM ESTARISMO
AS CONSEQUENCIAS SOCIOAMBIENTAIS DA FILOSOFIA
ANIMALISTA MODERNA

• CRESCIMENTO EXPONENCIAL DE ADEPTOS DA FILOSOFIA


CHAMADA VEGANISMO

• Conceito: é a certeza do valor moral dos animais e da nã o


superioridade humana sobre outras espécies. A consequência é
a abstençã o da exploraçã o dos animais. Veganos nã o comem,
nã o vestem, nã o comercializam, nã o usam produtos testados e
nã o se divertem á s custas dos animais ou de seus subprodutos.

• FORMAÇÃ O DE UM DIREITO QUE RECONHECE OS DIREITOS


ANIMAIS.

• Atendendo aos anseios sociais, o Direito começa a reconhecer


direitos inatos dos animais.
• https://www.youtube.com/watch?v=PZO04lrg0rs&t=591s
• 1:55
• Fontes:
• Livros:
Introdução aos Direitos Animais – Gary L. Francione

Ética e Animais – Um Guia de Argumentação Filosófica – Carlos


Naconecy

Direitos dos Animais – Fundamentos e perspectivas – Daniel Braga


Lourenço

Artigos e textos:

Fundamentação ética dos direitos animais - O legado de Humphry


Primatt – Sônia T. Felipe

Crueldade consentida – Crítica à razão antropocêntrica - Laerte


Fernando Levai

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